Buscar

educaçao e trabalho 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EDUCAÇÃO E TRABALHO 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rui Valese 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Ao iniciarmos o estudo de determinada disciplina, é de fundamental 
importância começarmos por delimitar alguns conceitos sobre as quais esta está 
organizada. Assim, iniciaremos nosso estudo com base nos conceitos do que é 
educação, trabalho, relações sociais, cultural, social, entre outros que 
consideramos fundamentais. 
Porém, antes desses conceitos, precisamos fazer uma reflexão 
ontofilosófica. A educação é um ato especificamente humano, feito por e entre 
humanos. Assim, primeiramente, precisamos deixar explícita nossa 
compreensão de ser humano. Da mesma forma, afirmamos que todo educador, 
antes de iniciar seu trabalho, precisa, necessariamente, também encontrar sua 
definição de ser humano, com base na qual organizará toda a sua atividade 
profissional e pedagógica. 
Por fim, iniciaremos nossas reflexões sobre as relações entre trabalho e 
educação nas denominadas comunidades primitivas. Muito mais do que 
afirmações, pretendemos trazer algumas reflexões e provocações que levem a 
outras reflexões sobre a importância do fazer pedagógico e seu compromisso 
ético, político, cultural e emancipatório. 
TEMA 1 – ONTOLOGIA E EDUCAÇÃO 
Segundo o filósofo alemão Immanuel Kant, se “O homem é a única 
criatura que precisa ser educada” (Kant, 2002), é porque, também pela 
educação, o ser humano vai se humanizando. Desta forma, precisamos pensar 
a educação para além do processos ensino-aprendizagem. E, para tal, 
precisamos partir de alguns fundamentos sob os quais a educação será 
orientada. Assim, começaremos tratando da educação a partir de uma 
perspectiva ontológica. 
Por ontologia entendemos, a partir de seu sentido etimológico – onto 
(ente) + logia (logos) – a Ciência do Ser, o estudo do Ser enquanto Ser. Por Ser, 
aqui, estamos falando não do verbo, mas do seu sentido substantivo. Assim, o 
que caracteriza o Ser como Ser? Isto é, qual é a sua essência? O que caracteriza 
a sua identidade? Qual a sua substância? Por substância não estamos falando 
em sentido material, mas, aquilo que é permanente no Ser, que não se altera, 
mas, que o identifica. Da mesma forma, o que faz com que os indivíduos possam 
ser agrupados em determinada categoria de Ser. Por exemplo: qual é a 
 
 
3 
substância que nos caracteriza como ser humano? O que está presente em 
todos os indivíduos, sem nenhuma distinção de cor, etnia, gênero, crença ou não 
crença religiosa, condição social etc., que os coloca na condição de seres 
humanos? 
Ao longo da história do pensamento humano, é possível distinguir 
diferentes compreensões de ser humano, que implicam em diferentes 
consequências para o trabalho e educação. Por termos uma forte influência da 
cultura grego-judaica-latina em nossa formação, partiremos das compreensões 
de ser humano oriundas dessas três bases. Porém, faz-se necessário observar 
que as preocupações com a compreensão e definição de Ser não são 
exclusividade grega, e eles também não foram os primeiros. Em A filosofia antes 
dos gregos, o professor português catedrático da Universidade de Lisboa, José 
Nunes Carreira, afirma que 
O pensamento egípcio lançou a base mais importante para a criação 
de uma autêntica ontologia, a saber, os meios linguísticos necessários 
à formulação de noções filosóficas. Há na língua egípcia dois verbos 
para “ser”, um dos quais (wn/n/) com dois particípios, designando o 
“ente” e “o que foi”, uma capacidade que o latim não possui. E também 
na forma finita e fazem afirmações sobre a existência dos seres. (1994, 
p. 55). 
Da mesma forma, também na filosofia chinesa, em particular Confúcio, a 
ideia de Ser já estava presente. Por exemplo, quando ele afirma que, para 
realizar nossa vida moral de forma plena, é preciso “encontrar a pista central 
(shung) do nosso ser moral e ser harmonioso (yung) com o universo”, (Wing-tsit, 
1978 – sem página indicada). 
Porém, dado que a nossa maior influência, como já dissemos, é a cultura 
judaico-grego-latina, partiremos delas para refletir sobre concepções de ser 
humano. Primeiramente, vejamos três definições de Ser, das quais derivam 
diferentes concepções. 
A primeira delas é a concepção essencialista. Segundo essa concepção, 
cada Ente (como também é chamado o Ser), tem uma essência que é fixa e pré-
determinada. E, por consequência, cada indivíduo, dentre uma categoria de 
Ente, tem uma essência que também é fixa e pré-determinada. Por exemplo: 
todos os indivíduos da espécie humana, apesar das diferenças que os 
individualizam, têm uma essência em comum, que é fixa e pré-determinada, que 
os coloca na mesma categoria de Ser Humano. Essa essência é, também, nossa 
potência, como afirma Aristóteles. Somos constituídos da “substância” 
 
 
4 
humanidade, que é a nossa essência e que nos define, mas também somos 
constituídos de atributos acidentais, que não nos definem, mas nos 
individualizam: cor de pele, sexo, altura, cor dos olhos, cabelos etc. 
Em oposição à concepção essencialista, temos a naturalista, que 
também podemos chamar de empirista. Essa concepção afirma que os Entes 
são de acordo com as suas experiências. Isto é, quando nascemos, por exemplo, 
nada está pré-determinado, mas vamos nos constituindo com base nas 
experiências que vivemos. Fruto do pensamento de Descartes e Locke, a 
perspectiva naturalista concebe o ser humano pelo viés do dualismo psicofísico. 
Isto é, conforme o pensamento de Descartes, o ser humano é constituído de 
duas substâncias: res cogitans (espírito) e res extensa (matéria). A primeira, é 
parte pensante; a segunda, não pensante. Ambas, porém, em seu entender são 
imperfeitas, finitas e dependentes. 
Por fim, temos a concepção histórico-social, segundo a qual os Entes 
são naturais, históricos e sociais. Essa compreensão do ser humano surge com 
os pensadores alemães do século XVIII e XIX, entre eles Hegel, Marx e Engels, 
e se dividem entre os idealistas (que seguem o pensamento hegeliano) e os 
materialistas (que seguem o pensamento marxiano). Ao longo do século XIX e 
XX, outros pensadores também se opõem às perspectivas tradicionais e na 
direção do pensamento materialista, entre os quais podemos destacar 
Kierkegaard, Stirner, Nietzsche, Max Scheler, Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, 
Simone de Beauvoir etc. Apesar das muitas diferenças entre esses pensadores, 
o que há de comum entre eles é o fato de que consideram o ser humano como 
produtor de sua própria existência, e, para compreendê-lo, assim como para 
educá-lo, se faz necessário tomar como base o modo como ele se organiza para 
produzir os bens, materiais e imateriais, para produzir e reproduzir a sua 
existência material e imaterial. 
Retomando o que afirmamos com Kant anteriormente – de que o ser 
humano é o único animal que precisa ser educado – para realizarmos tal intento, 
se faz necessário ter claro de qual concepção de ser humano partirmos: 
essencialista, naturalista ou histórico-social? Independentemente de qual 
concepção partimos, é ela que fundamenta a nossa prática pedagógica, sendo 
o ponto de partida, o processo e o ponto de chegada. A educação é uma ação 
tipicamente humana. Feita por e para seres humanos. Da mesma forma, ao 
educarmos, buscamos alcançar determinados objetivos que estão, 
 
 
5 
necessariamente, vinculados a determinados fins. Por fim, aqui a entendemos 
não no sentido de terminalidade, mas de finalidade, isto é, de algo que se almeja 
alcançar por meio de determinada ação e após realizá-la. 
Da mesma forma, cada uma dessas concepções tem suas respectivas 
consequências e/ou finalidades. Se tomamos a concepção essencialista como 
fundamento, concebemos a nós e aos nossos educandos com as respectivas 
naturezas já dadas, definidas previamente. Quando partimos da concepção 
naturalista/empirista, nos concebemos e aos nossos educandos, inicialmente, 
como tábulasrasas, folhas de papel em branco sobre as quais vamos 
depositando, por meio das experiências, os conhecimentos. Por fim, se 
adotamos a perspectiva histórica-social, nem somos definidos previamente, nem 
a posteriori, mas, no próprio existir, em como existimos, em como produzimos e 
reproduzimos a nossa existência material e imaterial. Seja em qual delas nos 
fundamentamos, é importante ter clareza e coerência com ela. 
TEMA 2 – TRABALHO NAS RELAÇÕES SOCIAIS 
Uma das palavras-chave dessa disciplina é trabalho. Porém, o que é 
trabalho? Para respondermos a essa questão, começaremos pelo seu 
significado etimológico e histórico. Em seguida, trataremos do tema pela 
perspectiva materialista e histórico-social. 
Etimologicamente, a palavra trabalho vem do latim tripalium, que era um 
instrumento de tortura utilizado durante o Império Romano. Inicialmente, era a 
junção de três paus – daí o nome tripalium – que os agricultores utilizavam para 
bater o trigo, as espigas de milho e o linho. A partir do século VI da nossa era, 
passou a substituir a cruz nos suplícios aplicados a determinadas pessoas que 
eram julgadas e condenadas. Assim, ao invés de serem crucificadas, os 
condenados eram amarrados em um instrumento feito de um pau na vertical 
sobre o qual colocavam dois outros em forma de “X” e, cada um dos membros 
era amarrado em uma das extremidades. 
Desta forma, uma primeira representação de trabalho que temos é a de 
sofrimento, castigo, punição. Antes, porém, desse sentido etimológico, 
herdamos dos gregos a distinção entre trabalho manual e trabalho intelectual. O 
trabalho intelectual estava destinado às pessoas que tinham tempo livre, que 
tinham direito ao ócio. Com esse tempo livre, podiam se dedicar a atividades 
políticas, intelectuais, físicas, artísticas e educativas. Essas atividades, na Grécia 
 
 
6 
Antiga, estavam restritas apenas a uma parcela pequena da sociedade: os que 
eram considerados cidadãos – homens adultos livres e descendentes dos 
primeiros habitantes da Grécia Antiga. 
Já as atividades manuais, tais como a agricultura e pecuária, os serviços 
domésticos, enfim, todos os trabalhos manuais eram destinados aos não 
cidadãos: as mulheres, livres ou não, os escravos, os ex-escravos e os 
estrangeiros. Nessa mesma sociedade, o trabalho valorizado era o intelectual, já 
o trabalho manual, ainda que essencial, era desvalorizado. O trabalho intelectual 
somente era possível de ser ocupado por quem não precisava trabalhar 
manualmente para garantir sua subsistência, na medida em que tinha quem o 
fizesse. 
Essa divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, na sociedade 
ocidental, persiste até os dias atuais, sendo que o segundo é mais valorizado, 
financeira e socialmente, do que o primeiro. Herdeira do dualismo platônico da 
divisão entre corpo e alma: sendo o corpo e o que está relacionado a ele 
considerado inferior, corruptível; e, por outro lado, tudo que está relacionado à 
alma, superior, perfeito e incorruptível. Como forma de superarmos essa falsa 
oposição – trabalho manual X trabalho intelectual – passaremos, agora, a pensar 
o trabalho e sua relação com a educação considerando seu sentido dignificante, 
sem esquecermos, é claro, das condições degradantes de trabalho que tivemos 
ao longo da história humana. 
Primeiramente, por que consideramos a oposição trabalho manual X 
trabalho intelectual como falsa? Porque toda ação humana implica em esforço 
físico e intelectual. Não existe ação que seja exclusivamente física ou intelectual. 
O que chamamos de atividade intelectual, em realidade, é onde predomina o 
esforço mental, mas, que demanda, também, algum esforço físico. Entre os 
trabalhos que classificamos como intelectual, está a educação, como também o 
trabalho do médico, do engenheiro, do advogado, do administrador, do escritor, 
entre tantos outros. 
Da mesma forma, chamamos trabalho manual aquele para o qual o 
esforço físico é maior; no entanto, demanda, necessariamente, algum esforço 
intelectual. O pedreiro, o motorista, o agricultor, o trabalhador doméstico, o gari, 
o cozinheiro, entre outros profissionais são, da mesma forma, imprescindíveis à 
produção e reprodução da existência humana. 
 
 
7 
Ainda sobre a natureza do trabalho e da educação, podemos estabelecer 
duas outras distinções: assíncrono e síncrono. Por assíncrono, entendemos a 
interação que não acontece em tempo real, isto é, há uma distância temporal 
entre a sua realização/produção e sua apropriação. Por exemplo: entre a escrita 
de um livro e o seu consumo, há uma distância temporal. Da mesma forma, a 
obra escrita pode ser consumida mais de uma vez pela mesma pessoa e também 
por várias pessoas, uma vez que são publicados vários exemplares. O trabalho 
de escrita, produção, apropriação e consumo de um livro consideramos um 
processo assíncrono. 
No entanto, determinados produtos/serviços somente podem ser 
consumidos no exato momento de sua produção. A esses processos chamamos 
síncronos, ainda que possam se realizar de maneira assíncrona também. Porém, 
nesse caso, há a necessidade de estes serem gravados/filmados, 
disponibilizados por alguma forma midiática e tornado acessível a quem queira 
consumir/apropriar de maneira assíncrona. Por processos síncronos chamamos 
aqueles que são consumidos/apropriados no exato momento de sua produção 
(presencial ou remoto). Por exemplo: aulas ao vivo (remotas ou não), as mais 
diferentes modalidades de shows ao vivo (remotos ou não), entre outras 
atividades. As aulas nas modalidades presenciais são sempre síncronas, isto é, 
são produzidas e consumidas simultaneamente. Se essa aula não foi gravada 
para ser, posteriormente, disponibilizada para outras pessoas, não pode mais 
ser consumida. Mas, diante dos avanços tecnológicos alcançados nos dias 
atuais, uma aula presencial pode ser gravada/filmada e disponibilizada em 
plataformas digitais de compartilhamento de conteúdo. 
Porém, independentemente da modalidade de trabalho – se síncrono ou 
assíncrono; majoritariamente intelectual ou manual – o fato é que o trabalho 
educacional, mesmo passando por um processo profundo e necessário de 
transformações, não pode perder de vista aquilo que está previsto para o Ensino 
Superior – ensino, pesquisa e extensão (e que poderia ser ampliado para a 
Educação Básica, respeitadas as suas especificidades) – do mesmo modo que, 
para que aconteça, precisa, necessariamente, de um objeto a ser 
aprendido/ensinado, e de dois sujeitos que interajam nesse processo de 
ensino/aprendizagem: de um lado o docente, e, de outro, o discente. E, para que 
esse processo se efetive, comungamos com a afirmação de Freire: 
 
 
8 
É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais 
do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de 
quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender 
se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, 
porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, 
porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz 
trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o 
ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos. (2005, 
p. 19). 
A relação entre ensinar e aprender não é simplesmente de causa e 
efeito, mas, dialética, dialógica. Assim como também deve ser a relação entre 
docente e discente. 
TEMA 3 – TRABALHO E EDUCAÇÃO 
Apesar de, ao longo da história humana, sempre ter havido uma relação 
estreita entre educação e trabalho, essa relação poucas vezes foi pensada de 
forma a romper com uma perspectiva superficial, ingênua e, até certo ponto, 
preconceituosa em relação tanto à educação quanto ao trabalho. Por muito 
tempo, a educação foi vista como “missão”, “sacerdócio” ou “extensão das 
atividades domésticas”. Esses equívocos ainda permeiam o imaginário de 
muitos governantes brasileiros quando estes pensama educação. Da mesma 
forma o trabalho que, por sua divisão histórica em trabalho manual e trabalho 
intelectual, acabou por estabelecer, ao longo da história, principalmente nas 
sociedades influenciadas pela cultural hebreia-greco-latina, uma 
supervalorização do intelectual em detrimento do manual. Desta forma e, ao 
mesmo tempo, predominou a visão de trabalho como tortura, sofrimento, 
punição, castigo etc. 
Neste tema, abordaremos a relação educação e trabalho na perspectiva 
de ambas. São ações exclusivamente humanas e, portanto, conscientes e 
intencionais. Na mesma medida em que são ações por meio das quais agimos 
sobre e no mundo, também sofremos as consequências destas em nós. 
Igualmente, o trabalho tem uma dimensão educativa, assim como a educação é 
uma forma de trabalho. Comecemos por explorar um pouco o conceito de 
educação. 
A palavra “educação” deriva do latim educare, educere – ex (de dentro de, 
para fora) + ducere (tirar, levar). Nesse sentido, educar significa, numa tradução 
literal, levar alguma coisa de dentro para fora, provocar um processo de 
mudança, de movimentação. Ao pensarmos a educação considerando sua raiz 
 
 
9 
etimológica, percebemos que ela tem, pelo menos, dois sentidos: tirar algo de 
dentro da pessoa e levar a pessoa de um estado a outro. Assim, quando 
pensamos em educação, para além do processo ensino-aprendizagem, a 
entendemos como algo que acontece dentro do indivíduo que aprende, como 
uma tomada de consciência das coisas que aprende. Ao mesmo tempo, essa 
tomada de consciência o tira de determinada condição. A título de ilustração, 
pensemos sobre o processo de alfabetização e letramento de uma pessoa. Ao 
aprender a ler e a escrever, uma pessoa qualquer passa a olhar todas as coisas 
e seres que via antes, sabendo, além do nome que cada uma dessas coisas tem, 
representar de forma escrita o nome delas. Da mesma forma, não precisa mais 
da presença ou da representação imagética dessas mesmas coisas, mas pode 
percebê-las ao ler a palavra que a representa em determinado texto. Antes da 
alfabetização e do letramento, havia a necessidade da presença física de 
determinado ser ou de sua representação imagética. Agora, é capaz de 
compreendê-la por meio da palavra que a representa. 
Por conseguinte, a mudança não ocorre somente internamente, mas, a 
tira da condição de estabelecer apenas uma relação empírica com estes ao 
transitar por entre as coisas e seres. Agora, a relação pode ser, num estágio 
mais avançado, em nível abstrato, percebendo, ao mesmo tempo, que as letras 
e sílabas que compõem o nome das coisas e seres podem ser reagrupadas em 
novos pares e formar novas palavras, que nominam outras coisas e seres que 
tenham ou não relação com os anteriores. Trata-se do estágio em que o sujeito 
toma consciência de sua presença no mundo, mas, de uma forma distinta que 
os demais seres vivos e/ou coisas inanimadas. 
Para que a educação aconteça, nessa perspectiva, precisa orientar-se 
pela maiêutica socrática, adotando o viés dialógico, apontado por Paulo Freire 
como um dos pilares do processo de ensino-aprendizagem. Isto é, a ideia de que 
a educação é um processo de transmissão de conhecimento de alguém que 
sabe para alguém que não sabe, não faz sentido quando retomamos seu sentido 
etimológico. O pensador grego Sócrates não fazia pregações e/ou discursos em 
praça pública, mas inquiria as pessoas sobre suas supostas verdades. E o fazia 
por meio de perguntas que, necessariamente, levavam seus interlocutores a, 
primeiramente, refletirem sobre aquilo que afirmavam, para, somente depois, 
responderem aos questionamentos socráticos. Da mesma forma, o patrono da 
 
 
10 
educação brasileira, Paulo Freire, entendia a educação como uma ação dialética 
e dialógica. 
Para tratarmos do outro polo desse tópico – trabalho – faremos uso de 
uma narrativa mítica grega: o mito de Prometeu. Existe várias versões para a 
história sobre a qual nos basearemos. A que utilizaremos é a mais comumente 
utilizada. Conta-se que Zeus encarregou os titãs Prometeu e Epimeteu de 
criarem todas as criaturas e dotarem-nas das respectivas qualidades. No 
entanto, por sua natureza precipitada, Epimeteu foi distribuindo as mais 
diferentes qualidades aos seres vivos, sem atentar se a distribuição estava 
sendo equilibrada, para que todos os seres fossem contemplados com alguma 
qualidade. Ao chegar, porém, a vez de criar os seres humanos, Epimeteu 
percebeu que os deixara desprovidos de qualquer qualidade que os colocasse 
em condições de sobreviver ante às adversidades da vida. Ao perceber tal 
situação, recorre a seu irmão Prometeu. Este, para corrigir o erro, rouba o fogo 
dos deuses e o dá aos seres humanos. Desta forma, os seres humanos podem 
se proteger dos animais ferozes, como também cozer seus alimentos, aquecer-
se nos momentos de frio e transformar os objetos, seja pela queima, 
derretimento ou aquecimento. 
Ao perceberem que os seres humanos tinham o fogo – que era privilégio 
dos deuses – e descobrirem que fora Prometeu quem o entregara, após roubá-
lo do Monte Olimpo, os deuses castigam o titã com a sentença de ficar amarrado 
a uma rocha e ter seu fígado comido durante um dia inteiro por uma águia. À 
noite o fígado se regenerava e, no dia seguinte, o fato e repetia. Se, por meio do 
fogo, como uma tecnologia, o ser humano se liberta da natureza, podendo 
transformá-la – isto é, trabalhar (lado dignificante do trabalho) – também por meio 
do fogo, ao desafiarmos os deuses aceitando o presente de Prometeu, herdamos 
o lado indignificante do trabalho: ao longo do dia somos explorados em nossa 
energia física e intelectual (o nosso fígado) que, entre uma jornada e outra, 
precisa se regenerar (momento do descanso) para, no dia seguinte, recomeçar 
todo o processo novamente. Se Prometeu foi libertado por Hércules de sua 
punição, talvez a educação seja a nossa heroína que poderá nos libertar desse 
suplício. 
Afinal de contas, por meio da educação tomamos consciência de nós 
mesmos como sujeitos e do mundo, podendo, dessa forma, nos mover em 
direção à nossa emancipação. Assim, tanto o trabalho quanto a educação têm 
 
 
11 
uma dimensão ontológica e política: por meio do trabalho e da educação 
tomamos consciência de nós e do mundo, e nos construímos. Ao nos 
construirmos, somente o podemos fazer de forma coletiva, pois, como nos 
definiu Aristóteles: somos zoo politikon, isto é, somos um animal político. Viver 
na polis, isto é, em sociedade, é da nossa natureza. 
TEMA 4 – CONCEPÇÕES DE TRABALHO E A CULTURA SOCIAL 
Comecemos esse tópico relembrando de uma cena clássica do cinema. 
O filme é 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick: um 
primata/hominídeo, após descobrir que um osso (ao que parece, uma tíbia) 
poderia ser utilizado como ferramenta para intervir no mundo, transformando-o, 
protagoniza um salto cronológico espetacular ao lançar esse mesmo osso no 
espaço, que se metamorfoseia em nave espacial, refletindo, em poucos 
segundos, a evolução humana de uma condição de completa dependência da 
natureza, para um ser que busca a conquista do Universo. 
Quando nos deparamos com essa cena, podemos compreender a 
extensão da dimensão do trabalho na constituição da existência humana. 
Quando afirmamos que o ser humano se constitui por meio do trabalho, e que, 
por meio do trabalho nos libertamos da condição de completa dependência da 
natureza, se analisarmos apenas do ponto de vista teórico, a compreensão 
parece prejudicada. Porém, quando a fazemos a partir dessa cena, nossa 
compreensão se amplia. 
Os primeiros ancestrais dos seres humanos atuais, segundo as pesquisas 
arqueológicas e paleontológicas mais recentes, surgiram por volta de 3 a 4 
milhões de anos atrás, pertencentes ao gênero Australopithecus. Por possuírem 
uma postura ereta, já andavam somente sobre duas pernas e tinham uma arcada 
dentária próxima danossa. Nesse processo de evolução, Homo habilis (2,4 
milhões de anos) e Homo erectus (1,8 milhões de anos) tinham uma caixa 
craniana maior, maxilares com dentes mais largos e habitaram diversas regiões 
da África e da Ásia. Já a espécie que mais se aproxima de nós foi a Homo 
sapiens, que surgiu há cerca de 200 mil anos e apresentava habilidades físicas, 
uma linguagem complexa, a capacidade de criar ferramentas e, por conseguinte, 
havia conseguido iniciar esse processo de libertar-se da natureza. Esse é um 
período da história da evolução humana que ainda permanece bastante obscuro 
e que vem passando por redefinições por parte dos pesquisadores. Foi há cerca 
 
 
12 
de 150 mil anos que o Homo sapiens, dominando o fogo, começou a construir 
as ferramentas que foram aos poucos, libertando-o da natureza e, por 
conseguinte, possibilitando o desenvolvimento de uma linguagem mais 
complexa. 
Nesse processo de evolução, o outro grande momento é o do Período 
Paleolítico, que se iniciou há cerca de 2,5 milhões de anos e terminou em 8000 
a.C., seguido do Período Neolítico (8000 a.C. – 5000 a.C.). No Paleolítico, o ser 
humano ainda era completamente dependente da natureza, vivendo 
basicamente da caça e da pesca e morando em cavernas, apesar de já dominar 
o fogo. Porém, é no Neolítico que se dão as grandes transformações: a criação 
da agricultura e da pecuária possibilitaram aos seres humanos deixarem a vida 
nômade e, construindo os primeiros vilarejos e cidades, tornarem-se 
sedentários. Ao mesmo tempo que as relações de poder se tornaram mais 
complexas, a escrita apareceu, e, por vários séculos, este será um instrumento 
de poder e controle nas sociedades. Em algumas culturas, inclusive, a escrita é 
tomada como de caráter divino e, por isso mesmo, restrita apenas aos 
sacerdotes e escribas. 
Sobre o aparecimento da escrita, novas descobertas têm colocado em 
xeque as explicações tradicionais. Costumou-se convencionar que o 
aparecimento da escrita havia se dado por volta do ano 3 mil a.C. Porém, 
descobertas recentes na China têm considerado que a escrita pode ter sido 
inventada cerca de 8.600 anos atrás. 
Todo esse processo é de fundamental importância para compreendermos 
o que nos diferencia dos demais seres vivos. Enquanto os demais seres são 
completamente dependentes da natureza, ao longo do nosso processo evolutivo, 
fomos nos libertando dela num primeiro momento, para, na sequência, 
buscarmos a sua compreensão (passagem de uma consciência mítica para uma 
consciência racional) e, posteriormente, identificarmos e elaborarmos leis que 
explicam o seu funcionamento (surgimento da mentalidade racional-científica – 
século XVII até os dias atuais). 
Não somos os únicos seres que transformam a natureza e constroem 
certa autonomia em relação a ela. Existem várias espécies que também 
conseguem interagir com a natureza com certa autonomia em relação a ela. No 
continente africano, gorilas e chimpanzés fazem uso de galhos e pedras para 
resolverem problemas diários na procura por alimentos. Nas Américas, o 
 
 
13 
macaco-prego utiliza-se de pedras para quebrar alimentos. As abelhas, por 
exemplo, têm todo um sistema complexo para a construção da colmeia e a coleta 
da matéria-prima para a fabricação do mel. Basta nós analisarmos um único item 
para termos uma dimensão de toda a engenharia utilizada por elas: existe uma 
única entrada para a colmeia, e esta é recoberta com própolis, um agente que 
impede a entrada e o desenvolvimento de qualquer agente infeccioso que possa 
contaminar o interior da colmeia, afetando os favos, os ovos e o próprio mel. 
Aliás, a palavra própolis significa “defesa da pólis”. A construção de teias pelas 
aranhas, assim como de ninhos por determinadas espécies também 
demonstram essa engenhosidade. Da mesma forma que determinadas aves, 
como os corvos, fazem uso de pequenos galhos para alcançar insetos nos 
troncos de árvores. Porém, o que diferencia as ações desses seres vivos das 
ações humanas? Ou seja, por que chamamos nossas ações de trabalho, e a dos 
demais seres vivos, não? 
Eis as principais características das nossas ações que nos levam a 
nominar nossa intervenção sobre a natureza como trabalho: intencionalidade, 
sociabilidade, historicidade, relação histórico-cultural com o meio e, por fim, as 
ferramentas que fabricamos manifestam o que somos – as nossas relações 
econômicas, políticas e simbólicas. Quando agimos sobre a natureza, o fazemos 
com intencionalidade. Essa intencionalidade se traduz no fato de que, antes de 
executarmos a nossa ação, nós a projetamos mentalmente e, somente depois, 
a executamos. Ao mesmo tempo, ainda que algumas das nossas ações possam 
ser feitas individualmente, elas tanto são feitas social e coletivamente quanto 
cumprem o papel de reforçar os laços de sociabilidade. 
Porém, essas ações não as fazemos sempre do mesmo jeito, muito 
menos da mesma forma que a fizemos desde a primeira vez. Isto é, nossas 
ações são históricas. Por exemplo: se o topo das árvores ou as cavernas foram 
as nossas primeiras moradas, hoje em dia, construímos casas que podem ser 
de madeira, pedra, alvenaria, papelão, zinco ou o que estiver ao alcance das 
nossas condições materiais. 
Por fim, para realizarmos todas essas ações, estabelecemos relações que 
são econômicas, políticas e simbólicas. Se, num primeiro momento, os seres 
humanos trabalhavam de maneira mais colaborativa, promovendo uma divisão 
de tarefas com base no sexo, com a criação da agropecuária e dos primeiros 
vilarejos, houve um excedente de produção e, consequentemente, alguns braços 
 
 
14 
foram liberados do trabalho produtivo e direcionados ou para a proteção do 
grupo, ou para a sua administração. Ao longo da história, diversas formam as 
relações de trabalho estabelecidas: coletiva, escravagista, servil, assalariada 
etc. E, dessa forma, surgiram as primeiras estruturas de poder que, para 
poderem se manter, precisaram explicar, justificar e legitimar a si mesmas. Isso 
significou o aparecimento da política e das representações simbólicas que 
caracterizam a cultura. 
TEMA 5 – TRABALHO E EDUCAÇÃO NAS COMUNIDADES PRIMITIVAS 
Iniciamos, a partir de agora, uma retrospectiva histórica das relações entre 
educação e trabalho nas mais diferentes sociedades e tempos históricos. Porém, 
antes de continuarmos, se faz necessário observar que não temos a pretensão 
de abarcar todo o período histórico da humanidade, muito menos de todas as 
sociedades. Partiremos dos períodos e das sociedades mais clássicas. Nosso 
objetivo é discutir as relações que se estabeleceram entre educação e trabalho. 
Uma segunda observação diz respeito ao uso do termo “sociedade 
primitiva”. O termo “primitivo” quase sempre vem carregado de sentido pejorativo 
e ideológico; além de ambiguidades. Os primeiros escritos sobre sociedades 
primitivas foram produzidos por juristas e tinham como preocupações centrais os 
problemas relacionados à propriedade dos bens e das relações matrimoniais 
entre os indivíduos dessas sociedades. 
No século XIX, numa interpretação enviesada e equivocada do 
darwinismo, o conceito de primitivo foi oposto ao de civilização, sendo esse 
segundo apresentado como superior àquele. Ao mesmo tempo, os povos 
europeus foram classificados como civilizados, enquanto os povos dos demais 
continentes foram categorizados como primitivos. Desta forma, era legítima a 
dominação do branco europeu sobre o negro africano, os povos originários das 
Américas e também sobre os asiáticos. Nos primeiros anos dos estudos 
antropológicos, essa qualificação serviu para justificar e legitimar o 
eurocentrismo que vinha sendo praticado desde que fora iniciado o 
expansionismo marítimo ibérico dos séculos XV e XVI. 
No entanto, esse não é o sentido que trataremos aqui e, por isso mesmo, 
optaremos pela expressão sociedades primevas. Ainda que nos dicionários 
também verificamoso termo “primitivo” como sinônimo de primevo, o sentido que 
 
 
15 
entendemos é como primeiro, primário; sem que, com isso, estejamos emitindo 
e/ou reforçando qualquer juízo de valor. 
No entendimento do senso comum, e mesmo do preconceituoso, as 
sociedades primevas são vistas como aquelas que não têm Estado, não têm 
classes, não têm escrita, não têm comércio, não têm história, não têm escola, 
não têm educação, não têm cultura, não são civilizadas etc. Porém, essa é uma 
visão equivocada, pois os parâmetros utilizados para julgamento são os 
etnocêntricos. 
Entretanto, ao analisarmos essas mesmas sociedades com base em 
estudos antropológicos científicos e sérios, observamos uma série de 
características que as tornam particulares. Nessas sociedades há o predomínio 
de uma consciência mítica, e nisso não há nenhum desmerecimento. São 
constituídas por agrupamento de famílias, caracterizadas por relações 
patriarcais ou matriarcais de poder. A oralidade é importantíssima na 
transmissão dos saberes e histórias dos antepassados, bem como a 
organização de determinados momentos e rituais em que essas memórias são 
transmitidas aos integrantes do grupo. 
Nas sociedades primevas, também, a organização do trabalho é bastante 
característica, predominando, quase sempre, o trabalho coletivo, com a divisão 
sexual deste. Por serem sociedades em que a subsistência era uma 
característica muito forte, atividades como caça, pesca, coleta de frutos e raízes 
e até mesmo as primeiras atividades de agricultura e pecuária não passavam 
pela posse privada da terra e/ou dos recursos. Curiosamente, isso acabava por 
se traduzir até mesmo nas próprias línguas faladas, pois, em boa parte delas, o 
pronome possessivo é inexistente. 
Mas, e a educação? O que sabemos sobre os processos educacionais 
nessas sociedades? 
Não existia um momento formal e institucionalizado de ensino-
aprendizagem. Ela acontecia, ao que parece, ao longo do dia e da vida, a partir 
de situações corriqueiras, como nos afazeres de preparar as refeições, 
confeccionar instrumentos de caça e pesca, bem como de defesa e utensílios 
domésticos. Desta forma, o aprendizado se dava por imitação e em situações 
reais. Da mesma forma, não havia alguém especificamente encarregado para 
essa tarefa. A criança poderia aprender com qualquer adulto que estivesse por 
perto. Ou seja, todos os adultos são responsáveis pela educação das crianças. 
 
 
16 
Igualmente, há atenção e paciência com o ritmo de desenvolvimento e 
aprendizagem das crianças, sendo descartados os castigos físicos e as 
repreensões. 
Apenas as tarefas vinculadas ao sagrado e à cura medicinal por meio de 
plantas e rituais eram aprendidas por meio de um processo de formação, que 
começava com a identificação de vocação e/ou chamado para exercer tal tarefa; 
que também poderia ser por hereditariedade. Porém, mesmo nessa hipótese, há 
uma longa preparação que passa pelo conhecimento profundo das plantas 
medicinais, bem como de um conhecimento integral de toda a natureza. 
NA PRÁTICA 
Quando os portugueses e espanhóis chegaram em solo ameríndio, 
trouxeram também religiosos jesuítas, franciscanos e dominicanos. Esses 
religiosos realizaram duas tarefas diretamente: atuaram na educação e na 
conversão dos povos originários ao catolicismo. As consequências desse 
processo nós as conhecemos pelos estudos de história, sendo a principal delas 
a desaculturação. Nos dias atuais, algumas denominações religiosas ainda 
insistem nessas mesmas práticas. Faça uma pesquisa científica sobre os 
impactos que essas “missões” têm sobre a vida e a organização dessas 
comunidades. Procure sites especializados e artigos publicados em revistas de 
antropologia e sociologia para fundamentar suas pesquisas. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, exploramos alguns conteúdos que são fundamentais e 
fundantes de uma disciplina relacionada à educação e, em particular, educação 
e trabalho. Começamos por refletir sobre os aspectos relacionados à ontologia 
e educação. Quando falamos de educação, precisamos partir de uma concepção 
de ser humano. O trabalho educacional fundamenta-se numa ontologia. Assim, 
quando atuamos como educadores, qual a concepção de ser humano que 
fundamenta a nossa prática, e, que tipo de ser humano queremos formar? 
Vimos também que a educação faz parte das nossas relações sociais e, 
ao longo da história humana, trabalho e educação sempre estiveram vinculados. 
Por isso, foi de fundamental importância refletirmos sobre as diferentes 
concepções de trabalho e suas relações com a cultura social de determinada 
 
 
17 
sociedade. Por fim, refletimos sobre as relações entre trabalho e educação nas 
comunidades primitivas. 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
CARREIRA, J. N. Filosofia antes dos gregos. Mem Martins: Publicações 
Europa-América, 1994. 
FREIRE. P. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: 
Editora Olho d´Água, 1997. 
KANT, I .Sobre a pedagogia. Trad.: Francisco CockFontanella. Editora Unmep, 
2002. 
WING-TSIT, C. A história da filosofia chinesa. Disponível em: 
<https://voluntas.tripod.com/Hp/fchinesa.htm>. Acesso em: 30 out. 2021.

Outros materiais