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Evolução do crime contra o patrimônio Olá! Hoje vamos falar sobre a evolução do Crime Organizado contra patrimônio. Ele acaba sendo um pouco repetitivo, porém, nesse momento, a gente começa a colocar como esses crimes foram acontecendo ao longo da história. O Brasil começa com o pequeno roubo nos anos 1800-1890. Você já encontra situações de roubo envolvendo o cofre de residência e pequenos comércios. Mas o roubo a banco não existia. Com o início do Cangaço e o Cangaço de Lampião, a gente tem uma segunda fase. E aí começa o roubo a banco no Brasil no ano de 1926. Depois disso, a gente começa a trabalhar com pequenas quadrilhas que roubavam bancos, somente nos estados do sudeste. O início da formação das quadrilhas e os roubos com motivação política e os roubos a carro forte em 1971, ainda com motivação política. Mas o primeiro ocorreu com a Blitz no ano de 1971. Os modais aéreos tiveram os primeiros na década de 90 e depois os grandes modais aéreos a partir do ano de 96-2000 e as bases de valores. Os caixas eletrônicos, com uso primeiro de ferramentas pelo pessoal do sul do país, e depois com a utilização de explosivos, diminuindo muito hoje com as utilizações estratégia nos bancos e também com a modernização dos caixas eletrônicos. Os túneis, oriundos do Carandiru, as fugas do Carandiru foram utilizados para várias ações violentas contra patrimônio. Mas por que violentos? Ação do Banco Central, então furto, porém a quadrilha estava preparada para atingir qualquer guarnição policial que chegasse próximo de atrapalhar a intenção da quadrilha. As explosões de bases e valores e agora com o domínio de cidades. O que é domínio de cidades? É geralmente a união de dois ou três grupos criminosos com o intuito de cometer um grande roubo ou de vários roubos simultâneos em cidades de médio e grande porte. Isso nós vemos no estudo de caso sobre a Prosegur Paraguai. Formação das Quadrilhas Hoje falaremos sobre redes de formação de quadrilha. Ao longo dos anos, o Brasil foi assolado por vários crimes violentos contra o patrimônio. A formação dessas quadrilhas ao longo do Brasil segue alguns requisitos geográficos. Nós temos criminosos formados no Rio de Janeiro, um dos estados que mais teve crimes deste tipo nas décadas de 60-70, com a formação do Comando Vermelho e bandidos como Escadinha. O Rio de Janeiro é um grande potencializador das quadrilhas, seguido por São Paulo, que hoje é o estado com maior número de integrantes. As liberdades que foram dadas na época do governo militar e os anistiados acabaram formando as grandes organizações criminosas de origem prisional no Brasil. Essas organizações foram formadas por presos oriundos do crime violento contra o patrimônio. Se você olhar a formação das quadrilhas no Rio de Janeiro e em São Paulo, entenderá que ambas as maiores organizações criminosas do país foram formadas por pessoas oriundas do crime violento contra o patrimônio. O Rio Grande do Norte, um dos estados do Nordeste, teve a primeira ação do "Cangaço moderno" ou "novo Cangaço". A ação foi perpetrada por criminosos de uma família de Caraúbas, os "Bem Vindos dos Carneiros", que roubaram no ano de 1982 o dinheiro oriundo da emergência. Eles utilizaram armamento que era usado para brigas políticas daquela região. Em Pernambuco, na região do polígono da maconha, famílias brigavam por áreas de plantio de maconha. Com a erradicação da maconha nas ilhas do São Francisco, elas se transformaram em grandes quadrilhas de roubo a banco, atuando em estados como Bahia e Mato Grosso. Para a região sul, a história de crimes violentos contra o patrimônio começa com os irmãos Oliveira, grandes assaltantes nas décadas de 70, 80 e 90. Isso culminou com o sequestro do irmão da dupla de cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano, Wellington Camargo. Fragilidade Jurídica penal em face dos CVCP Olá, meu nome é Hélcio Ângelo, sou promotor de justiça no estado de Mato Grosso do Sul e também sou Militar da reserva do Exército Brasileiro. Hoje, vamos abordar dois temas: inicialmente falarei sobre a fragilidade jurídica Penal em Face dos crimes violentos contra o patrimônio e, num segundo momento, abordarei a fragilidade jurídica dos policiais no enfrentamento a esses crimes. O Brasil, ao longo dos anos, foi assolado por vários crimes violentos contra o patrimônio. A formação dessas quadrilhas no Brasil segue alguns requisitos geográficos. Temos criminosos formados no Rio de Janeiro, um dos estados que mais teve crimes deste tipo nas décadas de 60-70, com a formação do Comando Vermelho e bandidos como Escadinha. O Rio de Janeiro é um grande potencializador das quadrilhas, seguido por São Paulo, que hoje é o estado com maior número de integrantes. As liberdades que foram dadas na época do governo militar e os anistiados acabaram formando as grandes organizações criminosas de origem prisional no Brasil. Essas organizações foram formadas por presos oriundos do crime violento contra o patrimônio. Se olharmos a formação das quadrilhas no Rio de Janeiro e em São Paulo, entenderemos que ambas as maiores organizações criminosas do país foram formadas por pessoas oriundas do crime violento contra o patrimônio. O Rio Grande do Norte, um dos estados do Nordeste, teve a primeira ação do "Cangaço moderno" ou "novo Cangaço". A ação foi perpetrada por criminosos de uma família de Caraúbas, os "Bem Vindos dos Carneiros", que roubaram no ano de 1982 o dinheiro oriundo da emergência. Eles utilizaram armamento que era usado para brigas políticas daquela região. Em Pernambuco, na região do polígono da maconha, famílias brigavam por áreas de plantio de maconha. Com a erradicação da maconha nas ilhas do São Francisco, elas se transformaram em grandes quadrilhas de roubo a banco, atuando em estados como Bahia e Mato Grosso. Para a região sul, a história de crimes violentos contra o patrimônio começa com os irmãos Oliveira, grandes assaltantes nas décadas de 70, 80 e 90. Isso culminou com o sequestro do irmão da dupla de cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano, Wellington Camargo. Diante desse cenário atual, é importante que o ordenamento penal seja urgentemente revisado, para que o país possa mitigar esses crimes e a população tenha uma convivência minimamente saudável. 1 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria Nacional de Segurança Pública Rede EaD Senasp Acesse o MANUAL DO ALUNO disponível na página inicial do aluno. Material de Apoio Acesse: Página Inicial > Material de Apoio > MANUAL DO ALUNO https://sgaeadsegen.mj.gov.br/private/inicio/listar-material-apoio https://sgaeadsegen.mj.gov.br/private/inicio/listar-material-apoio https://sgaeadsegen.mj.gov.br/private/inicio/listar-material-apoio https://sgaeadsegen.mj.gov.br/private/inicio/listar-material-apoio 2 NOVOS CURSOS E LANÇAMENTOS Para acompanhar os lançamentos de novos cursos, acesse o nosso Portal EaD: http://portal.ead.senasp.gov.br/home. Para outras capacitações, acesse os sites das escolas parceiras em http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/editoria-a http://portal.ead.senasp.gov.br/home http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/editoria-a Faça parte do grupo no Telegram - Rede EaD Segen https://t.me/+ee-g3uBRR0s2MzY5 https://t.me/+ee-g3uBRR0s2MzY5 http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/editoria-a http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/editoria-a INFORMAÇÕES ADICIONAIS Coordenação de Ensino a Distância Telefone: 61 2025-9887 E-mail: ead.segen@mj.gov.br 47 mailto:ead.segen@mj.gov.br CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO – ASPECTOS OPERACIONAIS DA PREVENÇÃO E REPRESSÃO A DELITOS CONTRA INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Módulo - Crime violento contra o patrimônio A história do crime violento noBrasil 5 Crimes contra instituições financeiras e os novos desafios da Segurança Pública Lucélio Ferreira M. F. França1 Historicamente, o homem busca compreender os conflitos sociais a fim de mediá-los pacificamente e promover a paz social. Isso pode ser observado mesmo quando o poder punitivo ainda existia apenas na instância privada e o Estado não era organizado o suficiente para avocar e criar suas leis. Nesse contexto, submerso na imensidão seca e esquecida do sertão nordestino, nos idos de 1500, coexistiam figuras como senhores de terras, pequenos agricultores e aqueles que empunhavam armas em defesa própria, de um grupo ou de outros que os remunerassem. Mesmo com todo o esforço do Estado em controlar as pessoas em seu território, naqueles rincões, a distância e a pobreza ainda eram uma imensa barreira a ser superada. Prevalecendo, assim, a lei do mais forte. Com o passar de quase 500 anos, o Estado foi organizando-se e se fazendo mais presente, em especial com sua legislação. Eis que temos os novos conflitos. Agora, pessoas, que sempre foram a própria solução de seus problemas, haviam que recorrer ao Estado, em algum lugar, sob pena de serem colocadas à margem da lei por ações corriqueiras de outrora. E quem ganhava a vida empunhando armas e promovendo a justiça da conveniência passa de caçador a caça. Não foi diferente com Lampião após ter alguns membros da família mortos e, ao revidar na mesma moeda, passa então para a condição de criminoso, o que não o exime dessa condição. Como qualquer outro fora da lei, Virgulino Ferreira escolhe o caminho do antigo valentão e se torna um ícone, mesmo porque essa era a cultura arraigada secularmente naquele povo. Tanto é verdade que não custou para se formarem grandes bandos de criminosos que perambulavam pelo sertão vivendo de saques, de roubos, de pistolagens e até mesmo da “reintegração de posse” a mando de grandes fazendeiros. Outro fato que vem corroborar com a relevância tomada por suas ações foi a patente de Capitão concedida a Lampião, pelo Estado, para que ele combatesse a Intentona Comunista em 1935. 1 Major da Polícia Militar de Mato Grosso, Bacharel e Especialista em Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar Costa Verde e trabalha com roubos a instituições financeiras desde 2009. Nessa trajet ria de trabalho passou pelo BOPE, GAECO e ROTAM e atualmente labora no setor de planejamento da PMMT. 6 Nos tempos áureos de Lampião, entre 1920 a 1938, quando ele morreu, não era comum ouvir falar em roubos a banco, até mesmo porque não havia tantas agências bancárias. Entretanto, as ações comandadas por Virgulino possuíam a dimensão do “Domínio de Cidades”, modalidade criminosa profetizada por Renato Júnior e Ferraço2 para o futuro próximo. Os autores de Guerra Federal preveem que chegará o momento em que os ataques, que hoje acontecem simultaneamente contra os bancos e as pol cias, serão como quando protagonizava Lampião, i.e., contra toda possível fonte de renda e concomitantemente contra qualquer ameaça que houver na cidade. Tomando, dessa forma, todo o domínio sobre aquela urbe durante o ataque. Fatos semelhantes são contados em um relatório produzido por um gerente do Banco do Brasil da cidade de Mossoró – RN, referente ao primeiro semestre de 1927, o que nos habilita a dizer que o próprio Lampião inaugurou a modalidade criminosa que Rodrigues3 denomina como “Domínio de Cidades”. 2 JÚNIOR, R.; FERRAÇO, L. Guerra federal retratos do combate a crimes violentos no Brasil. 2018, no prelo. 3 RODRIGUES, R. M. Do Novo Cangaço ao Domínio de Cidades. 1º ed. Brasília – DF. 2018, no prelo. 7 Trecho do relatório da Agência Local do Bando do Brasil, datado do primeiro trimestre de 1927. O documento traz relatos sobre o impacto negativo na econ mi local em razão das ações de Virgulino Ferreira (Lampião). A reação do Estado às ações desordeiras recebeu o nome de Volantes, verdadeiros batalhões itinerantes que tinham como missão fazer frente às ações daqueles bandoleiros e que pôs fim a essa saga criminosa com a morte de Lampião em 28 de junho de 1938, sendo debelado completamente, como conta a história, em 1940 com a morte de Corisco, o Diabo Loiro. Avançando algumas décadas, deparamo-nos com um fato na economia brasileira conhecido como “Milagre Econômico”, resultado de grandes investimentos no combate à seca no sertão. A atividade econômica da região Nordeste vem se mostrando mais dinâmica do que a do país como um todo, a partir da década de 1970. Durante a fase do "milagre econômico" (1970-80) o Produto Interno Bruto (PIB) nordestino apresentou a expressiva média anual de crescimento de 8,7%, contra a de 8,6% obtida pelo Brasil, 8 em razão, fundamentalmente, do volume de investimentos públicos (infraestrutura) e privados (indústria) efetuados durante os anos 60 e 704. A disponibilização desses recursos necessitaria de instituições financeiras mais próximas do sertanejo para que ele pudesse ter acesso ao dinheiro disponibilizado pelo Governo Federal. Motivo que leva agências bancárias a serem instaladas nas mais diversas cidades do sertão nordestino. Esquecendo o governo, todavia, de proporcionar uma segurança mínima àqueles numerários. Ressurge pelo Brasil na década de 1970 uma pequena sequência de ataques a bancos relacionados a questões políticas5, que viria a se tornar uma onda de ataques a instituições financeiras nas décadas seguintes naquele mesmo sertão de terra rachada. Dessa vez com algo a mais, OS TEMPOS SÃO NOVOS E COM ELE NOVAS TECNOLOGIAS APRESENTAM-SE, até mesmo para o crime. As armas são melhores, os fuzis são automáticos, não se usa mais cavalos e sim carros possantes da época. Preserva-se dos tempos de Lampião apenas o homizio na mata, a brutalidade das ações e o hábito de subjugar as forças de segurança em busca do intento criminoso. Passamos, então, a ouvir falar em novos cangaceiros que na sua maioria pertenciam a famílias que fizeram fama por suas ações tidas como espetaculosas, a exemplo dos Araquãs, Benvindos, Carneiros, Ricarte Viana, dentre outros. O destaque está com a Família dos Carneiros que são apontados como aqueles que reinauguraram a modalidade criminosa inventada por Lampião. A ação ocorreu em maio de 19826 e o alvo não foi um banco, e sim os malotes que continham os 94 milhões de Cruzados que seriam destinados ao pagamento de trabalhadores das obras emergenciais de combate à seca no Rio Grande do Norte. A reação a esses novos ataques veio em forma de companhias especializadas dentro das Polícias Militares Nordestinas: como a CIOSAC7 da PM de Pernambuco, criada oficialmente 2004, mas que existia desde 1997 com outras denominações; as CIPE’s da PM da Bahia que possuem sua origem de 2003. Essa repressão qualificada realizada no sertão 4 BRASIL, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Desempenho Econômico da Região Nordeste do Brasil 1960-97 (Síntese). 1999, p. 1. Disponível em: http://www.sudene.gov.br/system/resources/BAhbBlsHOgZmSSI7MjAxMi8wNS8xMC8xN18xOV81MF8zN DNfRGVzZW1wZW5ob19FY29ub21pY29fZG9fTkUucGRmBjoGRVQ/Desempenho%20Economico%20do %20NE.pdf. Acesso em 01/07/2016. 5 Ataques a bancos durante o Regime Militar que ocorreram no Sudeste do país. 6 TRIBUNA DO NORTE. Vanzinho conta detalhes do roubo dos 94 milhões no RN. Homepage. 2016. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/vanzinho-conta-detalhes-do-roubo-dos-94-milhoes- no-rn/239147. Acesso em: 28/07/2017. 7 Companhia Independente de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga. 9 obriga os criminosos a se dispersarem pelo país, levando essa modalidade criminosa a vários estados, inclusive a Mato Grosso. Mato Grosso começa a sentir os efeitos dessa diáspora de criminosos especializados na década de 1990 com alguns eventos que deixaram marcas traumáticas no seio da PMMT e da sociedade mato-grossense. O ano era 1998,em Rondonópolis, uma grande ação criminosa contra o Banco do Brasil deixa uma pessoa morta. Em 2001, em Vila Rica, um ataque nos mesmos moldes deixou um policial militar morto e outro ferido. Em 2006, o alvo foi Guiratinga, onde mais um PM tombou nesse combate injusto. Campinápolis sofria sua segunda ação em 2008, quando outro jovem policial militar, portando uma pistola Taurus, encerra sua carreira na luta contra assaltantes armados de fuzis de calibres diversos. Brev do CIOSAC, da PM de Pernambuco. Brev da CIPE Caatinga, da PM da Bahia. Brev do CPAR, da PM de Mato Grosso. Essa sucessão de fatos desastrosos, de 1998 a 2008, levou o BOPE da PMMT a desenvolver sua doutrina para fazer frente a essa modalidade criminosa, como fizeram as pol cias nordestinas de outrora com suas Volantes e Companhias Especializadas. Em Mato Grosso essa doutrina foi batizada de Curso de Patrulhamento em Ambiente Rural - CPAR. Somado a isso, em 2011, a PMMT por meio do Batalhão de Operações Policiais Especiais passou a atuar sistematicamente em parceria com o GAECO de MT com a orientação de especialistas abnegados da PF, o que resultou em uma série de ocorrências bem-sucedidas. Dessas ocorrências, podemos citar as mais relevantes: em 2011, a prisão de integrantes da quadrilha chefiada por Lindomar Alves de Almeida (Nenenzão) que havia realizado várias ações de roubo a instituições financeiras em MT, dentre elas o assalto ao Banco do Brasil em Campo Novo do Parecis no mês de outubro daquele ano, o último praticado pela citada quadrilha; em 2012, a cidade de Marcelândia foi o alvo da quadrilha de Clóvis da Silva Veiga e 31 dias após o roubo, a ocorrência foi encerrada com todo o dinheiro e armas apreendidos e os quatro assaltantes tombaram em confronto com a doutrina do CPAR; também em 2012, 37 dias após a ocorrência de roubo a banco praticada pelo bando de Josimar Ribeiro da Silva (Parazinho), em Comodoro, as diligências foram encerradas com 2 fuzis AK 47 e mais de 1.1 milhões de reais aprendidos, nos confrontos restaram 8 assaltantes mortos e outros presos; por 10 fim, a cidade de Vila Rica protagonizou um dos maiores assaltos a banco do estado, mais de quinze criminosos atacaram, ao mesmo tempo, as agências do Banco do Brasil, Bradesco, Sicredi e Correios, no oitavo dia uma equipe do BOPE encontrou os criminosos na mata e, em confronto com a doutrina do CPAR, dois criminosos vieram a óbito, entre eles Antônio Moura, um dos maiores líderes do “Novo Cangaço” contemporâneo e membro agregado da mencionada Família dos Carneiros. A resposta estatal em Mato Grosso foi dada e o “efeito ” assimilado por aqueles que integram essas quadrilhas. Tanto é verdade que, desde o fato em Vila Rica, Mato Grosso acumulou apenas mais um assalto em dezembro daquele ano e outros dois na modalidade “Novo Cangaço” em 2014, estando desde então sem registro de crimes contra instituições financeiras com o aludido modus operandi. Outro efeito positivo foi que a citada doutrina passou a ser adotada por várias unidades de Operações Especiais pelo Brasil e em todos os estados brasileiros existem policiais formados no CPAR. Nos últimos anos, com a repressão especializada aos assaltantes de bancos na modalidade Novo Cangaço e carros fortes, os criminosos desenvolveram outras formas de acessar o dinheiro no interior das agências, diminuindo os riscos de confrontos com a polícia. Popularizando, portanto, os ataques a terminais de autoatendimento (TAA) das agências bancárias, os caixas eletrônicos. Contra esses aparelhos, os criminosos passaram a utilizar desde computadores com os ataques lógicos8, até maçaricos9 e explosivos. Os grandes problemas vieram com disseminação dos explosivos que possibilitaram ações mais rápidas contra cofres cada vez mais resistentes. Para minimizar essas ações, os bancos passaram a operar com um volume de dinheiro menor nos TAA e agências, enviando sempre que possível o excedente para as empresas de custódia e transporte de valores, as bases de valores. Por sua vez, essas empresas passaram a transportar remessas menores por viagem, na tentativa de deixar os carros fortes menos atrativos para as ações criminosas. Essa série de medidas resultou em empresas de custódia e transporte recheadas com grandes numerários e, em novembro de 2015, os criminosos inauguram os ataques às bases de valores com o uso de explosivos. O alvo foi Campinas, a terceira maior cidade do Estado de São Paulo. Neste caso, a inovação tecnológica é o explosivo, uma vez que as bases de valores já vinham sendo atacadas por assaltantes utilizando túneis e sequestros de gerentes e 8 Nesse ataque, os criminosos conectam fios entre computadores e os caixas eletrônicos e provocam uma pane no sistema, o que faz com o TAA coloque todo dinheiro para fora, como se fosse um saque. 9 Aparelho utilizado para cortar chapa de aço, utilizado por criminosos para abrir os cofres dos TAA. 11 tesoureiros. O maior exemplo de túnel no Brasil foi o do Banco Central de Fortaleza, em agosto de 2005, seguido de mais de dez outros túneis pelo Brasil e inclusive Paraguai. Nos ataques a bases de valores, como o que ocorreu em Campinas/SP, a tecnologia utilizada pelos assaltantes perpassa por fuzis automáticos de diversos calibres, dentre eles 7,62 e .50, este com capacidade de furar a blindagem de carros fortes e das guaritas das empresas. A chave dos grandes cofres passa a ser cargas extraordinárias de explosivos em repetidas detonações, bem como o conhecimento especializado para manuseá-los. E, por fim, a alta capacidade de planejamento operativo, com ações cronometradas e divisão de tarefas para mais de cinquenta assaltantes, tudo isso simultaneamente. Imagens ilustrativas da destruição resultado de ataques a base de valores e a carros fortes. O que permanece é a grande incógnita de como contrapor essas ações e seus recursos abundantes, mesmo porque já restou claro que não há cidade com efetivo policial capaz de fazer frente a essas ações sem que algo novo seja planejado e implementado no âmbito da Segurança Pública. Digo isso porque as mencionadas ações já subjugaram as forças de segurança de Campinas, Santos, Ribeirão Preto e Santo André, todas entre as dez maiores cidades de São Paulo. Em Pernambuco, o alvo foi a própria Recife. Por sua vez, no Paraguai, a ação foi contra a segunda maior e mais importante cidade daquele país. E se engana aquele que pensa que as cidades menores estão livres, o que importa para esses criminosos é o dinheiro e, onde ele estiver, esses criminosos estão dispostos a buscá-lo. Para ilustrar, citamos as ações semelhantes ocorridas em Marabá (271.594 habitantes) e Redenção (75.556 habitantes), ambas no Pará. Tomando como base apenas essas ocorrências fica fácil inferir que não há em Mato Grosso uma cidade que possa ser considerada segura e imune a essa nova modalidade criminosa, e que, segundo Rodrigues10, deverá evoluir em breve para o s . 10 RODRIGUES, 2017. 12 Anotações 13 Anotações 14 Anotações 15 Anotações Consultor Lucélio França Direitos Autorais Lucélio França \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ Evolução do Crime Contra o Patrimônio 9 Evolução do crime violento contra o patrimônio Pequenos Roubos Roubo ao Patrimônio, muitas vezes executadopor um só individuo e que pretendia subtrair residências ou comércios. Existiam poucas agências bancárias nesta época, a grande maioria nas capitais do Sudeste. Cangaço Clássico Banditismo clássico, ocorrido no Nordeste, caracterizado por cometer o primeiro roubo a banco do Brasil, na cidade de Mossoró em 1927. Começo das Quadrilhas Modernas Pequenos grupos de criminosos violentos que fizeram pouco mais de duas dezenas de ações na região Sudeste até o início da luta armada. Roubos com Motivação Política Durante os governos militares com a panaceia de financiar a luta armada. Nesta época aconteceu o primeiro roubo de carro forte no país. 10 Modais Aéreos Evolução do crime violento contra o patrimônio Modalidade que atinge o setor de transporte aéreo, com início na década de noventa e atingindo os grandes a partir de 1996. Bases de Valores Modalidade cujo crime violento é feito contra os depósitos de dinheiro, podem ser feitos através de sequestros, explosões e domínios de cidades. Caixas Eletrônicos No começo, utilizavam-se de furtos com emprego de ferramentas e, posteriormente, o uso de explosivos e retenção. Túneis Começam para fuga de presos, sendo depois utilizados em furtos. Porém, caso algo aconteça no momento do transporte do numerário geralmente usam contenção. 11 Evolução do crime violento contra o patrimônio Domínio de Cidades Fenômeno criminal tipicamente brasileiro, caracterizado pela utilização de veículos blindados, a utilização maciça de explosivos, muitas das vezes com acionamento remoto, divisão de tarefas, atiradores designados, utilização de armas com calibre .50 e grupos nunca inferiores a 40 membros. \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ Formação das Quadrilhas O estado do Rio de Janeiro, é o maior exponencializador, juntamente com o estado de São Paulo, do fenômeno criminoso. Pesquisas realizadas em jornais da época, demonstram que os roubos a carros e trens pagadores eram muito comuns, principalmente por ser a capital federal e uma das cidades do país com maiores bancos. Nas décadas de 50 e 60 já existem registros de presos por roubo a bancos, muitos deles formavam a Falange Vermelha, que deu origem à organização criminosa com o mesmo nome. das Quadrilhas Rio de Janeiro Com a liberdade, muitos deles migraram para assaltos mais ousados, como o descrito no livro e filme de mesmo nome: 400 contra 1. Posteriormente são responsáveis por disseminar a prática criminosa para alguns estados do país. 13 14 Não podemos afirmar onde efetivamente iniciou a modalidade de crimes violentos contra patrimônio no País, mas São Paulo era a maior metrópole da América do Sul no início do Fenômeno Criminoso. Apesar de encontrarmos registros esparsos de crimes da década de 50, é na década de 60 que se encontram arquivos mais robustos, como o “assalto dos gregos” em 1965. O que podemos afirmar é que até o final dos anos 90, existiam muitas quadrilhas com intercâmbio de paulistas e cariocas, que após os anos 2000, se tornou cada vez mais difícil de ocorrer. Ainda na década de 80, se tornou um dos maiores difusores do fenômeno para o país, sendo hoje o maior berço de criminosos da modalidade no país. É difícil encontrar uma ação que não tenha um criminoso advindo do estado. das Quadrilhas São Paulo 15 Considera-se a primeira ação de “Novo Cangaço” em 1982. Uma das maiores quadrilhas se formou na década de 80 na cidade de Caraúbas e na época contava com membros das famílias Benevides Carneiro e Fernandes. Tinha como propósito roubar o dinheiro da “emergência”, para financiar a Campanha Política de um membro dos Fernandes. Houve desentendimento posterior e começaram as brigas. das Quadrilhas Rio Grande do Norte Destas brigas e com o intuito se defenderem, surgiu uma das maiores quadrilhas do nordeste - os “Carneiros” que teve seu membro mais contemporâneo o: “Valdetário Carneiro”. Um fato curioso do dinheiro da emergência é que, para o roubo trouxeram mão de obra carioca, que voltam à cidade posteriormente para cobrar mais dinheiro juntamente com uma criança de colo e todos foram mortos. 16 das Quadrilhas Pernambuco A origem das quadrilhas no estado vem de encontro com o plantio de maconha, na região do polígono, uma região compreendida entre Pernambuco e Bahia, em ilhas situadas no Rio São Francisco. A disputa acontece entre várias famílias, porém duas são mais importantes: os Araquans e os Bem-vindos. O que antes eram disputas políticas e pelas áreas de cultivo de maconha, com as frequentes operações para diminuir as áreas de cultivo por parte da Polícia Federal, fez com que estas quadrilhas migrassem para o crime violento contra o patrimônio, formando algumas das quadrilhas mais violentas do país. Um dos eventos mais recentes se trata do envolvimento dos membros de uma tribo indígena chamada Truká, que eram ligados aos Araquans. Tal evento culminou com a morte de dois irmãos Trukas, um em Aragarças no Goiás e outro em Grão Mogol, Minas Gerais. 17 Paraná das Quadrilhas Região Sul Como pesquisa sabemos que uma das primeiras quadrilhas de assaltantes de bancos da região Sul é a família Oliveira, que fora formada na década de 70, tendo migrado do Paraná ao estado de São Paulo e que protagonizou o sequestro de Wellington Camargo, irmão da dupla Sertaneja Zezé de Camargo e Luciano. Porém, devemos levar em conta estados como o Rio Grande do Sul, que tiveram quadrilhas especializadas em roubo a carro forte e realizaram ações em todos os estados do Sul, em alguns do Sudeste e Santa Catarina, que expandiu o fenômeno do arrombamento de caixas eletrônicos praticamente para todos os estados do país. Ao contrário do que alguns pesquisadores relatam, o sul do país tem eventos de crime violento contra patrimônio há muito tempo. Rio Grande do Sul Santa Catarina ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' e-Book Contextualização ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' FEBRABAN UnIBB ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' Context ualização histórica As gerações 4 Cangaço Clássico Contextu- Gerações O cangaço foi um fenômeno do banditismo, crimes e violência ocorridos em quase todo o Sertão do Nordeste do Brasil, entre os séculos XIX e meados do século XX. Seus membros vagavam em grupos, atravessando estados e atacando cidades, onde cometiam pilhagens, assassinatos e estupros. Pequenas Quadrilhas Modalidade ocorrida entre as décadas de 40 e 50 e início da década de 60, quadrilhas formadas em sua maioria por 3 a 5 membros, com diversas ações na região Sudeste,tendo o primeiro registro histórico no ano de 1947, no estado de Minas Gerais. Encontra-se ainda em acervos, alguns casos ocorridos em trens pagadores e bancos, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. 5 Roubos Motivados Politicamente Contextu- Gerações Modalidade ocorrida nas décadas de 60 e 70, sob o pretexto do financiamento da luta armada, foram dezenas de ocorrências entre os anos de 1967 até o ano de 1971, com a implementação da Operação Bandeirantes e com a integração da inteligência de defesa com a de segurança pública, onde muitos foram presos e as ocorrências quase extintas. Grandes Quadrilhas Com a Anistia houve a liberação de muitos criminosos violentos contra o patrimônio o que aparelhou as quadrilhas e fez aumentar os roubos a bancos, disseminando por todo país essa modalidade criminosa. 6 Roubos de Carros Fortes Contextu- Gerações Tem seu início da década de 70, mais especificamente no ano de 1971, quando um carro forte da Brinks, foi assaltado, registrando-se aumento exponencial nos anos 90. Com a melhoria das blindagens, os perpetradores começaram a utilizar armas de alto poder de fogo, como os calibres .30 e .50, que posteriormente serão usadas em outras modalidades. Caixas Eletrônicos Duas fases: na década de 90 na modalidade de furto, as ações foram disseminadas por criminosos de Santa Catarina e ocorriam com a utilização de ferramentas. Após os anos 2000 começam a utilizar contenção, por conta de Know How adquirido em ambiente prisional. Na segunda metade dos anos 2000, começam a utilizar explosivos. Com a diminuição do numerário e novas características construtivas dos caixas, partem para os cofres centrais das agências. 7 Domínio de Cidades Contextu- Gerações Domínio de cidades pode ser conceituado como uma nova modalidade de conflito não-convencional, tipicamente brasileiro e advindo da evolução de crimes violentos contra o patrimônio (novo cangaço), na qual grupos articulados compostos por diversos criminosos, divididos em tarefas específicas, subjugam a ação do poder público por meio do planejamento e execução de roubos majorados para subtrair o máximo possível de valores em espécie e/ou objetos valiosos ou o resgate de detentos de estabelecimentos prisionais, utilizando ponto de apoio para concentração dos criminosos, artefatos explosivos, armas portáteis de cano longo e calibre restrito, veículos potentes e blindados, rotas de fuga predeterminadas, miguelitos, bloqueio de estradas, vias e rodovias com automóveis em chamas, além da colaboração de olheiros. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO – ASPECTOS OPERACIONAIS DA PREVENÇÃO E REPRESSÃO A DELITOS CONTRA INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Módulo - Crime violento contra o patrimônio Medidas para eventos: Pré, Pro e Pós os eventos 5 Lucélio Ferreira Martins Faria França Tenente Coronel da Polícia Militar do Mato Grosso, Bacharel e especialista em Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar Costa Verde e trabalha com roubos a instituições financeiras desde 2009. Nessa trajetória de trabalho passou pelo BOPE, GAECO e ROTAM e atualmente labora no setor de planejamento da PMMT Medidas para eventos para Crimes Violentos Contra o Patrimônio PLANO DE DEFESA Antes do roubo – confecção de um Planejamento de Defesa É uma forma de orquestrar ações desempenhadas por policiais e colaboradores de forma segura e agiu; Um Plano de Defesa deve conter uma REDE de “sensores” entre os quais deverá haver uma comunicação fluida e limpa, sem ruídos, com a finalidade de detectar possíveis suspeitos e desencadear uma sequência de ações em casos específicos; Os “sensores” podem ser policiais ou cidadãos (colaboradores discretos) que sempre estão em lugares estratégicos em razão do trabalho ou da residência. OBS: o “sensor”, policial ou um cidadão colaborador, tem sua inclusão condicionada a uma validação do serviço de inteligência como estabelece a DNISP nos casos de colaborador e informante, mas isso é conteúdo para outro curso. Esse “sensor” seja um policial ou um colaborador precisa ter clareza da sua missão (do que deve observar e do que precisa relatar ou fazer) esses detalhes pormenorizados devem ser assentados nos Procedimentos Operacionais Padrão de acordo com cada instituição policial que confecciona o Plano; A REDE de “sensores” citada deve ter subdivisões adequando as tarefas por equipes: 1. Equipe de Monitoramento e acionamento; 2. Equipe de confecção dos Bloqueios; 3. Equipe de confecção das barreiras; 4. Equipe de Atiradores Designados; 5. Equipe de Planejamento e Gestão da crise dinâmica etc. (podendo ter mais equipes a depender da peculiaridade da cidade e da instituição que planeja); Cada equipe deve possuir uma gestão escolhida por habilidades especificas atinente a cada função/tarefa, que vai desde a facilidade de relacionar com as pessoas, como no caso das equipes de monitoramento e acionamento, 6 passando por parâmetros altamente técnicos como a equipe de Atiradores designados, ou de planejamento como no caso da equipe de Gestão; PLANO DE DEFESA E INTELIGÊNCIA (sustentada por uma rede articulada) O Plano de Defesa é confeccionado com o suporte direto das agências de inteligência, que farão toda a gestão das informações, qualificação para inclusão de policiais e colaboradores, bem como a análise e avaliação de eventuais informações coletadas; A rede de “sensores” deve estar presente em: 1. Todas as forças de segurança local; 2. Forças de Segurança das cidades vizinhas; 3. Poderes constituídos; 4. Hotéis; 5. Postos de combustíveis; 6. Sítios, fazendas e empreendimentos rurais etc.; OBS: a metodologia e a dinâmica de confecção serão matéria para outro curso. Após a confecção de todo o Plano de Defesa o grande desafio será deixar claro para cada integrante qual é a sua missão/tarefa/função, para tanto, ensaios e treinamento constantes deverão ser realizados. Os ensaios ou treinamentos deverão ser realizados de duas formas: 1. com os membros das equipes tendo ciência previa que haverá o treinamento, para que se preparem e 2. sem aviso prévio, dando apenas ciência de que em determinado momento está se iniciando um treinamento. Isso tem como objetivo deixar os colaboradores preparados para serem acionados a qualquer momento. IMPORTANTE: para efeito de prestação de contas para a comunidade nada impede que os gestores comentem com a imprensa que a segurança pública da cidade está se preparando para eventos de Domínio de Cidades ou Novo Cangaço, porém, é imperioso eu os desdobramentos dos ensaios/treinamentos sejam de caráter reservado apenas aos membros e a quem seja inevitável informar. Cronologia da Estratégia Antes do roubo – confecção de um planejamento de defesa; Durante o roubo – foco na execução do planejamento. OBS: como a execução do Plano de Defesa está intimamente ligado à sua metodologia também será tema de outro curso. 7 O que podemos ressaltar é que o sucesso do Plano de Defesa depende dos seguintes fatores: 1. da sua riqueza de detalhes 2. do treinamento exaustivo das ações planejadas pelos seus membros. Depois da fuga – foco na manutenção do planejamento e preservação dos vestígios. OBS: As ações previstas pela metodologia para após os criminosos saírem da agência bancaria e a preservação de vestígios serão abordados em conteúdo técnico apropriado em outro curso; A preservação eficaz dos vestígios deixados pelos criminosos, seja na agência, nos veículos queimados, abandonados ou nos locais de entrada na mata, todos subsidiarão uma busca imediata dos criminosos e, posteriormente, uma vasta produção de provas técnicas no bojo da investigação; É imperioso que as forças policiais que trabalharão nas buscam após o roubo tenham uma interação pelo menos uma vez ao dia para compartilhar informações. Isso evita um grande retrabalho como buscas em lugares repetidos, entrevistas de pessoasetc., além de formar uma consciência situacional em todos os atores, o que otimiza da produtividade das ações policiais. Assalto ao Banco do Brasil e Bradesco de COMODORO - MT dia 30 DE outubro de 2012 Enquanto os criminosos realizavam o assalto nas agências do Banco do Brasil e Bradesco, a polícia local, ao invés de ir para a frente das agências bancárias, decidiram por colocar em prática o Plano de Defesa e realizou três bloqueios nas saídas da cidade, fora do perímetro urbano; Os criminosos quando terminaram de pegar o dinheiro das agências seguiram com vários reféns para a saída que dá acesso à cidade de Nova Lacerda, contudo, se depararam com um bloqueio, havia um caminhão atravessado interditando a BR 174; Ainda na BR 174 e com os reféns, os criminosos seguiram na direção da cidade de Vilhena - RO, alguns quilômetros após deixar a cidade de Comodoro eles encontraram outro bloqueio, havia mais um caminhão bloqueando a rodovia; Como terceira e última opção, os criminosos seguiram pela BR 364, que dá acesso à cidade de Campos de Júlio – MT e assim que deixaram o perímetro urbano da cidade de Comodoro eles depararam-se com mais um bloqueio que impediu sua fuga como planejada; 8 Agora sem opção, os criminosos investiram uma das camionetes que estavam usando contra uma porteira que estava trancada até quebrar o cadeado, logo após, atearam fogo na camionete, abandonaram os reféns e seguiram apenas com um veículo. Ocorre que, ao seguirem na estrada vicinal cuja porteira haviam quebrado, dois quilômetros adiante chegaram ao fim da estrada e foram obrigados a abandonar o veículo e ENTRARAM NA MATA EM UM LOCAL TOTALMENTE DESCONHECIDO E FORA DO SEU PLANEJAMENTO; OBS: É importante destacar que os criminosos mantiveram as pessoas como reféns até o momento de entrarem na mata, liberando-os sem qualquer agressão; Em outra ocorrência, os criminosos também liberaram os reféns sem qualquer agressão após o roubo a banco na cidade de Campos de Júlio – MT, em agosto de 2012, município vizinho de Comodoro. Oportunidade em que os criminosos ao se depararem com a movimentação da polícia que estava fazendo os bloqueios do Plano de Defesa, saíram da sua rota de fuga, tentando fugir por outra estrada, e atolaram o veículo na areia. Os criminosos então liberaram os reféns e entraram na mata em local fora do planejamento deles. No dia seguinte, o BOPE entrou na mata seguindo os vestígios deixados e houve confrontou com os criminosos. Essa ocorrência teve como resultado a morte de todos os participantes do roubo, o dinheiro recuperado e as armas apreendidas; 9 CRONOLOGIA DOS FATOS: No dia 30 de outubro de 2012 ocorreu o roubo na modalidade “Novo Cangaço Diurno” uma das modalidades apresentadas pelo livro Alpha Bravo Brasil (2020) como um tipo de Crime Violento contra o Patrimônio; Ainda no dia 30, parte da equipe do BOPE-MT chegou a Comodoro – MT, 630 km de Cuiabá – MT, com o apoio da aeronave do Centro Integrado Operações Aeres – CIOPAER; Ao chegar em Comodoro, no meio da tarde do dia 30, a equipe do BOPE fez um levantamento prévio de informações e se preparou para iniciar as diligências na mata no dia seguinte após a chegada dos demais membros da equipe; No dia 31 de outubro, adotando as técnicas de busca e captura de criminosos homiziados na mata (CPAR), o BOPE-MT ingressou na mata buscando identificar vestígios que pudessem levar aos criminosos. No dia 02 de novembro de 2012, durante mais um dia de buscas, a equipe do BOPE encontrou um carregador de pistola ponto 40 contendo sete munições e muitas evidências de que várias pessoas estiveram naquele local dentro da mata; No dia 03 de novembro, a patrulha do BOPE, seguindo os rastos deixados pelos assaltantes, encontrou munições de calibre 9 milímetros, uma faca de selva, um cartucho deflagrado Gauge 12, uma mola de carregador de pistola e outras tantas evidências deixadas na vegetação; Em continuidade a operação, após uma semana de busca na marta, a equipe do BOPE encontrou um revólver Taurus com cinco munições, provavelmente levado do segurança do Banco Bradesco, com as escritas da empresa Sebival e UM APARELHO CELULAR QUE FOI O PONTO DE INFLEXÃO DA BUSCA AOS CRIMINOSOS. A equipe do BOPE confeccionou um Boletim de Ocorrência relatando as circunstâncias em que havia encontrado os materiais elencados e COMPARTILHOU com uma equipe do GAECO-MT, especializada em roubos a banco; Rapidamente a equipe do GAECO, após minuciosa avaliação das informações colhidas pela equipe de campo, com o incremento de outras informações disponíveis nos meios de consulta, finalizou o relatório levando ao conhecimento do judiciário que autorizou a adoção de medidas investigativas para a produção de provas; Enquanto essa parte burocrática se desdobrava, as equipes do BOPE continuavam a fazer incursões na mata em busca dos criminosos ou de mais vestígios deixados por eles; É imperioso destacar que desde o primeiro dia, quando ocorreu o roubo, até o último dia de operação, a Polícia Militar local, com apoio de policiais de outras 10 cidades e da Polícia Rodoviária Federal realizaram um cerco com barreiras em todas as rodovias de acesso a Comodoro durante 24 horas por dia, fazendo uma fiscalização minuciosa de todos os veículos que chegavam e saiam de Comodoro; OBS: particularmente, considero extremamente essencial para o sucesso de toda ocorrência de grande complexidade de busca e captura de criminosos. Durante a segunda semana, após o roubo, as diligências do BOPE já não traziam mais resultados e os policiais empregados nas diversas funções já apresentavam sinais de cansaço extremo; No fim da segunda semana de operação as diligências investigativas por meio de interceptação telefônica de comparsas identificados no aparelho encontrado pelo BOPE no meio da mata começaram a surtir efeito; Quando que no 11º dia de operação, por volta das 22 horas, uma ligação deu conta de um apoio dos criminosos que estava indo de Cuiabá para resgatá-los, iniciando uma grande mobilização policial; O grande problema era que não sabíamos qual veículo estava sendo usado pelo apoio e nem qual seria o local do resgate; Graças a equipe excepcional de HERÓIS ANÔNIMOS, os analistas que tínhamos trabalhando nesta operação, que passaram mais uma madrugada em claro fazendo cruzamento de dados telemáticos e de áudios. Por volta de 1 hora da manhã do dia seguinte, 12º dia de operação, uma madrugada de domingo, quando um analista me ligou afirmando que identificou uma motivação dos telefones monitoras na cidade de Nova Lacerda – MT que fica a 97 km de Comodoro. Direção que os criminosos haviam tomando logo após o roubo como rota principal de fuga. 11 Imediatamente iniciou um deslocamento policial para a cidade de Nova Lacerda, contudo, alguns minutos após esse deslocamento os analistas identificaram que os criminosos estiveram de passagem por Nova Lacerda e já não estavam mais naquela cidade; Esperava-se que eles seguissem sentido Cuiabá, mas não imaginávamos por qual rodovia; A esperança agora era interceptá-los em Pontes e Lacerda – MT, uma cidade que ficava 100 km após Nova Lacerda e contava com um efetivo policial razoável; Fizemos os contatos com a PM de Pontes e Lacerda e com a PRF, porém, quando eles conseguiram mobilizar uma barreira na BR 174, os criminosos já haviam passado, perdemos mais essa oportunidade; A esperança agora era conseguir abordá-los em Cáceres – MT, a 227 km após Pontes e Lacerda e uma cidade com efetivo policial satisfatório, que conta com um grande contingente de policiais militares, Força Tática, PFR, Polícia Federal e Policia Civil, mas infelizmente em razão do horário e da intempestividade, não estava sendo fácil a mobilização desses policiais em uma barreira; Quando conseguimos montar uma barreira com efetivo adequando para fazer uma abordagem, infelizmente já era tarde e mais uma vez os criminosos já passaram pela cidade;A próxima cidade com possibilidade de fazer um bloqueio policial seria Cuiabá, a 220 km de Cáceres, nossa última chance e com um complicador que era a quantidade de rodovias de acesso, mas tínhamos que escolher uma e lançar nossa sorte; 12 Outro complicador era não saber quais veículos estavam sendo usados pelos assaltantes. Os analistas identificavam a passagem dos criminosos pelas cidades apenas pelas antenas telefônicas, as famosas ERBs; Para a nossa sorte os criminosos já estavam com a sensação de missão cumprida e falavam bastante no celular, inclusive deixaram escapar que o carro tinha o vidro muito escuro e que não dava para ver nada dentro; E então um sargento que estava na minha equipe desde o início nessa operação, diga-se de passagem, era meu parceiro de tantas outras operações, deu a seguinte ideia: “vamos fazer um martelo e bigorna, colocamos uma equipe policial ostensiva na pista e quando os criminosos visualizarem essa equipe podem retornar o que nos permitirá identificar os criminosos”. Ideia acatada com vibração! Nesse ínterim, já havíamos acionado o BOPE, ROTAM e PRF. O BOPE estava com um efetivo reduzido pois estava com duas equipes em Comodoro e outras duas equipes em Marcelândia – MT, outra cidade que sofreu roubo a banco na mesma semana que Comodoro. Nessa época MT sofria muito com essas ações, mas aprendemos a lidar com elas. Então vamos a estratégia idealizada pelo sargento. Durante o deslocamento da equipe do BOPE falei com o tenente que estava no comando e então expliquei para ele como seria. A vantagem de trabalhar com uma equipe altamente doutrinada é que eles entendem com facilidade as instruções e executam na íntegra as instruções repassadas. Quando a equipe do BOPE se posicionou na rodovia o tenente me ligou e deu o pronto, confirmando que estávamos a margem da pista, fora do visual de quem passa e que teriam avançado a van do BOPE para ficar ostensivamente 2 km a frente. Enquanto falava com ele ao telefone outro membro da equipe gritou “voltou... voltou... O gol vermelho com vidro escuro está voltando”. O sargento “ANTIGÃO” estava certo, o tenente desligou o telefone e foi para pista abordar o recém-descoberto gol vermelho de vidro escuro. Passei os 5 minutos mais longos da minha vida, quando um membro da equipe do BOPE me retornou a ligação a pedido do tenente que estava na mata as margem da rodovia atrás dos criminosos que conseguiram fugir, então ele disse: “está na mão caveira!!! Dois assaltantes alvejados, um fuzil, outros armamentos e muito dinheiro”. Resultado do confronto no trevo do Lagarto em 11/11/2012: • 01 (UM) FUZIL AK-47, • 01 (UMA) PISTOLA E • 01 (UM) REVOLVER • QUANTIA DE R$1.109.655,00 RECUPERADOS. 13 Após esse confronto no Trevo do Lagarto, chegando em Cuiabá, o restante da quadrilha se homiziou em uma região rural próximo ao lago do Manso, distante aproximadamente 100 km de Cuiabá; Região de difícil acesso e com apenas uma torre telefônica, que não possibilitava aos analistas uma delimitação mais precisa do local onde se encontravam os criminosos; Após um extenuante período de diligências, vigilância e cruzamento de escassas informações chegamos a uma região de provável homizio dos criminosos; Iniciamos então uma sequência de incursões com a finalidade de delimitar a área das buscas, até que encontramos um veículo escondido, coberto por galhos de árvores, próximo a um sítio abandonado que poderia ser o esconderijo; Então montamos duas equipes mescladas com integrantes do BOPE e agentes de inteligência do GAECO. Uma ficou responsável por monitorar o sítio e outra o carro. Após três dias nessa vigilância, já estava no fim do dia, quando nossa equipe que estava no carro, ouviu um disparo. Em seguida ouvimos um colega da outra equipe chamar pelo rádio e dizendo que havia abatido um criminoso; Esse assaltante abatido, como a maioria dos assaltantes de banco, possuem um bom conhecimento de mata e desconfiou do local onde a equipe do BOPE estava escondida e começou a aproximar para verificar o que era. Quando ele aproximou muito da equipe, o atirador de precisão efetuou um disparo, uma vez que ele estava com arma na mão e apontando na direção da equipe; A equipe visualizou um segundo criminoso correndo e pelas características seria o líder do bando que realizou o roubo em Comodoro – MT no dia 30 de outubro de 2012, conhecido como PARAZINHO; No dia 29/11/2012 completou 30 dias do roubo a banco em Comodoro e em razão desse desfecho foi apreendida 01 (uma) pistola Bersa 9mm, 02 (dois) carregadores, 33 (trinta e três) munições e quantia de R$10.881,00 (dez mil oitocentos e oitenta e um reais). Após esse último confronto que resultou na morte de mais um criminoso, esse suposto líder que ainda estava foragido, iniciou uma campanha para pagar outros comparsas para buscar ele, oportunidade em que deixou escapar que ainda estava com um AK-47 e que não iria se render; PARAZINHO abandonou o sítio e passou a ficar só na mata, fazia racionamento de comida e bateria dos celulares. Ele tinha grande conhecimento de mata, mas para fugir da região onde ele estava teria que passar por duas pontes, uma de um córrego pequeno e outra do rio Cuiabá, este bem caudaloso; 14 Dois dias após a morte do seu comparsa, PARAZINHO que sempre usava o telefone para falar com o irmão que estava preso, deu a notícia que já tinha passado a “pequenininha” se referindo a ponte sobre o córrego; OBS: o irmão do PARAZINHO estava preso em razão de um roubo que participou na cidade de Comodoro – MT em 2008, oportunidade em que PARAZINHO havia prometido voltar e roubar o banco em Comodoro novamente. E cumpriu sua promessa; Como monitorávamos 24 horas a ponte sobre o Rio Cuiabá e tínhamos o conhecimento de que ele precisava passar por lá, nos restou esperar; Contudo, PARAZINHO apresentava muita resistência em atravessar a ponto, ele comentava com seu irmão, que não seria fácil atravessar a “grandona”, se referindo a ponto sobre o Rio Cuiabá; Sempre que falava com o irmão, PARAZINHO perguntava sobre as novidades, uma vez que seu irmão assistia todo o noticiário da televisão local, em especial um programa policial de nome Cadeia Neles; Como PARAZINHO não estava conseguindo uma equipe resgatá-lo, começou a oferecer 5 mil reais para cada um que estivesse no carro que fosse buscá-lo; Não demorou apareceram vários voluntários, mas ele deu preferência a dois comparsas do roubo em Comodoro que conseguiram fugir do cerco no Trevo do Lagarto, para a nossa felicidade; A insistência de PARAZINHO em saber das notícias sobre a polícia por meio do que seu irmão assistia na TV me deu uma ideia e no dia 05 de dezembro 2012 tomei a seguinte decisão, usar uma contrainformação; Liguei para um colega que conhecia o apresentador do programa Cadeia Neles e ele me colocou para falar com o apresentador no intervalo da programação, pois o programa estava ocorrendo ao vivo; Expliquei para o apresentador que a polícia estava desmobilizando todo o seu efetivo e que estava satisfeita com o resultado, que todo o dinheiro havia sido recuperado, que várias armas foram apreendidas etc.; O apresentador desligou o telefone e entrou ao vivo no programa e disse tudo o que havia pedido, inclusive teceu alguns elogios as polícias; Quando PARAZINHO ligou a tarde para seu irmão eis que a contrainformação chegou até ele. Irmão de PARAZINHO ainda enfatizou que aquele dia ele tinha que sair de lá antes que polícia mudasse de ideia. Perfeito! Assim fizeram; Como a equipe de resgate já estava pronta, PARAZINHO deu a ordem, e então estava lançada a sorte; Por volta das 21 horas iniciou a movimentação das pessoas que buscariam PARAZINHO e em pouco mais de 1 hora eles chegaram na região; 15 Ouvimos atentamente as orientações passadas por PARAZINHO aos seus comparsas e montamos a nossa estratégia. Agentes de inteligência espalhados por toda parte e a equipe do BOPE esperando escondidao sinal para abordar; PARAZINHO fez o carro do seu resgate passar por ele três vezes, sempre ele dizia “já estou te vendo, vai na frente e faz o balão”. Os agentes de inteligência estavam no visual do veículo, um Celta branco, mas nada do fugitivo; Após a terceira passada, PARAZINHO mandou o carro encostar, quando o carro parou, ele saiu do mato e rapidamente entrou no carro. Foi quando o Sargento “antigão”, o mesmo que sugeriu a estratégia do Trevo do Lagarto disse: “estão todos no Celta branco indo no sentido da grandona”. Todos sabiam que a grandona era a ponte; Quando o veículo atravessou a ponte e reduziu para passar em um quebra- molas a equipe do BOPE saiu do mato para a pista e foi recebida a tiros e revidaram a injusta agressão; O resultado dessa ação foi que todos as 5 pessoas que estavam no veículo morreram. Eles portavam além do AK-47 que estava com PARAZINHO outras duas armas curtas, uma pistola e dois revólveres; Essa operação iniciou no dia roubo em Comodoro, 30 de outubro de 2012 e terminou no dia 06 de dezembro de 2012, após o cumprimento de medidas judiciais contra membros da quadrilha, somando um total de 37 dias ininterruptos de busca dos criminosos. 16 Anotações 17 Anotações 18 Anotações 19 Anotações Consultor Lucélio França Direitos Autorais Lucélio França A Formação das Organizações Criminosas no País e sua Conexão com o Crime Violento Contra o Patrimônio, uma análise de como isso se Comunica Atualmente em Eventos Locais, Interestaduais E Transnacionais Cap PMPR Gilberto Kummer Junior “Em um mundo de redes criminais descentralizadas e flexíveis, o tempo disponível entre a análise (descobrir o que está acontecendo) e as operações (combater o problema) é cada vez menor.” Moisés Naim Historicamente as organizações criminosas formadas dentro de unidades prisionais, se iniciam da união de grupos criminosos violentos, formados principalmente por assaltantes de banco, que gozam de prestígio em meio a massa carcerária. É errôneo atribuir que a formação de tais organizações se deu da união de presos políticos e assaltantes de bancos, que na época eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN) de 1969. O que se pode afirmar é que na primeira metade da década de 60, começaram a surgir quadrilhas articuladas, principalmente nas capitais da região sudeste. Estas quadrilhas, depois de encarceradas, se tornaram o embrião destas organizações criminosas. Estes pequenos grupos antes do cárcere, realizaram algumas ações exitosas e de grande repercussão na mídia, como: assaltos a bancos, a trens e carros pagadores. A união de presos políticos, com assaltantes de bancos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, se deu a priori por estarem confinados em um mesmo espaço, e não como vem sendo retratado pela mídia ao longo de vários anos. As uniões eram formadas sobre o pretexto de diminuir desigualdades, injustiças e opressões sofridas pela massa carcerária. A união se dava por um mesmo espaço físico, mas o mote da luta guerrilheira e política confluía em termos de ideologia com a luta por melhorias no próprio cárcere. A recusa do Regime Militar em admitir a existência entre os presos comuns, de presos políticos e integrantes da luta armada, todos com características políticas e sociais distintas, fez com que criminosos violentos, os guerrilheiros e os presos políticos, fossem enquadrados na mesma lei. Com isto alguns bandidos condenados na LSN, foram anistiados por conta de remendos feitos na Lei de Segurança Nacional orientada para dirimir os embaraços causados pelo enrijecimento desta lei, feita no ápice dos problemas ocasionados pela luta armada. Desta forma guerrilheiros e criminosos comuns, principalmente os ligados a crimes violentos contra patrimônio, foram colocados pela égide dos presos políticos recebendo benefícios, como exemplo: o preso José Adilson Tognasca, assaltante de banco violento com mérito em meio a massa carcerária, que foi o tutor de Luciano Castro Oliveira, o “Zequinha”, um dos elencados no Projeto Procurados – Lista de Procurados Nacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública, atualmente preso. A linha destas organizações criminosas, formadas dentro de unidades prisionais, fora dividida por peculiaridades em três períodos distintos da história contemporânea: • Regime Militar – No final da década de 60 e início da década de 70, ocorreram diversas ações violentas no país, que culminaram com o endurecimento das leis e o início da Operação Bandeirantes. Os presos da luta armada, os presos políticos e os criminosos violentos enquadrados na Lei de Segurança Nacional, foram colocados no mesmo ambiente. A inserção no mesmo ambiente disseminou a cultura política das desigualdades sociais, iniciando uma guerra informacional sobre direitos e desigualdades, influenciando diretamente o ambiente prisional. Muitos criminosos desta fase, foram doutrinados sobre linhas políticas extremistas, potencializando muitos dos criminosos comuns. O ápice de tais crimes, é relatado no livro “Quatrocentos Contra Um”, de Willian da Silva Lima, que foi um criminoso comum de roubo a bancos, enquadrado na Lei de Segurança Nacional, e comparado como os presos políticos e de luta armada. Surge ainda nesta época a cultura de que o Comando Vermelho, era mera obra ficcional, fruto da imprensa e não de um grupo que resolveu estruturá-lo. Sabe-se que os embriões de tais grupos criminosos, foram articulados muito antes do regime cívico-militar de 1964. Os movimentos políticos à reformulação de LSN e o início de uma nova ordem política com o relaxamento deste regime, leva a segunda fase. • Politicas de Humanização de Presos – Nos governos de André Franco Montoro, em São Paulo, e de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, iniciam- se tratativas sobre políticas de humanização de presos. Os estados passaram a disseminar políticas sobre a mudança do bem-estar dos presidiários, em que prevalecia como alicerce do sistema penal e de controle social, uma política criminal inspirada nos princípios de humanidade, utilidade e legalidade, e incorporação social. Os eternos embates entre presos e autoridades, fizeram com que organizações criminosas como as “Serpentes Negras” e o “Comando Vermelho”, que tinham a sustentação de suas criações exacerbadas pela mídia e defendidas pelos integrantes das forças de segurança, fossem encaradas de forma diferente por defensores das políticas de humanização e políticos, que diziam desconhecer tais grupos criminosos articulados. Muitas das vezes, estes grupos eram encarados como guerras informacionais, como meras obras de ficção, fruto das disputas entre o meio político e os agentes das forças de segurança. Nesta fase também ocorre a migração de grande parte dos criminosos do Comando Vermelho para o tráfico de drogas, sendo um dos primeiros expoentes, um bicheiro de pouca expressão de nome, Antônio José Nicolau, o “Toninho Turco”, morto em uma operação contra o tráfico de drogas em 1988. Por conta da guerra informacional da época e da negação das autoridades e eventos políticos relevantes no cenário nacional, a discussão não ganha repercussão na mídia, até a rebelião do Carandiru. • Rebelião de 02 de outubro de 1992, no Carandiru – tendo sido citada como o motivo para a criação da maior organização criminosa do país e como um divisor de águas, no que viria a se tornar o sistema penitenciário brasileiro; o Primeiro Comando da Capital (PCC), nasce do que era o “Serpentes Negras”, grupo criminoso articulado, no qual fizeram parte Francisco Teotônio da Silva Pasqualini, um dos assaltantes do ouro de Guarulhos, e elencados no Projeto Procurados, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que está preso, e Airton Ferreira da Silva, membro do segundo escalão do PCC, atualmente recolhido em um presídio federal, sendo este um dos transferidos e isolados em fevereiro de2019. O PCC foi criado com o discurso de combater a opressão do estado e garantir direitos individuais e coletivos dos detentos paulistas, na mesma esfera do que se pregava com as políticas de humanização de presos. Assim como no Rio de Janeiro, as autoridades de segurança pública do Estado de São Paulo, custaram a revelar a existência de tal organização criminosa. No ano de 1997, algumas rebeliões violentas ocasionaram a transferência de presos considerados de grande prestígio em várias unidades prisionais espalhadas pelo país. O desconhecimento ou falta de memória institucional, fez com que alguns estados aceitassem as transferências sem a devida atenção, potencializando o problema carcerário nos estados envolvidos. Problemas, que antes estavam restritos a São Paulo e Rio de Janeiro foram disseminados para outros estados brasileiros, propagando a filosofia destes encarcerados. A transferência de criminosos ligados ao PCC para o Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Bahia, culminou com a formação de outros grupos criminosos prisionais, que se fundiram ou não com o PCC. Tal equívoco fortaleceu o PCC e disseminou por outros estados a filosofia de se unirem, para terem direitos e serem escutados. Com a rebelião de fevereiro de 2001, ocorre uma estruturação e a liderança que antes era exercida por César Augusto Roriz, o “Cesinha” e José Márcio Felício, o “Geleião”, passa a ser exercida por Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, preso em Brasília. Após a rebelião houve a transferência em massa de presos para cadeias do interior de São Paulo, sobre a pretensa de enrijecerem o regime e cortar a comunicação entre os detentos. Nestes presídios, criminosos violentos passaram a conviver com grandes traficantes de drogas, sendo atraídos pela alta lucratividade que o crime propiciava, sem o risco de serem mortos em ações mais violentas. O ciclo se repete como no Rio de Janeiro indicando novamente a falta de memória institucional, ou seja, entender o problema para apresentar a solução. O dinheiro que antes vinha das mensalidades e do percentual de lucros ligado as atividades criminosas individuais ou de pequenas quadrilhas como o roubo e o micro tráfico, passou a se exponencializar para o macro tráfico e o tráfico internacional de cocaína. Convém salientar que o tráfico internacional, pertence de forma singular há alguns indivíduos ligados a estes grupos criminosos articulados, e o varejo do tráfico de drogas, as organizações. Este cenário de tais grupos, organizados como forma de redes complexas, muitas delas com atuação local, vem aumentando em razão da disputa por poder, ou por pontos de venda de drogas, e visto como o maior fomentador dos índices de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), sendo a redução destes crimes, alicerçada com o combate as organizações criminosas e a sua descapitalização, os maiores eixos a serem alcançados. A ciclicidade da formação destes embriões que ousamos chamar de grupos criminosos articulados, ou facções, são gerados em sua maioria pela união de indivíduos reconhecidos e respeitados no meio criminal. Estes são articulados, têm mérito por seus feitos criminosos, muitos destes exaustivamente explorados pela mídia, que cria grandes “monstros” do crime, seja por ações violentas contra o patrimônio, seja pelo volume de tráfico de drogas. Criminosos como estes, devem ser acompanhados no início de sua gênese. Nota-se através da história que as grandes organizações criminosas do país foram formadas da união de transgressores, a priori, oriundos dos crimes violentos contra patrimônio, que depois tendem a migrar do crime inicial para o tráfico de drogas. Assim como aconteceu com as maiores organizações criminosas do país, sendo estas o “Comando Vermelho”, o “Primeiro Comando da Capital” e a “Família do Norte”. É necessário realizar um estudo sistemático destas organizações, de maneira a atualizar a Memória Institucional sobre as organizações criminosas e os grupos criminosos organizados, como forma de agir proativamente no combate as organizações criminosas existentes e que venham a se formar. Estas três organizações, PCC, CV e FDN, praticamente são as causadoras da elevação dos índices de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). Verifica-se que este aumento está intrinsicamente ligado a disputa pelas áreas de tráfico, nos municípios que apresentam grandes índices. Estas disputas muitas vezes são entre duas organizações rivais, ou por grupos criminosos locais de menor expressão no cenário brasileiro em disputa, por uma ou outra das maiores facções. Como forma de reduzir homicídios, observa-se que o mapeamento de organizações criminosas, as disputas por áreas de tráfico e os crimes violentos contra patrimônio, devem ser feitas sistematicamente. Para que isso seja efetivo, deve-se capacitar os envolvidos no processo de redução de índices, na análise de redes e na retroalimentação de sistemas de banco de dados, de forma a priorizar, alvos chave, pontuando quem são as pessoas chave de cada grupo criminoso organizado na área afetada, realizando a neutralização e o isolamento destes alvos chave. Tais operações devem atingir de forma homogênea as organizações criminosas em conflito, para que a atuação não sofra efeitos potencializadores aos índices. Este monitoramento sistemático de alvos, pode ser comparado de forma macro com o “Projeto Procurados” do Ministério da Justiça e Segurança Pública, sendo replicado aos estados e municípios de forma micro. Outro fator a ser levantado é a criação e atualização de uma memória institucional que deve ser organizada com dados fidedignos e recentes de organizações criminosas, criminosos, lideranças, disputas internas, disputas territoriais, de forma a mapear os problemas que fomentam os altos índices de homicídios, para o aumento da assertividade dos sistemas de banco de dados, partindo do princípio de que todo elemento envolvido na segurança pública é um sensor. Com a formação de tal memória institucional, cuja plataforma é orientada a relacionamentos e a retroalimentação integrada, pode-se realizar pesquisas em rede, utilizando métricas no sentido de saber quais indivíduos ou organizações devem ser elencadas para o monitoramento sistemático. Quando se pontuam estes indivíduos de grande poder nos grupos organizados articulados, as vezes, pelo seu alto grau de ligação (grandes criminosos) ou até por sua especialização (doleiros ou explosivistas), estes devem ser isolados, de forma a mitigar a comunicação entre membros destas organizações, utilizando a máxima de dividir para conquistar. Isto pode ser feito sugerindo aos estados vagas em presídios federais, cuja a estrutura propicia de forma efetiva o isolamento destas lideranças, atingindo as redes criminais e atenuando índices de CVLI. Entende-se que a partir da descapitalização das organizações criminosas e dos indivíduos chave, haverá o retrocesso no sentido de realizar procedimentos de lavagem de dinheiro, que deixaram de ser realizados devido à ausência de pessoal e de capacitação. O Crime de Fronteiras e o de Divisas Entre os crimes de divisas e fronteiras, cabe separá-los em locais, regionais e interestaduais, ou seja, sobre a área de atuação de determinadas quadrilhas ou organizações criminosas, cujos exemplos podem assim ser elencados: Crime Local – Aquele em que os indivíduos pertencem somente a uma localidade e não se aventuram a sair de sua área de atuação. Com os avanços do tecnologias de informação e comunicação e a falta de isolamento das cadeias, isto tem se tornado uma exceção à regra, a exemplo: o varejo de drogas e o furto de veículos. Crime Regional – Neste os indivíduos extrapolam divisas municipais, as vezes interferem em uma região metropolitana, mas não interferem em outros estados. São geralmente praticados porcriminosos que ainda não tiveram encarcerados e não têm uma grande rede criminal, a exemplo: quadrilhas de roubo de veículos e de propriedades rurais. Crime Estadual – Tipo de atuação que já envolve criminosos mais experientes e com redes criminais mais estruturadas. Tais indivíduos geralmente já estiveram presos junto a presídios de outros estados e têm uma atuação mais descentralizada, geralmente por conhecer diversos criminosos de diferentes estados, a exemplo do roubo de cargas e do novo cangaço. Representa um grande desafio de integração para as forças estaduais, atuar de forma sistêmica nestes casos. Crime Transnacional – Um fenômeno muito difícil de ser detectado, haja vista a junção de várias redes criminais difusas e da participação randômica de pessoas. Estes indivíduos são oriundos de uma vida extensa de crimes e com uma influência meritocrática sobre outros membros de seus grupos. Ademais, possuem uma capacidade enorme de se organizar, têm redundância de técnicos e capacidade logística diferenciada, a exemplo: o domínio de cidades e o tráfico internacional de drogas. Quando vemos estes fenômenos de migração do crime, temos como principal exponenciador os presídios, que são verdadeiros polinizadores de redes criminosas difusas e articuladas. Tendo o criminoso violento contra o patrimônio grande participação na criação das organizações criminosas e sua influência pela massa carcerária, encarcerada por uma gama de crimes. A junção de estelionatários com criminosos violentos potencializa as ações, pois, se um antes tinha dificuldade de obter documentos falsos, depois deste contato, cessará. Esta junção de vários tipos de crimes, prejudica em muito a segurança pública de uma forma geral, e a falta de isolamento de presos é outro fator relevante, pois dentro dos presídios, funcionam grandes centrais de negócios. Por mais que separamos os crimes por divisas e fronteiras, isso vem sendo cada vez mais difícil de ser visto, sendo que as modalidades em breve só se dividirão em duas: fronteiras e divisas. Em que um furto de fios em uma região pobre de São Paulo, um roubo a um posto de gasolina na zona leste paulista, um roubo a um aeroporto em Blumenau e o roubo do ouro em Guarulhos, podem estar ligados ao domínio de cidades em 24 de abril de 2017? É o que procuraremos mostrar a seguir. Estudo de Caso Prosegur Paraguai No ano de 2016, fonte de inteligência de um estado de divisa, após contatar um membro da inteligência do Paraná, fez o seguinte relato: “criminosos faccionados das regiões 43 e 44, treinaram no Paraguai com o objetivo de realizar uma ação de Domínio de Cidades na região sudoeste do Paraná”. A informação era uma colcha de retalhos, mais diversos outros fatos ocorridos, só analisados posteriormente a ação, deixou claro que a falta de integração trouxe problemas imensos de forma transnacional, a qual procurarei utilizar somente dados de fontes abertas para fazer uma linha de tempo com eventos conhecidos e explorados. O Grafo 1 abaixo, ilustra um pouco personagens e ações ligadas a informação dos fatos e seus desdobramentos. Grafo 1: Análise Posterior ao evento Prosegur Julho de 2016 – Após o levantamento da vida de alguns agentes penitenciários por faccionados e da dificuldade de se conseguir executar a missão, fora levantado que iriam executar um policial em uma pequena cidade próxima a Maringá, no Paraná. Na época, uma equipe do Departamento de Inteligência do Estado do Paraná (DIEP) conseguiu frustrar a missão, sem êxito de neutralizar as ações. 02 de setembro de 2016 – O Agente Penitenciário Federal Alex Belarmino Almeida Silva, foi executado no município de Cascavel, quando se dirigia para dar treinamento a agentes na Penitenciária de Catanduvas, no Paraná. A execução fora feita por quatro faccionados e o levantamento por outros, entre eles um dos que realizou o planejamento em Maringá. Ainda entre os quatro executores, dois haviam realizado treinamento no Paraguai e outro era filho de um conhecido criminoso violento contra patrimônio. Foto 1; Foto 1 – Carro de Belarmino 20 de dezembro de 2016 – O Agente Penitenciário Estadual Thiago Borges de Carvalho, foi morto após sair da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL). A ação foi executada por quatro criminosos, dois deles com treinamento no Paraguai. 15 de janeiro de 2017 – Fuga da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), ação que inaugurou o evento de Domínio de Cidades no Brasil. Convém salientar, que tal evento é tipicamente brasileiro e não se deve resolvê-lo com soluções importadas. Neste evento fugiram 28 presos, no qual para execução, foi explodida a muralha do presídio e elementos na contenção dispararam contra as muralhas, carros foram queimados nas rotas de fuga em uma ação típica de domínio de cidades. Quem coordenou este trabalho foi o cabeça na execução do agente federal e um dos comparativos de DNA na Prosegur que deu positivo. Ao menos cinco dos membros que treinaram no Paraguai participaram. Foto 2 Foto 2 – Carros queimados depois da fuga 08 de março de 2017 – Criminosos roubam o Banco do Brasil na cidade paranaense de Andirá, em uma ação do Novo Cangaço Noturno, com uso de explosivos. Cerca de 20 criminosos utilizando de armamento de alto poder de fogo realizaram a ação. Esta foi uma ação preparatória a ação de 24 de abril, com o intuito de verificar o treinamento e quem estaria apto a participar do fato. 08 de março de 2017 – Dois criminosos são mortos em Londrina, no Paraná, pela Policia Militar. Tal ação se deu, pois dois dos veículos utilizados em Andirá estavam estacionados próximo a casa em que estavam. Um dos mortos era fugitivo da Penitenciária Estadual do Paraná, supramencionada. Durante a noite também foi preso quem havia alugado a casa, um dos executores do Agente Penitenciário Federal. Março e abril de 2017 – Novo treinamento no Paraguai, cerca de oito dos fugitivos da PEP, realizaram na fazenda de um narcotraficante treinamento com um especialista europeu. Foto 3 Foto 3 – Treinamento no Paraguai 24 de abril de 2017 – Roubo da Base de Valores da Prosegur em Cidade do Leste, no Paraguai. Ação esta que durou mais de 3 horas e um policial da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), teve a vida ceifada. Cerca de 60 criminosos participaram do Domínio de Cidades na segunda maior cidade do país vizinho, e pelo menos 3 .50 foram utilizadas. Posterior a essa ação, por meio da coleta de vestígios, diversos criminosos foram identificados e colocados na cena de outros crimes. Uma pequena parcela que passaremos a analisar a partir de agora: 06 de julho de 2000 – Roubo de 61 quilos de ouro do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, fragmento de impressão positivado com a ação acima; 08 de outubro de 2013 – Roubo ao carro forte da Protege em Suzano/SP. Foi o primeiro caso de DNA positivo do Brasil. 14 de março de 2019 – Roubo de R$ 9 milhões, do Aeroporto Quero Quero, na cidade de Blumenau/SC. DNA positivado com outra ação, a do carro forte na Rodovia Mogi Dutra em 22 de Janeiro de 2018. 25 de julho de 2019 – Roubo de 754 quilos de ouro do Aeroporto de Guarulhos. DNA positivado com a ação no Paraguai. Foto 4 Foto 4 – Roubo do ouro no aeroporto de Guarulhos Explorando o que foi manifestado na imprensa de maneira rápida, apareceram mais vestígios da ação da Prosegur em pelo menos 7 estados da federação, em crimes que vão de furto, roubo, sequestro, novo cangaço e domínio de cidades, demonstrando a forma articulada com que disseminam os fenômenos criminais. Conclusão Fica muito claro para um analista compenetrado neste tipo de ação que ambientes prisionais, com certeza, são exponenciadores da criminalidade violenta contra o patrimônio, nas análises das ações de domínio de cidades. Com bancos de dados integrados e com a cooperação entre as forças de segurança estaduais,isto poderia ser comprovado com amostras mais robustas, e poderia ter mais acertos, diminuindo a incidência deste fenômeno criminal, de forma a gerar o monitoramento sistemático de alvos sensíveis que no ambiente prisional teriam um status de líderes de organização criminosa. No Brasil ainda não existe um banco de dados de impressões digitais unificado e o Banco Nacional de Perfil Genético, ainda não tem em seu banco de dados a totalidade de Criminosos Violentos Contra Patrimônio presos nos estabelecimentos prisionais espalhados pelo país. Populam o banco somente os que foram presos e qualificados e os fragmentos recolhidos em locais de crime, e com isso apenas, já se fez um “estrago” com a prisão de vários grandes criminosos. Pode-se perceber que nenhum criminoso saia direto para um Domínio de Cidades. Em seu início de vida criminosa, ele passará por muitas modalidades de ilícitos para atingir tal mérito, mesmo que esteja em uma função menos importante. Esta escalada deve ser evitada e uma das formas disto acontecer é separar criminosos de baixa agressividade dos criminosos violentos. Outra coisa a ser vista também é o nível de especialização do criminoso. Aproximar um técnico em informática de um criminoso violento pode dar um upgrade em ações com explosivos, por exemplo como nos atuais, acionamentos remotos observados em ações espalhadas Brasil afora. O que pode ser visto é que a grande formação de relação entre criminosos é o ambiente intramuros, potencializando muito a capilaridade destes grupos criminosos difusos e articulados, sendo necessário melhorar a qualidade de nossos estabelecimentos prisionais, no sentido de separar grandes criminosos de criminosos comuns para que velhos erros não sejam cometidos. Ademais, um outro fator a ser visto é que enquanto algumas instituições se portam como grandes senhores feudais, o crime tem se potencializado e as instituições de segurança sucumbindo em razão de tal fenômeno criminal, sendo importantíssimo esta integração, correndo o risco que uma nova modalidade criminosa possa surgir. Conexão do Novo Cangaço com outras modalidades do crime organizado 3 O criminoso violento contra o patrimônio quando é preso e vai para o ambiente prisional é recebido pela grande massa carcerária como uma pessoa de coragem e de grandes feitos, alguém que podemos inferir com “prestígio”, ou melhor, que tem “mérito’ no mundo do crime. A grande maioria das Facções criminosas do país foram formadas por criminosos oriundos dos crimes violentos contra o patrimônio. Podemos citar o Banco Central de Fortaleza, onde um dos criminosos migrou para o tráfico de drogas e financiou posteriormente a isso diversas ações violentas contra o patrimônio, demais que participaram do mesmo evento, resolveram investir em outros túneis espalhados Brasil a fora. Após o episódio do Banco Central, outros 4 túneis estavam sendo feitos, dos quais 3 eram no Brasil e um no exterior. Conexão do Novo Cangaço com outras modalidades do Crime Organizado 4 Conexão do Novo Cangaço com outras modalidades do Crime Organizado Como exemplo antagônico, podemos citar aquele menino de periferia, com pouca perspectiva de vida, que é cooptado por uma organização criminosa, geralmente aquela que domina o tráfico de drogas no local em que mora. E recebe a ordem para matar um agente de segurança pública, como ocorreu no ano de 2006. Após a execução do que lhe fora ordenado, caso seja preso e vá para o ambiente prisional, será respeitado no meio e terá toda a proteção da organização. Porém não terá a mesma influência que um grande criminoso violento contra o patrimônio, vários exemplos podem ser citados ao longo da história. 5 Podemos citar três organizações como exemplo de serem formadas inicialmente por pessoas oriundas do crime violento contra o patrimônio, que depois migraram para o tráfico de drogas: Comando Vermelho Todos os fundadores eram assaltantes de banco, que perceberam que o tráfico de drogas era mais rentável e menos perigoso, migrando para o tráfico. Primeiro Comando da Capital Primeiro e segundo escalão - todos oriundos do crime violento contra o patrimônio, os dois únicos que eram oriundos do tráfico foram mortos Gegê e Paca. Bonde do Maluco Formada por assaltantes de banco que hoje migraram para o tráfico, a atual liderança, advém do crime violento contra o patrimônio. Conexão do Novo Cangaço com outras modalidades do Crime Organizado Conexão do Novo Cangaço com outras modalidades do crime organizado textarea_2arge: textarea_1tayh: textarea_4pcdl: textarea_3mcpu: