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AULA 5 PLANEJAMENTO URBANO Profª Michela Rossane Cavilha Scupino 2 INTRODUÇÃO Torna-se cada vez mais enfática a temática da sustentabilidade e a busca por padrões de vida que sejam compatíveis com as capacidades naturais do planeta. Contardi, Ristuccia e Raccichini (2018) resumem essa mudança de paradigma como uma mudança no modelo de produção global, em que esta se encontra em um processo de esgotamento e enfrenta desafios de teor ecológico, social e econômico. Dessa forma, os autores identificam que atualmente nos municípios existe uma produção caracterizada por uma falta de visão integrada e holística de planejamento e de um modelo de governança efetivo, de forma que o cenário existente é de falta de financiamento de investimentos nos serviços públicos, ausência de oportunidades e necessidade de melhorias das capacidades técnicas do poder público (Contardi; Ristuccia; Raccichini, 2018). Concluem que é necessário no país um modelo de urbanização consistente visando à melhoria da qualidade de vida e contribuindo com o processo de desenvolvimento sustentável (Contardi; Ristuccia; Raccichini, 2018). TEMA 1 – CIDADES SUSTENTÁVEIS O Estatuto da Cidade, art. 2º, inciso I, apresenta o conceito de cidades sustentáveis, tal qual se apresenta a seguir Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais (Brasil, 2001). 3 A busca pela construção de cidades sustentáveis é tema das principais discussões globais na atualidade, mostra disso é a inclusão dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) proposto pela ONU em 2015 a ser atingido até 2030, tendo um objetivo específico definido como: “Objetivo 11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” (ONU, 2015). Porém, antes da proposição global como um dos grandes objetivos da ONU, há reuniões e encontros anteriores que já pautariam as metas a serem atingidas na construção de cidades sustentáveis. Exemplo disso é o compromisso de Aalborg, um pacto assinado entre as cidades no ano de 1994, que traz importantes diretrizes a respeito do planejamento urbano: Os compromissos consideram a participação da comunidade local na tomada de decisões, a economia urbana preservando os recursos naturais, a equidade social, o correto ordenamento do território, a mobilidade urbana, o clima mundial e a conservação da biodiversidade, entre outros aspectos relevantes (Rede Nossa São Paulo, 2016. p. 4) Inspirado nesses compromissos, a Plataforma Cidades Sustentáveis ajusta-se à realidade brasileira, agregando dois novos eixos temáticos: educação para a sustentabilidade e qualidade de vida, além de outras mudanças em itens dos compromissos propostos. O objetivo da plataforma, estruturada como uma agenda de ações e iniciativas, é propor um futuro sustentável para as comunidades (Rede Nossa São Paulo, 2016). O Programa Cidades Sustentáveis “é uma agenda de sustentabilidade urbana que incorpora as dimensões social, ambiental, econômica, política e cultural no planejamento municipal” e consequentemente do planejamento urbano (Rede Nossa São Paulo, 2016). O Programa apresenta questões-chave a respeito dos impactos da globalização e do desenvolvimento econômico como ameaças e riscos, naturais e humanos, para as comunidades e recursos, sendo necessária a compatibilização dos objetivos ambientais, sociais, políticos, culturais e econômicos. Dessa forma, é identificado como objetivos da Plataforma: A Plataforma Cidades Sustentáveis é uma ferramenta para: – Assumir esses desafios e aceitar as responsabilidades; – Elaborar políticas públicas para a sustentabilidade; – Traduzir a perspectiva comum para um futuro sustentável em metas concretas de sustentabilidade e em ações integradas nos níveis locais, regionais e nacional; – Selecionar prioridades apropriadas às realidades e necessidades locais e regionais, que deverão ter em atenção o respectivo impacto global; – Promover processos locais e regionais participativos, no sentido de identificar 4 metas específicas e horizontes temporais para monitorar os resultados alcançados. (Rede Nossa São Paulo, 2016. p. 4) A plataforma entende que os governos municipais são os elos mais próximos na construção das comunidades sustentáveis e, portanto, a agente de transformação na busca desse objetivo. Para alcançar essa meta, propõe o uso dos indicadores e ferramentas próprias, de modo que o gestor, ao assumir o compromisso com a plataforma, se compromete em atingir esses indicadores e reportar os seus resultados por meio de relatórios que se relacionem a cada eixo. Em contrapartida, para os municípios há a exposição destes nas mídias, acesso a informações estratégicas e experiências com outras cidades. A ferramenta Plataforma Cidades Sustentáveis apresenta em sua construção uma agenda com 12 eixos temáticos de abrangência social, ambiental, econômica, política e cultural. Esses eixos estão descritos na Figura 1. Figura 1 – Eixos da plataforma Cidades Sustentáveis Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2016. E ix o s d a p la ta fo rm a C id a d e s S u s te n tá v e is 1. Governança 2. Bens naturais comuns 3. Equidade, justiça social e cultura de paz 4. Gestão local para a sustentabilidade 5. Planejamento e desenho urbano 6. Cultura para a sustentabilidade 7. Educação para a sustentabilidade e qualidade de vida 8. Economia local dinâmica, criativa e sustentável 9. Consumo responsável e opções de estilo de vida 10. Melhor mobilidade, menos tráfego 11. Ação local para a saúde 12. Do local para o global 5 Cada eixo apresenta, na sua concepção, elementos que o definem com objetivos gerais e específicos, construídos de forma a guiar a execução das atividades para a elaboração de um completo projeto das cidades sustentáveis. Associado a cada um desses eixos há ainda indicadores com a função de monitorar a implementação desses objetivos e permitir a avaliação da execução da plataforma. O programa atualmente apresenta dados de mais de 300 indicadores gerais atrelados aos 12 eixos. São percentuais, números de reuniões, média de áreas, taxas e distribuição a serem objetivados por cada município. TEMA 2 – EIXOS TEMÁTICOS DAS CIDADES SUSTENTÁVEIS A seguir, são apresentados 5 eixos selecionados para a discussão com o tema planejamento urbano. O primeiro refere-se à governança, que inclui a participação social, tema já discutido como essencial ao planejamento urbano. Figura 2 – Objetivos do eixo governança Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2016. O segundo eixo selecionado diz respeito aos bens naturais que são essenciais à vida e estudos indicam um futuro cada vez menos equilibrado,a exemplo da disponibilidade de água potável nas áreas urbanas. G o v e rn a n ç a Objetivo geral 1.1 Fortalecer os processos de decisão com a promoção dos instrumentos da democracia participativa Objetivos específicos 1.1 Continuar a desenvolver uma perspectiva comum e de longo prazo para cidades e regiões sustentáveis 1.2 Fomentar a capacidade de participação e de ação para o desenvolvimento sustentável tanto nas comunidades como nas administrações locais e regionais 1.3 Convocar todos os setores da sociedade civil local para a participação efetiva – em conselhos, conferências, audiências públicas, plebiscitos e referendos, entre outros – nos processos de decisão, monitoramento e avaliação 1.4 Tornar públicas, transparentes e abertas todas as informações da administração municipal, os indicadores da cidade e os dados orçamentários 1.5 Promover a cooperação e as parcerias entre os municípios vizinhos, outras cidades, regiões metropolitanas e outros níveis de administração 6 O terceiro eixo, referente ao próprio planejamento urbano, reconhece o papel fundamental de se planejar estrategicamente o urbano conciliando questões ambientais, socioeconômicas, culturais e de saúde. São considerados indicadores de eixo: área desmatada; reservas e áreas protegidas; favelas; edifícios novos e reformados que têm certificação de sustentabilidade ambiental; calçadas consideradas adequadas às exigências legais. Figura 3 – Objetivos do eixo bens naturais comuns Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2016. B e n s n a tu ra is c o m u n s Objetivo geral 2. Assumir plenamente as responsabilidades para proteger, preservar e assegurar o acesso equilibrado aos bens naturais comuns Objetivos específicos 2.1 Estabelecer metas para a redução do consumo de energia não renovável e para aumentar o uso de energias renováveis 2.2 Melhorar a qualidade da água, poupar água e usar a água de uma forma mais eficiente 2.3 Proteger, regenerar e aumentar a biodiversidade, ampliar as áreas naturais protegidas e os espaços verdes urbanos 2.4 Melhorar a qualidade do solo, preservar terrenos ecologicamente produtivos e promover a agricultura e o reflorestamento sustentáveis 2.5 Melhorar substantivamente a qualidade do ar, segundo os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS-ONU) 7 Figura 4 – Objetivos do eixo planejamento e desenho urbano Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2016. Os atuais padrões de mobilidade urbana no Brasil se traduzem em um desafio cada vez mais complexo para resolução. Temas como transporte individual, mudança de matriz modal e de matriz energética compõem os desafios da sustentabilidade das cidades. O governo tem priorizado alternativas como transporte público – BRT (Bus Rapid Transit), VLT (veículo leve sobre trilhos) e Metrô (MMA). Um dos eixos das cidades sustentáveis é justamente a melhor mobilidade com menos tráfego. P la n e ja m e n to e d e s e n h o u rb a n o Objetivo geral 5. Reconhecer o papel estratégico do planejamento e do desenho urbano na abordagem das questões ambientais, sociais, econômicas, culturais e da saúde, para benefício de todos Objetivos específicos 5.1 Reutilizar e regenerar áreas abandonadas ou socialmente degradadas 5.2 Evitar a expansão urbana no território, dando prioridade ao adensamento e desenvolvimento urbano no interior dos espaços construídos, com a recuperação dos ambientes urbanos degradados, assegurando densidades urbanas apropriadas 5.3 Assegurar a compatibilidade de usos do solo nas áreas urbanas, oferecendo adequado equilíbrio entre empregos, transportes, habitação e equipamentos socioculturais e esportivos, dando prioridade ao adensamento residencial nos centros das cidades 5.4 Assegurar uma adequada conservação, renovação e utilização/reutilização do patrimônio cultural urbano 5.5 Adotar critérios de desenho urbano e de construção sustentáveis, respeitando e considerando os recursos e fenômenos naturais no planejamento 8 Figura 5 – Objetivos do eixo melhor mobilidade, menos tráfego Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2016. Na pegada para a sustentabilidade, também se destacam as questões climáticas e da biodiversidade. O MMA desenvolve o projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica que, dentre outros objetivos, contribui com a adaptação às mudanças climáticas por meio da adaptação baseada em Ecossistemas – AbE, que integra medidas de adaptação às políticas públicas e instrumentos de planejamento e ordenamento territorial (Adaptação..., 2018). M e lh o r m o b il id a d e , m e n o s tr á fe g o Objetivo geral 10. Promover a mobilidade sustentável, reconhecendo a interdependência entre os transportes, a saúde, o ambiente e o direito à cidade Objetivos específicos 10.1 Reduzir a necessidade de utilização do transporte individual motorizado e promover meios de transportes coletivos acessíveis a todos, a preços módicos 10.2 Aumentar a parcela de viagens realizadas em transportes públicos, a pé ou de bicicleta 10.3 Desenvolver e manter uma boa infraestrutura para locomoção de pedestres e pessoas com deficiências, com calçadas e travessias adequadas 10.4 Acelerar a transição para veículos menos poluentes 10.5 Reduzir o impacto dos transportes sobre o ambiente e a saúde pública 10.6 Desenvolver de forma participativa um plano de mobilidade urbana integrado e sustentável 9 Figura 6 – Objetivos do eixo do local para o global Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2016. TEMA 3 – CIDADES INTELIGENTES Conforme Chiapeta (S.d.), em artigo para a Ecycle, cidades verdes são cidades sustentáveis, projetadas com respeito ao meio ambiente, atuação economicamente viável e socialmente justa. As cidades verdes também são conhecidas como cidades inteligentes, pois investem na melhoria da qualidade de vida da população e na busca pela eficiência dos serviços de maneira sustentável. Nesse sentido, o planejamento urbano tem papel fundamental, uma vez que deve se propor a pensar e identificar estratégias que possibilitem a resiliência e sustentabilidade. Tanscheit (2018), ao comentar os resultados do trabalho intitulado por “Apoiando o desenvolvimento urbano inteligente: investimento com sucesso na densidade”, retrata que Qualificar um espaço como tendo uma “boa densidade” é muito mais do que ter um alto número de pessoas residindo ou trabalhando em uma determinada área. Características como planejamento de uso misto do solo, conectividade, infraestrutura de transporte sustentável, entre outros elementos, são fundamentais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Coalition for Urban Transitions, iniciativa da New Climate Economy, e pelo Urban Land Institute (ULI), as evidências indicam que os aumentos da densidade D o l o c a l p a ra o g lo b a l Objetivo geral 12. Assumir as responsabilidades globais pela paz, justiça, equidade, desenvolvimento sustentável, proteção ao clima e à biodiversidade Objetivos específicos 12.1 Elaborar e seguir uma abordagem estratégica e integrada para minimizar as alterações climáticas, e trabalhar para atingir níveis sustentáveis de emissões de gases geradores do efeito estufa 12.2 Integrar a política de proteção climática nas políticas de energia, de transportes, de consumo, de resíduos, de agricultura e de florestas 12.3 Disseminar informações sobre as causas e os impactos prováveis das alterações climáticas, e promover medidas socioambientais de prevenção 12.4 Reduzir o impacto no ambiente global e promover o princípio da justiça ambiental 12.5 Reforçar a cooperação regional, nacional e internacional de cidades e desenvolver respostas locais para problemas globais em parceria com outros governos locais e regionais, comunidades e demais atores relevantes http://newclimateeconomy.net/urban-transitions/urban-transitions-homepagehttp://newclimateeconomy.net/urban-transitions/urban-transitions-homepage http://newclimateeconomy.net/ https://uli.org/ 10 urbana estão ligados a queda de emissões de carbono e consumo de energia locais e per capita. A redução nas emissões é associada primeiramente ao menor uso de veículos motorizados particulares, mas também tem origem na melhor eficiência energética em edificações, menos infraestrutura construída e menos alterações no uso do solo nas periferias urbanas (Tanscheit, 2018). Conforme a União Europeia (European Commission, S.d.), uma cidade inteligente é um local em que as redes e serviços tradicionais se tornam mais eficientes com o uso de tecnologias digitais e de telecomunicações para o benefício de seus habitantes e negócios. Isso se traduziria em redes de transporte urbano mais inteligentes, instalações aprimoradas de abastecimento de água e eliminação de resíduos e maneiras mais eficientes de iluminar e aquecer edifícios. Ainda que distante de grande parte das cidades brasileiras, observa-se um movimento na busca por planejamentos urbanos que consigam abranger ao menos alguns dos benefícios que as cidades inteligentes oportunizariam. Dentre os benefícios, destacam-se os apontados a seguir por iCities (S.d.) Gestão pública mais eficiente, contribuindo para a melhoria na qualidade dos serviços prestados ao cidadão; Mais agilidade e desburocratização dos processos internos na administração pública; Redução de custo e aumento da eficiência operacional nas secretarias e órgãos públicos. TEMA 4 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS E PLANEJAMENTO URBANO O Relatório Especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (Ribeiro; Santos, 2016) aponta que as emissões de origem antrópica de gases do efeito estufa “são provavelmente a principal causa do aumento da temperatura desde meados do século XX, sendo as cidades um dos principais contribuintes dessas emissões”. O mesmo relatório aponta que o crescimento urbano, nos padrões em que vem ocorrendo atualmente, reduz a resiliência das cidades acarretando em problemáticas que afetam a sua dinâmica de forma significativa, conforme retratado a seguir. Reunindo mais da metade da população mundial, as cidades concentram ainda a maioria dos ativos construídos e das atividades econômicas, fatores que fazem com que esses ambientes estejam altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Os impactos causados pelas alterações no clima já são sentidos nos centros urbanos e vêm 11 aumentando nos últimos anos. Os principais problemas envolvendo mudanças climáticas e cidades são o aumento de temperatura, aumento no nível do mar, ilhas de calor, inundações, escassez de água e alimentos, acidificação dos oceanos e eventos extremos. A maioria das cidades brasileiras já tem problemas ambientais associados a padrões de desenvolvimento e transformação de áreas geográficas. Mudanças exacerbadas no ciclo hidrológico pelo aquecimento global tende a acentuar os riscos existentes, tais como inundações, deslizamentos de terra, ondas de calor e limitações de fornecimento de água potável. (...) A falta de informação e conhecimento sobre a importância dos serviços ecossistêmicos pode levar a decisões equivocadas que envolvem perdas significativas de capital natural. Vale destacar que os custos de restauração são muito mais altos do que aqueles relacionados à preservação. Os estresses climáticos poderão resultar em efeitos cascata ao longo dos diferentes sistemas urbanos de infraestrutura, que são interdependendentes entre si como os setores de água, saneamento, energia e transporte. A vulnerabilidade destes setores às mudanças climáticas varia de acordo com seu grau de desenvolvimento, resiliência e adaptabilidade. Assim, as variações do clima podem agravar pressões já existentes, principalmente nos países em desenvolvimento como o Brasil, onde grande parte da população ainda é desprovida de serviços básicos de saneamento, o tráfego das vias urbanas é caótico e a segurança energética está constantemente em discussão (...) (Ribeiro; Santos, 2016) Um dos exemplos que comumente ocorrem nas cidades e que decorrem de aspectos da mudança climática e também do planejamento urbano são as inundações e alagamentos, associada às falhas no sistema de drenagem e à alteração dos fluxos naturais dos rios, à quantidade de precipitação em determinado período de tempo, entre outros. Nesse contexto, ou se mitigam ou se adaptam as mudanças. Em termos de mitigação, podem ser propostas medidas como redução do consumo de energia e a intensidade dos gases de efeito de estufa do uso final dos setores, descarbonizar o fornecimento de energia elétrica, reduzir as emissões líquidas e aumentar os sumidouros de carbono em setores de atividade baseadas no uso da Terra” (Ribeiro Santos, 2016). Em termos de adaptação, podem ser alternativas os apontamentos da Figura 7. 12 Figura 7 – Alternativas para a adaptação às mudanças climáticas Fonte: Ribeiro; Santos, 2016. Tendo em vista a relevância do tema, o planejamento urbano precisa buscar alternativas para as vulnerabilidades existentes. O ideal é que as cidades sejam remodeladas e planejadas de acordo com as prioridades existentes, visando torná-las resilientes à mudança climática (Ribeiro; Santos, 2016). Considerando ainda o tripé da sustentabilidade o planejamento urbano pode ser considerado o meio a se alcançar essa resiliência, ainda que não de forma única. No contexto do planejamento, e no cenário Smart City, há algumas vantagens a serem consideradas: Acessos aos fundos climáticos e aptidão para receber investimentos sustentáveis; • Reforço da infraestrutura de distribuição e transmissão de energia; • Instalação de cabeamentos subterrâneos na rede de distribuição; • Diversificação das fontes de energia, dano preferência às renováveis; • mudanças nos projetos, substituição e adequação de estruturas (pontes, estradas, postes, fiação, pavimentos etc.); • Realocação e realinhamento de estradas, vias e linhas de distribuição. ENERGIA E TRANSPORTE • Criação de espaços verdes para melhorar a drenagem e reduzir o efeito de ilha de calor urbana; • Proteção das barreiras naturais e artificiais. Ex.: criação de diques, zonas pantanosas e úmidas como tampão para conter o aumento do nível do mar etc.; • Revisão dos códigos de construção civil e regulamentos sobre o uso do espaço urbano. Ex.: elevação dos edifícios em áreas sujeitas a inundações, uso de pavimentos permeáveis, obras de proteção às edificações, restringir a expansão de construções em áreas costeiras etc.; •Construções ecoeficientes. USO DO SOLO, EDIFICAÇÕES E ASSENTAMENTOS • Eficiência do uso da água; técnicas de armazenamento de água e conservação; reutilização da água; dessalinização; aproveitamento de águas pluviais; •Rever e modificar as fontes superficiais e subterrâneas de captação e transferências de água; • Aumentar instalações/capacidade de armazenamento; • Recuperação das bacias hidrográficas. RECURSOS HÍDRICOS 13 Participação do mercado de carbono; Identificação de setores com capacidade para reduzir emissões, estocar- sequestrar carbono; Valorização das áreas verdes; Investimento em tecnologias de baixo carbono. Como fontes potenciais de apoio técnico, as cidades possuem uma série de organizações, tais quais: Figura 8 – Fontes de apoio técnico para cidades sustentáveis Fonte: Programa Cidades Sustentáveis, S.d. O Ministério de Meio Ambiente possui uma interface direta com o tema sustentabilidade e acaba por desenvolver, por meio de parcerias, projetos no âmbito de adaptação à mudança do clima, tais quais os elencados na Figura 9. 14 Figura 9 – Programas desenvolvidos pelo MMA Fonte: Projetos, S.d. TEMA 5 – FONTES DE FINANCIAMENTO O desafio de maiorcomplexidade ao planejamento urbano é a necessidade do incremento cada vez maior de recursos financeiros de diferentes fontes, uma vez que as necessidades de realizações de ações no espaço urbano se chocam com a realidade de arrecadação limitada dos municípios (Cavé, 2014). Cavé (2014) levanta dentro das necessidades de uma administração cada vez mais descentralizada os tipos de recursos que esses munícipios poderiam dispor, dividindo-os em cinco grandes famílias, que nomeia como alavancas e estão descritas no Quadro 1. Quadro 1 – Fontes de financiamento dos municípios Alavanca n. 1: subvenções e transferências intergovernamentais O financiamento ou o cofinanciamento do desenvolvimento urbano pelo contribuinte pela via do governo nacional continua sendo um dos principais recursos usados pelos governos locais, o que evidencia a natureza relativa da autonomia de muitos deles. Apesar do fato de, na busca pela descentralização, as reformas latino-americanas terem atribuído a esses governos a competência pelo desenvolvimento urbano, o financiamento dessas políticas ainda depende em muito dos recursos do governo nacional. Assim, as finanças locais dependem mais das fórmulas de rateio dessas dotações do que da otimização do sistema de tributação local. Alavanca n. 2: mobilização dos capitais e dos mercados financeiros Na América Latina, as mais ativas são, por ordem de volume de atividade: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial, a CAF (Corporación Andina de Fomento) e, entre as agências de desenvolvimento bilaterais, a AFD (França), a JICA (Agência de cooperação internacional do Japão), ou ainda a KFW (Banco de desenvolvimento da Alemanha). As IFI oferecem empréstimos de longo prazo, com taxas de juros razoáveis, geralmente direcionados para projetos específicos. Mas a maioria dessas instituições somente empresta em divisas (com o risco cambial atrelado) e com garantias do governo nacional, o que não contribui para reforçar a autonomia dos governos locais. 15 Alavanca n. 3: tributação e captura das mais-valias fundiárias e imobiliárias Sustenta-se na captura de uma parte das mais-valias fundiárias geradas pelo desenvolvimento da cidade. Esse tributo pode incidir sobre uma base estável e recorrente (Imposto territorial) ou ser cobrado de forma mais pontual. O Imposto Territorial e Predial é um imposto local por excelência e, em teoria, está diretamente ligado ao desenvolvimento urbano e à valorização do solo. Mas, na América Latina, a predominância dos repasses na receita municipal não estimula a otimização da arrecadação. A ideia de que é necessário pagar impostos prediais ou territoriais para beneficiar-se de serviços públicos de qualidade ainda encontra pouca aceitação. Alavanca n. 4: as tarifas pagas pelos usuários Cobrar do usuário parte dos custos dos serviços públicos urbanos é uma fonte de financiamento significativa para o investimento urbano; a sua disseminação é amplamente apoiada pelas instituições internacionais. As tarifas pagas pelos usuários mantêm um fluxo contínuo de receita para os governos responsáveis por serviços públicos urbanos. Alavanca n. 5: parcerias com o setor privado Como define o Banco Mundial, uma parceria público-privada é um “contrato de longo prazo entre uma entidade pública e uma empresa privada, mediante o qual a empresa privada se compromete a fornecer um serviço global que pode associar o financiamento, o projeto, a implementação, a operação e a manutenção de uma infraestrutura pública. A empresa privada pode ser remunerada tanto pela cobrança de tarifas diretamente dos usuários quanto por pagamentos feitos a ela diretamente pelo governo – desde que atenda a determinados níveis de desempenho de serviço –, ou ainda por uma combinação das duas modalidades” Fonte: Canvé, 2014. Dentre esses instrumentos, faz-se especial destaque para a alavanca n. 1, instrumento responsável pela maior parte das transferências de recursos para os municípios, por meio de programas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um dos principais vetores de investimento em infraestrutura urbana e administrado, principalmente por meio da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O BNDES é um dos principais bancos públicos e está atrelado à maioria dos financiamentos de projetos no país. Ramos (2018) relata que o Banco atualmente observa os requisitos ambientais de todos os projetos que financia, além de possuir uma política de responsabilidade socioambiental, sendo um indutor de comportamentos positivos na medida em que faz essas exigências para trabalhar com ele. Ramos (2018, p. 31) resume a atuação do banco no em prol do desenvolvimento urbano em três frente: como animador da cadeia econômica, no sentido de buscar que os seus clientes e fornecedores tenham práticas socioambientais mais sustentáveis; como financiador, ao priorizar recursos de longo prazo a uma taxa baixa, para financiar projetos de elevado retorno socioambiental; e como estruturador de concessões e Parcerias Público- Privadas para ampliar a oferta dos serviços nessas áreas. Dessa forma, o BNDES procura cumprir sua missão de contribuir para o desenvolvimento econômico e social do país, alinhado com a sustentabilidade 16 Outra alavanca citada por Canvé que ganha destaque dentro da estrutura de financiamentos das cidades sustentáveis são as parcerias com o setor privado. Esse é um modelo que o autor identifica como um mecanismo cujo potencial continua pouco explorado em razão principalmente da pouca maturidade dos mecanismos de parceria. 17 REFERÊNCIAS ADAPTAÇÃO baseada em ecossistemas. Ciência e Clima, 28 abr. 2018. Disponível em: <https://cienciaeclima.com.br/12409-2/>. Acesso em: 12 dez. 2019. BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jul. 2011. CAVÉ, J. et al. O financiamento da cidade latino-americana: instrumentos a serviço de um desenvolvimento urbano sustentável. Savoirs Communs, v. 16, p. 110, 2014. Disponível em < http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_financiament o_cidades.pdf> Acesso em: 12 dez. 2019. CHIAPETA, M. S. Cidades verdes: o que são e quais suas estratégias. eCycle, S.d. Disponível em: <encurtador.com.br/ilNPY>. Acesso em: 12 dez. 2019. CONTARDI, M.; RISTUCCIA, M. S.; RACCICHINI, A. 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