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O dilema do sofrimento humano Não há nada de externo que garanta ausência de sofrimento. ↪ A presença de coisas que tipicamente usamos para medir o sucesso externo pode não ser suficiente. O sofrimento psicológico é uma característica básica da vida humana. ↪ As estatísticas de transtornos mentais, e a quantidade de pessoas que apresentam outros sofrimentos e/ou dificuldades emocionais/de relacionamentos/no trabalho mostram isso. Os seres humanos infligem sofrimento uns aos outros continuamente. ↪ Preconceito, discriminação, estigma. NORMALIDADE SAUDÁVEL: O PRESSUPOSTO SUBJACENTE DO MAINSTREAM PSICOLÓGICO Biomedicalização da vida humana: → Pensamentos, sentimentos, lembranças ou sensações físicas penosas passaram a ser vistos predominantemente como “sintomas”. Tê-los em determinado número e tipo significa a presença de alguma anormalidade ou doença. → Com frequência, os rótulos ocultam o papel significativo que o comportamento e o ambiente social desempenham na determinação da saúde física e mental das pessoas. Nesse contexto, a felicidade seria o estado de homeostase natural da existência humana, que pode ser perturbado por emoções, pensamentos, lembranças, eventos históricos ou estados do cérebro. ↪ Processos anormais estariam na raiz dos transtornos mentais. O MITO DA DOENÇA PSIQUIÁTRICA Nenhuma das síndromes mais comuns de saúde mental, até o momento, satisfaz sequer os critérios mais básicos para ser legitimamente considerada com um estado patológico. As taxas de “comorbidade” entre os transtornos são muito altas, o que tem mais a ver com um sistema diagnóstico deficiente do que com a caracterização de uma verdadeira “comorbidade”. Os mesmos tratamentos funcionam com muitas síndromes, comprometendo o principal propósito funcional do diagnóstico, que é aumentar a eficácia das decisões de tratamento. O sistema diagnóstico atual descarta formas importantes de sofrimento psicológico e, por vezes, patologiza processos normais na vida. Focar na síndrome, fez com que fossem desenvolvidas abordagens de tratamento que tem como ênfase a redução dos sintomas, minimizando os marcadores funcionais e positivos de saúde mental. ↪ Reduções na frequência e na gravidade dos sintomas se relacionam apenas moderadamente à PSICÓLOGA CONCURSEIRA melhora no funcionamento social ou a medidas mais amplas da qualidade de vida. Críticas acerca do sistema diagnóstico atual: → A academia mostra-se muito mais preocupada com a forma dos problemas de saúde mental do que com as funções que tais comportamentos exercem na vida das pessoas. → Há uma aparente desconexão entre o tratamento de um transtorno clínico particular e as influências sociais, culturais e contextuais que dão significado aos sintomas. A PERSPECTIVA DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO O sofrimento humano deriva, de forma predominante, de processos psicológicos normais, especialmente aqueles que envolvem a linguagem humana. ⤷ O que não significa que não existem processos anormais (ex: lesão cerebral que gera alterações de comportamento). O modelo subjacente à ACT sustenta que, mesmo em face de doenças mentais graves, os processos comuns incorporados na linguagem e no pensamento podem aumentar as dificuldades centrais associadas a essas condições. NORMALIDADE DESTRUTIVA Pressuposto da normalidade destrutiva: processos psicológicos humanos comuns e até mesmo úteis podem conduzir a resultados destrutivos e disfuncionais, amplificando ou exacerbando quaisquer condições fisiológicas e psicológicas anormais que possam existir. A universalidade do sofrimento sugere que ele se origina dentro de processos que se desenvolveram para promover a adaptabilidade do organismo humano. OS EFEITOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA LINGUAGEM HUMANA Para a ACT, a linguagem humana dá origem às realizações humanas e também ao sofrimento humano. ⤷ Linguagem: atividade simbólica em qualquer forma que ocorra - gestos, figuras, formas escritas, sons etc. O DESAFIO DA DOR PSICOLÓGICA PARA CRIATURAS COM LINGUAGEM Humanos possuem a capacidade de se engajar em atividades simbólicas. Eles podem: ● suportar eventos aversivos; ● criar semelhanças e diferenças entre os eventos; ● formar relações entre eventos históricos e eventos atuais com base nas semelhanças construídas; ● fazer previsões sobre situações que ainda não foram experimentadas; PSICÓLOGA CONCURSEIRA ● responder como se um evento aversivo estivesse presente quando já foi retirado há longo tempo. As funções indiretas da linguagem e da cognição superior criam o potencial para sofrimento psicológico na ausência de pistas ambientais imediatas. Quando aprendemos a nos voltar para o interior, nossas habilidades verbais e cognitivas (nossas “mentes”) começam a nos alertar a respeito de estados psicológicos passados e futuros em vez de apenas sobre ameaças externas. ⤷ O sofrimento humano envolve predominantemente a má aplicação de processos psicológicos de solução de problemas a casos normais de dor psicológica. A dor é algo inevitável e, devido às nossas inclinações simbólicas, rapidamente nos lembramos dela e somos capazes de trazê-la para a consciência em determinado momento. FUSÃO COGNITIVA Ao acreditarem fortemente nos conteúdos literais de sua mente, as pessoas ficam fusionadas com suas cognições, o que gera sofrimento. Nesse estado, não há distinção entre consciência e narrativas cognitivas. ⤷ Maior probabilidade de seguir sem ressalvas as instruções socialmente transmitidas por meio da linguagem ↝ Pode fazer com que as pessoas se engajem repetidamente em estratégias ineficazes porque para elas parecem corretas ou justas apesar das consequências negativas no mundo real. ESQUIVA EXPERIENCIAL É uma consequência imediata da fusão com instruções mentais que encorajam a supressão, o controle ou a eliminação de experiências cuja expectativa é a de que sejam estressantes. Paradoxo: a tentativa de evitar, suprimir ou eliminar as experiências privadas indesejáveis frequentemente leva a um recrudescimento na frequência e na intensidade das experiências a serem evitadas. Resultados da esquiva: ● vida restrita; ● situações evitadas se multiplicam e se deterioram; ● pensamentos e sentimentos evitados se tornam preponderantes e ● capacidade de estar no momento presente e desfrutar a vida diminui gradualmente. IMPACTOS DA FUSÃO COGNITIVA E DA ESQUIVA EXPERIENCIAL → Afetam significativamente quem as pessoas pensam que são. ⤷ Elas ficam cada vez mais enredadas em suas auto-histórias, e as ameaças às suas auto-concepções se tornam centrais. Tudo aquilo que difere de sua narrativa oficial deve ser evitado ou negado. PSICÓLOGA CONCURSEIRA → Afetam a habilidade do indivíduo de prestar atenção de modo flexível e voluntário ao que está acontecendo interna e externamente. ⤷ Observar os eventos que poderiam contradizer uma história muito fusionada significa se afastar dessa história por um momento. → Afetam o senso de direção na vida e o comportamento guiado por objetivos. ⤷ O comportamento fica mais dominado pela esquiva e pelo escape do que pela atração natural ⤷ Escolhas vitais mais importantes se baseiam em como evitar a evocação de conteúdo pessoal angustiante, e não em seguir na direção daquilo que é profundamente valorizado. ACT: ACEITAR, ESCOLHER, AGIR É psicologicamente saudável ter sentimentos desagradáveis, além dos prazerosos. Alternativa à fusão: desfusão. ⤷ Aprender a estar conscientemente atento ao próprio pensamento quando ele ocorre. Alternativa à esquiva experiencial: aceitação. ⤷ Envolve o processo ativo de se engajar e algumas vezes aumentar a complexidade das próprias reações emocionais como um meio de fomentar a abertura psicológica, a aprendizagem e a compaixão por si mesmo e pelos outros. A esquiva complica a busca bem-sucedida por um valor vital, pois as áreas em que podemos ser mais magoados são justamente aquelas com as quais nos importamos mais. Porém, no contexto de maior flexibilidade psicológica, a dor que é inerente a situações difíceis pode ser aceita pelo que elaé, e podemos aprender com ela. Assim, a atenção e o foco podem se voltar para comportamentos de melhoria de vida. REFERÊNCIA HAYES, S. C.; STROSAHL, K. D.; WILSON, K. G. Terapia de aceitação e compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2021 PSICÓLOGA CONCURSEIRA
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