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HIGIENE DO TRABALHO III Brasília-DF. 2 Elaboração Elaborador: Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Email do elaborador: prao@unb.br Todos os direitos reservados. W Educacional Editora e Cursos Ltda. Av. L2 Sul Quadra 603 Conjunto C CEP 70200-630 Brasília-DF Tel.: (61) 3218-8314 – Fax: (61) 3218-8320 www.ceteb.com.br equipe@ceteb.com.br editora@WEducacional.com.br mailto:editora@WEducacional.com.br 3 SUMÁRIO SUMÁRIO ............................................................................................................................................... 3 UNIDADE I - FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS ............................................................................................... 6 1.1 RISCOS BIOLÓGICOS NO LOCAL DE TRABALHO ............................................................................................ 6 1.1.1 MICROORGANISMOS ................................................................................................................................... 9 1.1.2 AMBIENTES DE TRABALHO COM RISCOS BIOLÓGICOS ....................................................................................... 11 1.1.3 COBRAS ................................................................................................................................................... 13 1.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA PICADA DE COBRA ..................................................................................... 14 1.2.1 TIPOS DE MORDIDA ................................................................................................................................... 15 1.2.2 OFTALMIA VENENOSA CAUSADA POR ELÁPIDOS "CUSPIDORES" ......................................................................... 16 1.2.3 SAURIA ( LAGARTOS ) ................................................................................................................................. 18 1.2.4 ANIMAIS AQUÁTICOS ................................................................................................................................. 21 1.3 ANIMAIS TERRESTRES VENENOSOS ....................................................................................................... 26 1.3.1 ARACNÍDEOS (ARANHAS-ARANEA) ............................................................................................................... 26 1.3.2 ESCORPIÕES ( ESCORPIÓNIDOS ) .................................................................................................................. 26 1.3.3 ARANHAS DO DESERTO (SOLPÚGIDAS) .......................................................................................................... 27 1.3.4 PERCEVEJOS E CARRAPATOS (ACORINAS) ....................................................................................................... 27 1.3.5 CENTOPÉIAS (QUILÓPODOS) ....................................................................................................................... 28 1.3.6 INSETOS (HEXÁPODOS) .............................................................................................................................. 28 UNIDADE II - AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO .............................................................................................. 30 1.4 A AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO NO LOCAL DE TRABALHO ............................................................................... 30 1.4.1 INDICADOR BIOLÓGICO DE EXPOSIÇÃO (BIOMARCADORES) ............................................................................... 31 1.4.2 VIGILÂNCIA AMBIENTAL E BIOLÓGICA ........................................................................................................... 32 1.4.3 VIGILÂNCIA MÉDICA .................................................................................................................................. 34 1.4.4 VIGILÂNCIA A SAÚDE .................................................................................................................................. 34 UNIDADE III - CONTROLE DE EXPOSIÇÃO ............................................................................................... 41 1.5 CONTROLE DE EXPOSIÇÃO E PREDIÇÃO DA DOSE ....................................................................................... 41 1.5.1 CONTROLE BIOLÓGICO E BIOMARCADORES DE EXPOSIÇÃO ................................................................................ 43 1.5.2 ANÁLISE DO MARCO TEMPORAL .................................................................................................................. 45 1.5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................. 46 4 PARA (NÃO) FINALIZAR ........................................................................................................................ 50 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 51 SIGLÁRIO.............................................................................................................................................. 56 ANEXO - PRINCIPAIS SITES DA WEB NA ÁREA DE HIGIENE ...................................................................... 67 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Evolução das alterações clínicas e subclínicas ............................................................................................. 36 Figura 2: Esquema representando a transferência do agente químico até os sítios de ação ...................................... 37 Figura 3: modelo básico do fluxo exposição-resposta................................................................................................ 39 LISTA DE AMBIENTAÇÃO Ambientação 1: Glossário e Resumo ......................................................................................................................... 33 Ambientação 2: Sintetizando controle biológico e avaliação ambiental .................................................................... 40 Ambientação 3:Reflexão – Lei de Haber: questionamento cientifico sobre o TWA .................................................... 42 Ambientação 4:Praticando quais normas brasileiras consideram o TWA .................................................................. 43 Ambientação 5: Provocação – biomarcadores definidos pelo Quadro I da NR07 ....................................................... 47 Ambientação 6: Reflexão – Controles ambiental (exposição) e biológico (biomarcador)........................................... 48 Ambientação 7: Praticando - Defina parâmetros para controle biológico com base no Quadro I da NR-07 ............... 49 5 INTRODUÇÃO Bem-vindo à disciplina Higiene do Trabalho – HT (parte III). Este é o nosso Caderno de Estudos, material básico aos conhecimentos exigidos da Engenharia de Segurança do Trabalho - EST. Esta disciplina, por conta do peso programático, foi dividida em Higiene do Trabalho HT I, HT II e HT III, com 50h-a cada. Como visto HT I introduziu a matéria no contexto da EST com definições básicas, gestão dos fatores de risco do meio ambiente do trabalho enfocando os fenômenos físicos; HT II voltada aos fatores químicos, estratégias de amostragem, fundamentos ambientais e biológicos, limites de tolerância e intervenção ambiental, agora veremos em HT III os fatores biológicos e seus desdobramentos para saúde do trabalhador. Objetivos Entender as definições básicas da EST. Abordar criticamente inserção da Higiene do Trabalho. Possibilitar ao EST classificar e identificar perigo, risco e fator de risco ambiental. Entender a relação entre higiene do trabalho, avaliação e gestãode riscos. Compreender as estratégias de amostragem relacionadas ao controle ambiental e biológico. Compreender fundamentos básicos biológicos relacionados ao meio ambiente do trabalho. Apropriar-se dos mecanismos de controle para intervação ambiental Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos. As chamadas de ambientação, mediante ícones - reflexão, síntese, leitura complementar e provocação - servirão de recursos de aprendizagem. Especial atenção aos ícones “praticando”, pois farão parte das atividades avaliativas do curso. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina! Lembre-se de que, apesar de distantes, estamos muito próximos. 6 UNIDADE I - FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS Riscos Biológicos no local de trabalho 1.1 A avaliação dos riscos biológicos no local de trabalho tem se concentrado até agora sobre os agricultores, trabalhadores de saneamento e pessoal de laboratório, os quais apresentam um risco significativo de efeitos adversos à saúde. A coleção de riscos biológicos detalhado por Dutkiewicz et al . (1988 ) mostra que os trabalhadores em muitas outras profissões também são expostos (Tabela 1). Dutkiewicz et ai. (1988) realizaram uma classificação taxonômica de microrganismos e plantas (Tabela 2) , bem como os animais (Tabela 3) , que podem representar um perigo biológico no local de trabalho Tabela 1 • Ambientes de trabalho com exposição potencial dos trabalhadores aos agentes biológicos. Indústria Exemplos Agricultura Cultivo e Colheita Pecuária Silvicultura Pesca Produtos Agrícolas Matadouros, fábricas de embalagens de alimentos Armazenamento: silos de grãos, rapé e outros processamentos Processamento de pelo e couro de animais Fábricas têxteis Carpintaria: serrarias, fábricas de papel, cortiça. Cuidado com os animais de laboratorio Assistência a saúde Cuidados de Pacientes: Médicos, dentários 7 Produtos farmacêuticos e de origem vegetal Cuidados Pessoais Cabelereiro e podologia Laboratórios Clínicos e de Pesquisa Biotecnologia Centros de produção Centros Ambulatoriais Manutenção Predial Edifícios "doentes" Tratamento de esgotos resíduos e fertilizantes Sistemas industriais para tratamento de resíduos. Fonte: Dutkiewicz et ai, 1988.. Tabela 2 • Os vírus, bactérias, fungos e plantas: riscos biológicos conhecidos no local de trabalho Infecção Infecção zoonosis¹ Resposta Alérgica Toxina Inalável Toxina Cancerígeno Vírus x x Bactérias Rickettsia x Clamidias x Espiroquetas x Bactérias gram- negativas x x x x(e)² Cocos Gram- positivos x x Bacilos Formadores de Esporas x x x Bacilos gram- positivos sem esporas e x x 8 corinebactérias Microbactérias x x Actinomicetos x Cogumelos Mohos x x x(m)³ x Dermatofitos x x x Fungos geofílicos semelhante a levedura x x Leveduras endógenas x Parasitas do Trigo x Cogumelos x Outras plantas Inferiores Líquenes x Hepáticas x Samambaias x Plantas Superiores Pólen x Óleos Voláteis x x Em pó x x x ¹infecção zoonoses: a infecção normalmente transmitida por animais vertebrados (zoonoses). ²(e)Endotoxina ³(m)Micotoxina Fonte: Dutkiewicz et ai. 1988. Tabela 3 • Animais com grande risco profissional. Infecção Infecção¹ zoonosis Resposta Alérgica Toxina Vector² Invertebrados não artrópodes Protozoários x x Esponjas x 9 Celentéreos x Platelmintos x x Lombrigas x x x Briozoários x Tunicados x Artrópodes Crustáceos x Aracnídeos Aranhas x(B)³ Percevejos x x x(B) x Carrapatos x(B) x Insetos Baratas x Besouros x Traças x x Moscas x(B) x Abelhas x x(B) Vertebrados Peixes x x(B) Anfíbios x Répteis x(B) Aves x Mamíferos x ¹infecção zoonoses: a infecção normalmente transmitida por animais vertebrados (zoonoses).. ² Vírus vetor, bactérias ou parasitas patogênicos. ³ Os toxicos B produzem a toxina do veneno transmitida por mordida ou picada. Fonte: Dutkiewicz et ai. 1988. Microorganismos 1.1.1 Os microorganismos são um grupo grande e diversificado de organismos que existem como células, isoladas ou agrupadas ( Brock e Madigan, 1988). Neste aspecto, as células microbianas se 10 diferenciam das células dos animais e das plantas, uma vez que eles são incapazes de viver sozinhos na natureza e apenas podem existir como parte de organismos pluricelulares. São poucas as regiões do nosso planeta que tem falta de vida microbiana, pois os microrganismos têm uma incrível gama de capacidades metabólicas e energia que lhes permitem sobreviver em condições letais para outras formas de vida. As quatro classes principais de microrganismos que podem interagir com os seres humanos são bactérias, fungos, vírus e protozoários. Representam um perigo para os trabalhadores por sua ampla distribuição no ambiente de trabalho. Os microrganismos mais importantes em termos de riscos profissionais estão relacionados nas Tabelas 2 e 3. Existem três fontes principais de tais micróbios: i. aqueles que aparecem como resultado da decomposição biológica de substratos associados a determinadas profissões (por exemplo, terra de feno pode causar pneumonite de hipersensibilidade ); ii. aqueles que estão associados com certos tipos de habitats (por exemplo, bactérias nas redes de abastecimento de água ); iii. aqueles que procedem de indivíduos que hospedam um patógeno (por exemplo, tuberculose). O ar do ambiente pode ser contaminado ou transportar níveis significativos de microrganismos potencialmente nocivos (Burrell 1991). Os edifícios modernos, especialmente aqueles projetados para fins comerciais e administrativos, são um nicho ecológico único, com um ambiente, fauna e flora próprios (Sterling y cols. 1991). A água é um importante veículo para a transmissão de infecções intestinais. Através do contato com a água, seja por razões profissionais ou de lazer, mesmo terapêutico, é possivel obter um número de patógenos ( Pitlik y cols. 1987). A natureza das doenças não-entéricas transmitidas através da água, muitas vezes depende da ecologia de patógenos aquáticos. Existem dois tipos básicos de infecções: infecções superficiais, que afetam as membranas mucosas e as áreas de pele previamente danificadas, e infecções sistêmicas, que muitas vezes são infecções graves que podem ocorrer quando o sistema imunitário está fragilizado. Uma variedade de organismos aquáticos, incluindo os vírus, bactérias, fungos, algas e parasitas podem invadir o hospedeiro através do trato intestinal, tal como a conjuntiva, mucosa respiratória, a pele e os órgãos genitais. 11 Embora a propagação zoonótica de doenças infecciosas continue a ocorrer em animais de laboratório usados para investigação biomédica, o número de focos foi reduzido devido à adoção de procedimentos veterinários e de produção animal mais rigoroso, o uso de animais criados para fins comerciais e instituição de programas adequados para proteger a saúde do pessoal (Fox e Lipman, 1991). Também é importante para prevenir doenças zoonóticas de pessoal, que os animais tenham modernas instalações estando devidamente protegidos para evitar a entrada de pragas e vetores biológicos. No entanto, nesses lugares podem ser encontrados agentes zoonóticos conhecidos, microorganismos recém-descobertas ou novas espécies de animais até então desconhecidos como portadores de microorganismos zoonóticos,e ainda há a possibilidade de transmissão de doenças infecciosas de animais para humanos. O Diálogo ativo entre veterinários e médicos sobre o risco de doenças zoonóticas, espécies animais envolvidos e métodos de diagnóstico são essenciais para o sucesso de qualquer programa de prevenção. Ambientes de trabalho com riscos biológicos 1.1.2 Os trabalhadores dos serviços de saúde, médicos e laboratoriais e outros, bem como profissões relacionadas com tais atividades estão expostos à infecção por microorganismos se não adotarem as medidas preventivas adequadas. Entre os muitos riscos biológicos para os trabalhadores expostos em hospitais são o vírus da imunodeficiência humana (HIV), a hepatite B, a herpes, a rubéola e a tuberculose (Hewitt , 1993). O trabalho no setor agrícola está associado a uma ampla variedade de riscos ocupacionais. A exposição à poeira orgânica de microorganismos no ar e suas toxinas, pode causar doenças respiratórias (Zejda y cols. 1993), incluindo bronquite crônica, asma, pneumonite por hipersensibilidade, síndrome tóxica de poeira orgânica e doença pulmonar obstrutiva crônica. Dutkiewicz y cols.(1988 ) analisaram amostras de material dos silos para identificar potenciais agentes que causam os sintomas da síndrome tóxica e orgânica. 12 Eles encontraram níveis muito elevados de contagem total de bactérias aeróbias e fungos. O fungo Aspergillus fumigatus foi predominante, enquanto bacilos, organismos gram-negativos (Pseudomonas, Alcaligenes, Citrobacter e Klebsiella) e actinomicetos foram as bactérias mais comuns. Estes resultados mostram que a exposição a material de aerosolizado dos silos acarretam um risco de exposição a concentrações elevadas de microrganismos, dos quais A. fumigatus e bactérias produtoras de endotoxinas são patógenos mais prováveis. A exposição durante períodos curtos de tempo para certos pós de madeira pode levar a asma, conjuntivite, rinite alérgica ou dermatite. Alguns microrganismos termofílicos presentes na madeira são patogênicos para os seres humanos, e por inalação de esporos de actinomicetos presentes em aparas de madeira armazenados tem sido associada a doenças humanas (Jacjels 1985). Aqui estão alguns exemplos de doenças ocupacionais específicos: 1 . O fungo Penicillium camemberti var. candidum é usado para fazer certos tipos de queijo. A elevada concentração deste fungo precipitando anticorpos em amostras de sangue dos trabalhadores, em conjunto com as causas dos sintomas clínicos respiratórios indicam relação etiológica entre sintomas respiratórios e alta exposição ao fungo (Dahl y cols. 1994 ). 2. Os Microorganismos (bactérias e fungos) e as endotoxinas são agentes potenciais de risco para os profissionais nas unidades de processamento da batata (Dutkiewicz 1994). Ele estabeleceu uma correlação significativa entre a presença de precipitinas contra antígenos microbianos e sintomas gerais e respiratórios relacionados com o trabalho, que tinha 45,9 % dos trabalhadores examinados. 3. O pessoal de museus e bibliotecas são expostos a fungos (por exemplo, Aspergillus, Penicillium) que, em certas condições, poluem os livros (Kolmodin - Hedman y cols. 1986). Os sintomas mais comuns consistem em convulsões febris, calafrios, náuseas e tosse. 4. O uso de microscópios com as mesmas lente em diferentes turnos de trabalho podem causar infecções oftalmológicas. Entre os microrganismos responsáveis foi identificado Staphylococcus aureus (Olcerst 1987). 1.1.2.1 Prevenção 13 O conhecimento dos princípios da epidemiologia e transmissão de doenças infecciosas é essencial para os métodos utilizados no controle do organismo causador da doença. Os trabalhadores devem ser submetidos a exames médicos periódicos para detectar doenças ocupacionais de origem biológica. Existe uma série de princípios gerais para realizar exames médicos e detectar efeitos adversos para a saúde devido a exposição no local de trabalho, incluindo o caso de riscos biológicos. Em outros capítulos desta apostila são descritos alguns procedimentos específicos. Por exemplo, na Suécia, a Federação Agricultores iniciou um programa de serviços médicos preventivos no trabalho dos agricultores (Hoglund 1990). O principal objetivo deste programa era evitar doenças e lesões relacionadas ao trabalho e prestar assistência médica aos agricultores que sofreram problemas de saúde ocupacional. Quando há surtos de doenças infecciosas não se pode tomar as devidas precauções, se não identificar a doença previamente. Um exemplo disso foi o surto de febre viral hemorrágica da Crimeia e do Congo (FHCC) entre os funcionários do hospital do Emirados Árabes Unidos ( Dubai), Paquistão e África do Sul (Van Eeden y cols. 1985). Cobras 1.1.3 Nas regiões quentes e temperadas, picadas de cobras representam um perigo mortal para certas categorias de trabalhadores, fazendeiros, madeireiros florestais, trabalhadores da construção civil e obras públicas, pesca, colheita de cogumelos, encantadores de serpentes, os funcionários do jardim zoológico e pessoal de laboratório responsáveis pela preparação de soros antiveneno. A grande maioria das cobras é inofensiva para os seres humanos, mas outros podem causar lesões graves por suas picadas venenosas; As espécies perigosas são encontradas tanto entre as cobras terrestres (Cobras e víboras) quanto entre as aquáticas (hidrofidios). (Rioux e Juminer 1983). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS 1995), picadas de cobra causam 30 mil mortes por ano na Ásia, cerca de 1.000 mortes na África e vários na América do Sul. Em alguns países, existem estatísticas mais detalhadas. 14 No México, a cada ano, há mais de 63 mil picadas de serpentes e picadas de escorpião, que juntos originam mais de 300 mortes. No Brasil são constatadas anualmente cerca de 20 mil picadas de cobra e entre 7000 e 8000 picadas de escorpião, com uma taxa de mortalidade de 1,5% para picadas de cobra e entre 0,3% e 1% para picadas escorpião. De acordo com um estudo realizado em Ouagadougou, Burkina Faso, na periferia de cidades ocorrem 7,5 acidentes ofídicos por 100.000 habitantes e em áreas rurais, mais de 69 por 100.000 habitantes , chegando aqui a taxa de mortalidade de 3% . Picadas de cobra também são um problema em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos a cada ano são registrados 45 mil acidentes ofídicos, embora, devido à facilidade de acesso aos cuidados de saúde, o número de mortes anuais estão entre 9 e 15. Na Austrália, onde existem algumas das cobras mais venenosas do mundo, estima-se que o número anual de ataques de cobra varia entre 300 e 500, com uma média de duas mortes. Mudanças ambientais, principalmente o desmatamento, pode ter causado o desaparecimento de muitas espécies de serpentes no Brasil. No entanto, o número de casos de picadas de cobra não foi reduzido, pois em algumas áreas desmatadas têm proliferado outras espécies, às vezes mais perigosa. (OMS 1995). Características clínicas da picada de cobra 1.2 Dependendo da espécie, certa proporção de pacientes picados por serpentes venenosas (entre 10% e 60%) não desenvolveram sintomas tóxicos (veneno), ou estes são mínimos, quanto as marcas que indicam a penetração na pele de presas da serpente. O medo e os efeitos do tratamento, bem como o veneno de cobra, contribuem para a produção dos sintomas. Mesmo pacientes que não estão envenenadas podem sofrer ondas de calor, tonturas e dispnéia, com constrição no peito, palpitações, sudorese e acroparestesia. Os torniquetes apertados podem causar congestão e isquemia das extremidades; as incisões locais no local da mordida podem originar sangramentos e dessensibilização, e os medicamentos à base de plantas, vômitos. 15 Os primeiros sintomas que podem ser atribuídos diretamente à picadaé dor local e hemorragia no local da penetração dos dentes, seguido por dor, sensibilidade, inchaço e inchaço do membro, linfangite e dilatação dolorosa dos gânglios linfáticos regionais. Pacientes com picadas de cobras Européias, Daboia russelii, espécies de Bothrops, elapidos Australianos e Atractaspis engaddensis pode ocorrer síncope precoce, vômitos, cólicas, diarréia, angioedema e chiado no peito. Náuseas e vômitos são sintomas comuns de intoxicação grave. Tipos de mordida 1.2.1 Cobras (cobras com presas traseiras tais como o Dispholidus tipo e espécie de Thelotornis, Rhabdophis e Philodryas) Produz inflamação local, sangramento nas marcas de presas e, às vezes (Rhabophis tigrinus), desmaios. Mais tarde podem aparecer vômitos, cólicas abdominais e dores de cabeça e hemorragia sistêmica generalizada com inchaço extenso (Cardinals), coagulopatia, hemólise intravascular e insuficiência hepática. Envenenamento pode desenvolver-se lentamente ao longo de vários dias. Atractaspididae (cobras toupeira, serpente negra de Natal) Efeitos locais incluem dor, inchaço, hematomas, necrose e dilatação dos gânglios linfáticos dolorosos. Os pacientes envenenados por A. engaddensis descrevem sintomas intestinais violentos (náuseas, vômitos e diarréia), anafilaxia (dispnéia, insuficiência respiratória, choque) e alterações de ECG (bloco a-v, ST, onda T). Elapídios (cobras, búngaros, mambas, cobras corais e cobras venenosas australianos) As picadas Búngaros, mambas, cobras corais e algumas cobras (por exemplo, a Naja e a N. nivea) produzem efeitos locais mínimos, enquanto as picadas de cobras cuspidoras africanas (N. nigricollis, N.mossambica, etc.) e as cobras asiáticas (N. naja, N. kaouthia, N. sumatrana, etc.) causam inflamação local dolorosa que pode ser extensa, formar cardeais ou produzir necrose superficial. 16 Entre os sintomas neurotóxicos iniciais, antes que se apresentem sintomas neurológicos objetivs, figuram: vômitos, "peso" das pálpebras, visão turva, contração muscular, parestesia ao redor da boca, hiperacusia, dor de cabeça, vertigens, tonturas, salivação, congestão conjuntiva e pele de galinha. A paralisia começa ptose palpebral e oftalmoplegia externa, que já aparece em 15 minutos da picada, embora às vezes levasse dez ou mais horas para aparecer. Posteriormente, a face, boca, mandíbula, língua, cordas vocais, músculos do pescoço e os músculos da deglutição sofrem paralisia progressiva. A obstrução das vias aéreas pode causar insuficiência respiratória nesta fase, ou mais tarde, com paralisia dos músculos intercostais, o diafragma e os músculos respiratórios acessórios. Os efeitos neurotóxicos são totalmente reversíveis se o antídoto ou o anticolinesterase forem administrados imediatamente (por exemplo, após a picada de cobra asiática, de algumas cobras corais da América Latina (Micrurus) e cobras da morte australianas (Acanthophis)) ou por remissão espontânea dentro de um a sete dias. O envenenamento causado por serpentes australianas produzem vômitos, cefaléia, síncope, neurotoxicidade, distúrbios hemostáticos e, com algumas espécies, mudanças no ECG, rabdomiólise generalizada e insuficiência renal. A dilatação dolorosa dos gânglios linfáticos regionais indica que a intoxicação sistêmica é iminente, mas os sintomas locais geralmente não existem ou são leves , exceto depois de picada pelas espécies Pseudechis . Oftalmia venenosa causada por elápidos "cuspidores" 1.2.2 Os pacientes "cuspidos" por este tipo de elapidos experimenta uma dor intensa nos olhos, conjuntivite, blefaroespasmo, edema das pálpebras e secreção. Em mais da metade dos pacientes cuspidos por N. nigricollis observaram erosões na córnea. Raramente, o veneno é absorvido dentro da câmara anterior, causando hypopyon e uveíte anterior. A infecção secundária das erosões da córnea pode produzir opacidades permanentes que dificultam a visão ou panoftalmitis. Vipéridos (víboras, cobras cascavéis, víboras com cabeça de lança, mocassins e jararacas) 17 O envenanamento local é relativamente grave. A inflamação pode ser detectada em 15 minutos, embora, em algumas ocasiões, leva horas a aparecer. Ele se espalha rapidamente e pode afetar todo o membro e tronco adjacente. Ocorre dor associada e ternura nos gânglios linfáticos. No dia seguinte pode aparecer cardeal, equimose e necrose. A freqüência e gravidade desta última são notáveis após a picada de algumas cascavéis, víboras com cabeça de lança (gênero Bothrops) jararacas asiáticas e víboras africanas (gêneros Echis e Bitis). Quando o tecido é envenenado dentro de uma zona estreita, como o espaço da polpa dos dedos das mãos ou dedos dos pés, ou no músculo tibial anterior, pode ocorrer a isquemia. Caso não ocorra se perceba a inflamação durante as duas horas que se seguem a picada de uma cobra, existe uma possibilidade de que não houve envenenamento. No entanto, com algumas espécies o envenenamento fatal ocorre mesmo sem manifestação de sintomas locais (por exemplo, Crotalus durissus terrificus, C. scutulatus e víbora birmana de Russel). 1.2.2.1 Tratamento Primeiros Socorros Os doentes devem ser transportados para o hospital mais próximo tão rapidamente quanto possível e confortavelmente, impedindo o movimento do membro no qual a mordida ocorreu por meio da utilização de uma tala. Os métodos tradicionais de primeiros socorros podem ser prejudiciais e não deve ser usada. As incisões locais e de sucção pode apresentar infecção, danificar os tecidos e causar sangramento persistente, mais eles não são susceptíveis de extrair a maior parte do veneno da ferida. Os benefícios potenciais de método de extracção de pó não foram testados em pacientes humanos e pode danificar os tecidos moles. O permanganato de potássio e a crioterapia pode intensificar a necrose local. Choques elétricos podem ser perigosos, e não foram provados seus benefícios. Os torniquetes as ligaduras de compressão podem causar gangrena, fibrinólise, paralisia de nervos periféricos e o aumento do envenenamento local na extremidade ocluída. 18 O método de imobilização por pressão consiste em aplicar uma ligadura de compressão firme, mas não apertada, no membro que ocorreu a picada, com uma faixa de entre 4 e 5 m de comprimento e 10 cm de largura, a partir do lugar da picada e incorporando a tala. Em animais, é um método eficaz para prevenir a absorção sistémica no caso de elápidos australianos, e outros venenos, mas em seres humanos ainda não foi submetido a testes clínicos. A imobilização de pressão é recomendada para picadas de cobras com venenos neurotóxicos (por exemplo, Elapidae, Hydrophiidae), mas quando a inflamação e necrose forem locais pode ser um problema ( por exemplo, Viperidae ). Em nenhum caso, recomendamos a caça, captura ou abate da cobra, mas se ele já está morto, deve ser levada junto com o paciente para o hospital. Não se deve tocar com as mãos desprotegidas, pois ela pode atacar com picadas de reflexos, apesar de estar aparentemente morta. Os pacientes levados para o hospital devem ficar de lado para evitar aspiração de vômito. Os vômitos persistentes se tratam com clorpromazina ( 25-50 mg em adultos, de 1 mg / kg de peso corporal em crianças). Se o paciente apresentar síncope, choque, angioedema ou outros sintomas anafiláticos (autofarmacológicos) se administra adrenalina a 0,1% por via subcutânea (0,5 ml para adultos e de 0,01 ml / kg de peso corporal para as crianças) e um anti-histamínico como a clorfeniramina por injecção intravenosa lenta (10 mg para adultos , 0,2 mg / kg de peso corporal para crianças). Os pacientes com coagulopatias podem desenvolver hematomas graves após injeções intramusculares ou subcutâneas, razão pela qual a intravenosa deve ser usada sempre que possível. Pacientes com insuficiência respiratóriaou cianose se tratam estabelecendo uma via aérea, administrando o oxigênio e, se necessário, com respiração assistida. Se o paciente estiver inconsciente e sem pulso detectado ou o femoral ou carótida, deve-se proceder de imediato a uma ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Sauria ( lagartos ) 1.2.3 Há apenas duas espécies de lagartos venenosos, ambos pertencentes ao gênero Heloderma: H. suspectum (monstro de Gila) e H. horridum. Um veneno similar ao das víboras penetra nas 19 mordidas produzidas pelas presas curvadas desses lagartos, se bem que as mordidas em seres humanos são pouco frequentes e a recuperação é normalmente rápida. (Rioux e Juminer 1983). 1.2.3.1 Prevenção para Cobras e Lagartos As serpentes não costumam atacar seres humanos, a menos que se sintam ameaçadas, se forem perturbadas ou pisadas. Em áreas infestadas com cobras venenosas, os trabalhadores devem proteger as extremidades inferiores e levar soro antiveneno monovalente ou polivalente. Pessoas que trabalham em uma zona de perigo, a mais de meia hora de carro do posto mais próximo de primeiros socorros, são aconselhadas a levar um equipamento antiveneno que contenha uma seringa esterilizada. Em todo caso, os trabalhadores devem saber que as mordidas, incluindo as produzidas pelas cobras mais venenosas raramente são fatais, porque a quantidade de veneno injetado é geralmente pequena. Alguns encantadores de serpentes conseguem se imunizar mediante repetidas injeções de veneno, mas ainda não foi desenvolvido nenhum método científico para a imunização humana. (Rioux e Juminer 1983). Normas internacionais e riscos biológicos A Regulamentação do trabalho em muitos países incluem os riscos biológicos em sua definição desubstâncias nocivas ou tóxicas. No entanto, na maioria dos regulamentos os riscos biológicos sãolimitados principalmente aos microorganismos ou agentes infecciosos. Alguns regulamentos da Occupational Safety and Health Administration (OSHA), nos Estados Unidos contêm disposiçõesrelativas aos riscos biológicos, o mais específico são os que estão relacionados com a vacina dahepatite B e patógenos transmitidos pelo sangue. Os riscos biológicos também são mencionados emdispositivos de aplicação mais amplos (por exemplo, os relacionados com a comunicação de risco, as especificações para sinalética de segurança e diretrizes para o desenvolvimento de planos dedesenvolvimento pessoal). Apesar de não ser sujeito a qualquer regulamentação específica, aidentificação e a prevenção dos riscos associados aos animais, insetos ou plantas são mencionadasem outros regulamentos da OSHA pertencentes a ambientes de trabalho específicos: por exemplo, as telecomunicações, em campos de trabalho temporários sobre o transporte de polpa de madeira(este último inclui orientações sobre equipamentos de primeiros socorros para picadas de cobra). Uma das normas mais detalhadas para o controle de riscos biológicos no local de trabalho é a Directiva Europeia n º 90/679. Ela define agentes biológicos como "microorganismos, incluindo osgeneticamente modificados, as culturas de células e os endoparasitas humanos, tudo o que podecausar alguma infecção, alergia ou toxicidade" e classifica os agentes e biológicos em quatrogrupos, dependendo do seu nível do risco de infecção. A Directiva abrange a identificação eavaliação dos riscos e obrigações dos empregadores em termos de substituição ou redução do risco(através de controles de engenharia, higiene industrial, a proteção individual e coletiva, etc.),Informação (dos trabalhadores, os seus representantes e autoridades competentes), vigilânciasanitária, vacinação e manutenção de registros. Os anexos contêm informações detalhadas sobre asmedidas de controle para os diferentes "níveis de contenção ", dependendo da natureza dasatividades, a avaliação do risco para os trabalhadores e a natureza do agente biológico em questão. 20 21 Animais Aquáticos 1.2.4 Em quase todas as divisões taxonômicas (filos) existem animais aquáticos perigosos para os seres humanos. Os trabalhadores entram em contato com esses animais no curso de várias atividades, como a pesca submarina e de superfície, a instalação e operação de equipamentos para extração de petróleo sob a água, construção submarina e pesquisa científica, e assim por diante, se expondo a riscos para a saúde. As espécies mais perigosas habitam as águas quentes e temperadas. 1.2.4.1 Características e comportamento Poríferos. A esponja comum pertencem a esse filo. Os Pescadores que tocam as esponjas (incluindo mergulhadores, mergulhadores com equipamento e outros mergulhadores), podem contrair a dermatite de contato, o que provoca irritação na pele e caroços ou bolhas. A "doença dos mergulhadores de esponja" na região do Mediterrâneo é causada pelos tentáculos de um pequeno celentéreo (Sagartia rosea), que parasitam a esponja. Dermatite conhecido como "musgo vermelho" ocorre em pescadores de ostras na América do Norte pelo contato com escarlate esponja encontrados em conchas de ostras. Houve casos de alergia tipo 4. O veneno liberado pela esponja contém a histamina e as substâncias antibióticas Suberitus ficus. Celentéreos. Eles são representados por numerosas famílias da classe conhecida como hydrozoan, que inclui corais Millepora ou (coral ardor, fogo coral), o Physalia (Physalia physalis, vespa do mar, o homem Português), o Scyphozoa (água-viva ) e Actiniaria (anemone picadas), todas as quais são encontradas em todas as partes do oceano. A característica comum destes animais é a sua capacidade para produzir urticária por injecção de um veneno potente armazenado em uma célula especial (nidoblasto) com um filamento oco que se rompe quando se encosta o braço e penetra na pele da vítima. As várias substâncias presentes no veneno podem originar sintomas como coceira intensa, congestão hepática, dor e depressão do sistema nervoso central. Entre estas substâncias foram identificadas thalassius, congestina, equinotoxina (contendo 5- hidroxitriptamina e tetramina) e hipnotoxina respectivamente. 22 Os efeitos sobre o indivíduo dependerá do grau de contato com os tentáculos e, consequentemente, o número de agulhas microscópicas que podem atingir vários milhares, e até mesmo causar a morte da vítima em minutos. Dada a ampla distribuição destes animais em todo o mundo, ocorrem muitos incidentes, embora o número de mortes seja relativamente baixo. Os efeitos sobre a pele são caracterizados por prurido intenso e a formação de pápulas vermelhas brilhantes e aparência mosqueada, que se tornam pústulas e ulcerações. A pessoa sente uma dor aguda como um choque elétrico. Outros sintomas incluem falta de ar, ansiedade generalizada, distúrbios cardíacos, colapso, náuseas, vômitos, perda de consciência e choque primário. Equinodermos . Este grupo inclui as estrelas e ouriços do mar. Ambos têm órgãos venenosos (pedicelos), mas eles não são perigosos para os seres humanos. Os espinhos do ouriço do mar penetram na pele e deixam um fragmento profundo, produzindo uma infecção secundária, seguida pela formação de pústulas e granuloma persistente, muito irritante se as feridas estiverem perto de tendões ou ligamentos. Entre os ouriços do mar, só a Acanthaster planci parece ter espinhos venenosos que podem causar distúrbios gerais, tais como vômitos, paralisia e dormência. Moluscos. Entre os animais desse filo se encontram os conivalvos, que são os que podem ser perigosos. Vivem em fundos arenosos do mar e parecem ter uma estrutura formada por uma rádula venenosa com dentes em forma de agulha, que se projetam para fora da boca e pode atacar a vítima quando a concha é tocada diretamente com as mãos de forma imprudente. O veneno age sobre os sistemas nervosos centrais e neuromusculares. A penetração desse dente na pele produz isquemiatemporária, cianose, embaciamento, dor e parestesia a medida que o veneno se espalha pelo o corpo. Outros efeitos posteriores são: paralisia dos músculos voluntários, falta de coordenação, visão dupla e confusão geral. A morte pode ocorrer a partir de paralisia respiratória e colapso circulatório. Foram registrados cerca de 30 casos, dos quais 8 foram fatais. Platelmintos. Para esta classe pertencem a Hermodice Eirythoe caruncolata complanata e conhecido como "vermes espinhosos". Eles são cobertos por inúmeros apêndices em forma de espinhos que contém um veneno (nereistotoxina), com efeito, neurotóxico e irritante. Polyzoos (Bryozoos). Este grupo é composto por animais que formam colonias com aspecto de plantas, semelhantes a musgos gelatinosos que se encrostam em rochas e conchas. A variedade 23 conhecida como Alcyonidium, produz uma dermatite irritativa nos braços e no rosto dos pescadores ao retirar este "musgo" de suas redes. Ele pode também causar um eczema alérgico. Seláceos (Chondrichthyes). Entre os animais desse filo estão os tubarões, raias e mantas. Os tubarões vivem em águas rasas, onde eles buscam suas presas e podem atacar as pessoas. Muitas variedades de Seláceos têm um ou dois espinhos largos venenosos na frente da nadadeira dorsal, que contêm um veneno fraco ainda não identificado. Os espinhos produzem uma ferida que causa dor imediata e intensa irritação, inflamação e edema. Outro grande perigo desses animais é a sua mordida, pois a disposição dos seus dentes afiados em várias linhas pode causar graves lacerações que produzem choque imediato, hemorragia aguda e afogamento da vítima. O perigo representado por tubarões tem sido objeto de intenso debate e todas as variedades parecem ser particularmente agressivas. É muito difícil prever o seu comportamento, mas acredita-se que eles são atraídos pelo movimento e a cor da luz dos nadadores, bem como sangue e as vibrações que produzem peixes ou outra presa depois de terem sido presas. As raias e as mantas são corpos grandes, planas com uma longa cauda coberta com um ou mais espinhos ou serras que podem ser venenosos. O veneno contém serotonina, 5- nucleotidase e fosfodiesterase, e pode causar vasoconstrição generalizada e paragem cardíaca. As raias e as mantas vivem em regiões arenosas e águas costeiras, onde eles podem se esconder bem, sendo fácil de banhistas pisarem sem se dar conta. A raia reage levantando a cauda e projetando o espinho contra a vítima. Isto pode causar feridas profundas em um membro ou órgão interno, como o peritoneu, pulmão, coração ou fígado, especialmente no caso das crianças. A lesão também pode causar dor, inflamação, edema linfático e de outros sintomas, tais como choque primário e colapso circulatório. Lesões de órgãos internos pode causar a morte em poucas horas. Incidentes com raias e mantas estão entre as mais freqüentes, ocorrendo cerca de 750 a cada ano nos Estados Unidos. Estes animais também são perigosos para os pescadores, recomenda-se que cortem a linha, logo que o venham a bordo. Algumas espécies de raias, como o torpedo e narcine possuem órgãos elétricos na parte traseira que, quando eles são estimulados por simples contato, descargas elétricas ocorrem entre 8 e 220 volts, o suficiente para 24 temporariamente atordoar e imobilizar a vítima, embora esta geralmente se recupere sem complicações. Osteíctios. Muitos peixes deste filo possuem espinhos peitorais, caudais e anais, ligados a um corpo venenoso, cujo objetivo principal é a defesa. Se o peixe é perturbado, ou pisado, ele eriça os espinhos que podem penetrar a pele e injetar veneno. Eles costumam atacar os mergulhadores que estão à procura de peixe por contato acidental. Foram registrados inúmeros incidentes deste tipo, porque os peixes deste filo são generalizados, dentre eles pertencem o peixe-gato, presente tanto em àguas salgadas quanto doces (América do Sul, África Ocidental e dos Grandes Lagos), o peixe Scorpion (Scorpaenidae), o peixe Traquino ( Trachinus ), o peixe-sapo , peixe cirurgião e outros. Os ferimentos produzidos por estes peixes são geralmente dolorosos, especialmente no caso de o peixe-gato e peixe Traquino que causam vermelhidão ou palidez, inchaço, cianose, embaciamento, edema linfático e propagação hemorrágica em tecidos circundantes. Pode ocorrer gangrena ou infecção e neurite periférica com a ferida. Outros sintomas são: tonturas, náuseas, queda, choque primário, asma e perda de consciência. Eles representam um sério risco para os trabalhadores subaquáticos. No peixe-gato foi identificado e veneno neurotóxico hemotóxico, e, no caso de Traquino várias substâncias foram isoladas, tal como 5-hidroxitriptamina, histamina e catecolaminas. Alguns peixes-gato e peixes astrônomos, bem como a enguia elétrica (Electrophorus), possuem órgãos elétricos (ver Seláceos seção). Hidrofidios. Este é um grupo (serpentes do mar), localizado principalmente nos mares da Indonésia e Malásia, onde foram identificadas cerca de 50 espécies, incluindo Pelaniis platurus, Enhydrina platurus schistosa e Hydrus. O veneno de serpentes é muito semelhante ao da cobra, embora seja entre 20 e 50 vezes mais tóxica, é formada por uma proteína básica, de baixo peso molecular (eurobotoxina), afetando conexões neuromusculares, bloqueando acetilcolina e causando miólise. Felizmente, serpentes marinhas geralmente não atacam e mordem, apenas quando alguém pisa, irrita ou quando recebe um golpe, também pouco ou nenhum veneno é injetado com suas presas. 25 Os pescadores são os mais expostos a este risco, respondendo por 90 % de todos os incidentes relatados, a maioria deles produzidos por pisar a serpente no fundo do mar ou que estão presas nas redes. As cobras são, provavelmente, responsáveis por milhares de acidentes de trabalho atribuídos a animais aquáticos, mas raramente têm consequências graves e apenas uma pequena percentagem de acidentes são fatais. Os sintomas são geralmente ligeiros e pouco dolorosos. Os efeitos são muitas vezes sentidos depois de duas horas e começa com dor muscular, rigidez do pescoço, desorientação e tétano, e por vezes, náuseas e vômitos. Dentro de algumas horas aparece mioglubinúria (presença de proteínas complexas na urina ). A morte pode ocorrer a partir de paralisia dos músculos respiratórios, necrose tubular renal e parada cardíaca devido à hipercalemia. 1.2.4.2 Prevenção Devem ser feitos todos os esforços para evitar o contato com os espinhos desses animais quando eles são manuseados, a não ser usando luvas grossas. Além disso, muito cuidado deve ter a percorrer ou caminhar na areia do fundo do mar. Diversos equipamentos oferecem proteção contra medusas e outros celenterados e contra picadas de cobra. Nunca se deve tocar nesses animais perigosos e agressivos que devem ser evitados e onde há áreas de água-viva também, já que elas são difíceis de ver. Se uma serpente do mar está presa no lugar, ele deve ser cortado deixando a cobra ir. Na presença de tubarões, há uma série de princípios a serem observados: as pessoas devem manter os pés e as pernas para fora da água e, lentamente, trazer o barco para a praia e deixa-lo imóvel, os banhistas não devem permanecer na água com um peixe morrendo ou sangrando, e também atrair a atenção do tubarão, tanto com cores brilhantes ou jóias, ruídos ou explosões, luzes brilhantes ou movimentos da mão. Um mergulhador nunca deve mergulhar sozinho. 26 Animais Terrestres Venenosos 1.3 Todo ano milhares de pessoas morrem por causa de picadas de escorpião e reações anafiláticas a insetos. Na Tunísia são registrados anualmente entre 30.000 e 45.000 casos de picadas de escorpião que causam entre 35 e 100 mortes, a maioria delas crianças. O envenenamento (toxicidade) é um risco ocupacional para as populações que trabalhamna agricultura e silvicultura nessas regiões. Entre os animais que podem causar danos aos seres humanos devido ao seu veneno estão os invertebrados, como os aracnídeos (aranhas, escorpiões, aranhas do deserto ), ácaros (insetos e carrapatos), quilópodos (centopéias) e hexápodos (abelhas, vespas, borboletas e mosquitos). Aracnídeos (aranhas-Aranea) 1.3.1 Todas as espécies são venenosas, mas, na prática, apenas um pequeno número delas atacam seres humanos. O envenenamento por picada de aranha pode ser de dois tipos: 1. Envenenamento pela pele, que ocorre quando a picada produz depois de algumas horas um edema ao redor da marca cianótica e, posteriormente, forma uma bolha; também pode aparecer uma extensa necrose local. A cura de picadas de aranha como o género Lycosa (por exemplo, A tarântula ) pode ser um processo lento e difícil. 2. Intoxicação neurológica causada por veneno neurotóxico exclusivamente de tarântulas (Ctenus Latrodectus), que causa lesão grave e de início rápido, tétano, tremores, paralisia dos membros e por vezes choque mortal, este tipo de intoxicação é relativamente comum entre trabalhadores da silvicultura e agricultura e particularmente grave em crianças. Na Amazônia, o veneno de aranha "viúva negra" (Latrodectus) é usado para flechas envenenadas. 1.3.1.1 Prevenção Em áreas onde há perigo de aranhas venenosas, o lugar onde as pessoas dormem deve ser forrado com mosquiteiros e os trabalhadores devem usar calçados e vestuário de trabalho que lhes dão a proteção adequada. Escorpiões ( Escorpiónidos ) 1.3.2 27 Eles são aracnídeos que têm um acentuado ferrão venenoso no final do abdómen que acarreta numa picada dolorosa, cuja gravidade varia de acordo com as espécies, a quantidade de veneno injetado e da estação (o mais perigoso é o final do período de hibernação de escorpiões). Na região do Mediterrâneo, América do Sul e México, existem mais vítimas de escorpiões do que de cobras venenosas. Muitas espécies são noturnas e menos agressivas durante o dia. As espécies mais perigosas (Buthidae) são encontradas no neurotrópico árido e tropical, e seu veneno é altamente tóxico. Em todos os casos, a picada de escorpião produz imediatamente sintomas locais intensos (dor aguda, inflamação), seguidos por manifestações sistêmicas como tendência ao desfalecimento, salivação, espirros, lacrimejamento e diarréia. O resultado é fatal em crianças pequenas. As espécies mais perigosas do gênero são Androctonus (Africa subsahariana), Centrurus (México) e Tituus (Brasil). O escorpião não ataca o homem espontaneamente, ataca apenas quando detecta o perigo, quando encurralado ou quando alguém o aperta ao colocar botas ou roupas que lhe servem de abrigo. Os escorpiões são altamente sensíveis a pesticidas halogenados (por exemplo, o DDT ). Aranhas do deserto (Solpúgidas) 1.3.3 Esta ordem de aracnídeos é encontrada principalmente nas estepes e áreas semidesérticas do Saara, a Cordilheira dos Andes, na Ásia Menor, México e Texas, e não é venenosa. No entanto, as aranhas do deserto são extremamente agressivas, podem chegar ao tamanho de até 10 cm de diâmetro e seu aspécto é terrível. Em casos excepcionais, se forem muitas, as feridas produzidas por estes animais podem ser graves. As aranhas do deserto são predadores noturnos e podem atacar uma pessoa durante o sono. Percevejos e carrapatos (Acorinas) 1.3.4 Os carrapatos são aracnídeos que chupam sangue em todas as fases de sua vida e sua saliva injetada através de seus órgãos de alimentação podem ter efeitos tóxicos. O envenenamento é por vezes grave especialmente em crianças (paralisia do carrapato), e às vezes acompanhado pela supressão dos reflexos. Em casos excepcionais, a morte ocorre por paralisia bulbar 28 (particularmente quando o carrapato se agarra ao couro cabeludo). Percevejos schupam sangue apenas na fase larval e sua picada provoca inflamação pruriginosas da pele. A incidência de picadas de percevejos é elevada em regiões tropicais. Tratamento e prevenção. Os carrapatos devem arrancados depois de serem anestesiados com uma gota de benzeno, éter etílico ou o xileno. Prevenção baseia-se na utilização de pesticidas ou repelentes. Centopéias (Quilópodos) 1.3.5 As centopéias se distinguem dos milípedes (Diplopoda) em ter apenas um par de pernas em cada segmento do corpo e os apêndices do primeiro segmento de dentes são venenosos. As espécies mais perigosas são encontradas nas Filipinas. O veneno das centopéias tem apenas um efeito localizado (edema doloroso). Tratamento. As picadas Mordidas devem ser tratadas com aplições tópicas de loções a base de amoníaco diluído, hipoclorito ou permanganato. Podem também ser administrados os anti- histamínicos. Insetos (Hexápodos) 1.3.6 Os insetos podem injetar veneno através de suas extremidades bucais (Simuliidos, borrachudos, mosquitos, moscas Phlebotomo de areia) ou através da picada (abelhas, vespas, marimbondos, formigas carnívoras ) . Eles podem causar urticária com seus cabelos (lagartas, borboletas) ou produzir feridas com sua hemolinfa (castaridae ,mosca vesicante, besouro bum). As picadas de moscas pretas podem produzir lesões necróticas, algumas vezes com distúrbios gerais; picadas de mosquito produzem lesões pruriginosas difusas. Picadas de Hymenoptera (abelhas, etc.) produzem dor intensa local, eritema, edema e às vezes necrose. Acidentes gerais podem ocorrer como resultado da sensibilização ou múltiplas picadas (calafrios, náusea, dispneia, extremidades frias). 29 As mordidas no rosto ou língua são particularmente graves e podem causar a morte por asfixia quando ocorre edema de glote. As lagartas e borboletas podem causar lesões pruriginosas generalizadas na pele (angioedema), algumas vezes acompanhada de conjuntivite. Não é incomum surgir uma infecção sobreposta. O veneno das cantharides produzem lesões vesiculares ou bolhosas na pele (hoederus). Existe também o perigo de leishmaniose visceral (nefrite tóxica). Alguns insetos, tais como as lagartas e as Hymenoptera são encontrados em todas as regiões do mundo, ao passo que outros são subordens mais localizados. As borboletas são em sua maioria perigosas na Guiana e na República Centro-Africana; as cantharides se encontram no Japão, América do Sul e no Quênia; as moscas negras que vivem em regiões tropicais e na Europa Central e as moscas da areia estão no Oriente Médio. 1.3.6.1 Prevenção A primeira medida preventiva é o uso de mosquiteiros e aplicação de repelente e inseticida. Os trabalhadores com um alto risco de exposição a picadas de insectos podem ser imunizados nos casos de alergia mediante a aplicação de doses crescentes de extrato do corpo do inseto. 30 UNIDADE II - AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO A avaliação da exposição no local de trabalho 1.4 A avaliação da exposição no local de trabalho é identificar e avaliar os agentes nocivos com os quais o trabalhador pode entrar em contato. Podem-se construir índices de exposição que refletem as quantidades desses agentes presentes no ambiente em geral ou no ar inalado; e a quantidade de agente que realmente é inalado, ingerido ou absorvido por outras vias (ingestão). Os indicadores que refletem a quantidade de agente que é absorvido (absorção) e a exposição no órgão-alvo são chamados de biológicos ou monitoramento biológico de efeito. Uma vez que o monitoramento biológico envolve prioritariamente a prevenção, o monitoramento biológico de efeito seria conceitualmente contraditório com o primeiro. Todavia, deve-se considerar que o efeito no qual esse monitoramento está baseado é o não nocivo. O monitoramento de um efeito precoce, não nocivo, produzido por um agente químico pode, em principio, ser adequado para prevenir efeitos nocivos à saúde. Assim, o monitoramento biológico de efeito édefinido como: “a medida e avaliação de efeitos biológicos precoces, para os quais não foi ainda estabelecida relação com prejuízos à saúde, em trabalhadores expostos, para estimar a exposição e/ou os riscos para saúde quando comparados com referência apropriada”. Um efeito biológico pode ser definido como uma alteração bioquímica, funcional ou estrutural que resulta da reação do organismo à exposição. Essa alteração é considerada não nociva quando: ao serem produzidas numa exposição prolongada não resultem em transtornos da capacidade funcional nem da capacidade do organismo para compensar nova sobrecarga; são reversíveis e não diminuem perceptivamente a capacidade do organismo de manter sua homeostasia; não aumentam as suscetibilidades do organismo aos efeitos indesejáveis de outros fatores ambientais tais como os químicos, os físicos, os biológicos ou sociais. A vantagem dos testes que medem os efeitos biológicos não nocivos é que fornecem melhor informação sobre a quantidade do agente químico que interage com o sitio de ação. 31 Assim, o objetivo principal do monitoramento biológico, seja ele de dose interna ou de efeito, é, essencialmente o mesmo do monitoramento ambiental, ou seja, prevenir a exposição excessiva aos agentes químicos que podem provocar efeitos nocivos, agudos ou crônicos, nos indivíduos expostos. Nos três casos o risco à saúde é avaliado comparando o valor medido, com um padrão de segurança. Indicador biológico de exposição (biomarcadores) 1.4.1 O Indicador Biológico de Exposição é uma substância química, elemento químico, atividade enzimática ou constituinte dos organismos, cuja concentração (ou atividade) em fluido biológico (sangue, urina, ar exalado) ou em tecidos, possui relação com a exposição ambiental a determinado agente tóxico. A substância ou elemento químico determinado pode ser produto de uma biotransformação ou alteração bioquímica precoce decorrente da introdução deste agente tóxico, no organismo. Para os agentes químicos preconizados no Quadro I da NR-7, é definido o Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP) que é “O valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde”. A ultrapassagem deste valor significa exposição excessiva”. Este Valor (IBMP) deve ter correlação com a concentração do agente químico no ambiente de trabalho e é definida como limite de tolerância-LT ou limite de exposição ocupacional-LEO. Para realizar o monitoramento biológico é preciso ter o indicador biológico, que pode ser definido como todo agente tóxico inalterado e/ou seu produto de biotransformação, determinado em amostras representativas do organismo dos trabalhadores expostos (sangue, urina e ar expirados) assim como a identificação de alterações biológicas precoces decorrentes da exposição. Fatores não laborais e fatores ocupacionais podem influenciar os níveis dos indicadores biológicos Os resultados obtidos dos exames dos indicadores biológicos são comparados com referências apropriadas. Aqui no Brasil a legislação que estabelece estas referências é regulamentada pela 32 NR–7 Portaria nº 24 de 29/12/94 do MTE, onde são definidos os parâmetros para o controle biológico de exposição a alguns agentes químicos. Vigilância Ambiental e Biológica 1.4.2 Vigilância ambiental e biológicacomeça com um estudo do ambiente de trabalho para identificar riscos e fontes potenciais de poluição e estabelecer a necessidade de medições. No caso de agentes químicos, estes podem exigir a tomada deamostras de ar, superfícies, produtos a granel e materiais biológicos. No caso deagentes físicospodem incluir medições de ruído de temperatura e radiação. Quando as medições forem indicadas, deve-se desenvolveruma estratégia de amostragem especificando o método, os trabalhadores, processos, equipamentos e áreas a serem amostrados, o número de amostras, duração e frequência. Os estudosde higiene industrial eas abordagens variam em complexida de dependendodo objetivoda investigação, o tipo e o tamanhodo local e a natureza do problema. Não há fórmulas rígidas para realizar os estudos, porém antes de iniciar a inspeção, buscar queixas e recuperar registros de doenças os trabalhadores é um bom começo, além de ajudar a aumentar a eficácia e eficiência. 33 Ambientação 1: Glossário e Resumo Um contaminante ou produto químico pode entrar em contato com o nosso organismo pela: Via Aérea - Inalação de gases, fumos metálicos, vapores, poeiras e névoas; Via Digestiva - Ingestão de poeiras e fumos metálicos; Via Cutânea - absorção pela pele de névoas, vapores e poeira; Via Ocular – absorção pelos olhos de névoas e vapores; A forma mais grave de absorção de um contaminante químico, é pelas Vias Aéreas, pois a área de um pulmão adulto é de 70 a 100 metros quadrados. Durante a inalação existe uma grande área de penetração e conseqüente contato dos vapores químicos, gases, poeiras orgânica ou inorgânica com o nosso organismo. O volume de ar inalado por uma pessoa em repouso fica entre 4 a 6 litros por minuto. Durante a inspiração, há uma grande penetração do Aerodispersóide/produto químico no organismo, devido a elevada área e volume de ar inalado/exalado, especialmente em carga ou atividade extenuante. Um trabalhador em atividade extenuante (trabalho com pá) pode inalar até 30 litros de ar por minuto. 34 Vigilância médica 1.4.3 Acompanhamento médico é necessário porque a exposição a substâncias perigosas pode causar ou agravar algumas doenças. Ele requer um programa ativo, envolvendo profissionais que conhecem doenças do trabalho, seu diagnóstico e tratamento. Programas de vigilância médica incluem medidas para proteger, educar, fiscalizar e, em alguns casos, compensar o empregado. Podem abarcar programas de seleção (admissionais), exames médicos periódicos, testes especializados para a detecção precoce de anormalidades e danos causados por substâncias perigosas, tratamento médico e registro de dados. A seleção pré-emprego (exame admissional) avalia a história profissional e médica do candidato a um posto, bem como resultados de exames físicos. São usados questionários para obter informações sobre doenças que sofreram no passado ou as crônica (especialmente asma, da pele, pulmão e coração) e exposições em empregos anteriores. Os programas de seleção de pré-recrutamento são muito importantes quando se utiliza para (1) manter um registro de trabalhos anteriores e exposições associadas, (2) estabelecer a saúde basal de um trabalhador e (3) determinar a existência de hipersensibilidade. Os exames médicos podem incluir exames audiométricos para detectar perda auditiva, testes visuais, provas de funçoes orgânicas e análises basais de sangue e urina. Exames médicos periódicos são essenciais para avaliar e detectar tendências quando se inicia um processo mórbido. Para demonstrarumadeterioração da saúde podem incluir controle biológico decertos contaminantese uso deoutros biomarcadores. Vigilância a saúde 1.4.4 É necessário estabelecer claramente, a diferença entre monitoramento biológico e vigilância a saúde. Esta ultima é definida como: ”exames médico fisiológicos periódicos de trabalhadores expostos, com o objetivo de proteger a saúde de detectar precocemente a doença”. A detecção da doença instalada esta fora do propósito desta definição. Então a vigilância à saúde utiliza indicadores sensíveis que auxiliam na detecção, porém não na prevenção de sinais precoces de alterações orgânicas provocadas pela interação do agente químico com o organismo. 35 A vigilância à saúde é um procedimento médico no qual se recombinam os diversos elementos, obtidos a partir do exame clínico do trabalhador, aos quais se somam os do monitoramento biológico,para se obter um quadro geral da condição e saúde do trabalhador, relacionando-a com uma atividade específica. Em programas de vigilância à saúde são utilizados os indicadores do efeito nocivo que revela a fase inicial, reversível, da intoxicação. Os exames podem necessitar de especificidade com relação à exposição. Como exemplos, podem ser citadas as provas de função hepática, que poderão estar alteradas em muitas moléstias do fígado e com o resultado do hábito de ingerir álcool. O quadro hematológico altera-se não somente na exposição ao benzeno, mas também em uma variedade de outros agentes químicos, além de numerosas moléstias originadas por microorganismos. Assim a validação das provas a ser usada na vigilância a saúde para determinar efeitos precoces produzidos por agentes químicos é um processo difícil, pois a sensibilidade e a especificidade dos exames devem ser conhecidas. De fato, programas de vigilância a saúde utiliza o monitoramento biológico e o monitoramento de efeito como um de seus critérios mais valiosos na detecção precoce de doenças decorrentes na exposição humana as substâncias químicas. Deve-se sempre levar em consideração que somente os indicadores altamente específicos, para uma determinada patologia do órgão, é que podem ser considerados como instrumentos úteis para o diagnóstico precoce de uma doença em processo de instalação. A vigilância à saúde procura dar ênfase às características da exposição, especialmente tempo e duração, associando-se ao estado de saúde, podendo ser aplicada com os seguintes objetivos: Comprovar a ausência de um efeito nocivo numa exposição considerada aceitável ou a eficiência das medidas ambientais adotadas; Dar atenção às alterações precoces do estado de saúde para poder interferir, preventivamente, em relação à doença. As alterações do estado de saúde ocorrem com as seguintes características: 36 Uma fase de indução, isto é, aquela em que decorre certo tempo para se iniciar o processo de morbidade, após alcançar certa dose do agente químico no organismo. Uma fase de latência, que corresponde ao período compreendido entre o início do processo de morbidade e o aparecimento das alterações funcionais que ainda não permitem a sua individualização. A aplicação da vigilância a saúde, a exemplo do que acontece com o monitoramento biológico, não pode ser confundida com os procedimentos que visam o diagnóstico. É importante enfatizar que a manifestação de deterioração da saúde não ocorre necessariamente no momento do reconhecimento médico. A ocorrência de certas alterações biológicas pode, desde que evidenciada em tempo hábil, advertir que se não forem modificadas as condições de trabalho ocorrerão os transtornos funcionais. A Figura 1 mostra a evolução das alterações clínicas e subclínicas relacionadas com o tempo, em uma determinada exposição. Figura 1: Evolução das alterações clínicas e subclínicas Fonte: Lauwerys & Bernard 37 Figura 2: Esquema representando a transferência do agente químico até os sítios de ação Fonte: Lauwerys & Bernard A dose é um termo farmacológico ou toxicológico usado para indicar a quantidade de uma substância que é administrado a uma pessoa. Afrequência da dose (taxa) é a quantidade de substância administrada por unidade de tempo. A dose de exposição, no local do trabalho, é difícil de determinar na prática, uma vez que os processos físicos e biológicos, como a absorção, inalação e distribuição de um agente no corpo humano, estabelecem entre exposição e a dose complexas relações não-lineares. A incerteza sobre o real nível de exposição aos agentes dificulta também a quantificação da relação entre a exposição e efeitos sobre a saúde. Para muitas exposições, há um intervalo de tempo, durante o qual a exposição ou a dose alcançar uma maior importância, para o desenvolvimento de um particular problema de saúde ou sintomas. Por conseguinte, a exposição, ou a dose, biologicamente importante seria aquela que ocorre durante o intervalo de tempo. Agente químico MONITORAMENTO no ambiente AMBIENTAL Absorção Agente químico no organismo Distribuição Biotransformação Produtos produtos Ativos inativos MONITORAMENTO BIOLÓGICO Distribuição Fixação em fixação em sítios Sítios críticos não críticos Produtos de Efeitos não nocivos MONITORAMENTO Degradação BIOLÓGICO DE EFEITO Efeitos tóxicos Lesões pré-clínicas VIGILÂNCIA A SAÚDE 38 Acredita-se que algumas exposições a agentes cancerígenos no local de trabalho têm este tipo de intervalo tempo relevante. O câncer é uma doença com um longo período de latência e, portanto, pode acontecer que a exposição causadora o desenvolvimento da doença ocorra muitos anos antes dele se manifestar. É, portanto, um fenômeno arbitrário, pois uma exposição cumulativa ao longo do período laboral seria parâmetro relevante, porem a exposição contínua, intermitente, com ou sem picos, também pode ser relevante. É possível que a exposição que ocorre no momento da manifestação da doença não tenha nenhum significado especial. É importante para fins epidemiológicos/medições ambientais que se alinhem a obsevaçao dos requisitos normativos sanitários e ambientais aos controles de saúde/ambientais no contexto de programas de prevenção e controle. Por exemplo, se um efeito para a saúde é causado por exposições de pico, estes picos devem ser medidos para que possam ser controlados. As observações que só fornecem dados sobre exposições médias durante longos períodos de tempo não têm grande utilidade, uma vez que a variabilidade à distribuição imposta pelos picos pode fica diluída pela medida central (média) e, claro, que tais picos não podem ser controlados no momento em que ocorrem. Muitas vezes, são desconhecidas a exposição ou a dose biologicamente relevante para um efeito em particular, porque os padrões de ingestão, absorção, distribuição e, eliminação, ou os mecanismos de biotransformação, não são conhecidos amiúde. Tanto o conhecimento da velocidade na qual um agente entra e deixa o corpo (cinética) como os processos bioquímicos experimentados pela substância (biotransformação) ajudam a determinar as relações entre exposição, dose e efeito. O controle ambiental diz respeito à medição e à avaliação de agentes presentes no local de trabalho para avaliar a exposição e consequentes riscos ambientais e de saúde. O controle biológico, em complemento ao controle ambiental, se reporta à medição e avaliação dos agentes no local de trabalho a partir dos seus metabólitos em tecidos, secreções ou excreções também para avaliar a exposição e riscos à saúde. 39 Às vezes se utilizam de biomarcadores como condutos de DNA, para medir a exposição. Os biomarcadores também servem como indicadores dos mecanismos do próprio processo de enfermidade, mais detalhe no tópico 1.5.1 à frente. O modelo básico da exposição-resposta pode ser diagramado como segue: Figura 3: modelo básico do fluxo exposição-resposta Exposição → absorção → distribuição, eliminação, transformação → dose no órgão-alvo → fisiopatologia → efeito. Dependendo do agente, as relações entre exposição-absorção e exposição-ingestão e pode ser complexa. Para muitos gases pode ser feita com base em aproximações simples da concentração atmosférica do agente durante uma jornada e a quantidade de ar inalado. Para amostragem de pó deve ser levado em conta, além disso, que o depósitode partículas é função do seu tamanho. As considerações sobre esse tamanho pode aumentar a complexidade dessa relação. A avaliação da exposição e da dose é um elemento de avaliação quantitativa dos riscos. Os métodos de avaliação risco para a saúde geralmente são a base para estabelecer limites de exposição correspondentes aos níveis de emissão de agentes tóxicos no ar que são definidos nas normas ambientais e sanitárias com repercussão nas normas trabalhistas. Análise de risco para saúde fornece uma estimativa da probabilidade (risco) relacionada a certos efeitos na saúde ou uma estimativa do número de casos com estes efeitos. Permite ainda definir uma concentração aceitável de um agente tóxico no ar, na água ou nos alimentos, dada a magnitude do risco escolhida a priori. A análise quantitativa do risco é aplicada, por exemplo, na epidemiologia câncer, o que explica a importância atribuída à avaliação retrospectiva da exposição. Outras estratégias avaliam a exposição aplicando ambas as avaliações: prospectiva e retrospectiva. 40 Ambientação 2: Sintetizando controle biológico e avaliação ambiental Existe um fio condutor entre a exposição e ofeito á saúde que funciona em mão dupla: do efeito à saúde (biomarcador) se depreende a exposição; e da exposição (dose) se estima o efeito. As estimativas das doses obtidas a partir de medições ambientais e os biomarcadores a partir das biológicas. Diz-se retrospectivo quando se parte do efeito para a exposição e prospectivo no sentido contrário. Em outras palavras se trata de delineamentos epidemiológicos tipo coorte quando prospectivo e tipo caso-controle quando retrospectivo. Aproximando-se mais do dia-a-dia do EST, tem-se a mão dupla PPRA-NR9 (exposição)↔PCMSO-NR7(efeito: exame alterado) 41 UNIDADE III - CONTROLE DE EXPOSIÇÃO Controle de exposição e predição da dose 1.5 As velocidades não-lineares do dano biológico podem estar relacionada as mudanças na absorção, que por sua vez estão relacionadas aos níveis de exposição, suscetibilidade do hospedeiro, a sinergia com outras exposições, participação de outros mecanismos de doença, exposições mais elevadas ou níveis de limiar para progressão da doença. Infelizmente, o número de dados quantitativos sobre muitos tipos de exposição é insuficiente para predizer o risco de desenvolver certo efeito. Em 1924, Haber* postulou que a gravidade do impacto sobre a saúde (H) é proporcional ao produto da concentração de exposição (X) e duração de exposição (T): H = X ⋅ T. Essa equação, denominada de Lei de Haber, é o alicerce à idéia das medições que compõe a exposição em tempo médio ponderado (TWA), isto é, as medições são realizadas, na sequência se calcula a média durante certo período de tempo, seria uma espécie de medida útil de exposição. A hipótese sobre a validade do tempo médio ponderado tem sido ferozmente questionada.†‡ * Apud Atherly, GA. 1985. Critical review of time-weighted average as an index of exposure and dose, and of its key elements. Am Ind Hyg Assoc J 46:481-487. † Bogers, M, LM Appelman, VJ Feron, et al. 1987. Effects of the exposure profile on the inhalation toxicity of carbon tetrachloride in male rats. J Appl Toxicol 7:185-191. ‡Houba, R, D Heederik, G Doekes, PEM van Run.1996. Exposure sensitization relationship for alpha-amylase allergens in the baking industry. Am J Resp Crit Care Med 154(1):130-136. 42 Ambientação 3:Reflexão – Lei de Haber: questionamento cientifico sobre o TWA Todo o processo pode descrito por um conjunto de equações que são resolvidas matematicamente. Muitas vezes não há informações disponíveis sobre os parâmetros de farmacocinéticos em seres humanos e têm que utilizar parâmetros obtidos a partir de experimentos com animais. Existem vários exemplos de modelos farmacocinéticos para estimar a exposição às doses. Embora, em termos gerais, as doses estimadas não tenham sido validadas dada aplicação limitada dos estudos epidemiológicos, espera-se que a nova geração de dose índices de exposição consiga evoluir na busca da ideal exposição-resposta.* Um problema que ainda não foi abordada em modelos farmacocinéticos é as grandes diferenças que existem em a cinética de agentes tóxicos em diferentes espécies e, consequentemente, os efeitos da variação parâmetros farmacocinéticos em pessoas diferentes são interesse (Droz, 1992). * Smith, TJ. 1985. Development and application of a model for estimating alveolar and interstitial dust levels. Ann Occup Hyg 29:495-516. Em 1952, Adams e seus colegas disseram que “não há base científica para usar o tempo médio ponderado para integrar exposições em risco variáveis”. O problema é que muitas relações são mais complexas do que a relação representa Lei de Haber. Há muitos exemplos de agentes cujos efeitos dependem mais da concentração que da duração da exposição. Por exemplo, estudos de laboratório têm fornecido evidência interessante que em ratos expostos ao tetracloreto de carbono, o padrão de exposição (contínuo versus intermitente, com ou sem picos) e a dose podem modificar o risco observado de que os ratos submetidos a alterações ocorridas na concentração de enzimas hepaticas (Bogers et al. 1987). Outro exemplo é que bioaerossóis, tal como a enzima α-amilase, uma massa de pão que pode causar doenças alérgicas trabalhadores na indústria de panificação. Não é conhecido se o risco de desenvolver a doença depende principalmente de picos de exposição, a exposição média ou nível cumulativo de exposição (Houba et al., 1996) 43 A despeito dessa polêmica científica, a lei de Haber foi utilizada principalmente para tirar conclusões sobre os meios adequados de medição do tempo de exposição e principlalmente para facilitar elaboração de requisitos legais. O Brasil expressamente adota o TLV®-TWA pela NR15, explicado no tópico Erro! Fonte de referência não encontrada.. Ambientação 4:Praticando quais normas brasileiras consideram o TWA Controle biológico e biomarcadores de exposição 1.5.1 O controle biológico produz uma estimativa da dose, por isso é considerado superior ao controle ambiental. No entanto, a variabilidade dos índices usados para o controle biológico é importante e continua sendo uma incógnita, até numa mesma pessoa. Para obter uma aceitável da dose em trabalhador exposto, são realizadas muitas e repetidas medidas, cujo esforço de medição pode ser maior que o próprio controle ambiental. Este fato é ilustrado por um interessante estudo sobre os trabalhadores da fábrica de barcos plásticos reforçados com fibra de vidro* A variabilidade da exposição a estireno foi avaliada medindo repetidamente conteúdo ambiental de estireno. Foi medido o teor de estireno no ar exalado por trabalhadores expostos e assim como o intercâmbio de cromátides-irmãs (biomarcador). Para medir o estireno no ar foram realizadas três (03) medições repetidas, a fim de calcular a exposição média de longo prazo com uma exatidão de dado. Para estireno medido no ar exalado * Rappaport, SM, E Symanski, JW Yager, LL Kupper.1995. The relationship between environmental monitoring and biological markers in exposure assessment. Environ Health Persp 103 Suppl. 3:49-53. Informe quais dispositivos legais brasileiros adotam o TLV-TWA 44 foram realizadas quatro (04) medições repetidas para cada trabalhador. Ao se determina intercâmbio de cromátides-irmãs foram realizados vinte (20) medições repetidas. Demonstrou-se que um estudo epidemiológico que usa o estireno ambiental como medida de exposição seria mais eficiente, em termos de número de medições necessárias, que controles biológicos com biomarcador.
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