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Melo capítulo III Dinamismo Cultural 1. Cultura: funcionamento e mudança As culturas estão sempre em movimento, até mesmo as que mais aparentam estabilidade e inércia permanecem constantemente movimentando-se. Dentro da cultura podemos enxergar populações que nascem, crescem e morrem, de forma que todos os membros apresentam em si os valores culturais. Assim, a cultura é um modo coletivo de provar a sobrevivência de todos e de cada um dos membros da população. Toda cultura poderá ser considerada entre dois extremos: estado de estabilidade e estado de mudança. Porém, por as culturas estarem em mudança permanente, é difícil estabelecer com precisão o que seria uma cultura estável e uma cultura em mudança. Um dos caminhos a se tomar para estabelecer essa separação seria entender a cultura em mudança (ou mudança cultural) como um estágio onde o ritmo de mudança contínua está mais acelerado. Dessa forma, cultura trata-se de um padrão coletivo de comportamento sempre atualizado, cujas raízes perdem-se no tempo e espaço. Na tentativa de tornar essa discussão mais palpável, alguns autores passam a incluir termos como “estrutura social”, “sistema social” e “organização”, porém na complexidade das naturezas sociais e culturais, alguns destes autores acabam tomando a realidade social pela cultural e vice-versa. Por isso, apesar da dificuldade, é importante reconhecer e buscar uma distinção mais nítida entre sociedade e cultura. 2. Processo Cultural: Aspectos Sincrônicos 2.1. Aspectos gerais Os teóricos em sua maioria concluíram que a explicação para a estabilidade sócio-cultural das populações são dirigidas por uma normativa garantidas pelas sanções sociais A falta de esclarecimento de autores sobre a diferença de Cultura de Sociedade, sendo normas(costumes morais, leis) vale lembrar que as normas são impostas pelos membros da sociedade. se considera-se as distinções feitas por Fichter e as considerações da teoria durkheimiana do controle social resulta que a função da cultura é por excelência o controle social, essa conclusão é devido ao estudo empregado pelo autor francês, no qual se utilizou um estudo sincrônico, logo não se poderia ter desfechos diacrônicos. Podemos perceber o caráter institucional, padronizado, repetitivo e relativo da cultura, visto isso nos costumes e lei, em que temos modos conceituados de agir e de dizer as coisas. 2.2. Processo de endoculturação ( Enculturação) O processo de endoculturação usado pela primeira vez por Herskovits como recurso de condicionamento aos padrões culturais de uma determinada sociedade de forma conciente ou inconciente, em que o indivíduo ajusta seu comportamento (moldado), de acordo com os modelos propostos se adaptando a vida social, como também das satisfações. Todos esses processos começam, logo depois do nascimento da criança a partir de vários processos culturais que seguem até sua morte, como proposto por Titiev graficamente, logo após o nascimento o comportamento é cem por cento biológico, mas logo se começa a assimilar comportamentos padronizados propostos culturais adquirindo hábitos, costumes se capacitando até atingir o estado de cem por cento cultura ao estado da maturidade, descrito por Titiev na anulação da conduta biológica quando se atingir o ponto hipotético da maturidade, ou seja, o indivíduo se ajusta inteiramente ao convívio social, entretanto essas condutas biológicas não podem ser totalmente anulada do comportamento humano. Mesmo o processo da endoculturação seguindo por toda a vida apresenta estágios e intensidades diferentes, na infância constituindo se de grande importância, no qual a criança assemelha-se a uma esponja ao absorver a experiência cultural, apreende hábitos como comer, dormir, falar, pensar, os condicionamentos fundamentais. Muitos estudiosos acreditam que a criança nasce sem personalidade, com a endoculturação sua que ela é moldada, sendo esse processo imprescindível para que o ser se torne um membro ajustado ao meio social, nos primeiro anos esse processo sucede-se de em um caráter de imposição cultural, no qual a criança não tem opção a não ser aceita os valores correntes e se configura como os demais se comportam, quando já crescida, o que decide é determinada em razão da cultura interiorizada, na sua cultura subjetiva e quando adulta sua conduta pessoal não deixa de ser uma expressão da cultura. O homem uma vez endoculturado, jamais deixará de ser um agente de sua cultura, mesmo sendo agentes os indivíduos não determinam o ritmo da cultura, não sendo nenhum demérito essa condução. o que é a cultura senão experiências humanas transmitidas durantes os séculos e por meios dos homens e das coisas e dos artefatos? Sua força está na inter-relação do homem de hoje com toda a sua ascendência. 2.3. Notas sobre o Etnocentrismo Compreende-se Etnocentrismo a atitude dos grupos humanos de supervalorizar seus próprios valores, sendo essa atitude podendo ser associada com o decorrente processo de endoculturação, esse enaltecimento cultural pode alcançar o nível de menosprezar costumes e convenções de povos alienígenas, outras culturas. A valorização dos produtos estrangeiros em detrimento dos nacionais devido a uma construção histórica atribuída à excelência estabelecida pelo etnocentrismo, exemplo, como o uísque, só o escocês; vinhos bons são os portugueses, os franceses e italiano; champanhe boa é a francesa. Em vez do nativo, logo começa a aceitação inconscientemente de formas e padrões de comportamento. Os meios de comunicação modernos não possibilitam que os países se separem, quanto mais isolado maior a carga de etnocentrismo e de estabilidade cultural, as mudanças culturais são menores, provavelmente toda mudança resulta em um certo transtorno e reformulação global da cultura. O Nacionalismo é uma manifestação do etnocentrismo, sendo o interesse por expressões populares e regionais um sinal. Pode-se concluir que nenhum povo que não acredita em si e em suas potencialidades é capaz de grandes realizações. Grupo humano que não cultiva o etnocentrismo possivelmente não tem cultura própria. 3. Processo Cultural: Aspectos Diacrônicos. A cultura é incitada à transformação, algumas culturas quase que não conhecem a mudança cultural, tão lerdas são as alterações por que passam. Sendo notório quando os índios em contato com os brancos vêem sua cultura modificada e o resultado, em que muitas vezes, é a completa desorganização sócio- cultural , acarretando, em seguida, até o extermínio de suas tribos. O fato vem negar a ideia de progresso inevitável das culturas. O que ainda mostra que a cultura e o povo estão unidos, embora sejam distintos. Define-se a mudança Social como a transformação da estrutura social. Esta, por sua vez, vai englobar: a) uma forma histórica de produção; b) um sistema de estratificação social; e c) um conjunto de instituições e valores sociais, cujo escopo é sancionar e manter, como um todo, o sistema estreitamente interdependente formado por estas partes. Outra coisa que se pode dizer é que quanto mais complexa a sociedade, mais capacidade tem de absorver conflitos. Não sabemos se elas têm mais problemas porque têm mais capacidade de absorção dos mesmos, ou, pelo contrário, têm mais capacidade de absorver conflitos em virtude de uma convivência mais assídua com os mesmo. Quatro foram as principais contribuições de Karl Marx ao estudo da mudança: ● A permanência dos Conflitos em qualquer Sociedade (...). ● Os conflitos sociais, na medida em que são conflitos de interesses, opõem necessariamente dois grupos. ● · O conflito é o motor principal da história. Marx através de sua análise abriu caminho à investigação dos fatores estruturais da mudança social. Sendo possível distinguir as duas classes principais dos fatores de mudanças: as forças exógenas que intervêm no exterior do sistema social. As forças endógenas da mudança são engendradas pelo próprio funcionamento e na sua estrutura. Uma das características do sistema social é o fato de o seu funcionamento criar as forças que o transformam. Atençãoespecial deve merecer o ponto três: o conflito como motor principal da história que encontra sua origem nos interesses de classe, ponto um e que, por sua vez, lembra o conhecido determinismo econômico marxista. Marx e Engels acreditavam na primazia do fator econômico sobre os demais fatores que interferem na vida social. Assim, Marx e Engels, num esforço metodológico elogiável, procuram mostrar que a estrutura social comporta uma infraestrutura econômica da sociedade. A tese oposta a esta é a de Max Weber. Este procura mostrar como os valores culturais podem determinar um tipo de economia. Em resumo acha Weber que o que sustentou e deu origem ao capitalismo moderno, o espírito do capitalismo, foi a ética protestante. Sem entrar mais fundo no mérito de Marx, ou de Weber, ambas as teorias parecem plausíveis . Ambos os autores, e não só eles, procuraram descortinar fatores prioritários ou determinantes da mudança social. Por isso dividiram a realidade social humana em elementos econômicos e culturais, quando na prática, os fatores econômicos são sociais. Por outro lado, não se pode dizer que toda sociedade é cultural, pois as sociedades animais parecem que escapam a essa condição. E ao que tudo indica, a mudança requer uma explicação mais complexa pautada na causalidade internacional. Como ficou patenteado, o problema tem sido visto, mesmo por antropólogos, em termos de fatores econômicos e fatores culturais agindo sobre a sociedade ou a organização social. 3.1 – Invenção e Descoberta A endoculturação é o processo cultural responsável principalmente pela padronização do comportamento humano através da transmissão dos valores culturais. É a endoculturação que garante a continuidade da cultura. Como lembra muito bem Leslie Spier: “As invenções não consistem apenas em engenhos mecânicos, pois se pode falar legitimamente na invenção de uma ideia. Na verdade, a máquina em si é parte do mundo físico, assim como o aço ou a madeira: a essência da invenção está na ideia nova”. Se analisarmos bem, toda a cultura e todos os seus valores um dia foram inventados ou descobertos pelo homem. Preferimos falar de homem, termo genérico porque, na verdade, jamais conseguiríamos descobrir os inventores (ao menos os principais) da cultura. Foi salientado, desde já, que tanto o processo de endoculturação como o da invenção são processos universais da cultura, isto é, processo comum a qualquer cultura particular, seja moderna, seja primitiva. Pode acontecer que uma sociedade, simplesmente não esteja voltada para as mudanças, o que é uma característica cultural das sociedades. Isto não quer dizer, todavia, que possa existir uma sociedade onde não haja, por pequena que seja, uma propensão para a invenção. Seria o caso de uma sociedade que não se deparasse com novas situações. O fato defendido por Malinowski na teoria das necessidades, diz o autor que cada cultura, em primeiro lugar, se propõe atender às necessidades básicas do homem e, em segundo lugar, tal satisfação das necessidades básicas do homem implica em uma intensificação instrumental da anatomia humana. Isto implica no surgimento de necessidades derivadas que a cultura precisa satisfazer. 3.2 – Difusão Cultural A difusão da cultura é um fato inconteste, que trata-se de um processo universal da cultura que consiste na propagação de elementos de uma dada cultura para outras culturas. Nesse processo observam-se trocas ou permutas de elementos culturais. Para que isso ocorra, mister se faz que haja contatos entre os povos. O fenômeno da difusão cultural moderna parece concorrer para a descaracterização das diversas culturas. Não é exagero dizer que a difusão cultural representa uma força considerável de homogeneização das culturas. 3.3 – O fenômeno do paralelismo O fenômeno do paralelismo ou da invenção paralela diz respeito a dois ou mais inventos independentes, simultâneos ou não. A história está repleta desses fenômenos. Entende Murdock que, entre povos de mesma cultura ou de culturas relacionadas, às invenções paralelas são extraordinariamente comuns. A cultura proporciona os mesmos elementos constituintes a muitos povos, se uma pessoa não efetua a síntese, outras provavelmente o farão. Concluindo, ratificamos o que foi dito: muito mais importante do que os caminhos da difusão cultural é a consciência da existência desta difusão. E mais, ante a maravilha dos meios de comunicação, dificílimo se tornou o estudo da difusão cultural. 3.4 - Processo da aculturação J. W. Powell utilizou o termo “aculturação” para significar empréstimos culturais, e Franz Boas já utilizava a palavra “difusão” para os estudos sobre a disseminação da cultura. Após uma longa discussão acerca disso, conclui-se que a difusão é o estudo da transmissão cultural consumada, enquanto que a aculturação é o estudo da transmissão cultural em marcha. Daí se conclui que os dois termos significam a mesma coisa. A única diferença é que a difusão seria uma aculturação consumada. Deve-se ter em conta que não se deve confundir aculturação com endoculturação. Enquanto o último ocorre a nível do indivíduo, o outro dá-se a nível de grupo. Devemos levar em consideração que as culturas são unidades integradas e harmoniosas e que, ao absorver elementos culturais, não o fazem como um simples transplante. O fenômeno da absorção de tais elementos é muito mais um processo de assimilação e reformulação. Sabe-se que é muito mais fácil repetir uma experiência sem preocupação de imitação do que copiá-la deliberadamente. Convém notar que no processo de aculturação o contato entre as culturas é indispensável, mesmo que esse contato aconteça através de um só indivíduo, seja como receptor ou como transmissor. Os contatos são apenas parte do processo de aculturação. Pode acontecer o contato sem que se efetive a aculturação. O contato permite a tomada de conhecimento do elemento cultural. Mas há uma certa distância entre o conhecimento e a aceitação. Nos estudos de aculturação é de importância averiguar o tipo de contato entre as populações de cultura diversa. Importa também verificar a capacidade técnica das culturas em contato. 3.5 - Área cultura e idade-área Área cultural pode ser definida como um artifício para classificar culturas, ou dito com mais propriedade, conjuntos de características culturais com respeito a regiões geográficas. Quanto ao conceito de idade-área veio como uma conclusão natural do uso do conceito de área cultural e do conhecimento do fenômeno da difusão cultural. O conceito de idade-área consiste na aceitação do princípio seguinte: tomando-se como ponto de referência o centro de cultura, pode-se distinguir os traços culturais mais antigos e os mais recentes da seguinte maneira: os traços culturais mais difundidos e mais comuns num espaço geográfico maior correspondem aos traços mais antigos. Isto porque, para que haja difusão, há uma demanda de tempo. Já os traços mais recentes seriam aqueles encontrados no centro de cultura, ocupando uma área bem menor em virtude de serem recentes e não terem tido tempo suficiente para se alastrar. Gilberto Freyre disse que há um equilíbrio ecológico-social. Um equilíbrio entre o homem e sua cultura e o ambiente dentro do qual ele se desenvolve e que, ao mesmo tempo, se modifica sob a ação do homem. 3.6 - Acidente histórico Sabe-se que a cultura apresenta, de modo geral, duas maneiras de variação ou mudança. De um lado, observa-se uma mudança lenta e ordenada, uma dinâmica contínua e sem afobação, cuja marca principal é o equilíbrio. Por outro lado, há também mudanças bruscas e violentas, verdadeiro estado de ebulição em que as estruturas da cultura são abaladas. Esse fenômeno pode ocorrer nos processos de aculturação, difusão ou invenção, de acordo com a intensidade desses fenômenos. Contudo, essa mudança brusca, essa revolução, às vezes ocorre sem um motivo ou razão muito clara ou previsível. Basicamente, essa mudança brusca, mesmo quando denominada de acidente histórico, decorre do processo cultural tomado como um todo. As diferençasnas mudanças culturais parecem ser principalmente de grau de intensidade. 4. Cultura e Ambiente Neste capítulo, pretende-se entender como o ambiente geográfico relaciona-se com a cultura nos seus mais variados aspectos. Os estudos a respeito do meio geográfico como fator de influência no comportamento humano não perderam e não podem perder o seu significado, pois à medida que o avanço urbano e industrial modifica a geografia, o homem passa a ser mudado pelas consequências desse avanço, o que fornece a esses estudos a relevância necessária para continuarem existindo enquanto um campo de pensamento social e científico. Apesar da forte influência que o ambiente exerce sobre a cultura, muitas das vezes, ao observar uma marcante diferença entre povos, essa é atribuída somente aos fatores culturais, minimizando, o papel das diferenças ambientais. Mello, acredita então que, não há um determinismo geográfico sobre a cultura como também não há um determinismo cultural sobre o ambiente, mas que há um meio termo entre esses fatores determinantes. Para o autor, não há evidências suficiente para adotar a tese de determinismo geográfico. Contudo, não se pode negar a grande influência que o ambiente exerce sobre a vida cultural dos povos. Para ele, o máximo que se pode dizer é que o ambiente limita ou favorece o desenvolvimento de sua cultura. Do mesmo modo, não há claras evidencias que justifiquem a afirmativa de que a cultura é quem determina o ambiente geográfico. No entanto, não há como contrariar o fato de que a cultura de certo modo, molda a forma de como aquele espaço geográfico é utilizado, de modo que culturas diferentes podem usufruir do mesmo ambiente de maneiras distintas entre si. Como exemplo disso, pode-se citar a exploração florestal dos portugueses ao chegarem ao Brasil, se comparado com os nativos que aqui já viviam e usavam de maneira sustentável esse recurso ambiental. Assim sendo, pode-se concluir que o significado do ambiente para os povos é dado pela própria cultura, sendo essa influenciada pelo ambiente geográfico. 5. Cultura e Personalidade Não há um consenso perfeito em torno da importância da cultura na formação da personalidade, este é um tema que correlaciona antropologia cultura e psicologia. Para Allport, a personalidade é constituída por três elementos: o físico, o temperamento e a inteligência, sendo esses a matéria-prima da personalidade. Corroborando para a não existência de uma opinião sólida sobre cultura e personalidade, está o fato de que há inúmeras definições sobre o que seria personalidade. Para essa análise, será utilizada as definições sugeridas por Allport. A 1º definição se baseia nos efeitos externos, ou seja, é tudo aquilo que está externo ao homem e que moldam o seu pensar, agir, e até caráter. A 2º definição se baseia nos efeitos internos do indivíduo, ou seja, trata-se dos processos e estados psicológicos que pertencem-se somente ao homem. São suas emoções, seus pensamentos, seu modo de ver e agir no mundo. A 3º definição tem o critério empirista extremado, afirmando que não existe a personalidade e sim, os efeitos extremos e em determinado momento. Outra definição que pode ser usada é a de Ralph Linton, ele diz: “Um conjunto de qualidades mentais do indivíduo, isto é, a soma total de suas faculdades racionais, percepções, ideias, hábitos, e reações emocionais condicionadas”. Convém lembrar que ao nascer, o homem já encontra toda a cultura pronta em suas mãos. Não é necessário criar um novo idioma, uma nova religião, uma nova economia e dessa maneira, a cultura vai moldando a personalidade com fatores externos e a própria personalidade ajusta-se a cultura por meio dos seus fatores internos, de modo que cultura e personalidade dinamizam-se entre si, para que haja uma harmonia entre o externo e o interno, entre o pensar e o agir.