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PSICOLOGIA CONSTRUTIVISTA VIDA E OBRA – JEAN PIAGET 1896 - Jean Piaget nasceu na Suíça. Seu pai era professor universitário de Literatura. 1906 - Piaget foi um menino prodígio. Interessou-se por História Natural ainda na infância. Aos 11 anos publicou seu primeiro trabalho sobre sua observação de um pardal albino. Trabalhou gratuitamente no Museu de História Natural. 1915 – Formou-se em biologia e filosofia na Universidade de Neuchâtel. 1918 – Recebeu seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos. 1919 – Vai para Zurique estudar psicologia e psicanálise. Trabalha com psiquiatras na clínica. - É convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet, famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência padronizados para crianças. E notou que crianças francesas da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve gradualmente. - Iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. 1921 - Piaget voltou à Suíça e tornou-se diretor de estudos no Instituto J.J. Rousseau da Universidade de Genebra. Iniciou o maior trabalho de sua vida, ao observar crianças brincando e registrar meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas. 1923 - Casou-se, teve três filhas: Suas teorias foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. - Durante as pesquisas lecionou em diversas universidades europeias - Fundou o Centro Internacional para Epistemologia Genética. Escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. 1980 - Piaget morreu em Genebra, em 17 de setembro. COMO O HOMEM CHEGA AO CONHECIMENTO? Os filósofos partem de três explicações ou perspectivas distintas: INATISMO (Racionalismo, apriorismo) SÓCRATES, DESCARTES, PLATÃO - Dentro - o conhecimento é inato; desenvolvido; maturação. Ex: bebê sugar o seio. - Inteligência deriva daquilo que já possuo na carga genética e através da hereditariedade. - Inteligência se manifestaria a partir do crescimento do sujeito, com base nos processos da maturação orgânica. - Desta forma, quando o homem nasce, sua personalidade, valores, hábitos, crenças, pensamento, emoções e conduta social já estão definidos, uma vez que toda a atividade de conhecimento é exclusiva do sujeito, o meio não participa dela. - Você não estimula, apenas avalia e propõe atividades correspondentes com as pré-disposições. EMPIRISMO ARISTÓTELES, BACON – fora - Conhecimento está no meio; aprendizagem tábula rasa; folha em branco. “Me dê uma criança e a transformo...” - Contrário do inatismo, pois o foco recai especificamente sobre as experiências e influências do ambiente em relação ao sujeito. - A inteligência é vista como dependente de um somatório de aprendizagens e de intervenções e experiências com o meio. - Ênfase no que devemos fazer em favor do desenvolvimento da inteligência, com valorização das mediações ou intervenções sociais. - Valoriza o papel mediador do adulto, responsável pela escolha dos recursos, das instruções, dos prêmios e castigos, isto é, de tudo que se deve seguir em favor de um objetivo ou meta. A teoria de Piaget não é empirista pois ela implica o papel ativo do sujeito na produção de conhecimento. INTERACIONISMO - Nesse caso, a inteligência é produto das sucessivas e infinitas construções do sujeito sobre o ambiente, isto é, nem se trata de uma maturação ou desenvolvimento puros nem de uma aprendizagem dominante, mas de uma relação interdependente entre ambos – desenvolvimento e aprendizagem. - Desta maneira, entende a inteligência a partir da interdependência. Tendo em mente que cada sujeito dará sentido as suas experiências de modo único, construindo sua inteligência, a qual se mantém num processo dinâmico, aberto e próprio. - Na visão construtivista, a inteligência expressa, de modo estrutural e funcional, o que podemos compreender e realizar segundo os diferentes estádios de nosso desenvolvimento. - Do ponto de vista educacional, a melhor intervenção é aquela que coloca desafios ou obstáculos a serem superados. NOÇÃO DE INTELIGÊNCIA Piaget dedicou-se ao estudo da inteligência, buscou explicar de que maneira o sujeito chega a uma inteligência adulta, lógica e abstrata. Piaget designou como “Construtivismo” sua concepção de inteligência, significando que a inteligência não está pronta ou acabada, que o conhecimento não é dado como algo terminado, mas vive em permanente construção. Para ele o conhecimento não depende unicamente das relações sociais ou da carga genética hereditária. E sim, a interação do sujeito com o objeto que possibilitará a construção do conhecimento e o desenvolvimento das estruturas de inteligência. Portanto o conhecimento é resultado da interação sujeito-objeto. Na sua visão as crianças são as construtoras ativas do conhecimento, constantemente criando e testando suas teorias sobre o mundo. - As crianças possuem um modo próprio de organizar seu pensamento, que formara as bases para seu pensamento adulto e formal. - A lógica e formas de pensar da criança são diferentes dos adultos, recomendando que os adultos adotem uma abordagem educacional diferente ao lidar com crianças. CARACTERISTICAS DA INTELIGÊNCIA –OPERATÓRIA. Interdependência – para resolver um problema deve-se considerar todo o conjunto da situação. Há uma multiplicidade de fatores ao considerar o todo. Reversibilidade – Coordenadora da interdependência. Caracteriza a possibilidade mental, corporal ou social de se considerar as relações entre as partes e entre o todo de modo simultâneo. Epistemologia Genética – Defende que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da sua vida. Buscava compreender o processo de construção de conhecimento num sujeito universal. Aspectos Quantitativos – Quantidade, medida. – O quanto o indivíduo tem de inteligência. Aspectos Qualitativos – Foco na qualidade (Piaget). ESQUEMA Unidade estrutural básica de pensamento ou ação que enquanto estrutura pode mudar e adaptar-se. De acordo com Piaget, a criança nasce com um equipamento biológico hereditário e a partir da interação com o meio irá construir estruturas mentais - esquemas - expressos como ações motoras e estratégias mentais utilizadas para solucionar problemas durante o funcionamento cognitivo. + Não é rígida, vai adaptando e “melhorando”. + Esquema é um padrão de comportamento – uma ação “constituída”. + Um comportamento ou ideia sobre algo ou alguém ainda como uma determinada maneira de solucionar já pronto. ASSIMILAÇÃO. Tentativa do sujeito em solucionar uma determinada situação, utilizando uma estrutura mental já formada, ou seja, a nova situação é assimilada a um sistema já pronto. Exemplo: no momento em que a criança construiu o conhecimento de ”subir escadas” irá utilizar esse conhecimento em todas as situações (escada de sua casa, escada da escola, escada da casa da tia etc.). ACOMODAÇÃO. Tentativa do sujeito em solucionar uma determinada situação, modificando as estruturas antigas e construindo novas maneiras de agir. Exemplo: a criança já sabe subir escadas, mas nunca subiu uma escada rolante (objeto semelhante ao primeiro, mas com novos elementos que a criança desconhece). Nessa situação a criança tentará (por assimilação) agir como fazia antes, com base nas estruturas antigas, mas não obterá sucesso. Então, construirá novas formas de agir, irá modificar suas estruturas antigas para poder dominar uma nova situação. ADAPTAÇÃO. O sujeito está em estado de equilíbrio em relação ao meio, o que lhe permite uma situação de adaptação. Esse sujeito é chamado de epistêmico, ou seja, sujeito do conhecimento, sujeito que busca conhecimento. Nosso meio exige que nos adaptemos para tentar alcançar um equilíbrio. Está ligada aos dois mecanismos – assimilação e acomodação. CONFLITO COGNITIVO Estamos sempre buscando conhecimento, até para lidar com o meio e não só para o meio formal. Através disso o sujeito tem necessidade de trocas deinformações no qual lhe propõe inevitavelmente novidades. Essas situações são chamadas por Piaget de Desafios ou situações-problema que provoca curiosidade e interesse colocando o sujeito em estado de desequilíbrio e desadaptação o que causa um conflito cognitivo. É natural que o sujeito busque voltar ao estado anterior, pois ele sofreu mudanças, construiu novos esquemas, novo conhecimento: ele se desenvolveu. EQUILIBRIO MAJORANTE Na perspectiva Piagetiana é caracterizado por um processo de organização das estruturas cognitivas em um sistema independente, aberto, dinâmico. Que possibilita ao sujeito uma adaptação a realidade. Esse processo busca equilíbrio, mas nunca é atingido de forma final e completa. ABSTRAÇÃO EMPIRICA Extrair conhecimento de algo que estamos vivendo. - Consiste em compreender uma propriedade daquilo que é observado pelo sujeito. - Compreendo as características, observação de alguém ou algo. ABSTRAÇÃO REFLEXIONISTA Relacionar coisas. - Conhecimento lógico-matemático porque a forma como ela relacionou esses objetos depende de sua ação sobre eles e não de algo, intrínseco a eles. Definição de Estádio Expressa um trajeto, fase ou período. Fazes evolutivas em que ocorre a evolução do sujeito. Já tendo algo antes e vai acrescentando novas dificuldades fazendo com que vá modificando e complexando a inteligência. – Integração, inclusão. Definição de Estágio: Estágio é o que falta a alguém para completar uma determinada formação; são experiências, observações, atividades práticas, que completam uma formação. Supero algo simples por algo mais complexo. – Superação. ESTÁDIO SENSÓRIO-MOTOR (0 - 2 ANOS) O bebe nasce com atos e ações reflexas, inatas e automáticas (sucção, preensão) e, no início, é um sujeito passivo que constrói esquemas simples que funcionam isoladamente de maneira circular, repetitiva (pegar, olhar, bater, sugar). Durante esse período de dois anos irá desenvolver comportamentos voluntários e conscientes, encadeando ações para um determinado fim, tornando-se um sujeito ativo (domínio e variação das ações). Os esquemas passam a ser complexos com a invenção e criação de ações (pegar, ouvir, olhar / ouvir, pegar, olhar / levantar, andar, pegar, sugar). Piaget afirma que esses comportamentos são atos inteligentes e que é no período sensório-motor que ocorre o nascimento da inteligência da criança. O processo de adaptação da criança nesse período é marcado pela assimilação, que ocorre de três formas: assimilação funcional – repetição do esquema; assimilação generalizada – utilização do esquema em diferentes situações; assimilação recognitiva – reconhecimento dos esquemas. O período sensório-motor é marcado por seis subestádios: 1º. Subestádio (0 a 1 mês) - formação dos primeiros esquemas por meio do exercício dos reflexos (sucção, preensão, visão, audição). - Ações puramente reflexas e hereditárias. - Portanto todos os estímulos são incorporados (assimilados) aos esquemas reflexo e modificados (acomodação) como resultado de seu uso repentino (circular) e pela interação com o meio. - Portanto o uso dos reflexos é essencial para o desenvolvimento das estruturas cognitivas dos próximos estádios. 2º. Subestádio (1 a 4 meses) - há mudança de comportamentos reflexos em função da experiência, e a criança de uma adaptação hereditária passa a uma adaptação adquirida (hábitos adquiridos – chupar o dedo); resultados obtidos ao acaso são conservados por repetição (sugar polegar, olhar, balbuciar, agarrar, pegar e largar...); não existe intencionalidade; formação dos primeiros hábitos: a criança repete uma ação que deu certo (dedo na boca). A isso Piaget chamou de reação circular primária. - Movimento dos objetos são seguidos pelos olhos. - Cabeça movimenta-se em direção ao som. 3º. Subestádio (4 a 8 meses) - reação circular secundária - a criança repete resultados interessantes obtidos ao acaso com intenção, para obter um objeto ou fazer durar os espetáculos interessantes. Ex.: puxar a corda do móbile ao acaso e depois repetir com intenção de observar o movimento ou som do objeto. Essa é uma fase de transição entre os atos pré-inteligentes (ao acaso) para os atos inteligentes (intenção). Há coordenação entre visão – apreensão (agarra o que vê, sacode chocalhos, puxa cordões). Prova piagetiana – a criança não tem a noção de objeto permanente, existe a busca do objeto, mas restrita à trajetória ou à ação e não ao objeto (o que vejo existe o que não vejo não existe). 4º. Subestádio (8 a 12 meses) - formação da inteligência sensório-motora, ou seja, aplicação de meios já conhecidos para resolver situações novas; a criança já é capaz de variar, coordenar, generalizar diferentes ações ou os meios para atingir um fim. Existe a intenção e o desejo (objetivo), no entanto, não cria meios novos para atingir um fim, utilizará apenas os meios conhecidos. Não existe planejamento, apenas o estímulo do meio. Prova piagetiana – a criança constrói a noção de objeto permanente, busca o objeto que é tirado de seu campo visual, presenciando o momento em que é escondido. No entanto, se escondido uma segunda vez em outro local (sob sua vista) irá procurar no primeiro lugar novamente – repetição do que deu certo. 5º. Subestádio (12 a 18 meses) - reação circular terciária – a criança repete uma ação para conhecer e explorar propriedades do objeto (deixar cair um objeto várias vezes). Aparecimento das formas mais elevadas de atividade comportamental antes do aparecimento da representação. A criança cria (inventa) novas formas de ação para atingir um fim (acomodação). É uma criança com maior capacidade para diversificar e controlar suas ações. Prova piagetiana – a criança leva em consideração os deslocamentos sucessivos do objeto; procura o objeto no ponto onde foi visto pela última vez, mas sabe da existência do mesmo, por isso, se não o encontra, vai buscá-lo em outros locais. A criança neste momento passa a apresentar três condutas inteligentes: suporte / barbante / bastão. 6º. Subestádio (18 a 24 meses) – fase de transição, passagem da ação para a representação (imaginar acontecimentos). Deixa as tentativas por ensaio e erro para antecipar acontecimentos, combinando ações mentais ao invés de ações físicas. É a passagem da ação explícita para a representação mental e o aparecimento da linguagem. Prova piagetiana – Piaget apresenta a sua filha, Jaqueline, uma corrente e uma caixa de fósforos. Manuseia a caixa várias vezes, abre, fecha, coloca a corrente dentro da caixa, fecha, chacoalha, abre novamente e retira à corrente, de forma que Jaqueline possa acompanhar todos os seus movimentos. Em um dado momento coloca a corrente dentro da caixa, fecha e entrega-a para sua filha. Jaqueline pega a caixa, chacoalha, tenta abrir para retirar a corrente, não consegue, olha para o pai e sem expressar uma linguagem oral, uma vez que se encontra em processo de aquisição de linguagem, abre e fecha a boca, imitando o movimento de abrir e fechar da caixa, como uma forma de comunicação. Eis que neste momento surge a capacidade de representação: utilização de um significante com um significado, capacidade unicamente humana, diferindo o homem de outros animais. - Aparecimento da linguagem. - Capacidade de representar melhor mentalmente objetos e ações. O ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO (2 a 6 anos) É marcado pela passagem da inteligência sensório-motora, prática para a inteligência representativa. A criança, a partir dos dois anos, passa a ter uma função de pensamento, uma função simbólica ou semiótica, que possibilita a representação de um objeto ausente (significante) por meio de um significado, que podem ser expressos de várias maneiras. As formas de representação são: Imitação, Jogo simbólico, Desenho, Imagem mental, Linguagem. - Criança consegue representar um objeto ausente mentalmente. Embora o estádio pré-operatório seja marcado pela capacidade representativa, o que indica um avanço em seu desenvolvimento cognitivo, a criança ainda apresenta um pensamento pré-lógico, marcado por várias características,descritas a seguir: Imitação deferida - Capacidade da criança para representar mentalmente (recordar) um comportamento imitado na ausência do modelo. - A criança faz imitações de objetos e eventos, depois de sua ocorrência, longe da situação ou do objeto imitado. Jogo simbólico – A criança constrói símbolos que representam qualquer coisa que ela deseja. Embora tenha caráter imitativo é também uma forma de auto expressão, uma vez que não é dirigida ao outro, e sim a si mesma. - Atribuição de significados as coisas e brinca com elas em um contexto magico ou imaginário. EX: Brincar de fazer comidinha com barro. Imagem mental - São representações internas (símbolos) de objetos ou experiências perceptivas passadas, por meio de imagens mentais (imitação interiorizada). Linguagem falada - Por volta dos 2 anos, a criança começa a utilizar as palavras faladas para representar objetos, são as evocações verbais de acontecimentos não atuais. EX: quando uma criança diz “au-au”, já sem ver o cachorro, há a representação verbal, a imitação e a imagem mental. Assim, ela utiliza palavras faladas como símbolos ao invés de gestos ou objetos. Essa forma de representação simbólica permite o desenvolvimento cognitivo na criança porque possibilita: • o intercâmbio com as pessoas e, portanto, a socialização; • a internalização da palavra e o aparecimento do pensamento; • a internalização da ação que, de perceptiva e motora, passa a ser representativa (conceitual). Na fala egocêntrica, não há intenção de comunicação, por isso não há necessidade de um interlocutor, a criança fala na presença de outras pessoas, mas sem qualquer intenção de se comunicar com elas, fala consigo mesma. Conversações de monólogos coletivos – as crianças estão juntas, brincando, conversando, mas não há um diálogo efetivo entre elas. Tal fala é nitidamente egocêntrica, há um pensamento em voz alta de suas ações, sem o desejo de comunicação efetiva. No estádio pré-operatório a criança ainda apresenta um pensamento pré-lógico, ou seja, encontra dificuldade para estabelecer relações lógicas entre fatos e acontecimentos, não consegue coordenar diferentes pontos de vista de maneira lógica. CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO NO ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO. Pensamento egocêntrico - a criança parte de seu próprio eu para julgar a realidade e os outros, sem se preocupar com a verdade dos fatos; utiliza seu ponto de vista, sua lógica, não assume o papel ou o ponto de vista do outro; acredita que todos pensam como ela. Ex.: é difícil ao adulto explicar para a criança que não quer brincar porque está cansado, pois a criança está presa às suas próprias perspectivas e não consegue perceber o outro. Centração - o pensamento é centralizado, rígido, inflexível, pois não consegue levar em consideração várias relações ao mesmo tempo. Ex.: não entende como uma pessoa possa ser ao mesmo tempo a mãe e a filha. Pensamento transdutivo - raciocínio primitivo vai do particular para o particular (P - P). Ex.: não diz todos os animais se movem, todas as plantas crescem; não estabelece relações entre eventos de maneira lógica. Ex.: prova operatória de conservação de massa. Justaposição - assimila, mas não discrimina e generaliza, apenas coloca as informações lado a lado. Ex.: prova operatória de inclusão de classes. Sincretismo - explica um evento com outro que não tem relação lógica com a questão. Ex.: o balão caiu porque é vermelho; faz generalizações indevidas. Ex.: a fruta está verde, não pode comer, portanto não come frutas de cor verde; costuma falar “eu comi, eu bebi” Pensamento artificialista e finalista - atribui origem humana aos objetos e às causas; considera que tudo está para servi-la. Pensamento animista - atribui vida a seres inanimados, como bonecas, personagens de histórias, etc. Ex.: conversar com bonecos e personagens, bater na cadeira porque machucou o pé; a cadeira está chorando, o “au-au” está triste. Pensamento intuitivo - A partir dos 4 anos a criança apresenta um pensamento intuitivo, embora seja bastante rápido, e ainda pré-lógico porque se fundamenta basicamente na percepção. Conservação - É definida por Piaget como sendo a capacidade de perceber que, apesar das variações de forma ou arranjo espacial, uma quantidade ou valor não varia se dele não se retira ou adiciona algo. Na criança, essa noção é construída entre 7 e 12 anos, no estádio das operações concretas. A partir dos 6/7 anos, começa a conseguir conservar números, comprimento e quantidade de liquido. Em seguida, vem a conservação de substância (7/8 anos), área (9/10 anos) e volume (11/12 anos). No estádio pré-operacional, a criança não apresenta a noção de conservação. Irreversibilidade - O pensamento pré-operatório é marcado pela irreversibilidade de pensamento, ou seja, é impossível para a criança, em termos cognitivos, percorrer uma trajetória e depois retornar ao ponto de partida, porque não possui um pensamento móvel, capaz de perceber e corrigir seus erros por meio de descontrações sucessivas e rápidas. A reversibilidade é um dos aspectos que marcam a entrada no próximo estádio, o operatório concreto. Provas operatórias - não possui as noções que são avaliadas nas provas operatórias: classificação, seriação, sequenciação, inclusão, conservação, reversibilidade; possui um pensamento pré-lógico. Relacionamento social - as atividades em grupo se caracterizam por um brinquedo paralelo, as crianças brincam juntas, mas sem uma interação efetiva, cada uma delas está brincando sozinha. Isso ocorre em função do egocentrismo dessa fase, a criança sente dificuldade de considerar a perspectiva do outro e está centrada em si mesma e em suas atividades. Linguagem - existe uma linguagem socializada com intenção de comunicação, e uma linguagem egocêntrica, aquela que não necessita de um interlocutor, pois não tem a função de comunicação, que entre crianças origina o monologo coletivo – as crianças estão juntas, brincando, conversando, mas não há um diálogo efetivo entre elas. ESTÁDIO OPERATÓRIO CONCRETO (7 a 11 anos) A principal característica é que o pensamento deixa de ser pré-lógico e passa a ser um pensamento operatório, ou seja, a criança tem a capacidade cognitiva de coordenar diferentes pontos de vista de maneira lógica, expressando ações cognitivas mais elaboradas. No entanto, embora tenha essa possibilidade de maior expressão do pensamento, para poder utilizá-lo de maneira lógica, são necessários o manuseio e a observação de objetos concretos. - Criança se liberta do egocentrismo intelectual e social. - Consegue se colocar no lugar do outro. - Pelo ponto de vista social e afetivo, implicará no início da moral de cooperação e da autonomia. - Há compreensão do ponto de vista alheio e procura pela justificativa ou comprovação das próprias afirmações. - Maior interação social e mais flexibilidade de pensamento. O pensamento da criança nesse estádio é lógico e marcado por várias características, descritas a seguir: Pensamento operatório - Em termos gerais, a marca desse estádio será o declínio da causalidade movida pela atividade própria, com novas formas de relação causa-efeito, sustentadas pela descontração e pela objetividade. O pensamento é indutivo, por meio do qual a criança parte da experiência, do particular (concreto), para um princípio geral. As conclusões sobre os fatos dependem de um conjunto de experiências individuais, portanto ainda possuindo certa fragilidade frente as trocas sociais (o que se fortalecerá com o desenvolvimento da lógica e do pensamento formal, este último no próximo estádio). - A criança operatória será capaz de considerar diferentes referências simultaneamente, o que antes não conseguia. EX: Ela aceitará que uma pessoa que faz aniversário em outubro seja mais velha do que uma que faz em janeiro, pois ela levará em conta não somente a ordem dos meses, mas os anos em que ambas nasceram (janeiro de 2000 e outubro de 1999, por exemplo). As operações racionais - De forma sintética, podemos dizer que uma operação é uma ação interiorizadae reversível. Nos estágios anteriores a ação da inteligência sensório-motora era eminentemente prática, concreta. Já quando falamos em uma ação interiorizada (estádio pré-operatório), isso pressupõe a capacidade de representação, simbolização dessa ação. E a capacidade de identificar a reversibilidade dessa ação interna/mental é, portanto, a grande conquista do presente estádio. Fica claro que o pensamento lógico é expresso pela capacidade de: Reversibilidade das operações mentais, conservação de quantidades, inclusão de classes, classificação, seriação, sequenciação, descentração. Lembrando, entretanto, que isso tudo só é possível, ainda, no plano das ações concretas: falta habilidade para imaginar e organizar possibilidades não visíveis e não vívidas (isto é, situações abstratas). A criança operatória concreta, e mesmo anterior, é capaz de imaginar, mas não de sustentar sua imaginação logicamente (o que será a conquista do próximo estádio). A reversibilidade das operações mentais é a característica que melhor define a inteligência: o pensamento pode seguir a linha de raciocínio de volta ao ponto de partida. Com as operações mentais, a criança adquire a noção de classes ou se torna capaz de realizar classificações – o sistema essencial das operações lógicas. E, além de classificar, ela poderá unir e dissociar, simultaneamente, os diferentes agrupamentos. EX: colocamos diante da criança 20 peças de madeira em uma caixa, sendo 18 delas da cor marrom e 2 da cor branca. Se perguntarmos a ela: “Há mais peças de madeira ou peças marrons? ” Antes dos 7 anos ela dirá que há mais peças marrons, pois ela não consegue, ao mesmo tempo, comparar as cores e as relações entre as partes (no caso, cores) e o todo. Depois dessa idade, ela facilmente responderá que há mais peças de madeira, pois não se prenderá a apenas uma dimensão (a cor). Afetividade, vontade e sentimentos morais - Assim como o pensamento operatório tornou-se possível graças a reversibilidade, nas relações a criança valorizará a reciprocidade, a qual assegurará o desenvolvimento da autonomia e uma coesão maior nas relações. Antes, a criança vivia o respeito de forma unilateral: ela obedecia aos mais velhos sem muito questionar e sem sentir a obrigação da reciprocidade. A partir de agora – e os pais sabem muito bem disso, pelo aumento de questionamentos dos filhos frente as regras –, o respeito se tornara mútuo, recíproco e baseado em relações igualitárias e não mais assimétricas. ESTÁDIO OPERATÓRIO FORMAL (12 a 15 anos) - No estádio anterior, tanto os esquemas conceituais como as operações mentais são dependentes de objetos e situações que existem concretamente na realidade. Na adolescência, essa limitação deixa de existir e o sujeito é capaz de formar esquemas conceituais abstratos (amor, justiça, saudade) e realizar operações mentais de acordo com uma lógica formal mais sofisticada em termos de conteúdo e flexibilidade de raciocínio. - É capaz de discutir sobre valores morais dos pais, construir seus próprios valores, adquirindo autonomia, é capaz de levantar hipóteses e expressar proposições para depois testá-las e refletir sobre seus próprios pensamentos, buscando justificativas lógicas para seus julgamentos. Isso o levará a construção de autonomia e identidade. - Passagem da lógica indutiva para a lógica dedutiva. - Capacidade cognitiva de pensar a partir de um princípio geral e chegar a antecipação de uma experiência (caminhar do geral para o particular). É o raciocínio mais difícil e sofisticado, pois libera o pensamento do concreto e passa a trabalhar com ideias (pura abstração). De acordo com Piaget, o sujeito atingiu sua forma final de equilíbrio e uma capacidade tão complexa de pensamento que permite a construção e a compreensão de doutrinas filosóficas e teorias científicas. Ainda que essa capacidade de formalização e abstração do pensamento não finalize nessa etapa da vida, mas, ao contrário, poderá (e deverá) ser aprofundada e consolidada durante os anos futuros. As três aquisições essenciais deste quarto e último estádio Piagetiano: • Operações abstratas: o pensamento formal; • Conquista da personalidade; • Inserção na sociedade dos adultos. Piaget insistirá, novamente, que são comuns os desequilíbrios nos períodos de mudança e transição entre estádios, o que ocorrerá com o adolescente. Ou seja, a oscilação que nós percebemos, ora agem e pensam como crianças menores, ora se colocam e expõem argumentos mais elaborados e complexos. Isso é compreensível pela instabilidade das novas estruturas, ainda em formação. Após 11 ou 12 anos, o pensamento formal torna- se possível, ou seja, ele opera independente das percepções ou manipulações concretas. O pensamento formal é, portanto, hipotético-dedutivo, ou seja, capaz de tirar conclusões a partir de puras hipóteses, com base na lógica e não na existência real do problema em si. Um pensamento hipotético-dedutivo pode ser expresso pela proposição “se... → então...”. O sujeito utiliza esse tipo de raciocínio no cotidiano para pensar os fatos da realidade e resolver situações-problema. - Nesse estádio verificamos um “novo” tipo de egocentrismo, que Piaget qualificou de egocentrismo messiânico. - Ele se acha capaz de resolver os problemas do mundo, colocando-se num lugar superior frente aos adultos que ele considera impotentes. O adolescente passa por uma fase que atribui um poder ilimitado ao seu pensamento. Afetividade/conquista da personalidade - No plano afetivo, observamos no adolescente uma capacidade crescente de organização autônoma das regras, dos valores e da afirmação da vontade. - Ele se tornará capaz de conduzir a própria vida e as escolhas pessoais de forma progressivamente mais responsável e autônoma. - Desenvolverá um projeto de vida. -As mudanças no plano cognitivo favorecem uma nova organização afetiva e de valores e um novo posicionamento do adolescente perante o grupo social o que muitas vezes, acaba causando conflitos, porque num primeiro momento, devido ao egocentrismo característico dessa fase predomina uma postura de confronto com os valores da sociedade e tentativas de reformá-la. Esse modo de pensar e agir, com seu colorido messiânico e prepotente, não deve ser qualificado por características negativas ou patológicas, uma vez que, como assinalou Piaget, justifica-se pela própria natureza do processo de desenvolvimento cognitivo. O poder de abstração que o adolescente está adquirindo no plano cognitivo e solidário ao aparecimento de uma tendência a idealização dos sentimentos, como amor e amizade. Piaget chamará a atenção, também, para o egocentrismo da adolescência, que se vê transformando o mundo, por meio de projetos ao mesmo tempo altruístas e generosos, mas envoltos em intensas características de megalomania e fervor místico (tanto no sentido positivo como no negativo). Nas relações sociais, ele inicialmente despreza a sociedade real, condenando-a, interessando-se por outra, que quer reformar. Nos grupos entre adolescentes, essas ideias ganham força, mas carecem de efetividade, de capacidade de realização. Essa inversão permitirá ao adolescente, e futuro adulto, realizar planos no futuro, reconhecendo as limitações do presente (que é limitado pelas realizações concretas), mas que pode ser planejado, pensado, “sonhado” de várias formas, tornando cada indivíduo muito mais responsável frente as decisões que irá tomar. Piaget sintetizará com uma expressão: a passagem de reformador a realizador. No início da adolescência, ele se crê capaz de reformar o mundo, a sociedade, mas isso no plano hipotético, da discussão e da argumentação. Aos poucos, para que possa inserir-se de maneira sólida na sociedade, ele deverá tornar-se realizador: isto é, ser capaz de adaptar suas ideias a planos possíveis; flexibilizar, modificar seu pensamento – sem abrir mão do seu poder transformador – mas de forma possível