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Teoria Existencial da Personalidade Psicologia da Personalidade Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria DENIZE MASCARENHAS AUTORIA Zilma Denize Bezerra Mascarenhas Sou formada em Psicologia e em Enfermagem, com mestrado na área de Saúde do Adulto e alguns Cursos de Especialização (Psicologia Positiva, Dependência Química e Neuropsicologia). Tenho experiência técnico-profissional de mais de 30 anos na área de saúde mental e psiquiatria. Trabalhei como profissional de saúde pelo Ministério da Saúde na assistência a portadores de transtorno mental em hospital psiquiátrico e CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) na cidade do Rio de Janeiro. Tenho experiência profissional na docência do ensino superior, atuando como professora substituta em Universidades Públicas como UFRJ e UERJ e como professora contratada em universidades privadas como UNISUAM e Universidade Estácio de Sá (UNESA) nos cursos de graduação de Psicologia, Enfermagem e Direito. Também pela UNESA tive a oportunidade de ser autora de capítulo de livro didático e de ser revisora de livro didático. Atualmente atuo como Psicóloga Clínica em Avaliação Psicológica e Aplicação de Testes Psicológicos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Teoria Existencial (Sören Kierkegaard) .............................................. 10 Um Rápido Passeio pelo Existencialismo .....................................................................10 Principais Filósofos Existencialistas ................................................................................... 12 Principais Características do Existencialismo ............................................................. 14 Teoria Existencial de Sören Kierkegaard ........................................................................ 14 Os Três Modos de Vida de Kierkegaard ........................................................................ 20 Reich e a Psicologia Corporal ................................................................22 A Visão Psicanalista de Wilhelm Reich ...........................................................................22 Os Conceitos de Wilhelm Reich ...........................................................................................25 A Personalidade na Visão Reichiana .................................................................................28 Etapas do Desenvolvimento Infantil ...............................................................29 A Psicoterapia Reichiana ............................................................................................................32 Conceito de Personalidade para Heidegger ...................................34 Mais um Pouco sobre o Existencialismo .......................................................................34 Martin Heidegger e o Existencialismo .............................................................................37 Traços Existenciais ......................................................................................................................... 38 Daisen: ................................................................................................................................. 38 Existência: ......................................................................................................................... 39 Temporalidade: ............................................................................................................. 39 Morte .................................................................................................................................... 40 A Linguagem para Heidegger ............................................................................................... 41 Essência da Verdade ....................................................................................................................43 A Integração entre os Conceitos da Psicologia da Personalidade ...............................................................................................46 Falando de Personalidade ....................................................................................................... 46 O Desenvolvimento da Personalidade Descritos em Etapas ........................ 48 Conceitos de Desenvolvimento da Personalidade ................................................52 7 UNIDADE 04 Psicologia da Personalidade 8 INTRODUÇÃO O estudo da Psicologia da Personalidade é uma área que levanta ainda muitos questionamentos. O que é personalidade? Herdamos nossa personalidade ou ela é formada a partir das vivências no meio ambiente em que estamos? Como começou o interesse pelo estudo da personalidade humana? Como entendemos personalidade hoje? Podemos mudar nossa personalidade? Essas respostas são o alvo do nosso trabalho. Estudarmos as principais teorias de personalidade vai ajudar a compreender melhor o funcionamento do ser humano, objeto de cuidado do psicólogo. Entender o processo de formação da personalidade sob o olhar de autores de várias abordagens e correntes da psicologia vai permitir aumentar o universo de conhecimento para facilitar o seu desempenho didático como aluno e seu desempenho profissional como psicólogo. Então, lançamos o desafio de convidar você a se dedicar ao conteúdo desta disciplina. Teremos uma série de oportunidades para o exercício do pensamento crítico embasado em conhecimento científico. Mergulhe no universo da Psicologia da Personalidade! Bons estudos! Psicologia da Personalidade 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Abordar a Teoria Existencial de Sören Kierkegaard. 2. Identificar os aspectos discutidos por Reich e a Psicologia Corporal na construção da personalidade. 3. Entender o conceito de personalidade discutido por Heidegger. 4. Integrar os conhecimentos estudados da psicologia da personalidade. Psicologia da Personalidade 10 Teoria Existencial (Sören Kierkegaard) OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como os estudos da visão existencialista pensaram no homem. Veremos alguns filósofos importantes dessa corrente filosófica e nos deteremos nos estudos de Sören Kierkegaard - nas suas visões do homem e a constituição de sua existência com responsabilidade de escolha e as consequênciasda liberdade do livre arbítrio. E então? Motivado para este novo enfoque da personalidade? Então vamos lá. Avante!. Um Rápido Passeio pelo Existencialismo O existencialismo foi caracterizado como uma corrente filosófica e movimento intelectual que surgiu em meados do século XIX, entre as duas Guerras Mundiais (1918-1939) na Europa, mais especificamente, na França. Sua doutrina tinha como ideia principal a análise da existência do homem, isto é, como cada ser humano primeiramente existe e depois como passa pela vida mudando sua essência. IMPORTANTE: Para o Existencialismo, o homem existe e sua existência já é suficiente para que exista sem que outra circunstância precise provar esse fato. A existência humana é, portanto, o principal objeto dos pensamentos e teorias. O homem existe e constrói sua essência individual a partir da liberdade que tem para fazer escolhas. Para os filósofos existencialistas, a liberdade de escolha é um fenômeno gerador, uma vez que só o homem é responsável pelo sucesso ou fracasso de suas escolhas. A vida tem sentido por meio da liberdade incondicional, da escolha e da responsabilidade pessoal. Psicologia da Personalidade 11 Figura 1 - As escolhas Fonte: Freepik SAIBA MAIS: O Existencialismo tem como precursores nomes de filósofos importantes como Sócrates, Santo Agostinho e Maine de Bitan, mas tem sua origem a partir das ideias de Sören Kierkegaard, que entendia o homem como um sujeito implicado na sua própria reflexão e não limitado a uma objetivação abstrata da realidade. Os filósofos existencialistas defendiam a tese de que a vida e a existência eram fundamentais para o acúmulo gradual de conhecimento. As pessoas eram capazes de construir seus próprios caminhos e suas concepções de vida no decorrer de suas existências. No entanto, a busca constante de conhecimento não era suficiente para que as pessoas entendessem suas existências ou as coisas que viessem a acontecer com elas. A essa falta de respostas os filósofos existencialistas chamavam de angústia existencial. Psicologia da Personalidade 12 Principais Filósofos Existencialistas • Sören Kierkegaard: no final do século XIX e início do século XX, apresenta as primeiras ideias sobre a filosofia existencialista. Influenciados por ele, alguns outros filósofos passaram a desenvolver trabalhos nesse campo. SAIBA MAIS: Kierkegaard era um filósofo da chamada ala cristã que defendia o livre arbítrio do homem. Sobre esse filósofo, nos deteremos mais um pouco ainda neste capítulo. • Jean Paul Sartre: defendia os princípios da liberdade de escolha como força geradora e elemento de total responsabilidade individual. Além disso, afirmava que a pessoa era a única responsável pelos seus fracassos e sucessos. Casado com Simone de Beauvoir, Sartre foi um dos mais conhecidos filósofos franceses. • Simone de Beauvoir: estudou Filosofia na Universidade de Sorbonne. Associou as ideias de liberdade de escolha pregada pelo Existencialismo ao feminismo. Pregava que a mulher era livre para fazer escolhas e não tinha um destino biológico e sim social. Para ela “não se nasce mulher: torna-se”. Mesmo com a imposição social para a mulher ser esposa, mãe ou qualquer outro destino ligada à condição de ser do sexo feminino, a mulher se torna mulher pelo seu papel social. • Albert Camus: esse filósofo argelino dedicou-se ao absurdismo, um ramo do Existencialismo que discutia os vários absurdos que envolvem a existência e que ocorrem na vida das pessoas. • Martin Heidegger: esse filósofo alemão propunha que os questionamentos filosóficos deveriam ser centrados no próprio ser. Psicologia da Personalidade 13 VOCÊ SABIA? O existencialismo se desenvolveu em dois pontos de vista: existencialismo ateu e existencialismo cristão. O representante principal do existencialismo ateu é Sartre e do existencialismo cristão é Kierkegaard. Existencialismo ateu: uma vez que considera a inexistência de Deus, entende que todo o fundamento do Universo desaparece. Isso dá origem à subjetividade da moral. Dessa forma, aparece um sentimento de angústia que mostra a fragilidade do homem e sua responsabilidade diante de qualquer atitude, assim como a necessidade de decisões sobre um autoprojeto individual ou compromisso social. Existencialismo cristão: considera a união transcendente de Deus e do homem na pessoa de Jesus Cristo. A comunhão e o relacionamento pessoal com Deus promove a transcendência moral da presença absoluta. O existencialismo cristão defendia a consciência das escolhas humanas. Responsável pelas decisões, o homem deixa de ser uma pessoa óbvia para si mesma e questiona sua existência diante de Deus. Figura 2 - Existencialismo Cristão: homem diante de Deus Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 14 Principais Características do Existencialismo A partir das ideias de Soren Kierkegaard, o Existencialismo atinge o apogeu na década de 1950, na França, com a publicação dos trabalhos de Heidegger e Sartre. Mesmo marcada por ideias próprias de cada um dos filósofos, o Existencialismo reúne algumas características que podem ser definidas como comuns entre eles: • A existência vem sempre antes da essência. • A essência humana é construída a partir das escolhas individuais. • A liberdade de escolhas é incondicional. • O indivíduo é o único responsável por suas próprias escolhas. • As escolhas levam, inevitavelmente, a perdas. • As escolhas e a vida levam a um estado de desespero e angústia existencial. Teoria Existencial de Sören Kierkegaard Sören Aabye Kierkegaard nasceu em Copenhague, na Dinamarca, em 1813. Ele foi o mais novo de uma família de oito filhos e sofreu grande influência das convicções religiosas do pai, um agricultor e católico fervoroso. O sentimento religioso foi profundo da vida de Kierkegaard e foi a motivação para iniciar o curso de Teologia na Universidade de Copenhague, que depois resolveu abandonar e se voltar para Filosofia. Kierkegaard escolheu viver sozinho para dedicar-se à fé religiosa e acredita-se que as suas racionalizações filosóficas, também consideradas românticas, eram a sua forma de justificar para si e para os outros sua opção pela vida solitária. Psicologia da Personalidade https://querobolsa.com.br/enem/filosofia/martin-heidegger https://querobolsa.com.br/enem/filosofia/jean-paul-sartre 15 Como já dissemos, Kierkegaard foi considerado o pai do Existencialismo, uma corrente filosófica que trazia à discussão propósitos, causas e consequências das decisões e atitudes do homem, dentro da sua realidade individual. Entendia que tomar consciência e questionar as exigências feitas pela sociedade é essencial para se viver de maneira autêntica. O Existencialismo pensava o homem como alguém que decide a sua existência, que constrói a sua realidade e não como um expectador da vida, com destino traçado desde o nascimento até a morte. Figura 3 - O homem faz escolhas e decide sua vida Fonte: Freepik IMPORTANTE: A principal diferença na visão existencialista era a abordagem das experiências individuais e pessoais e não o ponto de vista universal como era o entendimento na época. Alguns estudos pensam o Existencialismo como uma corrente ateísta, mas, apesar de ter alguns de seus pensadores declaradamente ateus como Sartre, Camus e Nietzsche, essa não é uma afirmativa correta. Kierkegaard, como vimos, era um cristão praticante que fazia críticas a alguns princípios religiosos rígidos e afastados da espiritualidade e que dizia que um cristão deve agir como um cristão. Psicologia da Personalidade 16 Assim, partindo da ideia de que o homem é o único responsável por viver de modo apaixonado e íntegro, dando um significado sincero à sua existência, Kierkegaard descreve alguns obstáculos que podem dificultar este objetivo e para os quais deve estar atento. • Distrações existenciais: desespero, absurdo, alienaçãoe tédio. • Desespero. O desespero está presente na relação fantasiosa da pessoa consigo mesma. Considera que é pior que a morte porque é um mal para o qual não há cura já que está presente na imaginação da pessoa. SAIBA MAIS: Para Kierkegaard, não existia sequer uma pessoa que fosse isenta de desespero: que não tivesse inquietação, perturbação, desarmonia, medo do desconhecido, medo de um evento externo ou medo de si mesmo. Por isso, dizia que todas as pessoas vivem um estado latente de enfermidade. Figura 4 - Pessoas em estado latente de enfermidade Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 17 • Absurdo O absurdo é o contraditório, é algo sem sentido. É basicamente o conflito entre a tendência de buscar o significado da vida e a falta de habilidade para encontrar esse significado. A busca do significado da vida leva a pessoa a entender que a vida não tem sentido ou que o sentido da vida é conduzido por uma força maior. O absurdo não é algo logicamente impossível, mas é humanamente impossível, uma vez que o sentido do mundo é o significado que a pessoa dá a ele. • Alienação A alienação é a falta de consciência que uma pessoa pode ter da responsabilidade de escrever a sua própria história. Uma pessoa alienada nega sua existência, anula-se, vive o mistério de ser ou não ser. Para algumas pessoas seguir ordens de forma passiva e consentir com outras pessoas seria mais fácil que tomar decisões porque requereria menos esforço emocional. SAIBA MAIS: Kierkegaard entendia que o maior exemplo de alienação eram os meios de comunicação em massa, já que buscavam as verdades nas maiorias e não nas minorias, onde as verdades seriam encontradas. Para ele, as minorias sempre tinham opiniões, enquanto as maiorias tinham forças ilusórias. Outro ponto importante ligada à alienação era a explicação para os genocídios e lavagens cerebrais que levavam as pessoas às guerras sem sequer questionar as ordens. • Tédio. O tédio era a raiz de todos os males. O tédio era o mal responsável pelos problemas desde o início do mundo: os deuses entediados criaram o homem, o tédio da solidão de Adão fez Eva ser criada e consequentemente o aumento da população fez o tédio aumentar no mundo. Psicologia da Personalidade 18 Figura 5 - O tédio Fonte: Freepik • Angústia. É o medo e a frustração que o conflito entre as responsabilidades consigo próprio e com princípios e valores seus e das demais pessoas causa. Tomar decisões tem base na liberdade de escolher. Escolher fazer algo ou não fazer nada leva a um sentimento de angústia. Não existe qualquer decisão sem vir acompanhada de angústia, porque sempre gera um conflito interno. Gera conflito porque toda escolha tem consequências. Assim, Kierkegaard afirmava que a liberdade de escolha não era razão para a felicidade, mas uma sensação de angústia. Figura 6 - Angústia Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 19 SAIBA MAIS: Kierkegaard entendia que uma pessoa é responsável pelo seu próprio destino e não deve buscar um caminho ideal ou correto para os outros, mas se preocupar em providenciar sua própria história de vida. Para ele, a liberdade de escolha presume possibilidades e consequentes imprevisibilidades no futuro. A importância da liberdade de escolha e a busca pessoal por significado da vida e por um propósito de vida são a base do Existencialismo de Kierkegaard. • Verdades existenciais. Para Kierkegaard, a existência é a única verdade, mas não é lógica. Se a existência não é lógica mas é real, então a verdade não é objetiva. A verdade é, então, subjetiva. A verdade subjetiva é um construto da intensidade da fé. Quanto maior a crença, mais verdadeiro é o objeto do conhecimento. Nessa dialética semelhante à de Sócrates, Kierkegaard dizia que as verdades essenciais estão fora do alcance objetivo do homem, e, por isso, surgem em forma de tensão. Ideias novas são provenientes de paradoxos e não há como solucioná-las. Para ele, a verdade é verdadeira para a pessoa, a verdade é o que convém, por isso, conhecer a verdade é um ato de fé, não um ato da razão. A subjetividade da verdade traz um liberdade ilimitada e não pode ser provada porque a necessidade da lógica para prová-la é o oposto da verdade. Psicologia da Personalidade 20 Os Três Modos de Vida de Kierkegaard Kierkegaard divide a existência humana em três categorias ou estágios: • Estágio estético: o prazer é o alvo da vida. Não existe envolvimento profundo em relacionamentos, não há obrigatoriedades, não há compromisso com o outro. Há ilusão de que na existência só há prazer, mas a angústia aparece porque está presente na vida de todos os homens. A busca de realização de todas as possibilidades e da fuga permanente do tédio gera satisfação transitória e, em última instância, desespero. • Estágio ético: é o estágio do dever, da honra, das regras, das obrigações. É o papel do trabalhador exemplar, do pai devotado, das pessoas que levam tudo a sério. A vida ética é aquela da intensidade dos deveres, do reconhecimento das consequências e responsabilidades das escolhas e a preocupação toma conta da vida. • Estágio religioso: estágio de profunda relação com Deus. O futuro eterno do homem religioso é mais importante que a vida terrena, que é momentânea. Não é possível viver completamente na eternidade caso se esteja preso ao mundo por meio de um corpo. A prioridade é pela vida humilde, não submetida à ética, mas sim submetida à Deus. Kierkegaard não pensava que esses estágios fossem etapas a serem superadas. Acreditava, na verdade, que essas eram diferentes formas de existir, uma vez que cada estágio é caracterizado por uma perspectiva diferente. São estágios distintos em termos existenciais, regidos por uma alternativa que intitulou: ou um ou outro. São alternativas existenciais e não racionais. Psicologia da Personalidade 21 RESUMINDO: Neste capítulo, estudamos que a Psicologia Existencial tem conceitos filosóficos que discutem a existência do homem. O fundador dessa corrente de estudos é o filósofo dinamarquês Sörem Kierkegaard, que dizia “Existo, logo penso” numa modificação da famosa frase de René Descartes: “Penso, logo existo”. A marca principal da filosofia do Existencialismo é a liberdade e responsabilidade da pessoa no que diz respeito às suas escolhas e decisões, colocando-a no centro da sua existência. Mesmo que pareça uma corrente de pensamento que elimina Deus e a fé, isso não é a sua verdade. A crença em Deus não elimina a decisão humana sobre sua vida. Kierkegaardrd pregava o princípio do livre arbítrio, uma vez que entendia o homem como único responsável em dar significado à sua vida e vivê-la de maneira íntegra, sincera e apaixonada, apesar da existência de obstáculos vitais. Psicologia da Personalidade 22 Reich e a Psicologia Corporal OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender como Wilhelm Reich descreveu a psicoterapia orientada para o corpo. O seu trabalho terapêutico enfatizava a importância dos aspectos físicos do caráter da pessoa, em especial, os modelos de tensão crônica. Também trabalhou com os aspectos de como a sociedade desempenha o papel de inibição dos sentidos, em particular os instintos sexuais do ser humano. Reich foi considerado um estudioso que colocou em prática as questões revolucionárias da teoria psicanalítica. E então? Vamos começar este estudo? . A Visão Psicanalista de Wilhelm Reich Wilhelm Reich foi um psicanalista, nascido na Áustria em 1847. Estudou medicina na Universidade de Viena onde entrou na Sociedade Psicanalítica e começou a praticar a psicanálise. No ano em que se formou, em 1922, Freud fundou uma Clínica Psicanalista e Reich foi seu primeiro assistente clínico, tornando-se diretor na Clínica. VOCÊ SABIA? O relacionamento profissional de Freud e Reich ficou abalado quando Freud não aceitou ser terapeuta de Reiche ainda por causa do distanciamento teórico que se estabeleceu entre eles pelo envolvimento de Reich com teoristas marxistas e suas convicções de que as neuroses eram fundamentadas na falta de satisfação sexual. A partir dos estudos psicanalíticos de Freud, Reich criou uma nova abordagem terapêutica que envolvia as intervenções verbais, com base na fundamentação psicanalítica, e de forma simultânea, as intervenções corporais, isto é, os processos orgânicos e energéticos do corpo. Psicologia da Personalidade 23 A essa abordagem terapêutica chamou inicialmente de Vegetoterapia Caractero-Analítica, depois de Orgonoterapia e atualmente é chamada de Psicoterapia Reichiana. Seus estudos iniciais se deram a partir da análise que fazia do conteúdo da fala dos seus clientes, do tom de voz, da forma como se expressavam durante os atendimentos, e das suas expressões corporais, a postura, os gestos, as expressões faciais, a forma como olhavam. Algumas vezes, os pacientes eram levados a descrever as sensações corporais. Outras vezes eram orientados a mudar sua postura ou determinada expressão corporal por meio do toque, de movimentos ou expressões. SAIBA MAIS: Seus métodos de intervenção corporal incluíam respiração profunda, movimentos oculares, sonorização, expressão facial, expressão de emoções e vários outros. Reich acreditava que as alterações dos componentes corporais eram mecanismos de defesa do ego e que a dissolução dos bloqueios corporais levava à lembrança de memórias reprimidas, de reações emocionais e respostas vegetativas ligadas aos sistemas nervosos simpático e parassimpático. O sistema nervoso autônomo tem duas divisões: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. O sistema nervoso simpático é o responsável por preparar o organismo para responder a situações de estresse e emergência: aumenta a frequência cardíaca, aumenta a pressão arterial, libera adrenalina, contrai e relaxa os músculos, dilata os brônquios, dilata as pupilas e aumenta a transpiração. O sistema nervoso parassimpático é responsável por fazer o corpo voltar ao estado de calma: controla a respiração, diminui a frequência cardíaca, diminui a pressão arterial, diminui adrenalina, diminui a glicose, controla o tamanho das pupilas. Psicologia da Personalidade 24 Figura 7 - Sistema Simpático e Parassimpático Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 25 Grande parte do trabalho de Reich era fundamentado na teoria psicanalista, a partir do manejo clínico de transferência e resistência, de modo a desenvolver a análise do caráter e couraça caracterológica. Acreditava que o caráter de uma pessoa incluía padrões de defesa consistente e habitual. Esse estudo foi uma das mais importantes contribuições para a abordagem clínica da Psicanálise. Realizou pesquisas clínicas na Universidade de Oslo sobre a dinâmica biopsíquica das emoções, e desenvolveu estudos experimentais sobre encouraçamento, isto é, a existência da associação entre soma (corpo) e psiquismo. Outro estudo derivado da concepção freudiana de libido foi o estudo de energia vital ou orgônica numa correlação dos conceitos freudianos de libido e energia psíquica com a sexualidade. SAIBA MAIS: Reich foi um pioneiro nos estudos de fenômenos psicossomáticos. Suas pesquisas enfatizavam o envolvimento psíquico nas doenças orgânicas e o envolvimento das disfunções corporais no caráter neurótico e nas psicopatologias. Os Conceitos de Wilhelm Reich Como já falamos, Reich foi um psicanalista seguidor fiel dos princípios de Freud, a partir dos quais desenvolveu seus estudos e alguns conceitos que podem considerados controversos se comparados aos conceitos freudianos. • Neurose: acreditava que o princípio da neurose estava nos conflitos de poder das relações sociais e nas implicações psicológicas e emocionais das pessoas. Psicologia da Personalidade 26 Figura 8 - Neurose Fonte: Freepik • Repressão: defendia a tese de que a repressão que uma pessoa sentia era evidenciada fisicamente em seu corpo na forma de tensão. Assim, com o passar do tempo, essa tensão acabava por se manifestar em dores e doenças crônicas. • Palavra: entendia que a repressão não poderia ser tratada apenas pela palavra, como defendia a Psicanálise Freudiana, mas que o tratamento também deveria ser realizado no campo físico, atuando no corpo de forma efetiva. • Repressão x Armadura Corporal x Orgasmo: considerava que a armadura corporal atuaria como um bloqueio ao orgasmo completo. Assim, libertar-se da repressão seria muito difícil. • Sentimentos livres: entendia que o amadurecimento das relações amorosas seria possível se houvesse amadurecimento da livre expressão dos sentimentos emocionais e sexuais. • Sexo é cura: a energia reprimida seria manifestada nas relações sexuais, o que tornaria as pessoas livres e a sociedade melhor. • Formação do caráter: a ansiedade infantil e o medo viriam da punição da sexualidade. • Explosão energética: depois dos tratamentos propostos por Reich, a energia psíquica poderia fluir e as recordações e experiências do passado apareceriam de forma mais fácil, permitindo formar um campo positivo na pessoa. Psicologia da Personalidade 27 • Orgonomia: seria a energia vital que só é possível ser acessada durante o orgasmo. Considerava que seria uma energia universal e espiritual. Se fosse bloqueada causaria decadência, enfermidade e morte. • Energias e sexo: considerava que as encontradas durante seu trabalho tinham ligações diretas com sexo. • Energia universal: presente em tudo e todos, incluindo o Universo e o vácuo do espaço. Figura 9 - Energia Universal Fonte: Freepik • Couraças de caráter: seriam o acúmulo das repressões sobre os instintos, são os nós emocionais que não são devidamente trabalhados. • Couraças musculares: são as manifestações clínicas das couraças de caráter, perceptíveis em partes do corpo. IMPORTANTE: As pesquisas de Reich foram pioneiras na abordagem de que distúrbios psíquicos e emocionais estão associados de forma direta a alterações corporais que afetam a musculatura corporal, causando tanto lesões musculares crônicas ou flacidez, numa função defensiva do próprio corpo. Psicologia da Personalidade 28 Além disso, descreveu alterações respiratórias, circulatórias, sensoriais, digestivas, hormonais, neurológicas associadas às alterações psíquicas, que levaram, de maneira muito importante à compreensão das doenças psicossomáticas. A Personalidade na Visão Reichiana Alguns conceitos de personalidade, temperamento e caráter já foram discutidos neste curso. Vamos descrever como pensa a visão Reichiana sobre estes temas. • Personalidade: conjunto de características gerais da pessoa e que as diferem das demais. É a soma do temperamento e do caráter, resultado dos conflitos internos e demandas externas que uma criança passa no seu desenvolvimento ao longo da vida. • Temperamento: são as bases congênitas, formadas durante a gestação. São as particularidades físicas e morfológicas que diferenciam as pessoas em termos de energia da vida, dentro e fora do corpo. É a forma individual de ser e agir. • Caráter: manifestação comportamental do temperamento e da personalidade. É a expressão do corpo em gestos, posturas, tom de voz, roupas, relacionamento. Também é desenvolvido ao longo da vida. IMPORTANTE: A Psicologia Reichiana, ou Psicologia Corporal trabalha o temperamento (energia), personalidade (psiquê) e caráter (corpo) numa interrelação. Reich chamava esses elementos de tripé, e descreveu personalidade de caráter psicótico (altamente comprometido), neurótico (levemente comprometido) e genital (não comprometido) que são desenvolvidos ao longo da vida de criança até a adolescência. Psicologia da Personalidade 29 A personalidade é, então, formada a partir da compreensão que a criança tem do mundo, dos seus relacionamentos com as pessoasmais importantes da sua vida e pela sua capacidade de interagir com o mundo por meio do comando voluntário da musculatura. Os traumas emocionais, as privações e o sofrimento afetivo são associados a alterações psicomotoras. Etapas do Desenvolvimento Infantil Reich descreve cinco etapas do desenvolvimento infantil. Se a criança passar de forma saudável pelas etapas, irá desenvolver uma personalidade do tipo genital. A descrição das etapas estão a seguir: • Sustentação - é o período da gestação até os primeiros dias de vida. A criança precisa se sentir aceita, sem riscos para sua sobrevivência. Uma gestação sem intercorrências, um parto saudável, o toque da mãe, seu cheiro e seu olhar são fundamentais para a vivência saudável nesta etapa. Figura 10 - Amamentação Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 30 • Incorporação - vai do nascimento ao nono mês. A criança precisa se sentir amada pela mãe. A amamentação deve ser retirada sem estresse. Figura 11 - Cuidado da mãe Fonte: Freepik • Produção - vai dos 2 aos 5 anos. O pai deve estar sempre presente. A criança precisa de regras que não a coloquem em situação de humilhação ou submissão. Sem ameaça de castração. Figura 12 - Cuidado do pai Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 31 • Identificação - dos 5 aos 8 anos. A criança precisa aprender o que é certo ou errado. Precisa ter consciência da sua sexualidade, sem se sentir moeda de troca. Deve aprender a respeitar e ser respeitado. Figura 13 - Brincadeira de criança Fonte: Freepik • Estruturação da personalidade/caráter - dos 8 anos até a adolescência. Todos os traços de personalidade devem amadurecer e as consequências positivas e negativas das etapas anteriores devem se tornar mais evidentes. Figura 14 - Adolescência Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 32 O caráter genital é o que Reich considerou como sendo não blindado, autorregulado, com potência orgástica. No entanto, também considerava que na sociedade não é possível alcançar esse caráter de forma integral. Entendia que, para viver em sociedade, seria necessário ter um caráter neurótico. No entanto, a presença de traços do caráter genital já seria suficiente para se viver de forma saudável. O caráter neurótico é consequência dos bloqueios de energia que a criança sofreu ao longo das etapas de formação da personalidade. Quando os traços do caráter neurótico são insustentáveis, então a pessoa pode apresentar transtornos mentais, como os descritos no DSM5. A Psicoterapia Reichiana É uma abordagem terapêutica que atua no tratamento de distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade, fobias, dificuldade de relacionamento e também em problemas clínicos como dores de cabeça, hipertensão, asma, gastrite, etc., abordando os níveis psicológico, corporal e bioenergético. A Psicoterapia Reichiana utiliza as técnicas voltadas para o trabalho verbal analítico e as técnicas corporais e vivenciais. • Respiração: técnicas de respiração que ajudam a entrar em contato com sentimentos e emoções que estão reprimidas para que sejam expressas pela pessoa. • Movimentos desbloqueantes e movimentos ontogenéticos: ações corporais voluntárias que ativam expressões afetivas e memórias de fases diferentes da vida. • Movimentos oculares e foto-estimulação: estímulo de áreas específicas do cérebro para que conteúdos significativos do inconsciente sejam acessados. • Aplicação de toques: massagem reichiana visa a recuperação da tonicidade da musculatura e dissolução de tensões. O trabalho nos pontos energéticos, que estão ligados a emoções e conteúdos psíquicos reprimidos, facilita a regularização de fluxos bioenergéticos. Psicologia da Personalidade 33 • Trabalhos de expressão sonora, movimentos dos membros, visualizações, alongamento, relaxamento, técnicas vivenciais também são usadas na Psicoterapia Reichiana. RESUMINDO: Vimos neste capítulo que Psicoterapia Reichiana ou Psicoterapia Corporal é o nome com o qual se denominam as várias técnicas psicoterápicas que trabalham a mente, por meio da análise verbal e do corpo pelas intervenções corporais e vivenciais. Essa foi uma abordagem criada por Wilhelm Reich, um psicoterapeuta e psiquiatra austríaco, discípulo de Freud. Inicialmente chamada de Vegetoterapia Caractero-Analítica e depois de Orgonoterapia, hoje é conhecida como Psicoterapia Reichiana. Seus trabalhos foram, a partir das observações sobre a relação corpo-mente, fundamentados nos seus conhecimentos como psicanalista. Reich passou a analisar não apenas o conteúdo da fala, mas também a forma como o paciente se expressava. Suas pesquisas proporcionaram a descoberta de que no organismo humano existe uma energia específica, que chamou de bioenergia ou orgone, que circula pelo corpo impulsionada pelas funções emocionais e fisiológicas. A couraça, resultante da contenção de impulsos e emoções, promove um bloqueio nos fluxos de energia orgônica, fazendo surgir no organismo regiões com deficiência de energia, ou regiões com excesso de energia estagnada, que predispõem ao surgimento de doenças. Os trabalhos corporais promovem a regularização desses fluxos de energia e, consequentemente, a restauração da saúde. Descreveu a formação da personalidade a partir da vivência das etapas da vida da criança desde seu nascimento até a adolescência. Entendeu que falhas em quaisquer dessas etapas podem resultar numa personalidade neurótica ou psicótica. Psicologia da Personalidade 34 Conceito de Personalidade para Heidegger OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como Martin Heidegger pensou o ser humano e sua inserção no mundo. Suas complexas teorias não versaram especificamente sobre o desenvolvimento da personalidade humana, como vimos com outros pensadores do tema, mas em como o homem se vê e vive as experiências da vida. Heidegger foi um dos mais importantes teóricos do Existencialismo e sua contribuição foi além do âmbito da ciência da Psicologia, influenciou também personalidades importantes das Artes, Literatura e Teologia. E então? Motivado para este novo enfoque da personalidade? Então vamos lá. Avante!. Mais um Pouco sobre o Existencialismo Como já discutimos anteriormente, o Existencialismo foi uma corrente filosófica que se popularizou na Europa, especificamente em Paris, depois da Segunda Guerra Mundial. A humanidade, abalada pelas consequências trágicas das duas Grandes Guerras, encontrava-se confusa, perdida e sem esperança em meio aos inúmeros problemas sociais e emocionais instalados no mundo. As questões relacionadas à existência humana não conseguiam ser respondidas pelo Idealismo ou pelo Positivismo, sistemas filosóficos presentes na sociedade da época. Assim, surge uma nova corrente filosófica, como uma tentativa de renovação na maneira de ver e interpretar as coisas, de discutir o sentido da existência. A consciência de si mesmo e do mundo é um dos pontos fundamentais do Existencialismo e alguns dos principais filósofos e pensadores foram: Sören Kierkegaard, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Karl Jaspers, Martin Biber. Psicologia da Personalidade 35 SAIBA MAIS: Na Espanha, o pensamento existencialista foi representado por José Ortega e Miguel de Unamoni. Na Rússia por Lev Shestov e Nicolau Berdiaev. A proposta do Existencialismo é analisar o homem em seu todo e não apenas pelos aspectos intrínsecos (mente, cognição e sentimentos) ou pelos aspectos extrínsecos (corpo, comportamento e ações). A consciência do mundo e de suas ações é peculiar à existência humana, uma vez que existir não pode ser classificado ou mensurado. Figura 15 - Um dos aspectos intrínsecos do Existencialismo: a mente humana Fonte: Freepik Uma das características do Existencialismo é a responsabilização da pessoa pelas suas ações e atitudes, ou seja, nada está previamente determinado. Dessa forma,sem ter como transferir as responsabilidades Psicologia da Personalidade 36 de suas escolhas, o homem experimenta um sentimento de ansiedade, que o leva a refletir sobre sua existência. Figura 16 - A escolha humana Fonte: Freepik Outra característica é a noção de autenticidade, que é a não submissão aos valores da sociedade, mas o posicionamento de um lugar na dinâmica social, com atitudes que reflitam a própria existência e a não realização somente daquilo que a sociedade espera de cada um. IMPORTANTE: As escolhas de uma pessoa podem fazer com que ela modifique seu modo de viver, em um compromisso de crescimento constante. O Existencialismo utiliza a fenomenologia quando analisa as experiências humanas e sua consciência sobre os acontecimentos, a antropologia e a interação da dimensão do homem, o que permitiu que outras áreas como a literatura, as artes e a teologia também a utilizassem. Assim, podem ser encontrados pensamentos existencialistas nas obras Psicologia da Personalidade 37 literárias de André Malraux, Albert Camus, Franz Kafka e Fiodor Dostoievski e nos escritos do teólogo Paul Tillich. Martin Heidegger e o Existencialismo Martin Heidegger foi considerado um dos maiores filósofos representantes do Existencialismo aplicando a fenomenologia, que considerava ser o único método possível de interpretar o estudo ontológico do ser. Entendia que a questão do ser não havia sido resolvida pelos estudos filosóficos ao longo da história porque haviam sempre sido estudos parciais do ser e não dele como um todo. Ontologia é o estudo do ser, dos entes ou das coisas como são em si mesmas, de forma real e verdadeira. Sua análise do ser levava em consideração que o ser não pode ser definido, não se deixa determinar por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser ele mesmo, autônomo, independente e indefinível e se manifesta como um ente. SAIBA MAIS: As definições de ser e ente trazem uma certa confusão. De uma maneira simples, entende-se que o ente é um modo de ser e é determinado pelo ser. O ente é o que se fala, é o que se é, é como se é. O ser é aquilo que se faz presente no ente, o ilumina e se manifesta nele. O ser está no ente, mas nada no ente revela a natureza do ser. Para Heidegger, o homem é o guarda do ser e precisa preservar a dignidade do ser. Sabe que o ser dá ao ente a garantia de ser. Sem esta garantia, o ente permanece no nada, na falta absoluta do ser. A existência é a totalidade das relações recíprocas da própria existência com o ser e também com os entes. O ente privilegiado, na visão de Heidegger é o homem, porque só ele existe e tem a responsabilidade e a tarefa de ser. Outros entes são, mas não existem. Psicologia da Personalidade 38 O homem é o único ente que permite o acesso ao ser, que tem consciência e relação singular com o seu ser, que tem a possibilidade de ser ou não ser ele mesmo, que tem traços fundamentais, característicos do seu ser e a tais traços, ele chamou de traços existenciais. Traços Existenciais Daisen: O primeiro traço existencial é o ser-no-mundo (ou Daisen). O mundo é o tudo: círculo de afeto, de conhecimentos, de interesses, de desejos, de preocupações. O ser está sempre em relação com algo ou alguém. O homem é, portanto, um ser-no-mundo, é um-ser-em situação e sempre pronto para ser algo novo. Sua existência presente é voltada para o que pretende fazer no futuro. Figura 17 - Círculo de afeto do ser-no-mundo Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 39 Existência: O segundo traço existencial é a existência, a natureza do homem, a sua essência, a característica de ser fora de si, diante de si, por seus ideais, planos e possibilidades. A existência é definida pela transcendência, isto é, a projeção para além do que se é. O homem se projeta para o futuro, preocupa-se com o que acontece, faz escolhas, se antecipa, supera o presente, transcende. A essência do homem consiste na sua existência, que, por sua vez, precede e determina a essência. SAIBA MAIS: Heidegger afirmava que o homem teria a vida autêntica ou inautêntica conforme se guiasse pelo primeiro ou segundo traço existencial. Vida inautêntica é a vida daquele que se deixa dominar pela situação, não tem desejo de saber, se submete à lei da maioria, não tem responsabilidade de tomar iniciativas e decisões. Vida autêntica é a vida daquele que assume sua vida, elabora seu plano de futuro, e leva em consideração todas as possibilidades, inclusive a possibilidade da morte, de deixar de existir aqui, de cessar. Temporalidade: O terceiro traço existencial é a temporalidade, a ligação do homem ao tempo, o estar além de si, de futuro. Temporal é o transitório, o que passa com o tempo, mas não é o tempo em si. A situação existencial é ligada à temporalidade uma vez que o homem só existe porque está ligado ao tempo. E existir é a possibilidade de construir o futuro. A temporalidade une a essência com a existência, torna possível a unidade da existência, constrói a totalidade das estruturas do homem. Mais do que a soma dos momentos da vida, a temporalidade permite a compreensão do passado, presente e futuro. Isto é, o homem precisa fazer parte de algo em que já se encontra, em algo do passado e utilizar tudo que o cerca no presente. Psicologia da Personalidade 40 IMPORTANTE: A temporalidade dá ao homem as possibilidades de sentir, entender e discorrer. Pelo sentir, comunica-se com o passado. Pelo entender, comunica-se com o futuro. Pelo discorrer e comunica-se com o presente. Figura 19 - Temporalidade: essência e existência Fonte: Freepik O homem é o único ente que consegue ter consciência entre o que já foi e o que será e que tem a possibilidade de recomeçar ou reconstruir a vida. Assim, o presente é uma mistura de retomar o passado e antecipar o futuro e Heidegger dizia que existir é temporalizar-se. Morte Outro tópico existencial discutido por Heidegger é a morte, a maior certeza do homem. Não é uma possibilidade distante, mas uma constante presente. O homem é um ente que está no mundo para a morte. Entretanto, a experiência que o homem tem com a morte é sempre por meio da morte dos outros, uma vez que não tem consciência de viver a sua própria morte. Heidegger afirma que a morte é a única maneira do homem atingir a individuação, ou seja, conquistar a totalidade da vida. Psicologia da Personalidade 41 SAIBA MAIS: O princípio da individuação é o princípio de que a morte é a única possibilidade para a totalidade do ser, que limita o ser e também lhe permite ser completo. Figura 20 - A morte presente na vida Fonte: Freepik A Linguagem para Heidegger A linguagem tem um papel especial na filosofia de Heidegger porque ele acreditava que, uma vez sendo o homem ser-em-situação, somente por meio da função ontológica da linguagem seria possível a epifania do ser. Psicologia da Personalidade 42 Epifania: palavra de origem grega epipháneia, que significa aparição, posteriormente, no latim epihania, epifania. (Dicionário Online de Português). A relação do ser com a linguagem ocorre de duas formas: pela linguagem original e pela linguagem derivada. • Linguagem original: exprime diretamente o ser, mostra o ser, revela o ser, traz o ser para a luz. É uma linguagem que não tem base em nenhum sinal especial, mas é a fonte fundamental para o aparecer das coisas, é a origem de todos os sinais. A linguagem original tem uma densidade ontológica primordial: a palavra. E a palavra é o que sustenta o ser de todas as coisas. Para Heidegger, o falar original é a base de todo movimento do universo, é a relação de todas as relações. Por meio da estrutura da palavra original, não seria possível atribuir o mostrar e nem o operar humano. Figura 21 - Palavra original: não tem som Fonte: Freepik • Linguagem derivada: é a linguagem humana, dividida em duas fases – resposta e proclamação. A linguagem derivadaé o falar humano usado no dia a dia, é a conexão entre a linguagem original (que não tem som) e a linguagem humana (o som da palavra). Psicologia da Personalidade 43 Figura 22 - O som das palavras Fonte: Freepik O falar humano tem dois traços: o ouvir (ou o perceber) e o responder, assim, ao ouvir a linguagem original, o homem responde pela palavra derivada. Essa resposta leva o homem ao que Heidegger chamou de servidão libertadora porque é ele, o homem, o encarregado de transmitir a palavra original (sem som) para o som da palavra. Essência da Verdade Um outro ponto de discussão trazido por Heidegger é o que chamou de essência da verdade. Ele não se preocupa com verdades (várias verdades) defendidas pela filosofia, pela religião, pela ciência ou pelas experiências da vida, mas queria se deter naquilo que fosse unicamente a verdade, enquanto verdade. Dizia que verdade é a adequação do conhecimento com a coisa, a verdade com conformidade, a conformidade das coisas com o conhecimento humano. Dessa maneira, a interpretação de uma coisa está necessariamente na relação da essência do homem como sujeito portador e realizador do intelecttus (intelectos, em português). Psicologia da Personalidade 44 DEFINIÇÃO: Intelectos é o plural de intelecto. O mesmo que mentes, entendimentos, inteligências, percepções. Faculdade de entender (Dicionário Online de Português). Heidegger também entendia que a verdade tem contrário, que seria o entendimento de não estar de acordo, e a verdade seria definida como a adequação do olhar do homem ao objeto, o seu modo de ver a natureza de uma coisa. A verdade se torna a relação sujeito-objeto e, por isso, a essência da verdade é a liberdade. Essência é inerente ao que é admitido como conhecido. Assim, a essência é a verdade da essência, define Heidegger. Figura 23 - A liberdade da verdade Fonte: Freepik Na sua obra, Heidegger se preocupou em entender, pela via ontológica, o Dasein e as possibilidades de transformações do ser-no- mundo. Não houve uma preocupação direcionada para teorias dos modelos de formação da personalidade, mas sim o entendimento das Psicologia da Personalidade 45 significações de novas possibilidades para reformulação que o homem faz no seu próprio mundo. RESUMINDO: Neste capítulo, vimos como um dos mais importantes pensadores do Existencialismo discutiu as teorias sobre a existência humana. A obra do filósofo alemão Martin Heidegger, a verdade, impulsionou a filosofia do século XX porque permitiu a reflexão e discussão da existência humana. Ponderar e pensar sobre o sentido do ser trouxe à baila o pensar o homem no seu modo de ser, como estabelecer relações com o mundo e como conduzir sua vida por meio de escolhas e decisões responsáveis. Heidegger debateu um dos temas mais difíceis para o homem: a morte. Impulsionou pensamentos reais de uma situação inerente à vida e estimulou a preparação para a vivência da única certeza do homem. Os estudos difíceis e complexos de Heidegger ainda são presentes e usados para atendimentos psicoterápicos de eficácia comprovada. O Daisen é o ser-no-mundo e sua possibilidade de vida autêntica está no viver a angústia de escolhas responsáveis e a não submissão das escolhas dos outros. Psicologia da Personalidade 46 A Integração entre os Conceitos da Psicologia da Personalidade OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como os diversos pensadores da Psicologia e da Filosofia entenderam a construção da personalidade humana. Desde os primórdios dos tempos, filósofos começaram a pensar na inserção do homem no mundo e as diferentes formas em que eles se constituíram para conseguir vencer os desafios de viver de forma saudável. Faremos um passeio pelos conteúdos das Unidades do curso de Psicologia da Personalidade. E aí? Preparado para o desafio desta viagem? Vamos lá!. Falando de Personalidade Pelo senso comum, entende-se que uma personalidade é fácil quando uma pessoa é amável, agradável e boa companhia. Figura 24 - Pessoa de personalidade fácil Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 47 Ou uma personalidade é difícil quando a pessoa é indiferente e hostil. Figura 25 - Pessoa de personalidade difícil Fonte: Freepik No entanto, diferente do senso comum, a ciência define personalidade a partir da integração de aspectos como habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, modos de comportamento e até os aspectos físicos, que, quando se englobam, conferem a singularidade da pessoa. DEFINIÇÃO: Personalidade: conjunto relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam as pessoas em condições normais, no seu dia a dia, ao longo das etapas da vida (LARAIA e STUART, 2001). O ser humano forma a sua personalidade a partir dos genes herdados e da forma como consegue experimentar a vida no meio em que vive. Não pode ser considerado exclusivamente herança genética porque a carga hereditária não é um monte de genes programados para agir de uma ou outra forma, e nem exclusivamente ambiente como se tudo fosse condicionado pela cultura. A personalidade é influenciada pelos valores, crenças e normas que as crianças começam a adquirir nas suas relações com as figuras de Psicologia da Personalidade 48 autoridade. É nessa etapa da vida que se desenvolvem os vínculos afetivos e de apego. O Desenvolvimento da Personalidade Descritos em Etapas Alguns estudiosos descreveram etapas que demonstravam o desenvolvimento da personalidade. Freud descreve cinco etapas ou fases, todas acontecendo do período infantil até a adolescência. • Oral: etapa que vai do nascimento até o primeiro ano de vida. A zona erógena é a boca. O prazer é obtido na sucção da amamentação, no levar tudo à boca para chupar, morder objetos e comer. • Anal: vai de um ano até 3 ou 4 anos de idade. A zona erógena é o ânus e é caracterizada com o prazer de controle dos esfíncteres. • Fálica: dos 3 aos 6 ou 7 anos. A zona erógena está na descoberta dos órgãos sexuais (pênis ou falo nos meninos e clitóris nas meninas). O prazer está relacionado ao exibicionismo dos órgãos genitais, o interesse pelos seus órgãos genitais e pelos órgãos genitais de outras crianças. SAIBA MAIS: Essa é a fase em que os meninos e as meninas ficam procurando ver a diferença seus dos órgãos sexuais e os de outras crianças. Não há cunho sexual, mas a descoberta das diferenças entre eles. • Latência: dos 7 anos até a adolescência. Fase em que os impulsos sexuais ficam amortecidos, identificando uma superação temporal dos instintos sexuais. Não há uma área erógena específica. • Genital: fase da puberdade e maturidade. Identificada pelas alterações físicas, psíquicas e emocionais marcantes na Psicologia da Personalidade 49 adolescência. A zona erógena é novamente voltada para os órgãos sexuais, mas dessa vez para a própria sexualidade, pelos interesses sexuais e de satisfação. A capacidade de expressar sexualidade em função dos vínculos que faz está presente. É o momento da organização e maturidade sexual, quando a identidade sexual é reafirmada. Figura 26 - Criança na fase oral Fonte: Freepik Jung também descreveu etapas de desenvolvimento, mas diferente de Freud, não detalhou os estágios de desenvolvimento da criança. Ele descreveu quatro estágios gerais de desenvolvimento: infância, idade adulta jovem, meia-idade e velhice. Acreditava, entretanto, que a velhice era um estágio pouco importante porque as pessoas idosas gradualmente mergulham no inconsciente. Logo, a descrição é mais detalhada nos outros três estágios: • Infância: o estágio da infância é determinado por atividades instintuais necessárias para sua sobrevivência, com comportamentos consequentes às exigências parentais. Psicologia da Personalidade 50 • Idade adulta jovem: nessa fase, a puberdade tem a função de permitir o nascimento psíquicoda personalidade. Emerge a sexualidade, as questões de poder ou de insegurança e o início da diferenciação entre o adolescente e os pais. • Meia-idade: ocorre na faixa etária dos 30 anos. Nessa idade, o jovem adulto já formou família e tem uma profissão. Surge, então, a necessidade de significado, de encontrar um propósito para a vida, uma razão de existir. Erick Erickson descreve oito estágios de desenvolvimento. Diferentemente de Freud, não são voltados para a sexualidade e abordam desde a etapa infantil até a velhice. • Confiança básica versus Desconfiança básica: Durante o primeiro ano de vida, a criança é dependente das pessoas que cuidam dela, requerendo cuidado quanto à alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo. • Autonomia versus Vergonha e dúvida: dos 2 aos 3 anos. A criança passa a ter controle de suas necessidades fisiológicas e responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novas coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto à sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência. • Iniciativa versus Culpa: dos 4 aos 5 anos. A criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhados por mulheres e homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud), entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual” e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos. Psicologia da Personalidade 51 • Construtividade versus Inferioridade: dos 6 aos 11 anos. A criança está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, e que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades, o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade. • Identidade versus Confusão de identidade: dos 12 aos 15 anos. O quinto estágio ganha contornos diferentes devido à crise psicossocial que nele acontece, ou seja, identidade versus confusão. Nesse contexto, o termo crise não tem uma acepção dramática, por tratar-se de algo pontual e localizado com polos positivos e negativos. • Intimidade versus Isolamento: dos 18 aos 35 anos. Nesse momento, o interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afetiva. Caso ocorra uma decepção, a tendência será o isolamento temporário ou duradouro. • Produtividade versus Estagnação: dos 35 aos 60 anos. Pode aparecer uma dedicação à sociedade à sua volta e realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material. • Integridade versus Desespero: 60 anos em diante. Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos. Do contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança. Psicologia da Personalidade 52 Conceitos de Desenvolvimento da Personalidade Skinner não descreveu etapas de desenvolvimento da personalidade, mas defendeu conceitos importantes para o entendimento do funcionamento da personalidade humana. Ele partiu de experimentos de John Watson e Ivan Pavlov e suas teorias do condicionamento clássico, para descrever o que chamou de condicionamento operante. Vamos recordar a definição de condicionamento clássico, descrito por Pavlov depois de seus estudos com cachorros. DEFINIÇÃO: Condicionamento clássico é um procedimento em que um reflexo inato é induzido a um animal ou uma pessoa para demonstrar que a mente pode ser medida, observada ou modificada pelo comportamento.. Diferente de Pavlov, Skinner acreditava na relação entre as respostas dos organismos e o ambiente e entendia que era um comportamento diferente do comportamento clássico porque percebeu um estímulo, propiciando, assim, uma resposta. A essa resposta deu o nome de comportamento operante. Percebeu ainda uma outra característica do comportamento operante: a resposta ao estímulo gerava uma consequência e tinha a possibilidade de acontecer novamente em um contexto semelhante. Por isso, acrescentou conceitos do princípio do reforço e o conceito de recompensa no comportamento operante. Descreveu ainda as condições exatas que proporcionam aprendizagem eficiente e duradoura. Vejamos as definições de reforço e punição: Vale destacar que reforço é todo e qualquer evento que aumenta a frequência do comportamento. Um estímulo aumenta a probabilidade de Psicologia da Personalidade 53 ocorrência de um comportamento anterior. Um reforço pode ser positivo e negativo. Reforço positivo: é oferecido o estímulo depois da ação e esse estímulo apresentado fortalece a apresentação do comportamento. A frequência do comportamento aumenta por ser seguido de um estímulo recompensador. Há a adição de um estímulo. Isto é, o reforço positivo é um elemento que tem a função de prêmio, em geral, satisfaz alguma necessidade ou gera uma resposta agradável. EXEMPLO: Uma escola decide dar folga aos sábados se todos os professores completarem o diário de classe até a sexta-feira. Todos vão trabalhar mais intensamente para ter a recompensa da retirada do sábado de trabalho. Reforço negativo: reduz-se ou remove-se o estímulo após a ação e essa retirada de estímulo fortalece a apresentação do comportamento. A frequência do comportamento aumenta por ser seguido da eliminação, remoção de um estímulo desagradável. EXEMPLO: Uma criança que não gosta de escovar os dentes, passa a fazer com mais frequência para evitar a bronca da mãe. Ela aumenta a frequência da escovação para não ter que ouvir a mãe reclamar. Figura 28 - Reforço negativo Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 54 Um outro conceito presente nos estudos do condicionamento operante e que causa confusão para o entendimento, é o conceito de punição. DEFINIÇÃO: Punição: todo estímulo que reduz a frequência de uma resposta por meio da apresentação de um estímulo desagradável ou da retirada de um estímulo agradável. A punição pode ser positiva ou negativa. Punição positiva: é oferecido oferece o estímulo depois da ação e esse estímulo apresentado diminui a frequência do comportamento. A criança usa o boné preferido na escola e o professor chama a atenção porque está fora do padrão de uniforme. A criança para de usar o boné durante a aula. Figura 29 - Punição positiva Fonte: Freeimagens Punição negativa: reduz-se ou remove-se o estímulo após a ação e essa retirada de estímulo diminui a frequência do comportamento. Psicologia da Personalidade 55 EXEMPLO: Se a criança bater no irmão, deixa de ver TV por 2 dias. Ela deixa de bater no irmão para voltar a ver televisão. Figura 30 - Punição negativa Fonte: Freepik Ele também usou o conceito de modelagem, um procedimento com uso de reforços que orientavam ações para o comportamento desejado e a extinção, isto é, a retirada da recompensa para eliminar ou enfraquecer um comportamento. Skinner queria entender o desenvolvimento da personalidade pelas interações das pessoas (com suas cargas e forças genéticas) com o ambiente (cultura, classe social, família). A genética determina a amplitude do desenvolvimentode uma pessoa e o ambiente favorece e determina o resultado específico referente a essa amplitude. Psicologia da Personalidade 56 Figura 31 - Comportamento em casa Fonte: Freepik Assim, Skinner acreditava que os comportamentos que uma pessoa aprende e adquire em casa formam uma personalidade e os comportamentos que ele aprende para o trabalho formaria uma outra personalidade, que, atuando juntas, se manifestam conforme o que o meio em que está exige. Figura 32 - Comportamento no trabalho Fonte: Freepik Psicologia da Personalidade 57 Aaron Beck foi outro pesquisador que não descreveu etapas de desenvolvimento da personalidade. Ele definiu e explicou a formação da personalidade pelo pressuposto que a história evolutiva da pessoa influencia no desenvolvimento dos padrões de pensamento, sentimento e comportamento. Isso significa que, como outros autores, ele entende que a personalidade é o resultado da interação das disposições genéticas e das experiências da vida. A partir da base teórica da terapia cognitivo comportamental, Beck entende que os esquemas, funcionais ou disfuncionais, são elementos básicos da personalidade. A personalidade pode então, ser entendida como um conjunto de esquemas individuais que são determinantes para o funcionamento dos sistemas motivacionais, cognitivos e emocionais na relação com os contextos ambientais, sociais e biológicos. Os traços ou padrões da personalidade seriam organizações dos esquemas, onde estão as crenças e a função de manter a estabilidade dos sistemas cognitivos. Dessa forma, padrões de personalidade como dependente, extrovertido, tímido, agressivo, etc. seriam a maneira como os processos esquemáticos estão organizados (BARROS, 2010). IMPORTANTE: É importante ressaltar que Beck entendia cada pessoa como possuidora de um perfil de personalidade único, com possibilidades de responder a uma situação específica de uma maneira cognitiva, afetiva e comportamental peculiar a ela. A teoria da personalidade, na visão da terapia cognitiva, é caracterizada pela maneira como as informações de um ambiente provocam respostas cognitivas, afetivas, motivacionais e comportamentais nas pessoas. Psicologia da Personalidade 58 Figura 33- Esquema de comportamento Fonte: Elaborado pela autora (2021). A percepção, a interpretação e o entendimento do significado dado por uma pessoa a uma situação provoca uma resposta que pode, ou não, ser adaptativa. Isso está ligado às suas crenças e esquemas de crenças construídas pelas experiências da vida, que proporcionaram o desenvolvimento da personalidade. RESUMINDO: Neste capítulo, revimos os principais conceitos de formação da personalidade humana. Os demais autores estudados descreveram teorias psicológicas trazendo novas vertentes de inserção do homem na sociedade, a partir da formação de suas personalidades e das disfuncionalidades de alguns comportamentos. Estudamos que tanto os fatores genéticos como os fatores ambientais atuam conjuntamente como formadores da personalidade desde a infância até a idade adulta. A preocupação com o comportamento humano decorrente da sua personalidade sempre foi objeto de estudo desde a época dos filósofos até os dias atuais, quando a neurociência também se debruça nesse estudo. Personalidade sempre é um assunto atual. Para o psicólogo, saber identificar os tipos de personalidade, as disfuncionalidades da Psicologia da Personalidade 59 personalidade e saber ajudar as pessoas que precisam de tratamento, é fundamental para a prática profissional. Com o fim deste capítulo, fechamos o conteúdo do curso de Psicologia da Personalidade e esperamos que vocês tenham aproveitado bastante todos os assuntos debatidos aqui. Desejamos sucesso na carreira acadêmica e profissional de todos vocês! Psicologia da Personalidade 60 REFERÊNCIAS BASTOS, M. C.; PORTELLA, M. A verdade sobre a Terapia cognitivo comportamental. Revista Psique, ano V, n. 59, pp. 30-4. São Paulo: Escala, 2010. BRAGA, T.B.M. & FARINHA, M.G. Heidegger: em busca de sentido para a existência humana. Rev. abordagem gestáltica. Goiânia, v. 23, n. 1, p. 65-73, abr. 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672017000100008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 08 ago 2021. DINIZ, M.L.N. e RODRIGUES, W.S. Uma breve revisão histórica sobre o estudo da personalidade. In: Neuropsicologia da Personalidade. Boletim SBNp, São Paulo, SP, v.2, n.1, p 1-45, janeiro/2019. FEIST, J.; FEIST, G. e ROBERTS, T. Teorias da personalidade. 8 ed. 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Psicologia da Personalidade Teoria Existencial (Sören Kierkegaard) Um Rápido Passeio pelo Existencialismo Principais Filósofos Existencialistas Principais Características do Existencialismo Teoria Existencial de Sören Kierkegaard Os Três Modos de Vida de Kierkegaard Reich e a Psicologia Corporal A Visão Psicanalista de Wilhelm Reich Os Conceitos de Wilhelm Reich A Personalidade na Visão Reichiana Etapas do Desenvolvimento Infantil A Psicoterapia Reichiana Conceito de Personalidade para Heidegger Mais um Pouco sobre o Existencialismo Martin Heidegger e o Existencialismo Traços Existenciais Daisen: Existência: Temporalidade: Morte A Linguagem para Heidegger Essência da Verdade A Integração entre os Conceitos da Psicologia da Personalidade Falando de Personalidade O Desenvolvimento da Personalidade Descritos em Etapas Conceitos de Desenvolvimento da Personalidade
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