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Anexo 5 Planejamento Estratégico

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Anexo 5 
 
Planejamento Estratégico Governamental 
 
 
INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
No nosso curso tratamos de planejamento estratégico e gestão em segurança pública. 
Perceba que o uso de ferramentas típicas do mundo corporativo na administração 
pública não é um fenômeno recente. Diante disso, o estudo sobre o surgimento do 
campo de políticas públicas ganha contornos relevantes, uma vez que apresenta o papel 
dos governos e como se materializam ações estatais que influenciam a vida das 
pessoas. 
 
Desde a década de 1950, nos Estados Unidos da América, o campo de políticas 
públicas experimentou grande expansão, tendo surgido como um recorte da ciência 
política (SOUZA, 2018). Antes disso, no início do século XX, os Estados Unidos da 
América foram marcados pelo surgimento de novas possibilidades de mercado, os quais 
se abriram a partir do desenvolvimento dos transportes, da eletrificação e das 
comunicações. Com o aumento da consciência de questões do cotidiano, de vários 
fenômenos naturais e sociais, se fortaleceram apelos para uma atuação estatal perante 
fatos da vida, os quais passaram a ser compreendidos como problemas públicos 
(MINTROM; WILLIAMS, 2013). 
 
Enquanto na Europa a ciência política tinha uma vertente muito ligada ao conceito de 
“Estado”, nos Estados Unidos esse campo, com seu recorte ligado às políticas públicas, 
tinha foco voltado ao estudo dos “governos”. É nessa perspectiva que Thomas Dye 
(2013, p. 3) define, de forma objetiva, política pública como sendo tudo que os 
governos fazem, deixam de fazer, e que diferença isso faz. 
 
No Brasil, a literatura constrói uma variedade de conceitos de política pública, desde o 
resultado de uma iniciativa governamental, em atenção a demandas da sociedade (DE 
TONI, 2016), ou mesmo como resultados de interações entre atores públicos e privados, 
em que se busca manter o equilíbrio social ou promover mudanças sociais (SARAVIA, 
2006). 
 
Assim, para fins de compreensão de planejamento estratégico e gestão em segurança 
pública, o primeiro elemento a ser compreendido é que governos fazem políticas 
púbilcas, as quais representam as entregas de produtos e serviços ao destinário 
final, que é a população. Integram essa relação um rol de atores, grupos de interesse, 
grupos de pressão, entre outros, os quais representam o que retratamos em nosso curso 
como stakeholders [partes interessadas]. 
 
A exemplo das ferramentas ou metodologias tratadas em nosso curso, a política 
pública também conta com um ciclo de formação, que orienta seu processo, como no 
modelo PDCA (Plan, Do, Check, Act) ou no método IARA [SARA] do policiamento 
orientado para o problema, de Identificação, Análise, Resposta, Avaliação (BRASIL, 
2013). 
 
No âmbito das políticas públicas, apesar de variar conforme a literatura adotada, o ciclo 
de políticas públicas basicamente é constituído pela montagem da agenda, 
formulação de políticas, tomada de decisão política, implementação de políticas 
e avaliação de políticas: policy-making como aprendizagem (HOWLETT; RAMESH; 
PERL, 2013). 
 
As práticas atuais no setor publico seguem a tendência iniciada nos anos de 1980, 
denominada New Public Management [Nova Gestão Pública], que inaugurou o 
modelo gerencial de administração pública (MAXIMIANO; NOHARA, 2017). Devemos 
lembrar que, antes disso, a doutrina concebeu como primeiro modelo de gestão a 
chamada Administração Patrimonialista, depois superada pela Administração 
Burocrática (CAETANO; SAMPAIO, 2016). 
 
Esse modelo gerencial de administração teve como inspiração as mudanças havidas 
nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, a partir dos governos de Ronald 
Reagen e de Margareth Thatcher, em que foram implementadas ações ligadas à agenda 
de redução de custos, desregulamentação, privatizações, aumento na eficácia e 
planejamento de despesas, e a adoção de sistemas de auditoria e controle financeiro 
(MAXIMIANO; NOHARA, 2017). 
 
No Brasil, além das ações realizadas por EUA e Reino Unido, a preocupação com o uso 
de recursos públicos e com o endividamento público orientaram o governo quanto à 
necessidade de utilizar instrumentos básicos de programação orçamentária. 
 
INSTRUMENTOS BÁSICOS DE PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTÁRIA 
 
Desde 1988, o constituinte reforça a vinculação entre orçamento e planejamento. De 
acordo com De Toni (2016, p. 62), “sem essa ligação estrutural e instantânea, o 
planejamento se torna uma peça de ficção e é impossível utilizar seus benefícios para 
gerenciar políticas públicas, em especial o desenvolvimento de sistema de 
monitoramento e avaliação.” No Brasil, a Constituição Federal, em seu art. 165, previu 
como marcos legais os seguintes instrumentos de programação (PARANÁ, 2020, 
online): 
 
o Plano Plurianual (PPA): planejamento de médio e longo prazo, em que são 
estabelecidas as prioridades dos governos (materializadas por políticas 
públicas), por meio de programas e projetos, e definidas diretrizes, objetivos e 
metas. O PPA é elaborado no primeiro ano de mandato do Poder Executivo, 
tendo vigência por quatro anos. Está ligado à ideia de planejamento 
estratégico, mas também planejamento tático – como a manutenção de 
serviços do cotidiano prestados pelo Estado –, além da dimensão operacional, 
“como definição dos meios para a realização dos objetivos dos programas; é 
tratada no orçamento” (MAXIMIANO; NOHARA, 2017, p. 174). 
o Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): trata-se de uma lei ordinária, de 
natureza transitória, que se vincula a um exercício financeiro. A LDO estabelece 
as metas e prioridades da Administração, além de orientar a elaboração da 
Lei Orçamentária Anual (LOA), dentre outras finalidades, como a determinação 
de equilíbrio entre receitas e despesas, em respeito à Lei de Responsabilidade 
Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000). 
o Lei Orçamentária Anual (LOA): também uma lei ordinária, a qual compreende 
a programação de gastos em cada área, além de estabelecer a previsão de 
receitas. 
 
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO GOVERNAMENTAL 
 
De acordo com De Toni (2016, p. 30), “no setor público, o processo de planejamento se 
confunde com o próprio exercício do governo”. Segundo o autor, quem governa precisa 
planejar as ações que irá desenvolver, sob pena de incorrer em problemas que poderão 
culminar em responsabilidade administrativa, como da Lei de Responsabilidade Fiscal 
(Lei Complementar n. 101/2000), Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/1992), 
dentre outros estatutos legais. É nesse sentido que o planejamento governamental exige 
conhecimentos voltados à Administração e ao planejamento, mas, de forma destacada, 
sobre políticas públicas, orçamento e finanças. 
 
A partir de prioridades coletivas, políticas públicas envolvem decisões e escolhas, cujos 
marcos e prioridades são estabelecidos a partir dos instrumentos básicos de 
programação orçamentária, e ações se materializam por programas e projetos. 
 
Assim, ao tratarmos do ciclo da política pública, o primeiro momento a ser 
compreendido é a formação da agenda. Os problemas entram na agenda dos governos 
quando são observados como necessidades coletivas, seja por meio de eventos 
focalizadores – que trazem luz a uma questão –, seja pelas chamadas janelas de 
oportunidades, em que um assunto entra na agenda mais específica do poder público. 
 
Ingressado na agenda, haverá a chamada formulação da política, em que, mediante 
as alternativas propostas, o governo irá selecionar aquelas que conferem melhores 
condições para a resolução do problema apresentado. Na formulação, os instrumentos 
de programação orçamentária serão utilizados – especialmente o PPA – como 
planejamento de médio e longo prazo. 
 
Com a tomada de decisão política, dentre as alternativas apresentadas ao gestor, 
ocorrerá a implementação da política, em que se destacam os instrumentos da LDO 
e LOA. Como tratamos em nosso curso,os burocratas de nível médio e os burocratas 
de nível de rua (LIPSKY, 2019) terão em papel relevante na implementação da política, 
uma vez que favorecem o alinhamento entre o que foi planejado e o que se pretende 
por em prática. 
 
Como fim do ciclo tem-se a avaliação da política, em que serão utilizados mecanismos 
de monitoramento e avaliação quanto cumprimento dos objetivos propostos e à 
adequada aplicação dos recursos públicos previstos e destinados à implementação do 
programa ou projeto. 
 
Como já tratado em nosso curso, para o monitoramento e avaliação vários mecanismos 
podem ser utilizados para acompanhar políticas públicas, dentre os quais o mapa 
estratégico e o painel de indicadores, em que se apura, a partir de programas e 
projetos, o cumprimento das diretrizes, objetivos e metas da organização.

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