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AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERAPIA COGNITIVO- 
COMPORTAMENTAL PARA 
DEPRESSÃO E TRANSTORNOS 
DO HUMOR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Bruna Carla Ribeiro 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A Terapia Cognitivo-Comportamental tem se destacado de forma singular 
no tratamento da depressão, quer esta se apresente de forma leve, moderada 
ou grave. É uma das abordagens mais pesquisadas; apresenta resultados 
significativos a longo prazo, um efeito protetor quanto a recorrências, e 
resultados substanciais, inclusive se comparada a outros tipos de intervenções 
psicológicas e ao tratamento farmacológico. Devido às evidências de sua 
poderosa eficácia, tem ganhado espaço entre os profissionais que trabalham 
com saúde mental. 
Esta aula tem como objetivo abordar e compreender a Terapia Cognitivo-
Comportamental na depressão, bem como o modelo cognitivo e a aplicação da 
terapia cognitiva nesse transtorno. 
TEMA 1 – TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL E DEPRESSÃO 
Um dos principais avanços no tratamento da depressão foi o surgimento 
da terapia cognitiva, que se ampliou exponencialmente desde a publicação, por 
Beck, de um detalhado manual de tratamento para depressão, em 1979 (Beck, 
1967a, 1967b, 1976; Beck et al.,1979). 
Aaron Beck, para explicar os processos psicológicos na depressão, tendo 
como base pesquisas sistemáticas e observações clínicas, desenvolveu o 
modelo cognitivo da depressão. Ele propôs que os sintomas depressivos 
poderiam ser explicados em termos cognitivos como interpretações 
tendenciosas de situações, atribuídas à ativação de representações negativas 
de si mesmo, do mundo pessoal e do futuro (Knapp, 2008). Com isso, Beck 
propus uma concepção desse transtorno, bem como um tratamento. 
Em termos de tratamento, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) 
abrange intervenções psicoterapêuticas que tem como objetivo: produzir 
mudanças nos pensamentos, nos sistemas de significados, além de uma 
transformação emocional e comportamental duradoura; e proporcionar 
autonomia ao cliente, alcançando assim o alívio ou a remissão total dos 
sintomas (Beck, 1993). 
Em termos de tratamento, empregando uma série de técnicas cognitivo-
comportamentais bem especificadas, busca-se reestruturar e corrigir 
pensamentos distorcidos, e de forma colaborativa auxiliar o paciente a encontrar 
 
 
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pensamentos mais funcionais, que possibilitem uma visão mais realista, mais 
adaptativa, e uma melhora, tanto no humor quanto do transtorno. 
TEMA 2 – MODELO COGNITIVO 
Um dos conceitos fundamentais que a terapia cognitivo-comportamental 
apresenta é que a forma com que os indivíduos interpretam e processam a 
realidade influenciará na forma como se sentem e se comportam. Nesse sentido, 
o que gera desconforto, dor ou tristeza não é a situação, ou o evento em si, mas 
sim o estilo de atribuir significado, de interpretar o evento. 
Importante ressaltar que existe uma interação recíproca de pensamentos, 
sentimentos, comportamentos e ambiente. É reconhecido que as emoções 
podem influenciar os processos cognitivos e que os comportamentos também 
podem influenciar a avaliação de uma situação pela modificação da própria 
situação, ou por evocar respostas de outras pessoas (Freeman et al, 1990). 
Knapp (2004, p.174) descreve como essa interação entre pensamentos, 
sentimentos e comportamentos, bem como as decorrentes interpretações, 
influenciam no humor depressivo: 
Na espiral depressogenica, o viés de interpretação negativa dos 
eventos gera um humor depressivo congruente com a distorção; este 
humor, por sua vez, aciona ainda mais percepções negativamente 
distorcidas, que geram mais humor deprimido; os pensamentos se 
tornam cada vez mais negativos, e o humor, cada vez mais depressivo. 
Segundo Barlow (2016), o modelo cognitivo parte da premissa de que a 
cognição, o comportamento e a bioquímica são todos componentes importantes 
dos transtornos depressivos, e não concorrentes. Assim, quando alteramos 
cognições depressivas, mudamos simultaneamente o humor característico, o 
comportamento e, como sugerem algumas evidências, a bioquímica da 
depressão. 
O modelo cognitivo postula três conceitos específicos para explicar o 
substrato psicológico da depressão: os esquemas (aqui incluiremos os três 
níveis de cognição: pensamentos automáticos, crenças subjacentes, crenças 
nucleares e os esquemas), a tríade cognitiva, e os erros cognitivos (distorções 
cognitivas). 
A Terapia Cognitiva identifica e trabalha com níveis de cognição: 
pensamentos automáticos, crenças subjacentes, crenças nucleares e esquemas. 
 
 
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2.1 Níveis de cognição 
A Terapia Cognitiva identifica e trabalha com níveis de cognição: 
pensamentos automáticos, crenças subjacentes, crenças nucleares e esquemas. 
2.1.1 Pensamentos automáticos 
Todos nós temos pensamentos que percorrem nossa mente muito 
rapidamente, de forma involuntária e automática. E por apresentarmos esse 
padrão de pensamentos de forma tão repetitiva e habitual, a grande maioria não 
é percebida conscientemente. Os pensamentos automáticos são geralmente 
vistos por nós como representações da realidade, e por conseguinte tendemos a 
acreditar neles sem questionar sua legitimidade e fundamentação. 
Estas cognições são mais fáceis de identificar, por estarem mais 
acessíveis à consciência; e uma das metas da terapia é ajudar o paciente a 
identificá-las e monitorá-las. Pois, de acordo com Beck, Freeman e Davis (2005), 
é tão possível perceber um pensamento, focar nele e avaliá-lo, como é possível 
identificar e refletir sobre uma sensação como a dor. 
2.1.2 Crenças subjacentes 
Entre os pensamentos automáticos (nível mais superficial de cognição) e 
as crenças centrais (nível mais profundo), existem as crenças intermediárias, 
também chamadas de subjacentes. 
As crenças intermediárias são regras, atitudes ou suposições. São 
afirmações do tipo "se... então", ou "deveria", que se apresentam de modo 
inflexível e imperativo (Leahy, 2006). Formam um conjunto de crenças, em geral 
coerentes, que oferecem apoio às crenças centrais com as quais apresentam 
relação (Kuyken; Padesky; Dudley, 2010). 
2.1.3 Crenças nucleares ou centrais 
As crenças centrais ou nucleares representam um nível mais profundo de 
cognição; são conceitos enraizados que carregamos acerca de nós mesmos, 
das pessoas e do mundo. São consideradas como verdades absolutas, e 
quando se apresentam por um viés negativo, distorcido e disfuncional, geram 
sofrimento e se tornam um fator crítico de vulnerabilidade para o 
 
 
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desenvolvimento da depressão. Metaforicamente, podemos dizer que a crença 
central funcionaria como uma espécie de lente para ver o mundo. Ou seja, a 
pessoa tende a focalizar informações que confirmam suas crenças, não levando 
em conta elementos contrários a elas. Por exemplo, uma pessoa deprimida pode 
ter a crença central de que não é capaz de realizar suas metas, procurando, 
assim, confirmar essa ideia através da seleção de informações que a levem ao 
fracasso. 
Esses conteúdos são construídos desde a infância, através de 
experiências e de um processo de aprendizado contínuo. Vale destacar que 
experiências rotineiras, e também aquelas com alto potencial traumático, ambas 
influenciam na formação das crenças centrais. Entre elas podemos citar 
desamparo, desamor e desvalor. 
2.1.4 Esquemas 
Conforme definido por Beck (1964), esquemas são 
estruturas cognitivas internas relativamente duradouras de 
armazenamento de características genéricas ou prototípicas de 
estímulos, idéias ou experiências que são utilizadas para organizar 
novas informações de maneira significativa, determinando como os 
fenômenos são percebidos e conceitualizados. 
Alguns esquemas se desenvolvem de uma maneira distorcida, mal 
adaptativas ou disfuncional. Irão apresentar percepção distorcida e tendenciosa, 
funcionando como mecanismos inconscientes, que afetamo comportamento, a 
cognição, a fisiologia e as emoções, e se tornam, com o passar do tempo, a 
própria definição da pessoa (Callegaro, 2011). Atuam como um mecanismo 
cognitivo que transforma os dados que chegam, fazendo com que fiquem em 
conformidade com ideias preconcebidas, definidas como crenças condicionais e 
crenças centrais, que refletem esquemas implícitos mais antigos (Beck; 
Freeman; Davis, 2005). Sendo assim, esquemas são estruturas cognitivas mais 
abrangentes e crenças centrais são conteúdos e cognições que compõem os 
esquemas. 
Os esquemas têm uma variedade de propriedades, como permeabilidade, 
flexibilidade, amplitude e densidade, além de um nível de carga emocional, que 
pode determinar as dificuldades ou facilidades encontradas no processo de 
tratamento (Knapp; Beck, 2008). 
 
 
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2.2 Tríade cognitiva 
A tríade cognitiva na depressão consiste na visão negativa de si mesmo, 
na visão negativa do mundo e na visão negativa do futuro. 
Os pacientes deprimidos se consideram inúteis, inadequados, não 
amáveis e deficientes. Eles veem o ambiente como algo sufocante, que 
apresenta obstáculos insuperáveis, e que resulta continuamente em fracasso e 
perda. Sua visão de futuro também é sem esperança. Seus esforços serão 
insuficientes para mudar o rumo insatisfatório de suas vidas (Barlow, 2016). 
Beck et al. (1979) observaram que o paciente deprimido elabora sua 
experiência de maneira negativa e antecipa resultados desfavoráveis para seus 
problemas. Essa forma de interpretação funciona como uma espécie de 
propulsor de comportamentos depressivos, que por sua vez ratificam, após nova 
interpretação, sentimentos pessoais de inadequação, baixa autoestima e 
desesperança. 
2.3 Distorções cognitivas 
As distorções cognitivas, compreendidas como erros sistemáticos na 
percepção e no processamento de informações, ocupam lugar central na 
depressão. As pessoas com depressão tendem a estruturar suas experiências 
de forma absolutista e inflexível, o que resulta em erros de interpretação quanto 
ao desempenho pessoal e ao julgamento das situações externas (Scher et al., 
2006). 
Mediante a investigação do conteúdo das cognições dos pacientes 
deprimidos, Beck et al. (1997) criaram uma tipologia das distorções cognitivas: 
 Inferência arbitrária: conclusões tiradas sem evidências reais. Por 
exemplo: uma pessoa é chamada pelo chefe e, ao receber o recado, o 
primeiro pensamento que lhe vem é: “Vou ser despedido, fiz alguma coisa 
errada”. 
 Abstração seletiva: fixação em um detalhe do contexto global, sem 
considerar outros fatores. Por exemplo: uma pessoa vai a uma festa e, ao 
chegar, passa por alguma situação constrangedora (derrubar um copo de 
vinho no vestido). No dia seguinte, perguntada sobre a festa, diz que foi 
péssima, não levando em conta que após o incidente divertiu-se muito. 
Essa pessoa fixou-se apenas no primeiro evento, como o “único” da noite. 
 
 
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 Supergeneralização: estabelecimento de regras e de conclusões gerais 
baseadas em um ou mais incidentes isolados e aplicação do conceito 
indiscriminadamente a situações relacionadas (ou não). Por exemplo: 
uma pessoa faz um jantar e percebe que colocou sal em excesso na 
carne; então, ela pensa: “Eu não sirvo mesmo pra nada, não faço nada 
direito”. 
 Maximização e minimização: dificuldade em avaliar o significado e a 
magnitude do evento. Por exemplo: uma professora é escolhida para ser 
paraninfa de uma formatura e pensa: “Eles devem ter me escolhido 
porque não me conhecem muito bem”. 
 Personalização: tendência para relacionar eventos externos à sua 
própria pessoa, mesmo que sem base para estabelecer tal relação. Por 
exemplo: um funcionário cumprimenta um colega de serviço, mas este 
não lhe diz nada e fica com a cabeça abaixada. Então, o primeiro 
pensamento que lhe vem à cabeça é: “Ele não deve gostar muito de 
mim”, embora não haja evidências suficientes para chegar a tal 
conclusão. 
 Classificação dicotômica: tendência a pensar em extremos. Por 
exemplo: “Eu sou um péssimo profissional, péssimo pai e péssimo 
marido”. 
TEMA 3 – O PROCESSO DA TERAPIA COGNITIVA 
As sessões terapêuticas devem ser estruturadas, e um plano de 
tratamento estabelecido inicialmente. Mas vale destacar que essa estrutura não 
é inflexível, podendo ser modificada de acordo com as necessidades do 
paciente, adaptando as técnicas e as intervenções terapêuticas, visando sempre 
os objetivos e a melhora do quadro apresentado. Os protocolos iniciais da TCC 
contavam com uma duração média de 5 meses ou 20 sessões; na prática atual, 
os terapeutas não estão submetidos a essa limitação, pois na presença de 
comorbidades, transtornos de personalidade ou outras situações, a terapia pode 
assumir ser média ou longa duração. As sessões são subdivididas em: 
 Iniciais: compreendem a avaliação diagnóstica e a anamnese, 
psicoeducação do transtorno e do modelo cognitivo, definição das metas 
e objetivos do tratamento, conceitualização do caso. 
 
 
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 Intermediárias: reestruturação cognitiva, técnicas cognitivas e 
comportamentais. 
 Finais: prevenção a recaída, término de tratamento. 
Considerando essa estrutura, dentre alguns itens convencionais que 
devem compreender cada encontro, Abreu e Mireia (2012) destacam: fazer uma 
ponte com a sessão anterior; verificar as tarefas de casa; definir uma nova tarefa 
para a semana; oferecer feedback e um resumo final da sessão. Através disso, o 
terapeuta avalia não só os ganhos e as dificuldades encontradas durante o 
atendimento, mas também a compreensão do cliente sobre o que foi abordado 
durante a sessão. 
Esta proposta de terapia estruturada, com característica inicial focal, visão 
psicoeducativa e empirismo colaborativo, faz com que essa linha de atuação 
clínica tenha um caráter ativo, em busca de mudanças cognitivas e 
comportamentais a curto, médio e longo prazo para o paciente (Oliveira, 2011). 
3.1 Avaliação 
A avaliação cognitiva, comportamental e interpessoal tem como objetivo 
conhecer o funcionamento do paciente, suas queixas, história de vida, 
problemas atuais, bem como identificar, em termos do modelo cognitivo, os 
excessos e déficits que num processo retroalimentador fazem a manutenção dos 
sintomas depressivos. Conforme Knapp (2004), especial atenção é dada às 
temáticas mais recorrentes no conteúdo cognitivo, às distorções específicas nos 
pensamentos automáticos e pressupostos, assim como aos eventos vitais que 
determinaram as construções de esquemas negativos, e às estratégias usadas 
para compensar tais cognições disfuncionais. 
O terapeuta pode se utilizar de testes e questionários como instrumentos 
diagnósticos, para avaliar a gravidade da depressão. Entre os mais utilizados 
encontra-se o BDI (Inventário de Depressão Beck), que tem como objetivo 
avaliar sintomas afetivos, cognitivos, vegetativos e interpessoais, e a Escala 
Hamilton para Depressão. 
Tema de suma importância para se avaliar no paciente deprimido é o 
risco de suicídio; os questionários mais utilizados são o Evaluation of Suicidal 
Risk, de Leahy e Holland, e a Escala de Desesperança de Beck (BHS). 
É imprescindível também a avaliação de um médico psiquiatra sobre a 
necessidade de antidepressivos e/ou outras medicações, principalmente em 
 
 
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pacientes depressivos graves. A medicação aliviará os sintomas apresentados 
pelo paciente, e em conjunto com a terapia pode trazer auxílio mais efetivo, 
produzindo melhoras no quadro. 
3.2 Objetivos do tratamento 
Deve-se estabelecer, conjuntamente com o paciente, objetivos individuais 
e específicos, de forma clara e objetiva. A partir disso, avaliar a prioridade dos 
objetivos, e como separá-los em objetivos de curto (próximos dias), médio 
(próximas semanas e meses), e longo prazo (próximos meses e anos). 
Lembrando que a evolução de cada um desses objetivos deverá ser medida 
periodicamente. 
O terapeuta cognitivofaz isso obtendo o quadro mais completo possível 
das dificuldades psicológicas e da vida do paciente. Ele também busca detalhes 
relacionados à gravidade da depressão e à sintomatologia específica. Os 
terapeutas cognitivos se preocupam especialmente com o modo como os 
pacientes veem seus próprios problemas (Barlow, 2016). 
3.3 Psicoeducação do modelo cognitivo e do transtorno depressivo 
A psicoeducação do transtorno visa ajudar o paciente a compreender a 
sintomatologia que está apresentando, bem como os mecanismos e 
funcionamento da depressão. Com relação à psicoeducação do modelo 
cognitivo, Knapp (2004) destaca que é importante que o paciente se familiarize 
com o modelo e aprenda os conceitos básicos da terapia cognitiva, bem como 
seja informado sobre o funcionamento do tratamento e o que se espera de cada 
uma das artes da dupla terapêutica. A recomendação de livros direcionados aos 
pacientes, ou folhetos explicativos, pode também contribuir com o aprendizado. 
TEMA 4 – CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA 
A conceitualização deve ser construída desde o início do tratamento, de 
forma colaborativa com o paciente. É desenvolvida ao longo do processo 
terapêutico, e vai sendo lapidada conforme o surgimento de novos dados, que 
podem ser incorporados a ela. Sem dúvidas, é um instrumento importante para 
auxiliar a compreensão do caso e a identificação das dificuldades do paciente, 
 
 
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sendo útil para organizar essas informações sob a ótica do modelo cognitivo, 
norteando também as técnicas e intervenções a serem utilizadas. 
Muitos autores descrevem a conceitualização como o coração, o 
elemento vital da TCC, devido à sua extrema importância. 
A conceitualização cognitiva (formulação de caso, enquadre cognitivo do 
caso ou conceituação de caso) funciona como um mapa que orienta o trabalho a 
ser realizado com o cliente (Beck, 1997). 
Para que uma conceitualização cognitiva seja considerada eficaz, deve-se 
investigar determinados aspectos com seu cliente, tais como: diagnóstico clínico, 
história pregressa, problemas atuais enfrentados pelo cliente, juntamente com os 
fatores estressores precipitantes, suas predisposições genéticas e familiares, 
seus pensamentos automáticos, suas crenças intermediárias e centrais (Knapp, 
2004). 
TEMA 5 – RELAÇÃO TERAPÊUTICA 
A relação terapêutica tem sido alvo de um grande número de estudos e 
pesquisas empíricas, e é considerada um componente primário diretamente 
relacionado à eficácia da psicoterapia. 
Beck et al. (1979) já enfatizavam a importância de um relacionamento 
terapêutico caloroso e empático. Em conformidade, Beck (2007) ressalta que 
uma terapia cognitiva eficaz necessita de um bom vínculo terapêutico, já que 
muitos pacientes conseguem apenas modificar suas cognições, respostas 
emocionais e repertório comportamental, se a aprendizagem acontecer em uma 
relação de apoio e empatia. 
Considerando esses pontos, a construção de uma boa relação terapêutica 
promove a adesão e a cooperação do paciente no processo terapêutico, e 
diminui a ruptura, a resistência e o abandono da terapia. Destacamos também 
que a relação é um instrumento terapêutico, conforme aponta Knapp (2004, p. 
30): ”a própria relação terapêutica pode e deve ser usada como laboratório para 
construir experimentos visando a modificação interpessoal, pois é um excelente 
veículo de mudanças”. 
 
 
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5.1 Características do terapeuta 
É indiscutível a influência das características do terapeuta sobre o 
estabelecimento e a manutenção de um relacionamento adequado, saudável e 
que favoreça a busca dos objetivos do paciente. Desse modo, durante o 
processo psicoterapêutico, o terapeuta deve ter, além de conhecimento técnico, 
habilidades interpessoais, como respeito, consideração, envolvimento e empatia. 
Essas habilidades contribuem para o estabelecimento e a manutenção de uma 
aliança terapêutica, podendo ser utilizadas conjuntamente com outras técnicas 
para conduzir a mudança. 
Uma capacidade importante do terapeuta está em adequar a terapia às 
necessidades individuais e características do cliente. Sensibilidade apropriada e 
flexibilidade são requisitos importantes para a manutenção da relação 
terapêutica. 
Sendo assim, quanto ao tema das características desejáveis de um bom 
terapeuta, podemos resumir: ele deverá esteja apto a utilizar técnicas e 
procedimentos específicos, ao mesmo tempo em que lança mão de algumas 
habilidades sociais importantes, tais como cordialidade, autenticidade, apoio, 
confiança, calor humano, empatia adequada e aceitação. Conforme Beck et al. 
(1997, p.56): 
Essas características afetam as atitudes e comportamentos do 
terapeuta durante o tratamento. Se excessivamente enfatizados ou 
empregados sem critério, tais atributos podem favorecer a ruptura da 
colaboração terapêutica. Por outro lado, um terapeuta dotado dessas 
características e que saiba usá-las cuidadosamente poderá aumentar 
significativamente sua eficácia (Beck et al, 1997, p. 56). 
5.2 Empirismo colaborativo 
Com base em uma boa relação terapêutica, terapeuta e paciente 
trabalham em conjunto e de forma colaborativa para alcançar os objetivos do 
tratamento, como uma equipe de trabalho, um time bem afinado. Para Beck et 
al. (1979), terapeutas e pacientes trabalham como dois cientistas, levantando 
hipóteses e testando empiricamente cada uma delas. Eles colaboram no 
desenvolvimento de um estilo mais saudável e adaptativo de pensamento e de 
habilidades de enfrentamento, sugerindo modificações em padrões improdutivos 
de comportamento. 
 
 
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REFERÊNCIAS 
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