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STAFF 
 
 
 
 
 
 
AVISOS SUNS! 
 
 
A tradução foi efetuada pelo grupo Sunshine Books, fãs e 
admiradores da autora, de modo a proporcionar ao leitores e também 
admiradores o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O 
objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no 
Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os aos admiradores, sem 
qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto. 
Levamos como objetivo sério, o incentivo para seus admiradores 
adquirirem as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, 
não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o 
conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. 
A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores 
e editoras, o grupo Sunshine poderá, sem aviso prévio e quando 
entender que necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link 
de disponibilização, daqueles que forem lançados por editoras 
brasileiras. 
 
 
Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de 
que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, 
abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público 
o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia 
autorização expressa do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar o livro 
disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, 
eximindo o grupo Sunshine de qualquer parceria, coautoria ou 
coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por ato 
ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra 
literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 
184 do código penal e lei 9.610/1998. 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO UM 
 
 
 
 
Gelo não é uma superfície que perdoa. Aprendi essa verdade 
quando tinha cinco anos, e o conhecimento foi afirmado centenas – 
talvez milhares – de vezes nos últimos dezessete anos. 
Não dói menos quando me conecto à superfície que se parece 
muito com cimento. Isso pode explicar por que amo tanto estar no 
topo da água congelada. Misericordioso também não é um adjetivo 
que alguém usaria para me descrever. 
Eu me levanto, deixando as lâminas dos meus patins de hóquei 
deslizarem sobre mim em um movimento familiar. O metal afiado 
desliza para frente sem esforço, pois faço o possível para não deixar 
 
 
Robby Sampson saber que o golpe praticamente me desestabilizou. 
Terei que vasculhar o freezer em busca de ervilhas hoje à noite. 
— Se você conseguir ir mancando até ao Gaffney’s, comprarei a 
primeira rodada, — oferece Hunter Morgan enquanto para ao meu 
lado, enviando um jato de gelo que cruza a linha central e me cobre 
do capacete aos patins. 
Tiro minha luva direita para poder virar para o meu melhor 
amigo. — Estou bem. Nunca me senti melhor. É preciso mais do que 
gelo para danificar o ferro. — Flexiono meu braço para dar ênfase. Se 
você tem isso, ostente, certo? Nunca recebi nenhuma reclamação. 
Hunter bufa com o movimento desagradável, sem se 
impressionar. — Guarde as falas esfarrapadas para as damas, Hart. 
Sou eu quem ficará preso ouvindo você gemer sobre essa contusão 
pelos próximos dias. 
— Não gemo, — resmungo. 
— Precisa que eu pegue um andador, capitão, ou pode voltar para 
o banco sozinho? 
 
 
— Idiota, — murmuro, patinando em direção às pranchas1. 
Hunter ri. Ele me ouviu. Bom. 
Eu me sento no banco e esguicho um pouco de Gatorade na 
minha boca, estremecendo quando meu lado lateja com o que eu 
tenho certeza se transformará em um hematoma desagradável. A 
terceira linha fica em posição para o exercício contínuo na zona que 
estamos executando. Vejo um dos alas do segundo ano, Cole Smith, 
entrar em impedimento. 
Segundos depois, — Smith! — é rugido através do gelo. 
Cole recebe o sermão que – se eu tivesse que adivinhar – envolvia 
muito vocabulário colorido e pelo menos uma referência a habilidades 
aprendidas na Liga Juvenil, e depois o jogo foi retomado. 
Mais duas rodadas e minha linha está de volta ao gelo. 
Respiro profundamente enquanto patino entre meus 
companheiros de linha em direção à linha azul. A dor nas minhas 
costelas desaparece enquanto inspiro e expiro, deixando o ar frio 
saturar meus sentidos junto com meus pulmões. O cheiro 
 
1 Placas que circundam a pista de gelo. 
 
 
característico de suor e água congelada encontrado apenas em uma 
pista de hóquei sempre foi assim para mim. 
Uma pomada. 
Um alívio. 
No gelo, sou intocável. Metaforicamente falando. O hóquei não é 
conhecido por ser um esporte sem contato. 
Dean, o assistente técnico, deixa o disco entre Aidan Phillips e 
eu. Aidan ganhou seu lugar no centro da segunda linha. Ele é sempre 
rápido para reagir ao confronto e lutar pela posse do disco. 
Eu sou mais rápido. 
No segundo em que o disco bate no gelo, estou em movimento. 
Deslizo o círculo preto para o ponto ideal no meu bastão e decolo em 
direção a Willis, que está tentando cobrir cada centímetro que pode 
do gol com sua estatura de 1,80m. Eu poderia enviar o disco direto 
para ele. Ele está favorecendo o lado esquerdo porque estou virando 
nessa direção. Duvido que tenha a chance de corrigir se eu atirar para 
a direita. Tenho setenta e cinco por cento – inferno, oitenta, se atirar 
para cima – de chance deste disco entrar. 
 
 
Renderá um sermão do treinador Keller sobre trabalho em 
equipe. Não é o primeiro; definitivamente não é o último. 
O time de hóquei no gelo masculino da Universidade Holt tem 
muitos problemas. 
Minha capacidade de marcar gols não é um deles. 
É isso que me convence a desacelerar, circular e enviar o disco 
para Hunter, em vez de eu mesmo atirar. Ele olha entre Louis 
Jamison e eu, tentando decidir para quem enviar. Um de nós não 
conseguiu um único tiro entre os ferros em todo o treino, e essa pessoa 
não sou eu. 
Hunter está executando o mesmo cálculo que acabei de fazer e 
chega à mesma conclusão. Ele passa para Louis, que consegue um 
tiro que quase passa por Willis. Nosso goleiro o pega no ar no último 
segundo, jogando-o para fora de sua luva e contra as pranchas com 
um salto inofensivo. 
Um apito estridente perfura o ar frio. — Acabou, rapazes. 
É tudo o que ele diz. A menos que um de nós esteja executando 
uma jogada incorretamente ou atrasado para treino, o treinador 
Keller é um homem de poucas palavras. Rumores no campus são de 
que ele tinha aspirações mais altas do que treinar temporada após 
 
 
temporada de recordes irregulares sob uma nuvem de chuva perene. 
Literalmente. Dias ensolarados é uma ocorrência rara em Somerville, 
Washington, onde a Universidade Holt está localizada. 
— Você acha que o treinador vai abrir um sorriso se vencermos 
na sexta-feira? — pergunta Hunter quando saímos do gelo e pisamos 
nos tapetes de borracha que levam ao vestiário. 
— Ele parecia razoavelmente divertido antes de perdermos na 
prorrogação durante os playoffs do ano passado, — diz Aidan atrás 
de nós. — Quando foi, Sampson? 
— Dez de março, — responde Robby enquanto entramos no 
vestiário e começamos a tirar o equipamento suado. Sampson tem 
uma capacidade estranha de recordar datas que ninguém mais 
pensaria duas vezes. Ele seria um bom detetive. 
Aidan dá de ombros enquanto desamarra seus patins. — Sete 
meses atrás? Sou um merda em matemática. Seja como for, é melhor 
ele usar algo além de uma carranca se vencermos Rockford na sexta-
feira. Não me lembro da última vez que uma parte do meu corpo não 
doeu, e a temporada sequer começou. 
— Você e Hart devem formar um grupo de apoio, — sugere 
Hunter, sorrindo. — Já posso ouvi-lo reclamando de suas costelas 
pelos próximos dias. Obrigado por isso, Sampson. 
 
 
Robby ri. — Sem dor, sem ganho. 
— Hart é a nossa única esperança de um campeonato. Tenha 
cuidado com ele, — instrui Aidan. 
— Odeio todos vocês, além de Phillips, — declaro antes de ir para 
os chuveiros. 
Apesar da falta de pressão da água,o jato quente parece um 
paraíso líquido contra meus músculos. Não é apenas o golpe de Robby 
anteriormente. Passei os mesmos sete meses em que o treinador ficou 
sem humor preparando meu corpo. Corridas regulares. Sessões de 
peso extra. Voltas intermináveis ao redor da pista. Estou na melhor 
forma da minha vida. Vendo como dediquei toda a minha carreira de 
hóquei a ser sempre o cara mais rápido do gelo, isso diz alguma coisa. 
Ao contrário do treinador Keller, minhas maiores esperanças 
ainda estão em jogo. Equipes profissionais de hóquei não contratam 
jogadores de escolas como Holt com a chance de tropeçarem no 
próximo Wayne Gretzky em meio à mediocridade. Se eu quiser uma 
chance, preciso fazer barulho. Observadores e empresários não 
podem se desconectar. Estatísticas de cair o queixo, temporada 
excelente, tipo campeonato nacional. 
Eu sou bom. O problema é que o hóquei é um esporte de equipe 
e, por mais que eu goste dos caras no vestiário, nenhum deles jogaria 
 
 
em uma escola com um programa de hóquei melhor que o da Holt. Eu 
poderia, e o fato de não ter é uma das muitas coisas pelas quais sou 
amargo. Junto com a inoportuna – para dizer o mínimo – concussão 
no acampamento de habilidades de verão que me fez perder a liga e 
o draft2 há dois anos. Ser contratado como jogador livre é minha única 
esperança de jogar profissionalmente agora. 
Ensaboo meu cabelo e vejo como a espuma branca desaparece 
pelo ralo, então desligo a água e pego uma toalha surrada. Holt 
poupou despesas quando se tratava de suas instalações esportivas. 
Visto um moletom Holt Hockey e volto ao meu armário – 
praticamente tudo o que visto – e passo a toalha surrada no meu 
cabelo curto enquanto espero Hunter juntar suas coisas. 
Meu carro está na oficina, então dependo dele para me locomover 
ou andar na chuva. 
— Gaffney’s? — pergunta Hunter, vestindo seu próprio moletom 
Holt Hockey. 
 
2 Processo usado em alguns países (especialmente na América do Norte) e esportes 
(especialmente em ligas fechadas) para alocar determinados jogadores às equipes. Em um draft, 
as equipes se revezam na seleção de um grupo de jogadores elegíveis. 
 
 
— Sim, claro. — Tudo o que me espera em nossa casa 
compartilhada é um saco de ervilhas e uma pilha de trabalhos de 
casa. 
— Gaffney’s, Sampson? 
— Inferno, sim, eu estarei lá, — responde Robby. 
— Eu também, — acrescenta Aidan. 
— E você, Williams? — pergunta Hunter a Jack Williams quando 
ele sai dos chuveiros. 
— Não posso, cara. Grupo de estudo hoje à noite. 
Hunter e eu trocamos olhares, e é um milagre que nenhum de 
nós tenha começado a rir. Jack é o tipo de idiota que imagino jogando 
golfe, não hóquei. Ele é um zagueiro decente, mas um ponto fora da 
curva no time. Ao contrário de todos nós, ele parece ter aspirações 
mais altas por seus anos de faculdade do que ficar bêbado e transar 
por aí. E jogar hóquei, é claro. 
A notícia de nossos planos pós-treino espalha rapidamente entre 
o resto dos caras. Hunter termina de se arrumar e saímos para a luz 
que cai do céu. O complexo atlético da Holt consiste em três edifícios: 
a arena de gelo, o ginásio de basquete e as salas de musculação e, 
 
 
finalmente, a piscina e equipamentos de exercícios genéricos, como 
esteiras e elípticos. 
Ao contrário de escolas maiores e mais centradas no esporte, 
Holt não concede tratamento preferencial a seus alunos atletas em 
relação ao resto da escola ou da cidade vizinha. Temos que agendar 
nosso tempo no gelo intercalando com Somerville Sharks – um time 
local de hóquei juvenil – e abrir sessões de patinação no gelo para o 
público em geral duas noites por semana. O tempo na sala de 
musculação é uma negociação tensa entre nós e o time de basquete. 
A única vantagem é que o desinteresse da Universidade em 
relação a seus atletas é compartilhado pela maior parte do corpo 
estudantil. Lutamos por tempo e espaço contra outras equipes 
esportivas e alunos do ensino fundamental. Poucos alunos de Holt 
fazem a longa e muitas vezes molhada caminhada até o complexo 
esportivo nos arredores do campus para se exercitar regularmente. 
Ou dirijam até aqui. O estacionamento está vazio, além de 
alguns carros, quando chegamos ao SUV de Hunter. Aidan dirige-se 
à caminhonete vermelha e brilhante que fornece um suprimento 
infinito de provocações do resto de nós. É uma sombra semelhante a 
um caminhão de bombeiros. Contra o pano de fundo cinza suave de 
um outono de Washington à beira do inverno, ele se destaca. O de 
Aidan também não se mistura, então acho que se encaixa. E o veículo 
 
 
dele está funcionando, o que é mais do que se pode dizer sobre o meu 
carro. 
A viagem ao Gaffney's é curta. Já estamos na periferia do 
campus, mais próximo do centro de Somerville. É um tiro direto na, 
originalmente chamada, Main Street, para a pequena coleção de 
edifícios que servem como centro da cidade. O que poderia ser 
descrito como um shopping contém algumas lojas e uma rede de 
supermercados, seguidas pela biblioteca, correios e escola primária 
da cidade. Logo depois, é onde os alunos da Holt passam a maior 
parte do tempo. Há algumas cafeterias, um restaurante italiano, uma 
livraria, um lugar popular para rosquinhas, e então o Gaffney's fica 
no outro extremo. 
Hunter estaciona no lote localizado ao lado do pátio externo que 
não tem muito uso. Beber uma cerveja gelada com uma garota 
gostosa é uma experiência muito menos agradável na chuva, eu 
descobri. 
Os olhos agressivos de Aidan deslizam para o próximo local 
disponível alguns minutos depois. Ficamos um tempo no 
estacionamento para esperar o que se transforma na maioria da 
equipe. Há uma escassez flagrante de opções de entretenimento à 
noite, especialmente durante a semana. Além disso, apesar de – ou 
talvez por causa – da quantidade significativa de tempo que 
 
 
passamos juntos, somos um grupo unido. Sair do gelo não é uma 
ocorrência rara. 
Metade dos caras aqui ainda não tem vinte um, mas isso não 
importa. Jogadores de hóquei raramente são baixos ou desconexos. 
Poucos caras da equipe parecem menores de idade. Também estamos 
a uma curta distância do campus de Holt e dos bairros onde a maioria 
dos estudantes mora. A decisão bêbada mais perigosa que você 
poderia tomar seria caminhar para o sul, e não para o norte, em 
direção às profundezas geladas e escuras do Sound. 
Entramos como uma massa ruidosa de testosterona recém-
banhada. 
Gaffney's tem uma sensação casual natural, não organizada. São 
pisos desgastados, músicas country antigas e noites de quiz. O 
restaurante já está cheio quando entramos, lotado principalmente de 
outros alunos da Holt. Terças-feiras são uma oportunidade para 
asinhas e cerveja pela metade do preço, uma venda fácil para 
estudantes consternados que a semana está apenas na metade. 
Normalmente eu seria um deles, mas nosso jogo na sexta-feira me fez 
duvidar de um desejo de que o tempo passasse mais rápido. 
Sete meses de preparação por uma hora no gelo. 
 
 
É o primeiro jogo da minha temporada sênior. Haverá mais. 
Trinta e quatro, para ser exato. Mas sexta-feira é minha chance de 
colocar planos em movimento. Não existe uma segunda primeira 
impressão. Um começo explosivo antes de outras histórias 
consumirem a cobertura limitada do hóquei universitário é minha 
melhor chance de chamar a atenção que preciso desesperadamente. 
Não tenho outra opção viável. 
— Ei, Harlow. 
Sou distraído dos meus pensamentos turbulentos pela saudação 
inocente de Aidan ao passarmos por uma das mesas altas ocupadas. 
Vários dos outros caras com quem estou repetem, reconhecendo 
alegremente a ruiva que persigo sem dizer uma palavra. Se não 
estivesse estressado e distraído, não levaria tanto tempo para notá-
la. 
Posso agir como se ela não existisse, mas sempre a noto. 
Harlow Hayes e eu compartilhamos história. 
Não é o tipo que nós mesmos escrevemos. É complicada. 
Bagunçada.Conflitante. 
Era uma coisa no primeiro ano, quando eu, no máximo, 
vislumbrava seu cabelo cor de fogo no refeitório ou no pátio. Nossos 
 
 
caminhos não se cruzaram. Holt não é uma escola grande, mas é 
grande o suficiente para evitar alguém se você estiver motivado o 
suficiente. Nós dois estávamos. Estamos. 
No segundo ano, ela namorou Jack Williams, meu colega de 
equipe. Eles terminaram depois de alguns meses, mas a breve 
aventura deles resultou em uma camaradagem com vários dos meus 
outros colegas de equipe forte o suficiente para se recusarem a seguir 
minha liderança e agir como se ela não existisse. 
Quando se trata da maioria das coisas, eles me seguem por um 
penhasco. Uma garota que fez os cookies da equipe uma vez? Riu de 
algumas de suas piadas mais divertidas? Eles poderiam não dar a 
mínima com o que eu penso. 
Hunter me dá um olhar confuso quando ele se senta ao meu lado 
na mesa que eu escolhi. O resto dos caras também se senta. Hunter 
não diz nada, mas sei que isso o deixa perplexo – toda a equipe, na 
verdade – por que me recuso a falar com Harlow. Tenho um 
temperamento curto no gelo. Normalmente sou o primeiro a largar 
luvas quando alguém começa a falar merda. Mas fora isso eu costumo 
ser um cara fácil. Uma garota aleatória incitando minha ira não faz 
muito sentido. 
 
 
Eles estão igualmente intrigados com a maneira como ela 
combina com minha perpétua grosseria. Nas poucas vezes em que 
estivemos próximos, Harlow foi igualmente insistente em me ignorar. 
Nossa guerra fria é gelada em ambas as frentes, o que os caras 
percebem, embora não entendam o motivo. 
Explicar exigiria compartilhar partes do meu passado que não 
discuto. Verdades dolorosas que estou cansado de deixar me definir e 
resolvi largar assim que saí da pequena cidade em que cresci. 
Nenhuma garota mudará isso. 
— É bom ver você sendo tão social, Hart, — brinca Aidan quando 
se senta. Pelo que assumo ser uma razão hormonal, ele nutre um 
fraquinho por ela. 
Eu ri. — Sou muito social. Com pessoas que eu gosto. 
— O que há para não gostar em Harlow? — pergunta Robby, 
levantando as duas sobrancelhas. — Quero dizer, se Williams não 
tivesse chegado lá primeiro... 
Há uma concordância murmurada em torno da mesa. 
Não conheço os detalhes – porque evito falar dela a todo custo – 
mas sei que Jack não aceitou bem o rompimento com Harlow. Ainda-
 
 
tem-sentimentos-por-ela-dois-anos-depois, não é aceitar bem. Ele 
namorou algumas desde então, mas nada sério. Nenhum cara da 
equipe quer agitar o barco se envolvendo com Harlow, e suponho que 
isso significa que devo parar de fazer piadas sobre a venda de 
Vineyard Vines à custa de Jack, porque é absolutamente o melhor 
cenário para mim. 
A garçonete vem anotar nossos pedidos. Ela é uma loira alegre 
que já nos serviu. Stacey, lembro, graças ao crachá afixado em sua 
camisa. 
— Ei, meninos, — cumprimenta, examinando a mesa. Seus olhos 
castanhos se iluminam quando pousam em mim. Eu pisco para ela e 
ela fica corada. 
Pego o cardápio laminado e olho para ele quando ela começa a 
anotar os pedidos dos caras. Peço hambúrguer e cerveja quase todas 
as vezes, mas ou é verificar as outras opções ou ouvir Robby refletir 
se deve comer asas ou pizza pelos próximos cinco minutos. Olho para 
as palavras que mostram as ofertas limitadas de Gaffney com tanta 
intensidade que ficam borradas. 
Finalmente, olho para cima. Viro minha cabeça para a esquerda. 
Fixo meu olhar na mesa pela qual passei e o resto dos caras parou 
minutos atrás. 
 
 
Ela não está olhando para este lado. A atenção de Harlow está 
na garota de cabelos escuros, sentada ao seu lado, que está 
gesticulando uma história usando as duas mãos e faz Harlow rir. 
Elas estão com um grupo de outras pessoas, mas não registro um 
único detalhe sobre mais ninguém na mesa. Permito-me estudar 
Harlow – a garota com quem nunca falei e nunca falarei. Ela é 
gostosa. Bonita. Impressionante. O ódio não me deixa tão imune à 
aparência dela quanto eu gostaria de ser. Harlow Hayes é uma 
importação canadense muito mais atraente do que o petróleo bruto 
ou o xarope de bordo. 
Cabelo vermelho. 
Maçãs do rosto altas. 
Boca carnuda. 
Mas… O que há para não gostar em Harlow? 
Ela é culpada por associação. 
 
 
CAPÍTULO DOIS 
 
 
 
 
A névoa paira pesada ao longo da costa escarpada em cortinas 
transparentes que impedem uma visão perfeita da água. Estremeço 
quando saio do meu carro, lamentando a perda de calor enquanto 
puxo as laterais da minha capa de chuva amarela para mais perto a 
fim de bloquear o frio que se esgueira sob o revestimento de poliéster. 
Novembro geralmente contém alguns dias mais quentes e 
ensolarados. 
Hoje não é um deles. 
 
 
O ar salgado cobre meu cabelo e minha pele exposta. A brisa que 
sopra é rica com o cheiro de peixe e o tom amargo do inverno se 
aproximando. 
Ninguém me para ou me pergunta o que estou fazendo aqui 
enquanto ando pela costa rochosa e desço a passarela. Todo mundo 
está muito fixado em sua própria lista de tarefas para se preocupar 
comigo andando por aí. Depois de três anos, todo mundo parou de 
prestar atenção à mulher solitária por ali. 
Bem, quase todo mundo. 
— Ah, aí está ela! — Um sorriso largo transforma as 
características desgastadas de Samuel Prescott. Os cantos dos olhos 
se enrugam, formando linhas que caem nos vincos ao redor da boca. 
— Que visão para os olhos cansados. 
— Eu ou o café? — provoco. 
Sam ri. — Por mais que eu goste, a cafeína não substitui a 
companhia. 
— Não contarei aos meninos. — Sorrio antes de estender a xícara 
para ele. — Mas comprei avelã para você hoje. 
— Você me mima, — diz Sam enquanto pega a caneca quente. 
 
 
Subo a bordo do velho barco de pesca, segurando minha xícara 
de café com força enquanto passo de uma madeira firme para um 
plástico balançando suavemente. — Por favor. Passo no meu caminho 
para cá, de qualquer maneira. E é o mínimo que posso fazer por você 
me deixar ir junto. 
— Nenhum problema. Brent acabou de ligar. Ele e os meninos 
estão atrasados. Timmy está consertando uma rede. Podemos sair 
um pouco tarde esta manhã. 
— Estou pronta a qualquer hora. 
Sam ri. — Eu sei. Aquele teste com o qual você estava 
preocupada na semana passada, foi bem? 
— Sim, — respondo, — pelo menos, acho que sim. Não receberei 
a nota por mais alguns dias. 
— Tenho certeza que você se saiu bem. — Sam me dá um sorriso 
tranquilizador. — Você trabalha duro. Quando estava na escola, eu e 
os caras com quem andava não levávamos os testes muito a sério. 
— Isso é verdade para muitas pessoas em Holt, — digo a ele. 
Uma pessoa em particular vem à mente, mas não falo. Nunca o trago 
à tona. Além disso, sei que Sam é um fã de hóquei. 
 
 
— A rede está pronta para ser usada. — Timmy aparece. Ele joga 
uma bola de malha de corda na parte de trás do barco, depois sobe a 
bordo. — Bom dia, Harlow. 
— Bom dia, Timmy, — respondo, movendo-me para a proa do 
barco onde está minha caixa de leite. 
Brent, seu irmão Jerry e seus dois filhos chegam alguns minutos 
depois, cumprimentando-me com sorrisos amigáveis. Eles se movem 
pelo barco em uma dança bem coreografada, realizando as tarefas 
profundamente fixas neles depois de anos completando-as 
repetidamente. Cada peça de equipamento é verificada. As cordas são 
desamarradas e atadas antes de nos afastarmos da doca. As redes 
são espalhadas em preparação para serem lançadas ao mar. 
Bocejo, depois tomo um gole de café enquanto nos afastamos da 
praia, esperando que a cafeína lave o lembrete de que estou acordada 
a esta hora por minha própria vontade. 
A água agitada logo se torna o único cenário à medida que 
avançamos para o Sound. A névoa persistente pinta a costa como uma 
pintura em aquarela, manchada e nublada. Preciso adivinhar as 
formas à distância. As espalhadas ao longo da costa de onde 
acabamos de partir. 
Algumashoras se passam. 
 
 
Olho para a água a cada minuto delas, nunca desviando meu 
olhar da superfície cinzenta do mar enquanto meus olhos se esforçam 
para olhar através do véu que nunca se levanta completamente. 
Marco cada ponto em que paramos na planilha do meu telefone com 
um X para notar a falta de avistamentos de cetáceos. 
— Desculpas ao cientista a bordo, — grita Sam quando voltamos 
à marina. — Os peixes estavam mordendo. As orcas não foram 
encontradas em lugar nenhum. 
— Sempre há semana que vem, — digo com um sorriso, tentando 
mascarar minha decepção. 
Testemunhar baleias na natureza é um privilégio, nunca uma 
conclusão inevitável. Morando no noroeste do Pacífico, sei que tenho 
mais sorte do que a maioria dos aspirantes a biólogos marinhos. Perdi 
as contas de quantas vezes testemunhei essa majestade 
pessoalmente. Nunca se torna menos espetacular, no entanto. O que 
significa que nunca é menos decepcionante quando uma 
oportunidade é perdida. 
Atracamos no cais e a equipe de Sam começa a descarregar seus 
despojos de pesca. 
— Obrigada, Sam. Vejo vocês na próxima semana, — digo 
quando saio do barco e volto ao cais. A maioria das docas ainda está 
 
 
vazia. Sam está chegando à idade da aposentadoria, o que significa 
que suas viagens são mais curtas do que muitos tentando ganhar a 
vida na indústria de frutos do mar. Adoro a água, mas não na medida 
em que quero passar o dia todo a bordo de uma pequena embarcação. 
Tenho sorte que Sam foi quem me convidou para sair depois de 
semanas passeando no primeiro ano da marina. 
Os homens se despedem de mim enquanto refaço meus passos 
desde o início desta manhã. Não está tão frio quanto durante aquela 
caminhada, mas a temperatura do ar não subiu muito. Não perco 
tempo entrando no meu carro e aumentando o ar quente. Estou 
ansiosa para chegar em casa e tomar banho. 
Meu telefone toca quando estou saindo do estacionamento da 
marina. Sorrio quando vejo o nome de Landon Garrison piscar no 
visor do carro. 
— Ei, — respondo. 
— Por que você parece tão acordada? Mal são oito horas, — 
resmunga meu melhor amigo. 
— Fui nadar, — minto. — Estou voltando para casa agora. 
Por alguma razão, nunca contei a ninguém sobre minhas viagens 
semanais ao Sound no barco de pesca de Sam. Não sei porquê. Quem 
 
 
me conhece bem está ciente da minha obsessão pelo oceano. Das 
horas que passo memorizando espécies de algas e estudando as 
correntes marítimas. Que meu sonho é fazer disso uma carreira. 
Meu tempo no barco é diferente. Vou anotar no meu telefone os 
pods3 que encontramos. Seus números, se foram marcados. Minhas 
observações não fazem parte de um experimento ou de qualquer 
esforço oficial de conservação. Estar na água é libertador. Sempre foi 
o lugar onde medos e frustrações não podem me tocar. Manter meus 
passeios matinais para mim é minha maneira de proteger isso, de 
alguma forma. 
E vou nadar na maioria das manhãs, então não parece uma 
mentira de verdade. Apenas uma pequena omissão da verdade. 
— Uau. Nadar antes das oito em um sábado. Você teve uma louca 
noite de sexta-feira, hein? — pergunta Landon. 
— Absolutamente selvagem. — Eu combino com o sarcasmo dele. 
— Eve e eu tivemos uma maratona de James Bond. 
— Desde quando você assiste algo além de documentários da 
natureza e comédias românticas? 
 
3 Pequenos grupos de mamíferos marinhos 
 
 
— Eve escolheu. Ela tem uma queda por Daniel Craig. Quero 
dizer, quem não tem? 
— Ninguém vem à mente imediatamente, — responde Landon. 
Reviro os olhos para seu tom sarcástico. — O que você está 
fazendo acordado a essa hora, rockstar? 
— Tempo de estúdio. Fique chocada, mas poucas pessoas querem 
o horário das oito da manhã em um sábado. 
— E você convenceu o resto dos caras a aparecer? 
— Acho que sim? Adam provavelmente se atrasará, mas 
prometeu que virá. 
— Vocês estão gravando coisas novas? 
— Não. Isso exigiria ter coisas novas para gravar. 
— Ah, certo. 
— Papai voltou a falar sobre o Plano B novamente, — suspira 
Landon. — Nem mesmo esperou até que eu esteja no último ano. 
 
 
— Apenas escreva uma música que lhe dará um Grammy, — 
sugiro. — Então, você pode segurar um gramofone4 brilhante toda 
vez que ele disser algo sobre um plano de backup. Diga a ele para 
falar com o Grammy. 
— Oh, perfeito. Por que não pensei nisso? 
Eu rio. — Ele quer que você tenha sucesso, Landon. 
— Sim, eu sei. E não é como se eu não soubesse que a música é 
uma indústria difícil de entrar. — Ele exala alto e depois fica em 
silêncio. — Você viu o e-mail? 
Aperto a seta um pouco mais forte do que o normal quando viro 
para a minha rua. Não que eu não achasse que isso não aconteceria. 
Achei que era a razão pela qual ele estava ligando em primeiro lugar. 
— Sim, com certeza vi. 
— Eles perguntaram sobre isso antes do tempo? 
— Não. 
 
4 Troféu do GRAMMY Awards concedido pela Academia. 
 
 
— Sinto muito, Harlie, — Landon só usa meu apelido de infância 
quando está tentando me irritar ou preocupado que eu esteja mais 
chateada com alguma coisa do que estou deixando transparecer. 
— Tudo bem. É uma ideia muito legal. Apenas será... difícil de 
enfrentar. 
— Por que será em memória de seus pais ou porque é uma 
maratona? 
Eu rio. — Ambos. 
— Bem, se isso faz você se sentir melhor, definitivamente terei 
um tempo pior do que você. Sem mencionar meus pais. Vou precisar 
contratar um personal trainer. Eu me recuso a terminar atrás deles. 
Papai ainda joga o tempo todo. Uma vez atleta, sempre atleta. — Ele 
ri. 
— Vocês não precisam correr a maratona completa. Podem 
correr a metade. Ou não precisam correr. 
— É claro que todos nós vamos correr. Eles arrecadarão dinheiro 
a cada milha. Além disso, é isso que a família faz. 
Um nó se forma na minha garganta quando sinto uma onda de 
apreço pelas pessoas que me acolheram após a morte de meus pais. 
 
 
Faz com que eu sinta que ainda tenho uma casa, não apenas um lugar 
para dormir durante os intervalos da Holt. 
Após vinte anos de amizade, Landon pode sentir que estou 
sobrecarregada, mesmo por telefone. 
— Mamãe e papai estão falando em visitar Somerville, — diz ele. 
— Mamãe disse que você parecia estressada da última vez que falou 
com ela. 
— O último ano da faculdade é estressante, — digo a ele. — Você 
descobrirá no próximo ano. 
Landon é nove meses mais novo que eu, então sempre tivemos 
um ano de diferença na escola. Ele é apenas um calouro enquanto 
estou correndo para o final da minha carreira universitária. 
— Mal posso esperar, — diz ele. 
— Eles não precisam vir visitar, — digo. — Estarei em casa em 
apenas algumas semanas no Dia de Ação de Graças. 
— Eles querem, Harlow. 
— Eu sei, mas... 
 
 
— Eles não deveriam ser incapazes de visitá-la só por causa dele. 
Fico calada. A disfunção que poderia ser a trama de um drama 
televisivo semi-bem-sucedido é um campo minado que faço o possível 
para evitar. Estou surpresa que Landon esteja trazendo Conor. Ele 
raramente o faz, a menos que haja uma oportunidade de fazer um 
comentário cáustico. Landon é a pessoa mais amigável e relaxada que 
possa conhecer. 
Até que o assunto de seu meio-irmão seja abordado. 
— Você terá outra maratona de filmes hoje à noite? — pergunta 
Landon após o silêncio se arrastar por algumas batidas, nem se 
incomodando em agir como se não fosse uma tentativa descarada de 
mudar de assunto. 
— Não. Eve quer ir a um jogo de basquete. 
— Sério? 
Landon já conheceu minha melhor amiga e colega de quarto, 
Eve. Seus muitos interesses ecléticos incluem decoração de interiores 
e bordados. Não esportes. 
 
 
— Sim. Ela inventou essa lista de coisas a fazer antes do final da 
faculdade durante nossa bebedeira na noite passada. Ir para um 
evento esportivo foi o escolhido. 
Não compartilho algumas das outras tarefas que completaram a 
lista de vinte itens, como usar pijama para a aula e fazer sexo emuma sala de estudo. Eve fala que será uma grande brincadeira, mas 
acho que – espero – a maioria cairá no esquecimento. 
— E você decidiu assistir basquete? 
— Há outros esportes de inverno? — pergunto inocentemente. 
— Harlow... 
— Eu mal o vejo, Landon. 
É a segunda mentira que conto a ele no decorrer dessa conversa. 
Vi Conor Hart no Gaffney's quatro noites atrás. Ele me ignorou e agi 
como se ele não estivesse sugando toda a atenção e oxigênio do 
restaurante. 
— Bom. 
Paro na frente da minha casa e desligo o carro. — É melhor eu 
ir, Land. Acabei de chegar em casa e cheiro a cloro. 
 
 
Agora são três mentiras. Embora eu cheire. 
— Ok. Falo com você em breve. Você sempre pode vir para 
Brighton. Mamãe e papai poderiam nos visitar. 
— Sim, seria divertido, — respondo, apesar do fato de que há 
uma razão pela qual escolhi frequentar Holt e viver na sonolenta 
Somerville. Além de ver Landon, Brighton não me atrai. — Boa sorte 
gravando. 
Landon bufa. — Sim, obrigado. Falo com você mais tarde. 
A ligação é encerrada. Permaneço no meu carro estacionado, 
olhando para o céu nublado. Empurrei o e-mail que vi no início desta 
manhã para o fundo da minha mente. Minha conversa com Landon 
trouxe de volta à tona. 
A cidadezinha na costa oeste do Canadá, onde cresci, abriga uma 
maratona como parte de seus eventos anuais de verão. Este ano, será 
em homenagem aos meus pais para arrecadar dinheiro, na esperança 
de salvar os outros do mesmo triste destino. Suponho que eles 
decidiram que quatro anos eram tempo suficiente para comemorar. 
É um gesto atencioso que eu deveria estar e estou grata. 
Também é um lembrete de uma noite que gosto de fingir que 
nunca aconteceu. Não nego que meus pais se foram. Nunca tive uma 
 
 
grande ilusão de que eles saíram em férias prolongadas e voltarão a 
qualquer momento. A morte deles é uma realidade que enfrento. 
Como a decisão de um estranho de ficar bêbado alterou para 
sempre minha vida. 
Como as coisas que você considera garantidas – como ter pais – 
podem desaparecer no mesmo curto espaço de tempo que leva para 
piscar um olho. 
Saio do meu carro e sigo pela frente para o duplex que 
compartilho com Eve. Além de Landon, que me conhece praticamente 
desde o nascimento, ela é minha amiga mais próxima. Fiz um 
péssimo trabalho em manter contato com as crianças com quem 
cresci. Assim como a próxima maratona, eles são um lembrete 
doloroso do passado. Prefiro me lembrar dos bons tempos com meus 
pais. Não os olhares simpáticos no último ano do ensino médio. O 
grupo de luto que eu frequentava esporadicamente. 
Será um retorno constrangedor se eu seguir meu plano de voltar 
à cidade em que cresci depois da formatura. 
Destranco a porta da frente e entro no pequeno hall. Eve e eu 
tivemos a sorte de conseguir este lugar para o último ano. Casas 
próximas ao campus e ao centro da cidade são ocupadas rapidamente, 
e geralmente monopolizadas por equipes esportivas e irmandades 
 
 
que têm grandes grupos de pessoas querendo se filiar. Lugares com 
dois quartos como este são raros. 
A cozinha está vazia quando entro. Não estou surpresa que Eve 
ainda esteja dormindo. Pipoca derramada está espalhada pela 
bancada, e eu a varro no lixo antes de seguir pelo corredor para o meu 
quarto. 
Estou tentada a tirar todas as minhas roupas e tomar um banho 
escaldante. Mas não fui nadar esta manhã e não há tempo como o 
presente para ver como estou para terminar uma maratona. 
Tanto quanto me lembro, era um evento casual. Não há prêmios 
em dinheiro ou medalhas oferecidos na linha de chegada. É tudo 
patrocinado para caridade. 
Ainda são quarenta e dois quilômetros. 
Suspiro enquanto troco minha capa de chuva por um sutiã 
esportivo e fleeces5. Vou correr até ao centro e voltar. Começar em 
algum lugar. Natação sempre foi minha forma preferida de exercício. 
Não conheço ninguém que corre regularmente por diversão ou 
fitness. Masoquistas. 
 
5 Casaco esportivo com tecido isolante macio feito de poliéster. 
 
 
Landon estava brincando sobre a contratação de um personal 
trainer – eu acho – mas talvez eu precise de um para me motivar. 
Não há sinal de atividade quando volto ao ar úmido e frio e 
começo a correr. Não é terrível. A princípio. A batida dos meus tênis 
no asfalto é rítmica. O ar entra e sai dos meus pulmões facilmente. 
Não sei se é sobre isso que as pessoas fãs de correr falam, mas estou 
me sentindo muito bem. 
Tão bem que estendo minha distância original e corro por toda a 
Main Street, até a borda do campus antes de voltar para a Spring. 
De repente, correr não é tão fácil. 
Parece que a porcentagem de oxigênio no ar despencou. Bater no 
chão duro é mais desconfortável do que relaxar. Minhas panturrilhas 
estão duras e tensas. 
Quase lá. Quase lá. Quase lá, eu canto para mim mesma 
enquanto me forço a continuar correndo e não diminuir a velocidade 
para uma caminhada. Acho que não corri mais de dois quilômetros. 
Talvez três? 
Não quero saber o quão abismal de uma conquista atlética isso 
é. Assim como eu gostaria de poder mentir para mim mesma sobre o 
quanto ainda preciso correr. 
 
 
Seis quarteirões. 
Um quarteirão depois passo pelo Sr. Goodman passeando com 
seu cachorro. Aceno para ele, esperando parecer melhor do que sinto. 
Ele não chama uma ambulância, então devo parecer. 
Faltam cinco. Quatro. Três. Dois. Posso ver meu carro. A 
entrada. A porta da frente. 
Desabo no gramado, não me importando que a grama esteja 
molhada. É bom, na verdade. Ofego, me levanto e olho para o céu. 
Eventualmente, estimulo minhas pernas para se colocarem em 
movimento. Com membros trêmulos, vou para a porta da frente. 
Minha entrada é um alvoroço. Lanço meus tênis e derrubo o suporte 
do guarda-chuva enquanto tiro meu fleece e tropeço no espaço que 
leva para a cozinha. 
Eve está na ilha da cozinha, comendo uma banana. 
— O que diabos aconteceu com você? 
— Fui correr, — arquejo. 
— Por quê? — pergunta ela, parecendo horrorizada. 
 
 
Excelente pergunta. 
— Correrei uma maratona neste verão. 
— Por quê? — repete Eve. 
Encolho os ombros. — Parecia um bom objetivo de vida. 
Construção de caráter, sabia? 
Ela levanta as duas sobrancelhas e dá outra mordida na banana. 
Não deveria ser uma expressão persuasiva, mas funciona comigo. 
— Será em casa. Em memória dos meus pais. — Vou para a 
geladeira e pego a jarra de água para encher um copo. — O dinheiro 
irá para uma organização que trabalha para manter motoristas 
bêbados fora da estrada. 
Tomo um gole de água e olho para ela. Eve está me estudando. 
— Tudo bem. Estou bem, — garanto. 
Eve é a única pessoa em Holt que contei sobre meus pais. Que 
eles estão mortos e como morreram. Deixei todos os meus outros 
amigos aqui acreditarem que os pacotes de cuidados que os Garrisons 
enviam são dos meus pais, não da melhor amiga da minha mãe e seu 
marido. 
 
 
— Você precisa de alguém para treinar com você? Porque eu 
totalmente vou. 
Sorrio para ela, esperando que isso transmita apreciação e 
carinho. Vindo de Eve é uma oferta generosa. Ela faz longas 
caminhadas para poder ouvir seus podcasts favoritos, mas sei que 
sua velocidade máxima preferida é apenas isso: uma caminhada. 
— Eu não faria você fazer isso. Hoje fui sozinha e foi tudo bem. 
— Deixo de fora o fato de que não sei se poderei andar amanhã. — 
Vou tomar banho. 
Os vinte minutos que passo sob um fluxo fumegante de água 
quente ajudam a lavar as memórias traumáticas do exercício desta 
manhã. Coloco meu par de moletons mais confortável e me preparo 
para um smoothie antes de me aconchegar no sofá. 
Eve se acomodou na mesa da cozinha para trabalhar em sua 
última obra de arte. É um sábado típico. Eu relaxo no sofá, 
alternando entre estudar e assistir a episódios antigos de Arrested 
Development. Só levanto minha bunda para o sustento ocasional. Os 
lápis de Eve arranham ao fundo o tempo todo. 
Eles não paramaté que seja necessário acender as luzes da sala 
de estar. Bem, eu não ligo. Eve liga. Estava contente em deitar aqui 
 
 
no escuro, assistindo televisão. Olho de soslaio na luminescência 
artificial. 
— É hora de ir! — anuncia Eve. — O jogo de basquete começa 
em vinte minutos. 
— Pensei que você tinha esquecido, — resmungo. 
Eve faz um som de incredulidade, então aponta para o quadro de 
avisos à direita do fogão. A lista de desejos do último ano que ela 
rabiscou ontem à noite é exibida com destaque ao lado de nossa 
pequena coleção de menus para viagem. 
Suspiro e saio do sofá. 
— Dez minutos! — grita Eve enquanto sigo pelo corredor até o 
meu quarto. 
Estou tentada a usar meus moletons, mas resisto ao desejo. 
Sinto-me nojenta depois de ficar com eles o dia todo e acho que 
sairemos depois do jogo. 
Visto meu par favorito de jeans skinny escuro e um moletom com 
capuz cinza da Universidade Holt. Meu cabelo ruivo já está uma 
bagunça, então faço um coque solto, espero que pareça mais 
proposital do que preguiçoso. Um pouco de rímel e estou pronta. 
 
 
Eve já está me esperando. Ela trocou de roupa para calças de 
veludo e um suéter rosa. A maior parte de seu guarda-roupa consiste 
em roupas que eu nunca conseguiria usar, mas em Eve elas 
funcionam. 
— Preparada? — Ela sorri para mim. 
— Sim, vamos lá. 
— Eu dirijo. — Eve pega as chaves do balcão da cozinha. 
— Quem diria que você ficaria tão empolgada com esportes? — 
pergunto enquanto saímos. 
— Mary disse que os jogos são superdivertidos. 
— Mary gosta de basquete? 
Eve me dá um olhar astuto. — Mary gosta de Clayton Thomas. 
Eu rio. — Oh. Entendi. 
Não sei quase nada sobre basquete. Sei que os cabelos loiros e o 
sorriso amigável de Clayton fazem dele uma figura popular no 
campus. Ao contrário do outro atleta masculino bem conhecido no 
 
 
campus – Sr. Hart-breaker 6– ele também é um cara decente. Tivemos 
uma aula de humanas juntos no ano passado. 
— Acho que ela está esperando que você a apresente, — diz Eve. 
— E a trama se complica, — falo quando entramos no carro de 
Eve. 
Ela olha timidamente para mim enquanto liga o carro. — Ouvi 
falar dele por semanas em nossa aula de pintura, ok? Disse a ela que 
tentaria puxar conversa com ele. Mas não é como se eu estivesse no 
primeiro nome com todas as equipes esportivas do jeito que você tem. 
— Isso é um grande exagero. 
— Todo o time de hóquei parou para falar com você quando 
estávamos no Gaffney's na terça-feira. 
Nem toda a equipe. Conor passou por mim sem dizer uma 
palavra, e eu gostaria de não ter notado. Embora uma parte pequena 
e vingativa estivesse feliz por ele não parecer satisfeito com seus 
companheiros de equipe falando comigo. Ele raramente está por 
perto quando o fazem. 
 
6 Jogo de palavras, uma vez que Hart é o sobrenome do personagem e heartbreaker significa 
alguém que parte corações. 
 
 
— Isso é só por causa de Jack. Você sabe disso. 
Não me arrependo de ter namorado Jack Williams no segundo 
ano, mas se eu pudesse voltar e mudar, eu o faria. Ao contrário do 
resto do time de hóquei, ele usa camisas de botão e calças – na 
maioria dos dias. Não fazia ideia de que ele estava no time até o nosso 
segundo encontro. Fiz questão de me afastar de qualquer jogador de 
hóquei de Holt até então. Quando soube que Jack estava no time, 
decidi não deixar Conor influenciar minha vida. Infelizmente, essa 
postura teimosa fez meu relacionamento com Jack durar mais tempo 
do que eu pretendia, algo pelo qual me sinto culpada toda vez que o 
vejo. 
— Jack nem estava lá, — aponta Eve. — Apenas diga oi para 
Clayton quando o virmos e se Mary e eu estivermos com você, você 
pode apresentá-la. 
— Quando o virmos? Você sabe que o time não costuma bater 
papo com os espectadores entre os tempos, certo? 
— Há socialização na festa depois, no entanto. 
Eu rio. — Uh-hum. Quando você planejava me informar sobre 
todo o itinerário desta noite, colega de quarto? 
— Se você tentasse sair de casa de calça de moletom. 
 
 
Reviro os olhos quando Eve estaciona do lado de fora do prédio 
esportivo que abriga o ginásio de basquete. 
Mary corre até nós assim que entramos no saguão. Ela é 
estudante de arte como Eve. Ao contrário de Eve, ela é pequena, loira 
e quieta. Estou surpresa ao saber que Clayton Thomas é o tipo dela. 
Ele pode não ser um idiota, mas tem muitas outras tendências 
estereotipadas de atletas. Acho que nunca o vi com a mesma garota 
mais de uma vez. Ele também passou muito tempo da nossa aula de 
humanas dando em cima de mim. 
— Oi, Mary, — cumprimento. 
— Oi, Harlow, — responde, me dando um sorriso tímido. 
— Harlow está a bordo do plano, — anuncia Eve, piscando para 
Mary. 
— Realmente não conheço Clayton muito bem, — digo a Mary, 
— mas ficaria feliz em apresentá-lo. 
Ela cora. — Obrigada. 
— Vamos conseguir lugares, — decide Eve. 
 
 
Nós três entramos no ginásio. Cheira a suor e pipoca velha. A 
participação é medíocre, o que não me deixa tão chocada. Holt deixa 
muito a desejar quando se trata de espírito escolar. 
— Não há muita gente, hein. — Eve lê meus pensamentos. 
— Não. Mas você deveria ter visto o jogo de hóquei ontem à noite, 
— diz Mary. — Completamente insano. Parecia que toda a escola 
estava lá. 
— Desde quando você vai aos jogos de hóquei? — pergunta Eve. 
Mary ri. — Darcy e Teegan queriam ver Conor Hart jogar. 
Mal resisto a revirar os olhos. Claro. — Holt venceu? — 
pergunto. 
— Sim, — responde Mary. — Conor marcou os dois gols. 
— Droga. Deveríamos ter ido ao jogo ontem à noite, — lamenta 
Eve, olhando para mim. — E você deveria ter escolhido Conor Hart 
em vez de Jack Williams. Conor é muito mais gostoso. — A atenção 
de Eve salta para Mary antes que eu responda. Provavelmente o 
melhor. — Ela e Jack tiveram um caso no segundo ano, lembra? — 
pergunta ela a Mary. 
 
 
— Oh sim. Não era... 
Ignoro a discussão de Eve e Mary sobre meu histórico de namoro. 
Posso ter confiado em Eve sobre meu próprio passado, mas nunca 
contei a ninguém sobre a teia emaranhada que me conecta a Conor 
Hart. 
Não temos problemas para encontrar lugares, e depois é só 
esperar o jogo começar. Mary e Eve conversam sobre uma tarefa de 
arte enquanto procuro rostos familiares nas arquibancadas. Das 
cerca de cinquenta pessoas aqui, eu diria que conheço um quarto 
delas pelo nome. Uma garota com quem estudei Biologia Avançada 
na primavera passada acenou para mim. 
O jogo começa sem muita pompa ou circunstância. Em um 
minuto os jogadores não estão na quadra, no próximo eles estão 
fazendo arremessos de aquecimento. Alguns acertam, mas a maioria 
erra. 
Começo a ter a sensação de que este será um jogo longo. 
Com certeza, ele se arrasta. 
Faltando dez minutos para o fim, Holt está perdendo por vinte 
pontos. 
 
 
— Vou ao banheiro, — digo a Eve e Mary, depois fico de pé e 
contorno a borda da quadra, saindo pela primeira porta que encontro. 
Olho para a esquerda. Então para a direita. Ambas as direções 
parecem indefinidas. A piscina fica em um dos outros dois edifícios 
esportivos. Acho que não estive nesta parte do complexo esportivo de 
Holt mais que algumas vezes. Ambos para eventos de orientação 
realizados no ginásio que acabei de sair. 
Escolho ir para a direita. Não há uma única porta ao longo do 
corredor de linóleo. Viro a esquina e paro. 
Estou do lado de fora da entrada de uma sala de musculação que 
circunda a arena de basquete. 
As luzes estão acesas. 
A porta está aberta. 
E Conor Hart é o único ocupante da sala. Ele está deitado em um 
dos bancos pretos e estreitos que as pessoas usam para levantar 
pesos. Fazendo exatamente isso. 
Fico congelada no lugar enquanto o vejo levantar e abaixar a 
barra. Irônico, considerando que parece que a temperatura subiu 
algumas centenas de graus ao meu redor. 
 
 
Não me considero uma pessoa superficial. Julgo as pessoas com 
base em como elastratam os outros. As coisas que dizem. A maneira 
como agem. Nunca fiquei atordoada ou deslumbrada com a boa 
aparência ou influência. 
Conor tem ambas. Sua atratividade é uma linda ilusão – 
superficial – e não esqueci isso. 
Há apenas muito dessa pele em exibição. Criando uma visão 
tentadora em que bebo como se estivesse perdida no deserto e 
precisando desesperadamente de hidratação. 
Conor está sem camisa, vestindo nada além de um par de shorts 
de malha preta que ficam na cintura. Baixo. Posso ver a definição do 
V esculpido entre seus quadris e a poeira de cabelo escuro que 
desaparece no cós de seu short. Meus olhos seguem para o tanquinho 
mais duro que já vi – não que eu tenha o hábito de cobiçar homens 
sem camisa, ou que haja muitos para cobiçar em um estado onde a 
temporada de roupas de banho dura aproximadamente três semanas. 
Estudo o suor se acumulando em seus peitorais. Avalio a forma como 
seus bíceps se contraem enquanto ele levanta uma barra com muitos 
pesos redondos e pesados em cada extremidade. Observo a expressão 
intensa e focada em seu rosto. Meu olhar percorre seu torso esculpido 
até as coxas musculosas que se estendem em cada lado do banco, que 
não parecem resistentes o suficiente para suportar alguém com esse 
tipo de forma levantando tanto peso. 
 
 
Engulo algumas vezes. Minhas unhas afundam na palma da mão 
direita. Não tenho ideia de há quanto tempo estou aqui, olhando para 
ele. 
Clayton Thomas é objetivamente tão bonito quanto Conor Hart. 
Ele tem cabelos dourados em vez de escuros. Doçura em vez de 
arrogância. Simpatia em vez de escárnio. 
Passei a última hora vendo Clayton correr e suar. Tinha um 
assento na primeira fila para seus músculos e masculinidade. Nada. 
Nada. Nenhum efeito. Estava tão entediada que saí para ir ao 
banheiro. 
Assistindo Conor levantando pesos? Eu poderia ficar aqui por 
mais algum tempo e não me satisfazer com essa visão. Raramente me 
permito olhar para ele, e parece ter tido o efeito perturbador de me 
fazer não querer desviar o olhar agora que olhei. 
Finalmente, me forço a recuar. A possibilidade horrível de Conor 
me pegar olhando para ele é o que me faz virar e sair muito mais 
rápido do que cheguei. 
Não me incomodo em tentar encontrar o banheiro. Refaço meus 
passos de volta para o ginásio. Restam apenas alguns minutos no jogo 
dos quais mal registro um segundo. De acordo com o placar, Holt 
acaba perdendo por vinte e oito pontos. 
 
 
Assim que o jogo termina, Eve sugere ir ao Gaffney's. Concordo 
rapidamente. Talvez uma cerveja gelada clareie a visão do peito nu 
de Conor do meu cérebro. Eu também meio que gostaria de ter tirado 
uma foto. 
Gaffney's está lotado, o que não é surpresa. Acho que nunca 
estive aqui e não estivesse lotado. Há algo a ser dito sobre opções 
limitadas, mas a sensação descontraída e amigável do lugar também 
garantiria sua popularidade, mesmo que houvesse muitas outras 
opções na cidade. 
Acabamos encostadas no bar para pedir e comer antes de 
caminhar até a casa que está hospedando a multidão de basquete 
hoje à noite. Junto com qualquer outra pessoa que por acaso apareça. 
Essa é uma das minhas coisas favoritas sobre Holt. Não há sinal da 
hierarquia social cuidadosamente cimentada presente em tantas 
outras faculdades. Nas poucas vezes em que visitei Brighton, ficou 
óbvio que a multidão artística e criativa da qual Landon faz parte é 
separada de qualquer time esportivo. Aqui, eles se misturam 
livremente. 
A presença na festa pós-jogo supera em muito a multidão no 
próprio jogo. Temos que abrir caminho pela porta da frente e entrar 
na sala abafada. 
Imediatamente, vejo Clayton no canto. 
 
 
— Perfeito, vamos lá, — digo a Mary e Eve, acenando para onde 
ele está parado. 
Mary empalidece. — Uh, não, tudo bem. Ele já está falando com 
alguém. Não quero interromper nada. 
Eu rio. — Isso não é um cotilhão7. Boas maneiras não a levarão 
a lugar nenhum. Vamos. 
Mary atira em Eve um olhar em pânico. 
— Tudo bem. Harlow sabe o que está fazendo, — garante Eve. 
Bufo enquanto sigo em direção a Clayton. Ele me vê quando me 
aproximo. Clayton bate nas costas do cara com quem ele falava antes 
de virar e vir para mim. Se não fosse tão visível, eu diria não disse? 
para Eve e Mary agora. 
— Ei, Harlow! — Clayton me cumprimenta com entusiasmo, até 
me puxando para um abraço rápido. 
— Ei, Clayton. Bom jogo, — sorrio para ele e ele sorri. 
 
7 Uma dança semiformal para a qual as garotas se vestem demais (vestidos e joias 
extravagantes, etc.) e para a qual muitos caras ficam severamente mal vestidos. 
 
 
— Você estava no mesmo em que eu estava jogando? — pergunta 
secamente. 
Meu sorriso se transforma em um sorriso sem graça. — Sim. 
Perda difícil. 
Clayton encolhe os ombros, mantendo seu bom humor. — Você 
ganha alguns, você perde mais. Certo? 
Eu rio. — Certo. — Mary e Eve nos alcançam. — Estas são 
minhas amigas. Eve e Mary, — aceno para cada uma delas enquanto 
faço as apresentações. 
— Ei, senhoritas. — Clayton dá a ambas um sorriso encantador. 
— Sou Clayton. 
— Oi, — diz Mary. Suas bochechas estão rosadas. Eve olha entre 
os dois, sorrindo. Sutil ela não é. 
— Eu ia à cozinha. Vocês, meninas, querem bebidas? — pergunta 
Clayton. 
— Claro, — responde Mary. 
 
 
— Vou correr para o banheiro. Encontro vocês na cozinha, — 
digo, piscando para minhas duas companheiras e depois indo para o 
que acho que é a sala de jantar. 
Desta vez eu tenho que ir ao banheiro. Se eu puder encontrar 
um. 
Atravesso a sala de jantar lotada e saio em um corredor que 
parece promissor. 
— Ei, Harlow. 
Olho para a esquerda. Aidan Phillips está encostado na parede. 
Eu paro. — Ei, Aidan, — respondo, sorrindo enquanto meu estômago 
afunda. Não tinha ideia de que o time de hóquei estaria aqui. A 
presença de Aidan significa que Jack provavelmente está aqui. 
Significa que o Sr. Trabalho Sem Camisa provavelmente está aqui. 
— Como você está? 
— Vencemos ontem à noite, tão incrível! — Ele sorri 
amplamente. 
Mantenho meu sorriso no lugar. — Sim, eu ouvi. Parabéns. 
 
 
— Obrigado. — Aidan toma um gole do copo que está segurando. 
— Ei, eu estava dirigindo na Spring Street mais cedo. Era você 
correndo? 
— Sim, era. 
— Pensei que fosse. Você é uma grande corredora? 
Eu bufo. — Não, na verdade não. 
— Tentando algo novo? 
— Mais ou menos. Vou correr uma maratona este verão. 
Os olhos de Aidan se arregalam. — Não brinca? 
Aceno. — Sério. 
— Uau. Como é o seu plano de treinamento? 
— Meu plano de treinamento? — ecoo. Ele acena. — Uh, correr 
muito, eu acho? 
Aidan ri. — Estilo livre. Gosto disso. Você sabe com quem deve 
conversar... — os olhos dele deixam os meus, olhando para algo, 
alguém, atrás de mim. Ele sorri. — Hart! 
 
 
Recuso-me a olhar para trás no corredor. Sei que Aidan está 
ciente do fato de que Conor me evita como uma doença infecciosa. A 
única razão pela qual não estou em pânico agora é que sei que Conor 
não virá aqui. Não para mim. Evitar um ao outro parece ser somente 
– e única – maneira em que estamos exatamente na mesma página. 
Exceto... que ele vem. 
— O que? — A palavra é um estalo conciso. Ele está de mau 
humor. Chocante. 
Aidan parece não se incomodar com o mau humor de Conor. 
Provavelmente devido à exposição repetida. 
Não posso reivindicar o mesmo. 
— Harlow está praticando corrida de longa distância. Você não 
adicionou um monte de quilometragem à sua rotina de exercícios 
neste verão? 
— E? — Eu classificaria seu tom como dez sólidos no arrogante 
medidor de bunda. 
— Harlow precisa de um plano de treinamento para maratona. 
O atual dela é correr. — Aidan ri como se fosse a coisa mais engraçada 
 
 
que ele já ouviu. Não vejo nenhum problema com isso, o que diria se 
não estivesse agindo como se ainda fosse apenas eu e Aidan aqui. 
— O que isso tem a ver comigo? — Ele está ao meu lado agora. 
Posso dizer pelalocalização de sua voz. Também porque parece que o 
lado esquerdo do meu corpo está sob uma lâmpada de calor. O 
corredor não é estreito, mas também não é largo. Conor Hart está a 
centímetros de mim. Muito mais perto do que ele já esteve. Ele 
obviamente tomou banho depois da academia, porque ele cheira a 
colônia e sabão, não a suor. 
— Cara, não seja um idiota. 
Sinto uma onda de carinho por Aidan Phillips. 
Aidan cutuca meu braço. — Vá em frente, peça ajuda a Hart, — 
sussurra ele para mim. 
Qualquer carinho desaparece. 
Eu bufo. Não posso evitar. 
Ajuda é uma coisa que Conor Hart nunca me oferecerá. 
— Conor, você me ajuda a treinar para uma maratona? — 
pergunto ao seu perfil no tom mais doce que posso reunir. Só para 
 
 
foder com ele. Forçar a lembrar ao seu amigo – lembrar a mim – que 
idiota insensível ele é. 
Silêncio. Então, lentamente – deliberadamente – ele olha para 
mim pela primeira vez desde sua abordagem chocante. 
Nunca consegui decidir qual é a cor dos olhos de Conor. 
É uma fixação estúpida e inexplicável. Ele raramente olha para 
mim, então não tive muito tempo para descobrir. Eles são uma 
mistura de azul e cinza. Como a superfície do oceano quando reflete 
as nuvens. Uma das minhas cores favoritas, olhando para mim com 
um rosto irritantemente atraente revestido de desprezo. 
— Não. — É tudo o que Conor diz antes de se afastar, 
continuando pelo corredor. Não estou nem um pouco surpresa. 
Aprendi há muito tempo que Landon não está exagerando quando 
chama seu meio-irmão de idiota egoísta. Também estou aliviada. 
Viu? Eu grito com minha libido traidora. 
Aidan suspira enquanto observa Conor recuar. — Desculpa. Não 
sei qual é a coisa dele... com você. 
Coisa. Que maneira adorável de abranger o ódio. 
— Sim. — A palavra é irônica. 
 
 
Eu sei o que é a coisa dele comigo. Não estou surpresa que Conor 
não tenha dito a ninguém em Holt qual é seu problema comigo. Sua 
resposta é exatamente o que eu esperava dele. 
O que não consigo entender é por que estou decepcionada por ele 
não ficar tempo suficiente para eu determinar se seus olhos são cinza 
ou azuis. 
 
 
CAPÍTULO TRÊS 
 
 
 
 
O disco encontra o fundo da rede e sou cercado. Três jogos na 
temporada e estamos invictos. Apesar do fraco desempenho do time 
de hóquei no gelo nas temporadas anteriores, nossas arquibancadas 
geralmente estão lotadas. Podemos nem sempre ganhar, mas somos 
fodidamente divertidos de assistir a perder. 
Pelo menos, é o que dizem as garotas que vêm até mim depois 
dos jogos que perdemos. 
— É disso que estou falando, porra! — grita Hunter no meu 
ouvido enquanto pula em mim. Robby patina e me dá um tapa no 
 
 
capacete com a luva. Jeff Powers se junta à nossa celebração 
segundos depois. 
Os caras estão todos de pé no banco. Eu patino na linha, batendo 
nas luvas. Marcar gols é esperado de mim, mas isso não torna a 
façanha menos satisfatória. Sou bom no hóquei, mas até os melhores 
jogadores têm dias de folga. Até agora, minha temporada sênior tem 
sido um trecho consistente dos melhores jogos da minha carreira 
universitária. 
Faltam trinta segundos no jogo, mas não paramos de pressionar. 
Nosso oponente esta noite, Burham, nem conseguiu puxar o goleiro 
deles. Estamos ganhando por dois gols. Eu me sinto bem, o resto dos 
caras também. O terceiro tempo começou de forma instável. Passei 
para Phillips em vez de Powers, e Jeff estava livre. Cobramos um 
pênalti desleixadamente e quase perdemos um gol de contra-ataque. 
Pequenos erros como esses podem entrar na sua cabeça, corroer a 
confiança coletiva. Mas nós nos acertamos. Nós nos recompomos. A 
energia na arena zumbe como um fio vivo: cru e exposto. 
Vinte e cinco segundos. 
Passo para Hunter. Ele passa para Robby. Robby devolve para 
mim. 
Quinze segundos. 
 
 
O pobre coitado designado para me defender faz uma careta. Ele 
se lança, mas o antecipo. Mando o disco ao longo das placas, atrás do 
gol e no taco de Aidan. 
Cinco segundos. 
A satisfação sobe pela minha coluna e se espalha, afugentando 
os nervos. O medo de três vitórias serem um lance de sorte. 
Quatro sons diretos são mais dominantes. 
Soa como gritaria. Como impulso. Como esperança. 
O sino toca e toda a equipe me cerca. Apesar das provações e 
decepções na minha carreira no hóquei, não acho que poderia estar 
cercado por um grupo de companheiros de equipe mais solidário. 
Aidan está comemorando como se tivéssemos acabado de ganhar o 
campeonato, e as arquibancadas lotadas parecem estar a bordo com 
esse nível de entusiasmo. Gritos e uivos reverberam nos tetos altos 
da arena de hóquei de Holt, decorada com uma bandeira solitária de 
décadas atrás. Se eu conseguir, haverá uma novinha em folha, de 
cores vivas, pendurada nas vigas em questão de meses. 
A euforia chega ao vestiário. Estou tentado a dizer aos caras para 
esfriarem, que temos um longo caminho a percorrer, mas não. É fácil 
ficar preso em apenas comemorar as maiores vitórias da vida. Mas as 
 
 
menores também valem a pena. O próximo momento de alegria 
nunca é garantido. 
— Bom trabalho, rapazes, — elogia o treinador Keller antes de 
entrar no pequeno escritório que se projeta do outro lado do nosso 
vestiário. Ele combina as palavras com um sorriso pobre que faz todos 
nós explodirmos em aplausos. A porta do escritório se fecha em 
resposta. 
Eu rio antes de ir para os chuveiros. 
Hunter, Aidan e eu decidimos ir ao nosso lugar mexicano favorito 
depois de nos trocarmos para recarregar as energias pós-jogo. É um 
pequeno local a algumas cidades de Somerville que descobrimos no 
segundo ano. Não há espera quando chegamos, e não perco tempo, 
pedindo dois burritos. 
Hunter tem uma coisa com qualquer um comendo em seu carro 
e estou com muita fome para esperar até chegarmos à festa, então me 
sento em uma das cadeiras de madeira frágeis e como. A tortilha 
ainda está fumegando, mal contendo o arroz, feijão, legumes e carne. 
Termino o primeiro burrito em cerca de quatro mordidas e começo o 
segundo ao mesmo tempo em que Aidan se senta à minha frente. 
 
 
— Obrigado por esperar, Hart, — diz ele sarcasticamente antes 
de comer seus tacos. Estou muito ocupado comendo meu segundo 
burrito para responder. 
Termino de comer antes mesmo de Hunter se sentar, então me 
levanto e peço algumas batatas fritas e guacamole. 
— Droga, isso estava bom, — afirma Aidan, recostando-se em 
seu assento assim que termina de comer. A cadeira dobrável de 
madeira range sob seu corpo alto. — Agora, eu só preciso de algumas 
cervejas. 
— Não vou limpar seu vômito de novo, — digo a ele. 
Aidan revira os olhos. — Isso aconteceu no primeiro ano. Uma 
vez. Mas não planejo dormir em casa esta noite, de qualquer maneira. 
Hunter e eu trocamos um olhar divertido. Nenhum de nós é 
celibatário, mas Aidan vê mais bunda do que o assento de um 
banheiro público. Com base em sua divagação bêbada uma noite, eu 
tenho minhas suspeitas de que ele está tentando esquecer alguém. 
Apesar da pequena devassidão em que os vi se envolver, Aidan e 
Hunter são os dois caras mais decentes que conheci. Mas não 
discutimos nosso passado. Um plano com o qual estou totalmente de 
acordo, por razões óbvias. 
 
 
— Rebeca? — pergunta Hunter. 
— Não, acabou, — responde Aidan. 
— Por quê? 
Aidan dá de ombros. — Apenas superei. 
Eu bufo. 
— Teto de vidro, Hart, — avisa Aidan. 
— Eu não disse nada, Phillips, — sorrio. 
Minha aversão ao compromisso é bem conhecida na equipe. 
Quando se trata de mulheres, pelo menos. Não tenho problemas em 
me dedicar a outro lugar. Mesmo se eu não tivesse crescido com 
lembretes constantes de como um relacionamento supostamente 
monogâmico pode sair pela culatra, duvido ficar entusiasmado com a 
ideia de namorar. Quando as garotas se jogam em você regularmente, 
limitar suas opções não parece ser a jogada mais brilhante. 
— Sarah irá hoje à noite? — pergunta Hunter.— Como diabos eu deveria saber? — Afundo uma batata em 
guacamole. 
 
 
Na verdade, se eu me incomodasse em ler todas as minhas 
mensagens, eu poderia dizer a ele a maioria, se não todas, as 
mulheres que estarão presentes esta noite. 
— O Hart-breaker ataca novamente, — comenta Aidan. 
Ele ficou sabendo do fato de que algumas garotas no campus 
reapropriaram meu sobrenome no início do semestre e falava o 
estúpido novo apelido pelo menos uma vez por semana desde então. 
Conheço alguns caras que seguram as garotas, preocupados em 
não conseguirem nenhuma caso não ajam como se houvesse uma 
chance de estarem nisso a longo prazo. Sou exatamente o oposto. Não 
ficarei com uma garota se ela agir como se quisesse algo sério. 
Vi a destruição que mentiras deixam para trás e não quero fazer 
parte disso. 
— Conor, o Hart-less, — acrescenta Hunter. 
Enrolo minhas embalagens de burrito e reviro os olhos. — Vocês 
terminaram para que possamos ir? 
— Sim, vamos lá. 
 
 
 
 
A maior parte da equipe já está na sala quando chegamos à casa 
do segundo ano. As equipes esportivas tendem a viver juntas com 
base no ano de aula. Quase um terço da equipe deste ano é de 
veteranos, então Aidan, Hunter e eu temos nossa própria casa. Esta 
noite, os cinco alunos do segundo ano serão os anfitriões. A casa deles 
é mais próxima do centro da cidade, o que significa que encherá assim 
que o Gaffney's fechar. Nossas festas atraem uma grande multidão, 
independentemente da localização. 
Ando pela sala de estar, parando para conversar com alguns dos 
caras e relembrando partes do jogo que foram boas. Apesar de seu 
curto sorriso, eu sei que o treinador terá muitas críticas para fazer no 
treino de amanhã de manhã. Por enquanto, eu mergulho na doce 
sensação de vitória junto com o resto dos caras. Poucos deles levam a 
sério o jogo como eu. Sou uma bola de demolição de um homem só 
indo para um troféu de campeonato. Todos sabiam que eu seria. 
Sabiam que esta temporada é para mim. 
Saber algo e ver acontecer são duas coisas diferentes. 
Hoje à noite, senti minha energia percorrer o resto da equipe pela 
primeira vez nesta temporada. Talvez alguns tivessem dúvidas sobre 
 
 
se conseguiríamos. Mas não sou mais o único cara do time com 
estrelas em forma de troféu nos olhos. Isso alivia a pressão e a 
aumenta. Um objetivo de grupo é mais alcançável do que um único. 
Se o resto dos caras trabalhar duro tira um pouco do meu fardo. Ao 
mesmo tempo significa que se perdermos eu não vou me decepcionar. 
Finalmente vou até a cozinha para pegar um refrigerante. Não 
bebo durante a temporada. Algumas horas de perda de inibições não 
valem a dor de cabeça resultante ou a patinação lenta na manhã 
seguinte. Também não resultava em habilidades fantásticas de 
tomada de decisão. A única vez que não lembrei a uma garota que era 
apenas sexo antes do sexo foi depois de duas Heinekens no segundo 
ano. Acho que ela não gostou do lembrete no meio do ato. 
Sarah Clark se aproxima de mim assim que entro na cozinha. 
— Oi, Conor. — Ela me dá um sorriso brilhante que faz suas 
covinhas aparecerem. 
— Ei, — respondo, sorrindo. 
Sarah sempre adotou a linha de apenas sexo como uma campeã, 
e é a principal razão pela qual ela é a coisa mais próxima que tenho 
de um encontro regular. Tenho quase certeza de que ela não quer 
mais nada de mim. Tenho certeza absoluta de que deixei o fato de que 
não quero nada mais claro para ela. 
 
 
Vou até a geladeira e pego uma lata de refrigerante. 
— Quer alguma coisa? — pergunto a Sara. 
Ao contrário do que Harlow Hayes pensa, não sou um completo 
idiota. Tenho uma tendência a exibir alguns traços idiotas em torno 
dela, no entanto. Algo que Aidan deixou claro na festa no fim de 
semana passado. Minha vida seria muito mais fácil se ela tivesse 
escolhido uma faculdade diferente. Ou ainda melhor, se estivesse em 
outro país. 
— Não, estou bem. Acabei de tomar algumas doses, — responde 
Sarah. 
— Hunter? — pergunto. 
Ela ri. — Sim. 
Reviro os olhos. Hunter tem uma obsessão bizarra por doses com 
gelatina, e isso resulta que em todas as festas que o time de hóquei 
dá há álcool envolto em gelatina. Não vejo nenhuma graça. 
Mais de meus companheiros de equipe entram na cozinha atrás 
de mim, incluindo Hunter, que começa a fazer as rondas com sua 
bandeja de copos balançando. Alguns dos caras do basquete se 
 
 
aproximam, seguidos por suas próprias fangirls. Estou conversando 
com Clayton Thomas quando vejo um flash de vermelho e enrijeço. 
Sou distraído por um corpo feminino se esfregando em mim. — 
Conor, você jogou tão bem hoje, — diz Emily Orens. 
— Obrigado, querida, — respondo, então tomo um gole de 
refrigerante. Clayton sorri; Hunter revira os olhos de seu lugar ao 
meu lado. Quero revirar meus olhos. Como se Hunter pudesse julgar. 
Suas cantadas são terríveis. Apenas esta noite, eu o ouvi usar, Aqui 
estou. Quais são seus outros dois desejos? e Parece que perdi meu 
número de telefone. Posso ter o seu? 
Nunca me esforcei para pegar uma garota. Elas se jogam em 
mim desde o ensino médio. 
Mas não presto atenção à garota fazendo isso agora. 
Harlow ainda está no canto da cozinha, e meus olhos continuam 
indo para lá. Não consigo focar em mais nada. Nem em Emily se 
esfregando em mim, nem em Hunter tentando me fazer tomar uma 
de suas doses nojentas, nem em qualquer uma das pessoas vindo me 
parabenizar por mais uma vitória. Ela conversa com uma garota 
loira, depois com Cole Smith, e então fica sozinha. 
Foda-se. 
 
 
Afasto a mão de Emily e vou até onde Harlow está perto do fogão. 
Ela não vê minha abordagem. Está olhando para o telefone, mas não 
como quando se está em uma festa e não têm nada melhor para fazer. 
Duas linhas de concentração estão franzidas entre suas 
sobrancelhas enquanto ela desliza por algo. Talvez seja um dos 
cinquenta e sete aplicativos de treinamento projetados para 
corredores iniciantes aumentarem sua quilometragem. Um palpite 
de como sei disso. Oito minutos da minha vida que nunca terei de 
volta. 
— Por que você me perguntou? 
Harlow se assusta. Uma música antiga de Britney Spears está 
tocando nos alto-falantes da sala de estar, mas é o som da minha voz 
que a faz pular. Ela bate o cotovelo na beirada da bancada de 
mármore e estremece. Quase peço desculpas, mas não. 
Ela me olha de cima a baixo, e acho que vejo um pouco de calor 
em sua expressão. Mas esta é Harlow Hayes, o que significa que 
definitivamente estou interpretando mal as coisas. 
— Aidan. — Ela dá de ombros como se eu não soubesse por que 
Phillips me chamou quando conversava com ela no último fim de 
semana. Como se ela não estivesse ciente do fato de que meus 
 
 
companheiros de equipe não têm ideia de qual é o meu problema com 
ela ou quão profundo é o ressentimento. 
— Jogo hóquei. Não sou um corredor. 
Coisas que ela sabe. 
Coisas que eu não precisava dizer. 
Outro pequeno encolher de ombros. — Você é atleta. 
Harlow consegue fazer a simples declaração soar como um 
insulto. Estou surpreso que esteja se dando ao trabalho de me 
responder. Igualmente chocado quando escolho manter a conversa. 
— Assim como os outros caras da equipe. Você é amiga da 
maioria. — Deixo claro como me sinto sobre essa amizade na minha 
voz. 
Harlow revira os olhos. Aqueles que noto que são verdes. — Eu 
não pediria a nenhum deles. 
— Mas você pediu para mim? 
— Obviamente pedi ou você não estaria aqui me atormentando 
sobre isso. 
 
 
Ela cruza os braços, chamando minha atenção para o peito. Ao 
contrário da maioria das garotas aqui, ela está vestindo uma 
camiseta de algodão que mal revela seu decote. Infelizmente, a 
camisa branca fica bem nela. Muito bem. Harlow é uma beleza 
natural, e a falta de qualquer roupa glamorosa só chama mais 
atenção para esse fato. 
— Algo na minha camisa, Hart? 
Pego. — Apenas pensando que já passamos muito do Dia do 
Trabalhador,— digo a ela. 
— Não aceitarei conselhos de moda de um cara cuja braguilha 
está aberta. 
Mantenho meus olhos nela. Ela encontra meu olhar 
desafiadoramente, olhos da cor de pinheiros encaram os meus. Ela 
está tentando te provocar, digo a mim mesmo. O desejo de verificar é 
como uma coceira. Sem permissão, meus olhos disparam para minha 
virilha. Fechado. Droga. 
Há um sorriso divertido brincando em seus lábios quando olho 
para cima. Harlow Hayes tem mais fogo do que eu esperava. Combina 
com seu cabelo vibrante. Toda vez que a observei ao redor do resto da 
equipe, era por favor e obrigada. Eu a julguei como ingênua. 
 
 
Este é o momento em que eu deveria ir embora. Levar Emily ou 
Sarah para cima. Talvez até mesmo beber uma das nojentas doses de 
Hunter, apenas para lavar a estranheza desse encontro. Limpar essa 
estranha compulsão de permanecer exatamente onde estou. 
Harlow solta um suspiro exasperado. — Olha, Aidan me viu 
correndo. Ele perguntou sobre o meu treinamento. Ele te chamou. Eu 
sabia que você diria não. Você disse. Fim da história. 
Ela está ansiosa para terminar essa conversa, isso é óbvio. 
Apesar de continuar me encarando, ela está lutando contra o desejo 
de desviar o olhar. Eu me pergunto se é porque ela sabe que outras 
pessoas na cozinha estão olhando para nós. Nossa briga particular é 
apenas de conhecimento comum entre o time de hóquei, mas as 
pessoas tendem a prestar atenção em com quem eu converso. 
Passo para a outra parte do pedido dela que está me 
incomodando. — Por que diabos você se inscreveria para uma 
maratona, afinal? Especialmente se nunca correu? 
Ela continua me encarando, mas não diz nada. Estou sendo 
avaliado – julgado – e é desconfortável pra caralho. Não recuo, no 
entanto. Para ninguém. Especialmente para Harlow Hayes. 
— Não importa por que estou fazendo isso, — diz Harlow 
finalmente. Ela pega uma lata verde de ginger ale do balcão e bate 
 
 
na lata de refrigerante que estou segurando. — Parabéns pela vitória, 
Hart. Se você tivesse passado para Powers no início do terceiro tempo 
teria sido 5 a 2. 
Ela sorri zombeteiramente, então sai. 
E de repente sei com absoluta certeza que não foi a última 
conversa que tive com Harlow Hayes. 
Apenas a primeira. 
 
 
CAPÍTULO QUATRO 
 
 
 
 
Cutucões me acordam. Jogo um braço sobre o meu rosto, certa de 
que estou sonhando. Estou sozinha na minha própria cama. Quem 
diabos estaria me cutucando? 
— Harlow. Harlow! 
Abro um olho. Eve está empoleirada ao lado da minha cama. Seu 
cabelo escuro está uma bagunça e seus óculos estão tortos. 
— O que? — murmuro, fechando os dois olhos novamente. 
— Acorde. — Outro cutucão nas costelas. 
 
 
Murmuro algo ininteligível, esperando que ela simplesmente 
desista. 
— Conor Hart está aqui. 
Isso chama minha atenção. Abro os olhos e foco nela. — O que? 
— Conor Hart. Ele está aqui. Na nossa porta da frente. Agora 
mesmo. 
— O que? — repito. — Por quê? 
— Não sei! Abri a porta pensando que eram os donuts que pedi, 
e lá estava ele, dez vezes mais delicioso! 
— Você pediu donuts? 
— Tentei ontem à noite. Pensei que eles estavam finalmente 
entregando. 
— Isso não faz sentido. Holey Moley nem sequer entrega. 
— Quem se importa, Harlow? Eu estava dormindo e não vi você 
arrastando sua bunda para fora da cama para atender a porta. A 
questão é que o cara mais gostoso que já vi na vida real está na nossa 
porta da frente. 
 
 
Eu me concentro, embora esteja desejando um donut agora. — 
Você não perguntou o que ele está fazendo aqui? 
— Claro que perguntei! Ele quer falar com você. 
— Comigo? — Aproximar-se de mim na festa ontem à noite foi 
bastante estranho. Vir à minha casa é bizarro. Louca realidade 
alternativa. Tento pensar em uma única razão pela qual ele poderia 
ter feito isso e fico em branco. — Diga a ele que não estou aqui. 
— Harlow... — Eve me dá um olhar. Apesar de todas as suas 
proclamações impetuosas, ela é um epicentro moral; o tipo de pessoa 
que não aprova se esconder do conflito. Ou de um cara gostoso. Neste 
caso em particular, também tenho certeza de que ela quer ser capaz 
de espionar. 
O que ela não entende – o que não posso dizer a ela – é que evitar 
Conor é para um bem maior. No interesse global. Conversar com ele 
ontem à noite não foi apenas inesperado. Também foi emocionante. 
Há uma emoção perigosa que vem junto com o proibido. Ou talvez 
seja assim que toda garota se sente ao falar com ele. Eve 
definitivamente parece deslumbrada, o que vou provocá-la uma vez 
que esta manhã não seja nada além de uma memória distante e 
estranha. 
— Eve, — combino com seu tom determinado. 
 
 
Ela suspira, então se levanta. — Ok. Direi a ele que você deve 
ter escapado pela janela no meio da noite para encontrar seu amante 
secreto. 
— Excelente. — Deito novamente e puxo meu travesseiro sobre 
minha cabeça. 
A porta do meu quarto se fecha e olho em volta do meu 
travesseiro para verificar a hora no meu telefone. 7h05. Estou quase 
impressionada que Conor esteja acordado tão cedo. Ele ainda estava 
na festa quando saí ontem à noite. Talvez ainda não tenha ido para 
a cama. 
Viro novamente, mas não consigo dormir. A curiosidade queima 
a exaustão. 
O que ele fazia aqui? 
Nossa conversa ontem à noite me abalou, para ser honesta. 
Não estava finalmente determinando se seus olhos são mais 
cinzas do que azuis. Estava vendo aquela mandíbula afiada de perto. 
Aqueles ombros largos. Os antebraços musculosos. Conor Hart é 
objetivamente bonito – alguns podem dizer lindo de cair o queixo. Ok. 
Isso bateu mais forte depois de olhá-lo sem camisa na sala de 
musculação. Também não foi um detalhe incluso em nenhum dos 
 
 
discursos de Landon sobre seu meio-irmão quando crescíamos, mas 
reconheci e segui em frente desde a primeira vez que o vi 
pessoalmente no primeiro ano. 
Isso foi quando ele se aproximou de mim. As ondas de hostilidade 
que ordinariamente emanavam dele, ausentes. Ele não foi amigável, 
mas também não foi totalmente rude. Uma conversa, e estou 
incomodada com o fascínio por Conor Hart que eu achava que era 
imune. 
Não consigo voltar a dormir, então saio de debaixo dos lençóis 
quentes. Pego um maiô, visto uma calça de moletom e um moletom. 
A porta de Eve está fechada quando passo por ela. Claramente, 
ela foi capaz de voltar para a cama. Resisto à vontade de bater e 
perguntar o que Conor disse quando ela o mandou embora. Mas 
resisto, porque é Conor Hart. Sempre vi a sedução física, mas ao 
contrário das garotas que se apaixonam por seu charme e sorriso 
arrogante, eu também sei o que está por baixo da superfície 
tempestuosa. 
Sei que a indiferença despreocupada mascara inclinações mais 
feias. 
Sei que a fúria que o torna uma força no gelo feriu repetidamente 
as pessoas com quem me importo. 
 
 
Uso o banheiro, faço meu smoothie de sempre e pego as chaves 
do carro na tigela perto da porta. Está chovendo – nenhuma surpresa 
– e minhas botas de chuva da marinha chapinham enquanto caminho 
em direção à rua. Não me incomodo em puxar meu capuz. Meu cabelo 
está prestes a ficar encharcado, de qualquer maneira. 
Há apenas dois outros carros no estacionamento quando chego 
ao complexo esportivo. São 7h40 de um domingo. Não é assim tão 
impressionante. 
Ando pela garoa até a porta da frente do prédio. Uma passagem 
da minha carteira de estudante e estou dentro do saguão. Vou para a 
direita, para o vestiário feminino. Meus óculos estão esperando no 
meu armário. Rapidamente tiro minhas roupas e as coloco dentro da 
caixa de metal antes de entrar na área da piscina. Não há uma única 
outra pessoa aqui. 
Passo pelo, Sem salva-vidas. Nade por seu próprio risco. Assino 
e caminho ao longo da piscina até as raias. Entrar na água é sempre 
a pior parte. Coloco meus óculos e subo na plataforma de plástico. Eu 
me inclino e agarro a frente, então me empurro e caio na piscina. 
Água