@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 9 A ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL.Diferentemente de todas as abordagens anteriores, a abordagem histórico social privilegia a importância das interações sociais para o desenvolvimento do indivíduo. A aprendizagem obtida na relação das crianças com os adultos, outras crianças impulsionariam o desenvolvimento da criança. As outras abordagens não consideram de forma crucial a vivência da criança no meio social e cultural com o fator indispensável para o desenvolvimento do ser humano.Lev Semenovich Vygotsky, que morreu prematuramente, vítima de tuberculose, foi o grande idealizador desta abordagem e dos estudos que buscaram comprovar a influência das interações sociais no desenvolvimento. Ele e seus colaboradores partiram do pressuposto de que o conhecimento é construído nas interações que o sujeito estabelece com seu meio sociocultural e passaram a investigar apor meio de quais processos o ser humano se apropria de sua cultura ao mesmo tempo em que a produz.O princípio que orienta esta abordagem é de que desde o nascimento, a partir das interações com o outro, a criança vai se apropriando dos significados construídos socialmente e aprendemos a ser humanos, fazendo parte de uma cultura humana; isto não aconteceria naturalmente. O ser humano seria constituído do meio cultural em que nasce. Para Vygotsky existiriam duas linhas do desenvolvimento humano, a saber:Desenvolvimento biológico \u2013 Esse dependeria da herança natural da espécie humana. Faz parte desta herança o que Vygotsky denominou de funções mentais elementares que seriam compostas pela memória, inteligência prática ,percepção, atenção etc. Operam espontaneamente, sem intencionalidade e independente da vontade da criança. Seria a expressão destas funções sem o controle que será obtido posteriormente, a partir da interação com o outro, característica da transformação do ser humano, de ser biológico em ser sociocultural;Desenvolvimento sociocultural \u2013 Por meio da interação com o meio cultural, mediado pelas pessoas, às funções elementares transformam-se em funções mentais superiores, que seriam processos psicológicos usados intencionalmente pelo ser humano ao longo de todo o seu desenvolvimento. Assim, o sujeito é capaz de controlar sua percepção, atenção e vontade.No entanto, para que haja esta interação do homem com o meio cultural e o seu desenvolvimento é necessário que haja uma mediação, outro conceito fundamental para esta teoria. Mas o que podemos entender como mediação, à luz desta abordagem? Mediar está ligado a algo que está no meio de. No que se refere à abordagem histórico-cultural, dizemos que há sempre um signo ou instrumento que está no meio da relação entre o sujeito e o mundo.Podemos clarear esta ideia, buscando uma analogia: ao nos comunicarmos com alguém que está distante de nós, atualmente usamos o telefone, embora já tenhamos usado o telégrafo, a carta etc. Estes instrumentos podem ser entendidos como mediadores. Da mesma forma que o homem usa instrumentos externos, também cria outros internos. Estes seriam os sistemas simbólicos. Os diferentes tipos de linguagens (verbal, de gestos, de sinais, de trânsito, etc.) são considerados sistemas simbólicos.Segundo Vygotsky o uso dos sistemas de símbolos é que nos torna seres tipicamente humanos, pois com o uso dos símbolos somos capazes de ordenar nossas ações, regular nossa conduta de forma ativa, consciente e dar significado ao mundo que nos rodeia. As funções mentais superiores nos permitem ultrapassar o controle do ambiente e chegar ao controle do indivíduo, o que significa conseguir realizar esses processos de maneira consciente.Para Vygotsky, o desenvolvimento é entendido como a internalização dos modos de pensar e agir de uma dada cultura. É um processo que se inicia na infância a partir das interações com os adultos, crianças, nas brincadeiras, no cotidiano, onde são compartilhadas formas de agir e de pensar. Essas formas vão sendo progressivamente internalizadas. Segundo esta abordagem, existe a Lei do duplo desenvolvimento, na qual todas as funções no desenvolvimento da criança acontecem duas vezes: uma no nível interpsicológico (entre as pessoas) e outra no nível intrapsicológico (no interior da criança).Tomemos como exemplo o ato de \u2018pegar no ar\u2019 da criança. A criança olha para um objeto interessante e move as mãos como se fosse pegá-lo. O adulto, intermediando essa relação, compreende que o \u2018pegar no ar\u2019 da criança refere-se ao \u2018apontar\u2019 que a criança ainda não está apropriada. O ato indiscriminado de \u2018pegar no ar\u2019 em direção a algum objeto, é transformado, por intermédio da relação com o adulto, em ato de apontar. Em um próximo momento, a criança ao invés de \u2018pegar no ar\u2019 o objeto, interagirá com o adulto, apontando para um objeto, como quem diz \u2018me dá aquele objeto\u2019.Embora alguns possam interpretar desta forma, o nível de desenvolvimento intrapsicológico não é uma mera cópia da realidade cultural, mas uma atividade complexa interna, na qual o sujeito reconstrói a realidade, inserindo-a em um sistema de significações. Diante do que vimos, parece ter ficado claro que, diferente de Piaget, a abordagem histórico-cultural entende que o desenvolvimento é impulsionado pelas aprendizagens que acontecem no meio cultural, mediadas pelos sistemas simbólicos.Assim, segundo Vygotsky, o conhecimento do mundo pela criança, passa necessariamente pelo outro, adquirindo então a educação um papel fundamental para esta teoria, uma vez que a considera:(...) o traço distintivo fundamental da história do pequeno ser humano. A educação pode ser definida como sendo o desenvolvimento artificial da criança. Ela é o controle artificial dos processos de desenvolvimento natural. A educação faz mais do que exercer influência sobre um certo número de processos evolutivos: ela reestrutura de modo fundamental todas as funções do comportamento (Vygotsky, 1985, p. 45).Desse modo, o desenvolvimento psicológico, sendo um processo culturalmente constituído, depende das condições sociais e culturais, além dos modos como as relações sociais cotidianas se organizam. Concepção essa bem distinta das outras, já que considera os atravessamentos produzidos pela organização social, cultural e podemos ir mais além, econômica, na qual o processo de desenvolvimento acontece. Ainda com relação ao desenvolvimento, Vygotsky compreendia que havia dois níveis de desenvolvimento:Nível de desenvolvimento real que seria relativo a atividades ou tarefas que a pessoa é capaz de realizar sozinha;Nível de desenvolvimento proximal relativo a atividades ou tarefas que a pessoa é capaz de realizar com a ajuda de alguém mais experiente.Segundo a análise de Vygotsky, a aprendizagem ao impulsionar o desenvolvimento, cria o que ele denominou de zona de desenvolvimento proximal, que pode ser entendida como a distância entre o que a criança pode fazer sozinha e o que faz com a ajuda de outra pessoa.\u201cZona de desenvolvimento proximal (...) é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.\u201d (VYGOTSKY,1994, p.112).Logo, aquilo que a criança faz com a ajuda de alguém hoje \u2013 nível de desenvolvimento proximal \u2013 será o nível de desenvolvimento real amanhã, ou seja, será capaz de fazer sozinha. Da mesma forma, a simples observação da criança da ação de um adulto, ou o mero contato com objetos de conhecimento e sua imersão em ambientes estimuladores, não garantem a aprendizagem, nem promovem necessariamente o desenvolvimento. Necessária, pois, é a participação do adulto como pai ou professor para que a criança consiga elaborar a aprendizagem..Qual é o papel da escolarização para esta abordagem?Quando a criança chega à escola, ela não é uma \u2018folha em branco\u2019. Já possui conhecimento adquirido, informalmente, na relação com as pessoas que fazem parte do seu universo social e cultural. Embora muitos destes conhecimentos não sejam intencionalmente desenvolvidos, eles são produtos da vivência da criança nos diversos ambientes que interage. Na escola inicia-se o processo de educação formal, onde uma gama de conhecimentos deve ser aprendida pela criança num determinado espaço de tempo. As interações que acontecem, principalmente entre professor e aluno, visam um objetivo maior que é promover o conhecimento ligado a determinados conteúdos.Dessa forma, a professora orienta a criança na sua atenção, destacando elementos que considera importante para a compreensão de determinados conhecimentos, analisa situações com a criança, levando-a a classificar, ordenar, comparar, estabelecer relações lógicas, ensina como utilizar o mapa, ou qualquer outro instrumento que auxilie na aprendizagem. Essas ações levam a criança a aprender significados, formas diferentes de pensar e raciocinar e também de agir frente a determinadas situações. Também reestrutura significados e começa a sedar conta das atividades mentais que realiza. Fica clara, a importância do papel do professor no desenvolvimento do indivíduo.Fazendo junto, contribuindo com o novo aprendizado, colaborando, dando pistas, o professor interfere no desenvolvimento proximal, contribuindo com processos de elaboração e desenvolvimento que não aconteceriam espontaneamente.A escola, possibilitando o contato sistemático e intenso dos indivíduos com os sistemas organizados de conhecimento e fornecendo a eles instrumentos para elaborá-los, mediatiza seu processo de desenvolvimento. (FONTANA eCRUZ, 1997, p. 66)
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