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©2017 Copyright Montecristo Editora CARTAS DE UM ESTOICO, Volume II Um guia para a Vida Feliz Ad Lucilium Epistulae Morales Lucius Annaeus Sêneca Supervisão de Editoração/Capa Montecristo Editora Tradução Alexandre Pires Vieira Imagem da Capa fotografia do busto de Sêneca no Museo del Prado por Jean-Pol Grandmont ISBN: 978-1-61965-115-9 – Edição Digital 978-1-61965-116-6 – Edição Papel Montecristo Editora Ltda. e-mail: editora@montecristoeditora.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SÊNECA CARTAS DE UM ESTOICO, Volume II - Um guia para a Vida Feliz / Sêneca; seleção, introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. – São Paulo, SP : Montecristo Editora, 2017. Título original: Ad Lucilium Epistulae Morales mailto:editora%40montecristoeditora.com.br?subject=Direitos%20Humanos%20Idade%20M%C3%ADdia 1. Ética política 2. Filosofia antiga 3. Sêneca, ca. 4 a.C.-65 4. Sêneca, ca. 4 a.C.-65 – Crítica e interpretação I. Pires Vieira, Alexandre II. Título. 16-03288 CDD-188 Índices para catálogo sistemático: 1. Sêneca : Filosofia 188 Sumário Volume II - Cartas 66 a 92 Introdução – Nota do tradutor Sobre a tradução LXVI. Sobre vários aspectos da virtude LXVII. Sobre a doença e a resistência ao sofrimento LXVIII. Sobre Sabedoria e Aposentadoria LXIX. Sobre estar quieto e Inquietação LXX. Sobre o momento adequado para fazer a derradeira viagem LXXI. Sobre o Bem Supremo LXXII. Sobre os negócios como inimigo da filosofia LXXIII. Sobre Filósofos e Reis LXXIV. Sobre a Virtude como Refúgio de Distrações Mundanas LXXV. Sobre as Doenças da Alma LXXVI. Aprendendo Sabedoria na Idade Avançada LXXVII. Sobre Tomar a própria vida LXXVIII. Sobre o Poder Curativo da Mente LXXIX. Sobre as Recompensas da Pesquisa Científica LXXX. Sobre Decepções mundanas LXXXI. Sobre Favores e sua Retribuição LXXXII. Sobre o medo natural da morte LXXXIII. Sobre a embriaguez LXXXIV. Sobre recolher ideais LXXXV. Sobre Silogismos Vazios LXXXVI. Sobre a Vila de Cipião LXXXVII. Alguns argumentos em favor da vida simples LXXXVIII. Sobre estudos liberais e vocacionais LXXXIX. Sobre as Partes da Filosofia XC. Sobre o papel da Filosofia no Progresso do Homem XCI. Sobre a lição a ser aprendida do incêndio de Lião XCII. Sobre a vida feliz Bonus XCIII. Sobre a Qualidade da Vida quando contrastada com seu Comprimento Introdução – Nota do tradutor CARTAS DE UM ESTOICO -Volume II Um guia para a Vida Feliz Cartas 66 a 92 Poucos de nós nos consideramos filósofos. "Filosofia" costuma remeter a imagens de livros didáticos densos e discussões acadêmicas sem aplicação na vida real. Talvez possa ser divertido para catedráticos, mas seria certamente uma perda de tempo para o resto de nós. Eu também me senti assim por décadas. Então eu encontrei o trabalho de Lucius Annaeus Sêneca, mais conhecido como “Sêneca o Jovem” ou simplesmente "Sêneca". Nascido em de 4 a.C. na atual Espanha e criado em Roma, Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Ele teve que negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de filosofar da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o desastre, o exílio, saúde frágil e a condenação à morte tanto por Calígula como por Nero (esse último com sucesso). Sêneca correu riscos e teve grandes feitos. Sua principal filosofia, o estoicismo, foi fundada em torno de 300 a.C. em Atenas e pode ser encarada como um sistema para prosperar em ambientes de alto estresse. Em seu núcleo, ensina como separar o que você pode controlar do que não pode e o treina para se concentrar exclusivamente no primeiro. O estoicismo foi projetado para os realizadores, e você estará bem acompanhado como estudante. Thomas Jefferson tinha Sêneca na mesa de cabeceira. Michel de Montaigne tinha uma citação de Epicteto esculpida no teto de sua casa para que ele a visse constantemente. Todos os anos, Bill Clinton lê Meditações de Marco Aurélio, que foi ao mesmo tempo um estoico, imperador e o homem mais poderoso do mundo. Mas longe de se limitar em superar o negativo, o estoicismo também pode ser usado para maximizar o positivo. A filosofia de Sêneca aborda a busca da felicidade, a preparação para a morte, as desilusões, a amizade e levanta uma das principais questões humanas: como conjugar qualidade de vida e tempo escasso. Leitores do século XXI serão surpreendidos por lições como: "A duração de minha vida não depende de mim. O que depende é que não percorra de forma pouco nobre as fases dessa vida; devo governá-la, e não por ela ser levado"; "Pobre não é o homem que tem pouco, mas o homem que anseia por mais”; “Qual é o limite adequado para a riqueza? É, primeiro, ter o que é necessário, e, segundo, ter o que é suficiente". Ou ainda: "Não deixemos nada para mais tarde. Acertemos nossas contas com a vida dia após dia". Eis a essência em alguns trechos, na Carta 18 – Sobre festivais e jejum1: “reserve um certo número de dias, durante os quais você se contentará com a alimentação mais barata e escassa, com vestes grosseiras e ásperas, dizendo a si mesmo: "É esta a situação que eu temia?" É precisamente em tempos despreocupados que a alma deve endurecer-se de antemão para ocasiões de maior estresse, e é enquanto a fortuna é amável que se deve fortalecer contra violência. Em dias de paz, o soldado executa manobras, lança obras de terraplenagem sem inimigo à vista, e se exercita, a fim de se tornar indiferente à labuta inevitável. Se você não quer que um homem recue quando a crise chegar, treine-o antes que ela chegue. . . . Deixe a cama de palha ser real e o manto grosseiro; deixe o pão ser duro e sujo. Resista a tudo isso por três ou quatro dias por vez, às vezes por mais, para que possa ser um teste de si mesmo em vez de um mero passatempo. Então, asseguro-lhe, meu querido Lucílio, que saltará de alegria quando obtiver uma migalha de comida, e compreenderá que a paz de espírito de um homem não depende da fortuna; pois, mesmo quando irritada ela concede o suficiente para as nossas necessidades. As cartas de Sêneca podem ser interpretadas como um guia prático para frugalidade e como contentar-se com o suficiente. A prática do estoicismo torna você menos emocionalmente reativo, mais consciente do presente e mais resiliente. À medida que você navega na vida, esse tipo de treinamento de força mental também facilita as decisões difíceis, seja desistir de um emprego, fundar uma empresa, convidar alguém para sair, terminar um relacionamento ou qualquer outra coisa. Então, por onde começar? Existem muitas grandes mentes no panteão estoico, incluindo Marco Aurélio, Epicteto e Catão. Penso, porém, que Sêneca se destaca como fácil de ler, memorável e surpreendentemente prático. Ele aborda aspectos específicos que vão desde como agir frente à calúnia e à traição, até o jejum, o exercício, a riqueza e a morte. Principalmente a morte e como se preparar para ela. Sugiro que você se aproxime desse livro é da maneira como me aproximei: faça do Sêneca parte da sua rotina diária. Reserve 15 minutos por dia e leia uma carta. Seja no café pela manhã, antes de dormir, ou em algum lugar intermediário, tente digerir uma carta diariamente. Sinta-se à vontade para saltar e retornar. Três das minhas cartas favoritas neste volume podem ajudá-lo a começar: Carta 78 – Sobre o Poder Curativo da Mente1, Carta 82 – Sobre o medo natural da morte2 e Carta 92 – Sobre a vida feliz3. Sobre a tradução Meu interesse pelo estoicismo em geral e Sêneca em particular foi despertado ao ler Antifrágil por Nassim Nicholas Taleb, onde o badalado autor cita Sêneca inúmeras vezes e usa seu nome em dois capítulos do livro4. Posteriormente notei referências a Sêneca em vários outros autores modernos, indo de acadêmicos renomados, passando por podcasters definanças pessoais até gurus de autoajuda. Decidi então ler as 124 cartas de Sêneca a Lucílio – considerada a principal obra de Sêneca. São cartas destinadas ao seu amigo Lucílio com o propósito explícito de orientar sua formação espiritual segundo os preceitos e princípios do Estoicismo, contendo todo o seu entendimento sobre filosofia. Porém, surpreendentemente, somente encontrei duas obras incompletas em português: “Sêneca - Aprendendo A Viver”5 uma coletânea de 24 cartas selecionadas pela L&PM, e, “Edificar-se Para a Morte. Das Cartas Morais de Lucílio”6 coletânea de 22 cartas selecionadas pela editora Vozes. A disponibilidade de apenas poucas cartas em português foi para mim inaceitável, o que motivou tradução completa das 124 epístolas. Sêneca diz na carta 33: ...desista de acreditar que possa desnatar, por meio de resumos, a sabedoria de homens ilustres. Olhe para a sabedoria como um todo; estude-a como um todo. Ela elabora um plano coesamente tecido, linha a linha, uma obra-prima, da qual nada pode ser tirado sem ferir o todo. Examine as partes separadas, se quiser, desde que você as examine como partes do próprio homem. Aquela não é uma bela mulher cujo tornozelo ou braço é elogiado, mas cuja aparência geral faz você esquecer de admirar atributos únicos. A tradução foi baseada em várias versões em inglês todas fundamentadas no trabalho de Otto Hense. A leitura das seguintes obras foi fundamental para a conclusão deste trabalho: 1. “Moral Letters to Lucilius by Seneca” por Richard Mott Gummere10; 2. Reading Seneca: Stoic Philosophy at Rome por Brad Inwood7; 3. A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy8 por William Braxton Irvine; 4. Seneca - Selected Letters por Elaine Fantham9 Poucas observações sobre a tradução são necessárias. No latim, o uso da segunda pessoa é natural para expressar a relação de proximidade e familiaridade. Nas traduções referidas anteriormente os editores decidiram também usar a segunda pessoa. Contudo, no português atual, principalmente no Brasil, o uso da terceira pessoa me parece mais adequado à intenção de Sêneca, que ensinava filosofia a um amigo, como consequência toda a tradução foi feita em terceira pessoa. As cartas são ilustradas por inúmeras citações literárias de Virgílio, também são citados outros poetas e autores latinos. Sempre que possível foi colocado o original em Latim bem como uma tradução bastante livre vertida do inglês, desde já peço perdão aos leitores pela falta de poesia nas versões. Algumas escolhas lexicais devem ser esclarecidas. “fortuna/fortunae”, para o autor latino, se assemelha à nossa “sorte” ou “destino”, mas era também uma divindade: o nome comum e o nome próprio são dificilmente distinguíveis nas cartas, portanto, decidi usar sempre “fortuna”. O termo latino “anima/aninus” costuma ser traduzido por “alma” em português. Nesta tradução segui termo usado em inglês e o traduzi por “mente” ou “força vital”. Todas as cartas iniciam com a “Seneca Lvcilio svo salvtem”, Saudações de Sêneca a Lucílio e terminam com “Vale” que muito frequentemente é traduzido como “Adeus”. Talvez fosse melhor traduzido de outras maneiras, e minha forma favorita é: Mantenha-se forte. Que este livro o sirva como amigo, professor e companheiro no caminho. Espero que gostem do passeio tanto quanto eu, Alexandre Pires Vieira Viena, Novembro de 2017 Sobre o autor Lúcio Aneu Sêneca, em latim: Lucius Annaeus Seneca, é conhecido também como Sêneca, o jovem ou o filósofo. Nasceu em Córdoba, aproximadamente em 4 a.C. Era de família abastada, que se transferiu para Roma quando ele ainda era criança. Muito jovem, Sêneca estudou com o estoico Átalo e com os neopitagóricos Sótion de Alexandria e Papírio Fabiano, discípulos do filósofo romano Quinto Séxtio. Provavelmente por motivos de saúde, Sêneca mudou-se, por volta de 20 d.C., para Alexandria, no Egito, de onde retornou a Roma em 31. Aos quarenta anos iniciou carreira como orador e político, tendo rapidamente sido eleito para o senado. Em Roma, estabeleceu vínculos com as irmãs do imperador Calígula: Livila, Drusila e Agripina Menor, mãe do futuro imperador Nero. Sendo figura destacada no senado e no ambiente palaciano, foi envolvido numa conjuração contra Calígula. Sêneca diz que se livrou da condenação à morte por sofrer de uma doença pulmonar (provavelmente asma). Assim, por intercessão de aliados, Calígula foi convencido que ele estaria condenado a uma morte natural iminente. Com o assassinato de Calígula em 41, Sêneca tornou-se alvo de Messalina, esposa do imperador Cláudio, num confronto entre esta e as irmãs de Calígula. Acusado de manter relações adúlteras com Livila, foi condenado à morte pelo Senado. Por intervenção do próprio imperador, a pena foi comutada em exílio na ilha de Córsega. O exílio durou oito anos, período em que o filósofo se dedicou aos estudos e à composição de inúmeras obras. Em 49 d.C. Agripina, então a nova esposa do imperador Cláudio, possibilitou o retorno de Sêneca e o instituiu como preceptor de seu filho Nero, então com doze anos. Após a morte de Cláudio em 54, Nero foi nomeado seu sucessor e Sêneca tornou-se o principal conselheiro do jovem imperador. No entanto, o conflito de interesses envolvendo, de um lado, Agripina e seus aliados e de outro, conselheiros de Nero, os quais, por sua vez, se opunham a Sêneca, levou a uma crise que resultou na morte de Agripina e no gradual enfraquecimento político de Sêneca. Em 62, Sêneca solicitou a Nero para se afastar totalmente das funções públicas, contudo o pedido foi negado. De toda forma, alegando saúde precária, Sêneca passou a se dedicar ao ócio, ou seja, à leitura e à escrita. Sua relação com Nero deteriorou-se principalmente pelo prestígio do filósofo no meio político e intelectual, onde era visto como um possível governante ideal. No início de 65, foi envolvido em uma conjuração para derrubar o imperador e foi condenado à morte por suicídio, morreu em 19 de abril. Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Sêneca teve que negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de filosofar da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o desastre, o exílio, a saúde frágil e a condenação à morte. Sêneca correu riscos e teve grandes feitos. Obras filosóficas de Sêneca: Cartas de um Estoico, Vol I (Epistulae morales ad Lucilium) Cartas de um Estoico, Vol II Cartas de um Estoico, Vol III Sobre a Ira (De Ira) Consolação a Márcia (Ad Marciam, De consolatione) Consolação a Minha Mãe Hélvia (Ad Helviam matrem, De consolatione) Consolação a Políbio (De Consolatione ad Polybium) Sobre a Brevidade da vida(De Brevitate Vitae) Da Clemência (De Clementia) Sobre Constância do sábio (De Constantia Sapientis) A Vida Feliz (De Vita Beata) http://www.montecristoeditora.com.br/?sort=&list=list&filter%5Bname%5D=&filter%5B7%5D%5B0%5D=4#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/97816196511-7-cartas-de-um-estoico-volume-i#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965115-9-cartas-de-um-estoico-volume-ii#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965117-3-cartas-de-um-estoico-volume-iii#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965126-5-sobre-a-ira#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651814-consola%C3%A7%C3%A3o-a-m%C3%A1rcia#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965123-4-consola%C3%A7%C3%A3o-a-minha-m%C3%A3e-h%C3%A9lvia#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651821-consola%C3%A7%C3%A3o-a-pol%C3%ADbio#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965125-8-sobre-a-brevidade-da-vida#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965130-2-da-clem%C3%AAncia#wbStoreElementwb_element_instance7http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651791-sobre-a-const%C3%A2ncia-do-s%C3%A1bio#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/978161965129-6-a-vida-feliz#wbStoreElementwb_element_instance7 Sobre os Benefícios (De Beneficiis) Sobre a Tranquilidade da alma (De Tranquillitate Animi) Sobre o Ócio (De Otio) Sobre a Providência Divina (De Providentia) Sobre a Superstição (De Superstitione) perdida, citada por Santo Agostinho. Além de filosofia, Sêneca escreveu também Tragédias e peças de teatro, bastante populares em sua época: Hércules furioso (Hercules furens) As Troianas (Troades) As Fenícias (Phoenissae) Medeia (Medea) Fedra (Phaedra) Édipo (Oedipus) Agamemnon Tiestes (Thyestes) Hércules no Eta (Hercules Oetaeus) NOTAS: 1 Carta 78 – Sobre o Poder Curativo da Mente. 2 Carta 82 – Sobre o medo natural da morte. 3 Carta 92 – Sobre a vida feliz. 4 Capítulo 10 e 11”As vantagens e desvantagens de Sêneca” e “A estratégia Barbell de Sêneca” - Antifrágil 5 Sêneca - Aprendendo A Viver 6 Edificar-se Para a Morte. Das Cartas Morais de Lucílio 7 Reading Seneca: Stoic Philosophy at Rome 8 A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy 9 Seneca - Selected Letters 10 Moral Letters to Lucilius http://www.montecristoeditora.com.br/978161965164-7-sobre-os-benef%C3%ADcios#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651784-sobre-a-tranquilidade-da-alma#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651838-sobre-o-%C3%B3cio#wbStoreElementwb_element_instance7 http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651845-sobre-a-provid%C3%AAncia-divina#wbStoreElementwb_element_instance7 https://www.amazon.com/gp/product/8576846136/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=8576846136&linkId=298185c9055d8e77c14670d091a77f62 https://www.amazon.com/gp/product/8525417181/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=8525417181&linkId=7c7ee96a89309ea2d8f4efb5307a8ff5 https://www.amazon.com/gp/product/8532652662/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=8532652662&linkId=4b613b57d5ad8ef687a2d7329a941c21 https://www.amazon.com/gp/product/B0029F1T0O/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=B0029F1T0O&linkId=5caf487ba3d9f1fe302833c98ec01253 https://www.amazon.com/gp/product/0195374614/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=0195374614&linkId=4855db5d183c5dcafe37ca774544adc5 https://www.amazon.com/gp/product/B006Q7YULG/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=B006Q7YULG&linkId=865dad12ac58957cdee6c17e863709f1 https://www.amazon.com/gp/product/1536965537/ref=as_li_tl?ie=UTF8&tag=monteceditor-20&camp=1789&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=1536965537&linkId=153820cf54a3ddbbb70f69e92f17b13c LXVI. Sobre vários aspectos da virtude Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Acabei de ver meu ex-colega de escola, Clarano, pela primeira vez em muitos anos. Você não precisa esperar que acrescente que ele é um homem velho; Mas asseguro-lhe que o encontrei são em espírito e robusto, embora ele esteja lutando com um corpo frágil e fraco. Pois a Natureza agiu de forma injusta quando lhe deu um pobre domicílio para uma alma tão rara; ou talvez fosse porque ela queria nos provar que uma mente absolutamente forte e feliz pode estar escondida sob qualquer exterior. Seja como for, Clarano supera todos esses obstáculos, e por desprezar seu próprio corpo chegou a um estágio onde ele pode desprezar outras coisas também. 2. O poeta que cantou: Valor mostra mais agradável em uma forma que é justa gratior et pulchro veniens e corpore virtus. 1 Está, na minha opinião, enganado. Pois a virtude não precisa de nada para compensá-la; é sua própria glória, e santifica o corpo em que habita. De qualquer modo, comecei a considerar Clarano sob uma luz diferente; ele parece-me simpático, e bem construído tanto em corpo como na mente. 3. Um grande homem pode nascer em um casebre; assim pode uma linda e grande alma em um corpo feio e insignificante. Por esta razão a natureza parece criar alguns homens deste selo com a ideia de provar que a virtude nasce em qualquer lugar. Se tivesse sido possível produzir almas sozinhas e nuas, ela o teria feito; como é fato, a natureza faz uma coisa ainda maior, pois ela produz certos homens que, embora impedidos em seus corpos, ainda assim rompem a obstrução. 4. Creio que Clarano foi produzido como um padrão, para que possamos entender que a alma não é desfigurada pela feiura do corpo, mas pelo contrário, que o corpo é embelezado pela beleza da alma. Agora, apesar de Clarano e eu temos passados muitos poucos dias juntos, temos, no entanto, muitas conversas, que vou em seguida verter e transmitir para você. 5. O primeiro dia em que investigamos esse problema: como os bens podem ser iguais se forem de três tipos2? Pois alguns deles, de acordo com os nossos princípios filosóficos, são primários, como a alegria, a paz e o bem- estar de um país. Outros são de segunda ordem, moldados de um material infeliz, como a resistência ao sofrimento e o autocontrole durante uma doença grave. Rezaremos abertamente pelos bens da primeira classe; para a segunda classe, oraremos somente se a necessidade surgir. Há ainda uma terceira variedade, como, por exemplo, um andar modesto, um semblante calmo e honesto, e um comportamento que se adapte ao homem de sabedoria. 6. Agora, como podem estas coisas ser iguais quando as comparamos, se você conceder que devemos orar por um e evitar o outro? Se fizermos distinções entre eles, devemos retornar ao Primeiro Bem, e considerar qual é a sua natureza: a alma que olha para a verdade, que é hábil no que deve ser buscado e no que deve ser evitado, estabelecendo padrões de valor não de acordo com a opinião, mas de acordo com a natureza, – a alma que penetra o mundo inteiro e dirige seu olhar contemplativo sobre todos os seus fenômenos, prestando atenção estrita aos pensamentos e ações, igualmente grande e vigorosa, superior às dificuldades e as lisonjas, cedendo a nem dos extremos da fortuna, acima de todas as bênçãos e aflições, absolutamente linda, perfeitamente equipada com graça, bem como com força, saudável e vigorosa, imperturbável, nunca consternada , que nenhuma violência possa destruir, uma que os acaso não podem exaltar nem deprimir – uma alma como esta é a própria virtude. 7. Lá você tem a sua aparência externa, se nunca deve vir sob um único aspecto e mostrar-se uma vez em toda a sua integridade. Mas há muitos aspectos disso. Desdobram-se de acordo com a vida e ações; mas a própria virtude não se torna menor ou maior. Pois o Bem Supremo não pode diminuir, nem a virtude retroceder; em vez disso, é transformada, agora em uma qualidade e agora em outra, moldando-se de acordo com a função que está a desempenhar. 8. Tudo o que toca leva à semelhança consigo mesmo, e tinge com sua própria cor. Adorna nossas ações, nossas amizades e, às vezes, casas inteiras que entrou e pôs em ordem. O que seja o que for que tenha tocado imediatamente torna-o amável, notável, admirável. Portanto, o poder e a grandeza da virtude não podem elevar-se a alturas maiores, porque o incremento é negado àquilo que é superlativamente grande. Você não encontrará nada mais reto do que o reto, nada mais verdadeiro do que a verdade, e nada mais temperado do que o que é temperado. 9. Toda virtude é ilimitada; pois limites dependem de medições definidas. A constância não pode avançar mais do que a fidelidade, a veracidade ou a lealdade. O que pode ser acrescentado ao que é perfeito? Nem se pode acrescentar nada à virtude, pois, se alguma coisa puder ser acrescentada a ela, seria necessária alguma imperfeição. Honra, também, não permite adição; pois é honrado por causa das mesmas qualidades que mencionei. E então? Vocêacha que a correção, a justiça, a legalidade, também não pertencem ao mesmo tipo, e que elas são mantidas dentro de limites fixos? A capacidade de melhorar é a prova de que uma coisa ainda é imperfeita. 10. O bem, em todos os casos, está sujeito a essas mesmas leis. A vantagem da situação e do indivíduo estão juntas; na verdade, é tão impossível separá- los quanto separar o louvável do desejável. Portanto, as virtudes são mutuamente iguais; e assim são as obras da virtude, e todos os homens que são tão afortunados de possuir essas virtudes. 11. Mas, como as virtudes das plantas e dos animais são perecíveis, são também frágeis, passageiras e incertas. Elas brotam, e elas afundam novamente, e por isso não são avaliadas ao mesmo valor; mas às virtudes humanas apenas uma regra se aplica. Pois a razão correta é única e de um só tipo. Nada é mais divino do que o divino, ou mais celestial do que o celestial. 12. As coisas mortais decaem, caem, são desgastadas, crescem, são esgotadas, e reabastecidas. Assim, no caso delas, em vista da incerteza de sua fortuna, há desigualdade; mas das coisas divinas a natureza é única. A razão, entretanto, não é nada mais do que uma porção do espírito divino colocado em um corpo humano. Se a razão é divina, e o bem nunca carece de razão, então o bem é sempre divino. E além disso, não há distinção entre as coisas divinas; consequentemente também não existe nenhum entre bens. Daí resulta que a alegria e uma corajosa e obstinada resistência à tortura são bens equivalentes; pois em ambos há a mesma grandeza de alma descontraída e alegre em um caso, no outro um combativo e pronto para a ação. 13. O quê? Você não acha que a virtude daquele que bravamente ataca a fortaleza do inimigo é igual à daquele que sofre um cerco com a maior paciência? Grande é Cipião quando ele cerca Numância, e constrange e compele as mãos de um inimigo, que ele não poderia conquistar, para lançar mão à sua própria destruição3. Grande também são as almas dos defensores – homens que sabem que, enquanto o caminho para a morte está aberto, o cerco não é completo, os homens que respiram até o fim nos braços da liberdade. Do mesmo modo, as outras virtudes também são iguais entre si: tranquilidade, simplicidade, generosidade, constância, equanimidade, resistência. Porque subjacente a todas elas há uma única virtude – o que torna a alma reta e inabalável. 14. "O que então", você diz; "Não há diferença entre a alegria e a obstinada resistência à dor?" De forma alguma, não em relação às próprias virtudes; muito grande, no entanto, nas circunstâncias em que uma dessas duas virtudes é exibida. Em um caso, há um relaxamento natural e afrouxamento da alma; no outro há uma dor não natural. Daí que estas circunstâncias, entre as quais uma grande distinção pode ser estabelecida, pertencem à categoria de coisas indiferentes, mas a virtude mostrada em cada caso é igual. 15. A virtude não é alterada pela questão com a qual trata; se a matéria é dura e teimosa, não piora a virtude; se agradável e alegre, não a torna melhor. Portanto, a virtude permanece necessariamente igual. Pois, em cada caso, o que se faz é feito com igual retidão, com igual sabedoria e com igual honra. Assim, os estados de bondade envolvidos são iguais, e é impossível para um homem ultrapassar esses estados de bondade, por conduzir-se melhor, seja o um homem em sua alegria, ou o outro em meio a seu sofrimento. E dois bens, que nenhum dos quais possa ser melhor que o outro, são iguais. 16. Pois se as coisas que são extrínsecas à virtude podem diminuir ou aumentar a virtude, então o que é honroso deixa de ser o único bem. Se você aceitar isso, a honra perece completamente. E porque? Deixe-me dizer-lhe: é porque nenhum ato é honrado quando é feito por um agente involuntário, quando é obrigatório. Cada ato honorável é voluntário. Misture-o com relutância, queixas, covardia ou medo, e perde sua melhor característica – auto aprovação. O que não é livre não pode ser honrado; pois medo significa escravidão. 17. O honorável está totalmente livre da ansiedade e é calmo; se alguma vez objeta, lamenta ou considera qualquer coisa como um mal, torna-se sujeito a perturbação e começa a chafurdar em meio a grande confusão. Pois, de um lado, a aparência de correção o atrai, por outro, a suspeita do mal o arrasta para trás, portanto, quando um homem está prestes a fazer algo honorável, ele não deve considerar quaisquer obstáculos como infortúnios, embora os considere como inconvenientes, mas ele deve querer fazer a ação, e fazê-la de boa vontade. Pois todo ato honorável é feito sem ordens ou coação; é puro e não contém mistura de mal. 18. Eu sei o que você pode me responder neste momento: "Você está tentando fazer-me acreditar que não importa se um homem sente a alegria, ou se encontra-se sob tortura e esgota seu torturador?" Poderia dizer em resposta: "Epicuro também sustenta que o sábio, embora esteja sendo queimado no touro de Fálaris4, clamará:" É agradável, e não me preocupa em absoluto. "Por que você precisa se admirar, se eu afirmo que aquele que repousa num banquete e a vítima que resiste firmemente à tortura possuem bens iguais, quando Epicuro mantém uma coisa que é mais difícil de acreditar, ou seja, que é agradável ser assado desta maneira? 19. Mas a resposta que eu dou, é que há grande diferença entre alegria e dor; se me pedem para escolher, vou procurar a primeira e evitar a última. A primeira está de acordo com a natureza, a segunda é contrária a ela. Enquanto são classificados por este padrão, há um grande abismo entre elas; mas quando se trata de uma questão da virtude envolvida, a virtude em cada caso é a mesma, quer venha através da alegria ou através da tristeza. 20. A vexação, a dor e outros inconvenientes não têm consequências, pois são vencidos pela virtude. Assim como o brilho do sol escurece todas as luzes menores, assim a virtude, por sua própria grandeza, quebra e abranda todas as dores, aborrecimentos e erros; e onde quer que seu brilho chegue, todas as luzes que brilham sem a ajuda da virtude são extintas; e os inconvenientes, quando entram em contato com a virtude, não desempenham um papel mais importante do que uma nuvem de tempestade no mar. 21. Isto pode ser provado para você pelo fato que o bom homem apressar- se-á sem hesitação a qualquer ação nobre; mesmo que seja confrontado com o carrasco, o torturador e o pelourinho, ele persistirá, não quanto ao que ele deve sofrer, mas quanto ao que deve fazer; e desempenhará tão prontamente a uma ação honrosa quanto a um homem bom; ele o considerará vantajoso para si mesmo, seguro e propício. E ele manterá o mesmo ponto de vista sobre uma ação honrosa, ainda que seja carregada de tristeza e dificuldades, como sobre um homem bom que é pobre ou desperdiçado no exílio. 22. Agora, compare um bom homem extremamente rico com um homem que não tem nada, exceto que em si mesmo tem todas as coisas; eles serão igualmente bons, embora experimentem fortuna desigual. Este mesmo padrão, como tenho observado, deve ser aplicado tanto às coisas quanto aos homens; a virtude é tão louvável se ela habita num corpo sadio e livre, como em alguém que está doente ou em escravidão. 23. Portanto, quanto à sua própria virtude, não a louvará mais, se a fortuna a favorecer, concedendo-lhe um corpo sadio, do que se a fortuna lhe der um corpo que é mutilado em algum membro, pois isso significaria classificar inferiormente um mestre porque ele está vestido como um escravo. Pois todas aquelas coisas sobre as quais a fortuna tem influência, bens materiais, dinheiro, posses, posição; elas são fracas, inconstantes, propensas a perecer, e de posse incerta. Por outro lado, as obras da virtude são livres e insubmissas, nem mais dignas de ser procuradas quando a fortuna as trata com bondade, nem menos digna quando alguma adversidade pesa sobre elas. 24. A amizade no caso dos homens corresponde à desejabilidade no caso das coisas. Você não gostaria, eu imagino, de amar um bom homem, se ele fosse rico, maisdo que se fosse pobre, e não amaria uma pessoa forte e musculosa mais do que uma pessoa delgada e de constituição delicada. Assim, nem procurará nem amará uma coisa boa que seja divertida e tranquila mais do que uma que é cheia de perplexidade e labuta. 25. Ou, se você fizer isso, você vai, no caso de dois homens igualmente bons, gostar mais de quem é limpo e bem-asseado do que daquele que é sujo e despenteado. Você chegaria ao ponto de se importar mais com um homem bom que é são em todos os seus membros e sem defeito, do que com alguém que é fraco ou cego; e gradualmente sua exigência alcançaria tal ponto que, de dois homens igualmente justos e prudentes, você escolheria aquele que tem cabelos longos e ondulados! Sempre que a virtude em cada um é igual, a desigualdade em seus outros atributos não é aparente. Pois todas as outras coisas não são partes, mas apenas acessórios. 26. Qualquer homem julgaria seus filhos de modo tão injusto a fim de se preferir mais um filho saudável do que um doente, ou a um filho alto, de estatura incomum, mais do que a outro de pouca ou de baixa estatura? Os animais selvagens não mostram nenhum favoritismo entre sua prole; eles se deitam para amamentar todos igualmente; aves fazem a distribuição justa de seus alimentos. Ulisses apressa-se de volta às rochas de sua Ítaca tão ansiosamente quanto Agamenon acelera até as majestosas muralhas de Micenas. Porque nenhum homem ama a sua terra natal porque é grande; ele a ama porque é sua. 27. E qual é o propósito de tudo isso? Que você saiba que a virtude considera todas as suas obras sob a mesma luz, como se fossem seus filhos, mostrando a mesma bondade a todos e ainda mais profunda bondade para aqueles que encontram dificuldades; pois mesmo os pais inclinam-se com mais afeição para filhos de quem sentem piedade. A virtude, também, não necessariamente ama mais profundamente aquelas de suas obras que vê em problemas e sob pesados fardos, mas, como bons pais, ela lhes dá mais de seus cuidados de acolhimento. 28. Por que nenhum bem é maior do que qualquer outro bem? É porque nada pode ser mais apropriado do que aquele que é apropriado, e nada mais nivelado do que aquilo que está nivelado. Você não pode dizer que uma coisa é mais igual a um objeto determinado do que outra coisa; daí também nada é mais honrado do que aquilo que é honroso. 29. Assim, se todas as virtudes são iguais por natureza, as três variedades de bens são iguais. Isto é o que quero dizer: há uma igualdade entre sentir alegria com autocontrole e sofrer dor com autocontrole. A alegria em um caso não ultrapassa no outro a firmeza da alma que afoga o gemido quando está nas garras do torturador; são desejáveis os bens do primeiro tipo, enquanto os do segundo são dignos de admiração; e, em cada caso, não são menos iguais, porque qualquer inconveniente atribuído a este último é compensado pelas qualidades do bem, que é muito maior. 30. Qualquer homem que os julgue desiguais está se afastando das próprias virtudes e está examinando meras exterioridades; os bens verdadeiros têm o mesmo peso e a mesma largura. O tipo espúrio contém muito vazio; portanto, quando são pesados, percebemos sua deficiência, embora pareçam imponentes e grandiosos ao olhar. 31. Sim, meu caro Lucílio, o bem que a verdadeira razão aprova é sólido e eterno; fortalece o espírito e exalta-o, para que ele esteja sempre nas alturas; Mas as coisas que são irrefletidamente elogiadas, e são bens na opinião da multidão meramente nos enchem de alegria vazia. e, novamente, aquelas coisas que são temidas como se fossem males apenas inspiram ansiedade na mente dos homens, pois a mente é perturbada pela aparência do perigo, assim como os animais também o são perturbados. 32. Portanto, é sem razão que ambas as coisas distraem e picam o espírito; um não é digno de alegria, nem o outro de medo. Somente a razão é imutável e se apega a suas decisões. Pois a razão não é um escrava dos sentidos, mas uma governante sobre eles. A razão é igual à razão, como uma linha reta para outra; portanto, a virtude também é igual à virtude. A virtude não é nada mais do que razão correta. Todas as virtudes são razões. As razões são razões, se são razões certas. Se elas estão certas, elas também são iguais. 33. Como a razão é, assim também são as ações; portanto, todas as ações são iguais. Pois, uma vez que se assemelham à razão, também se assemelham umas as outras. Além disso, considero que as ações são iguais entre si, na medida em que são ações honradas e corretas. Haverá, naturalmente, grandes diferenças de acordo com a variação do material, como se torna agora mais amplo e agora mais estreito, agora glorioso e agora inferior, agora múltiplo no alcance e agora limitado. No entanto, o que é melhor em todos estes casos é igual; eles são todos honrados. 34. Da mesma forma, todos os homens bons, na medida em que são bons, são iguais. Há, de fato, diferenças de idade, um é mais velho, outro mais jovem; do corpo, – um é agradável, outro é feio; da fortuna, – este homem é rico, esse homem pobre, este é influente, poderoso e conhecido pelas cidades e povos, aquele homem é desconhecido para a maioria, e é obscuro. Mas todos, em relação àquilo em que são bons, são iguais. 35. Os sentidos não decidem sobre coisas boas e más; eles não sabem o que é útil e o que não é útil5. Eles não podem registrar sua opinião a menos que sejam confrontados com um fato; eles não podem ver o futuro nem se lembrar do passado; e eles não sabem o que resulta do quê. Mas é a partir desse conhecimento que uma sequência e sucessão de ações é tecida, e uma unidade de vida é criada, – uma unidade que prosseguirá em um curso reto. A razão, portanto, é o juiz do bem e do mal; o que é estrangeiro e externo ela considera como escória, e o que não é nem bom nem mau ela julga como apenas acessório, insignificante e trivial. Pois todo o seu bem reside na alma. 36. Mas há certos bens que a razão considera primordiais, aos quais ela se dirige deliberadamente; estes são, por exemplo, a vitória, os bons filhos e o bem-estar de um país. Alguns outros considera secundários; estes se tornam manifestos apenas na adversidade, – por exemplo, a equanimidade em suportar uma doença grave ou exílio. Certos bens são indiferentes; estes não são mais de acordo com a natureza do que contrárias à natureza, como, por exemplo, um andar discreto e uma postura tranquila em uma cadeira. Pois sentar é um ato que não é menos de acordo com a natureza do que ficar em pé ou andar. 37. Os dois tipos de bens que são de ordem superior são diferentes; os primários são de acordo com a natureza, – como a alegria derivada do comportamento obediente de seus filhos e do bem-estar de seu país. Os secundários são contrários à natureza, como a força moral em resistir à tortura ou na aceitação da sede quando a doença torna os órgãos vitais febris. 38. "O que então", você diz; "alguma coisa que é contrária à natureza pode ser um bem?" Claro que não; mas aquela em que esse bem eleva-se a sua origem é por vezes contrária à natureza. Por estarem feridos, esvaindo-se sobre um fogo, aflitos com má saúde, – tais coisas são contrárias à natureza; mas é de acordo com a natureza que um homem preserve uma alma indomável em meio a tais aflições. 39. Para explicar brevemente o meu pensamento, o material com o qual o bem se relaciona às vezes é contrário à natureza, mas um bem em si mesmo nunca é contrário, pois nenhum bem existe sem razão e a razão está de acordo com a natureza. “O que, então," você pergunta, "é a razão?" É copiar a natureza. "E o que," você diz, "é o maior bem que o homem pode possuir?" É conduzir-se de acordo com o que a natureza deseja. 40. "Não há dúvida", diz o opositor, "que a paz proporciona mais felicidade quando não é atacada do que quando é recuperada a custo de grande matança". "Também não há dúvida de que a saúde, que não foi comprometida, oferece mais felicidade do que a saúde que foi restituída à solidez por meio da força, por assim dizer, e pela resistência ao sofrimento,depois de doenças graves que ameaçaram a vida em si e, da mesma forma, não há dúvida de que a alegria é um bem maior do que a luta de uma alma para suportar até o fim os tormentos das feridas ou da tortura". 41. De modo algum. Pois coisas que resultam do risco admitem ampla distinção, uma vez que são avaliadas de acordo com sua utilidade aos olhos daqueles que as experimentam, mas em relação aos bens, o único ponto a ser considerado é que eles estão de acordo com a natureza; e isso é igual no caso de todos os bens. Quando em uma reunião do senado nós votamos em favor da proposta de alguém, não pode ser dito, "A. está mais de acordo com a proposta do que B." Todos votam pela mesma proposta. Eu faço a mesma declaração com respeito às virtudes, – todos elas estão de acordo com a natureza; e eu o faço em relação aos bens igualmente, – estão todos de acordo com a natureza. 42. Um homem morre jovem, outro na velhice, e ainda outro na infância, tendo desfrutado nada mais do que um simples vislumbre na vida. Todos eles foram igualmente sujeitos à morte, embora a morte tenha permitido a um avançar mais ao longo do caminho da vida, cortou a vida do segundo em sua flor, e quebrou a vida do terceiro em seu início. 43. Alguns recebem sua quitação na mesa do jantar. Outros prolongam seu sono na morte. Alguns são eliminados durante a devassidão. Agora, compare essas pessoas com aquelas que foram perfuradas pela espada, ou levadas à morte por cobras, ou esmagadas em um desabamento, ou torturadas até a morte pela torção prolongada de seus tendões. Algumas dessas partidas podem ser consideradas melhores, outras piores; mas o ato de morrer é igual em tudo. Os métodos de acabar com a vida são diferentes; mas o fim é um e o mesmo. A morte não tem graus maiores ou menores; pois tem o mesmo limite em todos os casos, – o fim da vida. 44. A mesma coisa é verdade, asseguro-lhe, em relação aos bens; você encontrará um em circunstâncias de puro prazer, outro em meio a tristeza e amargura. Uma pessoa controla os favores da fortuna; a outra supera seus ataques. Cada um é igualmente um bem, embora um viaja em uma estrada plana e fácil, e o outro em uma estrada áspera. E o fim de todos eles é o mesmo – eles são bens, eles são dignos de louvor, eles acompanham a virtude e a razão. A virtude faz todas as coisas que toca iguais entre si. 45. Você não precisa duvidar que este é um dos nossos princípios; encontramos nos trabalhos de Epicuro dois bens, dos quais é composto o seu Bem Supremo, ou bem-aventurança, isto é, um corpo livre de dor e uma alma livre de perturbação. Estes bens, se estiverem completos, não aumentam; pois como pode o que é completo aumentar? O corpo é, suponhamos, livre da dor; que aumento pode haver a essa ausência de dor? A alma é serena e calma; que aumento pode haver para esta tranquilidade? 46. Assim como o tempo bom, purificado no mais puro brilho, não admite um grau ainda maior de clareza; assim, quando um homem cuida de seu corpo e de sua alma, tecendo a textura de seu bem de ambos, sua condição é perfeita, e ele atingiu a meta de suas orações, se não há comoção em sua alma ou dor em seu corpo. Quaisquer que sejam os encantos que receba em relação a estas duas coisas não aumentam o seu Supremo Bem; eles simplesmente condimentam-no, por assim dizer, e acrescentam tempero a ele. Pois o bem absoluto da natureza do homem é satisfeito com a paz no corpo e a paz na alma. 47. Posso mostrar-lhe neste momento nos escritos de Epicuro uma lista graduada dos bens, assim como a da nossa própria escola. Pois há algumas coisas, ele declara, que prefere receber, tais como descanso corporal livre de qualquer inconveniente e relaxamento da alma enquanto se deleita na contemplação de seus próprios bens. E há outras coisas que, embora preferisse que não acontecessem, mesmo assim elogia e aprova, por exemplo, o tipo de resignação, em momentos de má saúde e sofrimento grave, a que aludi há pouco, os quais Epicuro exibiu naquele último e mais abençoado dia de sua vida. Pois ele nos diz que teve que suportar a excruciante agonia de uma bexiga doente e de um estômago ulcerado, sofrimento tão aguçado que não permitiria aumento da dor; "E ainda," ele diz, "aquele dia não foi menos feliz." E nenhum homem pode passar tal dia em felicidade a menos que possua o Bem Supremo. 48. Portanto, encontramos, até mesmo em Epicuro, bens que seriam melhor não experimentar; que, no entanto, porque circunstâncias assim o decidem, devem ser acolhidos e aprovados e colocados ao nível dos bens mais elevados. Não podemos dizer que o bem que preencheu uma vida feliz, o bem pelo qual Epicuro deu graças nas últimas palavras que pronunciou, não é igual ao maior. 49. Permita-me, excelente Lucílio, pronunciar uma palavra ainda mais ousada: se qualquer mercadoria pudesse ser maior do que outras, eu preferiria aquelas que parecem acres as que são brandas e sedutoras, e as declararia maior. Pois é uma conquista maior superar as barreiras do caminho do que manter a alegria dentro dos limites estreitos. 50. Exige o mesmo uso da razão, estou plenamente consciente, um homem suportar a prosperidade bem e também suportar a desgraça corajosamente. Que homem pode ser tão corajoso que durma em frente às muralhas sem medo de perigo quando nenhum inimigo ataca o acampamento, como o homem que, quando os tendões de suas pernas são cortados, se levanta de joelhos e não solta suas armas; mas é para o soldado manchado de sangue que retorna da frente que os homens clamam: "Bem feito, herói!" E por isso, eu devo conceder maior louvor aos bens que foram julgados e mostraram coragem, e lutaram contra a fortuna. 51. Devo hesitar em dar maior elogio à mão mutilada e seca de Mucio do que à mão inofensiva do homem mais corajoso do mundo? Lá estava Múcio6, desprezando o inimigo e desprezando o fogo, e observando sua mão enquanto pingava sangue sobre o fogo no altar de seu inimigo, até que Porsena, invejando a fama do herói a quem ele impingiu o castigo, ordenou que o fogo fosse removido contra a vontade de sua vítima. 52. Por que não devo considerar este bem entre os bens primários, e julgá-lo como muito maior do que aqueles outros bens que são desacompanhados de perigo e não foram testados pela fortuna, pois é uma coisa mais rara superar um inimigo com uma mão perdida do que com uma mão armada. – E então? Você diz; "Você deseja esse bem para si mesmo?" Claro que sim. Pois esta é uma coisa que um homem não pode alcançar a menos que também a possa desejar. 53. Devo desejar, em vez disso, que me permitam esticar os meus membros para que os meus escravos façam massagens, ou que uma mulher, ou um travesti, puxe as articulações dos meus dedos? Não posso deixar de acreditar que Múcio teve mais sorte porque manipulou as chamas tão calmamente como se estivesse estendendo a mão para o massagista. Ele havia aniquilado todos os seus erros anteriores; terminou a guerra desarmado e mutilado; e com aquele toco de uma mão ele conquistou dois reis. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem. NOTAS: 1 Trecho de Eneida de Virgílio. 2 Sêneca não está falando aqui das três virtudes genéricas (físicas, éticas, lógicas), nem dos três tipos de bens (baseados na vantagem corporal) que foram classificados pela escola peripatética; Ele só está falando de três tipos de circunstâncias sob as quais o bem pode se manifestar. E no § 36 e seguintes ele mostra que considera apenas as duas primeiras classes como bens reais. 3 O exército de Cipião montou dois acampamentos e construiu uma muralha de circunvalação à volta da cidade espanhola com sete torres a partir das quais seus arqueiros podiam atirar por cima da muralha numantina. Ele também represou o pântano vizinho e criou um lago entre a muralha da cidade e sua própria muralha. Para proteger seus acampamentos, Cipião construiu também muralhas exteriores (cinco no total). Para completar o cerco, Cipião isolou a cidade do rio Douro: nos pontos onde o rio entrava e saía da cidade, pares de torres foram construídas e, entre os pares, cabos comlâminas foram estendidos através do rio para evitar a passagem de barcos e nadadores. 4 Touro de Fálaris, foi uma das mais cruéis máquinas de tortura e execução, cujo invento é atribuído a Fálaris, tirano de Agrigento. O aparelho era uma esfinge de bronze oca na forma de um touro mugindo, com duas aberturas, no dorso e na parte frontal localizada na boca. Após colocada a vítima, a entrada da esfinge era fechada e posta sobre uma fogueira. À medida que a temperatura aumentava no interior do Touro, o ar ficava escasso, e o executado procuraria meios para respirar, recorrendo ao orifício na extremidade do canal. Os gritos exaustivos do executado saíam pela boca do Touro, fazendo parecer que a esfinge estava viva. 5 Aqui, Sêneca está lembrando Lucílio, como muitas vezes faz nas cartas anteriores, que a evidência dos sentidos é apenas um degrau para ideias superiores – um princípio do epicurismo. 6 Caio Múcio Cévola (em latim: Gaius Mucius Scaevola). Logo depois da fundação da República Romana, Roma se viu rapidamente sob a ameaça etrusca representada por Lar Porsena. Depois de rechaçar um primeiro ataque, os romanos se refugiaram atrás das muralhas da cidade e Porsena iniciou um cerco. Conforme o cerco se prolongou, a fome começou a assolar a população romana e Múcio, um jovem patrício, decidiu se oferecer para invadir sorrateiramente o acampamento inimigo para assassinar Porsena. Disfarçado, Múcio invadiu o acampamento inimigo e se aproximou de uma multidão que se apinhava na frente do tribunal de Porsena. Porém, como ele nunca tinha visto o rei, ele se equivoca e assassina uma pessoa diferente. Imediatamente preso, foi levado perante o rei, que o interrogou. Longe de se intimidar, Múcio respondeu às perguntas e se identificou como um cidadão romano disposto a assassiná-lo. Para demonstrar seu propósito e castigar seu próprio erro, Múcio colocou sua mão direita no fogo de um braseiro aceso e disse: "Veja, veja que coisa irrelevante é o corpo para os que não aspiram mais do que a glória!". Surpreso e impressionado pela cena, o rei ordenou que Múcio fosse libertado. Como reconhecimento, Múcio confessa que trezentos jovens romanos haviam jurado, assim como ele, estar prontos a sacrificar-se para matá-lo. Aterrorizado por esta revelação, Porsena teria baixado suas armas e enviado embaixadores a Roma. LXVII. Sobre a doença e a resistência ao sofrimento Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Se eu posso começar com uma observação comum, a primavera está se revelando gradualmente; mas embora seja preparação para o verão, quando se esperaria clima quente, está bastante frio, e ainda não se pode ter certeza disso. Pois ela desliza frequentemente para trás para o tempo do inverno. Você deseja saber o quão incerto ainda é? Eu ainda não estou seguro para um banho que pode ser absolutamente frio; mesmo neste momento eu tremo de frio. Você pode dizer que esta não é maneira de mostrar tolerância, quer ao calor ou ao frio; muito verdadeiro, querido Lucílio, mas na minha idade, raramente alguém fica satisfeito com o frio natural. Eu mal posso deixar de ter frio no meio do verão. Assim, eu passo a maior parte do tempo embrulhado; 2. E agradeço a velhice por me manter preso à minha cama. Por que não devo agradecer à velhice por isso? Aquilo o que eu não deveria querer fazer, não tenho a capacidade de fazer. A maioria das minhas conversas é com livros. Sempre que suas cartas chegam, imagino que estou com você, e tenho a sensação de que estou prestes a falar a minha resposta, em vez de escrevê-la. Portanto, vamos juntos investigar a natureza de seu problema, como se estivéssemos conversando um com o outro. 3. Você me pergunta se todo bem é desejável. Você diz: "Se é bom ser corajoso sob a tortura, ir à tortura com um coração forte, suportar a doença com resignação; segue-se que essas coisas são desejáveis. Mas não vejo que nenhuma delas valha a pena ser desejada. De qualquer forma, eu ainda não conheço ninguém que tenha feito uma promessa por ter sido cortado em pedaços pela vara, ou retorcido pela gota, ou feito mais alto pela roda de tortura. 4. Meu caro Lucílio, você deve distinguir entre estes casos; então você compreenderá que há algo neles que é desejável. Eu prefiro estar livre da tortura; mas se chegar o momento em que deva ser suportada, desejo que eu possa conduzir-me com bravura, honra e coragem. É claro que eu prefiro que a guerra não ocorra; mas se a guerra ocorrer, desejo que eu possa suportar nobremente as feridas, a fome e tudo o que a exigência da guerra traz. Nem estou tão louco quanto a desejar a doença; mas se eu tiver que sofrer uma doença, desejo que eu não faça nada que mostre falta de contenção, e nada que seja covarde. A conclusão é, não que as dificuldades sejam desejáveis, mas que a virtude é desejável, pois nos permite pacientemente suportar dificuldades. 5. Alguns de nossa escola pensam que, de todas essas qualidades, não é desejável uma resistência intrépida, embora não seja desprezada, porque devemos procurar pela oração unicamente o bem que é puro, pacífico e fora do caminho dos problemas. Pessoalmente, eu não concordo com eles. E porque? Primeiro, porque é impossível que qualquer coisa seja boa sem ser também desejável. Porque, novamente, se a virtude é desejável, e se nada que é bom carece de virtude, então tudo o que é bom é desejável. E, finalmente, porque uma resistência corajosa mesmo sob tortura é desejável. 6. Neste ponto, eu lhe pergunto: a bravura não é desejável? No entanto, a bravura despreza e desafia o perigo. A parte mais bela e admirável da bravura é que ela não se acovarda da tortura, avança para encontrar ferimentos, e às vezes nem evita a lança, mas recebe-a com o peito aberto. Se a bravura é desejável, também é a resistência paciente da tortura; pois isso é uma parte da bravura. Apenas filtre essas coisas, como sugeri; então não haverá nada que possa confundir você. Pois não é a mera resistência à tortura, mas a corajosa resistência, que é desejável. Eu, portanto, desejo a resistência "corajosa"; e isso é virtude. 7. "Mas," você diz, "quem desejou tal coisa para si mesmo?" Algumas orações são abertas e sinceras, quando os pedidos são oferecidos especificamente; outras orações são expressas indiretamente, quando incluem muitos pedidos sob um título. Por exemplo, desejo uma vida de honra. Agora, uma vida de honra inclui vários tipos de conduta; pode incluir o barril em que Régulo7 estava confinado, ou a ferida de Catão que foi rasgada por sua própria mão, ou o exílio de Rutílio, ou a xícara de veneno que removeu Sócrates da prisão para o céu. Consequentemente, ao orar por uma vida de honra, ore também por aquelas coisas sem as quais, em algumas ocasiões, a vida não pode ser honrada. 8. Oh três vezes e quatro vezes mais Quem debaixo das altas muralhas de Tróia Conheceu a morte feliz diante dos olhos dos pais! O terque quaterque beati, Quis ante ora patrura Troiae sub moenibus altis Contigit oppetere!8 O que importa se você oferece esta oração para algum indivíduo, ou admite que era desejável no passado? 9. Décio sacrificou-se pelo Estado; ele esporou seu cavalo e correu para o meio do inimigo, buscando a morte. O segundo Décio, rivalizando com o valor de seu pai, reproduzindo as palavras que se haviam tornado sagradas e familiares, se atirou ao ponto de luta mais pesada, ansioso apenas por que seu sacrifício pudesse trazer um presságio de sucesso, e considerando uma morte nobre como uma coisa a ser desejada. Você duvida, então, se é melhor morrer glorioso e realizar alguma ação de valor? 10. Quando alguém suporta tortura bravamente, está usando todas as virtudes. A resistência talvez seja a única virtude que está a vista e mais manifesta, mas a bravura está lá também, e resistência e resignação e paciência são seus ramos. Lá, também, há planejamento; pois sem planejamento nenhum projeto pode ser empreendido; é o planejamento que aconselha alguém a suportar tão bravamente como possível as coisas que não pode evitar. Há também firmeza, que não pode serdeslocada de sua posição, que a ferramenta que nenhuma força pode fazer abandonar o seu propósito. Existe toda a inseparável companhia das virtudes; cada ato honrado é a obra de uma só virtude, mas está de acordo com o julgamento de todo o concílio. E o que é aprovado por todas as virtudes, embora pareça ser obra de um só, é desejável. 11. O quê? Você acha que essas coisas só são desejáveis as quais vêm a nós em meio a prazer e facilidade, e que nós adornamos nossas portas em acolhimento? Há certos bens cujas características são proibitivas. Há certas orações que são oferecidas por uma multidão, não de homens que se alegram, mas de homens que se curvam reverentemente e adoram. 12. Não foi assim que Régulo orou para que chegasse a Cartago? Vestir-se com a coragem de um herói, e afastar-se das opiniões do homem comum. Forme uma concepção apropriada da imagem da virtude, uma coisa que excede a beleza e a grandeza; esta imagem não deve ser adorada por nós com incenso ou guirlandas, mas com suor e sangue. 13. Eis que Marcos Catão, deitado sobre o peito santificado, suas mãos sem mancha, e despedaçando as feridas que não foram suficientemente profundas para matá-lo! Que, por favor, deveria dizer a ele: "Espero que tudo seja como você quiser", e "Estou triste", ou "Boa fortuna em sua empreitada"? 14. A este respeito, penso no nosso amigo Demétrio, que chama de existência fácil, não perturbada pelos ataques da Fortuna, um "Mar Morto". Se você não tem nada para despertá-lo e levá-lo à ação, nada que irá testar sua resolução por suas ameaças e hostilidades; se você se reclina em conforto inabalável, não é tranquilidade; é apenas uma calma rasa. 15. O estoico Átalo costumava dizer: "Eu prefiro que a Fortuna me mantenha em seu acampamento em vez de no luxo, se sou torturado, mas suporto corajosamente, tudo está bem, se morrer, mas morrer corajosamente, também está bem." Ouça Epicuro; ele irá dizer-lhe que isso é realmente agradável. Jamais aplicarei uma palavra afeminada a um ato tão honroso e austero. Se eu for para a fogueira, devo ir invicto. 16. Por que não consideraria isto desejável – não porque o fogo me queime, mas porque não me vença? Nada é mais excelente ou mais belo do que a virtude; tudo o que fazemos em obediência às suas ordens é bom e desejável. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem. NOTAS: 7 Marco Atílio Régulo (299 a.C. – 246 a.C.; em latim: Marcus Atilius Regulus). Conta a tradição que os cartagineses teriam enviado o ilustre prisioneiro a Roma para que ele convencesse seus concidadãos a cederem à paz. O combinado era que, se ele não conseguisse fazê-lo, deveria retornar a Cartago para ser executado. Régulo, ao invés de defender a paz, revelou aos romanos as condições político-econômicas dos inimigos exortando-os a tentarem um último esforço, pois Cartago não conseguiria resistir à pressão da guerra e seria derrotada. Ao término de seu discurso, honrando a sua palavra, retornou para Cartago e foi torturado e executado. Aparentemente, a tortura infligida a Régulo, que teve as pálpebras cortadas e, foi ser rolado morro abaixo dentro de um barril cheio de pregos 8 Trecho de Eneida de Virgílio. LXVIII. Sobre Sabedoria e Aposentadoria Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Eu me rendo ao seu plano; retirar-se e esconder-se em repouso. Mas ao mesmo tempo esconda sua aposentadoria também. Ao fazer isso, você pode ter certeza de que estará seguindo o exemplo dos estoicos, se não o seu preceito. Mas você estará agindo de acordo com o seu preceito também; assim satisfará tanto a si mesmo quanto a qualquer estoico que você quiser. 2. Nós estoicos não instamos os homens a assumir a vida pública em todos os casos, ou em todos os momentos, ou sem qualquer reserva9. Além disso, quando atribuímos ao nosso sábio o campo da vida pública que é digno dele, ou seja, o universo, ele não está separado da vida pública, mesmo que se retire; talvez, tenha abandonado apenas um pequeno canto e tenha passado para regiões maiores e mais vastas; e quando é posto nos céus, compreende quão humilde era o lugar em que se colocava quando sentava na Cadeira Curul10 ou ao tribunal. Coloque isso no coração, o homem sábio nunca é mais ativo nos negócios do que quando as coisas divinas, assim como as coisas humanas, atingem seu âmbito de competência. 3. Volto agora ao conselho que estou determinado a lhe dar, – que você mantenha sua aposentadoria em segundo plano. Não há necessidade de prender um cartaz sobre si mesmo com as palavras: "Filósofo e Quietista." Dê ao seu propósito algum outro nome; chame-o de má saúde e fraqueza corporal, ou mera preguiça. Pois se vangloriar de nossa aposentadoria é egoísmo vazio. 4. Certos animais escondem-se confundindo as marcas de suas pegadas na redondeza de suas tocas. Você deveria fazer o mesmo. Caso contrário, sempre haverá alguém perseguindo seus passos. Muitos homens passam por aquilo que é visível, e perscrutam coisas ocultas e dissimuladas; uma sala trancada convida o ladrão. As coisas que estão ao ar livre parecem baratas; o arrombador passa pelo que está exposto à vista. Este é o caminho do mundo, e o caminho de todos os homens ignorantes: eles desejam irromper em coisas ocultas. Portanto, é melhor não se gabar da aposentadoria. 5. No entanto, é uma espécie de bazófia fazer muito de seu esconderijo e de sua retirada da visão dos homens. Fulano de tal retirou-se em Taranto; aquele outro homem se encerrou em Nápoles; esta terceira pessoa por muitos anos não cruzou a soleira de sua própria casa. Anunciar a aposentadoria é captar uma multidão. 6. Quando você se afasta do mundo, seu negócio é conversar consigo mesmo, não ter homens falando sobre você. Mas o que você deve falar? Faça exatamente o que as pessoas gostam de fazer quando falam sobre seus vizinhos, – fale mal de si mesmo quando está sozinho; então você vai se acostumar a falar e ouvir a verdade. Acima de tudo, no entanto, pondere sobre o que você sente ser a sua maior fraqueza. 7. Cada homem conhece melhor os defeitos de seu próprio corpo. E assim se alivia o estômago com o vômito, outro o alimenta com o comer frequente, outro drena e purga seu corpo pelo jejum periódico. Aqueles cujos pés são visitados pela dor abstêm-se do vinho ou do banho. Em geral, os homens que são descuidados em outros aspectos saem de seu caminho para aliviar a doença que frequentemente os aflige. Assim é com as nossas almas; há nelas certas partes que estão, por assim dizer, na lista de doentes, e para essas partes a cura deve ser aplicada. 8. O que, então, estou fazendo com o meu tempo livre? Estou tentando curar minhas próprias feridas. Se eu lhe mostrasse um pé inchado, ou uma mão inflamada, ou alguns tendões enrugados em uma perna murcha, você me permitiria ficar quieto em um lugar e aplicar loções ao membro doente. Mas meu problema é maior do que qualquer um destes, e eu não posso mostrá-lo a você. O abcesso, ou úlcera, está profundamente dentro do meu peito. Rezem, orem, não me elogiem, não digam: "Que grande homem, aprendeu a desprezar todas as coisas, condenando as loucuras da vida do homem, fugiu!" Não tenho condenado nada além de mim. 9. Não há nenhuma razão pela qual você deva desejar vir a mim com objetivo de progredir. Você está enganado se você acha que vai receber qualquer ajuda vinda deste lado; não é um médico que habita aqui, mas um homem doente. Eu prefiro que você diga, ao deixar minha presença: "Eu costumava pensar que ele era um homem feliz e erudito, e tinha aguçado os ouvidos para ouvi-lo, mas tenho sido defraudado. Eu não vi nada, ouvi nada do que ansiava e do que voltei para ouvir." Se você sentir assim, e falar assim, algum progresso foi feito. Eu prefiro que você perdoe, em vez de invejar a minha aposentadoria. 10. Então você diz: "É a aposentadoria, Sêneca, que você está recomendando a mim? Você está cedendo sobre as máximas de Epicuro!" Eu recomendo a aposentadoria para você, mas só que você pode usá-la para atividades maiores e mais bonitas do que aquelas que você renunciou; bater nas portas arrogantesdos influentes, fazer listas alfabéticas de velhos sem filhos, exercer a mais alta autoridade na vida pública, – esse tipo de poder o expõe ao ódio, é de curta duração e, se você o classifica em seu verdadeiro valor, é de mau gosto. 11. Um homem estará muito adiante de mim quanto à sua influência na vida pública, outro em salário como oficial do exército e na posição que resulta disto, outro na multidão de seus clientes; mas vale a pena ser superado por todos esses homens, contanto que eu mesmo possa superar a Fortuna. E eu não sou oponente digno para ela na multidão; ela tem o maior apoio. 12. Que em dias anteriores você tivesse estado disposto para seguir este propósito! Será que não estávamos discutindo a vida feliz à vista da morte! Mas, mesmo agora, não tenhamos demora. Pois agora podemos tomar a palavra da experiência, que nos diz que há muitas coisas supérfluas e hostis; para isso deveríamos há muito tempo ter tomado a palavra da razão. 13. Façamos o que os homens costumam fazer quando estão atrasados em começar, e desejam compensar o tempo perdido aumentando a sua velocidade – vamos aplicar o esporão. Nossa idade atual é a melhor possível para essas atividades; pois o período de ferver e espumar é agora passado. As falhas que eram descontroladas no primeiro calor da juventude estão agora enfraquecidas, e apenas mais um pouco de esforço é necessário para extingui-las. 14. "E quando," você pergunta, "aquilo que você não aprende até a sua partida, e como ela irá beneficiar você?" Precisamente desta maneira, que eu vou partir um homem melhor. Você não precisa pensar, no entanto, que qualquer momento da vida é mais equipado para a obtenção de uma mente sã do que aquele que conquistou a si mesmo por muitas provações e por muitos arrependimentos por erros do passado, e deve suas paixões atenuadas, atingiu um estado de saúde. Este é realmente o momento de ter adquirido este bem; aquele que alcançou a sabedoria em sua velhice, alcançou-a por seus anos. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem. NOTAS: 9 O estoicismo pregava "cidadania mundial", e isso foi interpretado de várias maneiras em diferentes períodos. Os professores da Grécia viram nela uma oportunidade para uma cultura mais ampla; Os romanos, uma missão mais prática, ou seja, atividade política. 10 Cadeira curul é um tipo de cadeira famosa por seu uso tradicional na Roma Antiga e na Europa até o século XX. Em Roma, era o símbolo de poder político ou military. Foi adotada posteriormente por reis de toda a Europa. LXIX. Sobre estar quieto e Inquietação Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Eu não gosto que você mude sua sede e debande de um lugar a outro. Minhas razões são, primeiro, que tal emigração frequente signifique um espírito instável. E o espírito não pode, através do retiro, crescer em harmonia, a menos que tenha cessado sua curiosidade e suas andanças. Para ser capaz de manter seu espírito sob controle, você deve primeiro parar a fuga constante do corpo. 2. A minha segunda razão é que os remédios que são mais úteis são aqueles que não são interrompidos. Você não deve permitir que sua tranquilidade, ou o esquecimento a que você consignou sua vida anterior, serem penetrados. Dê a seus olhos tempo para desaprender o que eles viram, e seus ouvidos para se acostumar a palavras mais saudáveis. Sempre que você se move ao exterior você encontrará, mesmo quando passa de um lugar para outro, coisas que trarão de volta seus anseios antigos. 3. Assim como aquele que tenta livrar-se de um amor antigo deve evitar todo lembrete da pessoa que antes era querida (pois nada cresce tão facilmente como o amor), da mesma forma, aquele que deixaria de lado o seu desejo por todas as coisas que costumava desejar tão apaixonadamente, deve afastar olhos e ouvidos dos objetos que abandonou. As emoções logo retornam ao ataque; 4. Em cada turno elas vão notar diante de seus olhos um objeto digno de sua atenção. Não há mal que não ofereça incentivos. A Avareza promete dinheiro; Luxo, variado sortimento de prazeres; a Ambição, um manto roxo e aplausos, e a influência que resulta dos aplausos, e tudo que essa influência pode fazer. 5. Vícios o tentam pelas recompensas que oferecem; mas na vida de que falo, você deve viver sem ser pago. Dificilmente bastará uma vida inteira para subjugar nossos vícios e fazê-los aceitar o julgo, inchados por longas indulgências; e ainda menos, se golpearmos nosso breve intervalo por qualquer interrupção. Mesmo cuidado e atenção constantes dificilmente podem trazer uma empreitada a conclusão completa. 6. Se você vai dar ouvidos ao meu conselho, pondere e pratique isso, – como acolher a morte, ou mesmo, se as circunstâncias recomendarem esse curso, convidá-la. Não há diferença se a morte vem a nós, ou se nós vamos à morte. Faça-se crer que todos os homens ignorantes estão errados quando dizem: "É uma coisa linda morrer a própria morte"11. Mas não há homem que não morra sua própria morte. E mais, você pode refletir sobre este pensamento: Ninguém morre exceto em seu próprio dia. Você está jogando fora nada de seu próprio tempo; porque o que você deixa para trás não pertence a você. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem. NOTAS: 11 Talvez a ideia inversa de "viver a própria vida". Significa "morrer quando chega o devido tempo", e é o argumento do homem comum contra o suicídio. Entretanto, talvez sugira o assunto da próxima carta. LXX. Sobre o momento adequado para fazer a derradeira viagem Saudações de Sêneca a Lucílio. 1. Depois de um longo espaço de tempo, eu vi sua amada Pompéia. Fui assim trazido de novo face a face com os dias da minha juventude. E me pareceu que eu ainda podia fazer, não, que tinha feito há pouco tempo atrás, todas as coisas que eu fiz lá quando jovem. 2. Navegamos ao largo da vida, Lucílio, como se estivéssemos em uma viagem, e como no mar, para citar nosso poeta Virgílio: As terras e as cidades são deixadas para trás Terraeque urbesque recedunt,12 Mesmo assim, nesta jornada onde o tempo voa com a maior velocidade, colocamos abaixo do horizonte primeiro a nossa infância e depois a nossa juventude, e depois o espaço que se situa entre a juventude e a meia-idade e as fronteiras em ambos e, em seguida, os melhores anos da própria velhice. Por fim, começamos a ver a fronteira geral da raça humana. 3. Tontos que somos, acreditamos que este é um recife perigoso; mas é o porto, onde devemos algum dia atracar, que nunca podemos recusar entrar; e se um homem chegou a este porto em seus primeiros anos, não tem mais direito de reclamar do que um marinheiro que fez uma viagem rápida. Pois alguns marinheiros, como você sabe, são enganados e retidos por ventos fracos, e ficam cansados e doentes da calma letargia; enquanto outros são levados rapidamente para casa por ventos constantes. 4. Você pode considerar que a mesma coisa nos acontece: a vida levou alguns homens com a maior rapidez para o porto, o porto qual eles eram obrigados a alcançar, mesmo que eles demorassem no caminho, enquanto a outros ela tem afligido e assediado. Pois a essa vida, como você sabe, nem sempre devemos nos apegar. Pois meramente viver não é um bem, mas sim viver bem. Por conseguinte, o sábio viverá o tempo que for necessário, não tanto quanto puder. 5. Ele vai lembrar em que lugar, com quem, e como deve conduzir a sua existência, e o que está prestes a fazer. Ele sempre reflete sobre a qualidade, e não sobre a quantidade, de sua vida. Assim como há muitos eventos em sua vida que lhe dão problemas e perturbam sua paz de espírito, ele se liberta. E este privilégio é dele, não só quando a crise está sobre ele, mas também quando a Fortuna parece estar o traindo; então ele olha com cuidado e vê se deve ou não deve terminar sua vida por causa disso. Ele sustenta que não faz diferença para ele se sua decolagem é natural ou auto infligida, se ela vem mais tarde ou mais cedo. Ele não a considera com medo, como se fosse uma grande perda; porque nenhum homem pode perder muito quando ainda uma gotícula permanece. 6. Não se tratade morrer mais cedo ou mais tarde, mas de morrer bem ou mal. E morrer bem significa escapar do perigo de viver mal. É por isso que eu considero as palavras do conhecido Telésforo13 como as mais covardes. Esta pessoa foi jogada em uma jaula por seu tirano, e alimentado lá como algum animal selvagem. E quando um certo homem o aconselhou a pôr fim à sua vida pelo jejum, ele respondeu: "Um homem pode esperar alguma coisa enquanto tiver vida". 7. Isso pode ser verdade; mas a vida não é para ser comprada a qualquer preço. Não importa quão grandes ou garantidas certas recompensas possam ser, não me esforçarei para alcançá-las ao preço de uma vergonhosa confissão de fraqueza. Devo acreditar que a Fortuna tem todo o poder sobre a pessoa que vive, em vez de acreditar que ela não tem poder sobre alguém que sabe como morrer? 8. No entanto, há momentos em que um homem, ainda que a morte certa paire sobre ele e saiba que a tortura lhe está reservada, irá se abster de dar uma mão à sua própria punição, entretanto, para si, daria uma mão. É loucura morrer por medo de morrer. O carrasco está acerca de você; espere por ele. Por que antecipar ele? Por que assumir a gestão de uma tarefa cruel que pertence a outrem? Você inveja o privilégio de seu carrasco, ou simplesmente o alivia de sua tarefa? 9. Sócrates poderia ter terminado sua vida jejuando; ele poderia ter morrido por fome em vez de por veneno. Mas, em vez disso, passou trinta dias na prisão esperando a morte, não com a ideia de "tudo pode acontecer", ou "tão longo intervalo dá espaço para esperanças", mas para mostrar-se submisso às leis e fazer seus últimos momentos uma edificação para seus amigos. O que teria sido mais tolo do que desprezar a morte, e ainda temer veneno? 10. Escribonia, uma mulher do tipo severo, era uma tia de Drusus Libo14. Este jovem era tão estúpido quanto bem-nascido, com ambições mais elevadas do que qualquer pessoa poderia esperar nessa época, ou de um homem como ele em qualquer época. Quando Libo foi removido do senado em sua liteira, embora certamente com um grupo muito reduzido de seguidores, pois todos os seus parentes o abandonaram, quando ele não era mais um criminoso, mas apenas um corpo, ele começou a considerar se deveria cometer suicídio ou aguardar a morte. Escribonia disse-lhe: "Que prazer você tem em fazer o trabalho do outro?" Mas ele não seguiu seu conselho; ele colocou mãos violentas sobre si mesmo. E estava certo, afinal, pois quando um homem está condenado a morrer em dois ou três dias pelo prazer de seu inimigo, ele estará realmente "fazendo a obra de outro homem" se continuar a viver. 11. Portanto, não se pode fazer uma declaração geral sobre a questão se, quando um poder além do nosso controle nos ameaça com a morte, devemos antecipar a morte ou esperar por ela. Pois há muitos argumentos para nos puxar em qualquer direção. Se uma morte é acompanhada pela tortura, e a outra é simples e fácil, por que não agarrar a segunda? Assim como seleciono o meu navio quando eu estou prestes a viajar ou minha casa quando me proponho a tomar uma residência, então eu vou escolher a minha morte quando estiver prestes a afastar-me da vida. 12. Além disso, assim como uma vida prolongada não significa necessariamente uma melhor, uma morte prolongada significa necessariamente uma situação pior. Não há ocasião em que a alma deva estar em melhor disposição do que no momento da morte. Deixe a alma partir ao se sentir impelida a ir; quer procure a espada, ou a forca, ou algum veneno que ataca as veias, deixe-a prosseguir e arrebentar os laços de sua escravidão. Todo homem deve tornar sua vida aceitável para os outros, além de si mesmo, mas sua morte semente para si mesmo. A melhor forma de morte é a que gostamos. 13. São tolos os que refletem assim: "Uma pessoa dirá que minha conduta não foi corajosa o suficiente, outra, que era demasiado teimoso, um terceiro, que um tipo particular de morte teria demostrado mais espírito". O que você deve realmente refletir é: "O que tenho em consideração é um propósito com o qual a opinião dos homens não tem nenhuma importância!" Seu único objetivo deve ser escapar da Fortuna o mais rápido possível; caso contrário, não haverá falta de pessoas que vão pensar mal do que você fez. 14. Você pode encontrar homens que professam a sabedoria e ainda assim defendem que não se deve oferecer violência à própria vida, e consideram anátema para um homem para ser o meio de sua própria destruição; devemos esperar, dizem eles, pelo fim decretado pela natureza. Mas aquele que diz isso não vê que está fechando o caminho para a liberdade. A melhor coisa que a lei divina nos concedeu foi que nos permitiu uma entrada na vida, mas muitas saídas. 15. Devo aguardar a crueldade da doença ou do homem, quando eu posso partir em meio à tortura e livrar-me de meus problemas? Esta é a única razão pela qual não podemos nos queixar da vida; ela não segura ninguém contra a sua vontade. A humanidade está bem situada, porque nenhum homem é infeliz, exceto por sua própria culpa. Viva, se assim desejar; se não, você pode retornar ao lugar de onde veio. 16. Muitas vezes você foi medicado para aliviar dores de cabeça. Você teve veias cortadas com a finalidade de reduzir o seu peso. Se você furar seu coração, um ferimento escancarado não é necessário – um bisturi abrirá o caminho para essa grande liberdade, e tranquilidade pode ser comprada ao custo de uma picada de agulha. O que, então, nos torna preguiçosos e indolentes? Nenhum de nós pensa que algum dia deva partir desta casa da vida; exatamente como antigos inquilinos não se mudam por predileção por um lugar particular e por costume, mesmo apesar de maus-tratos. 17. Você gostaria de estar livre da limitação de seu corpo? Viva nele como se estivesse prestes a deixá-lo. Continue pensando no fato de que algum dia você será privado dessa posse; então você será mais corajoso frente a necessidade de partir. Mas como um homem tomará o pensamento de seu próprio fim, se ele anseia todas as coisas sem fim? 18. E ainda não há nada tão essencial para considerarmos. Pois nossa formação em outras coisas talvez seja supérflua. Nossas almas foram preparadas para enfrentar a pobreza; mas nossas riquezas têm se mantido firmes. Nós estamos munidos de armas para desprezar a dor; mas tivemos a sorte de possuir corpos sadios e saudáveis, e por isso nunca fomos forçados a pôr essa virtude à prova. Aprendemos a suportar corajosamente a perda daqueles que amamos; mas a Fortuna nos preservou todos a quem amamos. 19. É nesta única questão que chegará o dia em que precisamos testar nosso treinamento. Não precisa pensar que apenas os grandes homens tiveram a força de romper os laços da servidão humana; você não precisa acreditar que isso não possa ser feito senão por um Catão, – Catão, que com a mão arrancou o espírito que não tinha conseguido liberar pela espada. Não, homens da mais baixa sorte escaparam por um poderoso impulso e, quando não lhes foi permitido morrer por sua própria conveniência, ou se escolher os instrumentos da morte, arrebataram tudo o que estava disposto à mão, e por pura força transformaram objetos que eram por natureza inofensivos em armas próprias. 20. Por exemplo, ultimamente havia em uma escola de treinamento para gladiadores de animais selvagens um alemão, que estava sendo preparando para a exposição matinal; ele se retirou para se aliviar, – a única coisa que lhe era permitido fazer em segredo e sem a presença de um guarda. Enquanto estava assim ocupado, agarrou uma escova com cabo de madeira, que era devotada aos mais vis usos, e a enfiou, suja como estava, em sua garganta; assim ele bloqueou sua traqueia, e sufocou a respiração de seu corpo. Isso foi verdadeiramente um insulto à morte! 21. Sim, é verdade, não foi uma maneira muito elegante ou conveniente de morrer; mas o que é mais tolo do que ser minucioso sobre a morte? Que corajoso! Ele certamente merecia ser autorizado a escolher seu destino! Como bravamente ele teria empunhado uma espada! Com que coragem
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