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A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO

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A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO NO SISTEMA PRISIONAL 
 
O presente trabalho pretende ao longo dos itens apresentados abordar as 
possibilidades de atuação do psicólogo no sistema prisional juntamente aos 
sentenciados que cumprem pena privativa de liberdade. Para tanto, analisa-se 
o conceito de psicologia jurídica, entendem-se os aspectos psicológicos 
presentes na instituição prisional, bem como discutem-se as formas dessa área 
contribuir no sistema. Para articulação do tema, foi utilizada pesquisa 
bibliográfica, com base em livros e artigos científicos especializados em 
Psicologia Jurídica. 
Para o desenvolvimento da primeira parte desse trabalho foi realizado um 
estudo acerca da interface entre direito e psicologia para a melhor 
compreensão do seu histórico, do conceito, bem como das possíveis áreas de 
atuação. A psicologia jurídica é uma ramificação da psicologia que nasceu da 
interface com o direito e seu saber é reconhecido como de suma importância 
no âmbito da justiça. As atuações do psicólogo dentro sistema judiciário que na 
maioria das vezes se limitava em elaborações de laudos e pareceres, hoje são 
bastante abrangentes, podendo assim ser colocada como presente e 
necessária em quase todo âmbito do mundo jurídico. 
Antes de abordar o objetivo principal do trabalho, que é a atuação do 
psicólogo no sistema prisional, apresenta-se, no terceiro item o histórico das 
formas punitivas que eram realizadas desde antes da introdução do Estado na 
chamada civilização. Analisa-se a passagem dos tipos de punições aplicadas 
no século XVIII e as formas que eram executadas, fazendo uma comparação 
com as penas dos dias atuais, com enfoque na pena privativa de liberdade. 
Após ser discutido como surgiram as referidas penas e o denominado sistema 
prisional, o presente trabalho aborda as questões subjetivas dos indivíduos que 
cumprem pena privativa de liberdade, como também os fatores que podem ser 
desencadeantes para o ato ilegal. Assim, é possível que seja analisada a 
melhor forma de se intervir, a fim de se chegar ao resultado mais positivo, 
visando a prevenção e não esquecendo da importância de atuar de maneira a 
garantir os Direitos Humanos. Portanto, a terceira parte termina explicando o 
que vem a ser os direitos humanos e a importância da garantia do mesmo. 
Diante do item quatro desse trabalho podem ser analisadas as diversas 
formas de atuação dentro do sistema prisional, área em que o trabalho do 
psicólogo está sendo a cada dia valorizado tendo em vista os resultados 
positivos que vêem sendo apresentados. Os trabalhos são realizados dentro do 
sistema prisional como um todo, são analisadas as demandas existentes e as 
melhores formas de intervenções, podendo ser realizados de forma individual, 
grupal e dentro das Comissões Técnicas de Classificação (CTCs). Além dos 
trabalhos junto aos indivíduos que cumprem pena privativa de liberdade, os 
psicólogos podem também realizar trabalhos com os familiares dos mesmos, 
com a finalidade de amenizar o sofrimento de ver seu parente dentro do 
cárcere como também para ajudar a recebê-los quando os mesmos voltarem 
ao convívio social. Cabe ao psicólogo também trabalhar junto aos funcionários 
do sistema prisional, tendo em vista a precariedade das condições de trabalho 
dentro das instituições como também a forma que os agentes lidam com as 
pessoas que estão cumprindo pena privativa de liberdade. 
Psicologia Jurídica 
A psicologia jurídica é uma especialidade da ciência psicológica que aplica 
os seus saberes nas várias áreas da justiça, essa especialidade está em total 
desenvolvimento e se expandindo cada vez mais. A necessidade do trabalho 
do psicólogo dentro do mundo jurídico já vem sendo questionada há séculos e 
é visto como sendo de suma importância nessa área. 
História da Psicologia Jurídica 
De acordo com Jesus (2001), foi no século XVIII que surgiram os primeiros 
sinais da psicologia jurídica. Ele afirma que o tema que estabeleceu a relação 
entre a psicologia e o direito foi “... o sentimento jurídico do estabelecimento de 
normas para o convívio comum conforme as regras e normas de conduta” 
(JESUS, 2001, p. 27). 
Sobre a psicologia jurídica é complexo delimitar o seu inicio, pois não 
existe um único marco histórico que define esse momento (LAGO, 2009). Para 
Leal (2008), foi em 1868, que a psicologia surgiu auxiliando a justiça com a 
publicação do livro “Psychologie Naturelle” de autoria do médico francês 
Prosper Despine, onde o mesmo apresentou estudos de casos dos grandes 
criminosos daquela época. Despine dividiu os casos em grupos de acordo com 
o motivo desencadeador do crime e investigou cada membro, visando suas 
particularidades psicológicas. 
O saber que viria dar conta do estudo da relação crime/criminoso surge no 
cenário das ciências humanas em 1875, fundada por Despine, a chamada 
Psicologia Criminal “denominação dada naquela época às práticas psicológicas 
voltadas para o estudo dos aspectos psicológicos do criminoso” (LEAL, 2008, 
p.173). Esta área da psicologia fica sendo um referencial importante para todos 
os profissionais de Direito Penal. 
Bonger (1943 apud LEAL, 2008) cita alguns autores que fazem parte da 
pré-história da Psicologia Criminal: Pitaval, na França em 1734; Richer em 
1772; Schaumann, na Alémanha em 1792, entre outros. Para ele, os autores 
citados acima pecaram em não terem se preocupado em construir uma teoria 
sobre os dados encontrados como também não usaram métodos rigorosos nas 
escolhas dos casos. 
De acordo com Lago (2009), a psicologia jurídica no Brasil teve seu inicio 
em 1960, ano que a profissão foi reconhecida, porém a atuação do psicólogo 
nessa área vinha bem antes dessa data, através de trabalhos informais e 
voluntários. Os primeiros trabalhos foram realizados na área criminal, com a 
avaliação do criminoso, prática realizada bem antes ao século XX. 
O desenvolvimento da psicologia criminal se deu quando os psicólogos 
clínicos começaram a colaborar nos exames psicológicos legais e em distintos 
aspectos com os sistemas de justiça juvenil, nos laudos psicológicos (JESUS, 
2001). É através da área criminal, da importância dada a avaliação psicológica 
e a preocupação com a conduta humana que se deu a aproximação do Direito 
com a Psicologia (LAGO, 2009). 
A obra de Rossi, “Psicologia Coletiva”, mostra a idéia de que o direito 
surgiu a partir da consciência coletiva dos povos, expandindo a discussão pelo 
século XIX. No final do mesmo século, surgiram algumas reflexões sobre o 
Direito e sua função na vida social, tendo como partida a psicologia e as 
ciências próximas a ela, sendo exemplos a obra de Fichte (1796), 
“Fundamentos do Direito Natural segundo os princípios da doutrina da ciência“, 
em que formula as relações do Direito com o Estado; em 1893, Émile Durkheim 
lança o conceito de anomia e Mead publica em 1917, “The psychology of 
punitive justice”. Mas as grandes quantidades de trabalhos literários 
relacionando o Estado, a Sociedade e a Legislação surgiram no século XX 
(JESUS, 2001). 
A preocupação da necessidade de conhecimentos psicológicos na Justiça 
vem antes do século XX, os próprios juristas contestavam essa necessidade e 
já havia publicações a respeito como a de Eckardts Hausen, “A necessidade de 
conhecimento psicológico para julgar os delitos” no ano de 1792. Também no 
ano de 1792, J. Schaumann escreveu sobre “A idéia de uma psicologia 
criminal”, Munch, em 1799, publica “influência da psicologia criminal sobre um 
sistema de direito penal” (GARZON apud JESUS, 2001). 
Em 1835, foi que pela primeira vez apareceu o termo Psicologia Judicial, 
através da publicação do “Manual Sistemático de Psicologia Judicial”. Nessa 
obra o autor destacava a importância da Antropologia e da Psicologia 
auxiliando a atividade judicial corretamente. Para Jesus (2001), a necessidade 
de o juiz compreender os conceitos psicológicos fica totalmenteevidenciada 
com a publicação da obra: “o erro e a relação jurídica: uma investigação 
jurídica- psicológica” do autor Zitelman. 
Jesus (2001) cita várias publicações feitas no final do século XIX sobre o 
Direito e a sua função na vida social a partir de ciências próximas da 
Psicologia, mencionando o surgimento da real necessidade da aplicação da 
Psicologia no Direito nesse século; cita obras como “A psicologia em suas 
principais aplicações à administração da justiça” de Hoffbauer em 1808, dentre 
outras. 
Além das várias obras publicadas sobre a importância da psicologia no 
âmbito da justiça, vários fatores estabeleceram a definitiva relação da 
Psicologia com o Direito, Psicologia Jurídica, entre elas a aproximação das 
ciências médicas com a psicologia e a fisiologia, tornando a psicopatologia o 
tema central. Assim a psicologia criminal se destaca como uma ciência de 
suma importância para a contribuição da compreensão da conduta e da 
personalidade do criminoso e o crime começa a ser visto como um problema 
“do Juiz, do advogado, do psiquiatra, do psicólogo, do sociólogo,” não apenas 
do criminoso (DOURADO, 1965 apud LEAL, 2008, p.173). 
De acordo com Vilela (2000), foi a partir do estudo experimental dos 
processos psicológicos que a psicologia inicia sua trajetória cientifica, sendo as 
técnicas dos testes psicológicos instrumentos importantes que aproximaram a 
Psicologia do Direito. A autora ressalta a importância, por exemplo, da 
veracidade de um testemunho “[...] questão para a qual é importante o 
conhecimento da percepção, da motivação e emoção, do funcionamento da 
memória, do mecanismo de aquisição de hábitos, do papel da repressão” 
(VILELA, 2000, p.16). 
Segundo Jesus (2001), no inicio do século XX, trabalhos empíricos-
experimentais foram realizados por psicólogos alemães e franceses, sobre o 
testemunho e sua participação nos processos judiciais. J. M. Catttel (1895) 
desenvolveu vários trabalhos sobre memória e testemunho, seus estudos 
foram considerados por alguns psicólogos como ponto de partida da psicologia 
no campo jurídico, pois os mesmos indicavam a importância que a psicologia 
possui no campo legal. A publicação do livro de Hugo Munsternberg “on the 
witness stand” 1907, “... que lançou a idéia da utilização de um teste de 
associação de palavras para ajudar a estabelecer a culpabilidade ou a 
inocência de acusados, tendo sido atacado duramente pelos juristas da época” 
(JESUS, 2001, p.30), também teve um papel relevante. 
A psicologia abriu ainda mais os aspectos de investigação, sendo eles o 
“sistema de interrogatório, os tipos de fatos delitivos, a detecção de falsos 
testemunhos, as amnésias simuladas, os testemunhos de criança, as rodas de 
investigação etc” (GARRIDO,1994 apud JESUS, 2001, p.31), desenvolvendo 
assim a psicologia do testemunho. 
Em 1955, o psicólogo Clark participou como perito judicial em uma 
audiência, onde apresentou dados empíricos e psicológicos que foram aceitos 
pelo tribunal Supremo dos Estados Unidos da América, afirmando assim a 
necessidade de fundamentação psicológica não somente no direito, mas na 
prática jurista (JESUS, 2001). 
De acordo com parágrafo anterior algumas publicações podem ser citadas 
como The American Jury, 1966, de Kalven (jurista) e Zeisel (sociólogo) que 
escreveram um projeto de análise do comportamento dos juristas. Em 1975, 
Thimbaut e Walker, terminaram o programa de investigação psicológica 
experimental, obra que deu impulso ao surgimento de outra muito importante, 
The Social Psychology of Procedural Justice, publicada por Lindy-Tyler em 
1988 (JESUS, 2001). 
Sobre a atuação do psicólogo jurídico, podemos afirmar que é um trabalho 
recente no Brasil. Em 1978, em São Paulo, aconteceu um concurso para 
Psicólogo no Instituto Oscar Freire, Departamento de Medicina Legal, Ética 
Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo (FMUSP). Em 1980, em São Paulo, psicólogos já 
atuavam como voluntários, porém, só em 1981 pelo Tribunal de Justiça do 
estado de São Paulo que foi realizada a primeira contratação (MARTINS, 
2000). 
No Brasil, o primeiro concurso público para o cargo de psicólogo jurídico 
aconteceu em 1985 em São Paulo capital. No Rio de Janeiro só veio a 
acontecer no ano de 1998, onde foram selecionados os primeiros psicólogos 
jurídicos da cidade. (BRITO, 2000). 
Os anos seguintes são o resultado de um notável desenvolvimento da 
Psicologia Jurídica, especialmente nos paises de língua anglo-saxonica. Nos 
paises de língua latina, partiu da Espanha, onde o crescimento e a aplicação 
foram notáveis, até os paises da América Latina, que estão iniciando a 
regulamentação e aplicação da Psicologia na Justiça (JESUS, 2001, p.32). 
Essa especialidade da Psicologia é a que mais está crescendo nos últimos 
anos e é um campo de um futuro promissor, mas falta profissional 
especializado nessa área (LEAL, 2009). 
Conceitos da Psicologia Jurídica 
A psicologia jurídica é uma prática interdisciplinar, que surgiu de acordo 
com as demandas que foram aparecendo nas áreas destinadas às práticas 
jurídicas, porém a psicologia, de acordo com Arantes (2004) ainda não se 
movimenta sozinha em função das exigências especificas ditadas pelo Direito, 
logo, a demanda psicológica é indicada pelo Direito. 
A relação da psicologia com o direito é uma relação que já estava prevista, 
pois as duas ciências estão diretamente ligadas ao comportamento humano. A 
Psicologia busca a compreensão do comportamento humano e o direito com as 
regras de condutas “certas” para que esse comportamento se enquadre no 
contrato social para se viver em comunidade. O Direito também age para 
solucionar conflitos que surgem para a mesma finalidade acima (TRINDADE, 
2009). 
Jesus (2001), também destaca a certeza de que essa relação Psicologia e 
Direito teria que acontecer pela mesma razão colocada por Trindade (2009), 
tendo em vista o complemento que a psicologia fornece ao direito, e a 
importância de não querer ir além do que lhe compete: 
A Psicologia, por um lado, procurando compreender e explicar o 
comportamento humano, e o Direito, por outro, possuindo um conjunto de 
preocupações sobre como regular e prever determinados tipos de 
comportamento, com o objetivo de estabelecer um contrato social de 
convivência comunitária (JESUS, 2001, p. 34). 
De acordo com Jesus (2001), a Psicologia Jurídica tem como finalidade 
estudar o comportamento dos atores que formam o jurídico se constituindo de 
uma investigação especializada da psicologia. Também é conhecida como 
Psicologia Forense, mas o mais adequado é a primeira denominação que 
abrange atividades além das realizadas no foro. 
França (2004, p. 74) também a denomina como uma especialização que se 
relaciona com o sistema de justiça, ressaltando a diferença da Psicologia 
Jurídica e da Psicologia Forense. A primeira está relacionada ao direito como 
um todo, sendo que “a palavra jurídico é concernente ao Direito, conforme as 
ciências do Direito e aos seus preceitos”. Já a Psicologia Forense esta 
relacionada ao Foro Judicial, sendo que “o termo forense é relativo ao foro 
judicial. Relativo aos tribunais”. Então, quando se fala de Psicologia Jurídica 
estamos nos referindo a todos os procedimentos realizados no âmbito da 
justiça, dentro e fora dos foros judiciais. 
Para qualificar e delimitar a psicologia como jurídica, Popolo (1996 apud 
FRANÇA, 2004), diz ser os comportamentos complexos (conductas complejas) 
o objeto de estudo da Psicologia Jurídica. Esses comportamentos ocorrem ou 
podem vir a ocorrer e devem ser de interesse do jurídico. 
Apesar de todas essas afirmativas sobre a relação da psicologia e do 
direito, há profissionais da área do Direito que acham impossível tal relação, de 
modo que as duas ciências pertencem a mundos diferentes. A Psicologia 
pertencente ao mundo do ser e relacionada a causalidade eo Direito 
pertencente ao mundo do dever-ser e relacionado a finalidade. Porém Trindade 
(2009) critica essa linha de pensamento ao dizer que o homem como um todo 
pertence aos dois mundos: o ser e dever-ser. “Essa linha de pensamento, por 
vezes referenciada à distinção entre ciências naturais e as ciências do espírito, 
esquece que o homem, na verdade, é cidadão de dois mundos e pertence, 
simultaneamente, ao reino do ser e do dever-ser” (TRINDADE, 2009, p. 23). 
De acordo com Altoé (2001 apud LEAL, 2008) todas as coisas 
relacionadas ao mundo do Direito, principalmente as questões humanas, são 
complexas. Não são apenas burocráticas ou processuais, por trás estão 
situações delicadas recheadas de sentimentos dolorosos. A autora cita alguns 
exemplos como, por exemplo, pais que disputam à guarda dos filhos; maus 
tratos e violência sexual contra criança; jovens que se envolvem com trafico; 
entre outros. 
Silva (2007 apud LEAL, 2008) diz ser nesse contexto que a psicologia 
entra, colocando seus conhecimentos e assessorando determinadas ações, 
tratando de uma profunda análise dos aspectos tanto conscientes como 
inconscientes, do falado e não falado, entre outros tão importantes, 
ultrapassando as colocações dos fatos. 
Tamaso (2000) afirma que nos dias atuais, houve uma grande mudança no 
que diz respeito às relações familiares, sociais e também na área tecnológica 
que a ciência do Direito não acompanhou, apontando assim, a total relevância 
do trabalho do psicólogo nesse âmbito. “Imprescindível é colocarmos em cada 
campo o que lhe é devido. Problema psicológico deve ser resolvido no âmbito 
de inúmeras formas de psicoterapia, não no âmbito jurídico” (TAMASO, 2000, 
p. 101). 
Hoje em dia é necessário o trabalho interdisciplinar, pois o mundo moderno 
está marcado pela complexidade. Trindade (2008) afirma que a crise da ciência 
é uma pós disciplinar, pois as ciências isoladas já não têm mais lugar no 
mundo moderno. O objetivo final de cada ciência é diminuir de alguma forma o 
sofrimento humano. 
De acordo com Bedim (2000), a Organizaçao Mundial de Saúde (OMS), 
tem propostas de formar equipes Inter e Multiprofissionais, mas sabe-se que na 
teoria o trabalho é de suma importância, porém na prática não é tarefa fácil. 
A mesma autora coloca como seria enriquecedor juntarmos os vários 
saberes, atuando em um mesmo objeto: o ser humano. Essa interação das 
várias ciências confirma a “[...] ideia de que não há verdades absolutas nem 
universos acabados”. (BEDIM, 2000, p. 204). A interdisciplinaridade mostra que 
nada está isolado, nenhum fato ou nenhuma solução, e sim relacionados com 
vários fatores, não podendo ser visto de uma só maneira. Enfim, a 
aproximação do pensamento da psicologia com o jurídico, é de suma 
importância para que as duas ciências trabalhem juntas “harmonizando as 
perspectivas entre as especialidades, bem como seu próprio objeto de estudo” 
o ser humano. 
“Ademais, os psicólogos judiciários têm um trabalho árduo e fundamental 
na participação da construção da interdisciplinaridade, apresentando para os 
novos profissionais da área a Psicologia aplicada à área do Direito” (TAMASO, 
2000 p. 101). 
Áreas de Atuação do Psicólogo Jurídico 
Como relatado no primeiro tópico 2.1 desse trabalho, a psicologia jurídica 
iniciou sua trajetória quase exclusivamente na elaboração de pareceres 
psicológicos, baseados no psicodiagnóstico, nas realizações de perícia e 
exames criminológicos. Porém nos dias atuais o trabalho do psicólogo jurídico 
está cada vez mais amplo, não se limitando apenas em um trabalho de caráter 
avaliativo, na elaboração de relatórios, pareceres ou laudos (LAGO, 2009). 
Existe uma grande demanda psicológica no que se refere à Justiça como um 
todo. Toda prática do saber psicológico relacionado “às práticas jurídicas 
podem ser nomeadas Psicologia Jurídica” (LEAL, 2008, p.180). 
Dentro da psicologia jurídica está a psicologia forense, que se refere aos 
procedimentos psicológicos realizados dentro do Foro, são atuações que 
sempre estarão sendo avaliadas judicialmente. As atividades realizadas pelo 
psicólogo criminal, psicólogo judiciário, como também pelo psicólogo assistente 
técnico estão incluídas dentro desses procedimentos, logo podemos dizer que 
são um subconjunto da psicologia forense. 
A psicologia criminal segundo Bruno (1967 apud LEAL, 2008) estuda o 
aspecto psicológico do criminoso e o que o leva a ação. Nesse campo de 
atuação está inserida a psicologia do delinquente, a psicologia do delito e a 
psicologia das testemunhas. Já a psicologia judiciária corresponde às práticas 
que são exercidas a mando e a serviço da justiça e é nessa prática que são 
realizados os trabalhos periciais. Popolo (1996 apud FRANÇA, 2004) ressalta a 
importância do psicólogo perito saber até onde pode ir, tendo em vista o limite 
da sua atuação, sendo necessário estar sempre atento aos instrumentos e 
modelos a serem utilizados para que haja uma boa fundamentação no parecer 
final. 
“A Psicologia Judiciária corresponde à prática profissional do psicólogo 
judiciário, sendo que toda ela ocorre sob imediata subordinação à autoridade 
judiciária” (LEAL, 2008, p. 182). 
França (2004) fundamentou-se na classificação do Colégio Oficial de 
Psicólogos de España, executando algumas modificações no que diz respeito 
aos termos, para mostrar as subdivisões da Psicologia Jurídica. São elas: 
Psicologia jurídica e o menor, sendo que no Brasil por causa do Estatuto da 
Criança e Adolescente (ECA) essa área de atuação é denominada Psicologia 
Jurídica e as questões da Infância e Juventude; No direito de família, o 
psicólogo pode intervir nos casos de separação, disputa de guarda dos filhos, 
na regulamentação de visitas como também da destituição do pátrio poder; No 
Direito Civil, o psicólogo atua nos casos de interdição, indenizações ou 
qualquer outra ocorrência cíveis; Na área da Justiça Trabalhista, no caso de 
algum acidente de trabalho; No contexto Direito Penal, o psicólogo opera em 
alguns procedimentos que estão em fase processual; Psicologia Judicial ou do 
testemunho, Jurado, em que o trabalho psicológico está voltado para o estudo 
dos testemunhos; Psicologia penitenciária, o trabalho nessa área está ligado à 
execução das penas restritivas de liberdade; Psicologia Policial e das Forças 
Armadas, o psicólogo faz um trabalho de seleção e formação dos profissionais 
dessa área; Vitimologia, nesse caso o psicólogo opera no atendimento a vítima; 
Mediação, o psicólogo atua de forma imparcial, apenas conduz, as partes são 
responsáveis pela solução do conflito; fora todas essas áreas citadas acima a 
autora também menciona a formação e atendimento aos juizes promotores 
como sendo um trabalho realizado por psicólogos que está incluído nessa 
subdivisão da psicologia, a Psicologia Jurídica. 
Lago (2009) cita o Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, 
Direito Civil, Direito Penal e Direito do Trabalho como sendo os principais 
campos de atuação do Psicólogo Jurídico, afirmando serem esses “[...] os 
ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do psicólogo” 
(LAGO, 2009, p. 3). 
Para Jesus (2001) a Psicologia dos Juízes, Psicologia dos Jurados, 
Psicopatologia Forense, Psicologia Penitenciária e a Psicologia Policial são 
importantes campos de atuação do psicólogo jurídico. 
Tendo em vista nessa primeira parte a história e o conceito da Psicologia 
Jurídica como também suas áreas de atuação, há a importância de se falar no 
próximo item sobre o sistema prisional para que possamos perceber as 
demandas existentes dentro dessa instituição. 
Sistema Prisional 
De acordo com Kolker (2004), a instituição denominada prisão surge junto 
ao capitalismo. Essa instituição nasce para que se tenha o controle das 
pessoas que de alguma forma eram consideradas perigosas. No século XIV as 
prisões eram lugares onde os criminosos aguardavamo seu julgamento, e para 
que pudessem aplicar penas como a de trabalho forçado. 
“O banimento e a deportação estiveram associados ao processo de 
exploração colonial e a prisão com ou sem trabalho forçado esteve intimamente 
ligada à emergência a ao desenvolvimento do modo de produção capitalista” 
(KOLKER, 2004, p.159). 
Evolução das Penas 
Antes de falar de sistema prisional, é importante fazer uma passagem 
sobre penas e as formas de execução, pois são a partir delas que se faz o 
surgimento do denominado sistema prisional. 
De acordo com Bessa (2007) a vida em sociedade naturalmente nos leva a 
colocar as regras de convívio, sendo condutas aceitáveis e não aceitáveis. 
Com o surgimento do Estado o mesmo fica responsável por observar a 
sociedade como um todo, punindo os que se enquadram nas condutas não 
aceitáveis. Bem no início do que chamamos de civilização, antes da formação 
do Estado como citado acima, a religião impunha suas regras, sendo a ordem 
política confundida com a ordem religiosa, logo esta a causa de algumas penas 
aplicadas. A pena nessa época tinha um caráter vingativo, a vingança era 
quase sempre maior do que o ato de infração cometido, e por esta razão não 
existia limites na aplicação da pena. Essa fase é citada como “[...] fase da 
vingança privada” (BESSA, 2007 p. 17). A sociedade foi evoluindo e 
consequentemente as formas de punição também, surgindo assim a Lei de 
Talião conhecido como Olho no olho dente por dente abandonando um pouco a 
desproporcional vingança privada. A composição também é mencionada, como 
uma forma de punição mais branda, em que o ofensor fica livre das punições, 
uma vez que tenha como pagar por meio de armas, gados, entre outros, o 
ofendido. Surgindo daí a lei das doze tábuas em que está escrito na tabua VII: 
se alguém fere alguém, que sofra a lei de talião, salve se houver composição. 
Já na idade antiga, as punições estavam totalmente voltadas para a 
religiosidade, assim as punições eram aplicadas pelos sacerdotes, na crença 
de que eram deuses quem estavam ali punindo. As punições eram muito duras 
chegando a ser totalmente desumanas, a fim de purificar a alma do criminoso. 
Com o passar do tempo e a então introdução do Estado, as formas 
punitivas eram aplicadas em praça pública, sendo conhecida como suplício. 
Foucault (apud BESSA, 2007) diz ser o suplício um ritual de manifestação do 
poder, não sendo apenas um ato de punição, mas sim uma forma para que 
esse poder se tornasse mais poderoso. Essa forma de punir expressava o total 
poder de controle do soberano sobre a sociedade. Um exemplo clássico de 
punição por forma de suplício no Brasil foi a morte de Tiradentes. 
Como se pode perceber as formas de punição mudam de acordo com as 
mudanças da sociedade em geral Kolker (2004) e Silva (2007) confirmam essa 
colocação quando falam do surgimento da nova forma de punir denominada 
por Foucault de disciplina, que se caracteriza por uma forma de punição onde o 
foco é a vigilância individual, perpétua e ininterrupta. Essa nova aplicação de 
pena surgiu logo após o chamado suplício em decorrência da sociedade que 
deixou de feudal monárquica e passou a ser considerada como sociedade 
capitalista. De acordo com Foucault (apud KOLKER, 2004, p. 166) “[...] mais 
eficaz e mais rentável vigiar que punir”. 
Surgindo assim a nova ordem jurídico administrativa, em que a justiça 
deixa de funcionar através de tribunais arbitrários e passa a ser administrada 
pelo Estado. A partir dos princípios dessa nova forma de justiça, todos 
deveriam ser tratados de forma igual perante a lei, ao contrario do que era visto 
no período feudal, quando não havia leis e sim castigos definidos pelo 
soberano. A partir daí surge a noção de infração, que pode ser considerada 
como um ato que descumpre as ordens do Estado, sendo o infrator alguém que 
rompeu o pacto social (KOLKER, 2004). 
Para Foucault (apud KOLKER, 2004) a sociedade tem a liberdade como 
sendo seu bem maior, assim a pena passa a ser a privação da mesma onde 
sua medida principal é o tempo de sua suspensão. “A pena passa a 
representar uma represália da própria sociedade aquele que violou o pacto 
social” (BESSA, 2007, p. 23), sendo assim até os dias de hoje. Porém, com o 
passar do tempo, surgiu a humanização das penas, uma vez que o século XIX 
teve essa característica de penas mais brandas e de respeito aos direitos 
humanos (SILVA, 2007). 
De acordo com Bessa (2007) Cesare de Beccaria com sua obra Dos 
Delitos e das Penas 1764, John Howard 1777 que escreveu The State of 
Prisions in England and Wales e Jeremy Bentham autor de Teoria das Penas e 
das Recompensas do ano de 1811, foram importantes pensadores nesse 
período de humanização das penas. 
Guimarães (apud SILVA, 2007) apresenta brevemente um histórico das 
penas desde o século XIX até a Lei de Execução Penal. O autor relata que em 
1808 inaugurou a prisão de Aljurbe, ressaltando a superlotação da mesma, 
onde a capacidade era de 20 pessoas em cumprimento de pena privativa de 
liberdade, porém havia 390. No ano de 1812 inaugurou a Cadeia Velha na 
capital imperial, onde a mesma foi desativada em 1841. Foi em 1890 o 
surgimento do código penal da república, em 1940 a introdução do regime 
progressivo de penas e por fim no ano de 1984, surge a Lei de Execução 
Penal. 
De acordo com Pedroso (apud SILVA, 2007), foi em 1769 que ocorreu a 
instalação da primeira casa de correção no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, 
a mando da Carta Régia do mesmo ano. Porém não fica claro se houve ou não 
nesse período a instalação de fato dessa casa de correção, pois segundo 
Araújo (2004), esse projeto não saiu do papel por falta de capital. 
Segundo Luiz de Vasconcelos, uma Carta Régia de 8 de julho de 1769 mandou 
estabelecer uma Casa de Correção, que sendo “utilíssima” não soube dizer 
porque este projeto não foi executado. Uma das hipóteses que levantamos se 
baseia na falta de capital para a construção da nova prisão que deveria contar 
com espaço suficiente para abrigar um número cada vez maior de criminosos. 
Além disso, deveria ser capaz de promover o trabalho dos detentos tirando-os 
do ócio. Era um projeto interessante, mas demandava dinheiro, escasso 
naquele período (ARAUJO, 2004, p. 28-29). 
A primeira referência à prisão no Brasil está no Livro V das Ordenações 
Filipinas de Reino, sendo este o “código de leis portuguesas que foi implantado 
no Brasil durante o período colonial” (PEDROSO apud SILVA, 2004, p. 32), 
quando eram segregados aqueles culpados por ferimentos por arma de fogo, 
quem tentava ou invadia as casas dos outros, aqueles que descumpriam as 
ordens judiciais, falsificavam documentos e os que contrabandeavam metais e 
pedras preciosas (SILVA (2007). 
Nesse período, as prisões não eram realizadas em presídios ou cadeias, 
os aprisionamentos eram realizados em diversos locais, como as masmorras, 
torres, castelos, enfim, qualquer lugar que servisse para essa finalidade. 
De acordo com Silva (2007) e Bessa (2007), um sofisticado modelo de 
prisão foi criado por Jeremy Bentham, já citado acima como figura importante 
na fase de humanização das penas, o chamado Panóptico que se 
caracterizava por ser uma construção circular onde no centro situa uma torre 
com visibilidade total das pessoas em cumprimento de pena privativa de 
liberdade ali encarceradas. Assim, as mesmas se sentiam vigiados o tempo 
todo, sendo esse o objetivo descrito por Foucault (apud SILVA, 2007, p.19). 
Induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que 
assegura o funcionamento automático do poder, fazer com que a vigilância seja 
permanente em seus efeitos mesmo se é descontínua em sua ação, que a 
perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício, que esse 
aparelho arquitetural seja uma maquina de criar e sustentar uma relação de 
poder independente daquele que o exerce, enfim, que os detentos se 
encontrempessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade numa 
situação de poder de que eles mesmos são os portadores. 
Porém, esse modelo criado por Bentham não surtiu o efeito esperado, pois 
não se obteve a recuperação das pessoas em cumprimento de pena privativa 
de liberdade, fato previsto já naquela época e esperado até os dias atuais 
(SILVA, 2007). 
Foucault, (apud Silva 2007) afirma que a prisão de alguma forma cola um 
rótulo naqueles que ali passam, surgindo uma “[...] patologização do sujeito, 
apresentando à sociedade como portador de um vírus imbatível, o vírus da 
delinquência” (SILVA, 2007, p. 19). 
Subjetividade e Fatores Desencadeantes para o Ato Delituoso 
O comportamento criminoso está em crescente vigência no que se refere à 
violação das leis, da moral e da ética necessária no convívio social, os 
indivíduos que cometem atos delituosos estão cada vez mais ousados fazendo 
com que cada vez mais desperte a curiosidade dos estudiosos em pesquisas 
sobre esse comportamento anti-social. 
De acordo com Fiorelli (2010) desde a antiguidade se busca resposta para 
o que vem a ser o fenômeno delitivo. O delinquente na Grécia antiga era 
expulso do clã, sendo considerado um ser anormal. No século III, segundo o 
mesmo autor as pessoas que não cumpriam as regras sociais tinham esse 
comportamento por estarem sendo influenciados pelo demônio. Somente 
depois passam a ver o homem “[...] como dono de seu próprio destino e 
reconduzido à sua condição humana...” (FIORELI, 2010, p.322). É nessa fase 
que começa a busca da humanização da pena como citado no tópico anterior. 
Alguns autores se destacaram pelos estudos realizados sobre a pessoa 
que infringe as leis de convívio social. De acordo com Kolker (2007) o primeiro 
foi Morel que no ano de 1857 apresentou sua tese sobre degeneração, em que 
mencionou que “[...] esta condição engendrava verdadeiros tipos 
antropológicos desviantes, hereditariamente destinados a uma vida imoral, à 
alienação e ao crime” (KOLKER, 2007, p. 176). 
Já para Serafim (2003), foi Prichard o primeiro a estudar sobre as condutas 
antissociais no ano de 1835, colocando a insanidade moral em destaque. Em 
seguida no ano de 1838 é Esquirol quem estuda os indivíduos com a visão das 
monomanias, já em 1858 Boudert denominou de enfermidade do caráter. Só 
então o autor cita Morel, no ano de 1853 descrevendo os indivíduos de 
comportamentos antissociais como degenerados. No ano de 1887 surge 
Lombroso, referido como pai da criminologia e criador da antropologia criminal 
(LEAL, 2008). 
Na teoria de Lombroso, o indivíduo já nascia criminoso, posto que o crime 
era um fenômeno hereditário, como também suas características físicas e 
psicológicas serviam para identificá-los, além da reincidência ser uma regra 
entre eles (KOLKER, 2004). 
De acordo com Leal (2008) o fundador da psicologia criminal foi Despine, 
que estudou os aspectos psicológicos das pessoas que cometiam algum crime. 
Em sua opinião o delinquente não tem interesse em si próprio, possuindo 
assim uma deficiência no que diz respeito à empatia ao próximo, a consciência 
moral, e a sentimento de dever e o indivíduo também não se arrepende de 
seus atos. 
No que diz respeito às pesquisas mais atuais, o ato criminoso está 
relacionado a vários aspectos. Para Serafim (2003) os parâmetros biológicos 
contemporâneos estão divididos em fatores genéticos, bioquímicos, 
neurológicos e psicofisiológicos. O autor ressalta a importância de se analisar 
também os parâmetros psicológicos e sociais do indivíduo antissocial. 
De acordo com Fiorelli (2010) a delinquência pode surgir em decorrência 
de vários fatores. O autor afirma que pessoas que sente prazer em ver o outro 
sentir dor, pode se caracterizar como uma pessoa de personalidade antissocial 
onde “[...] o indivíduo agride a sociedade, representada pelo objeto da raiva; o 
agredido não passa de coisa; o prazer de agredir contrabalança a frustração de 
não poder destruir; eventualmente, chega à fatalidade” (FIORELLI, 2010, p. 
223). Mencionando também a importância de se observar dois tipos de 
fenômenos: o condicionamento e a observação de modelos, sendo o primeiro 
relacionado ao reforço positivo, em que o indivíduo que está exposto sempre à 
mesma situação acaba aprendendo e colocando-a em prática. Já o segundo 
diz respeito às formas observadas aos comportamentos agressivos e repeti-los 
mais tarde. O autor diz ser na infância que esses fatores são adquiridos. 
Davoglio (2010) coloca a dificuldade de se avaliar os aspectos de 
personalidade principalmente no que diz respeito a implicação legal, pois 
geralmente os indivíduos que obtém um desvio de conduta, como um 
transtorno de personalidade antissocial (TPAs) e ou traços psicopatas tendem 
a negar ou minimizar esses desvios. E ressalta a importância de não confundir 
o indivíduo com TPAs com psicopatas, pois geralmente os dois estão 
associados, contudo o psicopata geralmente apresenta tal transtorno mas os 
indivíduos que os possuem nem sempre podem ser comparados a um 
psicopata. 
Partindo desses contextos de que é preciso verificar toda a história do 
indivíduo, passando pelos aspectos biológicos, psicológicos e sociais para se 
chegar a uma conclusão referente ao ato criminoso, além de ser interessante 
colocar a questão da imputabilidade e inimputabilidade. 
De acordo com Trindade (2010) imputável diz respeito àquela pessoa que 
cometeu o fato delituoso e é capaz de entender sua conduta. Nas palavras de 
Davoglio (2010), a pessoa considerada imputável é aquela capaz de 
responsabilizar-se por suas condutas. Quando o indivíduo não é legalmente 
responsável por seus atos, ou quando “o delito envolve a capacidade de 
julgamento do indivíduo ou o controle do próprio comportamento“ (DAVOGLIO, 
2010, p. 113) são considerados inimputáveis. Existem também os casos de 
semi-imputabilidade, neste caso a culpabilidade é diminuída no caso do 
indivíduo apresentar transtorno de intensidades leves (TRINDADE, 2010). De 
acordo com o art.26 do Código Penal: 
A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de 
perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado, não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou 
de determinar-se de acordo com esse entendimento (BRASIL, 1940). 
O primeiro caso brasileiro de inimputabilidade foi reconhecido na década 
de 20 e foi o primeiro preso da instituição Manicômio Judiciário do Brasil. O 
preso de número um tinha o nome de Febronio Índio do Brasil. De acordo com 
Silva (2007), foi ele quem permaneceu mais tempo preso em nosso país. Teve 
sua prisão decretada pela primeira vez com 21 anos, sua trajetória no crime 
passou por práticas ilícitas de menos importância, falsidade ideologia entre 
outros, chegando ao episódio em que Febronio abusou sexualmente e 
estrangulou dois rapazes em 1927, porém havia relatos de outras vítimas onde 
o criminoso tinha de praxe tatuar o corpo das vítimas. A partir dessa época não 
saiu mais da prisão onde morreu aos 89 anos de edema pulmonar e 
completamente senil (SILVA, 2007). 
A psicologia no que diz respeito aos atos antissociais necessita investigar 
todos os fenômenos ligados ao comportamento do indivíduo que transgride a 
lei. É importante a verificação do que levou o indivíduo cometer o ato, quais as 
circunstâncias em que ele cometeu e seu histórico, como já mencionado, para 
que se possa fazer uma elaboração de planos de intervenção, sendo assim, o 
processo de reabilitação fica mais fácil de ser atingido e trabalhos preventivos 
podem ser realizados de forma mais positiva (SERAFIM, 2003). 
Porém, é difícil na prática a realização desse trabalho de análise do 
indivíduo infrator mencionada como de grande importância, pois de acordo com 
Fernandes (2000) o número de profissionais é bem reduzido em relação à 
demanda existente. 
Nos deparamos com pessoas em cumprimentode pena privativa de liberdade 
com diagnostico de Alcoolismo, Pedofilia, transtorno Psicótico e Transtorno 
Anti-Social de Personalidade dentre outros, assim como pessoas que 
cometeram crime e não apresentam transtornos de Personalidade algum, e 
não conseguimos individualizar a pena, o que interfere de forma a agravar seus 
sintomas (FERNANDES, 2000, p. 221). 
Enfim, os sujeitos que cometem ato ilegal existem desde o início da 
sociedade, porém a forma de lidar e enxergar esses indivíduos não mudou 
quase nada. Fiorelli (2010) afirma que devemos nos alertar da mesma forma 
que Foucault disse no final do século XVIII, que vivemos em uma crise de 
ilegalidade popular, onde “[...] o preconceito se encarrega de colocar um rótulo 
geográfico nos acontecimentos”. (FIORELLI, 2010, p. 245). 
Foucault (1987 apud FIORELLI, 2010) já apontava o desequilíbrio das 
penas para as diferentes formas de infração, sendo a justiça mais eficaz no que 
se refere às penas das pessoas menos desfavorecidas. Furto e roubo são 
associados ao moreno pobre enquanto fraude está ligada ao branco rico e 
respeitado. 
Essa percepção viciosa faz com que as pessoas naturalmente percebam 
comportamentos indicadores de delitos que se ajustam às suas crenças 
arraigadas a respeito dos prováveis praticantes. Uma mentira que veste Armani 
não passa de um lapso de memória ou uma inocente confabulação que Freud 
explica, enquanto o esquecimento do desdentado Sebastião, receptador de 
autopeças no popular desmanche da periferia, é visto como uma estratégia 
ingênua para burlar a policia e falsear o testemunho (FIORELLI, 2010, p. 246). 
Os Direitos Humanos 
Os direitos das pessoas foram surgindo na sociedade de acordo com as 
necessidades de cada época, assim as pessoas lutam pela efetivação dos 
seus direitos conforme a demanda social. Os primeiros registros de 
documentos que garantiam direitos às pessoas é o código de Hamurabi, do 
ano de 1694, e a partir desse ano os direitos foram sendo adquiridos 
lentamente de acordo com a evolução da sociedade, no que se refere à 
política, economia e tecnologia (FIORELLI, 2010). 
As leis e normas de uma sociedade servem para disciplinar as relações de 
identidade, cidadania e o respeito às diversidades existentes. O código penal e 
o código civil são normas constantes, e há também as normas gerais das 
convenções de direitos que são relativas aos direitos humanos e possuem 
características como a imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, 
inviolabilidade, interdependência, universalidade, efetividade e 
complementaridade (FIORELLI, 2010). 
As Organizações das Nações Unidas (ONU) aprovou em 10 de dezembro 
de 1948 a Declaração dos Direitos Humanos. Os direitos humanos constituem 
em direitos básicos e liberdades fundamentais que pertence a todos os seres 
humanos. A declaração é formada por 30 artigos classificados por cinco 
categorias de direito: civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. 
Fiorelli (2010) ressalta a importância de destacar que a discriminação 
racial, discriminação contra a mulher, os direitos das crianças e dos 
adolescentes e estatuto dos refugiados foram itens dos anos posteriores a data 
acima. 
Os direitos humanos surgiram para valorizar as pessoas e para que haja 
uma igualdade entre as mesmas, visando uma melhoria referente às relações 
sociais promovendo assim o progresso e a melhoria na qualidade de vida. 
A Lei de Execução Penal de 1984 (LEP), além de prever a individualização 
da pena dos indivíduos que estão cumprindo pena privativa de liberdade e a 
readaptação dos mesmos à sociedade, reconhece os direitos humanos 
garantindo assistência médica, jurídica educacional, social, religiosa e material. 
Em seu terceiro artigo, no parágrafo único, ressalta que não poderá haver 
qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política no que se 
refere à aplicação das penas (BRASIL, 1984). 
Porém não é isso que vemos no Brasil, pois há relatos encontrados em 
que a Lei é descumprida nos estabelecimentos prisionais, ao contrario do que 
prevê a LEP. “Nossas prisões são muito diferentes do que estabelece a lei” 
(KOLKER, 2004, p.197). 
Segundo Machado (2009), as prisões são lugares impróprios para se 
conseguir algum efeito benéfico em respeito ao desenvolvimento e a 
ressocialização da pessoa encarcerada, pois enquanto está cumprindo sua 
pena é influenciado pelas leis internas que predominam no sistema carcerário 
não sendo permitida a ele uma fuga nem dos comportamentos ali exigidos. 
Foucault (apud ARANTES, 2004) em Vigiar e Punir relata bem a 
ineficiência das prisões, sendo a mesma inútil no que se refere a qualquer 
mudança positiva da pessoa que ali cumpre sua pena. O mesmo autor em seus 
estudos sobre a prisão concluiu que a mesma “destina-se a realizar um ideal 
de exclusão por inclusão”. (FOUCAULT apud ROCHA, 2000, p. 205). 
ROCHA (2000, p. 207) também coloca sua opinião a respeito do sistema 
penal: 
A proposta principal do Sistema Penal sustentada pelo tripé 
„ressocializar/reintegrar, punir e intimidar‟, apresenta-se a nosso ver, 
principalmente em relação as duas primeiras, como uma alternativa que se 
destina ao fracasso, especialmente pela forma incongruente em que se 
executam as normas da legislação e as condições que existem para que estas 
sejam cumpridas. 
Os principais problemas, no que tange à instituição prisional, são: a 
superlotações carcerárias, a violências exercidas entre os próprios detentos, os 
abusos de autoridades que estão relacionados aos maus tratos e as torturas, 
não havendo a existência da garantia aos direitos humanos dentro do 
cárcere. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008). 
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2008), além de todos 
esses fatores, a lei também não se faz cumprir quando as estatísticas mostram 
que o perfil dos indivíduos apenados é na maioria pobre, com baixa 
escolaridade e do sexo masculino, sugerindo a veracidade do dito popular: 
“quem tem dinheiro não fica preso”. 
Nas palavras de Zaluar (apud Guedes 2006, p. 563) 
Os sujeitos pertencentes às classes de baixa renda tendem a sofrer maior ação 
da justiça através do aparato judiciário policial. Assim, as prisões ficam cheias 
de pobres e se reproduz um estereotipo de criminoso como aquele proveniente 
de bolsões de pobreza, não sendo a população carcerária uma amostra 
fidedigna do conjunto total de infratores. 
O termo penitenciária se define como lugar destinado aos indivíduos que já 
teriam conhecimento de sua pena e essa seria caracterizada pela reclusão de 
regime fechado por um determinado tempo, sendo que este local por lei 
deveria ter condições essenciais para abrigar o apenado, determinando 
condições que não afetam a saúde do mesmo e alojando-os em celas 
individuais. Para as mulheres, prevê a inclusão de uma seção para gestantes e 
uma creche para o abrigo e assistência aos filhos das mesmas (SAFFI, 2003). 
Entretanto, a situação real das penitenciárias no Brasil não está de acordo 
com o citado acima, pois “[...] as penitenciárias no país vem se tornando cruéis 
masmorras, onde se encontram pessoas em cumprimento de pena privativa de 
liberdade provisórios misturados com condenados, empilhados num espaço 
físico mínimo, prevalecendo o mais absoluto caos” (MACHADO, 2009, p. 2). 
Apesar de todas essas colocações a respeito do sistema prisional, 
Azevedo (2000) relata um interesse por parte de algumas penitenciárias no 
Brasil de uma política com o foco na ressocialização, resgatando o direito de 
cidadão dos indivíduos apenados, tentando assim colocar a LEP em prática. O 
trabalho do psicólogo está totalmente voltado para o compromisso social e a 
práticas que possam contribuir para que se faça cumprir essa Lei de 1984 a 
partir de intervenções baseadas na prevenção, educação, justiça e 
responsabilização dos sujeitos e da sociedade (SILVA, 2007). 
Para Azevedo (2000) o trabalho do psicólogo na áreados Direitos 
Humanos tem como objetivo defender os mesmos, combatendo as várias 
formas de exclusões existentes na sociedade, contribuindo para a cidadania e 
fazendo com que a sociedade reflita sobre a violação desses direitos. 
No ano de 1998 foi fundada a comissão dos direitos humanos na cidade de 
São Paulo, no aniversário de 50 anos da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, o trabalho tem como base o Código de Ética do Psicólogo seguindo 
assim os seus princípios fundamentais (AZEVEDO, 2000). 
Analisando esse capítulo fica evidente a importância do trabalho do 
psicólogo dentro do sistema prisional, visando não apenas a subjetividade do 
indivíduo como também o combate à violação dos Direitos Humanos. Assim a 
psicologia tem um trabalho amplo dentro da instituição carcerária, o qual será 
descrito a seguir. 
Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional 
A intervenção realizada pelo psicólogo dentro do sistema prisional está 
ligada a uma atuação em que se procura promover mudanças satisfatórias não 
só em relação às pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade, 
mas também de todo sistema. “A intervenção em sistemas penitenciários 
implica em uma atuação planificada e dirigida a promover a mudança das 
prisões para torná-las mais eficientes e eficazes na resolução de seus 
problemas” (JESUS, 2001, p. 68). 
O trabalho do psicólogo dentro das instituições prisionais existe há mais de 
quarenta anos por meio de trabalhos informais e voluntários, mas só a partir da 
promulgação da LEP de 1984 que o trabalho foi reconhecido oficialmente e 
vem sendo objeto de estudo em vários debates e fóruns do Brasil (CARVALHO 
apud LAGO, 2009). O Conselho Federal de Psicologia (CFP) junto ao 
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e o Ministério da Justiça (MJ) 
estão em parceria nessa discussão sobre a importante atuação do psicólogo 
nessa área (SILVA, 2007). 
De acordo com a resolução do CFP 012/2011, em todas as práticas 
realizadas dentro do âmbito do sistema prisional o psicólogo deverá visar 
fielmente os direitos humanos dos sujeitos em cumprimento de pena privativa 
de liberdade, procurando construir a cidadania por meio de projetos para a sua 
reinserção na vida social. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2011). 
Para Silva (2007, p.104) é importante seguir essa colocação quando 
menciona que: 
A psicologia deve ocupar espaço de atuação na transdisciplinaridade, o que 
destacará a sua importância no processo de construção da cidadania, que 
deve ser objetivo permanente dos profissionais, em contraposição à cultura de 
primazia da segurança, de vingança social e de disciplinarização do indivíduo. 
A atuação do psicólogo dentro do sistema prisional é bastante abrangente, 
pois as demandas são muitas. Além de participar das Comissões Técnicas de 
Classificação, o psicólogo pode trabalhar junto aos sujeitos que estão 
cumprindo pena privativa de liberdade, familiares e comunidade como também 
dos próprios profissionais que atuam dentro da instituição. 
Psicologia e a Comissão Técnica de Classificação (CTC) 
A Lei de Execução Penal (LEP) fundou as Comissões Técnicas de 
Classificação (CTCs), formadas por uma equipe especializada, orientada pelo 
diretor e composta por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e 
um assistente social, devendo existir em cada estabelecimento (MENEZES, 
2003). De acordo com artigo 9º da LEP, cada membro da comissão deve 
contribuir com seu saber, visando um plano de individualização da pena do 
indivíduo que está encarcerado para que se tenha um tratamento penal 
adequado, podendo entrevistar pessoas, requisitar informações a qualquer 
estabelecimento privado ou repartições, além de proceder a exames ou outras 
diligencias que se fizerem necessárias. Segundo o artigo 6º da LEP, a CTC 
poderá elaborar o exame criminológico, com a finalidade de estabelecer um 
programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao 
individuo que cumpre pena privativa de liberdade. 
Entretanto, nos últimos meses, houve um debate sobre a realização do 
exame criminológico por parte dos profissionais de psicologia, pois o papel 
ético do psicólogo é completamente oposto ao que determina tal exame. 
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, não cabe aos 
psicólogos efetuarem qualquer tipo de parecer sobre a periculosidade das 
pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade e sua 
irresponsabilidade penal. Para Rauter (2007, p. 43) é totalmente contraditório a 
atuação do psicólogo no que se refere à elaboração de laudos e pareceres que 
“[...] vão no sentido ao contrario à ética profissional”. De acordo com o mesmo 
autor “[...] ao psicólogo é solicitado fazer previsões de comportamento através 
de laudos que instruem a concessão de benefícios e a progressão de regimes, 
exercendo uma espécie de futurologia científica sem qualquer respaldo teórico 
sério”. Já Silva (2009) coloca que o exame criminológico “é um dispositivo que 
viola, entre outros, o direito a intimidade e a personalidade” (SILVA, 2007, p. 
106). 
Quanto ao EC exigido do psicólogo, pretende inferir sobre a periculosidade do 
sujeito, tendendo a naturalizar as determinações do crime, ocultando os 
processos de produção social da criminalidade. Desnaturalizar, ouvir, incluir, 
respeitar as diferenças, promover a liberdade são missões do psicólogo. 
Classificar, disciplinar, julgar, punir são missões impossíveis para o psicólogo 
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010, p. 55). 
Diante do citado acima, o Conselho Federal de Psicologia, na resolução 
09/2010, que regulava a atuação do psicólogo no sistema prisional, 
estabeleceu no Art. 4 que, de acordo com a lei nº10792/2003: 
É vedado ao psicólogo que atua nos estabelecimentos prisionais realizar 
exame criminológico e participar de ações e/ou decisões que envolvam prática 
de caráter punitivo e disciplinar, bem como documento escrito oriundo da 
avaliação psicológica com fins de subsidiar decisão judicial durante a execução 
da pena do sentenciado. 
Porém, apesar de previsto na Resolução 09/2010, do Conselho Federal de 
Psicologia, o judiciário demandou a continuação da elaboração dos exames 
criminológicos por parte dos psicólogos. Diante da polêmica existente, o 
Conselho Federal de Psicologia em sua resolução nº 19/2010 suspendeu os 
efeitos da resolução CFP nº09/2010 pelo prazo de 6 meses, para a realização 
de audiências públicas em prol de se chegar a um acordo. O prazo da 
suspensão dos efeitos da resolução 09/2010 foi novamente prorrogado, por 
mais seis meses. Após debates sobre o assunto, em maio de 2011 foi 
elaborada a resolução nº 12/2011 que disciplina a atuação do psicólogo no 
sistema prisional. 
De acordo com a Resolução 12, de 2011, do Conselho Federal de 
Psicologia, no que se refere à elaboração de documentos escritos por 
psicólogos com finalidade de auxiliar alguma decisão judicial na execução das 
penas, não poderá ser realizada por profissionais psicólogos que atuem como 
profissionais de referência para “o acompanhamento da pessoa em 
cumprimento da pena ou medida de segurança, em quaisquer modalidades 
como atenção psicossocial, atenção à saúde integral, projetos de reinserção 
social, entre outros” (art. 4º). E é também vedada ao psicólogo a realização de 
qualquer tipo de prognóstico criminológico de reincidência do apenado ou a 
verificação de periculosidade do mesmo. 
Sendo assim, os casos das pessoas em cumprimento de pena privativa de 
liberdade que chegam à instituição prisional para o cumprimento de suas 
penas, passam pela CTC para que seja respeitada sua subjetividade, sua 
história de vida, visando à intervenção mais adequada (CHAVES, 2010, p. 7). A 
autora exemplifica: 
Se o preso é analfabeto, encaminha-se para alfabetização; se não tem 
profissão, para curso profissionalizante; se tem hipótese de transtorno mental, 
encaminha-se para avaliação psiquiátrica pelo SUS; se tem alguma doença,passará por avaliação medica detalhada; se tem histórico de abuso de drogas, 
poderá participar de grupos específicos com a Psicologia, e assim por diante. 
De acordo com Kolker (2004), uma das atribuições da CTCs é aprimorar a 
execução penal estudando e propondo medidas para que isso aconteça, 
reduzindo os prejuízos de convivência e ajudando na capacitação das pessoas 
que estão em cumprimento de pena restritiva de liberdade para o convívio 
social. Porém esse tipo de tratamento individualizado previsto em lei é difícil de 
ser atingido nos presídios brasileiros pela superpopulação existente nos 
mesmos, sendo tarefa difícil proporcionar um tratamento penal individualizado 
para esses indivíduos. 
Chaves (2010) também ressalta a dificuldade existente de uma atuação 
eficiente com os indivíduos que cumprem pena privativa de liberdade, pois as 
atividades citadas acima como importantes do desenvolvimento da 
individualização das penas nem sempre estão disponíveis para os que 
necessitam. 
De acordo com Ibrahim (2000) é de suma importância acompanhar a 
pessoa que está cumprindo pena privativa de liberdade durante toda a 
execução da pena, desde sua chegada na instituição onde passaria pela CTC 
até sua reinserção na sociedade conforme prevê a Lei de Execução Penal de 
1984. 
Para Silva (2007, p. 106) no que se refere à CTC, o psicólogo deve prestar 
atenção nas práticas realizada dentro da mesma, opinando nas pautas 
debatidas sempre de acordo com o Código de Ética Profissional, evidenciando 
os instrumentos nacionais e internacionais de direitos humanos, incentivando 
debates sobre “saúde, educação e programas de reintegração social”. 
Atenção Individualizada à Pessoa em Cumprimento de Pena 
A atenção individualizada à pessoa em cumprimento de pena diz respeito a 
todo atendimento “psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, 
acompanhamento, orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio, 
atendimento ambulatorial entre outros” (CONSELHO FEDERAL DE 
PSICOLOGIA, 2009, p. 19) que podem ser realizados pelos psicólogos junto 
aos sentenciados que cumprem pena privativa de liberdade. De acordo com o 
Conselho Federal de Psicologia (2009), os atendimentos individuais podem ser 
solicitados não só pelo próprio apenado como também pelos funcionários da 
instituição prisional ou até mesmo pelos familiares. Este tem como objetivo 
compreender as pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade, 
avaliar sua saúde mental, dar acolhimento, escutar suas demandas, promover 
saúde e defender os direitos humanos. 
Segundo Fernandes (2000), o atendimento individual é composto por 
várias entrevistas. Quando há uma demanda de emergência o autor denomina 
de entrevista de adaptação ou emergência, que são realizadas no caso de 
crise do preso, tendo como objetivo ajudar o mesmo a encontrar soluções para 
que não acarrete em indisciplinas ou em algum tipo de comportamento que o 
prejudique dentro do sistema prisional. Outro tipo é colocado pelo autor como 
entrevista de acompanhamento que se caracteriza por um atendimento breve 
ou limitado e pode ser determinado pelo Juiz, encaminhado por professores e 
administradores ou a pedido do próprio preso. 
Nascimento (2000) nomeia como entrevista de orientação o 
acompanhamento do preso pelo psicólogo durante a execução da pena. O 
apenado encaminha um bilhete ao psicólogo solicitando a entrevista na busca 
de orientação sobre saúde, família, situação jurídica, sobre dificuldades a 
respeito do convívio com as outras pessoas em cumprimento de pena privativa 
de liberdade, como também dificuldades pessoais. É a partir dessa entrevista 
que se observa a demanda e a vontade do indivíduo para o trabalho de 
orientação psicológica. Esse procedimento atende melhor as solicitações do 
sujeito quando o mesmo está disposto a aceitar a intervenção, pois tem uma 
função mais terapêutica. A autora sugere esse acompanhamento em: 
Casos de soropositividade para HIV, síndrome de abstinência, na fase que 
chamamos de saturação, que se refere aquelas pessoas que tem diversas 
passagens pelo sistema e que procuram compreender o porque isso acontece 
(porque não conseguem viver „lá fora‟), e aqueles que estão prestes a sair e se 
angustiam com a expectativa e com o medo do retorno, manifestando 
sentimentos ambivalentes: alegria e medo, insegurança. (NASCIMENTO, 2000, 
p.105). 
Podem também ser realizados plantões psicológicos. Esse tipo de 
intervenção é realizado de forma individual visando um atendimento de 
emergência e tem como objetivo o acolhimento ao indivíduo que está 
cumprindo pena restritiva de liberdade fornecendo assim uma atenção 
psicossocial aos mesmos. “Esse sistema pede uma disponibilidade para se 
defrontar com o não planejado e com a possibilidade de que o encontro seja 
único” (MAHFOUND, apud GUEDES, 2006, p. 562). 
Para Silva (2000, p. 378) é responsabilidade do psicólogo que trabalha 
dentro do sistema prisional abranger sua prática para além da tarefa de 
classificação do apenado, oferecendo possibilidades “terapêuticas” a esses 
indivíduos excluídos pela sociedade. “Longe de se revelar como uma proposta 
utópica, o que a experiência tem demonstrado é que para além da miséria 
social e moral, o acesso à própria verdade é o que possibilita ao ser humano 
seu próprio crescimento”. 
O atendimento psicológico é valorizado pelas pessoas que cumprem pena 
privativa de liberdade, quando os mesmos passam a enxergar que ali é um 
espaço que oferece a eles uma reflexão sobre sua atuação como indivíduo 
social que fica escondido enquanto pessoas encarceradas, como também um 
momento de privacidade, o qual é praticamente impossível de acontecer no 
âmbito do cárcere (GUEDES, 2006). 
Atenção Grupal Realizada pelo Psicólogo 
Os trabalhos realizados em grupo são na maioria das vezes uma 
oportunidade de oferecer aos sentenciados algum tipo de intervenção, pelo 
grande número de pessoas e de poucos profissionais da área sendo também 
um espaço único de convivência, podendo o preso se relacionar e trocar 
experiências. Esses grupos podem surtir efeitos internos em seus participantes 
e com isso pode ser mudada a forma como eles se relacionam com a 
sociedade como um todo (CHAVES, 2010). A dinâmica do grupo dentro das 
prisões é a mesma realizada fora delas se baseando na maioria das vezes nas 
características dos indivíduos que compõe o grupo. 
Os grupos dentro das instituições prisionais podem servir para várias 
finalidades, dependendo das demandas apresentadas pelas pessoas que estão 
em cumprimento de pena privativa de liberdade, podendo também ser usadas 
técnicas de diferentes tipos como oficinas terapêuticas, grupos de reflexão e 
conscientização, grupo operativo, psicoterapia de grupo entre outros 
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009). 
De acordo com Nascimento (2000, p.105) o trabalho em grupo tem como 
objetivo a interação entre os indivíduos em cumprimento de pena privativa de 
liberdade e também possibilitar reflexões “sobre aspectos referentes à 
dignidade, ética, autoestima, respeito por si e pelo outro, cidadania, 
participação política, favorecendo a vida em sociedade”. 
Para Azevedo (2000) os grupos podem ser formados com o intuito de 
trabalhar situações da vida prisional, como as penas, conhecimento da história 
do sistema em que ele está inserido, as drogas, questões de saúde 
(DST/AIDS), conflitos que surgem no cotidiano dos apenados, relações 
interpessoais, bem como seus direitos e deveres. 
É muito importante esse trabalho grupal com os indivíduos que cumprem 
pena privativa de liberdade, pois: 
Se eles ficam presos, escutam muitas vezes vozes contaminadas de possíveis 
companheiros de cela, comprometidos com a cultura do crime. Os grupos são 
possibilidades de resgatá-los para a sociedade da qual de fato fazem parte e 
que, em alguns casos, por um momento (ou uma vida), negou sua existência 
(CHAVES, 2010, p. 17). 
De acordocom Chaves (2010), Conselho Federal de Psicologia (2009) e 
Fernandes (2000), o trabalho grupal dentro do sistema prisional é muitas vezes 
visto como um trabalho arriscado, nem sempre possível de ser realizado diante 
das regras de segurança de algumas unidades. Sendo assim, é necessário 
tomar medidas de segurança, como informações do clima da instituição no dia 
da realização do trabalho, entre outras. 
Apesar da colocação acima, muitos são os trabalhos realizados em grupos 
com as pessoas que estão cumprindo sua pena privativa de liberdade no 
sistema prisional brasileiro. 
Grupos com preso em regime fechado têm a finalidade de preparar o 
indivíduo que está encarcerado para a progressão da sua pena, visando a 
diminuição da ansiedade causada pelo cárcere, para dar possibilidade de 
condutas positivas e saídas mais saudáveis, sendo empregadas várias 
técnicas, como dramatização, filmes e debates, temas livres, entre outras 
(FERNANDES, 2000). 
Nos grupos de dependentes químicos, o objetivo é tratar os detentos 
dependentes de substancias psicoativas dos variados tipos, maconha, cocaína, 
álcool entre outras (FERNANDES, 2000). 
Nos grupos de prevenção a DST/AIDS, o objetivo é orientar e esclarecer a 
respeito das doenças sexualmente transmissíveis, visando mudanças na 
conduta do preso com base na conscientização do comportamento que pode 
ser de risco (FERNANDES, 2000). 
Chaves (2010) é psicóloga atuante da Penitenciária Estadual de Foz do 
Iguaçu (PEF), que é uma unidade penal de segurança máxima destinada aos 
presos do sexo masculino em regime fechado. Segundo a autora existe dentro 
da penitenciária um espaço em que se pode planejar e sugerir projetos para 
favorecer o desenvolvimento do indivíduo que cumpre pena privativa de 
liberdade. 
O modo de trabalhar que descobri foi criando e recriando projetos. 
Organizamos um grupo, desenvolvemos, analisamos os resultados, 
concluímos. Encontramos dificuldades, a energia desgasta. Pensamos em uma 
alternativa. Energia renovada: outro nome, outra temática, outra proposta. Um 
novo trabalho. Novos participantes. E diante de pequenas vitórias insistimos 
(CHAVES, 2010, p. 17). 
Chaves (2010) descreve alguns projetos realizados por ela no início da sua 
atuação dentro da Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu, onde alguns já se 
encerraram e outros permanecem ativos até hoje. 
Grupo de orientação para liberdade, o objetivo principal é fornecer ao 
sujeito em cumprimento de pena restritiva de liberdade um espaço de diálogo, 
orientando e informando a respeito da vida em sociedade (CHAVES, 2009). 
Nos grupos psicoterapêuticos, em cada encontro é debatido um tema 
específico, como família, sociedade, crime, futuro. E são utilizadas dinâmicas 
como forma de trabalho. Porém, segundo Chaves (2009), é uma prática 
limitada, pois dentro do sistema prisional não há muito espaço e não se pode 
tocar um no outro por motivos de segurança e preservação dos membros. 
O Grupo resgatando memórias faz com que a pessoas que se encontra 
encarcerada tente resgatar aspectos referentes à sua história de vida, sendo 
uma oportunidade de “[...] reorganizar sua história e pensar no legado da 
família e na sua identidade” (CHAVES, 2009, p. 24). 
 O grupo resgate da responsabilidade social surgiu do interesse das 
próprias pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade em resgatar 
a sua cidadania, mostrando a sociedade “[...] algo de sua vivência criminal“ 
(CHAVES, 2010, p. 24). Como exemplo a autora menciona que em parceria 
com o Centro Integrado de atendimento ao Adolescente Infrator, um dos 
integrantes do grupo citado acima foi relatar os prejuízos que obteve em sua 
vida através do crime. 
Já os Grupos de Apoio ao Dependente Químico, têm como objetivo 
proporcionar reflexões e apoio diante do problema da drogadição tão presente 
dentro da instituição carcerária (CHAVES, 2010). 
Nos grupos de Dança de Salão, além de se proporcionar autoestima, 
autoimagem e autoconceito para aqueles que estão cumprindo pena privativa 
de liberdade, o objetivo é melhorar a relação conjugal, pois o grupo é dirigido 
aos casados que recebem com frequência a visita de sua esposa (CHAVES, 
2009). 
No grupo Re-parar para Re-construir, o foco é o sujeito em cumprimento 
de pena privativa de liberdade reincidente, e o objetivo é intervir de forma que 
possibilite ao indivíduo reflexão sobre a sua vida colocando em evidencia os 
projetos de vida (CHAVES, 2009). 
Por fim, a autora descreve os grupos Agente Multiplicadores de Saúde e 
Oficina de Sexo Seguro, que ajudam os sujeitos que se encontram 
encarcerados a terem mais informações a respeito das doenças focalizando a 
prevenção das mesmas (CHAVES, 2009). 
Atendimento aos Familiares 
Os psicólogos que trabalham dentro do sistema prisional podem também 
atuar juntamente aos familiares dos indivíduos que estão cumprindo pena 
dentro do sistema prisional. Essa intervenção pode ser realizada através de 
entrevistas que geralmente tem objetivo de se obter uma melhor compreensão 
do caso de cada indivíduo que cumpre pena privativa de liberdade. Orientações 
a respeito de como receber o familiar que se encontra preso de volta ao lar. 
Acolhimento e escuta, pois muitas vezes os familiares não aceitam a situação 
na qual se encontram, como também podem ser realizados atendimentos para 
compartilhar informações sobre o preso, as condições de saúde e o 
acompanhamento do caso (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009). 
O atendimento familiar é muito importante, pois além de esclarecer as 
dúvidas sobre o sistema carcerário e sobre a situação do preso para a família, 
tem objetivo de resgatar e manter esse vínculo familiar (NASCIMENTO 2000). 
Para Fichtner (apud HASSON, 2003), a família é essencial para o ser 
humano podendo a mesma interferir na vida do indivíduo de forma positiva ou 
negativa dependendo da sua estrutura. 
A família é a matriz mais importante do desenvolvimento humano e também 
principal fonte de saúde. Entretanto, quando não se constitui uma unidade de 
experiência, de aprendizagem e de criatividade, poderá se tornar um fator de 
doença (FICHTNER apud HASSON, 2003, p. 81). 
De acordo com Guedes (2006) muitos são os indivíduos que cumprem 
pena privativa de liberdade que depois de serem presos dizem valorizar mais a 
estrutura e o convívio familiar. Os familiares que são presentes na vida da 
pessoa que se encontra encarcerada acabam sendo uma ponte de ligação do 
mundo dentro do sistema carcerário e o mundo fora dele, a sociedade 
(BASTOS apud GUEDES, 2006). 
É importante o trabalho com a família do individuo que está encarcerado, 
visto que quando a mesma está preparada para receber a pessoa que estava 
presa como integrante do núcleo familiar auxilia na sua readaptação na 
sociedade (INALUD, [19--]). 
Muitos familiares justificam a ausência nas visitas pela dificuldade de se 
deslocar da sua residência até a prisão, por não terem condições financeiras 
para isso, pela tristeza de ver seu familiar preso e também pelo 
constrangimento de passar pela revista íntima obrigatória para entrar na prisão. 
A revista íntima de acordo com Soares e Ilgenfritz é apontada “como um 
procedimento constrangedor, humilhante e ineficiente, já que nem sempre 
consegue impedir a entrada de drogas, celulares e outros objetos ilícitos dentro 
do cárcere” (SOARES; ILGENFRITZ apud GUEDES, 2006, p. 567). 
O Trabalho Junto aos Egressos do Sistema Prisional 
A Lei de Execução Penal de 1984, em seus Art. 25, 26 e 27, prevê a 
assistência aos egressos do sistema prisional orientando e apoiando na 
reintegração a vida social, se necessário disponibilizando abrigo e alimentação 
durante dois meses, prazo esse para que o egresso busque emprego e 
condições de moradia. Caso seja comprovada a necessidade, pode ocorrer 
uma prorrogação desse período. É dever dos profissionais capacitados 
colaborarem para a que o egresso consiga trabalho. São consideradosegressos todos os indivíduos liberados do sistema prisional até um ano após 
esse fato, e os que são liberados condicionais e estão no período de prova 
(BRASIL, 1984). 
Porém, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2008) não se vê 
o cumprimento da lei em todo o Brasil, uma vez que muitos egressos não 
possuem nem a passagem de ônibus quando retornam à sociedade. Portanto, 
é necessário e urgente que o “Estado brasileiro viabilize a construção de um 
programa nacional de apoio aos egressos, envolvendo – entre outras medidas - 
a atenção psicossocial” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008, p. 
32). 
O objetivo de um programa para atender a população egressa no Brasil 
não deve se focar na diminuição de casos reincidentes e sim na promoção da 
reintegração do egresso na sociedade, pois assim consequentemente o índice 
de reincidência diminui naturalmente. A forma mais eficaz de isso acontecer é 
colaborar para que o egresso gere sua própria renda de forma legal, pois esta 
é uma forma do indivíduo ser visto não só pelos familiares, mas pela sociedade 
como um integrante da mesma facilitando a reintegração dentro do contexto 
família sociedade (ILANUD, 19--). 
Para um bom funcionamento do programa é importante que haja uma 
equipe multiprofissional atuando junto aos egressos. De acordo com Ilanud (19-
-), os assistentes sociais, os psicólogos e advogados são profissionais 
indispensáveis na equipe dando ênfase ao trabalho psicólogo, sendo colocado 
como o mais importante, tendo em vista o grau de vulnerabilidade em que se 
encontram os indivíduos quando saem de dentro do sistema prisional. 
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2009) o trabalho com os 
egressos não é tarefa fácil, pois há muito preconceito da comunidade e dos 
próprios familiares, dificultando a reabilitação social, além da grande falta de 
políticas públicas referentes a essa área. 
Diante desse contexto, existe o instituto Elo, que é uma associação privada 
sem fins lucrativos fundada por profissionais capacitados da área social, na 
qual elaboram projetos, visando a inclusão dos indivíduos em situação de 
vulnerabilidade social. Os programas CEAPA, Fica Vivo!, Mediação de 
Conflitos, e o Programa de reintegração do Egresso do Sistema Prisional 
(PrEsp), fazem parte desse instituto 
De acordo com Assis (2009), O PrEsp visa trabalhar junto aos egressos do 
sistema prisional os direitos humanos, seus deveres e direitos, discutir 
questões como a vulnerabilidade social, as causas e consequências do seu 
ingresso no crime, a família, a afetividade, além de promover formas de 
crescimento e inclusão através da educação, profissão e sociedade 
executando projetos em prol disso (ASSIS, 2009). Quando os indivíduos saem 
do sistema prisional, os mesmos são informados do programa e da 
obrigatoriedade da presença para atendimento. Esse programa tem o objetivo 
de: 
Promover a reintegração social do egresso do sistema prisional, mediante 
políticas públicas e sociais que possam garantir e ampliar os direitos que estão 
dispostos na Lei de Execuções Penais (LEP), nº 7210\ 84, que visa criar 
perspectivas favoráveis para o rompimento do ciclo de violência em que os 
egressos se encontram, em sua maioria, inseridos, diminuindo assim a 
reincidência criminal (ASSIS, 2009, p. 9). 
Diante desse contexto, oficinas são realizadas com o intuito de trabalhar 
temas como cidadania, afetividade, violência doméstica, questões de gênero e 
racial, atividade cultural, que ajudariam em uma nova interpretação de suas 
vidas para que tenham novas perspectivas do futuro. Os temas variam de 
acordo com as necessidades apresentadas pelos egressos. 
No que se refere aos cursos profissionalizantes, Assis (2009) menciona a 
dificuldade da realização do mesmo para a qualificação dos indivíduos no 
sentido de ajudá-los a ter mais chances no concorrido muno dos trabalhos. 
São muitas as dificuldades para realizar cursos profissionalizantes, devido a 
falta de uma rede mais organizada e por se tratar de um público que em sua 
maioria não tem documentação, tem baixa escolaridade e não tem recursos 
financeiros para o transporte (ASSIS, 2009, p. 19). 
Em relação à obtenção de renda e oportunidades de emprego por parte 
dos egressos é importante destacar o paradoxo existente, pois o Estado 
promove a reinserção do indivíduo no campo de trabalho referente à iniciativa 
privada, porém não aceita o egresso para cargos públicos. De acordo com 
Inalud (19--) a proibição do egresso a cargos públicos deveria ser revista: 
Tomar a condenação criminal como sinônimo de inidoneidade moral importa a 
equivalência, a priori, entre violação de regra jurídica (crime) e violação de 
regra moral; tal equivalência pressupõe a fundamentação moral de todo e 
qualquer crime, algo que contesta desde a laicização do Estado (que o Brasil 
deu-se coma constituição de 1891). E por fim, a incapacidade eterna de 
exercício de cargo público terminaria por perpetuar um dos efeitos da sentença 
penal condenatória (Código Penal, art. 92), e a CR proíbe, em absoluto, as 
penas de caráter perpétuo (art. 5º, inc. XLVII, alínea b) (INALUD, 19--, p. 111). 
Inalud (19--) descreve a falta de documentação uma importante causa das 
situações constrangedoras que o egresso do sistema prisional passa, pois ao 
sair, muitos não possuem documento, portando somente a carteirinha de 
livramento, aumentando assim, o sentimento de vulnerabilidade pessoal. 
Portanto é essencial que os programas de atendimento aos egressos 
ofereçam primeiramente orientações para a obtenção de documentos pessoais, 
pois é também uma forma do egresso se sentir cidadão, aumentando o 
sentimento de integração social, além de a documentação ser necessária para 
“[...] o exercício de muitas atividades inerentes ao status de cidadão: desde o 
direito de voto [...] até a possibilidade de abrir um crediário em uma loja” 
(INALUD, 19--, p. 107). 
É importante também que seja determinado um tempo específico para o 
atendimento ao egresso para que diminua a possibilidade de se criar um 
vínculo de dependência entre os programas e os atendidos, já que os mesmos 
saberão que as atividades que eles realizam têm data certa para acabar. “O 
importante é que , seja qual for a atividade a se desempenhar, haja sempre um 
prazo máximo de duração para cada uma delas, e que esse prazo seja pré-
estabelecido e informado ao egresso desde o inicio do tratamento“ (INALUD, 
19--, p. 109). 
Muitos são os caminhos que estão sendo desenvolvidos para lidar com 
esse desafio da reintegração dos egressos na sociedade, onde primeiramente 
devem ser resolvidos as lacunas inerentes a baixa escolaridade e, como citado 
acima, a falta de documentação, conscientizar e responsabilizar a comunidade 
como um todo para a ressocialização dos egressos (CONSELHO FEDERAL 
DE PSICOLOGIA, 2009). 
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2008), no Brasil não se 
acredita na readaptação das pessoas em cumprimento de pena privativa de 
liberdade na sociedade, 
Não apenas muito dos técnicos e funcionários que trabalham no sistema 
penitenciário, mas também grande parte dos membros do Ministério Público, 
da Magistratura e da polícia estão convencidos de que a idéia de “recuperação” 
dos condenados às penas privativas de liberdade não possui consistência , e 
expressaria , tão somente , uma visão ingênua (CONSELHO FEDERAL DE 
PSICOLOGIA, 2008, p. 33). 
Porém não há fundamentação teórica sobre essa colocação, conforme 
pode ser evidenciado em pesquisas realizadas sobre a reabilitação das 
pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade. Nas quais mostram 
de forma positiva o resultado dos trabalhos com os egressos do sistema 
prisional, que apontam uma diminuição no que se refere à reincidência criminal. 
Vale ressaltar que não importa o tipo de abordagem que é usada nos 
programas, o importante é que os “[...] programas de reabilitação com detentos 
ou egressos

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