@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 6.4 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA MELAINE KLEIN.6.4.1 Biografia de Melaine KleinMelanie Née Reizes (1882-1960) nasceu em Viena, mais conhecida como Melanie Klein, psicanalista britânica de origem austríaca. Seu pai, Moritz Reizes, era um médico judeu polonês, que se tornou clínico geral graças a uma ruptura com pais tradicionalistas. Sua mãe, judia eslovaca brilhante, dedica-se, por necessidades familiares, ao comércio de plantas e répteis, cuja família, erudita e culta, era dominada por uma linhagem de mulheres.Melanie Klein, pouco desejada, foi à quarta entre os filhos desse casal que não se entendia. Quando, por sua vez, se tornou mãe, também sofreu em sua vida particular as intrusões de sua mãe, Libussa, personalidade tirânica, possessiva e destruidora. A juventude de Melanie foi marcada por séries de lutos. Muitos provavelmente responsáveis pela culpa, cujos vestígios se encontram em sua obra teórica.Tinha quatro anos quando sua irmã Sidonie morreu de tuberculose com a idade de oito anos; tinha 18 quando o pai, debilitado há longos anos, morreu, deixando-a com a mãe; tinha 20 quando seu irmão Emmanuel, que a influenciara muito e a quem estava ligada por uma relação de tons incestuosos, morreu esgotadopela doença, pelas drogas e pelo desespero. Phyllis Grosskurth observou que Melanie se casou pouco depois desse falecimento, pelo qual se sentia culpada, oque, acrescentou, \u201cprovavelmente tinha sido o objetivo perseguido por Emmanuel\u201d.Klein estudou de início arte e história na Universidade de Viena, porém as dificuldades econômicas que se seguiram à morte do pai parecem ter sido a causa de sua renúncia aos estudos de medicina, que ela decidira empreender com o objetivo de ser psiquiatra. Essas mesmas dificuldades explicariam igualmente seu casamento precipitado, em 1903, com Arthur Klein, engenheiro químico de caráter sombrio, que ela conhecera dois anos antes, que por força de suas atividades profissionais era obrigado a muitos deslocamentos o que possibilitou a Melanie aprender muitas línguas estrangeiras e do qual se divorciaria em 1926.Em 1910, por insistência de Melanie, cronicamente deprimida, o casal, cujo desentendimento era alimentado pelas incessantes intervenções de Libussa, se fixou em Budapeste. Em 1914, sua mãe morreu e nasceu seu terceiro filho, Erich Klein (futuro Eric Clyne), que ela analisaria, como Hans e Melitta, o irmão e a irmã mais novos. Mas esse ano de 1914 foi também o de sua primeira leitura de um texto de Sigmund Freud, \u201cSobre os sonhos\u201d, e do início de sua análise com Sandor Ferenczi.Essa análise foi concluída em Londres, com S. Payne. Melaine Klein logo começou a participar das atividades da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, da qual se tornou membro em 1919.Antes, em 28 e 29 de setembro de 1918, sob a presidência de Karl Abraham, o VCongresso da International Psychoanalytical Association (IPA) se realizou nessa cidade, que Freud considerava como o centro do movimento psicanalítico. Era a primeira vez que Melanie Klein via Freud. Escutou-o ler, na tribuna, sua comunicação \u201cOs novos caminhos da terapêutica psicanalítica\u201d e, fortemente impressionada, tomou consciência de seu desejo de se consagrar à psicanálise.Em julho de 1919, levada por Ferenczi, apresentou, diante da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, seu primeiro estudo de caso, dedicado à análise de uma criança de cinco anos, que na realidade era o seu próprio filho Erich. Uma versão reformulada dessa intervenção, na qual ela dissimulou aidentidade do jovem paciente chamando-o de Fritz, constituiu seu primeiro escrito, publicado no \u201cInternationale Zeitschrift für Psychoanalyse\u201d.No congresso psicanalítico de Haia, em 1920, conheceu Abraham, que a convidou a se mudar para Berlim, onde ela se instalou como psicanalista, continuando com ele sua análise pessoal. Quando Abraham morreu, Melanie Klein deixou Berlim, cujo meio psicanalítico aderia às ideias da Anna Freud, julgando assuas pouco ortodoxas. Em 1925, no congresso de Salzburgo, leu seu primeiro artigos obre a técnica da análise de crianças. Impressionado com esse trabalho, Jones a convidou para dar conferências na Inglaterra, país onde Melanie Klein se instalou definitivamente em 1926.Em 1922 se divorciara do marido, de que já estava separada havia algum tempo. No começo de 1924, Melanie Klein começou uma segunda análise, com Karl Abraham, de quem adotaria algumas ideias para desenvolver suas próprias perspectivas sobre a organização do desenvolvimento sexual. Em abril, no VIII Congresso da IPA em Salzburgo, apresentou uma comunicação altamente controvertida sobre a psicanálise das crianças pequenas, na qual começava a questionar certos aspectos do complexo de Édipo.Foi apoiada por Abraham e também por Ernest Jones, que seduzido por esse discurso contestatário, até interviria junto a Freud para que esse aceitasse levar em consideração essas declarações heréticas. Em 17 de dezembro do mesmo ano, Melanie foi a Viena para fazer uma comunicação sobre a psicanálise de crianças na Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV), e nessa ocasião confrontou-se diretamente com Anna Freud.Em Londres, Melanie Klein experimentou suas teorias, tratando filhos perturbados de alguns de seus colegas: o filho e a filha de Jones, por exemplo. Sua personalidade invasiva provocou à sua volta a paixões e repulsas. As ideias de Melanie Klein suscitaram fortes oposições, que tomaram uma amplitude considerável com a chegada na Inglaterra dos psicanalistas expulsos pelo nazismo, entre os quais A. Freud e E. Glover, que consideravam suas ideias metas psicológicas uma heresia idêntica às de Jung e Rank.Em janeiro de 1929, começou a tratar de uma criança autista de quatro anos, filha de um dos seus colegas da BPS, à qual deu o nome de Dick. Logo percebeu que ele apresentava sintomas que ela nunca havia encontrado. Não expressava nenhuma emoção, nenhum apego, e não se interessava pelos brinquedos. Para entrar em contato com ele, colocou dois trenzinhos lado a lado e designou o maior como \u201ctrem papai\u201d e o menor como \u201ctrem Dick\u201d. Dick fez o trem com o seu nome andar e disse a Melanie: \u201cCorta!\u201d. Ela desengatou o vagão de carvão e o menino guardou então o brinquedo quebrado em uma gaveta, exclamando: \u201cAcabou!\u201d. A história desse caso se tornaria célebre, por mostrar como alguns psicanalistas não conseguem dar aos filhos o amor que esperam deles. Dick continuou a análise com Melanie Klein até 1946, com uma interrupção durante a Segunda Guerra Mundial.Em 1930 começou as análises didáticas e o atendimento de adultos. Em1932 publicou a obra A psicanálise da criança, simultaneamente em inglês e alemão. Na qual expunha a estrutura de seus futuros desenvolvimentos teóricos, sobretudo o conceito de posição (posição esquizo-paranoide/posição depressiva), assim como sua concepção ampliada da pulsão de morte. Mas, nesse mesmo ano, que inaugurou um aparente período de calma institucional para ela, sua vida particular foi perturbada por conflitos que teriam alguns anos depois, grandes repercussões em sua vida profissional.Sua filha Melitta Schmideberg, casada com WalterSchmideberg, amigo da família Freud e de Ferenczi, tornou-se analista. Sem perceber, Melanie repetiu com sua filha o comportamento que Libussa tivera com ela. Foi por ocasião de uma retomada da análise com Edward Glover que Melitta se afastou de Melanie. Logo, seria publicamente apoiada em sua atitude por seu analista, que não hesitou em manipular as tensões familiares para reforçar suas próprias posições teóricas diante de Melanie.A partir de 1933, Melanie Klein, que sofria os ataques incessantes de Glovere de Melitta, via com terror a chegada a Londres dos analistas vienenses e berlinenses que fugiam do nazismo. Confidenciou a Donald Woods Winnicott que pressentia, na instalação desses refugiados que lhe era na maioria, hostis, a iminência de um \u201cdesastre\u201d. Alguns meses depois da chegada dos Freud a Londres, as hostilidades irromperam efetivamente. Em 1936 realizou conferência sobre O desmame; em 1937 publicou Amor, ódio e reparação, com Joan Rivière;Em 1945 foi solicitada a expulsão dos kleinianos da Sociedade, sem sucesso. Em 1947, aos 65 anos, publicou Contribuições à psicanálise. Em 1955 foi fundada a Fundação Melanie Klein. No mesmo ano foi publicado o artigo A técnica psicanalítica através do brinquedo; sua história, sua significação, escrito a partir de uma conferência de 1953. Nunca tendo se reconciliado com sua filha Melitta, deixando inacabada uma autobiografia parcelar e seletiva, Melanie Klein morreu de câncer do cólon em Londres, a 22 de setembro de 1960, aos 78 anos de idade.6.4.2 Características da análise KleinianaDiferentemente de A. Freud, Melanie Klein considerava o brincar como um material suscetível de interpretação no quadro da situação transferencial. As brincadeiras eram a seu ver, equivalentes às fantasias, dando acesso à sexualidade infantil e à agressividade: em torno delas podia se instaurar uma relação transferencial contra transferencial entre a criança e o analista (KLEIN, 1975).Melanie Klein conferiu lugar capital à pulsão de morte, conceito que, no entanto estava longe de gozar de unanimidade no seio do mundo psicanalítico. Radicalizando a posição de Freud, fez da angústia a consequência direta da ação da pulsão de morte no seio do organismo. Essas considerações estavam também presentes em sua concepção das fases ou posições por que a criança passava: a posição esquizoparanoide, que traduziria o modo de relação dos quatro primeiros meses da existência, seria caracterizada por uma união entre as pulsões sexuais e as pulsões agressivas, por um objeto vivido como parcial e clivado em \u201cbom\u201d(gratificador) e \u201cmau\u201d (frustrador). \u201cNa posição paranoide-esquizoide\u201d, escreve Hana Segal, \u201ca angústia dominante provém do temor de que o objeto ou os objetos persecutórios penetrem no eu, esmagando ou aniquilando o objeto ideal e o \u201cself\u201d.Dois mecanismos psíquicos seriam dominantes nessa fase: a introjeção e a projeção. Instalando-se por volta dos quatro meses, a posição depressiva se seguiria à posição paranoide, sendo por sua vez superada por volta do final do primeiro ano. O objeto já não é parcial, podendo ser apreendido pela criança como total, a clivagem \u201cbom\u201d-\u201cmau\u201d já não é tão categórica como outrora, a angústia é de natureza depressiva e está ligada ao temor de perder e de destruir a mãe. Em face de suas angústias, a criança desenvolve vários tipos de defesa e de atividades reparatórias, que constituem a primeira fonte da criatividade e da sublimação. Aposição esquizo paranoide e a posição depressiva voltam a se fazer presentes posteriormente na vida, em especial no adulto acometido de paranoia, de esquizofrenia ou de estados depressivos (KLEIN, 1975).Sustenta que apenas os meios analíticos permitem instaurar uma situação analítica. Coloca que o processo analítico e processo educativo podem coexistir se são conduzidos por pessoas diferentes, optando pela divisão do trabalho. \u201cMesmo que reconheçamos a necessidade de introduzir a psicanálise na educação, não somos por isso, obrigados a renegar os princípios da educação que achamos bons e que aprovamos até o presente. A psicanálise deveria servir à educação como uma uxiliar, um aperfeiçoamento, deixando intactos os princípios aceitos até então (...)\u201d(Melaine Klein)A psicanálise da criança tem a função de preparar o terreno para a educação \u2013 não poderia substituí-la, e nem mesmo modificar seus princípios. Utiliza como técnica psicanalítica do brinquedo, mas o que caracterizava sua técnica foi o método de interpretação, cuja orientação corresponde a um princípio básico da psicanálise: a livre associação (KLEIN, 1975).Coloca que a exploração do inconsciente é a tarefa principal da psicanálise, e a análise da transferência é o caminho para atingir esse objetivo. Por meio, de sua experiência, define os brinquedos mais adequados para a técnica psicanalítica do brinquedo. Brinquedos pequenos facilitam na criança a expressão de ampla série de fantasias e vivências, devido a sua quantidade e variedade. A função do brinquedo é possibilitar a criança, a apresentar uma variedade de experiências e situações reais ou de fantasia para compor um quadro mais coerente dos mecanismos da mente (KLEIN, 1975).As instalações da sala devem ser igualmente simples, sem conter nada além do necessário para a psicanálise. Os brinquedos, não são os únicos requisitos para uma análise do brincar. É muito comum a criança desenhar, escrever, pintar, fazer recortes, consertar brinquedos etc. É fundamental também permitir que a criança libere sua agressividade (KLEIN, 1975).Palavras de Melaine Klein: \u201cMeu trabalho com crianças e as conclusões teóricas daí extraídas exerceram influência cada vez maior na minha técnica com adultos. A Psicanálise sempre teve como dogma que o inconsciente, que se origina na mente do bebê, precisa ser explorado no adulto. Minha experiência com crianças me levou a mergulhar nessa direção muito mais do que se fizera até então e possibilitou a elaboração de uma técnica que permitiu acesso àquelas camadas.Minha técnica do brinquedo me ajudou, especialmente, a verificar qual material tinha mais necessidade de ser interpretado naquele momento e de que modo seria mais facilmente transmitido ao paciente; parte desse conhecimento pode aplicar na análise de adultos. Conforme já assinalei antes, isso não significa que a técnica usada com crianças seja idêntica \u2018a etapas mais precoces, é de grande importância, na análise de adultos, levar em conta o ego adulto exatamente como, no caso das crianças, é preciso considerar o ego infantil sempre em relação com sua etapa de desenvolvimento (KLEIN, 1975).\u201dDurante trinta e quatro anos, a vida de Melanie Klein foi completamente ligada à psicanálise, às atividades da Sociedade Britânica e ao movimento internacional. Em 1960, às vésperas da morte, ela ainda estava dando instruções sobre seu último manuscrito e aos alunos que tinha em formação.
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