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AULA 1 NEUROCIÊNCIA APLICADA A GESTÃO DE CONFLITOS, NEGOCIAÇÃO E MUDANÇAS Prof. Julio Cesar Luchmann 2 INTRODUÇÃO Nossa cultura é uma colcha de retalhos formada por muitas influências e ao longo de milhares de anos, mas nunca foi tão forte a influência da ciência do cérebro como agora, o que nos permite falar em uma neurocultura. Em relação a situações de conflito, é significativo saber que o conflito é natural para o ser humano, mas gerir esse conflito exige um esforço enorme para nos conscientizarmos, controlarmos nossa mente e nossas emoções, e é o que veremos nesta aula. TEMA 1 – HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO O primeiro tema desta aula é atribuído a um livro escrito em 1878 pelo pensador Friedrich Nietzsche e retrata um momento de reflexão sobre a construção do pensamento e os modismos de sua época. Nesta obra, o pensador chama a atenção para o fato de quanto o ser humano é capaz de olhar para fora de si e tão pouco para dentro, não apenas no sentido subjetivo do pensamento, mas biológico (Reale; Antiseri, 2009). Se olharmos para a história do pensamento, veremos que passamos por uma série de momentos, primeiro descobrimos que existimos, depois passamos a investigar a origem de tudo com os filósofos naturalistas, passamos a buscar a origem do próprio ser humano com as religiões, nos voltamos para a política com o iluminismo, para a psique com a psicologia, para os processos biofisiológicos com a medicina moderna e com a evolução alopática das indústrias farmacêuticas. Por último e não menos importante, a evolução nos equipamentos e métodos de análise do cérebro nos permitiu conhecer mais a fundo seu funcionamento e sua importância para tudo que fazemos (Mora, 2015). Cada um desses momentos gerou uma série de elementos culturais que condicionaram historicamente os rumos da sociedade, fazendo com que as pessoas adotassem sistemas políticos e econômicos condizentes com esses processos temporais. Vivemos hoje claramente um momento em que a neurociência invade todos os campos de atuação humana, temos neuroeducação, neuromarketing, neurovendas, neuromedicina, neuropsicologia, neuroadministração, apenas para citar algumas, mas que com certeza indicam um processo de neurocultura em curso (Mora, 2015). 3 Tal qual nos adverte Nietzsche em sua obra, é necessário separar sempre o que é modismo daquilo que é realmente importante, para que possamos fazer uso mais consciente e racional dos conhecimentos, e que isso nos seja mais proveitoso. Em relação à área de conflitos, a neurociência indica que algumas coisas são mais importantes do que outras, e alguns cuidados são mais eficientes do que outros na formação de uma neurocultura essencial para quem lida com conflitos. Supostamente somos seres inteligentes e formados de uma série de partes que compõe um corpo, mas o que faz você ser você? O que te dá a identidade típica que te possibilita ser você? Com o advento da neurociência ficou bastante claro que a unidade básica que determina um ser humano como humano é seu cérebro, sem ele não há personalidade (Mora, 2015). Suponha por um segundo que alguém perca uma parte de seu corpo, ou faça um transplante de órgãos, acaso seria ele uma nova pessoa? Não, porque continuaria pensando e compondo a si próprio como indivíduo baseando-se em suas memórias, de seu jeito de pensar e agir, mas, se algo acontecesse com seu cérebro, então deixaria de ser ele mesmo. Pois isto mostra a importância que o cérebro tem para a composição da individualidade (Gazzaniga, 2005), nada mais em nosso corpo nos torna diferentes na natureza, nosso coração não faz nada de muito diferente dos outros corações, nosso fígado idem. O cérebro, portanto, ocupa um lugar de destaque no corpo, e a neurociência, um lugar privilegiado em relação às demais ciências, pois trata deste que é o órgão que essencialmente nos torna humanos e nos diferencia de tudo mais na natureza, porém não nos faz ser melhores, pois continuamos sob a influência de todas as leis naturais a que todos estão sujeitos, comer, dormir, nos exercitarmos etc. (Ortega, 2008). Assim, nasce a neurocultura aplicada a conflitos, ou seja, o cuidado que precisamos ter em relação a nosso cérebro, quando lidamos ou nos envolvemos em situações de conflito (Mora, 2015), sejam questões relativas ao corpo em si, que mantém as condições necessárias à nutrição e funcionamento do cérebro, ou mentais que fazem desse importante órgão o condutor do corpo. Cuidados com nossa mente, consciência, emoções e estresse formam um importante grupo de conhecimentos na neurocultura voltada a compreensão e gerenciamento de conflitos (Mora, 2015). 4 Com isso, passamos a analisar, a partir de agora, quatro elementos essenciais à neurocultura aplicada ao conflito: 1 – O fenômeno da consciência; 2 – O controle mental, 3 – Saúde emocional no conflito, 4 – Redução do estresse. Esses elementos nos darão condições não apenas de compreender melhor o que é o conflito, mas de como lidar com ele. TEMA 2 – E O CÉREBRO CRIOU O HOMEM – POR UMA AÇÃO MAIS CONSCIENTE Se o cérebro é o órgão que nos torna humanos, é a consciência que nos permite exercer essa humanidade, sem consciência somos apenas mais um amontoado de células perambulando pelo mundo como outras tantas. Estar consciente exige um incrível movimento estrutural do cérebro capaz de fazer saber que existimos, onde estamos e para onde vamos. A consciência nos permite a criação de coisas estupendas como a pintura, a música e até sentimentos puramente humanos como o amor (Ortega, 2008). Sem a consciência, dor não se transformaria em sofrimento, uma amizade se reduziria a uma simples colaboração, o sexo seria um ato puramente reprodutivo e o conflito seria apenas um embate de forças para mostrar o mais forte (Damásio, 2011). Sabemos que o cérebro do jeito que se encontra hoje é consequência de um processo evolutivo. Sua evolução acontece de dentro para fora, sendo as partes externas as mais novas (Burnett, 2010). Nesse constructo, é importante saber que a estrutura que nos possibilita a existência da consciência é um emaranhado e complexo sistema cerebral que tem seu centro de comando no neocórtex, portanto o mais externo e mais novo das estruturas. Sabemos também que situações de conflito ativam as partes mais antigas de nosso cérebro, a que Paul McLean chamou de cérebro reptiliano, principalmente o tronco encefálico e cerebelo (Carvalho, 2015). Agora imagine uma sinfonia em que o neocórtex fosse o maestro e o restante do cérebro fosse os músicos, não seria um verdadeiro show? Mas não é assim que acontece, enquanto a parte mais primitiva do cérebro se preocupa apenas em manter-se vivo, o neocórtex explora o mundo, cria consciência e busca alternativas. Seria como um chefe controlador tentando dominar tudo, mas se mostrando, por isso, extremamente ineficiente, pois o cérebro reptiliano age como os funcionários mais antigos que fizeram sempre da mesma forma e não querem 5 mudar. Essa relação pode ser comparada a um computador digital tentando controlar um cérebro analógico (Burnett, 2010). E por que fazemos essa analogia? Porque mesmo tendo a consciência, não significa que fazemos uso dela o tempo todo e, como diz Damásio (2011), “consciência não é meramente estar acordado”, é necessário ter domínio e controle sobre ela. Situações de conflito que ativam o cérebro reptiliano o fazem numa velocidade absurdamente maior do que levamos para ter consciência e numa intensidade maior também, justificando, por exemplo, tomadas de decisão irracionais que jamais tomaríamos se estivéssemos conscientes. Deste modo, é importante que desenvolvamos mecanismos de contenção que permitam, senão o controle sobre a ação do cérebro reptiliano, pelo menos sobre as consequências geradas por ele. O exercício que propomos para gerarconsciência está baseado na pesquisa de um dos neurocientistas mais respeitados da atualidade, Antonio Damásio, e consiste basicamente em manter a mente ativa (acordada), mas também a consciência (estado subjetivo da mente). Para tal, pergunte-se sobre o que é objetivo e o que é subjetivo nas suas ações, questione a sua realidade para saber o que é criado pela sua mente e o que tem existência por si só. Desta maneira, se bater sua canela na quina de uma mesa, a dor é objetiva e assim será para todos que passarem pela mesma experiência, mas o sofrimento gerado por essa dor é significativamente diferente para as pessoas, e o sofrimento é, portanto, um processo puramente subjetivo. Esse exercício é deveras importante, porque sob efeito dos impulsos do cérebro reptiliano, não raras as vezes, perdemos o controle sobre nossa capacidade de conscientização e ficamos escravos dela (Cameron, Lebeau, 1993). Saber diferenciar o objetivo do subjetivo nos força a uma retomada da consciência sobre nós mesmos, o que nos permite um desdobramento muito mais assertivo durante um conflito, mas esta é uma habilidade que precisamos desenvolver em nós, pois não nos é natural que seja assim (Damásio, 2011). Tendo consciência sobre nós mesmos, o cérebro constrói o homem, e podemos agir em situações de conflito com muito mais segurança e assertividade. TEMA 3 – NEUROCULTURA DA MENTE A mente e o cérebro são coisas diferentes, mas trabalham juntas. A mente é uma espécie de instrumento da consciência, da mesma forma que o cérebro é 6 um instrumento da mente (Ballone; Ortolani; Neto, 2007). Por isso é importante saber o que é a mente, como é importante saber para que serve o mouse do computador. Na concepção ocidental, a mente é um processo analítico que ajusta a realidade às leis da lógica. A consciência vê o todo, integra as informações da mente, nessa perspectiva, é o que quebra, o que fragmenta, o que divide e analisa, mas não são contraditórios, são apenas contrários que se integram num todo. Ambos são necessários para que avancemos na compreensão do conflito e de como lidar com ele (Mora, 2015). O pensamento ocidental moderno é de base mental, por isso lógico e material, e tal pensamento despreza tudo que foge a esse encaixe, legando experiências como o belo, o espiritual ou até mesmo o êxtase à categoria do ilusório. Vivemos todos os dias sem parar para pensar e refletir, apenas seguimos o fluxo, e a imensa maioria das pessoas, quando inseridas num momento de conflito, fazem o mesmo. Se morre alguém, nos desesperamos, se estamos doentes, ficamos tristes, mas quase nunca pensamos: o que isso quer dizer? O que meu corpo está sinalizando? Dar nome a uma emoção é um ato da mente, saber o que ela significa é um ato de consciência (Mora, 2015). Meditar sobre o que está acontecendo, controlar o corpo por meio de exercícios e pôr a mente onde queremos nos dará uma vantagem competitiva enorme sobre outras pessoas num estado de conflito. A mente pode gerar apego ao objeto do conflito, o que nos faz sentir desejo por tal, e se o desejo for suficientemente forte, ele vai gerar apego, do qual apenas um forte distanciamento (ato da consciência) vai evitar que se tome uma decisão equivocada. “Apegado, não poderei ter acesso a meu mundo interior e, finalmente, virarei uma presa desse desejo, que acabará por estabelecer padrões recorrentes a me dominar” (Ballone; Ortolani; Neto, 2007). Os desejos são padrões que criam um mundo e nos mantém presos neles, como pertencer a um grupo político ou acreditar numa determinada linha de pensamento. Sempre se pergunte quais são os desejos que te movem e os desejos que movem as pessoas durante um conflito. A consciência é um ato de inteligência, pois nos faz perceber que o desejo de ser alguma coisa e ser realmente essa coisa são diferentes, porque o desejo nos faz apegar a padrões que nem sempre serão efetivamente os melhores caminhos. Refletir é algo que não aprendemos em nossa cultura, por isso o que 7 mais temos são pessoas apegadas a seus desejos e escravas de seus padrões, e isso fica evidente numa situação de conflito quando vemos as pessoas totalmente apegadas aos seus desejos (Ballone; Ortolani; Neto, 2012). Esse apego ao desejo se torna extremamente forte no conflito e, não raro, vemos pessoas, bem-intencionadas, escutarem dos outros que na verdade foram egoístas e satisfizeram apenas suas próprias vontades e não as reais necessidades do outro. A solução real do conflito só floresce com o desapego, com a ação da consciência sobre a mente. A libertação da consciência nos permite ter acesso a experiências e percepções que vão muito além do pensamento racional, uma evidente diferença entre pensamento ocidental e oriental (Ekman; Lama, 2008). A mente é um instrumento de grande poder, é o que nos permite efetivamente conhecer e dominar o conflito. O grande instrumento norteador de nossa mente são as intenções, que geram a força necessária a direcionar a mente para qualquer lugar e são elas que orientam nossa mente. Ser consciente é um movimento libertador e extremamente poderoso que permite que as pessoas observem efetivamente o que lhes acontece (Ballone; Ortolani; Neto, 2007). A mente funciona como o LED de uma TV que tem basicamente três luzes que se intercalam e, na somatória de todos os conjuntos comandados por uma placa mãe, formam uma imagem, que, na verdade, não é uma imagem, mas o cérebro completa as lacunas e forma o pensamento. Com as situações de conflito é a mesma coisa, precisamos sempre estar atentos ao que é ou não real de fato e quais são as imagens que o cérebro está criando. A sequência de imagens, sons, sensações e emoções forma o movimento da mente que chamamos de pensamento “A mente é uma entidade feita de pensamentos” (Leahy, 2011), sem pensamentos não há movimento na mente e sem movimento a mente não é nada. O conteúdo dos pensamentos pode ser automático, ou seja, é determinado pela mente, ou pode ser controlado quando é motivado pela consciência. Um processo de gestão de conflito exige uma observação constante da mente, dos desejos e pensamentos que ali passam e de um movimento de consciência que alimenta o sistema com boas influências. Encontrar e desmantelar as programações mentais que nos fazem mal é, na verdade, uma das melhores formas de melhorar nossa tomada de decisão num conflito. Quando ficamos com raiva de algo, apenas nossa mente está em ação e é possível que nossas programações anteriores nos comandem nesse momento, 8 por isso é tão importante, não apenas o exercício de consciência que me permitirá avaliar melhor a situação e manter o controle, mas o treino constante e contínuo para que, se por ventura estivermos sob a influência da mente, que esta não nos mate (Leahy, 2011). TEMA 4 – CONTROLE SUAS EMOÇÕES OU ELAS O CONTROLARÃO Emoções são mecanismos inatos que nos predispõe para uma ação, geralmente em defesa da vida ou em busca de uma oportunidade (Goleman, 1995) agindo por meio de reações biofisiológicas. As emoções se manifestam mobilizando o corpo, a mente e recursos cognitivos como a percepção, a atenção e a concentração para uma ação de aproximação ou de distanciamento. Neurocientificamente o locus da emoção é o sistema límbico e envolve estruturas como hipotálamo, amígdala, núcleos de base (gânglios), área pré- frontal, cerebelo e septo (Carvalho, 2015), alguns autores incluem aí também o giro do cíngulo e o giro para-hipocampal. De modo geral, a função do sistema é integrar as informações sensoriais com informações internas para produzir uma resposta emocional eficiente. Além de regular os processos emocionais, regula o SNA (Sistema Nervoso Autônomo), regula processos motivacionais essenciais à sobrevivência como fome, sede e sexo. Participa ainda da regulação da memória, aprendizagem, sistema endócrinoe imunológico (Carvalho, 2015). Sendo o principal elemento do sistema límbico, as emoções têm grande impacto sobre o corpo e a mente, por isso, aprender a lidar com elas é essencial num processo que envolva conflito. Em si não é possível conter o aparecimento da emoção, mas é perfeitamente possível controlar seus efeitos e consequências. Já vimos anteriormente o primeiro passo, válido também para as emoções que é a conscientização. Pratique constantemente a pergunta: como é o nome disto que sinto agora? Sem saber o que está se passando no palco da mente, seguramente as suas chances de controle sobre as consequências emocionais diminuem muito (Ekmann; Lama, 2008). Um detalhe importante nessa sugestão é fazer esse tipo de treinamento em momentos menos intensos que um conflito, pois nossa capacidade de uso da criatividade e gerenciamento de opções está muito diminuído durante um evento emocional gerado por um conflito. 9 Como o sistema límbico interfere significativamente no SNA, é possível fazer uso de algumas estratégias que percorrem o caminho contrário, ou seja, fazendo uso das ações do SNA, podemos controlar melhor o evento emocional (Leahy, 2011). O SNA é dividido em outros dois subsistemas, o Sistema Nervoso Simpático (SNS) e o Sistema Nervoso Parassimpático (SNP) que agem de maneira antagônicas, ou seja, fazendo uma ação contrária ao outro, um manda contrair e o outro manda descontrair (Krebs; Weinberg; Akesson, 2013). Quando funcionam equilibradamente, dizemos que agem em equilíbrio ou sintonia, quando há uma disfunção entre eles, dizemos que estão em distonia (disfunção vago simpáticas), gerando uma série de problemas como cólicas, palpitações, sudoreses etc. A maior parte das funções controladas pelo SNA, como o próprio nome sugere, são autônomas, ou seja, não temos ação sobre elas, porém, uma pequena parte não é totalmente autônoma, como o piscar dos olhos e a respiração, que enquanto não pensamos, acontecem automaticamente, mas quando queremos podemos agir sobre elas, pelo menos em parte, e é por isso que chamamos essas ações de semiconscientes. Sabendo que situações de conflito nos mobilizam corporalmente e, em muitas delas, sofremos desequilíbrio entre SNS e SNP que, por sua vez, dão origem às distonias, podemos fazer uso do pouco que temos de controle sobre o SNA para promover o reequilíbrio corporal e mental e, em boa parte das vezes, nem entrar neles se os praticarmos na eminência do conflito. Com isso, a técnica proposta para o controle límbico da emoção está baseada em três ações essenciais: 1 – Respiração; 2 – Controle ocular; 3 – Relaxamento da musculatura (Leahy, 2011). Para melhorar a capacidade de respiração, mantenha um fluxo constante e contínuo sem alterá-lo. Inspire devagar até encher completamente seu pulmão, sem pausa expire todo o ar até que o pulmão fique completamente vazio, agora, sim, fazendo uma pausa de 2 a 3 segundos antes de respirar novamente. Esse tipo de respiração é o que o autor Elias Knobel (2010) chama de respiração negativa e tem um efeito extremamente calmante nos SNA e na emoção, pois faz uso do SNP. Tente pensar em algo e não desviar os olhos, verá que é quase impossível fazer isso, pois o sistema visual recruta boa parte da energia do cérebro, tal qual 10 a memória e a criatividade, o que os torna temporariamente incompatíveis de funcionarem plenamente ao mesmo tempo (Krebs; Weinberg; Akesson, 2013). Fechar os olhos temporariamente enquanto respira profundamente mandará uma mensagem ao SNA de que está tudo tranquilo, e este irá gerar um movimento de sintonia (Knobel, 2010) o que permitirá uma tomada de decisão mais eficiente durante um conflito. Por último e não menos importante está o processo de relaxamento da musculatura esquelética que complementará o controle límbico. Uma forma de fazer o relaxamento muscular está descrita no livro Regulação emocional em psicoterapia, de Robert Leahy (2011), cujo relaxamento progressivo é feito depois de fechar os olhos, respirar profundamente e concentrar sua mente em relaxar cada parte do corpo individualmente, pernas, braços, tórax e músculos cranianos. Desta forma, termos um controle mais efetivo sobre nossas emoções e, podemos assim, controlar também nossa consciência e nossa mente para uma abordagem mais assertiva em caso de conflito. TEMA 5 – NEUROCULTURA E ESTRESSE Situações de conflito sempre geram estresse e é exatamente por isso que ele nos interessa sobremaneira para nosso estudo. Via de regra, o estresse é definido como uma reação do organismo a um agente estressor que inclui componentes cognitivos (Leahy, 2011), usando o eixo hipotálamo, hipófise e glândulas suprarrenais com liberação, principalmente, de cortisol. Durante um processo conflituoso, passamos por três fases do estresse: alarme, resistência e exaustão. Na fase de alarme, a reação mais comum é a de fugir, isso acontece como forma de evitar o conflito e, assim, evitar o gasto energético típico desses momentos. Em não existindo forma de fugir ao conflito, o organismo começa uma mobilização de energia e recursos alterando o comportamento das pessoas a fim de resolver o mais rápido possível o conflito. Nessa fase, as respostas orgânicas são fortes e adequadas, porém mais intensas que quando se está em repouso (Krebs; Weinberg; Akesson, 2013). Passado algum tempo, esse processo de sobrecarga começa a exaurir os recursos corporais e muitos sistemas, entre eles o próprio cérebro, começam a não funcionar bem, levando o sujeito à exaustão. Conflitos muito longos são 11 capazes de provocar mal funcionamento de sistemas importantes, como o sistema endócrino e o sistema imunológico (Ballone; Ortolani; Neto, 2007). Quando experimentamos o estresse, nosso sistema nervoso simpático é ativado e liberamos a noradrenalina, uma espécie de catecolamina que estimula a respiração mais rápido, acelera o ritmo cardíaco e mobiliza os músculos para que estes tenham mais capacidade de ação, o que nos permite lutar ou fugir com mais eficiência (Leahy, 2011). Desta forma, faz-se necessário o treinamento da mente para reconhecer situações complexas de conflito, para que nos preparemos e evitemos entrar nelas, como uma provocação por exemplo, isso evita um gasto energético e permite um enfrentamento ativo e sem efeitos colaterais. Durante um estado de estresse provocado por uma situação de conflito, é comum o sistema límbico, por meio do hipocampo, recrutar antigas memórias a título de comparação com o que se está passando. Esse movimento tem um sentido bem simples, comparar o que acontece com o que já aconteceu para melhorar nossa capacidade de defesa, mas é comum também que isso aumente significativamente o nível de tensão interna deixando a pessoa ainda mais ansiosa e aflita (Leahy, 2011). Uma forma de lidar com esse circuito durante um conflito é manter o pensamento sempre positivo, observando tudo que aquela situação tem de ganhos e não de perdas potenciais. Essa simples ação faz com que os níveis de cortisol e de adrenalina se mantenham controlados, melhorando, substancialmente, sua capacidade de tomada de decisão. Como se trata de um circuito que faz uso de memórias passadas, é conveniente que passemos boa parte do tempo fazendo o proposto anteriormente, ou seja, buscando tudo que há de bom naquilo que fazemos mesmo quando não estamos em conflito, pois, assim, teremos muito mais coisas boas para lembrar que coisas desagradáveis (Ekman; Lama, 2008). 12 REFERÊNCIAS ATLAS de anatomia humana. São Paulo: DCL, 2010. BALLONE, G. J.; ORTOLANI, I. V.; NETO, E. P. Da emoção à lesão: um guia de medicina psicosomática. Barueri: Manole, 2007. EKMAN, P.; LAMA, D. Consciência emocional. São Paulo: Prumo, 2008. GAZZANIGA, M. The ethical brain. Nova Iorque: Dana Press, 2005. KNOBEL, E. O coraçãoé emoção: a influência das emoções sobre o coração. São Paulo: Atheneu, 2010. KREBS, C.; WEINBERG, J.; AKESSON, E. J. Neurociências ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2013. LEAHY, R. Regulação emocional em psicoterapia. Porto Alegre: Artmed: 2011. MORA, F. Continuum: como funciona o cérebro?. Porto Alegre: ArtMed, 2015. ORTEGA, F. O corpo incerto: corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. _____. Neurociencias, neuro-cultura y auto-ayuda cerebral. Interface – Comunic., Saude, Educ., v. 13, n. 31, p. 247-60, out./dez. 2009. REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 2009.
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