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Conteudista: Prof.ª M.ª Mara Sampaio Revisão Textual: Prof.ª Esp. Lorena Garcia Aragão de Souza Objetivos da Unidade: Compreender o significado de Educação Emocional; Desenvolver competências socioemocionais na educação formal e informal alinhadas com as competências gerais da BNCC para a saúde emocional da criança e do adolescente. Material Teórico Material Complementar Referências Competências Socioemocionais Introdução Ponha-se no lugar de uma pessoa que está numa festa da empresa em que trabalha e vê um de seus amigos se envolver numa briga. Ao entrar para ajudar a acabar com a confusão, recebe um empurrão, cai e tem a roupa manchada pelo vinho de uma garrafa que caiu exatamente naquele momento. Outros amigos chegam, separam a briga e depois põem-se a consolar o amigo que brigou – e a festa continua. Depois, esses amigos percebem a sua roupa suja de vinho, falam para você não ligar e curtir a noite mesmo assim. Nessa hora, você fica com raiva dos amigos que parecem menosprezar o seu desconforto e põe-se a remoer o sentimento. Você senta num canto da festa: não se diverte e nem vai embora. Fica até com uma certa inveja do amigo que se envolveu na briga ao vê-lo dançando e se divertindo, cercado por todos os outros. Na manhã seguinte, você acorda com vergonha do que sentiu, mas ainda remói a raiva por ter perdido o humor na festa, queixando-se: — Isso sempre acontece comigo! Remoer sentimentos negativos é inútil, principalmente se nossas reações são sempre as mesmas. Quando fazemos isso não atingimos nossos objetivos e nem modificamos a reação das pessoas em volta. Para sair dessa situação precisamos de competência emocional, que é a capacidade de criar possibilidades de agir positiva e produtivamente e evitar respostas emocionais automáticas que sempre gerem situações desconfortais e insatisfatórias. É isso mesmo! Até com nossas emoções precisamos ser competentes! 1 / 3 Material Teórico E quanto mais cedo melhor. Se, quando crianças, todas as pessoas pudessem entender suas emoções, estabelecer empatia com as emoções alheias e reagir expressando suas emoções produtivamente, mais tarde, como adultos, desenvolveriam relações familiares, profissionais e sociais mais fáceis e saudáveis. Figura 1 Fonte: Getty Images A conversa difícil com o colega de trabalho; lidar com o cunhado chato, que estraga o churrasco de família; a discussão dos problemas entre casal e o feedback a um aluno que não está evoluindo, são exemplos de situações do cotidiano que envolvem emoções e provocam a reação emocional do outro. São momentos para os quais raramente estamos preparados e que dificilmente conduzimos de forma satisfatória para todos os envolvidos. Educação emocional é a possibilidade de ampliar sua inteligência emocional. E quando esse processo também envolve pessoas com as quais convivemos, por escolha ou por circunstância de vida ou de trabalho, precisamos aprender a conviver produtivamente. É natural que soframos pressão social diante de um conflito ou de alguma adversidade, para ignorarmos nossas emoções. O mesmo vale para aquelas situações em que somos levados a esconder nossos sentimentos ou nossas mágoas das pessoas com quem convivemos. Nossos valores culturais, de certa forma, nos levam a considerar a exposição das emoções como sinal de fraqueza. Não é bem assim: nossas relações tendem a ser mais fortes e saudáveis à medida em que desenvolvemos nossa competência socioemocional. O que é Educação Emocional? Com certeza, você conhece alguém que consegue sair com maestria de alguma situação embaraçosa. Alguém que se livra, sem embaraço, das discussões que surgem durante o jantar e que reage às agressões, às mentiras, às ofensas ou às traições com habilidade, como se estivesse arrumando um arranjo de flores ou dançando uma valsa. Você deve pensar: “como eu gostaria de ser assim” ou então “essa pessoa deve ser um anjo”. Ninguém desenvolve a capacidade de lidar com as emoções e com pessoas de forma natural. É preciso aprender – e esse aprendizado não exige nenhum dom sobrenatural. Todos nós temos potencial afetivo e relacional para desenvolver a competência socioemocional. Esse processo de aprendizagem é chamado de Educação Emocional. Nossa capacidade de lidar com as emoções, tanto as nossas quanto as das pessoas com quem interagimos, é moldada pelas experiências afetivas que trazemos desde a infância. Alguns traumas, dissabores, regras familiares e dificuldades diante de situações do cotidiano, fazem com que, por medida de proteção, congelemos nossas emoções e nos fechemos a determinados sentimentos. Passamos a agir de forma cautelosa e repetimos de forma automática os mesmos comportamentos sem exprimir espontaneamente nossos sentimentos. Muitas vezes, sofremos por não conseguir controlar nossos sentimentos e até mesmo as reações das pessoas, ficando, assim, insatisfeitos e infelizes com nossas vidas. São situações como essas que nos mostram a importância da Educação Emocional – um processo estruturado para reconectar-se com os próprios sentimentos, adquirir consciência da força de cada emoção, ter respostas criativas e adequadas para as situações desafiadoras e, com isso, estabelecer relações afetuosas e construtivas com as outras pessoas. É possível aprender a identificar corretamente as emoções e os sentimentos, modificar as respostas condicionadas ou recorrentes e criar novos comportamentos que sejam mais eficazes e satisfatórios. Da mesma forma, é possível aprender a tocar e influenciar as pessoas, desenvolvendo a empatia, escutando e reagindo às necessidades do outro e compartilhando afetos positivos nos relacionamentos interpessoais. Figura 2 Fonte: Getty Images Assim como as emoções básicas (medo, raiva, tristeza, alegria, repugnância e surpresa) são inatas, as reações às situações de vida são automáticas. Ao longo da vida, nossa percepção e avaliação das experiências vividas podem ser camufladas ou distorcidas pelo padrão de modelo familiar ou educação que tivemos. O primeiro passo da educação emocional é entender, ser verdadeiro e usar as próprias emoções de forma produtiva. As etapas desse processo educativo referem-se de forma evolutiva: Finalmente, a Educação Emocional nos prepara para examinarmos o panorama afetivo: reconhecer e delimitar as causas, as intensidades e os porquês de nossas emoções num determinado contexto – além de compreender como elas influenciam as pessoas a nossa volta. Você é Competente em Quê? Essa é uma pergunta frequente que nos leva a pensar naquilo que sabemos fazer bem e que nos destaca em relação a outras pessoas que atuam na mesma área. Não se trata apenas de competência profissional, mas de outras habilidades, como organizar uma festa ou manter abertos os canais de comunicação com a família e os amigos. Nesse sentido, a competência é um atributo de pessoas. Não cabe, por exemplo, dizer que um relógio ou qualquer outra máquina seja competente. Nem que um animal de estimação, por mais Consciência emocional: saber o que estamos sentindo; identificar as causas desses sentimentos e conhecer os efeitos desses sentimentos nos outros; Reconhecimento emocional do outro: entrar em contato com a emoção do outro; ser sensível à vivência emocional das pessoas e entender como suas emoções as afetam; Assumir o protagonismo emocional: criar soluções construtivas para situações emocionais difíceis; assumir responsabilidade pelos atos, corrigir o próprio comportamento e efetuar mudanças para fortalecer os relacionamentos. habituado que esteja a uma rotina que lhe garanta alimento e carinho, tem competência. Esse atributo está relacionado a um conjunto de recursos variados que os seres humanos combinam para realizar algo em relação a uma situação ou a um contexto, que pode ser, conforme mencionado, a organização de festas. Uma característica que vale ressaltar é que utilizamos a palavra competente quando reconhecemos que o resultado foi excelente ou quando a expectativa de desempenho positivo que tínhamos foi superada numa realização exitosa. Talvez essa conotação deva-se à raiz semântica da palavra competência, que é a mesma de competitividade. Ambas se originam do verbo competir (ou competere, em latim) que significa “buscar junto com”, “esforçar-se junto com” ou “pedir junto com”. Seu uso na literatura, porém, foi tardio. Somente a partir do século XVIII a palavra passou a designar uma capacidade pessoal relacionada ao saber e à experiência individual. Foi apenas no século XX que o termo passou a ser utilizado, principalmente pela psicologia, pela administração e pela educação. Seja como for, o termo competência – que é muito utilizado em ambientes de trabalho e na educação – tem sido empregado com sentido semelhante no meio científico e no senso comum. Nas organizações, está relacionado ao desempenho e à capacidade profissional dos trabalhadores na produção de resultados. Nas escolas, diz respeito ao processo de aprendizagem e aos saberes adquiridos durante a formação educacional. Figura 3 Fonte: Getty Images Na escola, o termo competência tem sido utilizado para se referir ou substituir à ideia de habilidade, de potencialidade ou de aptidão. No entanto, o conceito é mais amplo e pode ser considerado o conjunto de todos esses recursos frequentemente usados como sinônimo. Por exemplo: habilidade é um saber fazer algo, enquanto competência é a capacidade de utilizar o que se sabe fazer para alcançar aquilo que se deseja. A noção de competência está, portanto, relacionada à mobilização de saberes e de recursos para agir em situações de vida. Perrenoud (2013) define competência como “o poder de agir com eficácia em uma situação, mobilizando e combinando, em tempo real e de modo pertinente, os recursos intelectuais e emocionais.” (PERRENOUD, 2013, on-line). Competências Socioemocionais e Escola No final do século XX, o movimento para que as escolas incluíssem em sua estrutura formativa as competências socioemocionais foi fortalecido com o relatório sobre os quatro pilares da educação para o século XXI, elaborado pelo professor francês Jacques Delors. Em 1996, Delors era o presidente da Comissão Internacional sobre Educação da UNESCO. O relatório sugere que além das disciplinas com base científicas, seria função da escola desenvolver as competências socioemocionais para formar um cidadão preparado para um mundo em mudança, conforme desenhava-se para o século XXI. Assim, a organização educacional deveria ser pautada nos quatro pilares: Aprender a conhecer: descobrir e construir o conhecimento;1 Aprender a fazer: desenvolver habilidade técnica e prática;2 Aprender a conviver: interagir e estabelecer vínculos sociais;3 Aprender a ser: criar identidade pessoal e autonomia.4 Figura 4 Fonte: Getty Images Seguindo essas diretrizes internacionais, depois de um amplo e longo trabalho com educadores, o Brasil, coordenado pelo MEC, criou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A qual tornou- se referência obrigatória para a construção de currículos estaduais e municipais, a partir do ano de 2017. Além de orientações sobre as disciplinas essenciais para formação acadêmica, foram incluídas as competências pessoais na formação integral dos aprendizes. Na BNCC (2017), competência é definida como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2017, p. 8). São indicadas no documento, dez competências gerais que as escolas devem desenvolver, considerando as três etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). A intenção foi oferecer um campo de experiências que propicie de forma transversal a prática das habilidades cognitivas e socioemocionais nas escolas. Na BNCC, as competências do número seis ao número dez (trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; responsabilidade e cidadania) estão relacionadas com a esfera socioemocional. Observe-as na Figura 5, a seguir: Figura 5 – As dez competências gerais da BNCC – Movimento pela Base Nacional Comum (2017) SENNA (Social and Emotional or Non–cognitive Nationwide Assessment) Com o foco maior nas competências socioemocionais, o Instituto Ayrton Senna, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, criou em 2014, um programa que visava avaliar a associação entre competências socioemocionais e o desempenho acadêmico. Para o Instituto Ayrton Senna, as competências socioemocionais são: O instituto desenvolveu um modelo que define cinco macrocompetências que se desdobram em dezessete competências para serem desenvolvidas entre os diversos atores do processo educacional (alunos, professores, família e comunidade). As cinco competências socioemocionais do programa, que foi denominado SENNA (Social and Emotional or Non- cognitive Nationwide Assessment), são: - Instituto Ayrton Senna Persistência; Assertividade; Empatia; Autoconfiança; Curiosidade para aprender. “Capacidades individuais que se manifestam nos modos de pensar, sentir e nos comportamentos ou atitudes para se relacionar consigo mesmo e com os outros, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas ou novas.” https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/socioemocionais-para-crises.html Figura 6 – As cinco macrocompetências e as dezessete competências socioemocionais Fonte: Adaptado de institutoayrtonsenna.org As competências socioemocionais diferem das habilidades cognitivas e estão mais relacionadas à qualidade do desenvolvimento, à percepção de bem-estar na vida e à adaptação social e emocional de crianças e adolescentes. Estão identificadas com a capacidade de articular emoções, pensamentos e atitudes de maneira adequada às diferentes situações e relações interpessoais. Goleman (2011), em seu livro “Inteligência Social”, diz que temos um radar interpessoal inato que, além de ser crucial para a sobrevivência, nos guia em todas as situações, seja em sala de aula, em casa ou na rua. Ele afirma que a inteligência social é irmã da inteligência emocional. Entre suas funções principais estão: sincronia e sintonia nas interações, tipos de empatia, intuição social, habilidades para interagir e preocupação empática. Nós humanos fomos programados para nos conectar. Ou seja, somos seres sociais. Situações como a cooperação, a coordenação e até mesmo a competição e a compaixão, que demandam relacionamentos construtivos, estão fundamentadas na inteligência social. Pode-se dizer que a definição de inteligência social de Goleman tem similaridade conceitual com a inteligência interpessoal identificada entre a múltiplas inteligências de Howard Gardner que estudamos anteriormente. As competências socioemocionais são também conhecidas atualmente como softskill (habilidades leves ou suaves). O termo surgiu no treinamento de militares americanos para promover habilidades comportamentais e humanizar a atuação e serviços desses profissionais frente a população. Atualmente é difundido nos meios organizacionais como diferencial imprescindível ao trabalhador. As habilidades de comunicação e as relações interpessoais e afetivas complementam as chamadas hardskill, que são as habilidades técnicas e cognitivas existentes na formação profissional. Figura 7 Fonte: Getty Images Desenvolvimento das Competências Socioemocionais Como é possível treinar emoções e ensinar a se relacionar bem? Desde a década de 1990, foram criados diversos modelos educativos para desenvolver as competências socioemocionais. As primeiras experiências foram com os estudos de Mayer e Salovey, que deram suporte aos conceitos de inteligência emocional difundido por D. Goleman. Desde então, o programa de aprendizagem socioemocional (ASE) espalhou-se para diversos países além dos EUA, integrado às estruturas curriculares ou como atividades extraescolares. Os resultados desses anos de aplicação e estudos do ASE tornaram evidente que as competências socioemocionais podem ser desenvolvidas por meio de ações escolares. Mostraram que essas competências contribuem para a melhoria do processo educacional, especificamente no que se refere à eficácia na prevenção de conflitos nas escolas e na aquisição de comportamentos de cooperação. Também valem para a redução de atitudes discriminatórias e violentas. Atualmente, a ASE é uma prática pedagógica adequada tanto a contextos educativos formais quanto informais. É um processo pelo qual toda criança, todo jovem e todo adulto desenvolve sua identidade saudável, gerenciando as emoções para alcançar os objetivos sociais, aplicando suas habilidades para estabelecer relacionamentos, tornando-se responsável e assertivo em suas escolhas. CASEL (The Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning) é um coletivo acadêmico que apoia educadores e gestores de políticas educacionais, proporcionando conhecimento sobre aprendizagem socioemocional (ASE). Com 20 anos de atuação e mais de 1,5 milhões de participantes nos programas educativos em diversas localidades no mundo, o Casel criou um modelo conceitual para implementação do programa. O modelo ASE_CASEL é fundamentado em uma abordagem sistêmica em que estudantes, famílias, professores e comunidades são envolvidos na criação de um ambiente educacional emocional e acadêmico motivador. O programa é estruturado com cinco áreas de competência inter-relacionadas, conforme mostra a Figura 8: Figura 8 – “Roda CASEL” interativa Descrição das Competências: Autoconhecimento: capacidade para compreender as próprias emoções, pensamentos e valores; e como eles influenciam o comportamento em diferentes contextos; Modelo Big Five Muitos programas de desenvolvimento das competências socioemocionais são fundamentados em teorias e abordagens diversas da Psicologia. Entre os mais utilizadas atualmente, tanto no ambiente escolar como nas organizações, está o modelo denominado Big Five, baseado nos elementos funcionais da personalidade, desenvolvido pelos psicólogos americanos Robert McCrae e Paul Costa do National Institute of Health de Baltimore – EUA, em 1985. O "Modelo de Cinco Fatores" tem como objetivo a compreensão da personalidade por meio da análise linguística, identificando a manifestação de cinco grandes traços de personalidade. O programa de aprendizagem socioemocional do Instituto Airton Senna se utiliza desse modelo para facilitar o entendimento da dinâmica pessoal e para favorecer o desenvolvimento das competências socioemocionais. Autorregulação: capacidade para gerenciar emoções, pensamentos e comportamentos de forma eficaz, em diferentes situações, para atingir objetivos e aspirações; Consciência Social: capacidade para compreender as perspectivas e sentir empatia pelos outros, incluindo aqueles de diferentes origens, culturas e contextos; Habilidades de Relacionamento: capacidade para estabelecer e manter relacionamentos saudáveis e de apoio e transitar de forma eficaz em ambientes com diversos indivíduos e grupos. Figura 9 Fonte: Getty Images Os Fatores e seus Significados: Abertura para novas experiências: interesse por novas experiências emocionais. Leva em conta os sentimentos. São imaginativos, curiosos e sensíveis ao belo; Conscienciosidade: orientados por deveres e para atingir objetivos. Apresentam controle comportamental. São disciplinados e escrupulosos; Extroversão: caracterizado por emoções positivas. Energia dirigida para buscar companhia de pessoas e coisas, além do envolvimento com o mundo externo. São alegres, positivos e agregadores; Competências para o Sucesso no Futuro O que os alunos devem aprender para o século XXI? Existe uma desconexão antiga entre o que é ensinado na escola e os desafios do mundo real. Num ambiente dominado por exigências cada vez mais complexas que geram alto grau de incerteza e imprevisibilidade e que exigem respostas cada vez mais ágeis (diante da velocidade com que produzem mudanças), faz-se necessário refletir e propor o que é essencial no processo educacional capaz de levar as crianças e os jovens a conquistarem um futuro gratificante e produtivo. O que realmente importa na Educação? A partir desse questionamento, o Center for Curriculum Redesign (CCR), órgão internacional de pesquisas, produziu, em 2015, um levantamento com mais de quinhentos educadores de diversos países, visando identificar as competências que os estudantes devem ter para atingir o sucesso no futuro. O resultado do estudo global está publicado no livro “Educação em quatro dimensões: as competências que os alunos devem ter para atingir o sucesso”. Na visão dos autores, a escola do século XXI deve priorizar o estímulo às ligações sociais e às experimentações, permitindo que todo estudante encontre suas paixões e exerça papéis mais amplos na sociedade e no mundo. Como manter os estudantes motivados, engajados e preparados para superar desafios imprevistos do futuro? Neuroticismo: tendência a emoções negativas, à instabilidade emocional e às mudanças de humor. São reativos e vulneráveis ao estresse; Amabilidade: Agem com cordialidade. Buscam harmonia social e valorizam bons relacionamentos. Predispostos a parcerias e à confiança. São tolerantes, amigáveis e generosos. A educação quadridimensional apresenta sugestão de organização curricular combinando as quatros dimensões: conhecimento, caráter, habilidades e meta-aprendizado. A intenção é proporcionar que os alunos adquiram saberes em sua profundidade. O documento também indica as novas competências necessárias para que o estudante possa lidar com o contexto atual e adaptar-se aos novos e imprevisíveis desafios que encontrarão no futuro. Figura 10 – A educação em 4 dimensões As dimensões se caracterizam por: Transtornos e Saúde Emocional Nunca se falou tanto em saúde mental como atualmente. O assunto deixou os consultórios de psicólogos e psiquiatras e ganhou a mídia, as redes sociais, as empresas e as escolas. Profissionais de atuação social e educacional passaram a ter atribuições fundamentais nos cuidados e nas intervenções que ajudem no diagnóstico, na diminuição do estigma, na diminuição dos preconceitos com saúde emocional e na indicação do tratamento adequado. Alguns transtornos mentais estão sendo considerados males do século XXI por serem identificados com o estilo de vida da sociedade contemporânea: a obrigação de ser feliz e bem- sucedido, o excesso de exposição e de informação e a pouca interação social causada pela possibilidade de ficar o tempo todo conectado. A depressão e a ansiedade, vistas como epidemias sociais pela sua rápida propagação e pelo aumento do número de casos diagnosticados, são exemplos disso. Conhecimento: foco na interdisciplinaridade que conecta o tradicional com as ideias inovadoras e proporcione o aprendizado de conhecimentos úteis e relevantes; Habilidades: uso do que foi aprendido. Criar e recriar com base nos quatro “Cs”: criatividade, pensamento crítico, comunicação e colaboração; Caráter: fortalecimento de virtudes e valores e da capacidade de fazer escolhas inteligentes. São seis qualidades essenciais (Mindfulness, curiosidade, ética, coragem, resiliência, liderança); Meta-aprendizado: dimensão de como “aprender a aprender”. Envolve a autorreflexão sobre a posição atual e os objetivos futuros. Como refletimos e adaptamos nosso aprendizado (metacognição e mentalidade de crescimento). Depressão Relacionada ao sentimento de tristeza e ao isolamento social. É uma doença identificada há séculos e era chamada de melancolia, desde os antigos gregos. Caracteriza-se pela perda de interesse e de prazer por atividades sociais. Alguns de seus sintomas são a fadiga e a redução da energia física; as crises de choro, a autodesvalorização e a baixa autoestima; a percepção de vazio e de desesperança; a perda de apetite e o distúrbio de sono, entre outros. Sua manifestação é episódica e recorrente. A intensidade é muito variável e na sua forma mais intensa pode gerar consequência trágicas, como o suicídio, que ocorre em cerca de 10% dos pacientes. A depressão é uma das doenças socioemocionais que mais crescem no mundo e atinge pessoas cada vez mais jovens com um grau de severidade cada vez maior. Com tratamento adequado tem alta taxa de remissão. Figura 11 Fonte: Adaptada de OMS Ansiedade A ansiedade é uma reação natural do ser humano aos momentos de tensão ou estresse. Reflete- se na sensação de medo e no estado de alerta frente a um perigo potencial desde o tempo em que nossos ancestrais viviam expostos ao risco naturais. Atualmente, o transtorno de ansiedade generalizada é um estado psicológico e emocional, caracterizado pela preocupação excessiva ou pela apreensão constante sem causa identificável. Um estado de alerta permanente, um sofrimento antecipado sem um fato justificável, capaz de gerar paralisia em situações específicas – como as apresentações públicas, os compromissos de trabalho, as provas escolares ou as atividades esportivas. Seus sintomas são a irritabilidade, a inquietação, a fadiga crônica, o excesso de energia, as alterações do sono e do humor, as palpitações, a sensação de aperto no peito, a tensão muscular na nuca e a sudorese. Em alguns casos, os sintomas são prolongados e constantes. O tratamento é eficaz, com rápida resposta a medicamentos e à psicoterapia. Fobia Social Identificada como transtorno de ansiedade social. Leva a pessoa a desenvolver um grau elevado de timidez, em que a vergonha é vivida como constrangimento e humilhação. As interações Livro Sociedade do Cansaço Vale a pena ler o livro “Sociedade do Cansaço” (2ª edição, editora Vozes, 2017), do filosofo sul-coreano Byung-Chul Han. No livro, o autor faz relações entre sociedade e sofrimento psíquico. Cada época tem suas enfermidades. Byung-Chul Han faz uma relação de sofrimentos psíquicos como a síndrome de burnout, a hiperatividade, a depressão, o modo operatório do capitalismo contemporâneo e o excesso de positividade. HAN, B. Sociedade do cansaço. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 2015. sociais causam ansiedade irracional e são evitadas pelo medo de julgamento, de ser ridicularizado ou de ofender o outro. Os sintomas são a sensação de desconforto intensa e o sofrimento de angústia ao se sentir exposto ao olhar alheio. A preocupação em excesso com um perigo que não consegue nomear e que, na maioria das vezes, é fruto da imaginação e não de alguma ação de outras pessoas. Tendência ao isolamento e a evitar contato com outras pessoas e lugares públicos, com reações físicas que podem ser: ruborização, gagueira, perda de ar e alguns outros. Figura 12 Fonte: Getty Images Bullying O bullying é um transtorno bastante recente e foi descrito pela primeira vez no final da década de 1970, por Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega, para designar atos de violência ou de constrangimento físico ou psíquico no ambiente escolar, contra crianças e adolescentes. O bullying é diferente da agressão. No bullying, a agressão é repetida, constante e se caracteriza pelo desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, que tem pouca possibilidade ou capacidade de defesa. São atos de intimidação repetitivos contra um indivíduo que não é aceito por um grupo e se torna alvo de humilhação e rejeição. Atualmente, o bullying pode acontecer no condomínio residencial, na vizinhança, em academias, no clube ou em qualquer espaço de convivência de crianças e adolescentes. Quando atos dessa natureza ocorrem em ambientes de trabalho com adultos, passam a ser considerados “assédio moral” e incluem, nesse caso, a dimensão verbal, como a fofoca e difamação, as práticas de discriminação e exclusão baseadas em gênero, raça, orientação sexual, aparência e religião. A humilhação nas experiências de bullying é intencionalmente causada pelo outro e pode deixar traumas profundos. O primeiro sintoma é o isolamento social, seguido pela queda no rendimento escolar, pela perda da autoestima, pelo transtorno de ansiedade e pela depressão. Se não for identificado a tempo pode levar a tentativas de suicídio. A escola é um microcosmo que espelha os padrões sociais. Numa cultura que valoriza excessivamente um determinado padrão de beleza, os sinais externos de riqueza e que, além disso, estimula a intolerância e exclusão de grupos minoritários, esses mesmos referenciais tendem a se reproduzir no ambiente escolar. Outros distúrbios socioemocionais como automutilação, a anorexia, o uso de drogas, o “stalking” (que é o ato de perseguir alguém no meio on-line ou físico) e alguns transtornos de comportamento podem ser identificados com mais rapidez quando o corpo docente e colaboradores cuidam do desenvolvimento de sua própria competência socioemocional e buscam ser mais empáticos e atentos aos indícios de mal-estares. Também, quando a escola busca ser um ambiente positivo de escuta e de expressão das emoções, capaz de favorecer o diálogo e a construção de relações autênticas. Figura 13 Fonte: Getty Images A escola também deve incluir entre suas atividades curriculares a prática de meditação, de yoga e os exercícios de mindfullness, que buscam levar à atenção plena. Os resultados da prática são comprovados cientificamente e levam a pessoa a se sentir bem e a viver plenamente as situações que exigem concentração e memória. Proporciona bem-estar emocional e contribui para o controle do estresse e da ansiedade. Ajuda a desenvolver a empatia favorecendo os relacionamentos interpessoais. Outra medida positiva é a criação de espaço de descanso e a adoção de atividades artesanais e artísticas que estimulam a criatividade e o desenvolvimento das múltiplas inteligências, favorecendo o estado de flow. Essas medidas e espaços são elementos importantes para o desenvolvimento das competências emocionais. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Site Base Nacional Comum Curricular Para aprofundar seus conhecimentos sobre a BNCC. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Livro Comunicação não Violenta ROSENBERG. M. Comunicação não Violenta. Editora: Agora, 2006. Vídeo 2 / 3 Material Complementar https://bit.ly/2Z6eln9 Educação e Currículo no século 21 – Abertura e Charles Fadel Palestra de Charles Fadel, presidente do Center for Curriculum Redesign sobre as competências que os alunos devem ter para atingir o sucesso. Leitura A Inteligência Emocional na Gestão das Instituições Educativas em Portugal Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Educação e Currículo no século 21 - Abertura e Charles Fadel https://bit.ly/3NgVLga https://www.youtube.com/watch?v=-j4uN3FmS8A Inteligência emocional – Reptos Lançados à Educação – Promoção do Bem-estar do Ser Humano Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://bit.ly/2Z3l14U BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2017. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79611- anexo-texto-bncc-aprovado-em-15-12-17-pdf&category_slug=dezembro-2017- pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 03/11/2021. DIAS, I. S. 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