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Semântica do Português62 Você sabia que existem vários tipos de semânticas? E que e outras que se referem à representação mental? A semântica que a sentença seja verdadeira, já na semântica argumentativa existe o interesse de o falante convencer o interlocutor de algo representacional são conhecidas como teorias mentalistas, ou representacionais ou ainda cognitivas. Sabe por quê? Por que elas não levam em consideração a referência de mundo, mas sim a representação mental e a percepção que o ser humano possui sendo algo referente à mente. Entendeu? Este é mundo que iremos atravessar nesta unidade. Vamos juntos? Semântica do Português 63 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências da semântica formalista, apontando situações concretas em que essa corrente se aplica; Caracterizar as bases conceituais da semântica argumentativa, contextualizando-a na literatura da Língua Portuguesa; a construção linguística na interação com o meio social; representacional e relacioná-la às teorias da linguística no estudo da Língua Portuguesa. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Semântica do Português64 Fundamentos teóricos metodológicos da semântica formalista OBJETIVO funciona a teoria da semântica formalista, como também conhecerá situações concretas em que essa corrente se aplica. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A semântica formalista Segundo Cançado (2008), a teoria da semântica formal se insere na teoria referencial, e seus estudos tem ascendências na da linguagem, que em algumas ocasiões também é chamado de referencial, que abordaremos. fundamental na intermediação entre a linguagem e a realidade, por isso é conveniente exigir uma teoria semântica que aborda essa relação linguagem-mundo. Conforme Pinto et. al. (2016 p. 20) “a semântica formal é Já Ferreira (2019, p. 1) explica que “a semântica formal é A semântica formal prioriza a função representativa Semântica do Português 65 com as relações referenciais ou mapeamentos, que existem entre a linguagem e o mundo, (segundo os realistas), ou entre a linguagem e as nossas representações do mundo, (os antirrealistas). De acordo com esta abordagem, todos os enunciados são considerados como sendo asserções ou atos da fala constatativos, e o conteúdo de um enunciado de verdade, suas condições de assertabilidade, que caracterizam o que o enunciado representa ou retrata (MEDINA, 2007, p. 12). Para Pinto et. al (2016), as línguas naturais são usadas para estabelecermos uma referencialidade, ou seja, falarmos sobre objetos, fatos, indivíduos, etc., caracterizados como externos à nossa língua. Este fato é considerado pela semântica formal como uma propriedade central das línguas. A referencialidade é vista como uma das propriedades essenciais das línguas humanas. é o tipo de situação que ela descreve e que a descrição destas situações possíveis é equivalente às condições de verdade relação entre a linguagem e aquilo sobre o que fala a linguagem. Fonte: Adaptado de Pinto et. al. (2016) Semântica do Português66 enunciado é, certamente, o conhecimento das suas condições de verdade. Assim, quando se conhece as condições de verdade de no mundo, aquela sentença pode ser considerada verdadeira ou falsa, esclarece Pinto et. Al (2016). de uma sentença é compreender as condições necessárias equivalente às suas condições de verdade. Quando se escuta uma pessoa dizendo: “Tem um rato na em que ocasiões a expressão mencionada poderá ser considerada verdadeira. Assim, esse conhecimento é semântico por natureza, OBSERVAÇÃO A semântica formal se agarra no fato de que, quando não conhecemos as condições nas quais uma expressão for verdadeira, al. (2003). Assim, as sentenças de uma língua natural possuem vínculos que fazemos entre linguagens e realidade, menciona Ferreira (2019). Cançado (2008) esclarece que os traços mais contínuos que percorrem a semântica formal durante toda a sua evolução Semântica do Português 67 consistem: no foco dos aspectos de condição de verdade do centralidade metodológica do Princípio da Composicionalidade. Vejamos cada um desses conceitos em separado. Observe a seguinte sentença: O céu é azul. Para entendermos esses aspectos, devemos agora perguntar quais as condições para que essa sentença seja verdadeira ou seja falsa. Dessa forma, teremos: A sentença o céu é azul só é verdadeira se, e somente se, o céu é azul. método aceitável associar as condições de verdade a um Um homem pulou o muro. normalmente atribuídas a um homem (sexo masculino, adulto) fez um movimento para ultrapassar um obstáculo, chamado muro, e assim por diante. Contudo, caso perguntássemos em que situações poderíamos aceitar essa expressão como sendo verdadeira, possivelmente possuiríamos a seguinte resposta: essa expressão será verdadeira quando houver uma pessoa, com as características normalmente atribuídas a homem (sexo o muro (Figura 2), etc. Assim, ao caracterizarmos as condições que deve existir para que uma sentença seja verdadeira no mundo, Semântica do Português68 Figura 2- Ultrapassar o muro Fonte: Pixabay Cançado (2008) ainda descreve um segundo ponto no qual é necessário esclarecer que conhecer as condições de verdade de uma sentença não é igual a saber se a sentença é verdadeira ou falsa, pois muitas vezes sabemos em que condições a sentença seria verdadeira, mas não saberemos, de fato, se ela é verdadeira ou não. Exemplo: O número de grãos de aveia dentro desta caixa está na casa dos trezentos mil. Você iria contar quantos grãos de aveia existe nesta caixa para saber se esta sentença é verdadeira? Determinar em que condições esta sentença é verdadeira é um método fácil, pois a sentença será verdadeira se, e apenas se, o número de grãos de aveia da caixa estiver realmente na casa dos trezentos mil. Já a verdade ou falsidade da sentença vai depender de contarmos os grãos de aveia, o que seria uma tarefa quase impossível. Dessa forma, podemos saber quais as condições em que uma sentença é verdadeira, sem sabermos, de fato, se ela é verdadeira ou não, destaca Cançado (2008). Semântica do Português 69 ligado às condições de verdade da sentença e não, à sua verdade IMPORTANTE Teoria de modelos em semântica Cançado (2008) explica que quando queremos representar um sistema muito complexo e não sabemos como fazê-lo, acabamos construindo um outro sistema mais simples e que tenha as características semelhantes com as do sistema complexo que se almeja analisar, e que, deste modo, sirva de modelo para o estudo desse sistema mais complexo. Posteriormente, elaboramos uma teoria para o sistema-modelo mais simples e aplicamos a mesma teoria ao sistema complexo. Caso os resultados apresentem-se, de modo razoável, positivos em relação ao sistema complexo, podemos dizer que o sistema simples é um bom modelo. Mas caso apresentem de forma negativa ele não serve como modelo, devendo ser abandonado este sistema simples. Oliveira (2008) destaca que os seguidores dessa corrente de pensamento utilizam fenômenos linguísticos a partir de noções lógicas, algébricas, aproximadamente. Tratando-se, assim, de um plano direcionado a empregar as técnicas da semântica formal à análise das línguas naturais. Como esses métodos compreendem muita álgebra e lógica, a semântica formal deixa muitos estudantes e professores da área de Letras, que preferem estudar os fenômenos semânticos sob o enfoque da linguística Semântica do Português70 Cançado (2008) cita como exemplo o caso das línguas naturais, pois podemos imaginar que estudar a sintaxe e a semântica das linguagens formais pode servir de modelo para o estudo das línguas naturais, visto que as duas são linguagens que têm características comuns, e como a linguagem formal é mais simples do que a língua natural,ela pode servir de modelo para a língua natural. A aceitação de uma teoria de modelos para a linguagem natural se confronta com o estudo da linguagem como uma entidade psicológica (CANÇADO, 2008). Assim, o método dos semanticistas formais tem sido esse, ou seja, sugerir modelos bastante simples das linguagens formais e tentar interpretar neles o maior número possível de sentenças das línguas naturais. À medida que os modelos se revelam inadequados, eles vão sendo substituídos por modelos mais complexos que satisfaçam os fatos que revelaram a inadequação dos modelos anteriores, informa Cançado (2008). Princípio da Composicionalidade De acordo com Oliveira (2012), quando um falante condições de verdade, mas também sabe compô-la e decompô- la. Ferreira (2019) explica que além de depender do da sentença depende também da maneira como esses itens se encontram organizados a sentença. em ilimitadas sentenças nas quais ela pode acontecer, explica Oliveira (2012). Semântica do Português 71 Exemplo: Choverá amanhã, Choveu na quarta-feira. (Figura 3) de uma sentença e soubermos as regras para encaixá- las em unidades mais complexas, então poderemos elaborar e explicar por que determinadas interpretações não são possíveis. Fonte: Adaptado de Cançado (2008) A composicionalidade demonstra o caso de que um falante complexa é o resultado de uma composição de suas partes, informa Oliveira (2012). A composicionalidade ilustra a criatividade, a capacidade de estarmos a todo momento construindo e interpretando sentenças que nunca ouvimos antes, destaca Oliveira (2012). Semântica do Português72 Segundo Oliveira (2012), Chomsky, com a obra Syntactic Structures no ano de 1957, foi o primeiro, na linguística, a demonstrar que os falantes são criativos, porque produzem e interpretam sentenças sem nunca terem ouvido antes. Essa situação, aparentemente tão comum, contrariou tanto as teorias comportamentais da aprendizagem (que acreditam que as línguas humanas são aprendidas por estímulo e resposta) quanto as teorias estruturalistas sobre a linguagem humana (que entendiam, mais ou menos, que a linguagem era um conjunto de combinação, que são recursivas, ou seja, de forma repetida são aplicadas, em diferentes situações. Importância da semântica formal Cabe ainda destacar que de acordo com Cançado (2008) existem críticas relacionadas à abordagem formal, sendo uma delas a de que, muitas vezes, essas teorias atendem apenas a uma pequena parte da língua, a tipos bem particulares de dados. Contudo, é fundamental enfatizar a relevância de se entender essa concepção formal. A primeira é que as outras teorias semânticas constituíram- se a partir da semântica formal, às vezes, tentando resolver problemas que esse modelo não resolvia, ou mesmo, sugerindo modelos alternativos. Por isso, é necessário conhecermos a base, isto é, a semântica formal, pois é de onde outras modelos surgiram, informa Cançado (2008). Uma segunda razão é que os pontos mais analisados sobre formal (Cançado 2008). Semântica do Português 73 Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a semântica formal está relacionada com a teoria referencial e que ela faz a intermediação entre a linguagem e a realidade do mundo, e nesta perspectiva, o aquilo sobre o que fala a linguagem. Viu também que os traços contínuos da semântica formal são o foco dos aspectos de às condições de verdade da sentença e não a sua verdade ou falsidade; a teoria de modelos em semântica, na qual se constrói um sistema simples com características de um sistema complexo para servir de modelo de estudo e que este só será um bom modelo se apresentar resultados positivos em relação ao sistema complexo; e o princípio da composicionalidade que acontece ou suas condições de verdade, mas sim quando sabe compô- semântica formal que serviu de base para outras teorias e os DEFINIÇÃO Semântica do Português74 Bases conceituais da semântica argumentativa Neste capítulo iremos caracterizar as bases conceituais da semântica argumentativa, demonstrando seus principais pontos e contextualizando-a na literatura da língua portuguesa. Vamos juntos? OBJETIVO A semântica argumentativa Conforme Cançado (2008), a semântica argumentativa surgiu como uma alternativa à semântica formal, através dos trabalhos de Ducrot. Para esta autora o conceito dessa linha teórica é que as sentenças são faladas como parte de um discurso em que o falante tenta convencer seu interlocutor de uma hipótese qualquer, ou seja, não se usa a linguagem para falar algo sobre o mundo, mas para convencer o ouvinte a entrar no jogo argumentativo. A importância da semântica argumentativa está baseada na argumentação utilizada na sentença. Falando assim, parece um pouco óbvio não é mesmo? Vejamos alguns conceitos para entendermos melhor. Para Pinto et. al (2016) a semântica argumentativa também é chamada de enunciação e considera o enunciado como fundamento prioritário da informação a ser transmitida, e entende que é a intencionalidade do falante que demonstra a Semântica do Português 75 enunciados que tenham por traço constitutivo a pretensão de argumentar, explica Koch (2002). O conceito amparado nessa teoria é a de que existe interesse em tirar proveito de categorias descritivas que se relacionam mais ao possível uso na interação dos falantes/ouvintes, e menos no que diz respeito à sintaxe ou ao conteúdo objetivo da sentença, informa Cançado (2008). Nessa abordagem, as condições de verdade de uma sentença não possuem relevância. De acordo com Abrahão (2008), Ducrot entende como a função primeira da linguagem sendo a de argumentar e, da argumentação, decorre um conjunto de descrições através argumentativa. No processo de enunciação, um sujeito procura na língua os elementos que levanta um argumento e o liga a uma conclusão, encontrada no mundo do objeto que se fala, para produzir o enunciado. Argumento e conclusão (Figura 4) têm as orientações oferecidas pelo falante a um ouvinte para estabelece a teoria da argumentação na língua, um enunciado diz para o ouvinte procurar no mundo os sentidos colocados pela fala, respeitada a semântica produzida no texto, nesse caso, o próprio texto produzido pela fala. Figura 4- Argumento e conclusão Fonte: Adaptado de Abrahão (2008) Semântica do Português76 Um encadeamento argumentativo constitui apenas um enunciado, assim o argumento só é compreendido a partir da conclusão. Dessa forma, quando utilizamos adjetivos como bonito e feliz estaremos procurando na língua argumentações positivas e os termos utilizados estabelecem um encadeamento menciona Abrahão (2008). Existe uma intrínseca relação entre argumentação e intencionalidade pois o texto argumentativo é aquele produzido com a intenção de fazer crer, fazer alguma coisa ao outro, expõe Capistrano Junior, Elias e Lins (2017). Cançado (2008) ainda esclarece que na observação perante uma perspectiva argumentativa uma mesma sentença pode ter portanto, os limites entre semântica e pragmática. OBSERVAÇÃO Comumente, as noções que tenham envolvimento em análises dessa linha teórica se referem à classe argumentativa, força argumentativa, escala, etc., revelando-se de grande interesse na Língua (Cançado 2008). Capistrano Junior, Elias e Lins (2017) destacam que os ensinamentos de Ducrot nos põem perante o processo de escolhas envolvido na produção de discursos e do papel decisivo da língua nesse processo. São inseridos nesse processo temas relacionados ao texto, à língua e à argumentação, que, acredita- se representar um forte elo entre a Linguística Textual e a Teoria da Argumentação na língua. Evidencia-se que, ainda que Ducrot dedique seus estudos aos fenômenos internos à língua, os conceitos desenvolvidos pela Semântica do Português 77 Teoria são essenciais para o estudo ea compreensão de textos, pois a dedicação de Ducrot baseia-se, principalmente, ao estudo de palavras da língua cujos empregos não resulta em informar, mas sim argumentar. Os estudos linguísticos, na perspectiva de Ducrot, relaciona-se com a argumentação na língua, menciona Capistrano Junior, Elias e Lins (2017). É essencial que, ao elaborar nossos textos, sejamos conscientes das possibilidades que a língua oferece para marcar uma tomada de posição, para que possamos empregar essas Lins (2017). A ideia que submete à Teoria da Argumentação na língua (Figura 4) proposta por Ducrot é que, na construção de um texto, a escolha de cada palavra tem efeitos sobre as demais. Isso quer dizer que nada pode ser aleatório no texto, todos os elementos que compõem a textualidade concorrem juntos para a construção de sentidos orientando argumentativamente em determinada direção, segundo Capistrano Júnior, Elias e Lins (2017). Figura 5- Teoria da Argumentação da língua Fonte: Adaptado de Capistrano, Elias e Lins (2017). A Teoria da Argumentação, ao observar os encadeamentos possíveis na língua de acordo com Ducrot, dedica-se a palavras que não estão destinadas a trazer informações, mas a indicar uma relação entre o locutor e a situação, ou que guiam a direção argumentativa dos enunciados. Por esse motivo, a Teoria da Semântica do Português78 Argumentação na língua interessa-se especialmente pelos conectores, descreve Capistrano Junior, Elias e Lins (2017). Para Abrahão (2008), Ducrot demonstra em sua teoria que os conectores, em seu conjunto, podem ser reunidos em respectivamente a norma e a exceção. Observe que poderemos utilizar diferentes conectores entre um argumento e uma conclusão. Contudo, a conclusão deve ser organizada a partir de argumento é possível, ao qual Ducrot chama de topos. Exemplo: Que dia lindo. Não chove Está quente Vou passear Assim, quando usamos essa expressão ela somente se fará possível em um lugar em que não chover é bom, fazer calor é bom, nos permite passear. Dessa forma deveremos usar o A não ser que os dias lindos (Figura 6) deixe alguém infeliz, não é mesmo? Figura 6 - Dias lindos Fonte: Pixabay Semântica do Português 79 Capistrano Junior, Elias e Lins (2017) destacam que Ducrot observa também diferentes possibilidades do conector, um segmento do texto que vem antes e outro que vem depois. Para Espindola (2004), existem dois tipos de operadores que são os conectores argumentativos no qual os elementos que articulam os enunciados de maneira a determinar a sua orientação argumentativa; e os operadores argumentativos que possuem a função de inserir argumentatividade na estrutura semântica das frases. Koch (2012) foi quem deu tratamento especial aos Operadores argumentativos que indicam o argumento mais forte e que dirigem o sentido para a conclusão – até, mesmo, inclusive, até mesmo; Operadores argumentativos que incluem argumentos ainda, não só...mas também, nem, além de..., além disso..., a par de, e..., etc.; Operadores argumentativos introdutores de uma conclusão relativo a um argumento já mostrado – portanto, por conseguinte, logo, pois, desta forma, destarte, etc.; Operadores que inserem argumentos alternativos que podem induzir a conclusões opostas ou diferentes – ou, ou então, seja...seja, quer...quer, etc.; Operadores argumentativos comparadores, que buscam uma certa conclusão – mais que, menos que, tão...como, tanto quanto, etc.; ou explicações de enunciados – pois, porque, já que, etc.; Semântica do Português80 Operadores argumentativos que constituem uma contraposição de argumentos dirigidos para conclusões opostas – mas, porém, entretanto, contudo, no entanto, etc., embora, apesar de que, ainda que, etc.; Operadores argumentativos que introduzem conteúdos pressupostos – já, ainda, agora, etc. Outro ponto importante que precisa ser mencionado é o interesse pela polifonia e pela pressuposição. Vejamos cada um deles com detalhes. Polifonia e Pressuposição para um mesmo enunciado emitido pelo locutor, aparecem vozes Pinto et. al. (2016) descreve que a polifonia foi introduzida a presença de textos dentro de um texto, causada pela inclusão do autor num contexto que já inclui antecipadamente textos deixa enxergar outras vozes. Mas o que são vozes? Pinto et. al. (2016, p. 22) explica que para Bakhtin o termo voz se refere “à consciência do falante, que marca presença O conceito de polifonia para a linguística foi trazido por Ducrot defendendo que o autor do enunciado nunca se expressa diretamente, mas apresenta diferentes personagens linguísticos. Dessa forma, é informado pelo enunciador que André antes lia e agora não lê mais. Sendo uma espécie de diálogo imaginário, Semântica do Português 81 no qual o enunciador se questiona se André parou de ler e se ele antes lia, ilustra Pinto et. al. (2016). Segundo Pinto et. al. (2016), a pressuposição compreende uma relação entre a verdade de sentenças. Um enunciado pressuposto é algo que pode ser deduzido a partir de um conhecimento prévio do interlocutor. É condição para que novas informações possam ser envolvidas. Exemplo: Alice desistiu de viajar para Paris. A partir dessa sentença pode-se pressupor várias informações que devem ser conhecidas para que seja estabelecido o sentido. Como por exemplo: Alice é uma pessoa conhecida entre as pessoas que conversam, Alice possui condições pensando em ir, etc. A semântica argumentativa na literatura da língua portuguesa Para Abrahão (2008) existe um aspecto particular proposto por Ducrot no qual faz referência à relação entre a poesia e a argumentação, descrevendo-as como contrárias, pois, a poesia trata-se de um esforço em expressar pontos de vista pessoais apresentados como pessoais. Assim, para ele o poeta expressa sentimentos com a pretensão de apresentá-los como unicamente seus. Demonstrando assim uma oposição à ambição do argumentador no qual procura aparecer o que disse como se fosse a reprodução de uma crença geral. o que diferencia os discursos poético e literário de discursos argumentativos, um dos argumentos usados é o de que a poesia (ou a literatura em geral) se trata de um discurso irracionalista (ou seja, que não apresenta razões para dizer as coisas que diz), combinado em efeitos de estilo. Sendo a diferença primordial a do Semântica do Português82 papel que versos e formalizações de argumentos desempenham nas nossas vidas. a conversação cotidiana ou a interação didática, compreende uma dimensão argumentativa, que pode ser mais ou menos compreensível. A capacidade de orientar a visão do público ao se submeter de uma forma mais ou menos diretiva um objeto relato literário. De acordo com suas próprias modalidades, abre ou orienta um debate, revela ou esclarece uma problemática. A sem propor uma solução unilateral, pois a interrogação, o exame não decisivo das contradições, a manifestação das tensões e a complexidade podem se transformar em parte integrante da dimensão argumentativa do relato literário. IMPORTANTE Nessa perspectiva, a análise argumentativa não é empregada somente aos textos que tentam fazer aceitar uma tese bem descreve Amossy (2016). A análise argumentativa se situa no cruzamento da retórica – que se vincula à arte da persuasão – e da pragmática, que estuda as interações verbais. A se acrescenta a narratologia, que analisa a questão das vozes narrativas, e se completa com uma teoria da leitura. Consequentemente, é importante elaborar uma aproximação que permita combinar Semântica do Português 83 e integrar as contribuições dessas diversas disciplinas. (AMOSSY, 2016 p. 11). O público estabelecido pelo discurso argumentativo no diferentes níveis da enunciação. Vai desde o personagem a quem se dirige um protagonista até o leitor possível que o autor considerou, passando pelo narratário a quem se dirige o discurso do narrador principal. Mesmo existindo coincidênciaentre este enfoque com o das teorias da leitura, ele se diferencia delas porque estuda o impacto do discurso, ou seja, as estratégias que se renovam para agir sobre o público, esclarece Amossy (2016). Assim, mais que analisar o ato da leitura como ativação de semiótica, da teoria do efeito estético ou da estética da recepção, a análise argumentativa se interessa sobretudo pela maneira como a imagem do público forma um discurso que procura Amossy (2016). E então? Gostou do que lhe mostramos? Neste capítulo você deve ter compreendido que na semântica argumentativa o falante tenta convencer o seu interlocutor de uma situação qualquer convencendo o ouvinte a entrar no jogo argumentativo. Que o enunciado é fundamento prioritário da informação a ser transmitida e existe uma relação intrínseca entre a argumentação e a intencionalidade. Viu também que no processo de enunciação o sujeito procura na língua os elementos que levanta um argumento e o liga a uma conclusão e que para a Teoria da Argumentação na língua a escolha de cada palavra tem efeitos sobre as demais na construção de um texto. Conheceu também os operadores argumentativos, a polifonia e a pressuposição como argumentativa na literatura da língua portuguesa. Semântica do Português84 A semântica cognitiva e a sua relação com a contração linguística e com o meio social OBJETIVO suas principais características e relacionando-a com a contração linguística e com o meio social. Vamos nessa? A semântica cognitiva Segundo Pinto et. al. (2016), a semântica cognitiva foi 1980, provocada de forma parcial pela inspiração no fenômeno precisa de vários outros critérios, para ser dado de maneira decisiva. A linguística cognitiva estabelece que a gramática não pode ser mais vista como um conjunto de regras que opera sobre categorias de palavras ou de sentenças, mas sim um conjunto de princípios gerais e processuais, que opera sobre bases de Antes de conhecermos o conceito de semântica cognitiva, vamos começar entendendo o que é cognição. O termo cognição geralmente é empregado para determinar algo referente à mente ou à percepção que o ser humano tem, resultante de sua interação com o mundo, descreve Pinto et. al (2016). Semântica do Português 85 Assim, a semântica cognitiva aborda a comunicação como elemento decorrente da interação do sujeito e o seu contexto do conhecimento de mundo, ou seja, procura descrever a funcionalidade da língua no processo comunicativo, lado a lado a uma representação de mundo em movimento, dirigida para o dinamismo mental, no processo de construção do pensamento, explica Pinto et.al. (2016). “O objeto de estudo da Semântica Cognitiva é a relação entre o sentido das palavras e das sentenças as capacidades 2017 p. 21). A língua apresenta-se como um instrumento empregado para expressar pensamentos e interagir em sociedade, expõe Chiavegatto (2009). Conforme Cançado (2008) a semântica cognitiva considera que o pensamento (Figura 7) é organizado por esquemas de imagens, mapeando domínios conceituais diferentes. Atribui- se a ampliação de conceitos temporais para outros campos semânticos, em uma relação metafórica. Figura 7- Pensamento Fonte: Pixabay Semântica do Português86 Mas o que são esquemas em imagens, você sabe? Os esquemas em imagens relacionam-se aos conhecimentos mais simples de nossa experiência, que são estruturados em imagens esquematizadas, disponíveis para serem utilizadas em diferentes âmbitos explana Chiavegatto (2009). Perceba a seguinte situação: Quando falamos que alguém é unha e carne com outra pessoa ou que as atitudes que adota com pessoas são do tipo fazer barba, cabelo e bigode, estamos deixando perceber operações mentais complexas, que projetam conhecimentos entre domínios linguísticos, cognitivos e interacionais. Associamos o nosso conhecimento da língua à nossa vivência de mundo sobre unhas e sua junção à carne ou ainda sobre irmos ao barbeiro e saímos com nova aparência após termos cortado os cabelos, feito a OBSERVAÇÃO Esses conhecimentos obtidos na vida social e na cultura a que fazemos parte, são projetados entre domínios diferentes, o do corpo e o dos relacionamentos, e dessas correspondências novos Cançado (2008) cita o seguinte exemplo: João gastou seu tempo com Maria. Essa sentença seria metafórica segundo a autora, pois a interpretação do tempo nessa sentença é de algo que se gasta, ou seja, de um objeto que pode ser consumido, assim, a interpretação dessa sentença seria a manifestação de um mapa cognitivo que conduz a noção do tempo (Figura 8) para uma noção de objetos consumíveis no tempo. Semântica do Português 87 Figura 8- Tempo Fonte: Pixabay Maia e Santos (2019) consideram interessante observar a Filológica na compreensão da mudança semântica pois as duas assim como pelos mecanismos implícitos à mudança semântica e a polissemia, como a metáfora e a metonímia. Neste âmbito, metáfora e metonímia não se reduzem à estilística, pois antes, são mecanismos cognitivos que fazem Existem metáforas que são comuns no nosso dia a dia e que permitem o surgimento de expressões linguísticas que apresentam a forma como entendemos certas situações do mundo, menciona Pinto et. al. (2016). Quando se estuda a semântica cognitiva, a metáfora e a metonímia trabalham no mesmo nível cognitivo, não existindo assim, superioridade de uma em relação à outra declara Pinto et. al 2016. Semântica do Português88 A metáfora acontece quando propriedades de um determinado domínio são atribuídas a outro domínio, já a metonímia ocorre com a substituição de um termo por outro quando ambos pertencem ao mesmo campo lexical, explica Cançado e Amaral (2017). Vejamos alguns exemplos que estas autoras citam: Exemplo: O vestibular abre muitas portas – trata-se de uma metáfora; Esse professor é muito difícil. – Neste sentido a palavra professor pode indicar a disciplina ministrada pelo professor, tratando-se assim de uma metonímia. A mudança semântica envolve necessariamente também princípios gerais e mecanismos de cognição humana como a categorização, a prototipicidade, a metáfora e a metonímia operações de perspectivação conceptual, como os estudos diacrônicos da semântica cognitiva têm demonstrado (MAIA; SANTOS, 2019, p. 97). Dessa forma, para a semântica cognitiva, é de suma importância considerar os fatores extralinguísticos, na construção de sentidos, pois nessa abordagem, a língua está associada ao processo perceptivo do indivíduo, assim, a linguagem colabora para nossa percepção e conhecimento do mundo, demonstra Pinto et. al. (2016). Categorização e diferenças percebidas que existem entre certas entidades, ou entre certas eventualidades, ou até mesmo entre determinadas relações, de modo a reuni-las em diferentes grupos. Semântica do Português 89 A categorização é essencial para compreendermos a representação e Viotti (2009). IMPORTANTE Se não possuíssemos essa capacidade de agrupar vários aspectos de nossa experiência em categorias constantes, nossa experiência seria desordenada, e nós não conseguiríamos aprender nada a partir dela. É exatamente porque somos capazes de agrupar elementos de nossa experiência em categorias, que e que nós podemos acessar nosso conhecimento sobre eles, lembra McCleary e Viotti (2009). Quando enxergamos dois animais pela primeira vez e reparamos que eles são bastante semelhantes, criamos uma categoria para agrupar esses dois animais. Ao criarmos a categoria, também será criado um conceito, ou seja, uma imagem que nos ajudará a reconhecer esses animais, e que nos ajudará a fazer uma distinção entre esses animais e outros animais diferentes deles. Depois de criada essa categoria e esse conceito, incluiremos dentro dela todos os animais que apresentam alguma semelhança com os que vimos primeiro, ou seja, uma vez criada a categoria e o conceito, vamos passar a categorizar certos animais como membros dessa categoria,Prototipicidade McCleary e Viotti (2009) esclarecem que nesse modelo as categorias são estruturadas a partir dos exemplares que primeiramente vêm à mente de um grande número de pessoas, Semântica do Português90 quando perguntadas sobre qual seria um exemplo de membro daquela categoria. Esses melhores exemplares são chamados protótipos, assim, os protótipos são os elementos centrais de uma categoria. De acordo com Chiavegatto (2009), enquanto nas categorias tradicionais os elementos que a ela pertencem possuem todos os traços que a integrem na categoria, nas categorias prototípicas (Figura 9) há um membro básico ou central, que contém todas as características da categoria, e membros mais secundários, que perdem alguns dos traços da categoria, distanciando-se em maior ou menor escala do membro central ou prototípico. Figura 9- Categorias prototípicas Fonte: As autoras Exemplo: Na categoria aves, fazem parte os pardais, as galinhas e os papagaios. O membro prototípico, ou central, seria o pardal, pois tem penas, voa e pia (características básicas da categoria). No entanto, a galinha anda e não voa; o papagaio fala, mas não pia. Mas, como têm penas e são constituídos de aves, (2009). Semântica do Português 91 Faz-se necessário entender que conforme McCleary e Viotti (2009), em princípio, não há nenhuma regra sobre quanto um elemento pode se distanciar do protótipo e mesmo assim ser considerado um membro da categoria. Algumas pessoas podem ser mais observadoras do que outras e encontrar semelhanças entre o elemento e o protótipo que passam despercebidas por outras pessoas. Essas pessoas mais observadoras vão inegavelmente incluir o elemento na categoria; as outras pessoas vão inclinar-se a deixá-lo de fora. Cabe ainda destacar que McCleary e Viotti (2009) informam que a escolha dos melhores exemplares de uma categoria apresenta importantes correspondências com certos aspectos de nossa cognição. Essas correspondências são chamadas efeitos de protótipo, sendo dois dos efeitos de protótipo citados na literatura: quando solicitamos às pessoas que façam uma lista dos membros de uma determinada categoria, os melhores exemplares da categoria irão aparecer no topo da lista; Exemplo: Quando pensamos na categoria FRUTA, em um país como o nosso, o elemento ‘maçã’ geralmente aparece em primeiro lugar. as crianças inclinam-se a pegar primeiramente as palavras que se referem aos membros prototípicos de uma determinada categoria; dessa forma, crianças brasileiras tendem a adquirir a palavra maçã antes da palavra damasco, por exemplo. - mentos bastantes produtivos e constantes de mudança semasi- ológica no sentido de um maior envolvimento do locutor pela no sentido de maior destaque da relação entre o falante e o ou- - Semântica do Português92 dade reúnem a atitude ou pensamento do falante, os marcadores de intersubjetividade reúnem a atenção do locutor para o seu interlocutor, segundo Maia e Santos (2019). As autoras (Maia e Santos, 2019) citam como exemplo as expressões eu acho, eu penso, eu suponho, creio, as quais podem ser empregadas tanto para demonstrar a subjetividade do locutor, OBSERVAÇÃO e os marcadores de delicadeza, destaca Maia e Santos (2012). A subjetivação é, então, o processo pelo qual uma entidade outro elemento do ato de fala) deixa de ser um observador externo e passa a fazer parte do conteúdo de explicação, explica Maia e Santos (2019). Modelos Cognitivos Para Maia e Santos (2019), os mecanismos sociais da mudança semântica é uma contribuição bem menos desenvolvida comparada às demais. Trata-se da natureza intrinsecamente social do processo de tornar a semântica convencional, e compreende prósperas áreas de investigação como a onomasiologia pragmática, a sociolinguística cognitiva, e o modelo evolucionista da mudança linguística. As autoras destacam o modelo evolucionista de Croft no qual mostra como o uso da língua é ambiente conveniente da Semântica do Português 93 mas os falantes que alteram as línguas através das suas ações linguísticas. Assim como a alteração linguística é um processo de etapas, tal como o é a evolução: a etapa da argumentação e a etapa da seleção ou propagação de alguma das novas variantes linguísticas criadas, demonstra Maia e Santos (2019). uma categoria linguística necessitam de determinadas estruturas de conhecimento sobre o domínio ou domínios da experiência a que essa categoria está relacionada. Refere-se a um conhecimento individualmente idealizado, ou seja, um modelo cognitivo, e de forma interindividual dividido pelos membros de um grupo social, ou modelo cultural. É no cenário dos respectivos modelos cognitivos e culturais que, para a linguística cognitiva, as categorias linguísticas podem ser adequadamente caracterizadas (OLIVEIRA, 2012). Neste sentido, faz-se necessário entendermos o que são os modelos cognitivos idealizados. Para Oliveira (2012), os modelos cognitivos idealizados (MCI) são estruturas através das quais nosso conhecimento de mundo está organizado. São conjuntos de conhecimentos guardados na memória pessoal ou social que se formaram historicamente como uma herança da espécie humana, ou seja, é um conjunto de informações que o homem aprendeu a dividir. Por exemplo, na nossa cultura aprendemos que precisamos nos comportar em velórios com respeito, pesar, usar roupas pretas, não rir ou contar piadas. Esse conjunto de informações aprendemos socialmente e dividimos. Qualquer passagem de informação indica trazer da memória esses conhecimentos, explica Oliveira (2012). É essencial para a compreensão de tudo que lemos ou ouvimos, além de ser importante para a cognição humana, no sentido de que ajuda na organização da enorme quantidade de Semântica do Português94 informações que adquirimos diariamente. Tudo se relaciona a domínios semânticos, que é a forma como organizamos nosso conhecimento e compreendemos novos conceitos, esclarece Oliveira (2012). Os modelos cognitivos (domínios) têm limites indeterminados e tendem a integrar-se em redes (OLIVEIRA, 2012). Quando falamos praia (Figura 10), o que vêm na sua mente? contextos e situações, pode ser práticas de esportes, azaração, reunião de amigos, etc.; e está relacionado a outros modelos cognitivos, como por exemplo os do sol, das férias, da areia, da pesca, etc., informa Oliveira (2012). Figura 10 - Praia Fonte: Pixabay Alguns modelos cognitivos são apenas culturais. Oliveira (2012) cita o seguinte exemplo: sexta-feira é... Semântica do Português 95 o dia seguinte à quinta-feira e o sexto e penúltimo dia da semana no calendário ocidental e cristão; ocidental, é o dia da “saidinha depois do trabalho para o Os modelos cognitivos sobre um dado objeto ou situação podem discordar de cultura para cultura como menciona Silva (1997). Este autor cita o exemplo do protótipo de escrivaninha que, para os europeus a escrivaninha prototípica tem uma determinada altura, porque nela se escreve sentado numa cadeira, e tem gavetas, porque serve também para guardar documentos pessoais e outras coisas, já para os chineses e japoneses é bem diferente pois ela caracteriza-se pela ausência destas duas propriedades, já que eles realizam o ato de escrever sentados no chão, com as pernas cruzadas. E agora? Aprendeu mesmo tudinho? Neste capítulo você deve ter entendido que a semântica cognitiva procura descrever a funcionalidade da língua no processo comunicativo, dirigida para o dinamismo mental em um processo de construção do pensamento, no qual esse pensamento é organizado por esquemas de imagens mapeando domínios conceituais diferentes. Viu também os princípios gerais e mecanismos de cognição humana que são envolvidos na mudança semântica como a categorização, a prototipicidade, a metáfora e a metonímia, a cognitivos como o modelo evolucionista de Croft, os modelos cognitivos idealizados e os modelos cognitivos culturais. Semântica do Português96A Semântica Representacional relacionada às teorias linguísticas da Língua Portuguesa OBJETIVO Neste capítulo você irá compreender a semântica representacional, suas principais características e sua relação com as teorias linguísticas da Língua Portuguesa. A semântica representacional Conforme Cançado (2012), as teorias que abordam o possuindo relação com a referência no mundo, são conhecidas como teorias mentalistas, ou representacionais, ou ainda cognitivas. Cançado (2008) descreve que a semântica representacional como um tipo de semântica mentalista, porque entende a mente como uma representação da realidade, afastando-se assim da semântica formal, fundamentada em deduções e condições de verdade. A semântica representacional possui compromisso com a forma das representações mentais internas, que compõem a estrutura conceitual, e com as relações formais entre esse nível e os outros níveis de representação (sintético, fonológico, visual, etc.). O estudo da representação abrange a união entre linguagem e construtos mentais que, de alguma forma, representam ou Semântica do Português 97 por nós e pelos outros, quando falamos, destaca Cançado (2012). IMPORTANTE O ponto principal está em perceber o que os ouvintes podem deduzir sobre os estados e os processos cognitivos, as representações mentais dos falantes (CANÇADO 2012). representacional é essencialmente um modo pelo qual representamos mentalmente a nós mesmos o conteúdo daquilo em que a representação mental pode ser falada em termos de imagens mentais. Quando pensamos no vocábulo borboleta (Figura 10), conseguimos relacionar a palavra a uma imagem ou esquema mental já existente na nossa mente. Contudo, não podemos nesta percepção, demonstrando assim grande relevância e envolvido. Depreende-se assim, que de acordo com Chierhia ela relacionada. Semântica do Português98 Figura 10- Borboleta Fonte: Pixabay Em um segundo momento, Chierchia (2003) apresenta sentença equivale ao conceito ou pensamento que relacionamos às imagens mentais, passando a requisitar a existência de algo como uma linguagem de pensamento interna a mente conhecida como mentalês. O autor considera os conceitos como sentenças do mentalês e entender uma sentença representa, basicamente, em traduzi-la para o mentalês. De acordo com Candiotto (2013, p. 28) o pesquisador chamado Jerry Fodor, “propõe que todo ser humano dispõe de uma ‘linguagem residente’ inata, o ‘mentalês’ (mentalese), que Assim, Fodor propõe uma linguagem do pensamento Semântica do Português 99 para a obtenção de uma linguagem natural. A linguagem do pensamento estabelece, segundo Fodor, um meio muito produtivo que permite a cumprimento de vários processos cognitivos como percepção, raciocínio e o mais prioritário para a condição humana, a aprendizagem da língua. A linguagem do pensamento é, deste modo, a condição para o aprendizado da língua, isso faz com que possa ser explicado o fato de como uma criança constitui um extenso conjunto vocabular, que lhe permite uma comunicação satisfatória com falantes de mesma língua, em um curto prazo de tempo. IMPORTANTE Para Fodor, o mecanismo intelectual primitivo dos seres humanos compõe um conjunto completo de representações, sobre as quais formas novas de informação podem ser esquematizadas quando o indivíduo está em contato com o mundo, explícita Candiotto (2013). A semântica representacional distingue da semântica cognitiva no sentido do não abandono do nível de representação sintático, ao uso do formalismo em detrimento do funcionalismo, ao procurar colocar seus resultados na psicologia perceptual inatas, esclarece Cançado (2008). As pessoas conseguem se entender porque possuem a capacidade de refazer as representações mentais nas quais os outros se apoiam para falar (CANÇADO, 2012). O sucesso da comunicação não depende de formar a mesma ligação entre as situações do mundo, mas sim, apenas Semântica do Português100 que se a nossa fala sobre o mundo funciona tão bem é por causa das semelhanças básicas das nossas representações mentais, explica Cançado (2012). Cançado e Amaral (2017) citam o seguinte exemplo: Eu sou o homem mais rico do mundo. De acordo com a abordagem representacional pode-se falar que a expressão descreve um estado do participante denotado de amor, etc., analisa Cançado e Amaral (2017). Figura 12- Rico Fonte: Pixabay Importante destacar que segundo Cançado e Amaral (2017) a semântica lexical encaixa-se na abordagem representacional, pois nessa área de estudo existe uma preocupação em relacionar a língua a representações mentais, e não ao mundo. Dentro da abordagem representacional, o foco da semântica lexical Semântica do Português 101 é sugerir análises teóricas e descrições dos sentidos dos itens lexicais como representações mentais. Papéis temáticos As teorias de semântica representacional versam sobre um ponto muito relevante chamado de papéis temáticos. Neste ponto iremos nos basear nas explicações de Cançado (2008, 2012). Segundo Cançado (2008) os papéis temáticos quando observados através da ótica semântica também são assumidos como representações mentais: são noções que dizem respeito à ligação entre conceito mental e sentido. Um importante ponto concernente aos estudos dos papéis temáticos é a relação do evento com a estrutura conceitual, e da estrutura conceitual mental com sintaxe. existentes entre algumas expressões como: João abriu a porta com a chave; A chave abriu a porta; A porta abriu. Você percebe alguma relação de dependência (Figura 13) nessas expressões? Semântica do Português102 Figura 13- Dependência Fonte: Pixabay Nestas expressões a palavra ‘porta’ apresenta-se como paciente de uma ação, assumindo assim a mesma função semântica em todas as situações. Contudo, quando falamos na função sintática, a terceira expressão é exercida como sujeito e as demais como objeto. Quando observamos a palavra ‘chave’ percebemos que ela desempenha a mesma função semântica na primeira e na segunda sentença, que é ser um instrumento de ação. Já em termos de função sintática, a primeira aparece como adjunto e a segunda como sujeito. Observe então que, apesar de os sujeitos serem diferentes nas expressões citadas, as orações não são diferentes e sem relação, existindo assim, algum tipo de dependência nessas sentenças entre o verbo ‘abrir’ e os elementos ‘Joao, porta e chave’, informa Cançado (2008). Esses elementos, relacionados pelo verbo, assumem uma determinada função semântica dentro da sentença. Observe que na primeira sentença João exerce a função semântica de ser o Semântica do Português 103 agente da ação de abrir; já a palavra ‘porta’ nas duas últimas sentenças possuem a função semântica de ser o paciente da ação, sofrendo a ação de abrir. E A ‘chave’ nas duas primeiras sentenças tem a função semântica de ser o instrumento da ação de abrir, esclarece Cançado (2008). Dessa forma, a dependência está nas relações de sentido que se constituem entre o verbo e seus argumentos (sujeito e complementos), o verbo, constituindo uma relação de sentido com seu sujeito e seus complementos, conferindo-lhes funções, um papel para cada argumento. São a essas funções que chamamos de papéis temáticos, destaca Cançado (2008). Na literatura há vários nomes para essas relações semânticas, alguns estudiosos chamam de semânticos profundos, outros relações temáticas, já outros chamam de papéis semânticos. Cançado (2008, 2012) prefere adotar a denominação papéis temáticos. Conforme Cançado (2008), não existem apenas casos referente às ações como nos exemplos anteriores, mas também associados a sentimentos, sensações, percepções, capacidade de relações com as coisas, isto é, além dos casos de ação, existem relacionais. Os casos mentais manifestam uma experiência, seja psicológica, perceptiva ou cognitiva. Vejamos alguns exemplos citados pela autora: João ama Maria. (Experiênciapsicológica) perceptiva) João acreditou no jornal. (Experiência cognitiva) O primeiro ponto que devemos observar nessas sentenças é o fato de que João não exerce o papel de agente dessas situações, pois ele unicamente passa por um processo de experiência mental. Semântica do Português104 Vamos entender melhor. túnel? Acreditou no jornal? Percebe que não é ação de amar, enxergar e acreditar? Mas sim uma experiência mental (Figura 14). Figura 14- Experiência mental Fonte: Pixabay Quanto aos processos relacionais, também é impossível pensar no sujeito como possuindo o papel de agente do processo, ou mesmo tendo o papel de experienciador desse processo. Outro ponto que devemos observar é que a cada tipo de verbo são associados diferente papéis temáticos. Exemplo: O verbo matar pode ser agente e ou paciente, contudo o verbo morrer só pode ser paciente. Essas informações a respeito dos papéis temáticos dos verbos fazem parte do conhecimento semântico da língua que o Semântica do Português 105 falante adquire, assim, espera-se que essas informações estejam estocadas no léxico. Portanto, não devemos possuir informações somente a respeito do número e do tipo sintático dos complementos que um verbo pede, isto é, a sua transitividade, como também devemos saber que tipo de conteúdo semântico esse complemento possui, se ele é agente ou paciente por exemplo. São essas informações que orientam a formação das sentenças na sintaxe, ilustra Cançado (2008). Na literatura da gramática gerativa a lista de papéis temáticos é geralmente chamada de grade temática. Vamos observar o verbo ‘colocar’: COLOCAR: V – Agente, Tema, Locativo – Cançado (2008) explica que nessa situação a grade temática nos dá a informação de que o este verbo possui dois complementos, sendo assim bitransitivo. Traz também o sujeito que é o elemento sublinhado, traz a informação semântica que existe um agente, um tema e um locativo, que são as relações semânticas constituídas entre o verbo ’colocar’ e seus argumentos. Essas informações antecipam que esse verbo, quando completado deve formar uma sentença. Exemplo: Maria colocou o livro na estante. na grade temática de ‘colocar’ descrita anteriormente. Verbo bitransitivo, Agente, Tema, Locativo. É fundamental entender também que nem sempre todos os sintagmas irão fazer parte da grade temática do verbo. Aos papeis temáticos que fazem parte da grade temática do verbo chama-se de argumentos, sujeito e complementos, aos que não Cançado (2008). Semântica do Português106 Cançado (2008) ainda destaca que esse ponto de adjunção e complementação é pouco clara na literatura linguística e bastante complicada, contudo, tempos sempre que nos valer dessas noções nas análises, pois intuitivamente todos concordam que elas existem. Neste capítulo você deve ter compreendido que a representação mental abrangendo a união entre linguagem e construtos mentais que representam o conhecimento semântico do falante, que o sucesso da comunicação não depende de formar a mesma ligação entre as situações do mundo, mas sim, apenas da divisão de representações. Conheceu a diferença existente entre a semântica representacional e a semântica cognitiva. entendeu os papéis temáticos que são noções que dizem respeito à ligação entre conceito e sentido, existindo dependência entre o verbo e seus argumentos e que cada tipo de verbo é associado a diferentes papéis temáticos, mas que sem sempre todos os sintagmas irão fazer parte da grade temática do verbo.
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