@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 9. A FORMAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA PSICOSSOMÁTICA E REFLEXÕES SOBRE A ÁREA DE ATUAÇÃO.Foi fundada em 11 de setembro de 1965, pela iniciativa de uma comissão organizadora formada por profissionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, entre eles: Abram J. Eksterman (RJ), Danilo Perestrello (RJ), Helláido Franscisco Capisano (SP), José Fernandes Pontes (SP), Milton Pecis Abramovich (RS), Oswaldo Arantes Pereira (RS), Precila Pinheiro (RS) e Wilhelm Kenzler (SP).Em seus dez primeiros anos, a presidência desta associação foi ocupada por Danilo Perestrello, autor de um dos livros mais usados como referência na área da Psicossomática no Brasil, chamado \u201cA Medicina da Pessoa\u201d, o qual é altamente recomendado para todos aqueles que estão interessados em tomar contato com o tema e se aprofundar em seu estudo.Segundo Riechelman (1998), o desenvolvimento da ABMP se deu em virtude dos seguintes objetivos:Difundir a visão psicossomática de ser humano.Divulgar o processo de saúde e doença como forma de humanizar o atendimento médico no Brasil.Apoiar, desenvolver, facilitar e divulgar pesquisas na área da medicina psicossomática.A associação hoje se caracteriza por uma atuação multiprofissional, contando com: médicos de quase todas as especialidades, psicólogos com diferentes abordagens, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros.Segundo Mello Filho (2003), a história da ABMP pode ser considerada vitoriosa, entretanto como grande parte das organizações institucionais enfrentou crises, dificuldades e passou por fases de pouca produção. Tais fatos repercutiram em críticas e reflexões sobre o seu desenvolvimento, bem como seus acertos e erros.Como já mencionado, a ABMP foi fundada por renomadas figuras da área médica advindas de Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, que se juntaram a importantes figuras de outros Estados, como Minas Gerais e Pernambuco, entre outros. Para Mello Filho (2003), Perestrello e Eksterman e Capisano e Miller foram as grandes personalidades que incentivaram o movimento da Psicossomática no Brasil, permitindo criar a Associação. Refere que a capacidade organizacional de Eksterman permitiu à Psicossomática tornar-se uma entidade física. Pouco depois da sua fundação, o próprio autor entrou para a ABMP. Dessa forma, considera-se que Psicossomática nasceu sob a base de uma amizade.Vale ressaltar que, em São Paulo, surgiu outro grupo muito ativo com os mesmos objetivos, liderado por Fernandes Pontes, que atua em clínica geral e é Professor de Medicina. É interessante assinalar que todos os profissionais que compunham ambos os grupos eram professores de Medicina e/ou psicanalistas.Conforme Mello Filho (2003), o primeiro problema que se apresentou foi a dificuldade na relação entre os dois grupos de São Paulo, situação esta que começou a melhorar após o Congresso no Rio de Janeiro, em 1982. Após este evento, o movimento se estruturou nas duas grandes capitais e, em seguida, em Porto Alegre com mais intensidade.A ABMP, em virtude da formação dos profissionais que a compunham, iniciou-se sob a influência da Psicanálise, inspirada pelas concepções (anteriormente mencionadas) de Freud sobre a histeria de conversão.Enfatiza-se que o movimento de divulgação dos estudos da Psicossomática foi iniciado na Psicanálise, pois na época somente esta possuía e propunha uma compreensão mais global da doença, além de fornecer instrumentos como a psicoterapia para a prática clínica.Ainda hoje, as teorias psicanalíticas continuam em voga na psicossomática institucional, como é o caso da Escola de Psicossomática de Paris (IPSO).Mello Filho (2003) aponta que com a finalidade de combater uma visão fortemente psicanalista que \u201crotulava\u201d pacientes que apresentavam determinadas doenças, como por exemplo, pessoas com doenças musculoesqueléticas eram arrogantes, o autor e o Dr. Abram e J. Eksterman, para evitar o efeito negativo que estas ideias poderiam ter nos psicólogos, opuseram-se à divulgação de palestras, congressos e outros eventos provindos do Dr. Chiozza, de Buenos Aires, que era o principal promotor destas concepções."Outras abordagens também merecem destaque pela sua difusão, entre elas a Psicossomática Junguiana, a qual tem como precursora a Dra. Denise Gimenez Ramos, no Brasil. Segundo Ferreira (2004), a Dra. Denise desenvolveu e introduziu no país um estudo de modelo psicológico em que os fenômenos devem ser observados como totalidades dinâmicas, evolucionárias e criativas dentro de uma concepção entre a problemática psique-corpo, situando-a no modelo científico-holístico da Psicossomática Junguiana."O próprio Mello Filho (2003) cita que o objetivo maior do movimento da Psicossomática é conquistar cada vez mais médicos em todo o mundo. Acredita-se que os estudos das teorias psicossomáticas funcionavam como uma espécie de complemento do curso médico, possibilitando uma formação integral do médico, visto que os cursos de medicina dominados ainda permeados por uma visão fortemente biomédica não ofereciam. Dentro das próprias universidades surgiram as disciplinas de Psicologia Médica para auxiliar a questão.Observa-se que, antes da década de 1980, os médicos eram seguidos tradicionalmente pelos psicólogos e enfermeiras. Os demais profissionais de saúde, não existiam como uma classe atuante no movimento; os dentistas e assistentes sociais, apesar de serem categorias organizadas funcionavam tradicionalmente apenas como apêndices médicos.Apesar da abertura para estudos que tentavam reintegrar a ideia de mente-corpo, todavia na medida em que a classe médica foi sendo sucateada pela previdência, Ministério da Saúde ou rede conveniada, não houve mais interesse em se melhorar a relação médico-paciente (uma das propostas da Psicossomática), passando o profissional a atender em consultas com duração de apenas dez minutos. Desse modo, poucos profissionais trabalhavam dentro de uma perspectiva psicossomática.Mello Filho (2003) relata que já teve grupos com 40 pessoas na UFRJ, na década de 60, possui dificuldades para formar turmas que possuam interesse em se aperfeiçoar na área da Psicossomática. Destaca que os enfermeiros estão procurando cada vez mais estudar o tema.Para ele, os enfermeiros estão se afirmando como classe, libertando-se do domínio que os acorrentava aos médicos, estão a cada dia mais tratando seus pacientes como pessoas globais e interessados pelos aspectos psicológicos de suas práticas. Atualmente, percebemos este movimento pelo alto número de pesquisas realizadas pela classe que envolvam temas relacionados com a Psicologia."Quanto aos psicólogos, Mello Filho (2003) coloca que a maioria ingressou na Sociedade de Psicologia Hospitalar, criada ao perceberem que tinham diante de si uma imensa casuística de pacientes psicossomáticos ou somatopsíquicos para tratar. A área da Psicologia Hospitalar tem crescido rapidamente, promovendo diversos cursos e congressos pelo Brasil, além de programas científicos de qualidade."Há um imenso campo em comum entre a Medicina e a Psicologia, sendo necessária uma abertura de diálogo entre ambas como entidades com muitos pontos de intersecção. Além dos outros campos profissionais que ainda não se organizaram como entidades psicossomáticas, mas que podem colaborar imensamente com o movimento, como os enfermeiros, assistentes sociais, odontólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Somente desta forma, irá se concretizar o ideal de transformar o movimento em verdadeira prática interdisciplinar.Mello Filho (2003) salienta que para o fato de que, de modo geral, profissionais como ele, que são altamente atuantes na área da Psicossomática, considerados por muitos como líderes, possuem personalidades narcísicas atuando dentro de um movimento no qual o narcisismo só atrapalha. No seu ponto de vista, todos que atuam nesta área precisam desenvolver muito senso de fraternidade e humildade para realizarem suas intenções com sucesso. Neste sentido, todos os psicossomaticistas devem procurar sempre refletir sobre os erros e acertos de suas condutas, reconhecendo e modificando os erros e aprendendo com os acertos, para que estes surjam também em outras circunstâncias. Acima de tudo, reconhecer o quanto se aprende com os pacientes e com os alunos, que têm muito a contribuir com uma visão abrangente sobre os assuntos.Mello Filho (2003) discorre também sobre a estrutura da ABMP. Explica que para facilitar a gestão, há um deslocamento da sede nacional para a cidade do presidente eleito, que funciona em consonância com o esqueleto que a sustenta, as regionais. De um modo geral, o presidente é aquele que mais se destaca, eleito por aclamação. Esse compõe uma diretoria com representantes dos vários Estados e com uma parte administrativa formada por nomes locais. A eleição é realizada bianualmente, na vigência de um congresso nacional que representa o ponto técnico-científico mais alto do movimento. A maioria dos presidentes foram médicos, pois as demais categorias estão ainda pouco representadas na ABMP, com exceção dos psicólogos.A princípio, o movimento organizava-se somente por meio da Diretoria Nacional, mas com sua expansão, houve necessidade da fundação de seções regionais que possibilitassem a construção de sedes extras nos diversos Estados e cidades do Brasil. Além do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, as primeiras regionais fundadas foram em Salvador e Presidente Prudente, por Abram Eksterman.Na presidência de Mello Filho, as regionais de Belém do Pará, São Luiz, Recife, Vitória, Londrina e Goiânia foram extintas. Frente à presidência da Regional do Recife, Samuel Hulak, organizou uma rede de regionais por todo o nordeste, abrangendo Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Aracaju e Natal esta última por um trabalho realizado por José Roberto Siqueira de Castro. Hulak também organizou o primeiro grande Congresso Nacional da ABMP em 1998, no Recife.Outra poderosa seção regional está localizada em Minas Gerais, em Belo Horizonte, gerada à custa da liderança de Geraldo Caldeira. Lá, ocorre um importante curso de formação em psicossomática e Caldeira tem um importante livro publicado sobre nossa matéria. Minas Gerais tem ainda duas outras regionais, a Sul Mineira, dirigida por Cacilda Maciel, com sede em Itajubá e a de Barbacena, sob a liderança de Sebastião Vidigal.A fundação de regionais depende imensamente da capacidade de liderança de um profissional de saúde em determinada cidade, de sua possibilidade de aglutinar pessoas e de organizar um ideário científico que mantenha estas pessoas unidas e em contínua participação. De modo frequente, há um núcleo dirigente em torno de cinco pessoas que organiza e sustenta o movimento. Este flutua muito em torno da vida pessoal do presidente e do núcleo dirigente, sendo vulnerável às crises e mudanças desse contexto. Possivelmente, estas são as maiores dificuldades que o movimento vem enfrentando, as flutuações das regionais. Em contrapartida, a direção nacional flutua com menos intensidade, pois seus membros, segundo Mello Filho (2003) são mais preparados para lidar com as contingências pessoais, grupais e ideológicas do movimento.Um dos principais problemas apontados pelo autor é a dificuldade de comunicação entre a sede nacional e as regionais. Menciona que no que se refere ao convívio institucional, há três entidades coirmãs: a Psicologia, a Psiquiatria e a Psicanálise. Com a Psicologia hospitalar, acredita que as carreiras são atualmente paralelas e precisa apenas haver mais interpretação. Já a Psiquiatria criou recentemente a chamada Interconsulta Psiquiátrica, fazendo com que alguns nomes da ABMP migrassem para exclusivamente esta área. Quanto à Psicanálise, parece que ainda há uma maior distância, visto que, na maioria das vezes, não reconhece a amplitude do movimento psicossomático. É preciso haver um real debate sobre esta situação de \u201cirmãos\u201d distantes num mesmo espaço contíguo. A fim de diminuir esta distância, foi criado o Conselho de ex-presidentes, órgão consultivo da Diretoria Nacional que opina em todas as decisões importantes, desde a escolha de nomes até nos impasses institucionais, e durante as eleições. Antes da criação do Conselho de ex-presidentes, assim que um presidente terminava sua gestão, esta permanecia em uma espécie de limbo, ou seja, ficava meio dentro, meio fora do movimento."Hoje, não há mais nomes \u201caposentados\u201d no movimento, pois há a ideia de aproveitar a experiência, a sapiência e a criatividade destes. A cada dois anos são realizados congressos intercalados com encontros de regionais em diferentes localidades do Brasil com o intuito de promover disseminação do movimento."Não há como negar como o movimento de psicossomática pulverizou-se entre os psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros, homeopatas, acupunturistas, terapeutas corporais, entre outros.Contudo, a divulgação e a disseminação do movimento, continua na maior parte por meio dos livros publicados por médicos como: \u201cA Medicina da Pessoa\u201d, de Danilo Perestrello; \u201cConcepção Psicossomática e Psicossomática Hoje\u201d, de Júlio Mello Filho e \u201cPsicossomática: Teoria e Prática\u201d, de Geraldo Caldeira.Os congressos realizados pela ABMP têm como foco apresentar temas a serem esmiuçados e temas secundários, que abrangem os principais tópicos da psicossomática na atualidade. Uma parte importante de cada congresso é dedicada à apresentação de temas livres.Mello Filho (2003) situa que em virtude da preocupação com a questão da divulgação do movimento e com a ideologia predominante na Associação já há muitos anos os dirigentes têm se reunido para discutir este problema. Para sancionar a dificuldade, foi então constituída uma comissão presidida por Eugênio Campos, que elaborou uma proposta de criação de um Curso Básico Nuclear (CBN). O curso é oferecido às regionais, privilegiando o modelo interdisciplinar como ideologia e prática. O ensino de psicossomática é feito basicamente por meio do estudo de casos clínicos, privilegiando as dimensões biológica, psicológica e social, por meio da atuação de um médico, um psicólogo e um assistente social.Outro tema que tem sido muito debatido nos últimos anos é o nome do movimento, as designações propostas no debate são: Associação Brasileira de Psicossomática e Associação Brasileira de Medicina Psicossomática e Psicologia Médica. No primeiro objetivava-se excluir o nome Medicina para facilitar as relações com outras áreas. E, no segundo, adicionar Psicologia Médica, considerada um importantíssimo campo de atividades. Contudo, foi decidido que a mesma nomenclatura seria mantida. A justificativa foi continuar mantendo a já conhecida identidade. Assim, apesar de ainda ser uma entidade pequena, o movimento difundido pela ABMP vem caminhando com diretorias comprometidas, dinâmicas e empreendedoras na área da Psicossomática.
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