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IANI SOARES LUZ XIII – MED APG 14 – Alterações da memória Memória Definição - Memória: Capacidade de codificar, armazenar e evocar as experiências, impressões e fatos que ocorrem em nossas vidas. Essas informações armazenadas dizem respeito às nossas experiências perceptivas e motoras, assim como às vivências internas (nossos pensamentos e emoções). - Aprendizado é o processo pelo qual adquirimos conhecimento sobre o mundo; já a memória representa o armazenamento desse conhecimento. - A memória é um processo ativo, no qual vários elementos do indivíduo participam da codificação e da evocação, como elementos sensoriais, imaginativos, semânticos e afetivos. - A memória é frequentemente reeditada, ou seja, as informações de eventos, cenas e acontecimentos do passado, que já foram armazenadas, podem ser reconfiguradas com acréscimos de elementos novos (vividos ou imaginados pelo próprio indivíduo ou instigados por estímulos externos, conscientes ou não). Etapas do processo mnêmico -Fixação/aquisição/codificação Captar, adquirir e codificar novas informações; e depende da preservação do nível da consciência (vigilância), da atenção (especialmente, da tenacidade), da sensopercepção e da capacidade de apreensão (apercepção). Fixam-se mais facilmente as informações que despertam o nosso interesse e possuem maior conotação emocional, as que têm um caráter de novidade, as que podem ser associadas às informações anteriormente adquiridas e as que envolvem ao mesmo tempo mais de um canal sensorial (p. ex., visão e audição). Conservação/retenção/armazenamento Manutenção, em estado de latência, das informações que foram fixadas. As informações conservadas vão, ao longo do tempo, sofrendo um processo lento de desintegração (lei de regressão mnêmica de Ribot). Nesta lei, a perda das informações armazenadas se faz das mais recentes para as mais antigas, das mais complexas para as mais simples e das menos organizadas para as mais organizadas. Evocação/rememoração/recuperação Retorno, espontâneo ou voluntário, à consciência das informações armazenadas. • Alternativamente, no caso da memória implícita, a evocação corresponde à IANI SOARES LUZ XIII – MED expressão no comportamento do aprendizado prévio. • Fatores afetivos podem influenciar a evocação. ◦ Em regra nos esquecemos mais facilmente do que nos desagrada ou angustia. • Assim como a percepção não é uma cópia fiel do mundo externo, a evocação também nunca é idêntica à imagem perceptiva fixada: cada vez que evocamos estamos reconstruindo, sempre com alterações, a imagem armazenada. • Dentro da evocação, existiria uma etapa extra do processo mnêmico: a do reconhecimento como pretérito (identificação da imagem evocada como algo do passado, já vivenciado anteriormente, e não do presente). OBS: Conceitos importantes: • Lembrança: Capacidade de acessar elementos no banco da memória de longo prazo; • Reconhecimento: Capacidade de identificar uma informação apresentada ao sujeito com informações já disponíveis na memória de longo prazo; • Esquecimento: Impossibilidade de evocar e recordar. - Memória sensorial (até 1 segundo): Dura menos de 1 seg. Permanece ativa apenas o tempo necessário para se dar a percepção. É muito frágil e possui uma capacidade muitíssimo limitada. • É mais propriamente uma função da atenção do que da memória. • Percepção, atenção e memória se sobrepõem. • As memórias sensoriais são ricas (muitos conteúdos), mas muitíssimo breves (os conteúdos se apagam rapidamente). - Memória de curto prazo (de poucos minutos até 3 a 6 horas): Possui uma capacidade de armazenamento limitada e dura de segundos a minutos. - Essas informações provêm dos estímulos correntes, cuja impressão é prolongada, ou da recuperação de elementos da memória de longo prazo. Diversas informações são mantidas ativas simultaneamente, para que possam ser integradas e manipuladas. • Depende de estruturas cerebrais das partes mediais dos lobos temporais, como a região CA1 do hipocampo, do córtex entorrinal, assim como do córtex parietal posterior. • Também pode ser denominada de memória de trabalho (ou operacional) referindo-se ao armazenamento temporário de informações para a realização de tarefas cognitivas. IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ Possui 4 componentes: - Verbal (fonológico), que armazena informação auditiva sob a forma de linguagem falada; - Visuoespacial, que mantém ativas imagens visuais de objetos e informações de localização no espaço; - Executivo central, que coordena os 2 anteriores e direciona a atenção; - Retentor episódico, que permite a interação da memória de trabalho com a memória de longo prazo. - Memória de longo prazo/remota (de dias, meses até muitos anos): O processo que converte as memórias de curto prazo em memórias de longo prazo chama-se consolidação. Facilitada pela repetição da informação, ela necessita de 5 a 10 min para que ocorra minimamente e de pelo menos 60 min para que ocorra de forma plena. Representa o armazenamento permanente de informações. • Informações que foram fixadas há alguns minutos poderão ser evocadas por anos ou até por toda a vida. • Informações são arquivadas e conservadas de acordo com seu significado, em redes semânticas nas quais conceitos semelhantes ou semanticamente relacionados são armazenados de maneira vinculada, próximos uns dos outros. • A capacidade de armazenamento da memória de longo prazo é enorme, bem maior do que a da memória de curto prazo. • Relaciona-se com o hipocampo e amplas e difusas áreas corticais de associação em todos os lobos cerebrais (mas, principalmente, nos frontais). • As memórias de longo prazo podem ser divididas em explícitas (ou declarativas) e implícitas (ou não declarativas). Bases neurobiológicas da memória - Para a formação das unidades de memória, asestruturas límbicas temporomediais, principalmente, relacionadas ao hipocampo, à amígdala e ao córtex entorrinal, são fundamentais. Elas atuam, em especial, na consolidação dos registros e na transferência das unidades de memória de curto e médio prazos (intermediária) para a de longo prazo (estocagem da memória remota). - Memórias recentes: Mudanças e consolidações de sinapses neuronais relacionadas a complexas cascatas de eventos moleculares e celulares necessárias para a primeira estabilização de informações recentemente adquiridas, nas redes neuronais coordenadas pelo hipocampo. - Memorizações lentas e de longo prazo: A consolidação das memórias se baseia em processos de nível sistêmico (redes neuronais), lentos, tempodependentes, que IANI SOARES LUZ XIII – MED convertem os traços lábeis de memória recente em formas mais permanentes, estáveis e ampliadas, baseadas na reorganização de redes neurais de suporte à memória, também coordenadas pelos hipocampos. • O substrato neural da memória de longo prazo (registros bem consolidados) repousa, basicamente, no córtex cerebral, ou seja, nas áreas de associação neocorticais, principalmente, frontais e temporoparietoccipitais. OBS: Hipocampo direito e esquerdo: Localizado na parte medial dos lobos temporais, filogeneticamente antigas, de importância central para os processos de aprendizagem e memória. • Quase toda a cognição está relacionada a eles, pois os hipocampos se conectam a múltiplas áreas do córtex cerebral, organizam eventos relacionados entre si em uma rede estruturada de memórias,além de atuarem na percepção e na organização mental, espacial e temporal dos eventos. • Hipocampo dos mamíferos tem 3 grandes regiões: o giro denteado (GD), o corno de Ammon (CA1, CA2, CA3 e CA4) e o córtex entorrinal lateral e medial. • Funcionalmente, os hipocampos são divididos em hipocampo dorsal (mais ligado especificamente ao aprendizado e à memória) e hipocampo ventral (mais ligado ao processamento emocional). Tipos específicos de memória Memória explícita/declarativa: Informações sobre o que é o mundo, informações essas que são acessíveis à consciência, podem ser evocadas voluntariamente, e podem ser expressas em palavras. • Memória episódica: Refere-se a eventos autobiográficos, a vivências pessoais do indivíduo que estão vinculadas a determinado local e ocasião; • Memória semântica: Refere-se a conhecimentos factuais, compartilháveis com as outras pessoas. - Memória implícita (sem consciência ou não declarativa): Refere-se ao aprendizado de como fazer as coisas. Expressa-se como melhora de desempenho em determinada atividade, que se dá em função de experiências prévias. É um tipo de memória automática e reflexa, que não pode ser expressa em palavras e que independe da recuperação consciente das experiências que produziram o aprendizado. Pode resultar da repetição de memórias explícitas (ex: aprender a dirigir). • Memória de procedimento: Memória automática, não consciente. Refere-se a práticas e habilidades motoras (andar de bicicleta, amarrar o sapato, tocar piano, escrever), perceptivas (montar quebra cabeças, descobrir a solução de labirintos gráficos, ler) e cognitivas (usar e compreender regras gramaticais). ◦ De modo geral, é implícita e não declarativa; IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ Ocorre de forma lenta, por meio de repetições e múltiplas tentativas. ◦ As principais áreas envolvidas são a área motora suplementar (lobos frontais), os núcleos da base (sobretudo, o striatum) e o cerebelo. • Condicionamento clássico: Pareamento de 2 estímulos: o estímulo incondicionado (EI), que é forte e naturalmente bastante eficaz na produção de determinada resposta no animal, e o estímulo condicionado (EC), que é fraco ou neutro e ineficaz quanto a produzir a mesma resposta. ◦ O condicionamento clássico permite ao animal fazer previsões sobre eventos no seu ambiente. ◦ Ex: Uma pessoa que sofreu um grave acidente de carro e, naquele momento, estava ouvindo uma música agradável, pode passar a se sentir ansiosa toda vez que voltar a ouvir a música. • Condicionamento operante: As ações que são recompensadas tendem a se repetir, enquanto as ações seguidas de consequências aversivas tendem a não se repetir. Nesse sentido, o reforço leva a um aumento da resposta, enquanto a punição causa uma redução desta. • Aprendizagem não associativa: Animal é exposto a somente 1 estímulo (habituação) ou a 2 estímulos que não guardam qualquer relação entre si (sensibilização). • A habituação é a forma mais simples de aprendizagem. Consiste em progressiva diminuição da resposta a estímulos inócuos repetitivos. Quando um estímulo é novo, ele produz uma resposta intensa, mas, não tendo qualquer consequência, o animal aprende a ignorá-lo. ◦ Ex: Na festa de Ano Novo, nos assustamos com o barulho dos primeiros fogos de artifício, mas logo depois nos acostumamos com eles. • Pré-ativação/facilitação: Exposição prévia ao estímulo favorece o seu reconhecimento posterior a partir de fragmentos dele. IANI SOARES LUZ XIII – MED Alterações patológicas da memória Quantitativas Conceitos importantes: • Amnésia: Abolição da capacidade mnêmica; • Hipomnésia: Diminuição da capacidade mnêmica; • Hipermnésia: Aumento da capacidade mnêmica. Amnésia (hipomnésia) anterógrada: Impossibilidade (ou dificuldade) de formar novas lembranças de longo prazo (de adquirir novas informações) a partir do momento em que o agente patogênico casou dano cerebral. • Ocorre no transtorno amnésico, nas demenciais, no delirium e estados crepusculares (atenção e apreensão da realidade prejudicadas), na ansiedade e agitação psicomotora (mania) (diminuição na capacidade de concentração), no retardo mental grave (lesão cerebral e dificuldade de apercepção), na depressão (prejuízo na atenção provocado pelo desinteresse), nos blackouts (lacunas de memória referentes a episódios de embriaguez alcoólica). • Pacientes, frequentemente, perdem objetos, não conseguem guardar recados que deveriam transmitir; esquecem-se dos nomes e das faces de pessoas que acabaram de conhecer; perdem-se na rua e têm dificuldade em registrar a data corrente. Amnésia (hipomnésia) retrógrada ou deevocação - Impossibilidade (ou dificuldade) de recordar eventos anteriores à atuação do fator causal do distúrbio mnêmico; não se consegue recuperar memórias de longo prazo, as quais tinham sido adequadamente fixadas. A amnésia retrógrada afeta mais a recordação de eventos recentes do que de remotos. Ocorre em quadros dissociativos histéricos, em traumatismos cranioencefálicos (TCE), em intoxicação por CO e em lesões talâmicas. Amnésia (hipomnésia) retroanterógrada (mistaou de fixaçãoevocação) - É a forma mais comum; déficits de fixação para o que ocorreu dias, semanas ou meses antes e depois do evento patógeno. Presente nos quadros demenciais e no delirium, após um traumatismo cranioencefálico e aplicação de eletroconvulsoterapia. Amnésia (hipomnésia) generalizada Estão afetadas todas as recordações de grande parte do passado, compreendendo os últimos meses ou anos, ou mesmo a vida inteira. • Tipo pouco frequente . • Pode ocorrer em seguida a um grave TCE, em fase terminal de demência e em transtornos dissociativos histéricos (fuga psicogênica). IANI SOARES LUZ XIII – MED Amnésia (hipomnésia) lacunar ou localizada - A falha de memória abrange especificamente determinado espaço de tempo, de limites relativamente precisos, durante o qual houve um prejuízo na capacidade de fixação. Todos os eventos anteriores e posteriores a esse período foram normalmente fixados e são normalmente evocados. Ocorre posteriormente a um estado de coma ou de delirium, a estados crepusculares epilépticos e histéricos, graves agitações maníacas ou psicóticas, um ataque de pânico ou um evento psicológico traumático. Amnésia (hipomnésia) seletiva ou sistemática: - As lembranças têm um conteúdo e significado afetivo em comum. • Observada em quadros dissociativos histéricos (amnésia psicogênica). - Hipermnésia anterógrada ou hipertrofia de memória: Capacidade exagerada de armazenamento de novas informações. Geralmente, está restrita a uma habilidade específica: memorizar uma grande quantidade de números ou nomes; reproduzir na íntegra uma música ou um texto extenso após terem sido ouvidos uma única vez; ou efetuar cálculos matemáticos muito complexos. • Pode ocorrer em pessoas normais, porém é mais frequente em indivíduos com retardo mental e, mais ainda, em autistas. • A memorização se dá de forma mecânica, em geral, sem que haja uma compreensão do significado do que está sendo fixado. Hipermnésia retrógrada ou de evocação Excesso de recordações em breve espaço de tempo. Embora mais numerosas, as lembranças em geral são pouco claras e precisas, não havendo controle voluntário sobre elas. • Pode ser observada na síndrome maníaca (primária ou secundária). • Memória panorâmicaou ecmnésia: Observada em pessoas que estão na iminência de morrer. Durante segundos ou poucos minutos passam pela mente do indivíduo sua vida inteira ou os acontecimentos mais importantes, como se fosse um filme projetado com enorme velocidade. • Acromnésia: Encontrada em estados crepusculares epilépticos e histéricos, no transe hipnótico, no sonho, no delirium e na intoxicação por alucinógenos. Súbito ressurgimento de recordações que estavam aparentemente esquecidas ou em uma alteração transitória em que certos eventos autobiográficos são recordados de forma mais vívida, detalhada e exata do que o habitual. - Hipermnésia lacunar: Observada em pacientes com transtorno de pânico, especialmente, em relação à rememoração do 1 ataque; e no transtorno de estresse pós- traumático, em relação ao evento traumático. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Hipermnésia seletiva: Ocorre na depressão, quanto a fatos dolorosos ou que despertem o sentimento de culpa; na mania, quanto a sucessos e realizações pessoais; e nos quadros delirantes, quanto a fatos que pareçam confirmar o seu juízo patológico. Qualitativas Alomnésia/ilusão de memória - Recordações de um evento real são deturpadas, distorcidas pelo indivíduo de forma involuntária. Ocorre em pessoas normais e em situações patológicas: no delirium, na demência, no transtorno amnésico e nos estados crepusculares; na mania e na melancolia, por influência do afeto dominante; e na esquizofrenia e no transtorno delirante, como expressão do conteúdo dos delírios. Paramnésia/alucinação de memória Recordação de algo que de fato não ocorreu, de uma falsa lembrança, embora para o paciente ela seja verdadeira. • Há ilusões mnêmicas (acréscimo de elementos falsos a elementos da memória de fatos que realmente aconteceram) e alucinações mnêmicas (criações imaginativas, dotadas de sensorialidade, marcadamente com a aparência de lembranças ou reminiscências que não correspondem a qualquer elemento mnêmico, a uma lembrança verdadeira). • Ocorre na esquizofrenia (atividade delirante) e outras psicoses e nos transtornos de personalidade. • Fabulação/confabulação: Alucinações de memória que ocorrem em quadros amnésicos de origem orgânica como no transtorno amnésico, na demência e no delirium. Seria o preenchimento de lacunas de memória. ◦ Ex: Um velhinho, internado há vários anos em um asilo, conta que foi visitado pelo filho na véspera, quando na verdade este não aparecia por lá há meses. ◦ Essas alterações compreendem lesões nos corpos mamilares, no núcleo dorsomedial do tálamo, assim como no córtex orbitofrontal. Déjà vu (já visto) e jamais vu (nunca visto): No déjà vu , o indivíduo tem uma sensação de familiaridade diante de uma situação (ou objeto) inteiramente nova, como se ele já a houvesse vivenciado anteriormente. No jamais vu ocorre o oposto: há uma ausência da sensação de familiaridade diante de uma situação já vivenciada uma ou mais vezes no passado. • Ocorrem na epilepsia do lobo temporal, na esquizofrenia, em síndromes de ansiedade e em pessoas normais. - Criptomnésia: Falha relativa ao reconhecimento como pretérito. Recordações voltam à mente do indivíduo, mas não são reconhecidas como tais, parecendo a ele ideias novas, criações originais suas. - É o mecanismo dos casos de plágio involuntário. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Ecmnésia: Distúrbio quanto ao reconhecimento como pretérito. Trata-se de uma presentificação do passado: a recordação é tão intensa, quase alucinatória, que o paciente se comporta como se o evento pretérito estivesse ocorrendo naquele momento, como se ele estivesse vivendo em uma época anterior de sua vida. • Ocorre em estados crepusculares histéricos e epilépticos, em estados de obnubilação oniroide, na intoxicação por alucinógenos e na demência. • O fenômeno denominado visão panorâmica da vida, associado às chamadas experiências de quase- morte, é, de certa forma, um tipo de ecmnésia, que ocorre geralmente associado à iminência da morte por acidente (sobretudo afogamento, sufocamento ou intoxicação). • Lembrança obsessiva/ideia fixa/representação prevalente: S urgimento espontâneo de imagens da memória ou conteúdos ideativos do passado que, uma vez instalados na consciência, não podem ser repelidos voluntariamente pelo indivíduo. • A imagem da memória, embora reconhecida como indesejável, reaparece de forma constante e permanece, como um incômodo, na consciência do paciente. • Ocorre em indivíduos com transtornos do espectro obsessivo-compulsivo. A memória nos principais transtornos mentais Mania Hipermnésia de evocação e hipomnésia de fixação (estado de hipotenacidade e hipermobilidade da atenção); hipomnésia lacunar (referente ao período de maior agitação maníaca); alomnésias (recordações sendo distorcidas em função das ideias deliroides de grandeza). Depressão Capacidade de fixação reduzida (desinteresse em relação ao mundo externo); • Hipomnésia de evocação (inibição psíquica é muito intensa); • Hipermnésia seletiva (facilidade para evocar fatos ruins, geradores de culpa); • Alomnésias (distorções das recordações no sentido de um conteúdo de tristeza, ruína ou culpa). Esquizofrenia • Hipomnésia de fixação (apatia e desinteresse quanto ao mundo externo ou um quadro de grande ansiedade e agitação); • Hipermnésia seletiva (fatos que possam confirmar seus delírios) • Hipomnésia (fatos que possam contradizer seus delírios); • Alomnésias ou paramnésias (lembranças podem ser distorcidas ou criadas). IANI SOARES LUZ XIII – MED Delirium - Hipomnésia de fixação (hipotenacidade) - hipomnésia lacunar (período do rebaixamento do nível de consciência); dificuldade de evocação adequada e organizada das lembranças. Demência - Hipomnésia de fixação; memória de evocação comprometida (segue a lei de Ribot); - Consciência do déficit mnêmico; - Alomnésias e paramnésias (fabulações); - Memória explícita alterada e memória implícita pode estar preservada; - Memória episódica costuma estar mais prejudicada do que a semântica. Transtorno amnésico - A principal causa de transtorno amnésico é o alcoolismo crônico (síndrome de Korsakoff). - No transtorno amnésico observam-se: hipomnésia de fixação, desorientação temporoespacial e fabulação. Os distúrbios de memória são os mesmos dos quadros demenciais. Retardo mental Memória de fixação afetada (dificuldade de apercepção); hipermnésia de fixação (hipertrofia de memória). Autismo - Ilhas de habilidades, as quais quase sempre incluem memória de fixação acima do normal. Epilepsia - Hipomnésia de fixação, hipermnésia de evocação, déjà vu e ecmnésia nos estados crepusculares epilépticos; amnésia lacunar (períodos de abolição da consciência). Transtornos dissociativos - Alterações de memória são reversíveis; amnésia pode ser seletiva, lacunar ou generalizada, em geral é retrógrada, embora possa ser retroanterógrada; ecmnésias (sonambulismo); amnésia psicogênica; paciente está lúcido e tem consciência de estar apresentando um distúrbio de memória; teatralidade (relação temporal com aborrecimentos e contrariedades). Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): Hipermnésia retrógrada em relação ao trauma; flashbacks dissociativos (ecmnésias); amnésia em relação a aspectos importantes do evento traumático. IANI SOARES LUZ XIII – MED Avaliação da memória Entrevista psiquiátrica- Em um simples diálogo com o paciente e na coleta dos dados da anamnese, já é possível ter uma estimativa razoável sobre a sua memória, especialmente, quanto a sua capacidade de evocação. - Observa-se se ele é capaz de precisar os detalhes dos fatos narrados e ordená-los cronologicamente. - Observação de como o paciente lida com as questões do dia a dia. Indicam um déficit mnêmico a perda frequente de objetos, a repetição sem crítica das mesmas ideias nos diálogos com as outras pessoas, a dificuldade de localizar o próprio leito na enfermaria ou de guardar o nome do médico, a desorientação no tempo e no espaço, e o falso reconhecimento de pessoas. Testagem da memória de fixação - São apresentados ao paciente, verbal ou visualmente, uma série de dígitos, palavras ou sílabas desconexas, que devem ser repetidos de imediato e, de novo, segundos ou minutos depois. - Entre a 1ª e a 2ª repetição, pode ser introduzida uma atividade interferente: solicitar que ele memorize uma 2ª série ou que realize um teste de concentração, o que afasta a informação inicial da memória de trabalho: • Teste de enumeração de objetos: São mostrados ao paciente desenhos de 12 objetos durante 20 segundos; algum tempo depois, pede-se que ele cite os objetos que viu. • Teste de memória lógica: Conta-se uma pequena história, com cerca de 15 itens (ou núcleos lógicos), ao examinando, que mais tarde deve repeti-la. Ao final, contam-se os itens recuperados. Testagem da evocação de dados recentes - São feitas perguntas como: “Quem é o presidente do Brasil?”; “Quem é o técnico da seleção brasileira de futebol?”; “O que apareceu no noticiário nos últimos dias?”; “O que você comeu ontem no almoço?”. Testagem da evocação de dados remotos - São feitas perguntas relativas a informações autobiográficas, cujas respostas devem ser confirmadas por algum familiar ou pelos registros do prontuário: “Quais são os nomes dos seus filhos?”; “Em que data o senhor se casou?”; “Qual era o nome da 1ª escola que o senhor frequentou?”. - São feitas também perguntas relativas a eventos de conhecimento público ou a fatos históricos, levando-se em consideração o nível educacional do paciente: “Em que ano o Brasil foi tricampeão mundial de futebol?”; “Quem foi o presidente do Brasil que se suicidou?”; “Quem foi Carmem Miranda?”. IANI SOARES LUZ XIII – MED Avaliação neuropsiscológia formal - Quando se faz necessária uma avaliação mais detalhada da memória, podem ser utilizados testes neuropsicológicos estandardizados, como o teste da figura complexa de Rey e alguns sub-testes da bateria Wechsler (dígitos nas ordens direta e indireta, aritmética, sequência de números e letras, completar figuras), entre outros. Validade da interpretação dos testes Na interpretação dos resultados dos testes, devem ser considerados fatores como ansiedade e desinteresse, que podem prejudicar o desempenho do paciente.
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