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Cartas de um Estoico,Volume II (Sêneca [Sêneca])

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Prévia do material em texto

©2017 Copyright Montecristo Editora
 
CARTAS DE UM ESTOICO, Volume II
Um guia para a Vida Feliz
 
 
Ad Lucilium Epistulae Morales 
Lucius Annaeus Sêneca
 
Supervisão de Editoração/Capa
Montecristo Editora
 
Tradução
Alexandre Pires Vieira
 
Imagem da Capa
fotografia do busto de Sêneca no Museo del Prado por Jean-Pol Grandmont
 
ISBN:
 978-1-61965-115-9 – Edição Digital
978-1-61965-116-6 – Edição Papel
 
Montecristo Editora Ltda.
 e-mail: editora@montecristoeditora.com.br
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
SÊNECA
 
CARTAS DE UM ESTOICO, Volume II - Um guia para a Vida Feliz / Sêneca;
seleção, introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. – São Paulo, SP :
Montecristo Editora, 2017.
Título original: Ad Lucilium Epistulae Morales
 
 
mailto:editora%40montecristoeditora.com.br?subject=Direitos%20Humanos%20Idade%20M%C3%ADdia
 
1. Ética política 2. Filosofia antiga 3. Sêneca, ca. 4 a.C.-65 4. Sêneca, ca. 4 a.C.-65 –
Crítica e interpretação I. Pires Vieira, Alexandre II. Título.
16-03288 CDD-188
 
Índices para catálogo sistemático:
1. Sêneca : Filosofia 188
Sumário
Volume II - Cartas 66 a 92
 
Introdução – Nota do tradutor
Sobre a tradução
 
LXVI. Sobre vários aspectos da virtude
LXVII. Sobre a doença e a resistência ao sofrimento
LXVIII. Sobre Sabedoria e Aposentadoria
LXIX. Sobre estar quieto e Inquietação
LXX. Sobre o momento adequado para fazer a derradeira viagem
LXXI. Sobre o Bem Supremo
LXXII. Sobre os negócios como inimigo da filosofia
LXXIII. Sobre Filósofos e Reis
LXXIV. Sobre a Virtude como Refúgio de Distrações Mundanas
LXXV. Sobre as Doenças da Alma
LXXVI. Aprendendo Sabedoria na Idade Avançada
LXXVII. Sobre Tomar a própria vida
LXXVIII. Sobre o Poder Curativo da Mente
LXXIX. Sobre as Recompensas da Pesquisa Científica
LXXX. Sobre Decepções mundanas
LXXXI. Sobre Favores e sua Retribuição
LXXXII. Sobre o medo natural da morte
LXXXIII. Sobre a embriaguez
LXXXIV. Sobre recolher ideais
LXXXV. Sobre Silogismos Vazios
LXXXVI. Sobre a Vila de Cipião
LXXXVII. Alguns argumentos em favor da vida simples
LXXXVIII. Sobre estudos liberais e vocacionais
LXXXIX. Sobre as Partes da Filosofia
XC. Sobre o papel da Filosofia no Progresso do Homem
XCI. Sobre a lição a ser aprendida do incêndio de Lião
XCII. Sobre a vida feliz
Bonus
XCIII. Sobre a Qualidade da Vida quando contrastada com seu
Comprimento
Introdução – Nota do tradutor
CARTAS DE UM ESTOICO -Volume II
Um guia para a Vida Feliz
 
Cartas 66 a 92
Poucos de nós nos consideramos filósofos. "Filosofia" costuma remeter a
imagens de livros didáticos densos e discussões acadêmicas sem aplicação
na vida real. Talvez possa ser divertido para catedráticos, mas seria
certamente uma perda de tempo para o resto de nós. Eu também me senti
assim por décadas. Então eu encontrei o trabalho de Lucius Annaeus
Sêneca, mais conhecido como “Sêneca o Jovem” ou simplesmente
"Sêneca". Nascido em de 4 a.C. na atual Espanha e criado em Roma,
Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais
ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Ele teve que
negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de filosofar
da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar
constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o
desastre, o exílio, saúde frágil e a condenação à morte tanto por Calígula
como por Nero (esse último com sucesso). Sêneca correu riscos e teve
grandes feitos.
Sua principal filosofia, o estoicismo, foi fundada em torno de 300 a.C. em
Atenas e pode ser encarada como um sistema para prosperar em ambientes
de alto estresse. Em seu núcleo, ensina como separar o que você pode
controlar do que não pode e o treina para se concentrar exclusivamente no
primeiro. O estoicismo foi projetado para os realizadores, e você estará bem
acompanhado como estudante. Thomas Jefferson tinha Sêneca na mesa de
cabeceira. Michel de Montaigne tinha uma citação de Epicteto esculpida no
teto de sua casa para que ele a visse constantemente. Todos os anos, Bill
Clinton lê Meditações de Marco Aurélio, que foi ao mesmo tempo um
estoico, imperador e o homem mais poderoso do mundo. 
Mas longe de se limitar em superar o negativo, o estoicismo também pode
ser usado para maximizar o positivo.
A filosofia de Sêneca aborda a busca da felicidade, a preparação para a
morte, as desilusões, a amizade e levanta uma das principais questões
humanas: como conjugar qualidade de vida e tempo escasso. Leitores do
século XXI serão surpreendidos por lições como: "A duração de minha vida
não depende de mim. O que depende é que não percorra de forma pouco
nobre as fases dessa vida; devo governá-la, e não por ela ser levado";
"Pobre não é o homem que tem pouco, mas o homem que anseia por mais”;
“Qual é o limite adequado para a riqueza? É, primeiro, ter o que é
necessário, e, segundo, ter o que é suficiente". Ou ainda: "Não deixemos
nada para mais tarde. Acertemos nossas contas com a vida dia após dia".
Eis a essência em alguns trechos, na Carta 18 – Sobre festivais e jejum1:
“reserve um certo número de dias, durante os quais você se contentará com a alimentação
mais barata e escassa, com vestes grosseiras e ásperas, dizendo a si mesmo: "É esta a
situação que eu temia?" É precisamente em tempos despreocupados que a alma deve
endurecer-se de antemão para ocasiões de maior estresse, e é enquanto a fortuna é amável
que se deve fortalecer contra violência. Em dias de paz, o soldado executa manobras, lança
obras de terraplenagem sem inimigo à vista, e se exercita, a fim de se tornar indiferente à
labuta inevitável. Se você não quer que um homem recue quando a crise chegar, treine-o
antes que ela chegue.
. . .
Deixe a cama de palha ser real e o manto grosseiro; deixe o pão ser duro e sujo. Resista a
tudo isso por três ou quatro dias por vez, às vezes por mais, para que possa ser um teste de si
mesmo em vez de um mero passatempo. Então, asseguro-lhe, meu querido Lucílio, que
saltará de alegria quando obtiver uma migalha de comida, e compreenderá que a paz de
espírito de um homem não depende da fortuna; pois, mesmo quando irritada ela concede o
suficiente para as nossas necessidades.
As cartas de Sêneca podem ser interpretadas como um guia prático para
frugalidade e como contentar-se com o suficiente. A prática do estoicismo
torna você menos emocionalmente reativo, mais consciente do presente e
mais resiliente. À medida que você navega na vida, esse tipo de treinamento
de força mental também facilita as decisões difíceis, seja desistir de um
emprego, fundar uma empresa, convidar alguém para sair, terminar um
relacionamento ou qualquer outra coisa.
Então, por onde começar? Existem muitas grandes mentes no panteão
estoico, incluindo Marco Aurélio, Epicteto e Catão. Penso, porém, que
Sêneca se destaca como fácil de ler, memorável e surpreendentemente
prático. Ele aborda aspectos específicos que vão desde como agir frente à
calúnia e à traição, até o jejum, o exercício, a riqueza e a morte.
Principalmente a morte e como se preparar para ela.
Sugiro que você se aproxime desse livro é da maneira como me aproximei:
faça do Sêneca parte da sua rotina diária. Reserve 15 minutos por dia e leia
uma carta. Seja no café pela manhã, antes de dormir, ou em algum lugar
intermediário, tente digerir uma carta diariamente. Sinta-se à vontade para
saltar e retornar. Três das minhas cartas favoritas neste volume podem
ajudá-lo a começar: Carta 78 – Sobre o Poder Curativo da Mente1, Carta
82 – Sobre o medo natural da morte2 e Carta 92 – Sobre a vida feliz3.
 
Sobre a tradução
Meu interesse pelo estoicismo em geral e Sêneca em particular foi
despertado ao ler Antifrágil por Nassim Nicholas Taleb, onde o badalado
autor cita Sêneca inúmeras vezes e usa seu nome em dois capítulos do
livro4. Posteriormente notei referências a Sêneca em vários outros autores
modernos, indo de acadêmicos renomados, passando por podcasters definanças pessoais até gurus de autoajuda.
Decidi então ler as 124 cartas de Sêneca a Lucílio – considerada a principal
obra de Sêneca. São cartas destinadas ao seu amigo Lucílio com o propósito
explícito de orientar sua formação espiritual segundo os preceitos e
princípios do Estoicismo, contendo todo o seu entendimento sobre filosofia.
Porém, surpreendentemente, somente encontrei duas obras incompletas em
português: “Sêneca - Aprendendo A Viver”5 uma coletânea de 24 cartas
selecionadas pela L&PM, e, “Edificar-se Para a Morte. Das Cartas Morais
de Lucílio”6 coletânea de 22 cartas selecionadas pela editora Vozes.
A disponibilidade de apenas poucas cartas em português foi para mim
inaceitável, o que motivou tradução completa das 124 epístolas. Sêneca diz
na carta 33:
...desista de acreditar que possa desnatar, por meio de resumos, a sabedoria de homens
ilustres. Olhe para a sabedoria como um todo; estude-a como um todo. Ela elabora um plano
coesamente tecido, linha a linha, uma obra-prima, da qual nada pode ser tirado sem ferir o
todo. Examine as partes separadas, se quiser, desde que você as examine como partes do
próprio homem. Aquela não é uma bela mulher cujo tornozelo ou braço é elogiado, mas cuja
aparência geral faz você esquecer de admirar atributos únicos.
A tradução foi baseada em várias versões em inglês todas fundamentadas
no trabalho de Otto Hense. A leitura das seguintes obras foi fundamental
para a conclusão deste trabalho: 1. “Moral Letters to Lucilius by Seneca”
por Richard Mott Gummere10; 2. Reading Seneca: Stoic Philosophy at
Rome por Brad Inwood7; 3. A Guide to the Good Life: The Ancient Art of
Stoic Joy8 por William Braxton Irvine; 4. Seneca - Selected Letters por
Elaine Fantham9
Poucas observações sobre a tradução são necessárias. No latim, o uso da
segunda pessoa é natural para expressar a relação de proximidade e
familiaridade. Nas traduções referidas anteriormente os editores decidiram
também usar a segunda pessoa. Contudo, no português atual,
principalmente no Brasil, o uso da terceira pessoa me parece mais adequado
à intenção de Sêneca, que ensinava filosofia a um amigo, como
consequência toda a tradução foi feita em terceira pessoa.
As cartas são ilustradas por inúmeras citações literárias de Virgílio, também
são citados outros poetas e autores latinos. Sempre que possível foi
colocado o original em Latim bem como uma tradução bastante livre
vertida do inglês, desde já peço perdão aos leitores pela falta de poesia nas
versões.
Algumas escolhas lexicais devem ser esclarecidas. “fortuna/fortunae”, para
o autor latino, se assemelha à nossa “sorte” ou “destino”, mas era também
uma divindade: o nome comum e o nome próprio são dificilmente
distinguíveis nas cartas, portanto, decidi usar sempre “fortuna”. O termo
latino “anima/aninus” costuma ser traduzido por “alma” em português.
Nesta tradução segui termo usado em inglês e o traduzi por “mente” ou
“força vital”.
Todas as cartas iniciam com a “Seneca Lvcilio svo salvtem”, Saudações de
Sêneca a Lucílio e terminam com “Vale” que muito frequentemente é
traduzido como “Adeus”. Talvez fosse melhor traduzido de outras maneiras,
e minha forma favorita é: Mantenha-se forte.
Que este livro o sirva como amigo, professor e companheiro no caminho.
Espero que gostem do passeio tanto quanto eu,
Alexandre Pires Vieira
Viena, Novembro de 2017
 
 
Sobre o autor
Lúcio Aneu Sêneca, em latim: Lucius Annaeus Seneca, é conhecido
também como Sêneca, o jovem ou o filósofo. Nasceu em Córdoba,
aproximadamente em 4 a.C. Era de família abastada, que se transferiu para
Roma quando ele ainda era criança. Muito jovem, Sêneca estudou com o
estoico Átalo e com os neopitagóricos Sótion de Alexandria e Papírio
Fabiano, discípulos do filósofo romano Quinto Séxtio.
Provavelmente por motivos de saúde, Sêneca mudou-se, por volta de 20
d.C., para Alexandria, no Egito, de onde retornou a Roma em 31. Aos
quarenta anos iniciou carreira como orador e político, tendo rapidamente
sido eleito para o senado. Em Roma, estabeleceu vínculos com as irmãs do
imperador Calígula: Livila, Drusila e Agripina Menor, mãe do futuro
imperador Nero. Sendo figura destacada no senado e no ambiente
palaciano, foi envolvido numa conjuração contra Calígula.
Sêneca diz que se livrou da condenação à morte por sofrer de uma doença
pulmonar (provavelmente asma). Assim, por intercessão de aliados,
Calígula foi convencido que ele estaria condenado a uma morte natural
iminente.
Com o assassinato de Calígula em 41, Sêneca tornou-se alvo de Messalina,
esposa do imperador Cláudio, num confronto entre esta e as irmãs de
Calígula. Acusado de manter relações adúlteras com Livila, foi condenado à
morte pelo Senado. Por intervenção do próprio imperador, a pena foi
comutada em exílio na ilha de Córsega. O exílio durou oito anos, período
em que o filósofo se dedicou aos estudos e à composição de inúmeras
obras.
Em 49 d.C. Agripina, então a nova esposa do imperador Cláudio,
possibilitou o retorno de Sêneca e o instituiu como preceptor de seu filho
Nero, então com doze anos. Após a morte de Cláudio em 54, Nero foi
nomeado seu sucessor e Sêneca tornou-se o principal conselheiro do jovem
imperador. No entanto, o conflito de interesses envolvendo, de um lado,
Agripina e seus aliados e de outro, conselheiros de Nero, os quais, por sua
vez, se opunham a Sêneca, levou a uma crise que resultou na morte de
Agripina e no gradual enfraquecimento político de Sêneca.
Em 62, Sêneca solicitou a Nero para se afastar totalmente das funções
públicas, contudo o pedido foi negado. De toda forma, alegando saúde
precária, Sêneca passou a se dedicar ao ócio, ou seja, à leitura e à escrita.
Sua relação com Nero deteriorou-se principalmente pelo prestígio do
filósofo no meio político e intelectual, onde era visto como um possível
governante ideal. No início de 65, foi envolvido em uma conjuração para
derrubar o imperador e foi condenado à morte por suicídio, morreu em 19
de abril.
Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais
ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Sêneca teve
que negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de
filosofar da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar
constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o
desastre, o exílio, a saúde frágil e a condenação à morte. Sêneca correu
riscos e teve grandes feitos.
Obras filosóficas de Sêneca:
Cartas de um Estoico, Vol I (Epistulae morales ad Lucilium)
Cartas de um Estoico, Vol II
Cartas de um Estoico, Vol III
Sobre a Ira (De Ira)
Consolação a Márcia (Ad Marciam, De consolatione)
Consolação a Minha Mãe Hélvia (Ad Helviam matrem, De
consolatione)
Consolação a Políbio (De Consolatione ad Polybium)
Sobre a Brevidade da vida(De Brevitate Vitae)
Da Clemência (De Clementia)
Sobre Constância do sábio (De Constantia Sapientis)
A Vida Feliz (De Vita Beata)
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Sobre os Benefícios (De Beneficiis)
Sobre a Tranquilidade da alma (De Tranquillitate Animi)
Sobre o Ócio (De Otio)
Sobre a Providência Divina (De Providentia)
Sobre a Superstição (De Superstitione) perdida, citada por Santo
Agostinho.
Além de filosofia, Sêneca escreveu também Tragédias e peças de teatro,
bastante populares em sua época:
Hércules furioso (Hercules furens)
As Troianas (Troades)
As Fenícias (Phoenissae)
Medeia (Medea)
Fedra (Phaedra)
Édipo (Oedipus)
Agamemnon
Tiestes (Thyestes)
Hércules no Eta (Hercules Oetaeus)
 
NOTAS:
1 Carta 78 – Sobre o Poder Curativo da Mente.
2 Carta 82 – Sobre o medo natural da morte.
3 Carta 92 – Sobre a vida feliz.
4 Capítulo 10 e 11”As vantagens e desvantagens de Sêneca” e “A estratégia Barbell de Sêneca”
- Antifrágil
5 Sêneca - Aprendendo A Viver 
6 Edificar-se Para a Morte. Das Cartas Morais de Lucílio 
7 Reading Seneca: Stoic Philosophy at Rome 
8 A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy 
9 Seneca - Selected Letters
10 Moral Letters to Lucilius
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LXVI. Sobre vários aspectos da virtude
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Acabei de ver meu ex-colega de escola, Clarano, pela primeira vez em
muitos anos. Você não precisa esperar que acrescente que ele é um homem
velho; Mas asseguro-lhe que o encontrei são em espírito e robusto, embora
ele esteja lutando com um corpo frágil e fraco. Pois a Natureza agiu de
forma injusta quando lhe deu um pobre domicílio para uma alma tão rara;
ou talvez fosse porque ela queria nos provar que uma mente absolutamente
forte e feliz pode estar escondida sob qualquer exterior. Seja como for,
Clarano supera todos esses obstáculos, e por desprezar seu próprio corpo
chegou a um estágio onde ele pode desprezar outras coisas também.
2. O poeta que cantou:
Valor mostra mais agradável em uma forma que é justa
gratior et pulchro veniens e corpore virtus. 1
Está, na minha opinião, enganado. Pois a virtude não precisa de nada para
compensá-la; é sua própria glória, e santifica o corpo em que habita. De
qualquer modo, comecei a considerar Clarano sob uma luz diferente; ele
parece-me simpático, e bem construído tanto em corpo como na mente.
3. Um grande homem pode nascer em um casebre; assim pode uma linda e
grande alma em um corpo feio e insignificante. Por esta razão a natureza
parece criar alguns homens deste selo com a ideia de provar que a virtude
nasce em qualquer lugar. Se tivesse sido possível produzir almas sozinhas e
nuas, ela o teria feito; como é fato, a natureza faz uma coisa ainda maior,
pois ela produz certos homens que, embora impedidos em seus corpos,
ainda assim rompem a obstrução.
4. Creio que Clarano foi produzido como um padrão, para que possamos
entender que a alma não é desfigurada pela feiura do corpo, mas pelo
contrário, que o corpo é embelezado pela beleza da alma. Agora, apesar de
Clarano e eu temos passados muitos poucos dias juntos, temos, no entanto,
muitas conversas, que vou em seguida verter e transmitir para você.
5. O primeiro dia em que investigamos esse problema: como os bens podem
ser iguais se forem de três tipos2? Pois alguns deles, de acordo com os
nossos princípios filosóficos, são primários, como a alegria, a paz e o bem-
estar de um país. Outros são de segunda ordem, moldados de um material
infeliz, como a resistência ao sofrimento e o autocontrole durante uma
doença grave. Rezaremos abertamente pelos bens da primeira classe; para a
segunda classe, oraremos somente se a necessidade surgir. Há ainda uma
terceira variedade, como, por exemplo, um andar modesto, um semblante
calmo e honesto, e um comportamento que se adapte ao homem de
sabedoria.
6. Agora, como podem estas coisas ser iguais quando as comparamos, se
você conceder que devemos orar por um e evitar o outro? Se fizermos
distinções entre eles, devemos retornar ao Primeiro Bem, e considerar qual
é a sua natureza: a alma que olha para a verdade, que é hábil no que deve
ser buscado e no que deve ser evitado, estabelecendo padrões de valor não
de acordo com a opinião, mas de acordo com a natureza, – a alma que
penetra o mundo inteiro e dirige seu olhar contemplativo sobre todos os
seus fenômenos, prestando atenção estrita aos pensamentos e ações,
igualmente grande e vigorosa, superior às dificuldades e as lisonjas,
cedendo a nem dos extremos da fortuna, acima de todas as bênçãos e
aflições, absolutamente linda, perfeitamente equipada com graça, bem
como com força, saudável e vigorosa, imperturbável, nunca consternada ,
que nenhuma violência possa destruir, uma que os acaso não podem exaltar
nem deprimir – uma alma como esta é a própria virtude.
7. Lá você tem a sua aparência externa, se nunca deve vir sob um único
aspecto e mostrar-se uma vez em toda a sua integridade. Mas há muitos
aspectos disso. Desdobram-se de acordo com a vida e ações; mas a própria
virtude não se torna menor ou maior. Pois o Bem Supremo não pode
diminuir, nem a virtude retroceder; em vez disso, é transformada, agora em
uma qualidade e agora em outra, moldando-se de acordo com a função que
está a desempenhar.
8. Tudo o que toca leva à semelhança consigo mesmo, e tinge com sua
própria cor. Adorna nossas ações, nossas amizades e, às vezes, casas
inteiras que entrou e pôs em ordem. O que seja o que for que tenha tocado
imediatamente torna-o amável, notável, admirável. Portanto, o poder e a
grandeza da virtude não podem elevar-se a alturas maiores, porque o
incremento é negado àquilo que é superlativamente grande. Você não
encontrará nada mais reto do que o reto, nada mais verdadeiro do que a
verdade, e nada mais temperado do que o que é temperado.
9. Toda virtude é ilimitada; pois limites dependem de medições definidas. A
constância não pode avançar mais do que a fidelidade, a veracidade ou a
lealdade. O que pode ser acrescentado ao que é perfeito? Nem se pode
acrescentar nada à virtude, pois, se alguma coisa puder ser acrescentada a
ela, seria necessária alguma imperfeição. Honra, também, não permite
adição; pois é honrado por causa das mesmas qualidades que mencionei. E
então? Vocêacha que a correção, a justiça, a legalidade, também não
pertencem ao mesmo tipo, e que elas são mantidas dentro de limites fixos?
A capacidade de melhorar é a prova de que uma coisa ainda é imperfeita.
10. O bem, em todos os casos, está sujeito a essas mesmas leis. A vantagem
da situação e do indivíduo estão juntas; na verdade, é tão impossível separá-
los quanto separar o louvável do desejável. Portanto, as virtudes são
mutuamente iguais; e assim são as obras da virtude, e todos os homens que
são tão afortunados de possuir essas virtudes.
11. Mas, como as virtudes das plantas e dos animais são perecíveis, são
também frágeis, passageiras e incertas. Elas brotam, e elas afundam
novamente, e por isso não são avaliadas ao mesmo valor; mas às virtudes
humanas apenas uma regra se aplica. Pois a razão correta é única e de um
só tipo. Nada é mais divino do que o divino, ou mais celestial do que o
celestial.
12. As coisas mortais decaem, caem, são desgastadas, crescem, são
esgotadas, e reabastecidas. Assim, no caso delas, em vista da incerteza de
sua fortuna, há desigualdade; mas das coisas divinas a natureza é única. A
razão, entretanto, não é nada mais do que uma porção do espírito divino
colocado em um corpo humano. Se a razão é divina, e o bem nunca carece
de razão, então o bem é sempre divino. E além disso, não há distinção entre
as coisas divinas; consequentemente também não existe nenhum entre bens.
Daí resulta que a alegria e uma corajosa e obstinada resistência à tortura são
bens equivalentes; pois em ambos há a mesma grandeza de alma
descontraída e alegre em um caso, no outro um combativo e pronto para a
ação.
13. O quê? Você não acha que a virtude daquele que bravamente ataca a
fortaleza do inimigo é igual à daquele que sofre um cerco com a maior
paciência? Grande é Cipião quando ele cerca Numância, e constrange e
compele as mãos de um inimigo, que ele não poderia conquistar, para lançar
mão à sua própria destruição3. Grande também são as almas dos defensores
– homens que sabem que, enquanto o caminho para a morte está aberto, o
cerco não é completo, os homens que respiram até o fim nos braços da
liberdade. Do mesmo modo, as outras virtudes também são iguais entre si:
tranquilidade, simplicidade, generosidade, constância, equanimidade,
resistência. Porque subjacente a todas elas há uma única virtude – o que
torna a alma reta e inabalável.
14. "O que então", você diz; "Não há diferença entre a alegria e a obstinada
resistência à dor?" De forma alguma, não em relação às próprias virtudes;
muito grande, no entanto, nas circunstâncias em que uma dessas duas
virtudes é exibida. Em um caso, há um relaxamento natural e afrouxamento
da alma; no outro há uma dor não natural. Daí que estas circunstâncias,
entre as quais uma grande distinção pode ser estabelecida, pertencem à
categoria de coisas indiferentes, mas a virtude mostrada em cada caso é
igual.
15. A virtude não é alterada pela questão com a qual trata; se a matéria é
dura e teimosa, não piora a virtude; se agradável e alegre, não a torna
melhor. Portanto, a virtude permanece necessariamente igual. Pois, em cada
caso, o que se faz é feito com igual retidão, com igual sabedoria e com igual
honra. Assim, os estados de bondade envolvidos são iguais, e é impossível
para um homem ultrapassar esses estados de bondade, por conduzir-se
melhor, seja o um homem em sua alegria, ou o outro em meio a seu
sofrimento. E dois bens, que nenhum dos quais possa ser melhor que o
outro, são iguais.
16. Pois se as coisas que são extrínsecas à virtude podem diminuir ou
aumentar a virtude, então o que é honroso deixa de ser o único bem. Se
você aceitar isso, a honra perece completamente. E porque? Deixe-me
dizer-lhe: é porque nenhum ato é honrado quando é feito por um agente
involuntário, quando é obrigatório. Cada ato honorável é voluntário.
Misture-o com relutância, queixas, covardia ou medo, e perde sua melhor
característica – auto aprovação. O que não é livre não pode ser honrado;
pois medo significa escravidão.
17. O honorável está totalmente livre da ansiedade e é calmo; se alguma vez
objeta, lamenta ou considera qualquer coisa como um mal, torna-se sujeito
a perturbação e começa a chafurdar em meio a grande confusão. Pois, de
um lado, a aparência de correção o atrai, por outro, a suspeita do mal o
arrasta para trás, portanto, quando um homem está prestes a fazer algo
honorável, ele não deve considerar quaisquer obstáculos como infortúnios,
embora os considere como inconvenientes, mas ele deve querer fazer a
ação, e fazê-la de boa vontade. Pois todo ato honorável é feito sem ordens
ou coação; é puro e não contém mistura de mal.
18. Eu sei o que você pode me responder neste momento: "Você está
tentando fazer-me acreditar que não importa se um homem sente a alegria,
ou se encontra-se sob tortura e esgota seu torturador?" Poderia dizer em
resposta: "Epicuro também sustenta que o sábio, embora esteja sendo
queimado no touro de Fálaris4, clamará:" É agradável, e não me preocupa
em absoluto. "Por que você precisa se admirar, se eu afirmo que aquele que
repousa num banquete e a vítima que resiste firmemente à tortura possuem
bens iguais, quando Epicuro mantém uma coisa que é mais difícil de
acreditar, ou seja, que é agradável ser assado desta maneira?
19. Mas a resposta que eu dou, é que há grande diferença entre alegria e
dor; se me pedem para escolher, vou procurar a primeira e evitar a última. A
primeira está de acordo com a natureza, a segunda é contrária a ela.
Enquanto são classificados por este padrão, há um grande abismo entre
elas; mas quando se trata de uma questão da virtude envolvida, a virtude em
cada caso é a mesma, quer venha através da alegria ou através da tristeza.
20. A vexação, a dor e outros inconvenientes não têm consequências, pois
são vencidos pela virtude. Assim como o brilho do sol escurece todas as
luzes menores, assim a virtude, por sua própria grandeza, quebra e abranda
todas as dores, aborrecimentos e erros; e onde quer que seu brilho chegue,
todas as luzes que brilham sem a ajuda da virtude são extintas; e os
inconvenientes, quando entram em contato com a virtude, não
desempenham um papel mais importante do que uma nuvem de tempestade
no mar.
21. Isto pode ser provado para você pelo fato que o bom homem apressar-
se-á sem hesitação a qualquer ação nobre; mesmo que seja confrontado com
o carrasco, o torturador e o pelourinho, ele persistirá, não quanto ao que ele
deve sofrer, mas quanto ao que deve fazer; e desempenhará tão prontamente
a uma ação honrosa quanto a um homem bom; ele o considerará vantajoso
para si mesmo, seguro e propício. E ele manterá o mesmo ponto de vista
sobre uma ação honrosa, ainda que seja carregada de tristeza e dificuldades,
como sobre um homem bom que é pobre ou desperdiçado no exílio.
22. Agora, compare um bom homem extremamente rico com um homem
que não tem nada, exceto que em si mesmo tem todas as coisas; eles serão
igualmente bons, embora experimentem fortuna desigual. Este mesmo
padrão, como tenho observado, deve ser aplicado tanto às coisas quanto aos
homens; a virtude é tão louvável se ela habita num corpo sadio e livre,
como em alguém que está doente ou em escravidão.
23. Portanto, quanto à sua própria virtude, não a louvará mais, se a fortuna a
favorecer, concedendo-lhe um corpo sadio, do que se a fortuna lhe der um
corpo que é mutilado em algum membro, pois isso significaria classificar
inferiormente um mestre porque ele está vestido como um escravo. Pois
todas aquelas coisas sobre as quais a fortuna tem influência, bens materiais,
dinheiro, posses, posição; elas são fracas, inconstantes, propensas a perecer,
e de posse incerta. Por outro lado, as obras da virtude são livres e
insubmissas, nem mais dignas de ser procuradas quando a fortuna as trata
com bondade, nem menos digna quando alguma adversidade pesa sobre
elas.
24. A amizade no caso dos homens corresponde à desejabilidade no caso
das coisas. Você não gostaria, eu imagino, de amar um bom homem, se ele
fosse rico, maisdo que se fosse pobre, e não amaria uma pessoa forte e
musculosa mais do que uma pessoa delgada e de constituição delicada.
Assim, nem procurará nem amará uma coisa boa que seja divertida e
tranquila mais do que uma que é cheia de perplexidade e labuta.
25. Ou, se você fizer isso, você vai, no caso de dois homens igualmente
bons, gostar mais de quem é limpo e bem-asseado do que daquele que é
sujo e despenteado. Você chegaria ao ponto de se importar mais com um
homem bom que é são em todos os seus membros e sem defeito, do que
com alguém que é fraco ou cego; e gradualmente sua exigência alcançaria
tal ponto que, de dois homens igualmente justos e prudentes, você
escolheria aquele que tem cabelos longos e ondulados! Sempre que a
virtude em cada um é igual, a desigualdade em seus outros atributos não é
aparente. Pois todas as outras coisas não são partes, mas apenas acessórios.
26. Qualquer homem julgaria seus filhos de modo tão injusto a fim de se
preferir mais um filho saudável do que um doente, ou a um filho alto, de
estatura incomum, mais do que a outro de pouca ou de baixa estatura? Os
animais selvagens não mostram nenhum favoritismo entre sua prole; eles se
deitam para amamentar todos igualmente; aves fazem a distribuição justa de
seus alimentos. Ulisses apressa-se de volta às rochas de sua Ítaca tão
ansiosamente quanto Agamenon acelera até as majestosas muralhas de
Micenas. Porque nenhum homem ama a sua terra natal porque é grande; ele
a ama porque é sua.
27. E qual é o propósito de tudo isso? Que você saiba que a virtude
considera todas as suas obras sob a mesma luz, como se fossem seus filhos,
mostrando a mesma bondade a todos e ainda mais profunda bondade para
aqueles que encontram dificuldades; pois mesmo os pais inclinam-se com
mais afeição para filhos de quem sentem piedade. A virtude, também, não
necessariamente ama mais profundamente aquelas de suas obras que vê em
problemas e sob pesados fardos, mas, como bons pais, ela lhes dá mais de
seus cuidados de acolhimento.
28. Por que nenhum bem é maior do que qualquer outro bem? É porque
nada pode ser mais apropriado do que aquele que é apropriado, e nada mais
nivelado do que aquilo que está nivelado. Você não pode dizer que uma
coisa é mais igual a um objeto determinado do que outra coisa; daí também
nada é mais honrado do que aquilo que é honroso.
29. Assim, se todas as virtudes são iguais por natureza, as três variedades de
bens são iguais. Isto é o que quero dizer: há uma igualdade entre sentir
alegria com autocontrole e sofrer dor com autocontrole. A alegria em um
caso não ultrapassa no outro a firmeza da alma que afoga o gemido quando
está nas garras do torturador; são desejáveis os bens do primeiro tipo,
enquanto os do segundo são dignos de admiração; e, em cada caso, não são
menos iguais, porque qualquer inconveniente atribuído a este último é
compensado pelas qualidades do bem, que é muito maior.
30. Qualquer homem que os julgue desiguais está se afastando das próprias
virtudes e está examinando meras exterioridades; os bens verdadeiros têm o
mesmo peso e a mesma largura. O tipo espúrio contém muito vazio;
portanto, quando são pesados, percebemos sua deficiência, embora pareçam
imponentes e grandiosos ao olhar.
31. Sim, meu caro Lucílio, o bem que a verdadeira razão aprova é sólido e
eterno; fortalece o espírito e exalta-o, para que ele esteja sempre nas alturas;
Mas as coisas que são irrefletidamente elogiadas, e são bens na opinião da
multidão meramente nos enchem de alegria vazia. e, novamente, aquelas
coisas que são temidas como se fossem males apenas inspiram ansiedade na
mente dos homens, pois a mente é perturbada pela aparência do perigo,
assim como os animais também o são perturbados.
32. Portanto, é sem razão que ambas as coisas distraem e picam o espírito;
um não é digno de alegria, nem o outro de medo. Somente a razão é
imutável e se apega a suas decisões. Pois a razão não é um escrava dos
sentidos, mas uma governante sobre eles. A razão é igual à razão, como
uma linha reta para outra; portanto, a virtude também é igual à virtude. A
virtude não é nada mais do que razão correta. Todas as virtudes são razões.
As razões são razões, se são razões certas. Se elas estão certas, elas também
são iguais.
33. Como a razão é, assim também são as ações; portanto, todas as ações
são iguais. Pois, uma vez que se assemelham à razão, também se
assemelham umas as outras. Além disso, considero que as ações são iguais
entre si, na medida em que são ações honradas e corretas. Haverá,
naturalmente, grandes diferenças de acordo com a variação do material,
como se torna agora mais amplo e agora mais estreito, agora glorioso e
agora inferior, agora múltiplo no alcance e agora limitado. No entanto, o
que é melhor em todos estes casos é igual; eles são todos honrados.
34. Da mesma forma, todos os homens bons, na medida em que são bons,
são iguais. Há, de fato, diferenças de idade, um é mais velho, outro mais
jovem; do corpo, – um é agradável, outro é feio; da fortuna, – este homem é
rico, esse homem pobre, este é influente, poderoso e conhecido pelas
cidades e povos, aquele homem é desconhecido para a maioria, e é obscuro.
Mas todos, em relação àquilo em que são bons, são iguais.
35. Os sentidos não decidem sobre coisas boas e más; eles não sabem o que
é útil e o que não é útil5. Eles não podem registrar sua opinião a menos que
sejam confrontados com um fato; eles não podem ver o futuro nem se
lembrar do passado; e eles não sabem o que resulta do quê. Mas é a partir
desse conhecimento que uma sequência e sucessão de ações é tecida, e uma
unidade de vida é criada, – uma unidade que prosseguirá em um curso reto.
A razão, portanto, é o juiz do bem e do mal; o que é estrangeiro e externo
ela considera como escória, e o que não é nem bom nem mau ela julga
como apenas acessório, insignificante e trivial. Pois todo o seu bem reside
na alma.
36. Mas há certos bens que a razão considera primordiais, aos quais ela se
dirige deliberadamente; estes são, por exemplo, a vitória, os bons filhos e o
bem-estar de um país. Alguns outros considera secundários; estes se tornam
manifestos apenas na adversidade, – por exemplo, a equanimidade em
suportar uma doença grave ou exílio. Certos bens são indiferentes; estes não
são mais de acordo com a natureza do que contrárias à natureza, como, por
exemplo, um andar discreto e uma postura tranquila em uma cadeira. Pois
sentar é um ato que não é menos de acordo com a natureza do que ficar em
pé ou andar.
37. Os dois tipos de bens que são de ordem superior são diferentes; os
primários são de acordo com a natureza, – como a alegria derivada do
comportamento obediente de seus filhos e do bem-estar de seu país. Os
secundários são contrários à natureza, como a força moral em resistir à
tortura ou na aceitação da sede quando a doença torna os órgãos vitais
febris.
38. "O que então", você diz; "alguma coisa que é contrária à natureza pode
ser um bem?" Claro que não; mas aquela em que esse bem eleva-se a sua
origem é por vezes contrária à natureza. Por estarem feridos, esvaindo-se
sobre um fogo, aflitos com má saúde, – tais coisas são contrárias à natureza;
mas é de acordo com a natureza que um homem preserve uma alma
indomável em meio a tais aflições.
39. Para explicar brevemente o meu pensamento, o material com o qual o
bem se relaciona às vezes é contrário à natureza, mas um bem em si mesmo
nunca é contrário, pois nenhum bem existe sem razão e a razão está de
acordo com a natureza. “O que, então," você pergunta, "é a razão?" É copiar
a natureza. "E o que," você diz, "é o maior bem que o homem pode
possuir?" É conduzir-se de acordo com o que a natureza deseja.
40. "Não há dúvida", diz o opositor, "que a paz proporciona mais felicidade
quando não é atacada do que quando é recuperada a custo de grande
matança". "Também não há dúvida de que a saúde, que não foi
comprometida, oferece mais felicidade do que a saúde que foi restituída à
solidez por meio da força, por assim dizer, e pela resistência ao sofrimento,depois de doenças graves que ameaçaram a vida em si e, da mesma forma,
não há dúvida de que a alegria é um bem maior do que a luta de uma alma
para suportar até o fim os tormentos das feridas ou da tortura".
41. De modo algum. Pois coisas que resultam do risco admitem ampla
distinção, uma vez que são avaliadas de acordo com sua utilidade aos olhos
daqueles que as experimentam, mas em relação aos bens, o único ponto a
ser considerado é que eles estão de acordo com a natureza; e isso é igual no
caso de todos os bens. Quando em uma reunião do senado nós votamos em
favor da proposta de alguém, não pode ser dito, "A. está mais de acordo
com a proposta do que B." Todos votam pela mesma proposta. Eu faço a
mesma declaração com respeito às virtudes, – todos elas estão de acordo
com a natureza; e eu o faço em relação aos bens igualmente, – estão todos
de acordo com a natureza.
42. Um homem morre jovem, outro na velhice, e ainda outro na infância,
tendo desfrutado nada mais do que um simples vislumbre na vida. Todos
eles foram igualmente sujeitos à morte, embora a morte tenha permitido a
um avançar mais ao longo do caminho da vida, cortou a vida do segundo
em sua flor, e quebrou a vida do terceiro em seu início.
43. Alguns recebem sua quitação na mesa do jantar. Outros prolongam seu
sono na morte. Alguns são eliminados durante a devassidão. Agora,
compare essas pessoas com aquelas que foram perfuradas pela espada, ou
levadas à morte por cobras, ou esmagadas em um desabamento, ou
torturadas até a morte pela torção prolongada de seus tendões. Algumas
dessas partidas podem ser consideradas melhores, outras piores; mas o ato
de morrer é igual em tudo. Os métodos de acabar com a vida são diferentes;
mas o fim é um e o mesmo. A morte não tem graus maiores ou menores;
pois tem o mesmo limite em todos os casos, – o fim da vida.
44. A mesma coisa é verdade, asseguro-lhe, em relação aos bens; você
encontrará um em circunstâncias de puro prazer, outro em meio a tristeza e
amargura. Uma pessoa controla os favores da fortuna; a outra supera seus
ataques. Cada um é igualmente um bem, embora um viaja em uma estrada
plana e fácil, e o outro em uma estrada áspera. E o fim de todos eles é o
mesmo – eles são bens, eles são dignos de louvor, eles acompanham a
virtude e a razão. A virtude faz todas as coisas que toca iguais entre si.
45. Você não precisa duvidar que este é um dos nossos princípios;
encontramos nos trabalhos de Epicuro dois bens, dos quais é composto o
seu Bem Supremo, ou bem-aventurança, isto é, um corpo livre de dor e uma
alma livre de perturbação. Estes bens, se estiverem completos, não
aumentam; pois como pode o que é completo aumentar? O corpo é,
suponhamos, livre da dor; que aumento pode haver a essa ausência de dor?
A alma é serena e calma; que aumento pode haver para esta tranquilidade?
46. Assim como o tempo bom, purificado no mais puro brilho, não admite
um grau ainda maior de clareza; assim, quando um homem cuida de seu
corpo e de sua alma, tecendo a textura de seu bem de ambos, sua condição é
perfeita, e ele atingiu a meta de suas orações, se não há comoção em sua
alma ou dor em seu corpo. Quaisquer que sejam os encantos que receba em
relação a estas duas coisas não aumentam o seu Supremo Bem; eles
simplesmente condimentam-no, por assim dizer, e acrescentam tempero a
ele. Pois o bem absoluto da natureza do homem é satisfeito com a paz no
corpo e a paz na alma.
47. Posso mostrar-lhe neste momento nos escritos de Epicuro uma lista
graduada dos bens, assim como a da nossa própria escola. Pois há algumas
coisas, ele declara, que prefere receber, tais como descanso corporal livre de
qualquer inconveniente e relaxamento da alma enquanto se deleita na
contemplação de seus próprios bens. E há outras coisas que, embora
preferisse que não acontecessem, mesmo assim elogia e aprova, por
exemplo, o tipo de resignação, em momentos de má saúde e sofrimento
grave, a que aludi há pouco, os quais Epicuro exibiu naquele último e mais
abençoado dia de sua vida. Pois ele nos diz que teve que suportar a
excruciante agonia de uma bexiga doente e de um estômago ulcerado,
sofrimento tão aguçado que não permitiria aumento da dor; "E ainda," ele
diz, "aquele dia não foi menos feliz." E nenhum homem pode passar tal dia
em felicidade a menos que possua o Bem Supremo.
48. Portanto, encontramos, até mesmo em Epicuro, bens que seriam melhor
não experimentar; que, no entanto, porque circunstâncias assim o decidem,
devem ser acolhidos e aprovados e colocados ao nível dos bens mais
elevados. Não podemos dizer que o bem que preencheu uma vida feliz, o
bem pelo qual Epicuro deu graças nas últimas palavras que pronunciou, não
é igual ao maior.
49. Permita-me, excelente Lucílio, pronunciar uma palavra ainda mais
ousada: se qualquer mercadoria pudesse ser maior do que outras, eu
preferiria aquelas que parecem acres as que são brandas e sedutoras, e as
declararia maior. Pois é uma conquista maior superar as barreiras do
caminho do que manter a alegria dentro dos limites estreitos.
50. Exige o mesmo uso da razão, estou plenamente consciente, um homem
suportar a prosperidade bem e também suportar a desgraça corajosamente.
Que homem pode ser tão corajoso que durma em frente às muralhas sem
medo de perigo quando nenhum inimigo ataca o acampamento, como o
homem que, quando os tendões de suas pernas são cortados, se levanta de
joelhos e não solta suas armas; mas é para o soldado manchado de sangue
que retorna da frente que os homens clamam: "Bem feito, herói!" E por
isso, eu devo conceder maior louvor aos bens que foram julgados e
mostraram coragem, e lutaram contra a fortuna.
51. Devo hesitar em dar maior elogio à mão mutilada e seca de Mucio do
que à mão inofensiva do homem mais corajoso do mundo? Lá estava
Múcio6, desprezando o inimigo e desprezando o fogo, e observando sua
mão enquanto pingava sangue sobre o fogo no altar de seu inimigo, até que
Porsena, invejando a fama do herói a quem ele impingiu o castigo, ordenou
que o fogo fosse removido contra a vontade de sua vítima.
52. Por que não devo considerar este bem entre os bens primários, e julgá-lo
como muito maior do que aqueles outros bens que são desacompanhados de
perigo e não foram testados pela fortuna, pois é uma coisa mais rara superar
um inimigo com uma mão perdida do que com uma mão armada. – E
então? Você diz; "Você deseja esse bem para si mesmo?" Claro que sim.
Pois esta é uma coisa que um homem não pode alcançar a menos que
também a possa desejar.
53. Devo desejar, em vez disso, que me permitam esticar os meus membros
para que os meus escravos façam massagens, ou que uma mulher, ou um
travesti, puxe as articulações dos meus dedos? Não posso deixar de
acreditar que Múcio teve mais sorte porque manipulou as chamas tão
calmamente como se estivesse estendendo a mão para o massagista. Ele
havia aniquilado todos os seus erros anteriores; terminou a guerra
desarmado e mutilado; e com aquele toco de uma mão ele conquistou dois
reis.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
 
NOTAS:
1 Trecho de Eneida de Virgílio.
2 Sêneca não está falando aqui das três virtudes genéricas (físicas, éticas, lógicas), nem dos três tipos
de bens (baseados na vantagem corporal) que foram classificados pela escola peripatética; Ele só está
falando de três tipos de circunstâncias sob as quais o bem pode se manifestar. E no § 36 e seguintes
ele mostra que considera apenas as duas primeiras classes como bens reais.
3 O exército de Cipião montou dois acampamentos e construiu uma muralha de circunvalação à volta
da cidade espanhola com sete torres a partir das quais seus arqueiros podiam atirar por cima da
muralha numantina. Ele também represou o pântano vizinho e criou um lago entre a muralha da
cidade e sua própria muralha. Para proteger seus acampamentos, Cipião construiu também muralhas
exteriores (cinco no total). Para completar o cerco, Cipião isolou a cidade do rio Douro: nos pontos
onde o rio entrava e saía da cidade, pares de torres foram construídas e, entre os pares, cabos comlâminas foram estendidos através do rio para evitar a passagem de barcos e nadadores.
4 Touro de Fálaris, foi uma das mais cruéis máquinas de tortura e execução, cujo invento é atribuído
a Fálaris, tirano de Agrigento. O aparelho era uma esfinge de bronze oca na forma de um touro
mugindo, com duas aberturas, no dorso e na parte frontal localizada na boca. Após colocada a vítima,
a entrada da esfinge era fechada e posta sobre uma fogueira. À medida que a temperatura aumentava
no interior do Touro, o ar ficava escasso, e o executado procuraria meios para respirar, recorrendo ao
orifício na extremidade do canal. Os gritos exaustivos do executado saíam pela boca do Touro,
fazendo parecer que a esfinge estava viva.
5 Aqui, Sêneca está lembrando Lucílio, como muitas vezes faz nas cartas anteriores, que a evidência
dos sentidos é apenas um degrau para ideias superiores – um princípio do epicurismo.
6 Caio Múcio Cévola (em latim: Gaius Mucius Scaevola). Logo depois da fundação da República
Romana, Roma se viu rapidamente sob a ameaça etrusca representada por Lar Porsena. Depois de
rechaçar um primeiro ataque, os romanos se refugiaram atrás das muralhas da cidade e Porsena
iniciou um cerco. Conforme o cerco se prolongou, a fome começou a assolar a população romana e
Múcio, um jovem patrício, decidiu se oferecer para invadir sorrateiramente o acampamento inimigo
para assassinar Porsena. Disfarçado, Múcio invadiu o acampamento inimigo e se aproximou de uma
multidão que se apinhava na frente do tribunal de Porsena. Porém, como ele nunca tinha visto o rei,
ele se equivoca e assassina uma pessoa diferente. Imediatamente preso, foi levado perante o rei, que
o interrogou. Longe de se intimidar, Múcio respondeu às perguntas e se identificou como um cidadão
romano disposto a assassiná-lo. Para demonstrar seu propósito e castigar seu próprio erro, Múcio
colocou sua mão direita no fogo de um braseiro aceso e disse: "Veja, veja que coisa irrelevante é o
corpo para os que não aspiram mais do que a glória!". Surpreso e impressionado pela cena, o rei
ordenou que Múcio fosse libertado. Como reconhecimento, Múcio confessa que trezentos jovens
romanos haviam jurado, assim como ele, estar prontos a sacrificar-se para matá-lo. Aterrorizado por
esta revelação, Porsena teria baixado suas armas e enviado embaixadores a Roma.
LXVII. Sobre a doença e a resistência ao
sofrimento
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Se eu posso começar com uma observação comum, a primavera está se
revelando gradualmente; mas embora seja preparação para o verão, quando
se esperaria clima quente, está bastante frio, e ainda não se pode ter certeza
disso. Pois ela desliza frequentemente para trás para o tempo do inverno.
Você deseja saber o quão incerto ainda é? Eu ainda não estou seguro para
um banho que pode ser absolutamente frio; mesmo neste momento eu tremo
de frio. Você pode dizer que esta não é maneira de mostrar tolerância, quer
ao calor ou ao frio; muito verdadeiro, querido Lucílio, mas na minha idade,
raramente alguém fica satisfeito com o frio natural. Eu mal posso deixar de
ter frio no meio do verão. Assim, eu passo a maior parte do tempo
embrulhado;
2. E agradeço a velhice por me manter preso à minha cama. Por que não
devo agradecer à velhice por isso? Aquilo o que eu não deveria querer
fazer, não tenho a capacidade de fazer. A maioria das minhas conversas é
com livros. Sempre que suas cartas chegam, imagino que estou com você, e
tenho a sensação de que estou prestes a falar a minha resposta, em vez de
escrevê-la. Portanto, vamos juntos investigar a natureza de seu problema,
como se estivéssemos conversando um com o outro.
3. Você me pergunta se todo bem é desejável. Você diz: "Se é bom ser
corajoso sob a tortura, ir à tortura com um coração forte, suportar a doença
com resignação; segue-se que essas coisas são desejáveis. Mas não vejo que
nenhuma delas valha a pena ser desejada. De qualquer forma, eu ainda não
conheço ninguém que tenha feito uma promessa por ter sido cortado em
pedaços pela vara, ou retorcido pela gota, ou feito mais alto pela roda de
tortura.
4. Meu caro Lucílio, você deve distinguir entre estes casos; então você
compreenderá que há algo neles que é desejável. Eu prefiro estar livre da
tortura; mas se chegar o momento em que deva ser suportada, desejo que eu
possa conduzir-me com bravura, honra e coragem. É claro que eu prefiro
que a guerra não ocorra; mas se a guerra ocorrer, desejo que eu possa
suportar nobremente as feridas, a fome e tudo o que a exigência da guerra
traz. Nem estou tão louco quanto a desejar a doença; mas se eu tiver que
sofrer uma doença, desejo que eu não faça nada que mostre falta de
contenção, e nada que seja covarde. A conclusão é, não que as dificuldades
sejam desejáveis, mas que a virtude é desejável, pois nos permite
pacientemente suportar dificuldades.
5. Alguns de nossa escola pensam que, de todas essas qualidades, não é
desejável uma resistência intrépida, embora não seja desprezada, porque
devemos procurar pela oração unicamente o bem que é puro, pacífico e fora
do caminho dos problemas. Pessoalmente, eu não concordo com eles. E
porque? Primeiro, porque é impossível que qualquer coisa seja boa sem ser
também desejável. Porque, novamente, se a virtude é desejável, e se nada
que é bom carece de virtude, então tudo o que é bom é desejável. E,
finalmente, porque uma resistência corajosa mesmo sob tortura é desejável.
6. Neste ponto, eu lhe pergunto: a bravura não é desejável? No entanto, a
bravura despreza e desafia o perigo. A parte mais bela e admirável da
bravura é que ela não se acovarda da tortura, avança para encontrar
ferimentos, e às vezes nem evita a lança, mas recebe-a com o peito aberto.
Se a bravura é desejável, também é a resistência paciente da tortura; pois
isso é uma parte da bravura. Apenas filtre essas coisas, como sugeri; então
não haverá nada que possa confundir você. Pois não é a mera resistência à
tortura, mas a corajosa resistência, que é desejável. Eu, portanto, desejo a
resistência "corajosa"; e isso é virtude.
7. "Mas," você diz, "quem desejou tal coisa para si mesmo?" Algumas
orações são abertas e sinceras, quando os pedidos são oferecidos
especificamente; outras orações são expressas indiretamente, quando
incluem muitos pedidos sob um título. Por exemplo, desejo uma vida de
honra. Agora, uma vida de honra inclui vários tipos de conduta; pode
incluir o barril em que Régulo7 estava confinado, ou a ferida de Catão que
foi rasgada por sua própria mão, ou o exílio de Rutílio, ou a xícara de
veneno que removeu Sócrates da prisão para o céu. Consequentemente, ao
orar por uma vida de honra, ore também por aquelas coisas sem as quais,
em algumas ocasiões, a vida não pode ser honrada.
8. Oh três vezes e quatro vezes mais
Quem debaixo das altas muralhas de Tróia
Conheceu a morte feliz diante dos olhos dos pais!
O terque quaterque beati,
Quis ante ora patrura Troiae sub moenibus altis
Contigit oppetere!8
O que importa se você oferece esta oração para algum indivíduo, ou admite
que era desejável no passado?
9. Décio sacrificou-se pelo Estado; ele esporou seu cavalo e correu para o
meio do inimigo, buscando a morte. O segundo Décio, rivalizando com o
valor de seu pai, reproduzindo as palavras que se haviam tornado sagradas e
familiares, se atirou ao ponto de luta mais pesada, ansioso apenas por que
seu sacrifício pudesse trazer um presságio de sucesso, e considerando uma
morte nobre como uma coisa a ser desejada. Você duvida, então, se é
melhor morrer glorioso e realizar alguma ação de valor?
10. Quando alguém suporta tortura bravamente, está usando todas as
virtudes. A resistência talvez seja a única virtude que está a vista e mais
manifesta, mas a bravura está lá também, e resistência e resignação e
paciência são seus ramos. Lá, também, há planejamento; pois sem
planejamento nenhum projeto pode ser empreendido; é o planejamento que
aconselha alguém a suportar tão bravamente como possível as coisas que
não pode evitar. Há também firmeza, que não pode serdeslocada de sua
posição, que a ferramenta que nenhuma força pode fazer abandonar o seu
propósito. Existe toda a inseparável companhia das virtudes; cada ato
honrado é a obra de uma só virtude, mas está de acordo com o julgamento
de todo o concílio. E o que é aprovado por todas as virtudes, embora pareça
ser obra de um só, é desejável.
11. O quê? Você acha que essas coisas só são desejáveis as quais vêm a nós
em meio a prazer e facilidade, e que nós adornamos nossas portas em
acolhimento? Há certos bens cujas características são proibitivas. Há certas
orações que são oferecidas por uma multidão, não de homens que se
alegram, mas de homens que se curvam reverentemente e adoram.
12. Não foi assim que Régulo orou para que chegasse a Cartago? Vestir-se
com a coragem de um herói, e afastar-se das opiniões do homem comum.
Forme uma concepção apropriada da imagem da virtude, uma coisa que
excede a beleza e a grandeza; esta imagem não deve ser adorada por nós
com incenso ou guirlandas, mas com suor e sangue.
13. Eis que Marcos Catão, deitado sobre o peito santificado, suas mãos sem
mancha, e despedaçando as feridas que não foram suficientemente
profundas para matá-lo! Que, por favor, deveria dizer a ele: "Espero que
tudo seja como você quiser", e "Estou triste", ou "Boa fortuna em sua
empreitada"?
14. A este respeito, penso no nosso amigo Demétrio, que chama de
existência fácil, não perturbada pelos ataques da Fortuna, um "Mar Morto".
Se você não tem nada para despertá-lo e levá-lo à ação, nada que irá testar
sua resolução por suas ameaças e hostilidades; se você se reclina em
conforto inabalável, não é tranquilidade; é apenas uma calma rasa.
15. O estoico Átalo costumava dizer: "Eu prefiro que a Fortuna me
mantenha em seu acampamento em vez de no luxo, se sou torturado, mas
suporto corajosamente, tudo está bem, se morrer, mas morrer
corajosamente, também está bem." Ouça Epicuro; ele irá dizer-lhe que isso
é realmente agradável. Jamais aplicarei uma palavra afeminada a um ato tão
honroso e austero. Se eu for para a fogueira, devo ir invicto.
16. Por que não consideraria isto desejável – não porque o fogo me queime,
mas porque não me vença? Nada é mais excelente ou mais belo do que a
virtude; tudo o que fazemos em obediência às suas ordens é bom e
desejável.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
 
NOTAS:
7 Marco Atílio Régulo (299 a.C. – 246 a.C.; em latim: Marcus Atilius Regulus). Conta a tradição que
os cartagineses teriam enviado o ilustre prisioneiro a Roma para que ele convencesse seus
concidadãos a cederem à paz. O combinado era que, se ele não conseguisse fazê-lo, deveria retornar
a Cartago para ser executado. Régulo, ao invés de defender a paz, revelou aos romanos as condições
político-econômicas dos inimigos exortando-os a tentarem um último esforço, pois Cartago não
conseguiria resistir à pressão da guerra e seria derrotada. Ao término de seu discurso, honrando a sua
palavra, retornou para Cartago e foi torturado e executado. Aparentemente, a tortura infligida a
Régulo, que teve as pálpebras cortadas e, foi ser rolado morro abaixo dentro de um barril cheio de
pregos
8 Trecho de Eneida de Virgílio.
LXVIII. Sobre Sabedoria e Aposentadoria
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Eu me rendo ao seu plano; retirar-se e esconder-se em repouso. Mas ao
mesmo tempo esconda sua aposentadoria também. Ao fazer isso, você pode
ter certeza de que estará seguindo o exemplo dos estoicos, se não o seu
preceito. Mas você estará agindo de acordo com o seu preceito também;
assim satisfará tanto a si mesmo quanto a qualquer estoico que você quiser.
2. Nós estoicos não instamos os homens a assumir a vida pública em todos
os casos, ou em todos os momentos, ou sem qualquer reserva9. Além disso,
quando atribuímos ao nosso sábio o campo da vida pública que é digno
dele, ou seja, o universo, ele não está separado da vida pública, mesmo que
se retire; talvez, tenha abandonado apenas um pequeno canto e tenha
passado para regiões maiores e mais vastas; e quando é posto nos céus,
compreende quão humilde era o lugar em que se colocava quando sentava
na Cadeira Curul10 ou ao tribunal. Coloque isso no coração, o homem sábio
nunca é mais ativo nos negócios do que quando as coisas divinas, assim
como as coisas humanas, atingem seu âmbito de competência.
3. Volto agora ao conselho que estou determinado a lhe dar, – que você
mantenha sua aposentadoria em segundo plano. Não há necessidade de
prender um cartaz sobre si mesmo com as palavras: "Filósofo e Quietista."
Dê ao seu propósito algum outro nome; chame-o de má saúde e fraqueza
corporal, ou mera preguiça. Pois se vangloriar de nossa aposentadoria é
egoísmo vazio.
4. Certos animais escondem-se confundindo as marcas de suas pegadas na
redondeza de suas tocas. Você deveria fazer o mesmo. Caso contrário,
sempre haverá alguém perseguindo seus passos. Muitos homens passam por
aquilo que é visível, e perscrutam coisas ocultas e dissimuladas; uma sala
trancada convida o ladrão. As coisas que estão ao ar livre parecem baratas;
o arrombador passa pelo que está exposto à vista. Este é o caminho do
mundo, e o caminho de todos os homens ignorantes: eles desejam irromper
em coisas ocultas. Portanto, é melhor não se gabar da aposentadoria.
5. No entanto, é uma espécie de bazófia fazer muito de seu esconderijo e de
sua retirada da visão dos homens. Fulano de tal retirou-se em Taranto;
aquele outro homem se encerrou em Nápoles; esta terceira pessoa por
muitos anos não cruzou a soleira de sua própria casa. Anunciar a
aposentadoria é captar uma multidão.
6. Quando você se afasta do mundo, seu negócio é conversar consigo
mesmo, não ter homens falando sobre você. Mas o que você deve falar?
Faça exatamente o que as pessoas gostam de fazer quando falam sobre seus
vizinhos, – fale mal de si mesmo quando está sozinho; então você vai se
acostumar a falar e ouvir a verdade. Acima de tudo, no entanto, pondere
sobre o que você sente ser a sua maior fraqueza.
7. Cada homem conhece melhor os defeitos de seu próprio corpo. E assim
se alivia o estômago com o vômito, outro o alimenta com o comer
frequente, outro drena e purga seu corpo pelo jejum periódico. Aqueles
cujos pés são visitados pela dor abstêm-se do vinho ou do banho. Em geral,
os homens que são descuidados em outros aspectos saem de seu caminho
para aliviar a doença que frequentemente os aflige. Assim é com as nossas
almas; há nelas certas partes que estão, por assim dizer, na lista de doentes,
e para essas partes a cura deve ser aplicada.
8. O que, então, estou fazendo com o meu tempo livre? Estou tentando
curar minhas próprias feridas. Se eu lhe mostrasse um pé inchado, ou uma
mão inflamada, ou alguns tendões enrugados em uma perna murcha, você
me permitiria ficar quieto em um lugar e aplicar loções ao membro doente.
Mas meu problema é maior do que qualquer um destes, e eu não posso
mostrá-lo a você. O abcesso, ou úlcera, está profundamente dentro do meu
peito. Rezem, orem, não me elogiem, não digam: "Que grande homem,
aprendeu a desprezar todas as coisas, condenando as loucuras da vida do
homem, fugiu!" Não tenho condenado nada além de mim.
9. Não há nenhuma razão pela qual você deva desejar vir a mim com
objetivo de progredir. Você está enganado se você acha que vai receber
qualquer ajuda vinda deste lado; não é um médico que habita aqui, mas um
homem doente. Eu prefiro que você diga, ao deixar minha presença: "Eu
costumava pensar que ele era um homem feliz e erudito, e tinha aguçado os
ouvidos para ouvi-lo, mas tenho sido defraudado. Eu não vi nada, ouvi nada
do que ansiava e do que voltei para ouvir." Se você sentir assim, e falar
assim, algum progresso foi feito. Eu prefiro que você perdoe, em vez de
invejar a minha aposentadoria.
10. Então você diz: "É a aposentadoria, Sêneca, que você está
recomendando a mim? Você está cedendo sobre as máximas de Epicuro!"
Eu recomendo a aposentadoria para você, mas só que você pode usá-la para
atividades maiores e mais bonitas do que aquelas que você renunciou; bater
nas portas arrogantesdos influentes, fazer listas alfabéticas de velhos sem
filhos, exercer a mais alta autoridade na vida pública, – esse tipo de poder o
expõe ao ódio, é de curta duração e, se você o classifica em seu verdadeiro
valor, é de mau gosto.
11. Um homem estará muito adiante de mim quanto à sua influência na vida
pública, outro em salário como oficial do exército e na posição que resulta
disto, outro na multidão de seus clientes; mas vale a pena ser superado por
todos esses homens, contanto que eu mesmo possa superar a Fortuna. E eu
não sou oponente digno para ela na multidão; ela tem o maior apoio.
12. Que em dias anteriores você tivesse estado disposto para seguir este
propósito! Será que não estávamos discutindo a vida feliz à vista da morte!
Mas, mesmo agora, não tenhamos demora. Pois agora podemos tomar a
palavra da experiência, que nos diz que há muitas coisas supérfluas e hostis;
para isso deveríamos há muito tempo ter tomado a palavra da razão.
13. Façamos o que os homens costumam fazer quando estão atrasados em
começar, e desejam compensar o tempo perdido aumentando a sua
velocidade – vamos aplicar o esporão. Nossa idade atual é a melhor
possível para essas atividades; pois o período de ferver e espumar é agora
passado. As falhas que eram descontroladas no primeiro calor da juventude
estão agora enfraquecidas, e apenas mais um pouco de esforço é necessário
para extingui-las.
14. "E quando," você pergunta, "aquilo que você não aprende até a sua
partida, e como ela irá beneficiar você?" Precisamente desta maneira, que
eu vou partir um homem melhor. Você não precisa pensar, no entanto, que
qualquer momento da vida é mais equipado para a obtenção de uma mente
sã do que aquele que conquistou a si mesmo por muitas provações e por
muitos arrependimentos por erros do passado, e deve suas paixões
atenuadas, atingiu um estado de saúde. Este é realmente o momento de ter
adquirido este bem; aquele que alcançou a sabedoria em sua velhice,
alcançou-a por seus anos.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
 
NOTAS:
9 O estoicismo pregava "cidadania mundial", e isso foi interpretado de várias maneiras em diferentes
períodos. Os professores da Grécia viram nela uma oportunidade para uma cultura mais ampla; Os
romanos, uma missão mais prática, ou seja, atividade política.
10 Cadeira curul é um tipo de cadeira famosa por seu uso tradicional na Roma Antiga e na Europa
até o século XX. Em Roma, era o símbolo de poder político ou military. Foi adotada posteriormente
por reis de toda a Europa.
LXIX. Sobre estar quieto e Inquietação
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Eu não gosto que você mude sua sede e debande de um lugar a outro.
Minhas razões são, primeiro, que tal emigração frequente signifique um
espírito instável. E o espírito não pode, através do retiro, crescer em
harmonia, a menos que tenha cessado sua curiosidade e suas andanças. Para
ser capaz de manter seu espírito sob controle, você deve primeiro parar a
fuga constante do corpo.
2. A minha segunda razão é que os remédios que são mais úteis são aqueles
que não são interrompidos. Você não deve permitir que sua tranquilidade,
ou o esquecimento a que você consignou sua vida anterior, serem
penetrados. Dê a seus olhos tempo para desaprender o que eles viram, e
seus ouvidos para se acostumar a palavras mais saudáveis. Sempre que você
se move ao exterior você encontrará, mesmo quando passa de um lugar para
outro, coisas que trarão de volta seus anseios antigos.
3. Assim como aquele que tenta livrar-se de um amor antigo deve evitar
todo lembrete da pessoa que antes era querida (pois nada cresce tão
facilmente como o amor), da mesma forma, aquele que deixaria de lado o
seu desejo por todas as coisas que costumava desejar tão apaixonadamente,
deve afastar olhos e ouvidos dos objetos que abandonou. As emoções logo
retornam ao ataque;
4. Em cada turno elas vão notar diante de seus olhos um objeto digno de sua
atenção. Não há mal que não ofereça incentivos. A Avareza promete
dinheiro; Luxo, variado sortimento de prazeres; a Ambição, um manto roxo
e aplausos, e a influência que resulta dos aplausos, e tudo que essa
influência pode fazer.
5. Vícios o tentam pelas recompensas que oferecem; mas na vida de que
falo, você deve viver sem ser pago. Dificilmente bastará uma vida inteira
para subjugar nossos vícios e fazê-los aceitar o julgo, inchados por longas
indulgências; e ainda menos, se golpearmos nosso breve intervalo por
qualquer interrupção. Mesmo cuidado e atenção constantes dificilmente
podem trazer uma empreitada a conclusão completa.
6. Se você vai dar ouvidos ao meu conselho, pondere e pratique isso, –
como acolher a morte, ou mesmo, se as circunstâncias recomendarem esse
curso, convidá-la. Não há diferença se a morte vem a nós, ou se nós vamos
à morte. Faça-se crer que todos os homens ignorantes estão errados quando
dizem: "É uma coisa linda morrer a própria morte"11. Mas não há homem
que não morra sua própria morte. E mais, você pode refletir sobre este
pensamento: Ninguém morre exceto em seu próprio dia. Você está jogando
fora nada de seu próprio tempo; porque o que você deixa para trás não
pertence a você.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
 
NOTAS:
11 Talvez a ideia inversa de "viver a própria vida". Significa "morrer quando chega o devido tempo",
e é o argumento do homem comum contra o suicídio. Entretanto, talvez sugira o assunto da próxima
carta.
LXX. Sobre o momento adequado para
fazer a derradeira viagem
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Depois de um longo espaço de tempo, eu vi sua amada Pompéia. Fui
assim trazido de novo face a face com os dias da minha juventude. E me
pareceu que eu ainda podia fazer, não, que tinha feito há pouco tempo atrás,
todas as coisas que eu fiz lá quando jovem.
2. Navegamos ao largo da vida, Lucílio, como se estivéssemos em uma
viagem, e como no mar, para citar nosso poeta Virgílio:
As terras e as cidades são deixadas para trás
Terraeque urbesque recedunt,12
Mesmo assim, nesta jornada onde o tempo voa com a maior velocidade,
colocamos abaixo do horizonte primeiro a nossa infância e depois a nossa
juventude, e depois o espaço que se situa entre a juventude e a meia-idade e
as fronteiras em ambos e, em seguida, os melhores anos da própria velhice.
Por fim, começamos a ver a fronteira geral da raça humana.
3. Tontos que somos, acreditamos que este é um recife perigoso; mas é o
porto, onde devemos algum dia atracar, que nunca podemos recusar entrar;
e se um homem chegou a este porto em seus primeiros anos, não tem mais
direito de reclamar do que um marinheiro que fez uma viagem rápida. Pois
alguns marinheiros, como você sabe, são enganados e retidos por ventos
fracos, e ficam cansados e doentes da calma letargia; enquanto outros são
levados rapidamente para casa por ventos constantes.
4. Você pode considerar que a mesma coisa nos acontece: a vida levou
alguns homens com a maior rapidez para o porto, o porto qual eles eram
obrigados a alcançar, mesmo que eles demorassem no caminho, enquanto a
outros ela tem afligido e assediado. Pois a essa vida, como você sabe, nem
sempre devemos nos apegar. Pois meramente viver não é um bem, mas sim
viver bem. Por conseguinte, o sábio viverá o tempo que for necessário, não
tanto quanto puder.
5. Ele vai lembrar em que lugar, com quem, e como deve conduzir a sua
existência, e o que está prestes a fazer. Ele sempre reflete sobre a qualidade,
e não sobre a quantidade, de sua vida. Assim como há muitos eventos em
sua vida que lhe dão problemas e perturbam sua paz de espírito, ele se
liberta. E este privilégio é dele, não só quando a crise está sobre ele, mas
também quando a Fortuna parece estar o traindo; então ele olha com
cuidado e vê se deve ou não deve terminar sua vida por causa disso. Ele
sustenta que não faz diferença para ele se sua decolagem é natural ou auto
infligida, se ela vem mais tarde ou mais cedo. Ele não a considera com
medo, como se fosse uma grande perda; porque nenhum homem pode
perder muito quando ainda uma gotícula permanece.
6. Não se tratade morrer mais cedo ou mais tarde, mas de morrer bem ou
mal. E morrer bem significa escapar do perigo de viver mal. É por isso que
eu considero as palavras do conhecido Telésforo13 como as mais covardes.
Esta pessoa foi jogada em uma jaula por seu tirano, e alimentado lá como
algum animal selvagem. E quando um certo homem o aconselhou a pôr fim
à sua vida pelo jejum, ele respondeu: "Um homem pode esperar alguma
coisa enquanto tiver vida".
7. Isso pode ser verdade; mas a vida não é para ser comprada a qualquer
preço. Não importa quão grandes ou garantidas certas recompensas possam
ser, não me esforçarei para alcançá-las ao preço de uma vergonhosa
confissão de fraqueza. Devo acreditar que a Fortuna tem todo o poder sobre
a pessoa que vive, em vez de acreditar que ela não tem poder sobre alguém
que sabe como morrer?
8. No entanto, há momentos em que um homem, ainda que a morte certa
paire sobre ele e saiba que a tortura lhe está reservada, irá se abster de dar
uma mão à sua própria punição, entretanto, para si, daria uma mão. É
loucura morrer por medo de morrer. O carrasco está acerca de você; espere
por ele. Por que antecipar ele? Por que assumir a gestão de uma tarefa cruel
que pertence a outrem? Você inveja o privilégio de seu carrasco, ou
simplesmente o alivia de sua tarefa?
9. Sócrates poderia ter terminado sua vida jejuando; ele poderia ter morrido
por fome em vez de por veneno. Mas, em vez disso, passou trinta dias na
prisão esperando a morte, não com a ideia de "tudo pode acontecer", ou "tão
longo intervalo dá espaço para esperanças", mas para mostrar-se submisso
às leis e fazer seus últimos momentos uma edificação para seus amigos. O
que teria sido mais tolo do que desprezar a morte, e ainda temer veneno?
10. Escribonia, uma mulher do tipo severo, era uma tia de Drusus Libo14.
Este jovem era tão estúpido quanto bem-nascido, com ambições mais
elevadas do que qualquer pessoa poderia esperar nessa época, ou de um
homem como ele em qualquer época. Quando Libo foi removido do senado
em sua liteira, embora certamente com um grupo muito reduzido de
seguidores, pois todos os seus parentes o abandonaram, quando ele não era
mais um criminoso, mas apenas um corpo, ele começou a considerar se
deveria cometer suicídio ou aguardar a morte. Escribonia disse-lhe: "Que
prazer você tem em fazer o trabalho do outro?" Mas ele não seguiu seu
conselho; ele colocou mãos violentas sobre si mesmo. E estava certo, afinal,
pois quando um homem está condenado a morrer em dois ou três dias pelo
prazer de seu inimigo, ele estará realmente "fazendo a obra de outro
homem" se continuar a viver.
11. Portanto, não se pode fazer uma declaração geral sobre a questão se,
quando um poder além do nosso controle nos ameaça com a morte,
devemos antecipar a morte ou esperar por ela. Pois há muitos argumentos
para nos puxar em qualquer direção. Se uma morte é acompanhada pela
tortura, e a outra é simples e fácil, por que não agarrar a segunda? Assim
como seleciono o meu navio quando eu estou prestes a viajar ou minha casa
quando me proponho a tomar uma residência, então eu vou escolher a
minha morte quando estiver prestes a afastar-me da vida.
12. Além disso, assim como uma vida prolongada não significa
necessariamente uma melhor, uma morte prolongada significa
necessariamente uma situação pior. Não há ocasião em que a alma deva
estar em melhor disposição do que no momento da morte. Deixe a alma
partir ao se sentir impelida a ir; quer procure a espada, ou a forca, ou algum
veneno que ataca as veias, deixe-a prosseguir e arrebentar os laços de sua
escravidão. Todo homem deve tornar sua vida aceitável para os outros, além
de si mesmo, mas sua morte semente para si mesmo. A melhor forma de
morte é a que gostamos.
13. São tolos os que refletem assim: "Uma pessoa dirá que minha conduta
não foi corajosa o suficiente, outra, que era demasiado teimoso, um terceiro,
que um tipo particular de morte teria demostrado mais espírito". O que você
deve realmente refletir é: "O que tenho em consideração é um propósito
com o qual a opinião dos homens não tem nenhuma importância!" Seu
único objetivo deve ser escapar da Fortuna o mais rápido possível; caso
contrário, não haverá falta de pessoas que vão pensar mal do que você fez.
14. Você pode encontrar homens que professam a sabedoria e ainda assim
defendem que não se deve oferecer violência à própria vida, e consideram
anátema para um homem para ser o meio de sua própria destruição;
devemos esperar, dizem eles, pelo fim decretado pela natureza. Mas aquele
que diz isso não vê que está fechando o caminho para a liberdade. A melhor
coisa que a lei divina nos concedeu foi que nos permitiu uma entrada na
vida, mas muitas saídas.
15. Devo aguardar a crueldade da doença ou do homem, quando eu posso
partir em meio à tortura e livrar-me de meus problemas? Esta é a única
razão pela qual não podemos nos queixar da vida; ela não segura ninguém
contra a sua vontade. A humanidade está bem situada, porque nenhum
homem é infeliz, exceto por sua própria culpa. Viva, se assim desejar; se
não, você pode retornar ao lugar de onde veio.
16. Muitas vezes você foi medicado para aliviar dores de cabeça. Você teve
veias cortadas com a finalidade de reduzir o seu peso. Se você furar seu
coração, um ferimento escancarado não é necessário – um bisturi abrirá o
caminho para essa grande liberdade, e tranquilidade pode ser comprada ao
custo de uma picada de agulha. O que, então, nos torna preguiçosos e
indolentes? Nenhum de nós pensa que algum dia deva partir desta casa da
vida; exatamente como antigos inquilinos não se mudam por predileção por
um lugar particular e por costume, mesmo apesar de maus-tratos.
17. Você gostaria de estar livre da limitação de seu corpo? Viva nele como
se estivesse prestes a deixá-lo. Continue pensando no fato de que algum dia
você será privado dessa posse; então você será mais corajoso frente a
necessidade de partir. Mas como um homem tomará o pensamento de seu
próprio fim, se ele anseia todas as coisas sem fim?
18. E ainda não há nada tão essencial para considerarmos. Pois nossa
formação em outras coisas talvez seja supérflua. Nossas almas foram
preparadas para enfrentar a pobreza; mas nossas riquezas têm se mantido
firmes. Nós estamos munidos de armas para desprezar a dor; mas tivemos a
sorte de possuir corpos sadios e saudáveis, e por isso nunca fomos forçados
a pôr essa virtude à prova. Aprendemos a suportar corajosamente a perda
daqueles que amamos; mas a Fortuna nos preservou todos a quem amamos.
19. É nesta única questão que chegará o dia em que precisamos testar nosso
treinamento. Não precisa pensar que apenas os grandes homens tiveram a
força de romper os laços da servidão humana; você não precisa acreditar
que isso não possa ser feito senão por um Catão, – Catão, que com a mão
arrancou o espírito que não tinha conseguido liberar pela espada. Não,
homens da mais baixa sorte escaparam por um poderoso impulso e, quando
não lhes foi permitido morrer por sua própria conveniência, ou se escolher
os instrumentos da morte, arrebataram tudo o que estava disposto à mão, e
por pura força transformaram objetos que eram por natureza inofensivos em
armas próprias.
20. Por exemplo, ultimamente havia em uma escola de treinamento para
gladiadores de animais selvagens um alemão, que estava sendo preparando
para a exposição matinal; ele se retirou para se aliviar, – a única coisa que
lhe era permitido fazer em segredo e sem a presença de um guarda.
Enquanto estava assim ocupado, agarrou uma escova com cabo de madeira,
que era devotada aos mais vis usos, e a enfiou, suja como estava, em sua
garganta; assim ele bloqueou sua traqueia, e sufocou a respiração de seu
corpo. Isso foi verdadeiramente um insulto à morte!
21. Sim, é verdade, não foi uma maneira muito elegante ou conveniente de
morrer; mas o que é mais tolo do que ser minucioso sobre a morte? Que
corajoso! Ele certamente merecia ser autorizado a escolher seu destino!
Como bravamente ele teria empunhado uma espada! Com que coragem

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