Buscar

Poder e política nos países em desenvolvimento

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
O problema das mentalidades na construção política, estudando especificamente os casos do
Brasil e da América Latina, com foco nas questões de conciliação, patrimonialismo, impacto
das estruturas escravocratas sobre a política, além da relação entre desenvolvimento
econômico e política.
PROPÓSITO
Compreender de que modo as formações políticas são impactadas por mentalidades de longa
duração, assim como as relações entre estrutura socioeconômica e relações políticas no Brasil,
e o problema do desenvolvimento na América Latina e suas implicações políticas são
ferramental imprescindível para qualquer profissional que busque conhecer a realidade
brasileira ou latino-americana e, em especial, àqueles preocupados com uma leitura crítica
capaz de dar conta de uma análise política dessas sociedades.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, é recomendável, mas não indispensável, que tenha em mãos
um dicionário de termos políticos e outro de termos econômicos. Recomendamos:
BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1998;
SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. São Paulo: Abril, 1985.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer o impacto de processos históricos de longa duração na conformação do
comportamento político e social e suas relações com a comunicação.
MÓDULO 2
Identificar a importância da comunicação na relação entre desenvolvimento econômico e
estruturas políticas na América Latina
INTRODUÇÃO
Compreenderemos de que forma as mentalidades de longa duração e o desenvolvimento
socioeconômico impactam nas formações políticas em geral, tendo como exemplo específico a
formação política brasileira após a Independência e como exemplo mais geral a questão latino-
americana. 
No dia a dia, nos noticiários e na massiva carga de conteúdos circulantes nas redes sociais, é
comum que os processos políticos sejam tratados a partir de um olhar de curto prazo, e
essencialmente determinados pelas escolhas conscientes dos agentes. Para uma
compreensão aprofundada das formações políticas e do desenvolvimento econômico, é
indispensável que sejam levados em conta fenômenos de longa duração reproduzidos
sistemicamente ao longo de séculos e altamente resistentes à mudança. 
Por isso, não trataremos de uma história política do Brasil ou da América Latina em seus
detalhes, suas sucessões de governos, golpes de Estado etc., mas sim de evidenciar
elementos de mentalidades altamente resistentes, e que seguem deixando sua marca ao longo
dos últimos dois séculos, independentemente das forças políticas hegemônicas em cada
momento.
MÓDULO 1
 Reconhecer o impacto de processos históricos de longa duração na conformação do
comportamento político e social e suas relações com a comunicação
O QUE SÃO MENTALIDADES?
A vida em sociedade é marcada pelo choque entre diferentes ideias, aspirações, noções
morais e opiniões a respeito de acontecimentos (ou melhor, de interpretações sobre
acontecimentos!). Tudo isso pode nos fazer acreditar que seres humanos convivendo
socialmente, compartilhando uma língua, costumes e território, pautam seu comportamento
exclusivamente por noções superficiais e específicas a respeito de seu ambiente social.
Imagine, entretanto, que observamos uma formação política a partir de um conjunto de lentes
de aumento e estejamos ampliando a imagem para ver bem de perto. Nesse percentual de
zoom, a imagem mostra agentes políticos adversários, com ideias completamente antagônicas,
disputando no curto prazo a legitimidade de suas narrativas. Nesse nível de aproximação,
portanto, esses agentes podem parecer completamente diferentes e inconciliáveis. Lembre-se,
contudo, de que estamos investigando as formações políticas utilizando lentes de aumento e
esse é apenas o nível de maior aproximação possível.
Se olharmos com nossas lentes para essas formações políticas a partir de uma distância cada
vez maior, as particularidades dos agentes se perdem, e passamos a enxergar padrões de
comportamento comuns entre eles, padrões esses que não seriam visíveis ao olharmos “de
perto”. É claro que sempre haverá, em qualquer formação política, elementos que discordem
desses padrões comuns, mas que só serão relevantes ou identificáveis a partir de um nível de
zoom mais aproximado.
É nesse nível de visualização mais distante, coarse-grained, em oposição a um olhar mais
aproximado, fine-grained, que somos capazes de identificar as chamadas mentalidades. Elas
são fenômenos:
COARSE-GRAINED
Coarse-grained, em tradução literal do inglês, significa um aspecto granulado grosso, de
partículas ou pontos mais grosseiros, mas o significado figurado, por oposição a fine-
grained, é o de um olhar distanciado e mais geral.
FINE-GRAINED
Fine-grained literalmente poderia ser traduzido como grãos, partículas ou pontos finos,
mas também é usado em sentido figurado para dizer que algo é mais detalhado,
justamente por ter um olhar mais aproximado.
MACRODIMENSIONAIS
Significa que aparecem no comportamento dos agentes de forma difundida por toda a
sociedade (a despeito das múltiplas diferenças entre esses agentes em nível específico).
MACROTEMPORAIS
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Significa que se reproduzem ao longo de séculos, a despeito das muitas mudanças de curto
prazo pelas quais uma sociedade pode passar.
 RELEMBRANDO
Apesar de toda fúria transformadora da Revolução Russa de 1917, e das profundas mudanças
políticas e econômicas empreendidas pelos bolcheviques, persistiu na sociedade russa uma
mentalidade política personalista direcionada ao líder, construída lentamente ao longo de
centenas de anos, desde o século XVII. Isso tornou Lênin e Stalin, em certa medida,
“continuadores” do Imperador Nicolau II, apesar das radicais diferenças específicas entre suas
aspirações e visões de mundo.
Podemos entender as mentalidades em nível mais geral como padrões cognitivos
inconscientes e coletivos.

Esses padrões produzem um viés na maneira pela qual os agentes entendem o mundo ao seu
redor, as questões éticas, as relações políticas, as práticas culturais, enfim, todo o ambiente
social circundante.
As mentalidades “rodam em segundo plano”, para usar aqui uma metáfora da informática. Se
você não tem familiaridade com essa ideia, seria o mesmo que dizer que as mentalidades
estão presentes na sua forma de pensar, mas quase nunca você se dá conta disso.


A transformação das mentalidades é um processo muito lento e que tem frustrado gente com a
melhor das intenções ao longo dos séculos. Entretanto, tudo na história é mutável, e não
devemos nos impressionar pelo fato de que certas coisas mudem a ponto de percebermos e
outras não. Nada é eterno, embora alguns fenômenos sejam resistentes e muito longevos.
Mentalidades são sistemas de valores, de expectativas a respeito de como o ambiente
social e cultural funciona e deve funcionar. Preconceitos estão fortemente enraizados nas
mentalidades e, como são fenômenos macrodimensionais e macrotemporais, afetam o
comportamento de todos os agentes socializados em uma sociedade.

É por isso, por exemplo, que falamos de “racismo estrutural”, algo que provoca a fúria de muita
gente que não se vê como racista. Quer você queira, quer não, a experiência escravocrata
deixou fortíssima marca no campo das mentalidades na sociedade brasileira e por mais que
um agente lute individualmente para “desarmar” a mentalidade racista em seu próprio
comportamento, o entorno social o pressionará sutilmente para que desista.
Imagem: Inspiring/Shutterstock.com
É muito difícil “nadar contra a corrente” das mentalidades, porque há todo um entorno social
que se impõe sobre um agente individual a ponto de tentar conformar seu comportamento.
Não é necessário qualquer governo, polícia, igreja ou partido para punir os desviantes, embora
essas instituições sejam fundamentais na reprodução ou na destruição de complexos de
mentalidades: as próprias interações sociais, nodia a dia, funcionam como um sistema de
assédio e coerção contra agentes desviantes. Discrepar da norma tem custos sociais, o que
leva agentes menos radicais a buscarem alguma acomodação com as mentalidades reinantes.
Passemos então aos principais temas ou complexos no campo das mentalidades que são
visíveis ao longo de cerca de 200 anos de história do Brasil independente.
A NOÇÃO DE CONCILIAÇÃO
Na ocasião da independência, o Brasil já compunha um Reino Unido com Portugal desde 1815.
 RELEMBRANDO
A família real portuguesa se transplantou de Lisboa para o Rio de Janeiro em 1808, de onde
governou também seus domínios na Europa até o fim das guerras napoleônicas.
Com a deflagração do processo de independência, em 1822, a monarquia brasileira foi
constituída por uma elite nobiliárquica de origem lusitana, com um imperador também luso. E
por mais que a xenofobia contra os portugueses tenha sido percebida nas cidades brasileiras
durante o Primeiro Reinado, em momento algum se procedeu a uma radical ruptura entre elites
nascidas no Brasil e aquelas nascidas em Portugal.

Foto: Governo do Brasil - Galeria de Presidentes / Wikimedia Commons / Domínio público
Getúlio Vargas, presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e entre 1951 e 1954.
Mais de um século depois, Getúlio Vargas, que chegou ao poder em 1930 com um golpe
militar, utilizou-se do Estado para promover um intenso projeto de industrialização, contrariando
a ideia de “vocação agrária” do Brasil.
Mesmo tendo sido o principal líder na derrubada dos fazendeiros paulistas no poder desde pelo
menos 1894 e tendo buscado reorientar a economia brasileira em um sentido urbano-industrial,
Vargas buscou a conciliação com seus antigos adversários fazendeiros: por exemplo, fez com
que a legislação trabalhista recém-criada permanecesse restrita ao ambiente urbano e não
afetasse a exploração do trabalho na economia agrícola.
Imagem: Presidência da República do Brasil / Wikimedia Commons / Domínio público
CLT publicada no Diário Oficial de 9 de agosto de 1943


Foto: Dan Simonsen/Shutterstock.com
Ao final da segunda década do século XXI, um governo nascido da “onda populista de direita”
global, com uma estridente retórica reacionária e contrária à dita “velha política”, mergulhou em
uma relação de conciliação intensa com os chamados “partidos fisiológicos” (ou seja, partidos
sem um claro programa ideológico e dispostos a se adaptar a quaisquer agendas políticas que
lhes garantissem cargos e prestígio), que deram suporte a governos progressistas da década
anterior.
Essa história não figura aqui como fábula. Ela é apenas um brevíssimo exemplo de como a
conciliação de elites políticas é um padrão de comportamento esperado na formação política
brasileira, mesmo por parte de atores que se dizem contrários a essa conciliação. Manifesta-se
uma expectativa por parte dos agentes políticos socializados no âmbito das instituições
brasileiras — família, escola, universidade, partidos etc. — de que a luta entre as elites deve
prosseguir até o limite da ruptura ou da ameaça representada pelas classes subalternas,
momento esse em que a conciliação deverá ser buscada.
O ideário de conciliação na formação política brasileira transforma a luta entre elites em um
“espetáculo ordeiro”, uma “dança das cadeiras” em termos de poder e prestígio, mas sem que
qualquer dos grupos em luta perca prestígio de forma radical ou tenha sua condição de
superioridade em relação às massas populares contestada. Como disse o historiador José
Honório Rodrigues (1982, p.11), a conciliação era, em síntese, “um apelo à reconciliação da
ordem com a liberdade, invocações antes, depois e muitas vezes renovadas sempre que a
minoria dominante sentisse a ameaça aos seus interesses pela maioria”.
Foto: pcruciatti/Shutterstock.com
O PATRIMONIALISMO
Estritamente falando, um Estado marcado pela presença do patrimonialismo é aquele em que
os limites entre o público e o privado são fluidos, a despeito da existência de leis que
estabeleçam claramente esse limite. Isso significa dizer que os chamados “agentes públicos”
utilizam-se não só de sua posição de poder e prestígio como vantagem na condução de
assuntos pessoais, como também são capazes de empregar os recursos do Estado para fins
particulares. Referindo-se ao passado português, que estaria supostamente na origem do
patrimonialismo brasileiro, diz Raymundo Faoro:
javascript:void(0)
RAYMUNDO FAORO
Historiador, jurista, sociólogo e cientista político, Raymundo Faoro (1925-2003) foi um
grande estudioso da realidade sociopolítica brasileira. É autor do livro de referência Os
donos do poder – formação do patronato político brasileiro.
A PROPRIEDADE DO REI — SUAS TERRAS E SEUS
TESOUROS — CONFUNDEM-SE NOS SEUS ASPECTOS
PÚBLICO E PARTICULAR. RENDAS E DESPESAS SE
APLICAM, SEM DISCRIMINAÇÃO NORMATIVA PRÉVIA,
NOS GASTOS DA FAMÍLIA OU EM BENS E SERVIÇOS
DE UTILIDADE GERAL.
(FAORO, 2001, p.23)
Embora recentemente no Brasil a denúncia contra o patrimonialismo tenha se tornado a
principal arma de ataque de determinadas forças políticas dispostas a controlar
patrimonialmente o Estado (a partir de medidas “anticorrupção” que eliminem oponentes
políticos), há de se dizer que a ideia é, quando muito, um “tipo ideal”.
Cunhada inicialmente por Max Weber, a noção de patrimonialismo é na verdade um
instrumento abstrato para determinarmos em que medida agentes políticos em Estados
modernos cruzam a fronteira entre o público e o privado. Isso significa dizer, então, que todo
Estado moderno traz em si, em alguma medida, certa dimensão patrimonialista na conduta dos
seus agentes (não há Estado “perfeito” nesse sentido).
Especificamente falando, o entendimento de Raymundo Faoro pode ser falho ao tentar
contrapor de forma radical a experiência política luso-brasileira e a de outras sociedades
modernizadas.
No Brasil, o patrimonialismo aparece nas mentalidades seja como padrão de comportamento
informal (e não oficial) dos agentes políticos, seja como elemento abstrato motivador de uma
agenda política moralista por parte de agentes políticos ligados às classes médias urbanas. O
moralismo de costumes, somado a denúncias de “corrupção”, têm sido parte recorrente do
comportamento político da classe média brasileira desde o início do século XX. Classe média
essa justamente privada do acesso patrimonialista ao Estado e desejosa de deslocar as elites
políticas tradicionais de suas posições de poder para também ela prosseguir com o uso
patrimonialista da estrutura estatal e dos recursos legalmente públicos.
A MENTALIDADE ESCRAVOCRATA
Após muitas décadas de contestação, rebelião e pressão por parte das massas escravizadas e
do movimento abolicionista, e de intenso assédio do governo britânico contra o tráfico de
escravos no Atlântico, o governo imperial, em seus momentos finais de existência, viu-se na
circunstância de tornar ilegal a escravidão no Brasil através da Lei n. 3.353, de 13 de maio de
1888, a famosa Lei Áurea.
Imagem: Arquivo nacional / Wikimedia Commons / Domínio público
 Cartaz, do acervo do Arquivo Nacional do Brasil, feito em 1888 por uma fábrica de tecidos
em que figuram um cidadão branco e um cidadão negro se cumprimentando, com uma flâmula
da Bandeira do Império do Brasil, pelo fim da escravidão do Brasil.
Enquanto apologistas da monarquia comemoraram esse suposto ato de “civilidade” concedido
pela família real (ignorando que, na verdade, a Lei Áurea só foi assinada após muitas décadas
de pressão política das classes subalternas), devemos considerar que séculos de escravidão
não são apagados por uma canetada em um papel.
Para além do fato de que os escravos foram emancipados sem quaisquer direitos econômicos
garantidos – o que tornou a população negra no Brasil vítima de “pobreza estrutural” superada
apenas por poucas famílias negras a cada geração –, também é grave o fato de que uma
“mentalidade escravocrata” entranhou-se no comportamento político e social do Brasilindependente e está longe de ser eliminada.
Uma mentalidade escravocrata, geralmente, se opõe de forma radical a uma mentalidade
liberal-democrática. Mas, sim, você pode ser liberal e ter uma mentalidade escravocrata ao
mesmo tempo — são os famosos “liberais na economia e conservadores nos costumes”.
 COMENTÁRIO
“Liberal” não se refere, aqui, a uma opção por desregulamentação econômica e mercados
livres, mas sim uma mentalidade liberal-democrática, relacionada a padrões de comportamento
que vão se sedimentando de modo lento e desigual pelo mundo desde a Revolução Francesa.
Mentalidade liberal-democrática diz respeito às seguintes expectativas:
A cor de sua pele, seu modo de falar, sua origem social e regional (e mais recentemente,
sua identidade de gênero) não guardam qualquer relação com seu valor enquanto
cidadão.
Não há uma “escala de valor” inviolável que hierarquize os indivíduos.
A ascensão social é facultada a qualquer cidadão (embora se saiba que a distribuição de
riqueza prévia inviabilize coletivamente a chamada “meritocracia”, já que as condições
iniciais são desiguais).
Todos são iguais perante a lei.
A mentalidade escravocrata presente no inconsciente cultural da formação política brasileira
opõe-se às transformações em termos de costumes, hábitos, comportamento e expectativas
advindas do processo de modernização das sociedades europeias desde o século XVIII.
Lembre-se de que, enquanto mentalidade, ela roda “em segundo plano”, o que significa dizer
que mesmo indivíduos francamente contrários à mentalidade escravocrata podem,
eventualmente, comportar-se segundo ela.
Há, no Brasil, uma aceitação tácita de que determinados grupos sociais desfrutem de “direitos
informais” (ou seja, não previstos em lei), e esses grupos confundem-se, normalmente, com os
mesmos setores herdeiros da concentração de riqueza e poder do passado escravocrata, ou a
ele ligados (como as classes médias). Perceba que a existência de uma “mentalidade
escravocrata” na formação política brasileira não significa (na maior parte dos casos) que os
agentes políticos achem legítimo manter pessoas presas em correntes e trabalhando de sol a
sol sem pagamento. Significa que, nas mentalidades, há uma expectativa de que “cada um
tenha seu lugar”, determinado por raça, gênero e origem social.
Foto: Ollyy/Shutterstock.com
 EXEMPLO
A expressão “a conversa ainda não chegou à cozinha” indica claramente que há espaços
superiores ocupados por pessoas também superiores, onde haverá certas conversas
importantes, e outros espaços subalternos, ocupados por gente também subalterna, que serão
privados de acesso a essa conversa e às decisões dela advindas.
A mobilidade social e a cidadania plena, conquistas das revoluções liberais-democráticas, são
firmemente entravadas pela mentalidade escravocrata.
Nosso passado de sociedade escravista nos deixou um complexo de mentalidades que
justifica, de forma inconsciente, as seguintes afirmativas:
Embora em lei se possa garantir que todos são iguais, na prática, alguns têm mais
privilégios que outros; assim é a vida, e não há nada a ser feito.
O homem branco de alta renda encontra-se em uma “escala de valor” mais elevada, e
tem por direito exercer o mando e proferir a última palavra, embora a lei a isso se oponha.
Grupos com outras identidades de raça e gênero, e com diferentes níveis de renda, têm
seu status definido em contraste ao topo da pirâmide (os homens brancos de alta renda).
O nível de status desfrutado segundo a posição de um indivíduo na pirâmide de prestígio
o leva a exigir “direitos informais” para si; como exemplos disso, temos a prática da
“carteirada” e do “você sabe com quem está falando?”.
O ensino superior, sendo tradicionalmente uma marca de “branquitude” e de status,
garante privilégio legais (prisão especial, por exemplo), é um critério de distinção social
informal, e não deve ser universalizado.
A eventual ascensão social, por meio da riqueza, de indivíduos pertencentes a grupos
raciais e de gênero diferentes do grupo alfa (homens brancos de alta renda) só se torna
legitimada no inconsciente cultural mediante seu “branqueamento” (por meio da adoção
de marcadores culturais e estéticos do grupo dominante, salvo raras exceções).
Um homem branco brasileiro, residente em bairro nobre e de alta renda, pode ser um militante
de esquerda ou um reacionário saudoso da ditadura militar, mas independentemente disso, ele
desfrutará dos “direitos informais” de pertencer a uma “casta superior” na formação de
inspiração escravocrata brasileira.
Um claro exemplo disso é que as abordagens policiais diferem de acordo com o “perfil” do
abordado (mesmo que o crime em flagrante seja de mesma natureza), homens brancos de alta
renda são mais capazes de subornar agentes públicos do que outros indivíduos em escalões
inferiores da pirâmide de status etc.
Foto: LightField Studios/Shutterstock.com
QUAIS SÃO AS IMPLICAÇÕES POLÍTICAS
DESSA ESTRUTURA DE MENTALIDADES?
Nutre-se uma expectativa inconsciente de que o mando político deve ser exercido por
indivíduos pertencentes ao grupo alfa. Tentativas jurídicas e políticas de alterar o perfil da
representação política brasileira, ampliando-se a diversidade de raça e gênero, encontram
fortíssima oposição não só de membros do grupo alfa, mas de indivíduos em escalões
inferiores da pirâmide de status (lembre-se de que as mentalidades são um fenômeno amplo e
coletivo).
Não à toa, têm crescido a violência verbal, simbólica e física contra parlamentares que
divergem do “perfil de dominância” nas mentalidades políticas, como senadores, deputados e
vereadores LGBTQ+, mulheres, negros e indígenas.
A mentalidade escravocrata também tem impacto na resistência à adoção de políticas públicas
compensatórias (cotas, por exemplo).
Foto: Rido/Shutterstock.com
Padrões de comportamento cristalizados na forma de mentalidades exigem esforços intensos
para serem desconstruídos, de modo que a formação política brasileira encontrará ainda
muitos desafios para livrar-se de tendências deletérias como a legada pelo passado
escravocrata. Mas, como tudo na história, também a mentalidade escravocrata tem prazo de
validade, embora seu esgotamento ainda pareça algo muito remoto. Nas palavras de Jessé
Souza:
JESSÉ SOUZA
Importante teórico social brasileiro, Jessé Souza formou-se em direito, mas tem mestrado
e doutorado em sociologia. Tem três pós-doutorados, além de uma livre-docência pela
Universität Flensburg, na Alemanha. Publicou A Ralé Brasileira: quem é e como vive, A
Radiografia do Golpe, A Elite do Atraso e A Classe Média no Espelho, A construção social
da subcidadania, entre outros.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / Wikimedia Commons / CC BY 3.0 br
 Jessé de Souza, durante cerimônia de posse do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea)
javascript:void(0)
O QUE PERMANECE DO ESCRAVISMO É A SUB-
HUMANIDADE CEVADA E REPRODUZIDA, A CRENÇA
DE QUE EXISTE GENTE CRIADA PARA SERVIR OUTRA
GENTE [...]. É NECESSÁRIO REPRODUZIR UMA
CLASSE DE CARENTES PELA AUSÊNCIA DE
PRESSUPOSTOS PARA O SUCESSO ESCOLAR COMO
UMA FORMA DE CONTINUAR A ESCRAVIDÃO COM
OUTROS MEIOS. UMA RAÇA/CLASSE CONDENADA A
SERVIÇOS BRUTOS E MANUAIS DESVALORIZADOS.
(SOUZA, 2017)
COMUNICAÇÃO E DEMOCRACIA
O mestre Muniz Sodré dá uma aula sobre Comunicação e Política! Assista!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. POR QUE PODEMOS CONSIDERAR A CONCILIAÇÃO, O
PATRIMONIALISMO E O PENSAMENTO ESCRAVOCRATA COMO
FENÔMENOS PRESENTES NAS MENTALIDADES?
A) Porque se manifestam a partir do desejo consciente do agente.
B) Porque não têm qualquer relação com a vida material, apenas com as ideias.
C) Porque se manifestam de modo inconsciente e estrutural.
D) Porque estão presentes apenas nas ideologias e não na vida política.
E) Porque podem ser ativados ou desativados de acordo com as circunstâncias.
2. O QUE DEFINE, PRECISAMENTE, A MENTALIDADE ESCRAVOCRATA,
HERDADA DO PASSADO COLONIAL E IMPERIAL?
A) O desejo por partedas elites de anular legalmente a abolição.
B) A noção de que trabalhadores escravizados são mais produtivos.
C) A ideia de que todos são iguais perante a lei.
D) A noção de que a hierarquia social é predeterminada e imutável.
E) A ideia de que a economia brasileira deve ser agrária e não industrial.
GABARITO
1. Por que podemos considerar a conciliação, o patrimonialismo e o pensamento
escravocrata como fenômenos presentes nas mentalidades?
A alternativa "C " está correta.
Podemos entender as mentalidades em nível mais geral como padrões cognitivos
inconscientes e coletivos. Politicamente, elas são importantes por serem aspectos estruturais e
de longa duração. A conciliação, o patrimonialismo e o pensamento escravocrata são
mentalidades que participaram na construção política brasileira.
2. O que define, precisamente, a mentalidade escravocrata, herdada do passado colonial
e imperial?
A alternativa "D " está correta.
Na mentalidade escravocrata há uma expectativa de que “cada um tenha seu lugar”,
determinado por raça, gênero e origem social. É por isso que a mentalidade escravocrata, mais
de um século depois da Lei Áurea, é um entrave à mobilidade social e à cidadania plena.
MÓDULO 2
 Identificar a importância da comunicação na relação entre desenvolvimento
econômico e estruturas políticas na América Latina
POLÍTICA: A CIÊNCIA DOS CONFLITOS
O prof. Muniz Sodré agora traz suas lições sobre o Poder, o Estado, as sociedades civil e
política e sua importância para o desenvolvimento.
VOCAÇÃO PRIMÁRIO-EXPORTADORA E
INTEGRAÇÃO SISTÊMICA
A centralidade do agronegócio no Brasil do século XXI, e da economia extrativa por toda a
América Latina, é um reflexo de uma história mais longa. Não que uma economia moderna não
possa — e não deva — contar com um setor primário (i.e., de produção de matérias-primas e
energia) dinâmico, ambientalmente responsável, capaz de gerar não só divisas estrangeiras
pela via das exportações, como também oferta interna. A questão é que as economias latino-
americanas patinam desde seus primeiros dias no terreno escorregadio da especialização de
seus mercados.
Foto: William Potter/Shutterstock.com
A diversificação econômica – ou seja, uma bem equilibrada distribuição em termos de presença
das diferentes atividades econômicas – é um elemento importante para uma trajetória de
desenvolvimento sustentada no tempo. Isso vale para qualquer país.
Foto: Andrii Yalanskyi/Shutterstock.com
Entretanto, a América Latina — o Brasil incluído — luta contra a chamada “vocação primário-
exportadora”, que exerce um peso estrutural, de longo prazo tanto sobre a própria economia
quanto sobre a sua formação política — tal como as mentalidades, que discutimos no módulo
anterior.
A vocação primário-exportadora é uma justificativa simplista defendida por atores externos e
internos à América Latina, que busca legitimar a especialização das economias latino-
americanas na produção e exportação de commodities para os mercados desenvolvidos do
centro sistêmico do capitalismo global. Por trás dessa justificativa, repousa a chamada “teoria
das vantagens comparativas”, formulada pelo economista britânico David Ricardo, no início do
século XIX.
COMMODITIES
Commodities são produtos primários (ou seja, não industrializados) produzidos em larga
escala e que podem ser estocados sem perda de qualidade, o que os torna importantes
na economia por influenciarem muitas produções e atividades.
javascript:void(0)
Segundo essa teoria, em uma economia mundial de mercado livre, os países devem se
especializar na produção daquilo que fazem “melhor” em comparação com os demais — leia-
se, com menor custo e maior qualidade.
De acordo com essa lógica, se a Grã-Bretanha produz melhores máquinas, e o Brasil o melhor
café, todos saem ganhando se o Brasil exportar o café para os britânicos, e estes exportarem
suas máquinas para o Brasil.
Imagem: Azyn/Shutterstock.com

Imagem: DataPic/Shutterstock.com
Por trás da noção de vantagens comparativas residem categorias arraigadas no mundo
ocidental no que diz respeito ao processo de desenvolvimento econômico. A principal delas é a
noção de que uma economia desenvolvida é fruto de processos fundamentalmente
endógenos. Processos endógenos são fenômenos econômicos, políticos e mesmo culturais,
próprios de uma sociedade, de seu funcionamento interno, e que não levam em conta o
contato com outras sociedades.
A teoria do desenvolvimento consagrada pelo economista norte-americano W. Rostow nos
anos 1950, por exemplo, serviu de base para difundir a noção de que todas as economias no
mundo estariam submetidas ao mesmo tipo de evolução, com fases determinadas. Cada
economia, então, estaria em determinada “etapa” do seu processo de alcançar o ponto final em
uma escala evolutiva, o desenvolvimento pleno (mercado interno avançado, industrialização de
ponta, uma grande classe média).
Sendo assim, se todas as economias do mundo estariam em algum degrau da escala evolutiva
em direção ao desenvolvimento, conclui-se que:
 Todas as economias poderiam alcançar o degrau máximo.
 Tudo que precisaria ser feito seriam reformas internas, capazes de permitir saltar degraus.
 Não haveria qualquer papel das relações econômicas internacionais no processo de
desenvolvimento.
É nítido que a noção de vantagens comparativas, e a própria compreensão das “etapas para o
desenvolvimento” da teoria rostowiana, desconsideram os fatores ditos exógenos, ou seja,
provenientes das relações entre diferentes economias.
Ainda que fatores endógenos sejam relevantes, a dimensão sistêmica da economia mundial
talvez seja o elemento mais importante em configurar as alternativas para o desenvolvimento
econômico.
Nesse sentido:
O subdesenvolvimento não aparece como atraso, mas como uma etapa a ser superada.

O chamado subdesenvolvimento é um processo simultâneo e paralelo ao desenvolvimento das
economias centrais.
Logo...

Existiria um processo de “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, e a superação das
condições econômicas na periferia latino-americana não viria de seguir uma “cartilha do
progresso”, nem de repetir os passos já dados pelas economias desenvolvidas.
Assim, uma relação de feedback se estabelece: ou seja, a expansão dos mercados internos
dos países ricos, do padrão de vida medido em termos de consumo e da complexidade de
suas economias, são reforçados pela pobreza, pela especialização econômica em exportação
de commodities, pela contração dos mercados internos e pelo baixo nível de renda nas
economias ditas periféricas.
Seria preciso “pensar fora da caixa” de modo a contornar uma estrutura pesada, cristalizada,
que mantinha as economias da América Latina presas à primeira marcha, e que era dada pela
sua inserção no mercado mundial.
Imagem: Shutterstock.com, adaptado por Thiago Lopes
Entre os anos 1940 e 1950, Raúl Prébish e os economistas da Comissão Econômica para a
América Latina (CEPAL), ligada à Organização das Nações Unidas, concluíram que a
condução dos negócios econômicos internacionais, tendo por orientação a teoria das
vantagens comparativas escondia uma realidade complicada — a chamada deterioração dos
termos de troca. Em linhas gerais, isso implicava dizer que não havia simetria, no longo prazo,
entre economias primário-exportadoras e economias exportadoras de manufaturados.
Contrariando o sugerido por David Ricardo, progressivamente as economias exportadoras de
commodities precisariam exportar mais produtos — por preços cada vez menores, dadas as
condições de competição internacional — para serem capazes de importar os mesmos
produtos manufaturados, configurando assim uma situação nítida de dependência,
desigualdade e desequilíbrio no balanço de pagamentos.

Quanto mais especializadas na produção de bens primários — e, portanto, quanto mais os
investimentos infraestruturais fossem voltados para a produção e o escoamento de
commodities —, mais distantes estariam os países latino-americanasde diversificarem suas
atividades econômicas, uma vez que o custo para isso seria cada vez maior. Surge a questão
de como sair desse ciclo vicioso.
Seria preciso considerar que, desde o século XVI, uma elite econômica surgira na América
Latina, cujo lucro, poder político e status social provinham da integração da economia ao
sistema econômico internacional, justamente exportando produtos primários.
Os desafios eram muitos, e o desenvolvimento latino-americano passaria, portanto, por uma
necessária intervenção por parte de Estados reformistas, dispostos a alterar o padrão de
inserção externa das economias dependentes.
A CRISE SISTÊMICA E A
INDUSTRIALIZAÇÃO
 Multidão no “American Union Bank” de Nova York durante uma corrida ao banco no início
da Grande Depressão.
A crise sistêmica do capitalismo após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, e
consequente depressão global na década de 1930, ofereceu a oportunidade para uma virada
na inserção externa das economias latino-americanas e para a construção de um padrão de
desenvolvimento capitalista diferenciado. Após a Segunda Guerra Mundial, e inspiradas pela
própria CEPAL, algumas economias latino-americanas tiveram maior sucesso em minimizar os
impactos de sua “vocação primário-exportadora” através de programas de industrialização
acelerada, com forte presença estatal, especialmente no setor de bens de capital. O colapso
javascript:void(0)
do mercado mundial havia atingido fortemente o poder político e econômico das elites latino-
americanas, tradicionalmente amparadas na exportação de commodities, permitindo a
ascensão de grupos políticos reformistas.
BENS DE CAPITAL
Bens de capital ou bens de produção são um setor de produtos intermediários (entre a
matéria-prima e os bens de consumo), por exemplo, motores ou máquinas para
determinados setores, como a metalurgia.
Foto: William Potter/Shutterstock.com
Ficava claro, então, que o problema da dependência e do subdesenvolvimento envolvia não só
componentes endógenos (ou seja, internos às economias latino-americanas) mas,
principalmente, o funcionamento do sistema capitalista mundial.
Foto: Andrii Yalanskyi/Shutterstock.com
Pelo lado endógeno, as baixas taxas de investimento, os gargalos infraestruturais (falta de
estradas, ferrovias, produção de energia etc.), a baixa renda da população (reduzindo o
tamanho do mercado interno) e a própria resistência política das elites primário-exportadoras
entravavam o desenvolvimento econômico sustentado.
Mas, principalmente, era a própria divisão internacional do trabalho que contribuía
fortemente para o subdesenvolvimento latino-americano.
Com a já citada depressão mundial dos anos 1930, e com a contração da demanda por
commodities, após a Segunda Guerra Mundial, abriu-se uma oportunidade para reorientar as
economias da América Latina, uma vez comandadas por grupos políticos dispostos a isso.
Após a Segunda Guerra Mundial, economias como a brasileira, a mexicana e a argentina
prosseguiram com seus projetos de industrialização por “substituição de importações”,
incentivados por meio de políticas econômicas (ou seja, programas para a produção interna de
bens até então importados), que tiveram sucesso variado até a década de 1980.
EM QUE CONSISTIAM ESSES PROJETOS DE
SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES?
Considere que as economias latino-americanas eram razoavelmente abertas até a Grande
Depressão (ou seja, os governos não estabeleciam políticas claramente discriminatórias no
que diz respeito a importações de bens, serviços e capitais). Como havia sido previsto pelo
economista alemão F. List em meados do século XIX, economias abertas competindo em
mercados nos quais as condições de entrada são absolutamente desiguais, aprofundarão seu
processo de integração subalterna e dependente, e não serão capazes de complexificar suas
estruturas internas pela via de uma industrialização coerente e soberana; isso porque não
serão jamais capazes de competir industrialmente com potências já estabelecidas.
 COMENTÁRIO
Veja que, para David Ricardo e sua teoria das vantagens comparativas, esse fato não seria um
problema, uma vez que todos sairiam ganhando se cada economia se especializasse naquilo
que faz “melhor”.
Para List, contudo, parecia algo completamente sem sentido permitir que seu país (Prússia) se
submetesse como uma economia periférica no mercado mundial; ele almejava transformá-la
em um competidor industrial à altura da economia inglesa. O sucesso de suas ideias é
demonstrado pelo desenvolvimento econômico alemão após a unificação de 1870-1871.

As lições de List foram absorvidas não só pela CEPAL, mas também por governos latino-
americanos a partir da Grande Depressão. Era fundamental fazer com que os Estados
nacionais na América Latina fossem dotados de capacidade operacional (com agências, com
uma estrutura burocrática eficaz, com um arcabouço legal adequado) para intervir nos
mercados e alterar as condições de inserção daquelas economias no mercado mundial.
Era preciso estabelecer políticas que organizassem o mercado de importações, visto que as
economias latino-americanas sofriam com constantes dificuldades cambiais (elas eram
exportadoras de matérias-primas e recursos naturais e sofriam com a falta de moeda
estrangeira sempre que a demanda internacional diminuía, ou quando os preços baixavam).


Isso significava dizer que determinados itens deveriam ter prioridade ao serem importados e
outros deveriam ser francamente desencorajados. Por exemplo, uma economia em processo
de industrialização apresentará provavelmente uma forte propensão à importação de
maquinário (já que inicialmente essa economia em processo de industrialização por
substituição de importações não será capaz de produzir suas próprias máquinas). Ao mesmo
tempo, essa economia, por não ser industrializada, também sofrerá forte pressão pela
importação de bens de consumo, em muitos casos, supérfluos.
Deixada ao sabor das “forças de mercado”, a importação de bens de consumo competiria com
a importação de máquinas pelo mesmo estoque de moeda estrangeira disponível em
determinado momento; além disso, qualquer empresário interessado em abrir uma firma
industrial veria seus negócios inviabilizados pela pesada concorrência das firmas estrangeiras,
detentoras de mais capital, mais tempo de mercado e melhor acesso à tecnologia.

 RESUMINDO
Em uma situação de mercado livre, as chances de uma economia agroexportadora
industrializar-se eram próximas de zero, de modo que os Estados se puseram a intervir nos
mercados, priorizando, por exemplo, a oferta de divisas (Moeda estrangeira ou crédito em
moeda estrangeira. ) para a importação de maquinário (necessário para a industrialização) e
limitando essa mesma oferta quando destinada à importação de manufaturados potencialmente
substituíveis por produtos nacionais.
A manipulação das taxas de câmbio e a transferência intersetorial de renda foram iniciativas
igualmente cruciais para o sucesso da substituição de importações. Por exemplo, privilegiava-
se os exportadores de commodities com taxas de câmbio depreciadas (que lhes permitia,
então, obter maior quantidade de moeda nacional por unidade de moeda estrangeira obtida
com as vendas no exterior), e em seguida, extraía-se parte substancial desses ganhos via
tributação; os recursos tributados permitiam que o Estado investisse em infraestrutura (geração
de energia, construção de estradas e ferrovias etc.), em empresas públicas atuantes em
setores cuja iniciativa privada não contava com capitais nem tecnologia suficiente.
Mais adiante, já nos anos 1950, a tomada de empréstimos junto a governos estrangeiros e a
participação em grandes projetos internacionais de suporte ao desenvolvimento se somaram à
geração de divisas via exportações. Ao mesmo tempo, praticava-se taxas de câmbio
valorizadas quando o objetivo da oferta de divisas era o de importar maquinário (barateando,
assim, o custo da importação em moeda nacional).Interferências estatais dessa natureza no funcionamento dos mercados eram vistas com
desgosto por atores de orientação liberal, que insistiam no caráter perturbador e ineficiente do
Estado. Não obstante isso, mediante essas políticas, a industrialização ocorreu na América
Latina, e não há qualquer evidência empírica de que, mantidos os mercados livres e
desregulados, esse mesmo processo de industrialização ocorresse.
TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS COM A
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
Com o processo de industrialização acelerada, países como Brasil, Argentina e México foram
fortemente impactados pelo avanço da urbanização.
Foto: Autor desconhecido / Library of Congress Prints and Photographs Division Washington /
Wikimedia Commons / Domínio público
 Avenida Rio Branco na década de 1910, no Rio de Janeiro.
Até meados do século XX, o percentual de população vivendo em cidades era bastante
reduzido, e as grandes metrópoles latino-americanas (Buenos Aires e Rio de Janeiro,
principalmente) cresceram desacopladas de uma economia industrial sólida durante todo o
século XIX e primeira metade do século XX.
Imagem: IuliaIR/Shutterstock.com
 A geopolítica se reconfigurou após a Segunda Guerra Mundial
Entretanto, após a Segunda Guerra Mundial, a expansão da economia urbano-industrial
começou a exercer impactos sobre as formações políticas.
Foto: Autor desconhecido / Archivo Gráfico de la Nación / Wikimedia Commons / Domínio
público
 Manifestação do movimento sindical argentino "FORA" em 1915.
A concentração populacional nas cidades fazia crescer um importante componente político – as
massas operárias organizadas no movimento sindical. Partidos trabalhistas, socialistas e
comunistas, alguns dos quais já nascidos na primeira metade do século, ganharam relevância
como atores políticos.
Foi nesse contexto, que a democracia latino-americana acabou se vendo afrontada por
regimes ditatoriais na segundo metade do século XX. Ouça alguns comentários sobre
Comunicação e Política, feitos pelo jornalista e resistente à ditadura brasileira Cid Benjamin.
Utilize o player abaixo para ouvir. Objeto com interação.
"
LIMITES DO PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO
DE IMPORTAÇÕES E AS MULTINACIONAIS
Nem a industrialização por substituição de importações teria o poder de alterar por completo o
padrão de dependência estrutural desenvolvido entre as economias latino-americanas e o
centro do sistema capitalista.
Processos de desenvolvimento econômico sustentado não podiam depender exclusivamente
de substituição de importações. Isso porque economias como as latino-americanas, com baixo
nível técnico e tecnológico — consequência dos muitos séculos de “vocação primário-
exportadora” —, eram capazes de substituir produtos importados (produzindo-os por meio de
empresas nacionais, públicas ou privadas) até certo ponto. Havia uma barreira tecnológica
que impedia que fosse substituído todo tipo de importação.
 COMENTÁRIO
Tecnologias não surgem do nada, nem podem ser desenvolvidas de forma independente no
curto prazo; além disso, as tecnologias são protegidas por patentes. Foi quando as
multinacionais entraram em jogo.
Foto: Michael Warwick/Shutterstock.com
Tradicionalmente, as economias dependentes latino-americanas importavam produtos
manufaturados provenientes das economias centrais do sistema capitalista (países da Europa
Ocidental e os Estados Unidos). Alcançado o teto tecnológico da possibilidade de substituir
importados por similares nacionais nos anos 1950-1960, e diferentemente da estratégia
tradicional, empresas multinacionais transfeririam suas operações fabris para o interior de
algumas economias latino-americanas mais sofisticadas – como a brasileira.

Foto: RMMPPhotography/Shutterstock.com
Isso significava dizer que as empresas estrangeiras, em vez de exportar seus produtos
elaborados em fábricas localizadas nos países de origem, passariam a exportar não os
produtos, mas seu capital, implantando fábricas nos países dependentes latino-americanos
para atender aos seus mercados. Foi assim que a Volkswagen e a Ford, por exemplo,
implantaram-se no Brasil, iniciando a produção de veículos especificamente voltados ao
mercado nacional ou regional.
À primeira vista, parece uma estratégia sem contraindicações:
As economias latino-americanas não dispõem de empresas com tecnologia necessária para o
desenvolvimento de setores mais sofisticados (como o de automóveis, por exemplo).

As economias latino-americanas precisariam acumular crescente volume de divisas
estrangeiras (dólares, fundamentalmente) caso fossem importar esses produtos (lembre-se da
deterioração dos termos de troca).

Quando as multinacionais se transferem para países latino-americanos, passam a produzir
localmente, o que significa dizer que divisas estrangeiras não são mais necessárias para a
importação dos produtos (que são vendidos em moeda nacional).
Essa nova etapa, de desenvolvimento dependente-associado, pareceu resolver todos os
problemas econômicos latino-americanos. Tornava-se possível ter um setor industrial de ponta,
mesmo que os latino-americanos não tivessem a propriedade da tecnologia necessária para
esse mesmo setor.
Pode-se imaginar, porém, que multinacional alguma implantaria filial na América Latina por
mera filantropia. Essas empresas vinham aproveitar-se de vantagens em economias periféricas
com trabalho barato e mercados consumidores em crescimento puxados pela expansão da
classe média urbana.

As vendas de veículos, eletrodomésticos etc., produzidos por essas multinacionais geravam
receita na moeda nacional do país onde estava localizada.
Entretanto, aquelas não eram empresas latino-americanas. Elas tinham sede em países
centrais e, naturalmente, repatriariam seus lucros (ou seja, remeteriam esses lucros de volta
para as matrizes nos países centrais).


Para tal, essas empresas precisariam converter seus lucros, feitos em moeda nacional, em
dólar.
Elas pressionariam, então, os governos latino-americanos a providenciarem a oferta de dólares
para a repatriação de lucros, e as únicas formas pelas quais uma economia dependente obteria
dólares seria ou pela exportação de commodities, ou pela contração de dívidas com
instituições financeiras no exterior.


Nos dois casos, o padrão de dependência ao sistema internacional capitalista se repetia.
Por conta disso, governos foram derrubados quando tentaram interferir nas remessas de lucros
das empresas multinacionais.
NEOLIBERALISMO E DEPENDÊNCIA
Na década de 1970, o governo ditatorial de Augusto Pinochet, no Chile, surgiu como campo de
testes para políticas econômicas de corte neoliberal. Isso antes mesmo de o neoliberalismo
implantar-se como força no centro do capitalismo global, a partir da eleição de Ronald Reagan
nos Estados Unidos, e pela ascensão da conservadora Margareth Thatcher ao cargo de
primeiro-ministro.
Foto: Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile / Wikimedia Commons / CC BY 2.0 cl
 Augusto Pinochet em 1974
Neoliberais entendiam que os processos de substituição de importações tinham produzido
desequilíbrios insustentáveis, uma vez que seria colocar “o carro na frente dos bois”. Se as
economias subdesenvolvidas fossem mesmo alcançar um patamar industrial, isso devia ser
feito através “do mercado”, “naturalmente”, e não por meio da intervenção do Estado,
considerada uma intromissão “artificial”.
 COMENTÁRIO
Em suma, os neoliberais advogavam em favor de algo análogo à teoria das vantagens
comparativas, como “remédio” para o subdesenvolvimento. Sua alternativa ao desenvolvimento
econômico amparado pelo Estado era a abertura irrestrita de mercados, a privatização, a
especialização produtiva e, principalmente, a diminuição do Estado.
Desde o início do processo de industrialização latino-americano, a concentração populacional
urbana e a expansão do emprego industrial levaram à organização política da classe operária
e, como tal, existiam expectativas por parte dos trabalhadoresquanto à expansão dos
programas de bem-estar e de amparo ao emprego. Os neoliberais rejeitavam qualquer
movimento que lembrasse o estado de bem-estar social e entendiam que, para garantir tanto
postos de trabalho quanto o rendimento das firmas, era necessária a redução dos direitos
trabalhistas.
Foto: WebTV Sinttel-Rio / Wikimedia Commons / CC BY 3.0
 Prédio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Mercados foram desregulados e o controle sobre os fluxos de capitais desimpedido,
produzindo crises especulativas de grande porte, como na Rússia (1998) e no Brasil (1999) .
Uma das principais orientações provenientes de pressão do Fundo Monetário Internacional
sobre as economias periféricas ao final dos anos 1980 havia sido o fim da manipulação cambial
por parte dos governos, mesmo que anteriormente essa manipulação se justificasse como um
instrumento para fomentar a industrialização.

As políticas do chamado “Consenso de Washington” convergiram para a liberação e
desregulação dos mercados de dinheiro e de capitais.
Então, com taxas de câmbio flutuantes e ampla facilidade para que capitais estrangeiros
entrassem e saíssem dos países, os governos periféricos — e latino-americanos em particular
— passaram a ter de praticar políticas de atração de capitais caso não desejassem enfrentar
crises resultantes da fuga de “investidores”.


Entre essas políticas, estavam o reforço à exportação de commodities e, principalmente, o
emprego de taxas de juros elevadas, capazes de atrair capitais para a compra de papéis
públicos bem remunerados.
A segunda dessas medidas teve consequências graves em todo o mundo:
Imagem: m3ron/Shutterstock.com
Lembremo-nos da euforia com o Plano Real em seus primeiros anos, quando a classe média
urbana comemorava a abertura comercial (com seus carros importados e eletrônicos) e o
“dólar a um real”.
javascript:void(0)
Imagem: RHJPhtotoandilustration/Shutterstock.com
Mas ignorava completamente o custo da empreitada. Para garantir o volume de dólares
necessários para sustentar a paridade entre a moeda brasileira e a norte-americana, foi preciso
contrair massivos empréstimos no mercado internacional.
Imagem: RHJPhtotoandilustration/Shutterstock.com
Os empréstimos fizeram elevar a dívida externa de forma brutal. Em 1999, a fatura chegava, e
o próprio governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso seria obrigado a aceitar a
depreciação do real.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
A VOCAÇÃO PRIMÁRIO-EXPORTADORA
RETORNAVA COM FORÇA NA AUSÊNCIA DE
INICIATIVAS CAPAZES DE CONTROLAR AS
FORMAS DEPENDENTES DE INSERÇÃO DAS
ECONOMIAS LATINO-AMERICANAS NO
MERCADO MUNDIAL, E CONTROVERSOS
PROCESSOS DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO
FORAM DIAGNOSTICADOS DESDE ENTÃO.
A acelerada modernização das economias latino-americanas, após a abertura neoliberal, com a
oferta de produtos e serviços de ponta, não esconde o fato de que não se trata de uma
modernização autônoma, e sim, dependente dos humores do mercado mundial e de seus
agentes mais poderosos, todos eles localizados nos mesmos países centrais do capitalismo
global.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. POR QUE ECONOMIAS DEPENDENTES LATINO-AMERICANAS
TIVERAM DE EMPREENDER POLÍTICAS ECONÔMICAS
INTERVENCIONISTAS (COM FORTE PRESENÇA DO ESTADO) COM O
OBJETIVO DE SE INDUSTRIALIZAR?
A) Porque somente o Estado é capaz de criar indústrias.
B) Porque fatores endógenos são os que importam no desenvolvimento.
C) Porque havia pressão dos países ricos para a intervenção estatal.
D) Porque era preciso estatizar toda a propriedade privada.
E) Porque o livre mercado reforçava o perfil agrário-exportador.
2. QUAL O LIMITE DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO A PARTIR DO
PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES?
A) A falta, nas economias subdesenvolvidas, de tecnologia capaz de gerar certos bens mais
sofisticados nacionalmente;
B) A ineficiência dos Estados, que o são por definição. Assim, um projeto de desenvolvimento a
partir do Estado estará fadado ao fracasso.
C) Não há limites, o livre mercado permitiu à América Latina superar sua vocação agrária,
industrializando-a sem que fosse necessário o Estado.
D) O impedimento, por parte dos países capitalistas ricos, de que suas empresas
multinacionais implantassem filiais nos países subdesenvolvidos.
E) Não há necessariamente limites, mas o desenvolvimento a partir da exportação de bens
primários era mais capaz de oferecer um perfil equilibrado para a economia
GABARITO
1. Por que economias dependentes latino-americanas tiveram de empreender políticas
econômicas intervencionistas (com forte presença do Estado) com o objetivo de se
industrializar?
A alternativa "E " está correta.
A substituição de importações requeria romper com o mercado livre, incentivando a produção
de bens manufaturados nacionais similares aos importados.
2. Qual o limite do desenvolvimento econômico a partir do processo de substituição de
importações?
A alternativa "A " está correta.
Economias como as latino-americanas, com baixo nível técnico e tecnológico – consequência
dos muitos séculos de “vocação primário-exportadora”.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que as formações políticas dependem não só da disputa política diária, da ação social
por meio dos partidos, dos grupos de pressão e das entidades da sociedade civil, mas também
de padrões de comportamento de lenta transformação, que chamamos de mentalidades. Na
formação política brasileira, alguns temas nas mentalidades políticas chamam atenção pela
sua recorrência ao longo dos séculos: a ideia de conciliação de elites, o patrimonialismo (que
não é uma exclusividade brasileira, nem ibérica) e o impacto do passado escravocrata no
comportamento político e social.
Cada um desses componentes presentes nas mentalidades políticas não funciona como
“camisa de força”, impedindo que os agentes deles discrepem; mas, na medida em que são
estruturais, todos os agentes são pressionados pelo entorno social a se comportarem de
acordo com essas mentalidades arraigadas. Sem dúvida, o problema das mentalidades
políticas deve ser levado em conta por todos aqueles que pretendem trabalhar pela
transformação política e social, porque as permanências comportamentais podem dificultá-la.
Vimos ainda que o problema do desenvolvimento econômico latino-americano também é
impactado por fenômenos estruturais, tal como as mentalidades. Nesse caso, foi a divisão
internacional do trabalho, calcada na noção de vantagens comparativas, somada ao interesse
de parcela das elites econômicas latino-americanas, que fez perdurar o padrão de inserção
internacional primário-exportador até meados do século XX.
E, ainda, percebemos como a Comunicação, em suas diversas concepções, é fundamental
para a Política (também em diferentes entendimentos). A Comunicação pode promover ou
cercear a liberdade e a democracia, assim como ser embasada por estruturas mais ou menos
profundas da história sócio-política de um povo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BIELSCHOWSKY, Ricardo (org). Cinquenta anos de pensamento da CEPAL. Rio de Janeiro:
Record, 2000. 
FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. Rio
de Janeiro: Globo, 2001. 
RODRIGUES, José Honório. Conciliação e Reforma no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982.
SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, assista: 
Quem Somos Nós? Que País é Esse?, com o professor Jessé Souza. 
O Pensamento sobre o Desenvolvimento Econômico em Perspectiva Histórica, palestra
com o professor Ricardo Bielschowsky do Instituto de Economia da UFRJ.
CONTEUDISTA
Daniel Barreiros
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);

Outros materiais