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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS – SÃO PAULO ARTHUR ANTÔNIO FARRIA TORRES A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ÂMBITO FAMILIAR DOMÉSTICO E A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTETIVAS NO COMBATE AO FEMINICÍDIO SÃO PAULO 2022 ARTHUR ANTÔNIO FARRIA TORRES A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ÂMBITO FAMILIAR DOMÉSTICO E A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTETIVAS NO COMBATE AO FEMINICÍDIO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Direito da Universidade São Judas – São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Prª. Rossana Leques SÃO PAULO 2022 A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ÂMBITO FAMILIAR DOMÉSTICO E A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTETIVAS NO COMBATE AO FEMINICÍDIO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Direito da Universidade São Judas – São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Aprovado em: ___/___/____. _________________________________________________ Membro: Prof. _________________________________________________ Membro: Prof. AGRADECIMENTOS Esta fase da minha vida é muito especial e não posso deixar de agradecer a Deus por toda força, ânimo e coragem que me ofereceu para ter alcançado minha meta. À Universidade quero deixar uma palavra de gratidão por ter me recebido de braços abertos e com todas as condições que me proporcionaram dias de aprendizagem. Aos professores reconheço um esforço gigante com muita paciência e sabedoria. Foram eles que me deram recursos e ferramentas para evoluir um pouco mais todos os dias. É claro que não posso esquecer da minha família e amigos, porque foram eles que me incentivaram e inspiraram através de gestos e palavras a superar todas as dificuldades. A todas as pessoas que de uma alguma forma me ajudaram a acreditar em mim eu quero deixar um agradecimento eterno, porque sem elas não teria sido possível. Essa conquista reflete muito mais do que um desafio vencido, é um sonho alcançado, algo pelo qual foi preciso vencer dia após dia, vários obstáculos, e que há uma grande parcela de envolvidos. Somos responsáveis por nossas vidas e somente a nossa fé pode nos guiar em busca dos nossos sonhos. "Cuida-te quando fazes uma Mulher chorar, pois Deus conta as suas lágrimas. A Mulher foi feita da costela do Homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada". Rabino Chelbo, Talmude hebraico, Bava Metzia 59ª . RESUMO O presente trabalho tem por escopo, inicialmente, emergir através de uma análise histórica e contemporânea do comportamento masculino, o seu protagonismo em um dos crimes mais comuns da atualidade, transformando-se assim em um grave problema social. Durante muitos anos, a submissão feminina e o sistema patriarcal, o qual nas mais diversas épocas, demonstram a subordinação das mulheres até mesmo nas legislações diversas anteriores, desencadearam essa realidade machista, a qual ainda persiste nos dias atuais. Em consequência, um enorme leque de desigualdades, desfavorecem as mulheres na sociedade, sem poder contar efetivamente com os mesmos direitos que os homens. A violência doméstica e/ou violência de gênero é nutrida pela forma que a sociedade vem sendo educada, ideias conservadoras, machistas, relação de poder, fazem com que cada vez aumente mais o rol taxativo de crimes cometidos em razão do gênero. A Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, compreende os direitos da mulher nas mais diversas modalidades de violência, inclui políticas públicas que visam assegurar as garantias fundamentais das mulheres no âmbito doméstico e familiar, possui caráter preventivo e mecanismos assecuratórios da integridade das vítimas de violência doméstica. Visa coibir e erradicar a violência doméstica e familiar no Brasil. Após uma análise sobre a referida lei e suas prerrogativas, verificando as possibilidades previstas de medidas protetivas de urgência, as quais impossibilitam o agressor de se aproximar da vítima, bem como a mesma elenca as medidas de prevenção, os programas de assistencialismo, os quais envolvem uma série de projetos que têm como objetivo proporcionar proteção e um direcionamento à mulher vítima de violência, atuando o psicológico da mesma, bem como os mais diversos métodos criados com intuito de amenizar a dor causada a vítima, o diminuindo assim, o alto índice de crimes cometidos dessa natureza. Analisa-se as modalidades previstas no crime de lesão corporal, em especial o crime de lesão corporal leve, o mais comum praticado no âmbito familiar. Por fim, abordaremos o crime previsto na Lei 13.104/2015, abordando-se a circunstância qualificadora mais detalhadamente, conceituando-a, apresentando-se as estatísticas dos crimes de feminicídios praticados contra mulheres, expondo os números alarmantes a nível nacional e estadual, e a necessidade da sua criação, indicando através dessas altas taxas a ineficácia das medidas protetivas em muitos casos, discorrendo sobre a vitimologia e o papel da vítima diante de um crime. Palavras-chave: Lei Maria da Penha. Violência Doméstica. Lesão Corporal. ABSTRACT The present work aims, initially, to emerge through a historical and contemporary analysis of male behavior, its role in one of the most common crimes today, thus transforming it into a serious social problem. For many years, female submission and the patriarchal system, which in the most diverse eras, demonstrate the subordination of women even in the previous diverse legislation, triggered this sexist reality, which still persists today. As a result, a huge range of inequalities disadvantage women in society, without being able to effectively count on the same rights as men. Domestic violence and/or gender violence is nurtured by the way society has been educated, conservative ideas, sexist, power relations, make the list of crimes committed on grounds of gender increasingly increase. Law 11.340/2006, known as the Maria da Penha Law, encompasses women's rights in the most diverse forms of violence, includes public policies aimed at ensuring the fundamental guarantees of women in the domestic and family sphere, has a preventive character and mechanisms to ensure the integrity of victims of domestic violence. It aims to curb and eradicate domestic and family violence in Brazil. After an analysis of the aforementioned law and its prerogatives, verifying the foreseen possibilities of urgent protective measures, which make it impossible for the aggressor to approach the victim, as well as the same lists the prevention measures, the welfare programs, which involve a series of projects that aim to provide protection and guidance to women victims of violence, acting on their psychology, as well as the most diverse methods created with the aim of easing the pain caused to the victim, thus reducing the high rate of crimes committed of this nature. The modalities foreseen in the crime of bodily injury are analyzed, in particular the crime of light bodily injury, the most common one practiced within the family. Finally, we will address the crime provided for in Law 13.104/2015, addressing the qualifying circumstance in more detail, conceptualizing it, presenting the statistics of femicide crimes committed against women, exposing the alarming numbers at national and state level, and the need for its creation, indicating through these high rates the ineffectiveness of protective measures in many cases, discussing victimology andthe role of the victim in the face of a crime. Keywords: Maria da Penha Law. Domestic violence. Bodily injury. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Mapa das taxas de feminicídios 2016-2022. ........................................................................ 25 Figura 2: Taxas de feminicídios por mês, 2019-2021.......................................................................... 26 Figura 3: Taxas de feminicídios - 2021. .............................................................................................. 26 Figura 4: Estados com maior índice de homicídios ............................................................................. 27 Figura 5: Estados com menor índice de feminicídios .......................................................................... 28 Figura 7: Índices de base 100 da evolução das taxas de homicídio de mulheres dentro e fora da residência e ainda por arma de fogo (2012-2017) ............................................................................... 28 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – NÚMEROS DE ASSASSINATOS............................................................29 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APUD - CITADO POR ADI – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE CEDAW - CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ART. – ARTIGO CF – CONSTITUIÇÃO FEDERAL CP – CÓDIGO PENAL CPP – CÓDIGO DE PROCESSO PENAL SPM – SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES CPMI – COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO CPMIVCM – COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER MP – MEDIDA PROVISÓRIA SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................11 2.1 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............................................................. 13 2.2 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR .................................. 15 2.4 COMO FUNCIONAM OS PROCEDIMENTOS POLICIAIS EM CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA .......................................................................................... 16 2.4.1 Lei 13.827/2019 e as alterações na lei Maria da Penha ................................................ 17 2.5 OS TIPOS DE ASSISTÊNCIA QUE SÃO PROPORCIONADOS ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE RISCO .......................................................................................... 18 2.6 AS MEDIDAS DE URGÊNCIA QUE PROTEGEM A OFENDIDA ......................... 18 3. LESÕES CORPORAL .........................................................................................22 3.1 SOBRE A NECESSIDADE DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO ............... 23 3.2 O FEMINICÍDIO E SEU LEVANTAMENTO DE DADOS....................................... 24 4. A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTEÇÃO ............................................29 5. CONCLUSÃO .......................................................................................................30 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 33 11 1 INTRODUÇÃO Mulher, um ser único e especial, dotada de direitos e virtudes. Entretanto, nesta sociedade patriarcal em que vivemos, os direitos foram subtraídos enquanto a cultura machista se perpetrava já na educação das mulheres. Impondo-as a um tratamento sempre de subordinação, explicitamente desigual. Tratadas como um mero objeto, do qual um homem deverá ter sua posse, sem vontades, sem poder e controle sobre suas próprias vidas. Condenadas a viver sob a sombra dos homens, submissas. O Brasil é o 5º país de um grupo de 83, que mais mata mulheres, segundo o Mapa da Violência de 2015, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Entre 2003 e 2013, o número de feminicídios passou de 3.937 para 4.762 por dia, registrando um aumento de 21%. Segundo a Central de Atendimento à Mulher, em 74% dos relatos recebidos pelo serviço “Ligue 180”, a violência era frequente, diária ou semanal. Os relatos de violência que antecederam essa última pesquisa, demonstraram que: 10,8% como violência física, 48,3% como agressão psicológica, 7,8% como coerção sexual e 4,7% como injúria. No que se refere à prática de violência contra os filhos, 70,5% das mulheres relataram agressão psicológica, 51,4% admitiram o uso de punição corporal e 9,8% praticaram maus-tratos físicos. (SUDRÉ; COCOLO; 2016, p. 01) Este trabalho versará sobre uma questão de extrema relevância social, os dados repercutem cada vez mais a violência sofrida por muitas mulheres. Tratando - se de um crime que ocorre frequentemente no interior dos lares, chegando a até mesmo, passar despercebido por muitas vítimas. Após as diversas tentativas de homicídios sofridas por Maria da Penha Maia Fernandes, e sua repercussão internacional, o Brasil sancionou em 2006, a Lei de nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha. Com o advento da referida lei, ampliou-se a discussão sobre o tema, dando especial atenção ao crescente número de vítimas. Além disso, aumentou-se a proteção e a assistência destinada às mulheres vítimas de violência doméstica. Contudo, no art. 41 da Lei Maria da Penha, houve um grande avanço na legislação, com as novas alterações, ampliando a proteção das vítimas de várias formas, como a exclusão da competência dos Juizados Especiais Criminais, previstos na Lei de nº 9.099/95, para julgamentos de crimes, quando esses se tratarem de violência doméstica ou familiar. 12 Houve também a Ação Direta de Inconstitucionalidade de nº 4.424, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu que no crime de lesão corporal leve, a ação penal cabível é pública incondicionada, não necessitando da representação da ofendida para procedibilidade da demanda judicial. Dessa forma, o Ministério Público, titular da ação penal, no exercício de sua função, poderá ingressar com a demanda, independentemente de manifestação de vontade da vítima. Desta forma, para melhor compreensão e delimitação do tema, o trabalho foi dividido em capítulos que abordará a Lei Maria da Penha, no que tange as formas de proteção e assistência que deverão ser prestados às vítimas, analisaremos as modalidades de medidas protetivas que poderão ser deferidas, tanto em favor da vítima, como do agressor, e a punição que poderá ser a ele imposta. A conceituação de lesão corporal, um dos delitos mais comuns nos casos de violência doméstica, logo, uma breve análise da Ação Direta de Inconstitucionalidade de nº 4.424, a qual versa o tipo de ação penal que é cabível nos casos lesões corporais leves envolvendo violência doméstica. Por fim, o último capítulo será dedicado a análise e conceituação do crime de feminicídio, a criação de órgãos públicos nacionais como a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência Contra Mulher, a qual realizou estudos com a finalidade de investigar as situações de violência contra a mulher e suas formas de combatê-las, os tipos de vítimas, e os crescentes números de mulheres que ainda são assassinadas, apresentando gráficos exemplificativos e a efetividade das medidas no combate ao feminicídio. Para a realizar este trabalho de conclusão de curso utilizou-se o método indutivo, tendo como principais fontes de pesquisas: obras doutrinárias, artigos científicos, legislação além de materiais disponíveis na internet. 13 2. ANÁLISE HISTÓRICA E CONTEMPORÂNEA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA O presente capítulo visa realizar uma análise histórica e contemporânea sobre a inferiorização da mulher nas relações domésticas. Mulher tratada como mero objeto, uma identidade construída a partir dos preceitos patriarcais, numa cultura machista impetrada até os dias atuais. Em pleno século XXI, a violência doméstica representa um grave problemasocial, gerando grandes prejuízos não somente às vítimas, mas à sociedade em geral. Karla Cuellar cita uma observação de Mellatti (2011) Como se observa, todo tipo de violência envolve a coisificação do sujeito, ou seja, o outro é considerado como um objeto, sendo as relações sociais colocadas no mesmo nível de mercadorias, possivelmente influenciado pelo sistema de produção capitalista. Há uma supervalorização das coisas em detrimento das pessoas, acarretando na perda de referências e valores humanos. (2017, p, 1). A desigualdade de gênero sempre foi muito forte, baseada na educação em que homens e mulheres receberam, diferentes uma da outra. A mulher era educada para ser dona de casa, esposa e mãe. Permitindo-se até um determinado período da história, que o homem disciplinasse sua esposa, caso a mesma não se comportasse como o marido assim desejasse. Lembrando que a discriminação contra a mulher viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito à dignidade humana, dificultando a participação da mulher, nas mesmas condições que o homem, na vida política, social, econômica e cultural de seu país, constituindo um obstáculo ao aumento do bem-estar da sociedade e da família e impedindo a mulher de servir o seu país e a humanidade em toda a extensão das suas possiblidades. (Cunha; Pinto; 2007, p. 150) 2.1 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Mas primeiramente extrai-se do texto da Lei Maria da Penha a configuração da expressão dita “violência doméstica”. O caput do art. 5º da Lei nº 11.340/2006 de violência doméstica e familiar 14 contra a mulher como toda a espécie de agressão (ação ou omissão) dirigida contra mulher num determinado ambiente, o qual pode ser: doméstico, familiar ou de intimidade, lhe causando morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, dano moral ou até mesmo patrimonial, conceituando juridicamente a violência doméstica e familiar, visto esse ser um grave problema social. Entretanto é imprescindível alguns requisitos para que haja a configuração dos crimes incursos na Lei Maria da Penha. É necessário que tal conduta delituosa haja em decorrência de uma relação entre as partes, podendo essa ser doméstica, familiar ou íntima, sendo dispensável a coabitação, visto que ambos não precisam residir na mesma casa para que se configure tal prática, desde que haja algum vínculo, relação afetiva entre o agressor e a vítima. Na prática independe de a conduta criminosa ser praticada no interior do imóvel em que ambos residam ou em local público, desde que a violência derive de uma relação íntima de afeto, bem como uma agressão oriunda de um estranho no interior da própria residência da vítima, não caracteriza violência doméstica ou familiar. Conforme Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2007, p. 30) “Agressão no âmbito da unidade doméstica compreende aquela praticada no espaço caseiro, envolvendo pessoas com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas”. Maria Berenice Dias (2008, p. 43) cita o alerta de Guilherme Nucci: [...] a mulher agredida no âmbito da unidade doméstica deve fazer parte dessa relação doméstica. Não seria lógico que qualquer mulher, bastando estar na casa de alguém, onde há relação doméstica entre terceiros, se agredida fosse, gerasse a aplicação da agravante trazida pela Lei Maria da Penha. Maria Berenice Dias (2008, p. 40) ressalta que: É obrigatório que a ação ou omissão ocorra na unidade doméstica ou familiar ou em razão de qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independente de coabitação. Modo expresso, ressalva a Lei que não há necessidade de vítima e agressor viverem sobre o mesmo tempo para a configuração da violência como doméstica ou 15 familiar. Basta que agressor e agredida mantenham, ou já tenham mantido, um vínculo de natureza familiar. Podemos complementar que para restar configurado os delitos previstos nos termos do art. 5º da Lei n. 11.340/06, é necessário que haja entre o agressor e a ofendida uma ligação entre a relação de afeto e a conduta delitiva, e que o ato de violência praticado tenha sido decorrente dessa relação doméstica familiar, dessa forma caracterizará os crimes previstos na Lei nº 11.340/06. Nota-se que o conceito de família atualmente abrange sentidos amplos, não mais limitando-a a tradicional família, composta por pai, mãe e filhos. O que representa um grande avanço na legislação brasileira, na forma com que o direito vai evoluindo paralelamente com a sociedade, fazendo com que as leis se adequem à medida que as mudanças sociais vão ocorrendo, pois, o direito não pode ser uma norma estática. Embora a sociedade evolua de maneira bem mais célere, na medida em que novas situações vão surgindo no meio jurídico, consequentemente devem ser feitas as alterações necessárias a fim de suprir a demanda. Conseguinte, o afeto é que define essas relações, um novo conceito de família, o qual vem incutido nesta nova compreensão do que significa família na atualidade, o que sem dúvida vai além da consanguinidade entre o agressor e a vítima. 2.2 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR A violência doméstica e familiar acontece dentro de casa ou unidade doméstica e geralmente é praticada por um membro da família que viva com a vítima. As agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono. O artigo 7º, engloba um rol exemplificativo de condutas que configuram atos de violência doméstica e familiar praticados contra a mulher, contemplando assim o texto enunciado no artigo 5º, caput, incutindo as diversas modalidades de ofensas à integridade feminina. Dessa forma, é possível delinear situações que ensejam práticas comportamentais ilícitas dentro do âmbito doméstico e familiar, de forma que, possam ser aplicadas não somente as punições ao agressor, mas prestar assistência de forma mais enfática às vítimas 16 2.3 DIFERENÇA ENTRE VIOLÊNCIA PSICOLOGICA E MORAL O ato de violência psicológica, é a conduta que resulta em danos emocionais à vítima, a qual pode ocasionar prejuízos até mais graves à saúde mental, como humilhação, exposição, xingamentos ou a opressão e submissão que fazem com que a vítima seja coagida sem a necessidade de utilização da força física. Entende-se por violência moral qualquer conduta que importe em calúnia, quando o agressor ou agressora afirma falsamente que aquela praticou crime que ela não cometeu; difamação; quando o agressor atribui à mulher fatos que maculem a sua reputação, ou injúria, ofendendo a sua dignidade. 2.4 COMO FUNCIONAM OS PROCEDIMENTOS POLICIAIS EM CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Com o intuito de proporcionar celeridade no combate aos crimes praticados e previstos na Lei Maria da Penha, ampliou-se a participação policial nessa luta, através das Delegacias de Polícia especializadas na Proteção à Mulher, visando assim prestar melhor assistência às vítimas. Os policiais civis, geralmente, são os primeiros profissionais a terem contato pessoal com as vítimas em situação de violência doméstica. Portanto, nesses casos o primeiro contato é de suma importância é muito, podendo ser essencial para a queixa-crime e posteriormente a investigação criminal. É importante que os policiais que esses recebam as mulheres com apoio e acolhimento para obter um bom atendimento humanizado, com suma o discurso e preocupando-se com a privacidade da mulher no momento oportuno do depoimento. Assim sendo, é aconselhado que as equipes de acolhimento sejam do sexo feminino para que vítima se sinta com segurança. A lei 11.340/2006 narra que, aos artigos 10 a 12, o procedimento que a autoridade policial deve alcançar ao identificar uma prática efetiva ou eminência de violência doméstica contraa mulher. Portanto nesse contexto as providencias na lei os agentes são responsáveis para garantir a proteção a vítima informar o fato para o Ministério Público. 17 Dentre as providências previstas na lei, os policiais deverão agir para: garantir proteção da vítima; comunicar o fato ao Ministério Público; conduzir a vítima ao hospital, posto de saúde, ou IML fornecer o meio de transporte e abrigo à vítima e seus dependentes. 2.4.1 Lei 13.827/2019 e as alterações na lei Maria da Penha Notadamente percebe-se que o afastamento imediato do agressor da vítima mediante autorização da medida protetiva de urgência é necessidade que se impõe, dadas as circunstâncias dos fatos. No entanto, devido a referida alteração no texto legal, a medida não mais necessita de autorização judicial caso o município não seja sede de comarca, visto a necessidade de proporcionar celeridade ao processo que se inicia, o Delegado de Polícia fica então autorizado a conceder a medida protetiva de urgência nos casos em que nota-se o risco de a vida ou a integridade física da mulher, e no intuito de assegurar ainda mais a vítima em segurança, o legislador encarregou também, na ausência do Delegado de Polícia, o policial disponível no ato da denúncia, a conceder a medida protetiva e o imediato afastamento do agressor, devendo o juiz competente ser comunicado no prazo de 24 horas, onde o magistrado irá avaliar o caso concreto, decidindo se mantém ou revoga a referida medida. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência. Em seguida, o juiz registrará em banco de dados do Conselho Nacional de Justiça, com vistas ao Ministério Público. Embora a Lei Maria da Penha desde antes estabelecesse critérios a fim de assegurar a segurança e proteção às vítimas de violência doméstica, na prática não eram muito incisivas, o que acabava por dar margem ao agressor retornar à residência, tornando menos efetiva a proteção policial. Importante salientar que, até a entrada em vigor da Lei 13.827/2019, o prazo para a autoridade policial comunicar ao juízo competente da comarca a ocorrência do fato, era de 48 horas, logo, o magistrado possuía mais 48 horas após o recebimento da denúncia para decidir acerca das medidas que deveriam ser aplicadas, ou seja, na prática, facilitava o reingresso do agressor à residência, resultando num crime ainda pior. 18 2.5 OS TIPOS DE ASSISTÊNCIA QUE SÃO PROPORCIONADOS ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE RISCO No que tange as mulheres em situação de risco, em decorrência da prática de violência em âmbito doméstico e familiar, cumpre destacar o artigo 9º da Lei Maria da Penha. Tratando neste momento de forma efetiva a situação, com ações reais, cujo objetivo é prestar assistência à vítima e não mais seguir a teoria, o legislador passa a dispor a mais claramente as fontes de recursos e instrumentos disponíveis, os quais viabilizarão a “política pública”. O artigo 9º da Lei Maria da Penha traz em seu texto, o dever do juiz em assegurar à mulher em situação de vulnerabilidade em decorrência da violência doméstica, a fim de preservar a integridade física e psicológica da vítima, facilitando a remoção, quando essa for funcionária pública, ou mantendo o vínculo trabalhista caso seja necessário o afastamento por até 6 meses, como também um abrigo seguro, quando a vítima estiver sob risco de vida, sofrendo ameaças ou até mesmo tentativas de homicídio. Para Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2007, p. 50), tais mecanismos que visam prestar assistência a mulher, tripartem-se em: a) inclusão da ofendida no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal; b) saúde (proporcionando assistência às vítimas, prestando-lhes acesso aos serviços básicos de saúde, bem como procedimentos médicos necessários e cabíveis nessas situações); c) segurança pública, garantindo à vítima abrigo em local seguro, prestando proteção policial necessária, bem como na retirada de seus pertences policiais, se necessário for, da residência que dividia com o agressor, a fim de que a vítima não sofra risco de vida. 2.6 AS MEDIDAS DE URGÊNCIA QUE PROTEGEM A OFENDIDA Dentre as ações do poder público para salvaguardar a incolumidade física da vítima, estão essas previstas no artigo 23 da Lei Maria da Penha, na qual o legislador elencou um rol de medidas protetivas à ofendida. Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: 19 I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; IV - determinar a separação de corpos. V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) Sérgio Ricardo de Souza compreende acerca das medidas elencadas nesses dispositivos que servem: “para garantir a efetivação dos seus objetivos, mormente no que diz respeito a garantir a integridade moral, a integridade física, a integridade psicológica e a integridade material da mulher que tenha sido vítima de violência doméstica e familiar. Nesse contexto, o encaminhamento a Programas de Proteção e Atendimento: Para a efetivação dessa medida, necessário se faz que existam e estejam funcionando regularmente esses programas de proteção e atendimento, os quais devem ser criados não somente através de ações isoladas de grupos de apoios à mulher ou outras organizações sem fins lucrativos, mas também pelo Estado, até porque esses programas devem possuir uma estrutura de atendimento multidisciplinar e, além disso, devem ser dotados da necessária segurança, dada a particular situação em que se encontram a vítima e seus dependentes. (SOUZA, 2009, p. 137) Colhe-se da obra de Maria Berenice Dias (2007, p. 83): “O encaminhamento da ofendida e seus dependentes a programas comunitários de proteção, como estabelece o artigo 23, pode ser mediante ordem judicial ou pela autoridade policial nos termos do artigo 11, inciso III, da Lei nº 11.340/06“. Leda Maria Hermann (2012, p. 178-179), exemplifica: A primeira das medidas elencadas no artigo 23 consistem no encaminhamento da ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento (inciso I), respeitadas as peculiaridades do caso concreto. 20 [...] A medida prevista no inciso II do artigo 23 está atrelada, em princípio, àquela prevista no art. 22, II, que possibilita o afastamento do agressor do lar comum. Afastado o violador poderá o juiz, se entender necessário à proteção da ofendida e dependentes, determinar a recondução destes últimos ao respectivo domicílio. [...] A providência legal é aplicável sempre que a mulher vítima expressar temor justificado de retorno do violador ou de qualquer retomada de violência pelo agente, mesmo que este tenha deixado o lar comum por vontade própria. [...] O inciso III do artigo 23 prevê proteção e suporte à ofendida quando sua decisão for deixar o domicílio comum. A norma clarifica a possibilidade de autorizar o juiz o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo de direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos. A previsão legal que concede a separação de corpos está prevista no artigo 22 que trata das tutelas de urgência que obrigam o agressor, bem como no artigo 23 que dispõem acerca das tutelas de urgência que protegem a vítima. Importante salientar que a Lei 10.445/02 já trazia disposição idêntica, inclusive acrescentou- seao parágrafo único do artigo 69 da Lei n. 9099/95, a possibilidade de o juiz determinar o afastamento do agressor do lar conjugal. (CUNHA; PINTO, 2007, p. 97) Sobre a separação de corpos e proibição de contato: O Código Civil vigente, em seu art. 1562, dispõe que: “Antes de mover ação de nulidade do casamento, a de anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de dissolução de união estável, poderá requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com a possível brevidade. ” Aqui no âmbito da Lei 11.340/2006 cremos que a situação não é diferente e que o juiz competente deverá pautar a sua decisão pelos mesmos parâmetros traçados na norma civil referenciada, inclusive no que diz respeito à necessidade da medida, a qual, diante da verossimilhança em relação a uma agressão já concretizada ou prestes a se concretizar, estará presente. (SOUZA, 2009, p. 138) Nesse sentido, Maria Berenice Dias (2008, p. 84): Para garantir o fim da violência é possível a saída de qualquer deles da residência comum. Determinado o afastamento do ofensor do domicílio ou do local de convivência com a ofendida (art. 22, II), ela e seus dependentes podem ser reconduzidos ao lar (art. 23, II). Também pode ser autorizada a saída da mulher da residência comum, sem prejuízo dos direitos relativos a 21 bens, guarda de filhos e alimentos (art. 23, III) [...] trata-se de decreto de separação de corpos (art. 23, IV) decorrente de crime e não de outras questões de natureza exclusivamente civil. E continua: A separação de corpos pode ser requerida e consequentemente deferida, quer as partes sejam casadas ou vivam em união estável. Dentre as medidas cautelares expressamente previstas no Código de Processo Civil, o afastamento temporário de um dos cônjuges da residência do casal, poderia ensejar dúvida quanto à possibilidade, no entanto, a separação de corpos dos que mantém união estável, admite a separação de corpos como tutela antecipada à ação de dissolução de união estável, conforme dispõe o artigo 1.562 do Código Civil. (DIAS, 2007, p. 84-85). Nas palavras de Leda Maria Hermann (2012, p. 180), conclui-se que na lei Maria da Penha a previsão de separação de corpos ganha relevância ante a possibilidade necessidade de aplicação cumulativa de medidas protetivas diversas, cuja conjugação harmônica resulte proteção mais eficaz e completa à mulher vitimada. O Juiz poderá conceder liminarmente em favor da ofendida, medidas de natureza eminentemente patrimonial, segundo consta no artigo 24, algumas medidas cautelares são voltadas a evitar a prática que comumente o agressor mantinha, de dilapidar o patrimônio comum do casal, ou até mesmo, causar prejuízo à vítima. Medidas que já eram diuturnamente requisitadas na esfera dos juízos de família, no entanto agora poderão ser aplicadas no juízo criminal, ampliando assim, a proteção dada à vítima. (DIAS, 2008, p. 84) Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: I - Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV - Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. 22 Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. (BRASIL, 2006, art. 24) Sobre o tema, Maria Berenice Dias ensina que: “No momento em que é assegurado à vítima o direito de buscar a restituição de seus bens, refere-se tanto aos bens particulares como aos que integram o acervo comum, pois a metade lhe pertence. ” (2008, p. 88) O pressuposto para concessão da medida é que bens tenham sido subtraídos por quem a vítima mantém um vínculo familiar, o que até então configurava o crime de furto, com o advento da Lei Maria da Penha transformou-se em violência patrimonial, não se aplicando as imunidades absoluta ou relativa, ambas previstas no Código Penal, em seus artigos 181 e 182. (DIAS, 2008, p. 88) O inciso I viabiliza determinação judicial, em caráter de urgência – cautelar e liminarmente – de restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida, seja qual for a relação, desde que inserida no âmbito doméstico ou familiar. São condições para a concessão da medida: a) que o bem em questão seja da ofendida; b) que lhe tenha sido subtraído pelo agressor; c) que esta subtração não encontre nenhum respaldo legal (seja indevida): [...] A indisponibilização temporária de propriedade comum, prevista no inciso II, inclui o exercício do direito de fruição civil (locação), protegendo mais especificamente a propriedade imóvel. Sua aplicação evita que o agressor desfrute indevidamente do bem ou crie situação que venha dificultar a partilha [...] O inciso III do artigo 24 prevê a possiblidade de suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor. [...] O inciso IV prevê prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. (HERMANN, 2012, p. 182) Conclui-se que com o surgimento da Lei Maria da Penha, o intuito foi de atuar mais preventivamente e em busca de proteger as vítimas, do repreender os agressores. 3. LESÕES CORPORAL Portanto fica claro, que a figura da lesão corporal introduzida pelo nosso Código Penal com as modificações inserida pela Lei 10.866/2004, com interesse em melhorar o procedimento diferenciado 23 para a conduta no crime de lesão corporal previsto no Código Penal, aplicada na circunstância na violência doméstica ou familiar. Diante disso, vale ressaltar que a Lei A Lei 14.188/21 em seu artigo § 13, no artigo 129, CP, cita uma nova qualificadora quando “a lesão for praticada contra o sexo feminino, por razões da condição do sexo feminino”, com pena cominada de “reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos”. O artigo 1º, na lei mencionada, relata que está qualificadora se aplica somente nos casos de lesões corporais leves, porém já nas lesões graves e gravíssimas ou ainda em seguida de morte, se enquadra as penas mais rigorosas deste delito. 3.1 SOBRE A NECESSIDADE DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO Os altíssimos índices de mulheres sendo assassinadas no Brasil, seja em decorrência de violência no âmbito familiar e doméstico, ou seja, pelo desprezo, pelo simples fato dessa ser mulher, teve um crescimento contínuo, o que gera uma maior preocupação por parte do legislador. A objetificação da mulher para o homem, faz com que ele sinta - se como proprietário da mesma, uma vez que a maior ocorrência desse crime se dá através das relações afetivas, sendo muitas assassinadas dentro da própria residência. A Juíza de Direito, Adriana Ramos de Mello, esclarece que: O feminicídio constitui a forma mais extrema de violência contra a mulher produto das relações desiguais de poder entre os gêneros. Com a edição da Lei 13.104/2015, o Estado brasileiro completa o sistema de proteção às mulheres, criando como modalidade de homicídio qualificado, o chamado feminicídio, que ocorre quando uma mulher vem a ser vítima de homicídio simplesmente por razões de sua condição de sexo feminino. O fenômeno forma parte de um contínuo de violência de gênero expressada em estupros, torturas, lesões, ameaças, dentro e fora da família. Dar visibilidade aos assassinatos de mulheres, ao invés de tratá-los comomero crime passional, elevando-o a uma categoria jurídica, ainda é uma agenda pendente, para a qual a tipificação é um passo decisivo, e que pode fazer com que ocorram mudanças estruturais na nossa sociedade permitindo uma reforma geral de toda a legislação. (2015, p. 01) 24 No entanto, as diversas investidas do Estado ainda não foram condizentes com os elevados números de assassinatos de mulheres no Brasil, necessitando ainda de mais políticas públicas que sejam efetivas no combate ao feminicídio. A curva ascendente de feminicídios, bem como o elevado número de casos envolvendo as diversas formas de violência sofrida pelas mulheres, faz restar comprovado por meio de pesquisas e mapas da violência a nível nacional a necessidade de criar ainda mais medidas com caráter cada vez mais efetivo no enfrentamento ao feminicídio. O Projeto de Lei n° 292/2013 esclarece a justificativa para tipificar o feminicídio como qualificadora: A importância de tipificar o feminicídio é reconhecer, na forma da lei, que mulheres estão sendo mortas pela razão de serem mulheres, expondo a fratura da desigualdade de gênero que persiste em nossa sociedade, e é social, por combater a impunidade, evitando que feminicidas sejam beneficiados por interpretações jurídicas anacrônicas e moralmente inaceitáveis, como o de terem cometido ‘crime passional’. Envia, outrossim, a mensagem positiva à sociedade de que o direito à vida é universal e de que não haverá impunidade. Protege, ainda, a dignidade da vítima, ao obstar de antemão as estratégias de se desqualificarem, midiaticamente, a condição de mulheres brutalmente assassinadas, atribuindo a elas a responsabilidade pelo crime de que foram vítimas. 3.2 O FEMINICÍDIO E SEU LEVANTAMENTO DE DADOS O feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de violência doméstica. A referida lei alterou o Código Penal em seu artigo 121, e a Lei de Crimes Hediondos, incutindo a esse uma qualificadora para o crime de homicídio, quando este for praticado contra mulheres em razão de violência doméstica ou discriminação do gênero. A situação de assassinatos de mulheres no Brasil tem crescido em números alarmantes. Prevalecendo a sensação de insegurança e de medo, pelas diversas tentativas de responsabilização e culpabilização dos seus agressores, porém sem uma efetividade da lei para que possa haver um 25 controle desses índices. Mulheres que, segundo estudos, são na grande maioria das vezes, assassinadas pelo próprio parceiro, no interior da sua própria residência. No Brasil, no período de 2016 a 2022, estima-se mais de 40 mil feminicídios, o que equivale a 3.000 mortes por ano, tendo sido registradas no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde 13.071 feminicídios, equivalente a taxa de 4,48 óbitos por 100.000 mulheres. Após a correção, esse número aumentou para 16.993 mortes, resultando na taxa de 5,82 óbitos a cada 100.000 mulheres. Estima-se a maior parte decorreram de situações de violência doméstica, uma vez que, um terço deles ocorreram dentro da residência da vítima. Nas figuras abaixo, estão representadas as estimativas das taxas de feminicídios, de acordo com estudos realizados pela SESP: Figura 1- Mapa das taxas de feminicídios 2016-2022. 26 Figura 2: Taxas de feminicídios por mês, 2019-2021. Figura 3: Taxas de feminicídios - 2021. A estimativa é de que em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia. Também verifica - se a maior incidência das taxas de feminicídios nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, no qual as taxas foram mais 27 elevadas, respectivamente, 6,90, 6,86 e 6,42 óbitos por 100.000 mulheres. Sendo os estados com maior índice: Espírito Santo (1,7), Bahia (1,1), Alagoas (1,4), Roraima (1,8) e Pernambuco (1,7). E com menor índice, observou o estado do Piauí (2,2), ainda dentro desses números, os dados dizem que: 31% dessas mulheres tinham entre 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos, ou seja, mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos. Segundo esses estudos, no Brasil, 50% dos feminicídios envolveram o uso de armas de fogo e 34%, de instrumento perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% dos óbitos. Maus tratos – incluindo agressão por meio de força corporal, força física, violência sexual, negligência, abandono e outras síndromes de maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) – foram registrados em 3% dos óbitos. Cumpre ainda ressaltar que, 29% dos feminicídios ocorreram no domicílio, 31% em via pública e 25% em hospital ou outro estabelecimento de saúde. Figura 4: Estados com maior índice de homicídios Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas 28 Figura 5: Estados com menor índice de feminicídios Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Figura 7: Índices de base 100 da evolução das taxas de homicídio de mulheres dentro e fora da residência e ainda por arma de fogo (2012-2017) Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. 29 TABELA 1 – NÚMEROS DE ASSASSINATOS 4. A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTEÇÃO As medidas protetivas em casos de urgência oferecidas pelo magistrado, o sofredor de jeito nenhum possuí a eficácia por completo para solucionar os problemas necessários relativos ao sexo feminino que sofre a violência doméstica. Destaca- se que em geral as mulheres que sofrem a violência não representam contra o provocador e prosseguir com uma união amorosa. 30 Portanto, entende-se que as medidas protetivas são medidas que a mulher tem a liberdade em escolher a respeito da sua proteção estatal contra seu ofensor., diante disso com a concessão das medidas protetivas em casos de urgência tem por objetivo a diminuir as agressões, e gera com que a vítima se sinta com mais segurança e paz. Vale ressaltar que a Lei 11.340/06 é um dos delitos mais efetuados no nosso País, e isto causa um choque perante a sociedade brasileira. Existem inúmeros casos de mulheres que são agredidas pelos seus parceiros tanto físicos, psicológica, sexual entre outras. Portanto as mulheres com esse sentimento de "apavoramento" que elas sofrem, a lei é falha em alguns sentidos. É importante tanto o Estado tanto os Poderes Judiciários se juntam para a melhoria da Lei. Desta maneira a lei teria que se responsabilizar totalmente a seguridade da Mulher vítima de violência contra mulher com previsão legal 11.340/06, existem algumas imperfeições e falhas não sendo completamente eficaz. Assim sendo a Lei mencionada 11.340/06 realizada propriamente feita para as mulheres que sofrem todos os dias na maioria parte tem sua aplicabilidade ineficaz. Diante compreende se que a Lei Maria da Penha foi concebida para resguardar a mulher, mas por falta de estrutura tanto na parte policial, tanto governamental. Há vários casos em que as mulheres não se apresentam nas delegacias para oferecer as denúncias, mas nos dias de hoje a porcentagem de casos de mulheres que denunciam tem sido aumentado fraquejado apenas na eficácia da Lei. Importante destacar que a violência doméstica exclui da Lei dos juizados especiais cíveis e criminais em visto disso que não se encaixa a dizer sobre a delinquência de menor potencial ofensivo abrangendo a violência doméstica. De modo igual compreende- se que os delitos com fundamento legal no art. 129 do Código Penal (Lesão Corporal), são de ação penal pública incondicionada de forma que não é admissível a desistência da apresentaçãoaté a suspensão da ação. Portanto, compreende- se que não tem ineficácia por parte da lei mencionada, porem sim nas medidas protetivas em casos de urgências não são plenamente eficazes em ligação ao agressor. 5. CONCLUSÃO O presente trabalho de conclusão de curso teve por escopo a análise histórica e a evolução dos direitos conquistados pela mulher, as alterações nas legislações, computando-lhes um tratamento 31 mais justo e igual. Para isso, examinou-se detalhadamente a Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006, conhecida com A Lei Maria da Penha, a qual inovou a legislação brasileira, conferindo finalmente às mulheres tratamento isonômico em razão do seu gênero. Nesse contexto, foram abordadas as inovações trazidas pelo legislador, as espécies de violência estabelecidas pela lei, principalmente no tocante as medidas protetivas de urgência e a assistência que deverá ser prestada às mesmas nas hipóteses de violência doméstica e familiar. Reconhecendo a importância da referida lei, bem como apresentando as razões que justificaram a sua concepção, visto que, a necessidade primordial era de implantar um dispositivo Estatal que de fato reduzisse as altas taxas de violência contra as mulheres, protegendo-as e prestando- lhes a necessária assistência. Explanadas as espécies de lesões corporais, enfatizando o entendimento do Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade de 4.424 no que tange ao crime de lesão corporal leve, dentro do âmbito familiar e doméstico, segundo o entendimento da Suprema Corte, trata-se de uma ação penal pública incondicionada a representação, no entanto o Ministério Público, como titular da ação penal tem o dever de oferecer a denúncia nestes casos, dissociando-se da vontade da ofendida em querer representar, dando início a demanda judicial. Com a edição da Lei 11.340/06, a pena máxima para o crime previsto no § 9º do art. 129 do CP, aumentou para 3 anos, importando, dessa forma, na inaplicabilidade da Lei 9.099/95 a qualquer crime praticado no âmbito da Lei Maria da Penha, foi mais um grande avanço. Por fim, a Lei Maria da Penha almejou suprir a hipossuficiência da mulher em uma relação doméstica. Necessitando assim de meios efetivos de proteção, a fim de garantir a sua integridade física e psicológica. Explorou-se a Lei 13.104 de 09 de março de 2015, conhecida como Lei do Feminicídio, a qual teve nasceu devido o crescente números de assassinatos de mulheres, em grande parte, decorrentes de uma relação de intimidade. Restando claro ao legislador a necessidade de se incluir feminicídio como circunstância qualificadora do crime previsto no artigo 121 do Código Penal Brasileiro, acrescentando ainda tal conduta ilícita no rol de crimes hediondos. Desejou assim o legislador, um meio de garantir que o agressor seja punido. 32 Consequentemente, foi analisado os critérios que caracterizam o crime de feminicídio, estudando os tipos de vítimas e a vitimologia que consiste no estudo da personalidade da vítima, expondo os números de violência contra mulher, de feminicídios cometidos a nível nacional, a partir de mapas e gráficos que demonstram o crescente número. A partir daí, conclui-se acerca da real eficácia que as medidas vêm tendo, e qual o papel do Estado nessa situação, ampliando políticas públicas e criando projetos a fim de efetivar de assegurar a integridade das vítimas. 33 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 2.848 de 07 dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 10 de set. 2022. BRASIL. Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988. Disponível em: http:/www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 de set. 2022. BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher… Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 10 set. 2022. CUELLAR, Karla. Violência de Gênero Feminicídio e Direitos Humanos das Mulheres. 2017. 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Disponível em: http://jota.info/feminicidio-breves-comentarios-a-lei-13-10415 Acesso em: 20 out. 2022 34 1 introdução 2.1 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 2.2 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 2.4 COMO FUNCIONAM OS PROCEDIMENTOS POLICIAIS EM CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 2.4.1 Lei 13.827/2019 e as alterações na lei Maria da Penha 2.5 OS TIPOS DE ASSISTÊNCIA QUE SÃO PROPORCIONADOS ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE RISCO 2.6 AS MEDIDAS DE URGÊNCIA QUE PROTEGEM A OFENDIDA 3. lesões corporal 3.1 SOBRE A NECESSIDADE DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO 3.2 O FEMINICÍDIO E SEU LEVANTAMENTO DE DADOS 4. A (IN) EFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTEção 5. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
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