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Estratégia MED INFECTOLOGIA Prof. Clarissa Cerqueira|Antibióticos 2 APRESENTAÇÃO PROF. CLARISSA CERQUEIRA Olá, futuro(a) Residente, tudo bem? Vamos iniciar agora um assunto frequente nas provas de Residência: antimicrobianos! Vamos discutir os tópicos mais importantes e mais recorrentes nos concursos. Quando você acabar de ler este livro digital, já estará muito bem preparado(a) para acertar todas as questões desse tema. Conte comigo para ajudá- lo durante todo o processo de aprendizagem. Estarei diariamente à sua disposição no nosso fórum para tirar suas dúvidas de estudo e o apoiando para conquistar sua aprovação. Meu nome é Clarissa, sou médica Infectologista e, ao contrário de muita gente, eu não tinha intenção de prestar vestibular para Medicina. Eu não me sentia capaz de enfrentar a concorrência. Escolhi prestar vestibular para Nutrição e fui surpreendida com a minha conquista do segundo lugar entre os aprovados. Ao iniciar meus estudos na faculdade de Nutrição, fui apresentada ao programa de Microbiologia e logo me encantei pelo assunto. Naquele momento, percebi que queria aprender mais sobre o tema. Após um ano e meio de curso, senti-me suficientemente confiante e motivada a prestar novamente vestibular mas, desta vez, para Medicina. Fui novamente surpreendida pelo resultado: aprovada na primeira tentativa (após ser aluna de Nutrição). Durante a faculdade, senti-me um pouco perdida entre as especialidades. Não tenho familiares médicos que pudessem me orientar na escolha da carreira. Entretanto, tive a sorte de ter Estratégia MED Prof. Clarissa Cerqueira|AntibióticosINFECTOLOGIA 3 @estrategiamed /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed @draclarissacerqueira um professor de Neurocirurgia que me apresentou aos campos da Cirurgia e das Ciências Neurológicas e o qual me incentivou a buscar os meus interesses e paixões. Após seis anos, o sonho realizou-se e o objetivo foi conquistado: formei-me médica. É chegado o momento de prestar prova de Residência Médica. Minha primeira escolha de especialidade, após a faculdade, entretanto, não foi Infectologia. Escolhi Cirurgia Geral. E como a Cirurgia Geral está relacionada à infectologia? Foi no meu primeiro dia como Residente da Cirurgia que reconheci o desejo e a paixão de longos tempos − ser infectologista −, germinado nas aulas de Microbiologia da faculdade de Nutrição. Abandonei a cirurgia e segui minha vocação. A minha história de especialista inicia-se com a Residência Médica em Infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Um período de muito aprendizado e de autoconhecimento, no qual tive a oportunidade de aprender com grandes especialistas de reconhecimento nacional e internacional. Durante a Residência, busquei expandir meu aprendizado com estágios em Portugal (Hospital Curry Cabral) e nos Estados Unidos (Cleveland Clinic). Minha formação continuou com um ano extra (R4) de complementação na Universidade de São Paulo (USP), em Infecção em Imunodeprimidos, e curso de pós-graduação do Hospital Albert Einstein, de Controle de Infecção Hospitalar. Reconheço que sou suspeita para falar, mas o universo da Infectologia é apaixonante. Atualmente, além de ser sua professora no Estratégia MED, trabalho em Salvador com atuação nas áreas de Infecção Hospitalar, interconsultas da especialidade e consultório. Lembre-se sempre de que temos um objetivo comum: sua aprovação no concurso de Residência Médica! Neste livro, vamos estudar os antimicrobianos dando ênfase aos tópicos mais importantes, os quais você não pode deixar de saber para as provas. Preste atenção! Sinalizarei quando houver algum tema frequente dos concursos para ajudar na sua memorização. Vamos estudar: • Classificação dos antibióticos e seus representantes; • Espectro de ação microbiana; • Farmacocinética e farmacodinâmica (PK/PD); • Mecanismos de ação dos antibióticos; • Indicações para uso clínico; • Eventos adversos; • Mecanismos de resistência bacteriana aos antibióticos; e • Uso racional dos antimicrobianos. https://www.instagram.com/estrategiamed/?hl=pt https://www.facebook.com/estrategiamed1/ https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed https://www.instagram.com/draclarissacerqueira/ Estratégia MED INFECTOLOGIA Prof. Clarissa Cerqueira|Antibióticos 4 Mas com que frequência esses tópicos caem nas provas? Vamos analisar esta tabela com a prevalência de cada assunto: Tópicos frequentes sobre antimicrobianos Percentual Mecanismos de resistência bacteriana aos antibióticos 23% Indicações para uso clínico 17% Eventos adversos 15% Espectro de ação dos antibióticos 13% Farmacocinética e farmacodinâmica (PK/PD) 12% Mecanismos de ação dos antibióticos 10% Classificação dos antibióticos e seus representantes 7% Uso racional dos antimicrobianos 3% TOTAL 100% Fiz um apanhado das questões de antibióticos dos últimos anos e pude perceber que esse tema é frequente nas provas de Residência. Ou seja, cai todo ano nas provas! Ao analisar todas as questões de infectologia que caem nas provas, esse assunto corresponde a aproximadamente 7% das questões. Pode não parecer muito, mas o que você aprender aqui irá ajudá-lo no estudo de diversas outras doenças. O entendimento de antibióticos é a base de um aprendizado que auxiliará você a responder questões diversas de temas que são frequentes. Ou seja, na verdade, esse percentual de questões é bem maior do que 7%. Você vai estar apto a aprender, a memorizar e a acertar questões que caem nas provas de outras áreas, como Pediatria, Cirurgia, Ginecologia, Obstetrícia e Preventiva. É importante saber as particularidades de cada antibiótico que caem na prova, por isso, ao final do livro, vou trazer uns resumos bem legais que irão ajudá-lo a organizar tudo na cabeça. Agora que já sabemos da importância desse assunto, vamos começar a estudar? Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 5 SUMÁRIO 1.0 CLASSIFICAÇÃO BACTERIANA 9 1.1 BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS 10 1.2 BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS 12 1.3 BACTÉRIAS ATÍPICAS 15 2.0 CLASSIFICAÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS 15 3.0 BETALACTÂMICOS 17 3.1 MECANISMO DE AÇÃO 19 3.2 PENICILINAS 21 3.2.1 FARMACOLOGIA 24 3.3 CEFALOSPORINAS 24 3.3.1 FARMACOLOGIA 30 3.4 CARBAPENÊMICOS 31 3.4.1 FARMACOLOGIA 33 3.5 MONOBACTÂMICOS 33 3.6 EFEITOS ADVERSOS DOS BETALACTÂMICOS 34 4.0 QUINOLONAS 34 4.1 MECANISMO DE AÇÃO 34 4.2 FARMACOLOGIA 36 4.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÃO CLÍNICA 36 4.4 EFEITOS ADVERSOS 39 5.0 MACROLÍDEOS 42 5.1 MECANISMO DE AÇÃO 42 5.2 FARMACOLOGIA 43 5.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 43 Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 6 5.4 EFEITOS ADVERSOS 44 6.0 TETRACICLINAS 44 6.1 MECANISMO DE AÇÃO 44 6.2 FARMACOLOGIA 45 6.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 46 6.4 EFEITOS ADVERSOS 46 7.0 LINCOSAMIDAS 47 7.1 MECANISMO DE AÇÃO 47 7.2 FARMACOLOGIA 47 7.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 47 7.4 EFEITOS ADVERSOS 49 8.0 GLICOPEPTÍDEOS 49 8.1 MECANISMO DE AÇÃO 49 8.2 FARMACOLOGIA 51 8.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 51 8.4 EFEITOS ADVERSOS 53 9.0 LIPOPEPTÍDEOS 54 9.1 MECANISMO DE AÇÃO 54 9.2 FARMACOLOGIA 54 9.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 54 9.4 EFEITOS ADVERSOS 56 10.0 OXAZOLIDINONAS 56 10.1 MECANISMO DE AÇÃO 56 10.2 FARMACOLOGIA 56 10.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 57 10.4 EFEITOS ADVERSOS 58 Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 7 11.0 AMINOGLICOSÍDEOS 58 11.1 MECANISMO DE AÇÃO 58 11.2 FARMACOLOGIA 58 11.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 59 11.4 EFEITOS ADVERSOS 60 12.0 POLIMIXINAS 61 12.1 MECANISMO DE AÇÃO 61 12.2 FARMACOLOGIA 61 12.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES 61 12.4 EFEITOS ADVERSOS 63 13.0 AGENTES USADOS PARA INFECÇÕES URINÁRIAS 63 13.1NITROFURANTOÍNA 64 13.2 FOSFOMICINA 65 14.0 OUTROS ANTIMICROBIANOS 65 14.1 METRONIDAZOL 65 14.2 SULFONAMIDAS 66 14.3 CLORANFENICOL 67 14.4 RIFAMPICINA 67 14.5 MUPIROCINA 69 14.6 BACITRACINA 69 14.7 ÁCIDO FUSÍDICO 69 15.0 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 70 15.1 ALTERAÇÃO DO SÍTIO DE LIGAÇÃO 70 15.2 INATIVAÇÃO ENZIMÁTICA 71 15.3 PERDA DE PORINAS 72 15.4 BOMBA DE EFLUXO 73 15.5 IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DAS BACTÉRIAS RESISTENTES 73 Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 8 16.0 RESUMOS 75 16.1 MAPA VISUAL DO ESPECTRO DE AÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS 75 16.2 MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS 76 16.4 ANTIBIÓTICOS QUE TÊM AÇÃO CONTRA PSEUDOMONAS 77 16.5 ANTIBIÓTICOS QUE TÊM AÇÃO CONTRA ENTEROCOCOS 77 17.0 PRINCÍPIOS DA TERAPIA ANTIMICROBIANA 78 17.1 ESCOLHENDO UM ANTIBIÓTICO 78 17.2 AJUSTANDO O ESQUEMA 79 17.3 PROGRAMANDO O TEMPO DE TRATAMENTO 79 17.4 MONITORAMENTO FARMACOCINÉTICO 79 18.0 LISTA DE QUESTÕES 81 19.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82 20.0 LISTA DE IMAGENS E TABELAS 83 21.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 84 Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 9 CAPÍTULO 1.0 CLASSIFICAÇÃO BACTERIANA Antes de começar a estudar os antibióticos, é fundamental o conhecimento da coloração de Gram, a qual diferencia as bactérias em Gram-positivas e Gram-negativas. A coloração de Gram é um método de caracterização e de classificação das bactérias. Ela permite que as bactérias sejam visualizadas no microscópio óptico. Por meio dela, podemos diferenciar os dois principais grupos de bactérias (Figura 1): Gram-positivo: são bactérias que têm uma parede celular espessa de peptidoglicano e, por conta disso, retêm o cristal violeta usado no método de coloração. Dessa forma, essas bactérias são visualizadas na cor roxa (P de positivo, P de purple – roxo em inglês). Gram-negativo: possuem a parede celular mais fina e não retêm o cristal violeta no processo de descoloração. Recebem a cor vermelha ao final do processo de coloração. Figura 1 – Os dois principais grupos de bactérias. Como expliquei acima, a diferença de coloração dessas bactérias deve-se às diferenças estruturais da parede celular (Figura 2). As bactérias Gram-positivas possuem uma camada espessa de peptidoglicano, enquanto a parede celular das bactérias Gram-negativas é mais fina. Além disso, elas possuem uma membrana externa. Olhe aqui como é a estrutura da parede celular de cada um desses grupos de bactérias: Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 10 Figura 2 – Parede celular de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. 1.1 BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS As bactérias Gram-positivas de maior importância para as provas de Residência são os estafilococos, estreptococos, enterococos, Listeria monocytogenes e Clostridium spp. Uma dica: perceba que a maioria delas apresenta “cocos” no seu nome. Isso ajuda, por exemplo, a diferenciar os enterococos do Enterobacter, que é um Gram-negativo. Os estafilococos são divididos de acordo com sua capacidade de produzir uma enzima chamada coagulase. Os Staphylococcus aureus são coagulase positivo e todos os outros estafilococos são coagulase negativos, por exemplo: S. hominis, S. capitis, S. epidermidis. Na microscopia, são visualizados como cocos agrupados em forma de cachos de uva. Os estreptococos são cocos Gram-positivos em cadeia, os quais são divididos de acordo com sua capacidade de hemólise (morte) das hemácias. Eles podem ser alfa-hemolíticos (hemólise parcial), beta-hemolíticos (hemólise total) e gama-hemolíticos (não Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 11 causam hemólise). Os beta-hemolíticos são separados em grupos (A, B, C ou D) de acordo com a presença de antígenos localizados na parede celular (classificação de Lancefield). Na tabela a seguir, apresentarei exemplos de bactérias de cada um desses grupos. Os enterococos são bactérias Gram-positivas que colonizam o trato intestinal. Duas espécies desse grupo são importantes para aprender: E. faecalis e E. faecium. Elas estão associados a infecções do trato urinário, à endocardite, a infecções intra-abdominais e à infecção de corrente sanguínea. O E. faecalis é a mais comum das espécies isoladas. Listeria monocytogenes é um bacilo Gram-positivo que está associado à meningite bacteriana em extremos de idade, como em idosos (> 60 anos) e em neonatos. Clostridium é um gênero de bactérias Gram-positivas anaeróbias que produzem esporos. Por isso, conseguem sobreviver no ambiente durante longos períodos. Podem causar infecções graves, como tétano, botulismo e gangrena gasosa. Clostridioides (antigo Clostridium) difficile é um outro anaeróbio Gram-positivo que causa a colite pseudomembranosa. Ele foi reclassificado como sendo de um outro gênero, não sendo mais um Clostridium. Vamos aprender mais sobre essas bactérias mais importantes? Preste bem atenção e memorize a próxima tabela. Vai ser fundamental para entender sobre o tratamento das infecções bacterianas. Só estão listadas as bactérias de importância para as provas de Residência. Bactérias Gram-positivas Staphylococcus spp. S. aureus (coagulase positivo) É bastante virulento (ou seja, tem alta capacidade de causar doenças graves), mas também pode ser comensal e coloniza até 30% da população. Estafilococos coagulase negativos São pouco virulentos. Em geral, são contaminantes de amostras de hemoculturas, já que colonizam a pele. Streptococcus spp. Alfa-hemolíticos S. viridans Faz parte da microbiota da cavidade oral e pode causar endocardite. S. pneumoniae É uma causa frequente de pneumonias e meningites. Beta-hemolíticos Grupo A: S. pyogenes Está associado à faringite bacteriana e a infecções de pele. Grupo B: S. agalactie Colonizam o trato genital feminino e podem causar doenças no recém-nascido. Grupo D: S. bovis Pode causar endocardite nos pacientes com neoplasia do trato intestinal. Enterococcus spp. E. faecalis São cocos em cadeia que colonizam o trato intestinal. Podem causar infecções do trato urinário, endocardite e infecções intra-abdominais.E. faecium Listeria monocytogenes São bacilos Gram-positivos que estão associados à meningite em pacientes idosos e em recém-nascidos. Clostridium spp. C. tetani Agente etiológico do tétano. C. botulinum Agente etiológico do botulismo. C. perfringens Causa a gangrena gasosa, uma infecção muscular grave. Clostridioides Clostridioides dif- ficile Causa a colite pseudomembranosa, infecção decorrente da produção de toxinas que está associada ao uso prévio de antibióticos. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 12 1.2 BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS As bactérias Gram-negativas de maior importância para as provas de Residência são as enterobactérias, Moraxella catarrhalis, Haemophilus influenzae, Nesseria spp., as não fermentadoras e Bacteroides fragilis, que é um anaeróbio. Chamamos de enterobactérias aquelas que são da família Enterobacteriaceae e que fazem parte da microbiota intestinal. São elas: Salmonella spp., Shiguella spp., Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e grupo CESPP, mnemônico que significa: Citrobacter spp., Enterobacter spp., Serratia marcescens, Proteus spp. e Providencia spp. Outro mnemônico é o MYSPACE, que compreende as bactérias do grupo CESPP em associação com Morganella, Yersinia e Aeromonas. As bactérias que fazem parte desse mnemônico possuem em seu cromossomo um gene que pode levar a uma resistência às penicilinas e cefalosporinas. Mais adiante vou explicar sobre isso. Moraxella catarrhalis é um diplococo Gram-negativo que pode colonizar a via aérea, principalmente de crianças, causando infecções como sinusites e otite média aguda.O H. influenzae é um bacilo Gram-negativo que frequentemente coloniza o trato respiratório do homem. São divididos em tipáveis (encapsulados), sendo o sorotipo B mais virulento, e em não tipáveis (sem cápsula). Com a introdução da vacinação contra H. influenzae do tipo B (Hib) no Programa Nacional de Imunização (PNI), sua prevalência está caindo e a frequência de infecções por sorotipos não tipáveis vem aumentando. Neisseria é um gênero de bactérias que se apresenta morfologicamente como diplococos Gram-negativos intracelulares. As espécies mais importantes são N. meningitidis (meningococo), que é uma causa frequente de meningite, e N. gonorrhoeae (gonococo), que causa a gonorreia. Diplococos Gram-negativos = gonococo (na uretrite/cervicite) ou meningococo (na meningite). CAI NA PROVA (ESPCE - CE 2016) Paciente, 20 anos, vida sexual ativa e em uso de contraceptivo hormonal, refere corrimento vaginal, amarelado associado à disúria. Ao exame especular, observa-se corrimento endocervical purulento, colo friável e hiperemiado, e o exame do muco cervical revelou a presença de diplococos gram negativos intracelulares. O agente etiológico provável é: A) Chlamydia trachomatis. B) Neisseria gonorrhoeae. C) Trichomonas vaginalis. D) Gardnerella vaginalis. COMENTÁRIO Aqui temos um caso de uma paciente jovem com cervicite aguda infecciosa. Essa patologia é frequentemente causada por Chlamydia trachomatis e/ou Neisseria gonorrhoeae. Desses dois agentes, o gonococo apresenta a morfologia de diplococos Gram-negativos e a clamídia Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 13 não se cora pelo Gram, já que não tem peptidoglicano na sua parede. Por conta dessa dificuldade em identificá-la, em geral, as cervicites são tratadas empiricamente para a clamídia e, caso seja identificado diplococos Gram-negativos na amostra de muco cervical, associamos o tratamento para gonococo. Incorreta a Alternativa A: a clamídia não é corada pela coloração de Gram. Portanto, devemos procurar a alternativa que apresente um agente que se encaixe na morfologia que o exame da paciente apresentou. Correta a Alternativa B uma das causas mais comuns de cervicite é o gonoco, uma bactéria intracelular que se apresenta na coloração de Gram como diplococo Gram-negativo. Viu só como é importante saber sobre a morfologia das bactérias? Incorreta a Alternativa C: tricomonas é uma causa mais infrequente de cervicite e apresenta uma morfologia diferente da encontrada no exame do muco cervical da paciente. É um protozoário flagelado e afeta principalmente o epitélio escamoso do trato urogenital. É uma das causas mais comuns de corrimento vaginal juntamente com a vaginose bacteriana e a candidíase vulvovaginal. Incorreta a Alternativa D: gardnerella é a bactéria mais frequentemente associada à vaginose bacteriana e não causa cervicite. Ela coloniza o trato genital feminino, é um anaeróbio pleomórfico e pode apresentar-se na coloração como Gram-positiva ou Gram-negativa. Os não fermentadores são um grupo de bactérias que não fermentam carboidratos, ou seja, são aeróbias. São encontradas no meio ambiente como no solo, na água e também no ambiente hospitalar. Exemplos das que podem causar doenças nos seres humanos são Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Stenotrophomonas spp. e Burkholderia spp. Elas são intrinsicamente resistentes a diversos antibióticos e podem adquirir novos mecanismos de resistências. Dentre as bactérias anaeróbias e Gram-negativas, Bacteroides fragilis é a mais importante. Encontra-se no intestino grosso como parte da flora intestinal e é uma causa frequente de infecções intra-abdominais. CAI NA PROVA (PUC – RS 2018) Adolescente, 16 anos, previamente hígido vem à emergência após evolução de 3 dias com dor abdominal de início localizada no hemiabdome direito, mas agora difusa. Também relata febre, calafrios, náuseas e vômitos. Seu exame físico mostra dor abdominal difusa, defesa e irritação peritonial. Apresenta 28.000 leucócitos/mm³ com 95% de neutrófilos. Radiograma simples de abdome mostra ar na cavidade abdominal e níveis hidroaéreos. Quais são os agentes etiológicos mais comumente envolvidos no caso? A) Anaeróbios e fungos B) Gram negativos e fungos C) Gram positivos e anaeróbios D) Gram negativos e anaeróbicos E) Gram positivos e gram negativos Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 14 COMENTÁRIO Com o que acabei de explicar, com o conhecimento da microbiologia, você vai conseguir responder questões como essa, as quais caem nas provas de cirurgia. Quando falamos de infecções intra-abdominais, temos que lembrar sempre de bactérias Gram-negativas e anaeróbios, uma vez que fazem parte da microbiota predominante no local. As bactérias Gram-negativas mais frequentes são Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae, enquanto a anaeróbia principal é Bacteroides fragilis. Correta a alternativa D Agora, vamos analisar com atenção esta tabela que resume tudo que expliquei anteriormente: Bactérias Gram-negativas Enterobactérias Salmonella spp. Podem causar gastroenterites. S. typhi é o agente etiológico da febre tifoide. Shigella spp. Pode causar disenteria. Escherichia coli Podem ser encontradas colonizando o trato gastrointestinal. Todas elas podem causar infecção urinária, mas E. coli é o agente etiológico mais comum. Estão associadas a diversas infecções hospitalares, como infecção de corrente sanguínea, pneumonia hospitalar e infecção urinária associada a dispositivo (sonda vesical). Klebsiella spp. Citrobacter Enterobacter Serratia Proteus Providencia Bactérias que podem colonizar o trato respiratório M. catarrhalis São agentes etiológicos de infecções de vias aéreas superiores e de pneumonia comunitária.H. influenzae Neisseria N. meningitidis Mais conhecida como meningococo. Causa mais frequente de meningite bacteriana. N. gonorrhoeae Conhecida como gonococo, é o agente etiológico da gonorreia. Não fermentadores Pseudomonas São bactérias encontradas no ambiente. Já possuem resistência intrínseca a diversos antibióticos. São oportunistas e infectam principalmente imunodeprimidos, pacientes com fibrose cística e queimados (Pseudomonas). Acinetobacter Burkholderia Stenotrophomonas Anaeróbios B. fragilis É o anaeróbio mais comum das infecções intra-abdominais, como a apendicite. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 15 1.3 BACTÉRIAS ATÍPICAS Essas bactérias são chamadas de atípicas porque são resistentes aos antibióticos betalactâmicos. Os micro-organismos que compõem esse grupo são: Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, Chlamydia psittaci e Legionella pneumophila. Fazem parte dos agentes bacterianos associados a pneumonia comunitária. As bactérias do gênero Chlamydia e Mycoplasma não possuem parede celular e, por esse motivo, são resistentes aos antibióticos que atuam na parede, como os betalactâmicos. A Legionella é uma bactéria Gram-negativa, mas, como ela fica “escondida” dentro dos macrófagos, os betalactâmicos não conseguem ter uma boa atuação. Agora que já sabemos a classificação das bactérias, vamos estudar os antibióticos. CAPÍTULO 2.0 CLASSIFICAÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS Para facilitar o aprendizado, coloquei aqui uma escala visual da coloração de Gram para classificar os antibióticos. Na extremidade esquerda, estão as classes de antibióticos usadas para tratamento de infecções por bactérias Gram-positivas. No centro, estão as classes que têm ação contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Na extremidade direita, estão os antibióticos usados para tratamento de infecções por bactérias Gram-negativas. Preste bem atenção, pois esse conhecimento é fundamental para entender o tratamento das infecções bacterianas. Glicopeptídeos Betalactâmicos AminoglicosídeosLipopeptídeos Fluoroquinolonas Polimixinas Lipoglicopeptídeos Tetraciclinas Urinários (nitrofurantoína Oxazolidinonas Macrolídeos e fosfomicina) Lincosaminas Sulfas Desses antibióticos, aqueles principais que têm atividade para bactérias atípicas são: • Fluoroquinolonas; • Tetraciclinas; e • Macrolídeos. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 16 CAI NA PROVA (Santa Casa da Misericórdia de Barra Mansa - RJ 2016) É recomendado para o tratamento da pneumonia por Mycoplasma: A) penicilina B) ceftriaxone C) azitromicina D) sulfametoxazol-trimetropim E) gentamicina COMENTÁRIO Conforme comentei acima, Mycoplasma é uma bactéria atípica e, para seu tratamento, podemos usar uma dessas três classes que agem inibindo a síntese proteica bacteriana: as quinolonas (como o levofloxacino) as tetraciclinas (como a doxiciclina) e os macrolídeos (como a azitromicina e a claritromicina). Agora fica fácil! Já sabemos que a resposta é a Alternativa C, a azitromcina. Incorreta a Alternativa A: penicilina é ineficaz conta Mycoplasma spp., uma vez que age na síntese da parede celular. Incorreta a Alternativa B: ceftriaxona é um betalactâmico e também age na parede celular, logo, é ineficaz contra o Mycoplasma. Correta a Alternativa C azitromicina, um antimicrobiano macrolídeo, age inibindo a síntese proteica bacteriana ao ligar-se à subunidade 50S dos ribossomos, além de apresentar excelente ação contra Mycoplasma spp. Incorreta a Alternativa D: sulfametoxazol-trimetoprim é uma associação de antimicrobianos que agem na via de produção do folato e é ineficaz contra Mycoplasma spp. Incorreta a Alternativa E: aminoglicosídeos, como a gentamicina, agem inibindo a síntese proteica bacteriana ao ligarem-se à subunidade 30S dos ribossomos, mas não são antimicrobianos eficazes in vivo para tratamento de Mycoplasma spp. Além disso, não atingem níveis elevados em tecido pulmonar, o que contraindica seu uso em monoterapia para tratamento de pneumonia. Agora que já sabemos a classificação geral, vamos começar a aprofundar mais esse tema por meio do estudo de cada classe separadamente. Vamos começar com os antibióticos mais importantes da atualidade: os betalactâmicos. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 17 CAPÍTULO 3.0 BETALACTÂMICOS Os betalactâmicos são os antibióticos mais prescritos no mundo. São medicações seguras e já usadas há bastante tempo. Todos eles possuem em comum o anel betalactâmico, como podemos evidenciar na Figura 3. Eles são divididos em 4 subclasses (memorize): • Penicilinas; • Cefalosporinas; • Carbapenêmicos; e • Monobactâmicos. Figura 3 − Estrutura química dos betalactâmicos. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 18 CAI NA PROVA (Santa Casa da Misericórdia de Limeira - SP 2017) Quais classes de antibióticos pertencem aos betalactâmicos? A) Penicilinas, carbapenens e cefalosporinas. B) Cefalosporinas, glicopeptídeos e macrolídeos. C) Quinolonas, oxazolidinonas e ketolideos. D) Penicilina, bacitracina, cloranfenicol. COMENTÁRIO Colega, como acabei de explicar, as classes que pertencem aos betalactâmicos são as penicilinas, os carbapenêmicos e as cefalosporinas. Correta a alternativa A Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 19 3.1 MECANISMO DE AÇÃO Os betalactâmicos ligam-se às PBP’s (do inglês “penicillin biding protein”), que são enzimas responsáveis pela ligação cruzada das cadeias de peptídeo para formar o peptideoglicano, levando a uma inibição da síntese da parede celular (Figura 4). Figura 4 − Mecanismo de ação dos betalactâmicos. A PBP é formada pela subunidade GT e pela subunidade TP. Os betalactâmicos ligam-se à subunidade TP, logo, não há a formação das ligações cruzadas. São bactericidas e, para serem eficazes, devem manter uma concentração no local da infecção acima da concentração inibitória mínima (CIM – Figura 5), ou seja, são tempo-dependentes (Figura 6). Por conta disso, em geral, requerem uma posologia com várias doses diárias, com exceção do ertapenem e da ceftriaxona, que podem ser feitos uma vez ao dia. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 20 O que é concentração inibitória mínima (CIM)? É a concentração mínima de um antimicrobiano que é capaz de inibir o crescimento bacteriano visível. Vamos analisar a Figura 5: nela, temos tubos de ensaio com concentrações seriadas de antimicrobianos. Em cada tubo, é inoculada uma suspensão bacteriana padronizada e, após algumas horas, eles são inspecionados visualmente para evidenciar o crescimento bacteriano (turvação do meio). A concentração de 32 µg/mL é a menor em que não há crescimento, portanto, ela é a CIM do antibiótico testado. Figura 5 − CIM Figura 6 − Gráfico demonstrando as formas de ação de um antibiótico. Eles podem ser concentração-dependente, ou seja, precisam de um pico elevado de concentração para boa atuação; podem ser tempo-dependentes, o que quer dizer que eles precisam se manter acima da CIM por mais tempo possível; e concentração-tempo-dependentes, que são aqueles antibióticos que precisam tanto de uma concentração alta quanto de tempo acima da CIM. ASC: área sobre a curva. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 21 Vamos agora discutir o espectro de ação de cada uma das classes dos betalactâmicos: 3.2 PENICILINAS A penicilina foi descoberta por Alexander Fleming em 1928. Ela foi isolada e produzida comercialmente na forma de penicilina G na década de 1940, quando houve o início da era atual da antibioticoterapia. Podemos subdividir as penicilinas nas seguintes classes: penicilinas naturais, penicilinas antiestafilocócicas, aminopenicilinas, carboxipenicilinas, ureidopenicilinas e penicilinas com inibidores da betalactamase. Existe uma lógica para essa classificação e vou explicar a você. As penicilinas naturais foram as primeiras a surgir após a descoberta de Alexander Fleming. Elas tinham ação contra as bactérias Gram- positivas, como S. aureus, Streptococcus spp. e Enterococcus spp. Logo após sua comercialização, a partir da década de 1950, foi detectada a presença de uma enzima capaz de inativar a penicilina nos estafilococos. Ela é chamada de penicilinase, uma betalactamase. É codificada pelo gene blaZ e, atualmente, predomina nos estafilococos. A oxacilina é um antibiótico que atua na parede celular e não apresenta ação contra os enterococos. Mas e agora? Como tratar essas bactérias resistentes? Em 1960, surgiu no mercado uma nova classe de penicilinas para esse fim. São as penicilinas antiestafilocócicas ou penicilinas resistentes à penicilinase. A meticilina foi o primeiro antibiótico comercializado dessa classe, sendo posteriormente substituído pela oxacilina, flucloxacilina e dicloxacilina. Esses estafilococos, resistentes à penicilina e sensíveis às penicilinas antiestafilocócicas, receberam o nome de MSSA (do inglês methicillin-susceptible Staphylococcus aureus – S. aureus sensível à meticilina). Atualmente, no Brasil, só temos disponível para comercialização a oxacilina, que é a droga de escolha para tratar infecções por S. aureus. Os antibióticos dessa classe também são drogas ativas contra os estreptococos, mas não contra os enterococos. CAI NA PROVA (SUS SP - SP 2015) Antibióticos que atuam na parede celular e que caracteristicamente apresentam ação limitada ou nula contra enterococos incluem: A) ampicilina. B) oxacilina. C) linezolida. D) penicilina cristalina. E) vancomicina. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 22 COMENTÁRIO Acabamos de aprender que as penicilinas antiestafilocócicas, como a oxacilina, não têm ação contra os enterococos. Logo,a Alternativa B é a correta. Todos as outras alternativas podem ser opções no tratamento de infecções por enterococos. Correta a alternativa B Outra classe das penicilinas, as aminopenicilinas, surgiram no contexto de ampliação do espectro de ação das penicilinas naturais para bactérias Gram-negativas. Isso foi alcançado com a modificação da cadeia lateral das penicilinas. A amoxicilina e a ampicilina são as representantes. Elas têm o mesmo espectro de ação que as penicilinas naturais, mas apresentam cobertura adicional para bactérias Gram-negativas, como as enterobactérias. Algumas delas já desenvolveram resistência a esses antibióticos, portanto, devemos ficar atentos ao antibiograma quando estivermos diante de uma dessas enterobactérias. Posteriormente, para ampliar o espectro de ação contra bactérias Gram-negativas como a Pseudomonas, foram desenvolvidas novas classes: as carboxipenicilinas, como a ticarcilina, que não é comercializada no Brasil, e as ureidopenicilinas, como a piperacilina. Além da ação contra Pseudomonas, essas duas classes têm espectro de ação semelhante ao das aminopenicilinas. As bactérias são seres vivos que se adaptam ao meio e, com isso, desenvolveram alguns mecanismos de resistência, principalmente as Gram-negativas. Um deles foi a produção de uma enzima que consegue inativar todas essas classes prévias de antibiótico, a qual consiste em uma betalactamase. A forma de combater essa resistência foi com a criação de inibidores dessa enzima que são administrados juntamente com o antibiótico. Exemplo dos betalactâmicos com inibidores da betalactamase (IBL): amoxicilina + clavulanato, ampicilina + sulbactam e piperacilina + tazobactam. O espectro de ação desses antibióticos é ampliado para tratar algumas infecções por Gram-negativos produtores de betalactamase e por estafilococos que produzem penicilinase. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 23 Agora que você já aprendeu sobre as penicilinas, analise esta tabela com atenção: Classificação e representantes Espectro antimicrobiano Comentários e indicações Penicilinas naturais • Penicilina G (cristalina) • Penicilina G benzatina • Penicilina G procaína • Penicilina V oral Gram-positivos Estreptococos, Enterococcus faecalis, Listeria monocytogenes Gram-negativos Neisseria meningitidis (era sensível, mas atualmente pode ser resistente pela produção de betalactamase) Anaeróbios Vários, exceto Bacteroides fragilis Outros Treponema pallidum • São as drogas de escolha para tratamento de infecções por Enterococcus faecalis, Streptococcus viridans e Streptococcus pneumoniae (pneumococo) • Atualmente, não têm ação contra os estafilococos • São indicadas principalmente para tratamento de sífilis e de infecções de pele e partes moles Penicilinas resistentes às penicilinases • Oxacilina Gram-positivos Estafilococos (MSSA) e estreptococos Gram-negativo Não Anaeróbios Não • Esta classe surgiu para tratar S. aureus produtores de penicilinase (MSSA) • Não apresenta ação contra enterococos • A oxacilina é usada nos casos suspeitos ou nos confirmados de infecção pelo MSSA, como infecções de pele e partes moles, infecções de corrente sanguínea, pneumonias, endocardite e meningites Aminopenicilinas • Amoxicilina • Ampicilina Gram-positivos Estreptococos, Enterococcus faecalis, Listeria monocytogenes Gram-negativos Enterobactérias não produtoras de betalactamases, Haemophilus influenzae, H. pylori Anaeróbios Vários, exceto B. fragilis • Ampliado o espectro de ação para bactérias Gram-negativas, como as enterobactérias: E. coli, Proteus spp., Salmonella, Shigella, Haemophilus influenzae, Moraxella • Não apresenta ação contra S. aureus, que produz penicilinase (MSSA) • Como elas têm ação contra bactérias Gram-negativas que podem causar infecções de vias aéreas, são usadas nos casos de sinusites e pneumonias. São opções para tratamento de infecção urinária por enterococos Ureidopenicilinas • Piperacilina Gram-positivos Estreptococos, Enterococcus faecalis Gram-negativos Enterobactérias e Pseudomonas Anaeróbios Não confiável • Ampliado espectro de ação para pseudomonas • Não tem ação contra S. aureus, que produz penicilinase (MSSA) Betalactâmicos + inibidores da betalactamase • Amoxicilina + clavulanato • Ampicilina + sulbactam • Piperacilina + tazobactam Gram-positivos Estreptococos, MSSA, Enterococcus faecalis Gram-negativos Enterobactérias produtoras de betalactamase Anaeróbios Boa atividade, incluindo B. fragilis • Tem ação contra S. aureus, que produz penicilinase (MSSA) • Somente a piperacilina com o tazobactam apresenta ação contra pseudomonas • São indicadas nos casos de infecções por Gram-negativos produtores de betalactamases, como infecções de vias aéreas superiores, infecções intra-abdominais e infecções de pele nas quais há anaeróbios, como no pé diabético Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 24 3.2.1 FARMACOLOGIA A maioria das penicilinas tem uma meia- vida curta e requer administração frequente a cada 4h ou 6h. Distribuem-se amplamente nos fluidos corporais, atingindo concentrações terapêuticas na pleura, no pericárdio, no peritônio, no líquido sinovial e na urina. Não penetram nas meninges, 3.3 CEFALOSPORINAS Outros betalactâmicos bastante prescritos nos dias atuais são as cefalosporinas. Elas ficam estáveis na presença de penicilinases, dessa forma, a depender do seu espectro de ação, podem ser utilizadas para tratamento de infecções pelo MSSA. Outra característica comum dessa classe é que elas não têm ação contra os enterococos nem anaeróbios. São divididas em gerações de acordo com seu espectro de ação: • As cefalosporinas de primeira geração exibem atividade principalmente contra as bactérias Gram-positivas. A depender do perfil de sensibilidade, podem ter ação contra algumas bactérias Gram-negativas, como E. coli, Proteus mirabilis e K. pneumoniae. Exemplos de antibióticos que pertencem a essa classe: cefazolina e cefalotina, que são drogas parenterais, e cefalexina e cefadroxila, que são drogas orais. • As cefalosporinas de segunda geração têm atividade reduzida contra os estafilococos, mas, em contrapartida, são mais ativas contra algumas bactérias Gram-negativas, como H. influenzae e M. catarrhalis. As representantes dessa classe são a cefuroxima e o cefaclor. Há um subgrupo das celafosporinas de segunda geração chamado de cefamicina. São as únicas cefalosporinas que têm ação contra anaeróbios, incluindo B. fragilis. Por isso, são boas opções para a profilaxia de cirurgias que envolvem o trato intestinal. Os representantes dessa subclasse são a cefoxitina e cefotetan. • As cefalosporinas de terceira geração são mais ativas contra as bactérias Gram-negativas, como as enterobactérias (E. coli, Klebsiella, Enterobacter, Proteus, Serratia e Citrobacter), Neisseria e H. influenzae. Têm menos atividade contra bactérias Gram-positivas do que as gerações anteriores. Exemplos de antibióticos dessa classe incluem ceftriaxona, cefotaxima, ceftazidima e ceftolozane. A ceftriaxona e a cefotaxima são ativas contra S. pneumoniae (pneumococo), enquanto a ceftazidima é ativa contra Pseudomonas. São as drogas de escolha para tratamento das meningites devido ao seu espectro de ação contra os principais agentes etiológicos. • A cefalosporina de quarta geração só tem um representante no Brasil: o cefepime. Ele é um antibiótico que apresenta ação contra Pseudomonas e enterobactérias, além de manter atividade contra as bactérias Gram-positivas, como os estreptococos e os estafilococos (MSSA). Ele tem o maior espectro de ação de toda a classe das cefalosporinas. • As cefalosporinas de quinta geração são conhecidas também como “ativas contra o MRSA (methicillin-resistant S. aureus)”. Mas oque é o MRSA? exceto quando elas estão inflamadas e quando são prescritas em doses elevadas. As penicilinas antiestafilocócicas (oxacilina) não são excretadas por via renal, portanto, não precisam de correção de dose em casos de insuficiência renal. As demais penicilinas precisam de ajuste conforme o clearance de creatinina. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 25 O que é MRSA? Lembra-se de que, quando estudamos as penicilinas naturais, eu expliquei que o S. aureus desenvolveu uma penicilinase e ficou resistente a elas? Por conta disso, houve o aparecimento de uma nova classe de penicilinas chamada de penicilinas antiestafilocócicas, sendo a oxacilina e a meticilina suas representantes. O problema começou em 1961, quando o S. aureus passou a apresentar a PBP2A, alterando seu sítio de ligação com os betalactâmicos (isso já caiu em prova). Com isso, toda a classe O MRSA é encontrado em pacientes com contato com os serviços de saúde. Existe um tipo do MRSA que é mais comum na comunidade, ou seja, é encontrado em pacientes que não tiveram exposição aos serviços de saúde. Ele é chamado de CA-MRSA (community-associated MRSA). Ele é mais virulento do que o MRSA e está associado a infecções graves de pele em pacientes jovens. Um dos motivos para isso é que o CA-MRSA produz uma exotoxina que leva à lesão tecidual e se chama de Panton-Valentine Leucocidina (PVL). Geralmente, são sensíveis a antibióticos que não são betalactâmicos e que podem tratar o S. aureus, como doxiciclina, sulfametoxazol-trimetoprim e clindamicina. A droga de escolha para seu tratamento também é a vancomicina. Caso o S. aureus seja sensível à vancomicina e à oxacilina (MSSA), a droga de escolha para tratamento deve ser a oxacilina, já que estudos mostram que a mortalidade é menor quando se usa esse antibiótico. dos betalactâmicos foi perdida como opção de terapia. E agora, o que podemos fazer? A solução é usar antibióticos que atuam em Gram-positivos e que sejam de outra classe diferente dos betalactâmicos. A principal droga e a mais estudada para esse fim é vancomicina, da classe dos glicopeptídeos. Outras opções são as classes de antibióticos que tratam bactérias Gram-positivas: os lipopeptídeos (daptomicina) e as oxazolidinonas (linezolida). Resumindo: • MSSA – produz penicilinase – tratamento com oxacilina; e • MRSA e CA-MRSA – alterou o sítio de ligação dos betalactâmicos – tratamento de escolha com vancomicina. Como não havia nenhum antibiótico betalactâmico que se ligasse ao sítio de ligação do MRSA, surgiu a ceftarolina e o ceftobiprole (este último não está disponível no Brasil), cefalosporinas de quinta geração que têm atividade contra essa bactéria. São os únicos betalactâmicos que têm essa ação. Além disso, a ceftarolina apresenta um espectro de ação semelhante às cefalosporinas de terceira geração. Por conta disso, para facilitar o aprendizado, podemos dizer que seu espectro de ação equivale a uma “ceftriaxona com ação para MRSA”. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 26 CAI NA PROVA (PUC Sorocaraba - SP 2019) Nas infecções causadas por Staphylococcus aureus meticilina/oxacilina resistentes, é considerada uma opção terapêutica eficaz o seguinte antimicrobiano da classe das cefalosporinas: A) Ceftarolina. B) Vancomicina. C) Cefepima. D) Daptomicina. COMENTÁRIO Para responder a essa questão, você precisa saber qual das opções são cefalosporinas e qual delas tem ação contra o MRSA. Agora que você já aprendeu, ficou fácil! Correta a alternativa A a ceftarolina é a única cefalosporina que apresenta atividade contra o MRSA. Incorreta a Alternativa B: a vancomicina é um antibiótico da classe dos glicopeptídeos. Incorreta a Alternativa C: a cefepima é uma cefalosporina que não apresenta ação contra o MRSA. Incorreta a Alternativa D: a daptomicina é um antibiótico da classe dos lipopopeptídeos. • Cefalosporinas com inibidores da betalactamase (IBL): em razão da resistência crescente de bactérias Gram-negativas aos betalactâmicos pela produção de betalactamases (como a carbapenemase, que vou explicar o que é mais adiante), novos antibióticos foram surgindo com a intenção de driblar esse mecanismo de resistência. Um exemplo é a adição do avibactam (um inibidor da carbapenemase) à ceftazidima (uma cefalosporina de terceira geração). Outro exemplo de cefalosporina com IBL é o ceftolozane, uma nova cefalosporina, com o tazobactam, um “velho conhecido” por estar associado também à piperacilina (ureidopenicilina). Ele tem ação contra as enterobactérias produtoras de ESBL e Pseudomonas multirresistentes, já que é menos afetado pelos seus mecanismos de resistência. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 27 Vamos agora comparar cada uma dessas gerações. Preste atenção nesta próxima tabela! Memorize as drogas de cada geração, pois elas são cobradas em prova: Classificação Espectro antimicrobiano Comentários e indicações Primeira geração • Drogas parenterais: cefazolina e cefalotina • Drogas orais: cefalexina e cefadroxila Gram-positivos MSSA, estreptococos Gram-negativos Algumas E. coli, Klebsiella pneumonie e Proteus mirabilis Anaeróbios Não • Pouca atividade contra Moraxella catarrhalis, H. influenzae e Listeria • São muito boas para tratamento de infecções causadas por bactérias Gram-positivas, como celulite e erisipela • Seu uso para infecção urinária é limitado e não é indicado empiricamente por conta da resistência crescente das enterobactérias • Principais indicações: tratamento de infecção de pele e partes moles Segunda geração • Droga parenteral: cefuroxima • Droga oral: axetilcefuroxima e cefaclor Gram-positivos MSSA, estreptococos Gram-negativos Igual à primeira geração, com Moraxella catarrhalis e H. influenzae. Anaeróbios Não • São um pouco menos ativas contra os estafilococos, porém são mais eficazes contra alguns Gram-negativos • São antibióticos muito bons para tratamento de infecções de vias aéreas superiores, já que tratam os principais agentes (pneumococo, M. catarrhalis e H. influenzae) Segunda geração (cefamicinas) • Drogas parenterais: cefoxitina e cefotetan Gram-positivos Igual à primeira geração, mas com atividade inferior aos estafilococos Gram-negativos Igual à primeira geração Anaeróbios Sim, incluindo B. fragilis • São as únicas cefalosporinas que têm atividade contra anaeróbios; porém, o aumento da resistência do B. fragilis pode limitar seu uso clínico • Atualmente, são utilizadas para profilaxia cirúrgica de cirurgias colorretais, já que têm ação contra B. fragilis Terceira geração • Drogas parenterais: ceftriaxo- na, cefotaxima, ceftazidima Gram-positivos Estreptococos e menor cobertura contra MSSA Gram-negativos Enterobacteriaceae, gonococo, meningococo, Moraxella catarrhalis e H. influenzae Anaeróbios Não • Ceftriaxona e cefotaxima: cobertura para pneumococo e para MSSA • Ceftazidima: cobertura para pseudomonas • São usadas para tratamento de pneumonias, infecção de corrente sanguínea, infecções intra-abdominais, infecções do trato urinário e meningites Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 28 Quarta geração • Droga parenteral: cefepime Gram-positivos MSSA, estreptococos Gram-negativos Igual à terceira geração, com adição de cobertura para pseudomonas Anaeróbios Não • O cefepime penetra melhor na membrana externa bacteriana e é mais resistente à ação de algumas betalactamases do que as celafosporinas de terceira geração • São usadas quando há necessidade de cobrir Pseudomonas e nas infecções hospitalares, como nas pneumonias, meningites e infecções do trato urinário e corrente sanguínea Quinta geração (Ativos contra MRSA) • Droga parenteral: ceftarolinaGram-positivos Adição de cobertura contra MRSA Gram-negativos Igual à ceftriaxona Anaeróbios Não • Único betalactâmico que tem afinidade à PBP2A do MRSA • Aprovada para pneumonia e infecção de pele e partes moles • Não são ativas contra enterobactérias produtoras de ESBL Cefalosporinas + inibidores da betalactamase • Drogas parenterais: ceftolozane + tazobactam e ceftazidima + avibactam Ceftolozane + tazobactam: atividade otimizada contra pseudomonas. Também com cobertura contra a maioria das bactérias Gram- negativas produtoras de ESBL Ceftazidima + avibactam: ativa contra enterobactérias produtoras de carbapenemase • Essas drogas estão indicadas nas infecções por bactérias produtoras de carbapenemase (ceftazima + avibactam) e Pseudomonas multirresistente (ceftolozane + tazobactam) Dica para diferenciar as cefalosporinas de 1ª, 2ª e 3ª geração 1a geração 2ª geração 3ª geração Começa com CEFA Começa com CEFO/CEFU Começa com CEFT Cefazolina Cefoxitina Ceftriaxona Cefalotina Cefotetan Ceftazidima Cefadroxila Cefuroxima Cefotaxima É exceção à regra. Cuidado para não confundir com segunda geração! Cefalexina Cefaclor É exceção à regra. Cuidado para não confundir com primeira geração! Cefalosporina de quarta geração: cefepime. Cefalosporina de quinta geração: ceftarolina. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 29 CAI NA PROVA (PUC Sorocaba - SP 2018) Das alternativas abaixo, assinale a que corresponde a uma cefalosporina de segunda geração: A) Cefalexina B) Ceftriaxona C) Cefuroxima D) Cefepime COMENTÁRIO Essa questão exige o conhecimento dos antibióticos de cada classe das cefalosporinas. Incorreta a Alternativa A: a cefalexina é uma cefalosporina de primeira geração. Incorreta a Alternativa B: a ceftriaxona é uma cefalosporina de terceira geração. Correta a Alternativa C a cefuroxima é uma cefalosporina de segunda geração. Incorreta a Alternativa D: o cefepime é de quarta geração. (UFF - RJ 2016) A cefalosporina de terceira geração de largo espectro e antipseudomonas é denominada: A) Cefazolina. B) Cefalotina. C) Cefepima. D) Cefoxitina. E) Cefuroxima. COMENTÁRIO Olha só outra questão que exige o conhecimento das classes das cefalosporinas. Incorreta a Alternativa A: a cefazolina e a cefalotina são cefalosporinas de primeira geração e não têm ação contra Pseudomonas. Incorreta a Alternativa B: a cefalotina também é uma cefalosporina de primeira geração e não apresenta ação contra Pseudomonas. Correta a Alternativa C o cefepime é a única opção dentre as alternativas que tem ação contra Pseudomonas, mas é de quarta geração e não de terceira. Por exclusão na hora da prova, essa alternativa deve ser a escolhida como correta. Mesmo assim, como ela está equivocada, caberia recurso nessa questão. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 30 Incorreta a Alternativa D: a cefoxitina é uma cefalosporina de segunda geração (cefamicina) e não tem ação contra Pseudomonas. Incorreta a Alternativa E: a cefuroxima é uma cefalosporina de segunda geração e também não tem ação contra Pseudomonas. 3.3.1 FARMACOLOGIA A maioria das cefalosporinas apresenta uma meia-vida curta e requer administração frequente a cada 4h ou 6h. A ceftriaxona é a que tem a meia-vida mais longa, podendo ser administrada uma vez por dia. Todas as cefalosporinas requerem ajustes para a função renal, exceto a ceftriaxona. As drogas de primeira geração e o cefaclor, que é de segunda geração, não penetram no sistema nervoso central. Já a cefuroxima, que é de segunda geração, e as de terceira geração, penetram em caso de inflamação meníngea e podem ser usadas para tratamento de meningites. Isso já foi cobrado em provas: CAI NA PROVA (Hospital de Olhos de Conquista - BA 2016) Para tratamento de infecções em sistema nervoso central, apresenta importância, o conhecimento de antimicrobianos que seriam capazes de atingir concentração após passagem pela barreira hematoencefálica. Qual dos abaixo, NÃO possui essa capacidade? A) Cefepime. B) Cefuroxima. C) Ceftazidime. D) Cefaclor. COMENTÁRIO Como acabamos de aprender, a cefalosporina que não penetra pela barreira hematoencefálica é o cefaclor. Correta a alternativa D Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 31 3.4 CARBAPENÊMICOS Os carbapenêmicos são betalactâmicos de amplo espectro. Eles são ativos contra bactérias Gram-positivas (exceto MRSA e Enterococcus faecium), Gram-negativas e anaeróbios, incluindo Bacteroides fragilis. São antibióticos que têm ação contra bactérias produtoras de ESBL e, com exceção do ertapenem, apresentam atividade contra Pseudomonas. O que é ESBL? ESBL = Extended Spectrum Beta-lactamases, isto é, são betalactamases de amplo espectro. E o que isso quer dizer? Quando aprendemos sobre as penicilinas e as cefalosporinas, comentei que algumas bactérias, principalmente as Gram-negativas, podem produzir enzimas que degradam os betalactâmicos. Alguns exemplos dessas enzimas são a AmpC e a ESBL. Essa última, a ESBL, inativa as penicilinas e as cefalosporinas e é encontrada em plasmídos, logo, consegue ser transmitida por bactérias de espécies diferentes. A AmpC, como vou falar mais adiante, é uma enzima que, ao contrário da ESBL, fica no cromossomo de algumas bactérias, mas que também degrada penicilinas e cefalosporinas. E como eu trato a infecção por bactérias que produzem ESBL? Com carbapenêmicos! Algumas vezes, elas podem ser sensíveis à combinação de penicilina + IBL (como piperacilina + tazobactam) ou cefalosporina + IBL. Mesmo com essa sensibilidade, as drogas de escolha continuam sendo os carbapenêmicos, visto que estão associados à menor mortalidade. Os carbapenêmicos constituem o tratamento de escolha para infecções por bactérias Gram- negativas produtoras de ESBL. CAI NA PROVA (PUC Sorocaba - SP 2019) A resistência bacteriana constitui enorme problema na atualidade. As betalactamases de espectro estendido (ESBL) respondem melhor ao tratamento com a seguinte classe de antimicrobianos: A) Glicilciclinas. B) Carbapenens. C) Cefalosporinas de quinta geração. D) Quinolonas de espectro ampliado. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 32 COMENTÁRIO Como acabamos de aprender sobre isso, já sei que você sabe responder: os carbapenêmicos. Incorreta a Alternativa A: as glicilciclinas, como a tigeciclina, são antibióticos que têm ação contra ESBL; entretanto, não são as drogas de escolha já que, em comparação com os carbapenêmicos, a mortalidade dos pacientes que fazem seu uso é maior. Correta a Alternativa B fica fácil responder depois de estudar e entender o assunto, não é? Os carbapenêmicos são os antibióticos de escolha para tratamento de infecções por bactérias produtoras de ESBL. Incorreta a Alternativa C: como representante da cefalosporina de quinta geração, vou citar a ceftarolina; ela não tem ação contra bactérias produtoras de ESBL. Ela é o único betalactâmico com ação contra o MRSA. Incorreta a Alternativa D: as quinolonas podem até ser ativas contra ESBL, mas não devem ser usadas, afinal, geralmente as bactérias que produzem ESBL também são resistentes às quinolonas e essa classe possui muito efeitos adversos, não sendo droga de escolha nesses casos. (UFS - SE 2020) Mulher, 39 anos, antecedente de infecção urinária de repetição e aneurisma de aorta abdominal, usuária crônica de antibióticos, chega à Urgência em choque séptico de foco urinário e disfunção renal. Traz uma urocultura de 04 meses atrás com E. Coli ESBL. Sabendo que o uso do antimicrobiano correto na primeira hora tem relevância no prognóstico e diante das informações descritas acima, a droga MAIS adequada para este caso é: A) Gentamicina. B) Ceftriaxona. C) Ertapenem. D) Ciprofloxacina.COMENTÁRIO Como acabei de ensinar a você, os carbapenêmicos constituem o tratamento de escolha para infecções por bactérias produtoras de ESBL. Ao analisar as opções, já percebemos que a Alternativa C apresenta o ertapenem, sendo a resposta correta. De qualquer forma, vamos ver as outras alternativas: Incorreta a Alternativa A: porque, embora o principal mecanismo de resistência aos aminoglicosídeos não seja inibição enzimática e embora a gentamicina não seja afetada pela produção de ESBL, não foi fornecido o teste de sensibilidade a essa droga, há mais eventos adversos relacionados do que com carbapenêmicos (por exemplo, nefrotoxicidade e ototoxicidade) e essa não é considerada a terapia de escolha para pacientes críticos. Incorreta a Alternativa B: porque as betalactamases de espectro estendido hidrolisam as cefalosporinas de 3ª geração. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 33 Correta a Alternativa C porque a primeira escolha para tratamento de infecções por bactérias produtoras de ESBL são os carbapenêmicos, como meropenem, imipenem e ertapenem. Lembre-se de que o espectro de ação do ertapenem é um pouco diferente dos demais carbapenêmicos. O ertapenem não apresenta atividade contra Pseudomonas, Acinetobacter e enterococos. Incorreta a Alternativa D: porque, embora o principal mecanismo de resistência às quinolonas não seja inibição enzimática e embora o ciprofloxacino não seja afetado pela produção de ESBL, não foi fornecido o teste de sensibilidade a essa droga, há mais eventos adversos relacionados do que com carbapenêmicos (por exemplo, ruptura de tendão, prolongamento do intervalo QTc, aneurisma de aorta, etc.) e essa não é considerada a terapia de escolha para pacientes críticos. Os carbapenêmicos disponíveis comercialmente são o meropenem, o ertapenem e o imipenem. Este último é administrado juntamente com a cilastatina, que inibe a di-hidropeptidase I, enzima que inativa o imipenem no túbulo renal proximal. Dessa forma, ele consegue ficar ativo por mais tempo. O ertapenem é o mais novo desses carbapenêmicos e, ao contrário dos outros, não apresenta ação contra Pseudomonas, Acinetobacter e enterococos. Sua grande vantagem é a meia-vida longa, permitindo posologia uma vez ao dia. Por conta disso, ele é bastante usado para desospitalização de pacientes que podem ficar em homecare. Como os carbapenêmicos tratam infecções por diversos agentes Gram-positivos, Gram-negativos produtores de betalactamase e anaeróbios, reservamos seu uso para o ambiente hospitalar, já que lá encontramos essas bactérias Gram-negativas resistentes. É bom lembrar que eles somente tratam infecções por Gram- positivos sensíveis aos betalactâmicos, por isso, não têm ação contra o MRSA. No caso de necessidade de tratar essa bactéria, temos que associar outro antibiótico que não seja um betalactâmico, como a vancomicina. Uma indicação cobrada em provas é o uso de carbapenêmicos para tratamento de pancreatite necrotizante, já que eles têm uma boa penetração no pâncreas. O imipenem é o mais utilizado. 3.4.1 FARMACOLOGIA Os carbapenêmicos são antibióticos de baixa absorção oral, portanto, só estão disponíveis na formulação intravenosa. Distribuem-se amplamente nos tecidos. Uma vez que possuem eliminação renal, precisam de correção de dose nos casos de disfunção renal. O aztreonam é o único representante da classe dos monobactâmicos. Ele tem ação contra bactérias Gram-negativas e Pseudomonas. Não apresenta atividade contra bactérias Gram- positivas e anaeróbias. Ele é indicado em pacientes alérgicos a penicilinas ou a cefalosporinas, já que não há relato de reação cruzada entre essas classes. O aztreonam é o único betalactâmico que não é inativado por betalactamases do tipo metalobetalactamases. Por essa razão, ele pode fazer parte do tratamento de bactérias que possuem esse mecanismo de resistência. 3.5 MONOBACTÂMICOS Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 34 As betalactamases podem ser divididas em quatro grupos de acordo com seu sítio ativo. O grupo B possui o zinco no sítio ativo e, por essa razão, as betalactamases desse grupo são chamadas de metalobetalactamases. Elas inativam as penicilinas, as cefalosporinas e os carbapenêmicos. Apenas o aztreonam não é afetado por essas enzimas. Mais adiante, no tópico de resistência bacteriana, iremos abordar mais profundamente sobre esse mecanismo de resistência. 3.6 EFEITOS ADVERSOS DOS BETALACTÂMICOS Os efeitos adversos dos betalactâmicos são as reações de hipersensibilidade (alergias), como rash cutâneo, sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos e diarreia, aumento de transaminases e encefalopatia. Também estão associados a quadros de nefrite intersticial. Convulsões podem acontecer, principalmente com o uso das cefalosporinas de quarta geração (cefepime) e imipenem. As penicilinas e as cefalosporinas não são teratogênicas e podem ser usadas na gestação. CAPÍTULO 4.0 QUINOLONAS O ácido nalidíxico foi primeira quinolona identificada como subproduto da síntese da cloroquina no ano de 1962. Em 1980, com a adição de flúor na estrutura química dessa classe, houve um aumento da potência e do espectro de ação. Com isso, surgiram as fluoroquinolonas, como norfloxacino, ciprofloxacino, levofloxacino e moxifloxacino. As quinolonas são antibióticos muito eficazes; entretanto, em decorrência do seu uso indiscriminado, a resistência antimicrobiana a essa classe vem aumentando. Além disso, elas têm riscos de efeitos adversos graves, o que limita seu uso. A recomendação atual é de que não devem ser utilizadas para tratamento inicial de infecções não complicadas, como rinossinusites, cistites e bronquites. Essa classe é cobrada com frequência nas provas de Residência, mas não se preocupe! Vou chamar sua atenção quando tiver algum tópico que você precise memorizar. 4.1 MECANISMO DE AÇÃO Agem inibindo a síntese do material genético bacteriano (DNA) com a subsequente morte celular. Mais especificamente, elas inibem as enzimas DNA girase e topoisomerase IV. É muito importante você saber disso! O conhecimento desse mecanismo de ação é bastante cobrado nas provas. São antibióticos concentração-dependentes, ou seja, precisam atingir um pico de concentração elevado para serem mais eficazes. Highlight Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 35 As fluoroquinolonas são antibióticos que têm ação contra bactérias atípicas. CAI NA PROVA (Santa Casa da Misericórdia de Maceió – AL 2017) Jovem de 23 anos de idade procurou o hospital com febre, tosse produtiva purulenta há dois dias. Seu exame físico demonstrava estertores do lado direito do tórax. Radiografia demonstrava importante broncopneumonia. Foi optado por antimicrobiano oral e reavaliação em 24 horas. O tratamento proposto foi com Quinolona Respiratória, que: A) Não atua bem contra patógenos sem parede celular. B) Não atua bem contra bactérias produtoras de betalactamase. C) Atua de maneira a destruir a parede celular bacteriana primordialmente. D) Atua por interação com DNA bacteriano. COMENTÁRIO Conforme acabei de comentar, as fluoroquinolonas são antibióticos que agem por interação com o DNA bacteriano; logo, a Alternativa D está correta. Incorreta a Alternativa A: pois quinolonas têm ação na síntese do DNA bacteriano (inibição de DNA topoisomerases). Atuam, dessa forma, em bactérias com ou sem parede celular. Incorreta a Alternativa B: pois betalactamases são enzimas que degradam antimicrobianos betalactâmicos, e não afetam diretamente quinolonas. Incorreta a Alternativa C: pois quinolonas têm ação na síntese do DNA bacteriano (inibição de DNA topoisomerases) e não na parede celular. Correta a Alternativa D pois quinolonas têm ação na síntese do DNA bacteriano por meio da inibição deDNA topoisomerases. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 36 4.2 FARMACOLOGIA São antibióticos com alta biodisponibilidade oral. Geralmente, a dose oral é equivalente à venosa. O ciprofloxacino oral tem uma biodisponibilidade de 70% a 80%; o levofloxacino > 95%; e o moxifloxacino de 86%. Distribuem-se amplamente nos tecidos e em alguns locais, como próstata, bile, pulmões, neutrófilos e macrófagos, além de se acumularem excedendo a concentração no soro. O pico de concentração ocorre de uma a três horas após a ingestão do comprimido. A alimentação não altera sua absorção, mas atrasa o pico de concentração. Com exceção da moxifloxacino, todas elas precisam de correção de dose para função renal. 4.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÃO CLÍNICA As fluoroquinolonas são antibióticos de amplo espectro de ação com uma atividade potente contra bactérias Gram-negativas. São opções de tratamento nos casos de pacientes alérgicos às penicilinas. Vamos discutir o espectro de ação de cada uma das drogas, mas, antes, preste atenção nessas características: • Não são eficazes in vivo contra os enterococos; • Algumas delas são ativas contra Pseudomonas, anaeróbios e micobactérias; • Podem ter ação contra S. aureus, mas geralmente não são usadas para tratamentos contra essa bactéria, pois a resistência pode surgir com a monoterapia; • Têm atividade contra bactérias atípicas; e • Podem ter ação contra as bactérias Gram-negativas produtoras de ESBL. Vamos agora analisar cada antibiótico e discutir seu espectro de ação: • Ácido nalidíxico É um antibiótico que não é mais usado na prática clínica pela resistência crescente, além de haver melhores opções de tratamento. • Norfloxacino Apresenta atividade contra bactérias Gram-negativas, como as enterobactérias, Haemophilus spp. e Moraxella catarrhalis. Não tem ação contra bactérias Gram-positivas e anaeróbios. A resistência crescente a esse antibiótico limita seu uso. Geralmente, é utilizada naqueles casos nos quais há documentação da sensibilidade da bactéria com o antibiograma. Pode ser usada para profilaxia de peritonite bacteriana espontânea e infecção urinária não complicada. • Ciprofloxacino Tem o mesmo espectro de ação que o norfloxacino. Entretanto, ao contrário dos antibióticos prévios, ele apresenta atividade contra Pseudomonas, sendo o mais eficaz de todas as fluoroquinolonas contra essa bactéria. Nesse caso, sua dose deve ser maior do que a habitual. Por exemplo, a dose frequente de prescrição é 500 mg via oral a cada 12 horas. Para tratamento de Pseudomonas, a dose deve ser de 500 mg via oral a cada 8 horas ou de 750 mg a cada 12 horas. Ele é indicado para tratamento de infecções urinárias complicadas e de prostatites. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 37 O ciprofloxacino apresenta ação contra o gonococo. Porém, em decorrência da resistência crescente e maior do que 50% no Brasil, ele não é mais indicado para tratamento da gonorreia desde 2017. • Levofloxacino Esse antibiótico é muito frequente nas provas. Preste bem atenção e memorize! Além de cobrir as bactérias Gram-negativas e Pseudomonas, como o ciprofloxacino, o levofloxacino apresenta ação contra o pneumococo. Por esse motivo, ele é uma opção para tratamento de pneumonia, uma vez que trata o pneumococo, M. catarrhalis, H. influenzae e as bactérias atípicas. Como ele também apresenta ação contra Pseudomonas, devemos indicá-lo principalmente nos casos em que há necessidade de cobrir esse agente, como nos pacientes com pneumonia e fibrose cística. Por conta da sua ação contra as micobactérias, como a tuberculose, não deve ser utilizado em pacientes com tosse crônica antes de haver investigação da doença ativa. Muitas vezes, eles ficam “subtratados” e acabam desenvolvendo tuberculose resistente. Memorize que o levofloxacino é: • Usado para tratamento de pneumonia adquirida na comunidade; • Já que ele cobre Pseudomonas, é usado para tratamento de pneumonia nos pacientes com fibrose cística; e • Não deve ser usado em monoterapia nos pacientes com tosse crônica por suspeita de tuberculose. • Moxifloxacino Esse antibiótico também apresenta ação contra as bactérias Gram-negativas e pneumococo, como levofloxacino. A diferença entre eles é que o moxifloxacino tem ação contra anaeróbios e não apresenta cobertura contra Pseudomonas. Ele é indicado para tratamento de pneumonia bacteriana e para infecções intra-abdominais (já que cobre anaeróbios). As fluoroquinolonas que têm ação contra Streptococcus pneumoniae (pneumococo), como levofloxacino e moxifloxacino, são chamadas de quinolonas respiratórias. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 38 • Delafloxacino Estou citando esses antibiótico por curiosidade em relação ao espectro de ação, já que não está disponível para comercialização no Brasil. Ele tem ação contra bactérias Gram-negativas, incluindo Pseudomonas, bactérias Gram-positivas, incluindo o MRSA, bactérias atípicas e anaeróbios. Vamos colocar tudo numa tabela para esquematizarmos melhor isso que aprendemos? Organismo Espectro de ação Ciprofloxacino Levofloxacino Moxifloxacino Delafloxacino Streptococcus pneumoniae (pneumococo) - Sim Sim Sim MRSA - - Sim Pseudomonas Sim (melhor ação dentre as fluoroquinolonas) Sim - Sim Anaeróbios - - Sim Sim Atípicos Sim Sim Sim Sim Indicações - Prostatites - Infecções do trato urinário complicadas com documentação de sensibilidade da bactéria isolada - Tratamento oral prolongado de infecções por Gram-negativos, como osteomielite - Pneumonia bacteriana - Pneumonia em pacientes com fibrose cística - Pneumonia bacteriana Ainda não está disponível no Brasil Aumentou o espectro para pneumococo Aumentou o espectro para anaeróbios e reduziu para Pseudomonas Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 39 CAI NA PROVA (Santa Casa da Misericórdia de Limeira – SP 2017) As fluoroquinolonas estão indicadas, EXCETO nas: A) Infecções estreptocócicas. B) Infecções urinárias. C) Infecções pulmonares graves. D) Prostatites. COMENTÁRIO Vamos analisar essa questão e discutir sobre as indicações das quinolonas? Note que o enunciado pede a exceção, ou seja, a alternativa INCORRETA. Incorreta a alternativa A as fluoroquinolonas não são indicadas para infecções por estreptococos. O ciprofloxacino, por exemplo, não tem boa atividade contra nenhuma bactéria Gram-positiva. Nesses casos de infecções estreptocócicas, a experiência clínica com essas drogas é limitada e outros antibióticos mais eficazes e com espectro de ação mais estreito estão disponíveis. Correta a alternativa B: esses antibióticos são drogas eficazes e indicadas para o tratamento de infecção do trato urinário, caso a bactéria isolada seja sensível. Correta a alternativa C: as fluoroquinolonas podem ser usadas com eficácia para tratamento de infecções pulmonares, principalmente levofloxacino e moxifloxacino, que possuem cobertura contra o pneumococo. Elas também são ativas contra os outros patógenos respiratórios mais comuns, como Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e bactérias atípicas. Correta a alternativa D: as fluoroquinolonas são as drogas de escolha para o tratamento de prostatites, já que atingem uma boa concentração na próstata e também são ativas contra os agentes mais comuns. 4.4 EFEITOS ADVERSOS Os pacientes que fazem uso desses antibióticos podem apresentar, principalmente, sintomas gastrointestinais (como náuseas, vômitos, diarreia) e quadros neurológicos (como insônia, alterações de humor e cefaleia). Estima-se que essas reações sejam três vezes mais comuns com o uso das quinolonas do que com outros antimicrobianos. O que você precisa memorizar é o seguinte: apesar de não ser o efeitocolateral mais frequente, pacientes que usam as quinolonas têm risco de apresentar ruptura de tendão de Aquiles, prolongamento do intervalo QT e aneurisma com dissecção de aorta. Na gestação, durante o aleitamento materno, elas devem ser evitadas devido ao risco de malformações ósseas e nas cartilagens. Em crianças e em adolescentes, essas medicações também devem ser evitadas pelo risco de toxicidade musculoesquelética, como tendinopatia, artralgia e lesão do disco epifisário. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 40 Para memorizar: • Podem causar ruptura do tendão de Aquiles; • Podem levar à aneurisma e à dissecção de aorta; e • São contraindicados na gestação, em crianças e em adolescentes. CAI NA PROVA (Hospital de Olhos de Conquista - BA 2017) Jovem primigesta, 23 anos de idade, procurou o hospital com quadro de estrangúria e febre. A obstetrícia pediu seu parecer clínico. Durante avaliação, você encontrou uma dor lombar e pélvica, e solicitou USG de vias urinárias, que foi normal, e um exame de urina, que demonstrou piúria. Qual das medicações abaixo listadas, apesar de adequada ao tratamento de pielonefrite, deve ser contraindicada por risco de lesão óssea fetal? A) Ceftriaxona. B) Ciprofloxacino. C) Cloranfenicol. D) Amicacina. COMENTÁRIO De todas as alternativas, a única que traz um antibiótico que apresenta risco de lesão óssea fetal é a Alternativa B. Incorreta a Alternativa A: pois ceftriaxona não é contraindicada para uso em gestantes. Correta a Alternativa B o uso de quinolonas por gestantes é associado à maior risco de malformação em ossos e em cartilagens. Incorreta a Alternativa C: embora o uso de cloranfenicol no terceiro trimestre esteja relacionado à síndrome do bebê cinzento (toxicidade que corre pela incapacidade de o recém-nascido conjugar e eliminar a droga), esse antimicrobiano não está relacionado à maior risco de malformação. Incorreta a Alternativa D: amicacina é contraindicada durante a gestação, devido ao risco de ototoxicidade fetal, e não por risco de lesão óssea. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 41 (Faculdade de Medicina do ABC – SP 2020) Recentemente, estudos epidemiológicos indicaram maior incidência de alterações vasculares em pacientes que fizeram uso de fluorquinolonas como antibiótico no tratamento de infecções. Qual alternativa abaixo contempla as principais alterações? A) Vasculite primária e oclusão arterial aguda. B) Ineficácia do tratamento e amputação do membro em tratamento. C) Isquemia mesentérica e abdome agudo perfurativo. D) Aneurisma e dissecção de aorta. COMENTÁRIO As principais alterações vasculares nos pacientes que usaram fluoroquinolonas são aneurisma e dissecção de aorta. Órgãos reguladores, como Food and Drug Administration (FDA) e European Medicines Agency (EMA), têm divulgado alertas nos últimos anos sobre os riscos em relação aos efeitos adversos dessa classe de antimicrobianos. Também é preocupante seu uso indiscriminado devido à significativa pressão seletiva exercida por estes antimicrobianos, resultando em seleção de micro-organismos multirresistentes. Sabendo disso, vamos ver as alternativas: Incorreta a Alternativa A: vasculite e oclusão arterial não são efeitos adversos típicos de fluoroquinolonas. Incorreta a Alternativa B: ineficácia do tratamento e amputação do membro em tratamento pode ocorrer com qualquer classe de antimicrobianos, sendo condições mais relacionadas a distúrbios vasculares do membro acometido ou à necessidade de desbridamento cirúrgico. Incorreta a Alternativa C: isquemia mesentérica e abdome agudo perfurativo não são efeitos adversos frequentemente relacionados ao uso de fluoroquinolonas. Correta a Alternativa D embora seja efeito adverso raro, há correlação entre o uso de fluoroquinolonas e aneurisma e dissecção de aorta, sendo possivelmente mais comum em pacientes com fatores de risco predisponentes. (Santa Casa da Misericórdia de Limeira – SP 2017) Paciente em tratamento para ITU após 2 semanas do uso do antibiótico desenvolveu uma ruptura do tendão de aquiles. Qual deve ser o antibiótico que a paciente utilizou? A) Macrolideo. B) Penicilina. C) Quinolona. D) Imidazolico. COMENTÁRIO Como acabamos de aprender, a ruptura do tendão de Aquiles é um evento adverso do uso de quinolonas. Correta a alternativa C Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 42 CAPÍTULO 5.0 MACROLÍDEOS A eritromicina foi o primeiro representante dessa classe. A azitromicina e a claritromicina foram substituindo a eritromicina por serem mais eficazes no tratamento de algumas infecções, por serem melhor absorvidas por via oral e por terem menos efeitos adversos. Esses são os motivos pelos quais a eritromicina está em desuso. 5.1 MECANISMO DE AÇÃO São antibióticos que atuam na síntese proteica. Ligam-se à subunidade 50S do ribossomo bacteriano, bloqueando a transpeptidação, a translocação e a saída do polipeptídeo em formação. Podem ser bactericidas ou bacteriostáticas dependendo da concentração da droga e da densidade do inóculo. Vamos lembrar como é feita a síntese proteica bacteriana? É importante para enterdermos o mecanismo de ação de diversos antibióticos. Esse processo é também chamado de tradução, uma vez que começa com uma molécula de RNA que vai ser “traduzida” em proteínas. Esse processo ocorre no ribossomo que, no caso das bactérias, possuem duas subunidades: a 30S e a 50S, que juntas formam o ribossomo 70S. É necessária a presença do RNAm e do RNAt. O processo inicia-se com a ligação do RNAm à subunidade 30S do ribossomo bacteriano. Em seguida, o RNAt liga-se ao à subunidade 50S, levando os aminoácidos referentes à fita de RNAm que está sendo traduzida. Os aminoácidos são ligados através da reação de transpeptidação. Nesta ilustração, você já consegue observar a síntese proteica e o local de ação dos macrolídeos: Figura 7 - Mecanismo de ação dos macrolídeos. Perceba que eles bloqueiam a formação do polipeptídeo ao ligarem-se à subunidade 50S do ribossomo. Estratégia MED INFECTOLOGIA Antibióticos Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Abril 2022 43 5.2 FARMACOLOGIA São antibióticos que têm boa absorção oral, meia-vida longa, boas concentração tecidual e penetração celular. Já a concentração sérica é baixa e não são usados para tratamento de infecções de corrente sanguínea. No pulmão, tanto a azitromicina quanto a claritromicina têm concentrações acima do plasma, fazendo com que sejam antibióticos muito bons para tratamento de infecções pulmonares. 5.3 ESPECTRO DE AÇÃO E INDICAÇÕES São antibióticos de amplo espectro de ação. Também estão indicados nos casos de pacientes alérgicos às penicilinas. Apresentam atividade contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e atípicas. Vamos analisar cada um desses espectros: • Gram-positivos: os macrolídeos são ativos contra os pneumococos e outros estreptococos, mas a resistência está crescente e devemos ter muito cuidado ao usar esses antibióticos em pacientes com infecções pneumocócicas, principalmente se estiverem graves. Esses antibióticos também podem ter ação contra S. aureus sensível à meticilina (MSSA), mas não são usados na prática clínica também pela resistência crescente. Além disso, estão disponíveis outras drogas que fazem um tratamento mais eficaz do MSSA, como a oxacilina e as cefalosporinas de primeira geração. Não têm ação contra os enterococos. • Gram-negativos: a azitromicina e a claritromicina têm atividade mais ampla contra os Gram-negativos do que a eritromicina. Exemplos de bactérias sensíveis são as enterobactérias, como Salmonella spp. e Shigella spp. Não têm boa ação contra as outras enterobactérias, como E. coli, K. pneumoniae e grupo CESPP. Outras bactérias sensíveis são o Campylobacter jejuni, Bordetella pertussis
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