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Isso pode explicar por que amo tanto estar no topo da água congelada. Misericordioso também não é um adjetivo que alguém usaria para me descrever. Eu me levanto, deixando as lâminas dos meus patins de hóquei deslizarem sobre mim em um movimento familiar. O metal afiado desliza para frente sem esforço, pois faço o possível para não deixar Robby Sampson saber que o golpe praticamente me desestabilizou. Terei que vasculhar o freezer em busca de ervilhas hoje à noite. — Se você conseguir ir mancando até ao Gaffney’s, comprarei a primeira rodada, — oferece Hunter Morgan enquanto para ao meu lado, enviando um jato de gelo que cruza a linha central e me cobre do capacete aos patins. Tiro minha luva direita para poder virar para o meu melhor amigo. — Estou bem. Nunca me senti melhor. É preciso mais do que gelo para danificar o ferro. — Flexiono meu braço para dar ênfase. Se você tem isso, ostente, certo? Nunca recebi nenhuma reclamação. Hunter bufa com o movimento desagradável, sem se impressionar. — Guarde as falas esfarrapadas para as damas, Hart. Sou eu quem ficará preso ouvindo você gemer sobre essa contusão pelos próximos dias. — Não gemo, — resmungo. — Precisa que eu pegue um andador, capitão, ou pode voltar para o banco sozinho? — Idiota, — murmuro, patinando em direção às pranchas1. Hunter ri. Ele me ouviu. Bom. Eu me sento no banco e esguicho um pouco de Gatorade na minha boca, estremecendo quando meu lado lateja com o que eu tenho certeza se transformará em um hematoma desagradável. A terceira linha fica em posição para o exercício contínuo na zona que estamos executando. Vejo um dos alas do segundo ano, Cole Smith, entrar em impedimento. Segundos depois, — Smith! — é rugido através do gelo. Cole recebe o sermão que – se eu tivesse que adivinhar – envolvia muito vocabulário colorido e pelo menos uma referência a habilidades aprendidas na Liga Juvenil, e depois o jogo foi retomado. Mais duas rodadas e minha linha está de volta ao gelo. Respiro profundamente enquanto patino entre meus companheiros de linha em direção à linha azul. A dor nas minhas costelas desaparece enquanto inspiro e expiro, deixando o ar frio saturar meus sentidos junto com meus pulmões. O cheiro 1 Placas que circundam a pista de gelo. característico de suor e água congelada encontrado apenas em uma pista de hóquei sempre foi assim para mim. Uma pomada. Um alívio. No gelo, sou intocável. Metaforicamente falando. O hóquei não é conhecido por ser um esporte sem contato. Dean, o assistente técnico, deixa o disco entre Aidan Phillips e eu. Aidan ganhou seu lugar no centro da segunda linha. Ele é sempre rápido para reagir ao confronto e lutar pela posse do disco. Eu sou mais rápido. No segundo em que o disco bate no gelo, estou em movimento. Deslizo o círculo preto para o ponto ideal no meu bastão e decolo em direção a Willis, que está tentando cobrir cada centímetro que pode do gol com sua estatura de 1,80m. Eu poderia enviar o disco direto para ele. Ele está favorecendo o lado esquerdo porque estou virando nessa direção. Duvido que tenha a chance de corrigir se eu atirar para a direita. Tenho setenta e cinco por cento – inferno, oitenta, se atirar para cima – de chance deste disco entrar. Renderá um sermão do treinador Keller sobre trabalho em equipe. Não é o primeiro; definitivamente não é o último. O time de hóquei no gelo masculino da Universidade Holt tem muitos problemas. Minha capacidade de marcar gols não é um deles. É isso que me convence a desacelerar, circular e enviar o disco para Hunter, em vez de eu mesmo atirar. Ele olha entre Louis Jamison e eu, tentando decidir para quem enviar. Um de nós não conseguiu um único tiro entre os ferros em todo o treino, e essa pessoa não sou eu. Hunter está executando o mesmo cálculo que acabei de fazer e chega à mesma conclusão. Ele passa para Louis, que consegue um tiro que quase passa por Willis. Nosso goleiro o pega no ar no último segundo, jogando-o para fora de sua luva e contra as pranchas com um salto inofensivo. Um apito estridente perfura o ar frio. — Acabou, rapazes. É tudo o que ele diz. A menos que um de nós esteja executando uma jogada incorretamente ou atrasado para treino, o treinador Keller é um homem de poucas palavras. Rumores no campus são de que ele tinha aspirações mais altas do que treinar temporada após temporada de recordes irregulares sob uma nuvem de chuva perene. Literalmente. Dias ensolarados é uma ocorrência rara em Somerville, Washington, onde a Universidade Holt está localizada. — Você acha que o treinador vai abrir um sorriso se vencermos na sexta-feira? — pergunta Hunter quando saímos do gelo e pisamos nos tapetes de borracha que levam ao vestiário. — Ele parecia razoavelmente divertido antes de perdermos na prorrogação durante os playoffs do ano passado, — diz Aidan atrás de nós. — Quando foi, Sampson? — Dez de março, — responde Robby enquanto entramos no vestiário e começamos a tirar o equipamento suado. Sampson tem uma capacidade estranha de recordar datas que ninguém mais pensaria duas vezes. Ele seria um bom detetive. Aidan dá de ombros enquanto desamarra seus patins. — Sete meses atrás? Sou um merda em matemática. Seja como for, é melhor ele usar algo além de uma carranca se vencermos Rockford na sexta- feira. Não me lembro da última vez que uma parte do meu corpo não doeu, e a temporada sequer começou. — Você e Hart devem formar um grupo de apoio, — sugere Hunter, sorrindo. — Já posso ouvi-lo reclamando de suas costelas pelos próximos dias. Obrigado por isso, Sampson. Robby ri. — Sem dor, sem ganho. — Hart é a nossa única esperança de um campeonato. Tenha cuidado com ele, — instrui Aidan. — Odeio todos vocês, além de Phillips, — declaro antes de ir para os chuveiros. Apesar da falta de pressão da água,o jato quente parece um paraíso líquido contra meus músculos. Não é apenas o golpe de Robby anteriormente. Passei os mesmos sete meses em que o treinador ficou sem humor preparando meu corpo. Corridas regulares. Sessões de peso extra. Voltas intermináveis ao redor da pista. Estou na melhor forma da minha vida. Vendo como dediquei toda a minha carreira de hóquei a ser sempre o cara mais rápido do gelo, isso diz alguma coisa. Ao contrário do treinador Keller, minhas maiores esperanças ainda estão em jogo. Equipes profissionais de hóquei não contratam jogadores de escolas como Holt com a chance de tropeçarem no próximo Wayne Gretzky em meio à mediocridade. Se eu quiser uma chance, preciso fazer barulho. Observadores e empresários não podem se desconectar. Estatísticas de cair o queixo, temporada excelente, tipo campeonato nacional. Eu sou bom. O problema é que o hóquei é um esporte de equipe e, por mais que eu goste dos caras no vestiário, nenhum deles jogaria em uma escola com um programa de hóquei melhor que o da Holt. Eu poderia, e o fato de não ter é uma das muitas coisas pelas quais sou amargo. Junto com a inoportuna – para dizer o mínimo – concussão no acampamento de habilidades de verão que me fez perder a liga e o draft2 há dois anos. Ser contratado como jogador livre é minha única esperança de jogar profissionalmente agora. Ensaboo meu cabelo e vejo como a espuma branca desaparece pelo ralo, então desligo a água e pego uma toalha surrada. Holt poupou despesas quando se tratava de suas instalações esportivas. Visto um moletom Holt Hockey e volto ao meu armário – praticamente tudo o que visto – e passo a toalha surrada no meu cabelo curto enquanto espero Hunter juntar suas coisas. Meu carro está na oficina, então dependo dele para me locomover ou andar na chuva. — Gaffney’s? — pergunta Hunter, vestindo seu próprio moletom Holt Hockey. 2 Processo usado em alguns países (especialmente na América do Norte) e esportes (especialmente em ligas fechadas) para alocar determinados jogadores às equipes. Em um draft, as equipes se revezam na seleção de um grupo de jogadores elegíveis. — Sim, claro. — Tudo o que me espera em nossa casa compartilhada é um saco de ervilhas e uma pilha de trabalhos de casa. — Gaffney’s, Sampson? — Inferno, sim, eu estarei lá, — responde Robby. — Eu também, — acrescenta Aidan. — E você, Williams? — pergunta Hunter a Jack Williams quando ele sai dos chuveiros. — Não posso, cara. Grupo de estudo hoje à noite. Hunter e eu trocamos olhares, e é um milagre que nenhum de nós tenha começado a rir. Jack é o tipo de idiota que imagino jogando golfe, não hóquei. Ele é um zagueiro decente, mas um ponto fora da curva no time. Ao contrário de todos nós, ele parece ter aspirações mais altas por seus anos de faculdade do que ficar bêbado e transar por aí. E jogar hóquei, é claro. A notícia de nossos planos pós-treino espalha rapidamente entre o resto dos caras. Hunter termina de se arrumar e saímos para a luz que cai do céu. O complexo atlético da Holt consiste em três edifícios: a arena de gelo, o ginásio de basquete e as salas de musculação e, finalmente, a piscina e equipamentos de exercícios genéricos, como esteiras e elípticos. Ao contrário de escolas maiores e mais centradas no esporte, Holt não concede tratamento preferencial a seus alunos atletas em relação ao resto da escola ou da cidade vizinha. Temos que agendar nosso tempo no gelo intercalando com Somerville Sharks – um time local de hóquei juvenil – e abrir sessões de patinação no gelo para o público em geral duas noites por semana. O tempo na sala de musculação é uma negociação tensa entre nós e o time de basquete. A única vantagem é que o desinteresse da Universidade em relação a seus atletas é compartilhado pela maior parte do corpo estudantil. Lutamos por tempo e espaço contra outras equipes esportivas e alunos do ensino fundamental. Poucos alunos de Holt fazem a longa e muitas vezes molhada caminhada até o complexo esportivo nos arredores do campus para se exercitar regularmente. Ou dirijam até aqui. O estacionamento está vazio, além de alguns carros, quando chegamos ao SUV de Hunter. Aidan dirige-se à caminhonete vermelha e brilhante que fornece um suprimento infinito de provocações do resto de nós. É uma sombra semelhante a um caminhão de bombeiros. Contra o pano de fundo cinza suave de um outono de Washington à beira do inverno, ele se destaca. O de Aidan também não se mistura, então acho que se encaixa. E o veículo dele está funcionando, o que é mais do que se pode dizer sobre o meu carro. A viagem ao Gaffney's é curta. Já estamos na periferia do campus, mais próximo do centro de Somerville. É um tiro direto na, originalmente chamada, Main Street, para a pequena coleção de edifícios que servem como centro da cidade. O que poderia ser descrito como um shopping contém algumas lojas e uma rede de supermercados, seguidas pela biblioteca, correios e escola primária da cidade. Logo depois, é onde os alunos da Holt passam a maior parte do tempo. Há algumas cafeterias, um restaurante italiano, uma livraria, um lugar popular para rosquinhas, e então o Gaffney's fica no outro extremo. Hunter estaciona no lote localizado ao lado do pátio externo que não tem muito uso. Beber uma cerveja gelada com uma garota gostosa é uma experiência muito menos agradável na chuva, eu descobri. Os olhos agressivos de Aidan deslizam para o próximo local disponível alguns minutos depois. Ficamos um tempo no estacionamento para esperar o que se transforma na maioria da equipe. Há uma escassez flagrante de opções de entretenimento à noite, especialmente durante a semana. Além disso, apesar de – ou talvez por causa – da quantidade significativa de tempo que passamos juntos, somos um grupo unido. Sair do gelo não é uma ocorrência rara. Metade dos caras aqui ainda não tem vinte um, mas isso não importa. Jogadores de hóquei raramente são baixos ou desconexos. Poucos caras da equipe parecem menores de idade. Também estamos a uma curta distância do campus de Holt e dos bairros onde a maioria dos estudantes mora. A decisão bêbada mais perigosa que você poderia tomar seria caminhar para o sul, e não para o norte, em direção às profundezas geladas e escuras do Sound. Entramos como uma massa ruidosa de testosterona recém- banhada. Gaffney's tem uma sensação casual natural, não organizada. São pisos desgastados, músicas country antigas e noites de quiz. O restaurante já está cheio quando entramos, lotado principalmente de outros alunos da Holt. Terças-feiras são uma oportunidade para asinhas e cerveja pela metade do preço, uma venda fácil para estudantes consternados que a semana está apenas na metade. Normalmente eu seria um deles, mas nosso jogo na sexta-feira me fez duvidar de um desejo de que o tempo passasse mais rápido. Sete meses de preparação por uma hora no gelo. É o primeiro jogo da minha temporada sênior. Haverá mais. Trinta e quatro, para ser exato. Mas sexta-feira é minha chance de colocar planos em movimento. Não existe uma segunda primeira impressão. Um começo explosivo antes de outras histórias consumirem a cobertura limitada do hóquei universitário é minha melhor chance de chamar a atenção que preciso desesperadamente. Não tenho outra opção viável. — Ei, Harlow. Sou distraído dos meus pensamentos turbulentos pela saudação inocente de Aidan ao passarmos por uma das mesas altas ocupadas. Vários dos outros caras com quem estou repetem, reconhecendo alegremente a ruiva que persigo sem dizer uma palavra. Se não estivesse estressado e distraído, não levaria tanto tempo para notá- la. Posso agir como se ela não existisse, mas sempre a noto. Harlow Hayes e eu compartilhamos história. Não é o tipo que nós mesmos escrevemos. É complicada. Bagunçada.Conflitante. Era uma coisa no primeiro ano, quando eu, no máximo, vislumbrava seu cabelo cor de fogo no refeitório ou no pátio. Nossos caminhos não se cruzaram. Holt não é uma escola grande, mas é grande o suficiente para evitar alguém se você estiver motivado o suficiente. Nós dois estávamos. Estamos. No segundo ano, ela namorou Jack Williams, meu colega de equipe. Eles terminaram depois de alguns meses, mas a breve aventura deles resultou em uma camaradagem com vários dos meus outros colegas de equipe forte o suficiente para se recusarem a seguir minha liderança e agir como se ela não existisse. Quando se trata da maioria das coisas, eles me seguem por um penhasco. Uma garota que fez os cookies da equipe uma vez? Riu de algumas de suas piadas mais divertidas? Eles poderiam não dar a mínima com o que eu penso. Hunter me dá um olhar confuso quando ele se senta ao meu lado na mesa que eu escolhi. O resto dos caras também se senta. Hunter não diz nada, mas sei que isso o deixa perplexo – toda a equipe, na verdade – por que me recuso a falar com Harlow. Tenho um temperamento curto no gelo. Normalmente sou o primeiro a largar luvas quando alguém começa a falar merda. Mas fora isso eu costumo ser um cara fácil. Uma garota aleatória incitando minha ira não faz muito sentido. Eles estão igualmente intrigados com a maneira como ela combina com minha perpétua grosseria. Nas poucas vezes em que estivemos próximos, Harlow foi igualmente insistente em me ignorar. Nossa guerra fria é gelada em ambas as frentes, o que os caras percebem, embora não entendam o motivo. Explicar exigiria compartilhar partes do meu passado que não discuto. Verdades dolorosas que estou cansado de deixar me definir e resolvi largar assim que saí da pequena cidade em que cresci. Nenhuma garota mudará isso. — É bom ver você sendo tão social, Hart, — brinca Aidan quando se senta. Pelo que assumo ser uma razão hormonal, ele nutre um fraquinho por ela. Eu ri. — Sou muito social. Com pessoas que eu gosto. — O que há para não gostar em Harlow? — pergunta Robby, levantando as duas sobrancelhas. — Quero dizer, se Williams não tivesse chegado lá primeiro... Há uma concordância murmurada em torno da mesa. Não conheço os detalhes – porque evito falar dela a todo custo – mas sei que Jack não aceitou bem o rompimento com Harlow. Ainda- tem-sentimentos-por-ela-dois-anos-depois, não é aceitar bem. Ele namorou algumas desde então, mas nada sério. Nenhum cara da equipe quer agitar o barco se envolvendo com Harlow, e suponho que isso significa que devo parar de fazer piadas sobre a venda de Vineyard Vines à custa de Jack, porque é absolutamente o melhor cenário para mim. A garçonete vem anotar nossos pedidos. Ela é uma loira alegre que já nos serviu. Stacey, lembro, graças ao crachá afixado em sua camisa. — Ei, meninos, — cumprimenta, examinando a mesa. Seus olhos castanhos se iluminam quando pousam em mim. Eu pisco para ela e ela fica corada. Pego o cardápio laminado e olho para ele quando ela começa a anotar os pedidos dos caras. Peço hambúrguer e cerveja quase todas as vezes, mas ou é verificar as outras opções ou ouvir Robby refletir se deve comer asas ou pizza pelos próximos cinco minutos. Olho para as palavras que mostram as ofertas limitadas de Gaffney com tanta intensidade que ficam borradas. Finalmente, olho para cima. Viro minha cabeça para a esquerda. Fixo meu olhar na mesa pela qual passei e o resto dos caras parou minutos atrás. Ela não está olhando para este lado. A atenção de Harlow está na garota de cabelos escuros, sentada ao seu lado, que está gesticulando uma história usando as duas mãos e faz Harlow rir. Elas estão com um grupo de outras pessoas, mas não registro um único detalhe sobre mais ninguém na mesa. Permito-me estudar Harlow – a garota com quem nunca falei e nunca falarei. Ela é gostosa. Bonita. Impressionante. O ódio não me deixa tão imune à aparência dela quanto eu gostaria de ser. Harlow Hayes é uma importação canadense muito mais atraente do que o petróleo bruto ou o xarope de bordo. Cabelo vermelho. Maçãs do rosto altas. Boca carnuda. Mas… O que há para não gostar em Harlow? Ela é culpada por associação. CAPÍTULO DOIS A névoa paira pesada ao longo da costa escarpada em cortinas transparentes que impedem uma visão perfeita da água. Estremeço quando saio do meu carro, lamentando a perda de calor enquanto puxo as laterais da minha capa de chuva amarela para mais perto a fim de bloquear o frio que se esgueira sob o revestimento de poliéster. Novembro geralmente contém alguns dias mais quentes e ensolarados. Hoje não é um deles. O ar salgado cobre meu cabelo e minha pele exposta. A brisa que sopra é rica com o cheiro de peixe e o tom amargo do inverno se aproximando. Ninguém me para ou me pergunta o que estou fazendo aqui enquanto ando pela costa rochosa e desço a passarela. Todo mundo está muito fixado em sua própria lista de tarefas para se preocupar comigo andando por aí. Depois de três anos, todo mundo parou de prestar atenção à mulher solitária por ali. Bem, quase todo mundo. — Ah, aí está ela! — Um sorriso largo transforma as características desgastadas de Samuel Prescott. Os cantos dos olhos se enrugam, formando linhas que caem nos vincos ao redor da boca. — Que visão para os olhos cansados. — Eu ou o café? — provoco. Sam ri. — Por mais que eu goste, a cafeína não substitui a companhia. — Não contarei aos meninos. — Sorrio antes de estender a xícara para ele. — Mas comprei avelã para você hoje. — Você me mima, — diz Sam enquanto pega a caneca quente. Subo a bordo do velho barco de pesca, segurando minha xícara de café com força enquanto passo de uma madeira firme para um plástico balançando suavemente. — Por favor. Passo no meu caminho para cá, de qualquer maneira. E é o mínimo que posso fazer por você me deixar ir junto. — Nenhum problema. Brent acabou de ligar. Ele e os meninos estão atrasados. Timmy está consertando uma rede. Podemos sair um pouco tarde esta manhã. — Estou pronta a qualquer hora. Sam ri. — Eu sei. Aquele teste com o qual você estava preocupada na semana passada, foi bem? — Sim, — respondo, — pelo menos, acho que sim. Não receberei a nota por mais alguns dias. — Tenho certeza que você se saiu bem. — Sam me dá um sorriso tranquilizador. — Você trabalha duro. Quando estava na escola, eu e os caras com quem andava não levávamos os testes muito a sério. — Isso é verdade para muitas pessoas em Holt, — digo a ele. Uma pessoa em particular vem à mente, mas não falo. Nunca o trago à tona. Além disso, sei que Sam é um fã de hóquei. — A rede está pronta para ser usada. — Timmy aparece. Ele joga uma bola de malha de corda na parte de trás do barco, depois sobe a bordo. — Bom dia, Harlow. — Bom dia, Timmy, — respondo, movendo-me para a proa do barco onde está minha caixa de leite. Brent, seu irmão Jerry e seus dois filhos chegam alguns minutos depois, cumprimentando-me com sorrisos amigáveis. Eles se movem pelo barco em uma dança bem coreografada, realizando as tarefas profundamente fixas neles depois de anos completando-as repetidamente. Cada peça de equipamento é verificada. As cordas são desamarradas e atadas antes de nos afastarmos da doca. As redes são espalhadas em preparação para serem lançadas ao mar. Bocejo, depois tomo um gole de café enquanto nos afastamos da praia, esperando que a cafeína lave o lembrete de que estou acordada a esta hora por minha própria vontade. A água agitada logo se torna o único cenário à medida que avançamos para o Sound. A névoa persistente pinta a costa como uma pintura em aquarela, manchada e nublada. Preciso adivinhar as formas à distância. As espalhadas ao longo da costa de onde acabamos de partir. Algumashoras se passam. Olho para a água a cada minuto delas, nunca desviando meu olhar da superfície cinzenta do mar enquanto meus olhos se esforçam para olhar através do véu que nunca se levanta completamente. Marco cada ponto em que paramos na planilha do meu telefone com um X para notar a falta de avistamentos de cetáceos. — Desculpas ao cientista a bordo, — grita Sam quando voltamos à marina. — Os peixes estavam mordendo. As orcas não foram encontradas em lugar nenhum. — Sempre há semana que vem, — digo com um sorriso, tentando mascarar minha decepção. Testemunhar baleias na natureza é um privilégio, nunca uma conclusão inevitável. Morando no noroeste do Pacífico, sei que tenho mais sorte do que a maioria dos aspirantes a biólogos marinhos. Perdi as contas de quantas vezes testemunhei essa majestade pessoalmente. Nunca se torna menos espetacular, no entanto. O que significa que nunca é menos decepcionante quando uma oportunidade é perdida. Atracamos no cais e a equipe de Sam começa a descarregar seus despojos de pesca. — Obrigada, Sam. Vejo vocês na próxima semana, — digo quando saio do barco e volto ao cais. A maioria das docas ainda está vazia. Sam está chegando à idade da aposentadoria, o que significa que suas viagens são mais curtas do que muitos tentando ganhar a vida na indústria de frutos do mar. Adoro a água, mas não na medida em que quero passar o dia todo a bordo de uma pequena embarcação. Tenho sorte que Sam foi quem me convidou para sair depois de semanas passeando no primeiro ano da marina. Os homens se despedem de mim enquanto refaço meus passos desde o início desta manhã. Não está tão frio quanto durante aquela caminhada, mas a temperatura do ar não subiu muito. Não perco tempo entrando no meu carro e aumentando o ar quente. Estou ansiosa para chegar em casa e tomar banho. Meu telefone toca quando estou saindo do estacionamento da marina. Sorrio quando vejo o nome de Landon Garrison piscar no visor do carro. — Ei, — respondo. — Por que você parece tão acordada? Mal são oito horas, — resmunga meu melhor amigo. — Fui nadar, — minto. — Estou voltando para casa agora. Por alguma razão, nunca contei a ninguém sobre minhas viagens semanais ao Sound no barco de pesca de Sam. Não sei porquê. Quem me conhece bem está ciente da minha obsessão pelo oceano. Das horas que passo memorizando espécies de algas e estudando as correntes marítimas. Que meu sonho é fazer disso uma carreira. Meu tempo no barco é diferente. Vou anotar no meu telefone os pods3 que encontramos. Seus números, se foram marcados. Minhas observações não fazem parte de um experimento ou de qualquer esforço oficial de conservação. Estar na água é libertador. Sempre foi o lugar onde medos e frustrações não podem me tocar. Manter meus passeios matinais para mim é minha maneira de proteger isso, de alguma forma. E vou nadar na maioria das manhãs, então não parece uma mentira de verdade. Apenas uma pequena omissão da verdade. — Uau. Nadar antes das oito em um sábado. Você teve uma louca noite de sexta-feira, hein? — pergunta Landon. — Absolutamente selvagem. — Eu combino com o sarcasmo dele. — Eve e eu tivemos uma maratona de James Bond. — Desde quando você assiste algo além de documentários da natureza e comédias românticas? 3 Pequenos grupos de mamíferos marinhos — Eve escolheu. Ela tem uma queda por Daniel Craig. Quero dizer, quem não tem? — Ninguém vem à mente imediatamente, — responde Landon. Reviro os olhos para seu tom sarcástico. — O que você está fazendo acordado a essa hora, rockstar? — Tempo de estúdio. Fique chocada, mas poucas pessoas querem o horário das oito da manhã em um sábado. — E você convenceu o resto dos caras a aparecer? — Acho que sim? Adam provavelmente se atrasará, mas prometeu que virá. — Vocês estão gravando coisas novas? — Não. Isso exigiria ter coisas novas para gravar. — Ah, certo. — Papai voltou a falar sobre o Plano B novamente, — suspira Landon. — Nem mesmo esperou até que eu esteja no último ano. — Apenas escreva uma música que lhe dará um Grammy, — sugiro. — Então, você pode segurar um gramofone4 brilhante toda vez que ele disser algo sobre um plano de backup. Diga a ele para falar com o Grammy. — Oh, perfeito. Por que não pensei nisso? Eu rio. — Ele quer que você tenha sucesso, Landon. — Sim, eu sei. E não é como se eu não soubesse que a música é uma indústria difícil de entrar. — Ele exala alto e depois fica em silêncio. — Você viu o e-mail? Aperto a seta um pouco mais forte do que o normal quando viro para a minha rua. Não que eu não achasse que isso não aconteceria. Achei que era a razão pela qual ele estava ligando em primeiro lugar. — Sim, com certeza vi. — Eles perguntaram sobre isso antes do tempo? — Não. 4 Troféu do GRAMMY Awards concedido pela Academia. — Sinto muito, Harlie, — Landon só usa meu apelido de infância quando está tentando me irritar ou preocupado que eu esteja mais chateada com alguma coisa do que estou deixando transparecer. — Tudo bem. É uma ideia muito legal. Apenas será... difícil de enfrentar. — Por que será em memória de seus pais ou porque é uma maratona? Eu rio. — Ambos. — Bem, se isso faz você se sentir melhor, definitivamente terei um tempo pior do que você. Sem mencionar meus pais. Vou precisar contratar um personal trainer. Eu me recuso a terminar atrás deles. Papai ainda joga o tempo todo. Uma vez atleta, sempre atleta. — Ele ri. — Vocês não precisam correr a maratona completa. Podem correr a metade. Ou não precisam correr. — É claro que todos nós vamos correr. Eles arrecadarão dinheiro a cada milha. Além disso, é isso que a família faz. Um nó se forma na minha garganta quando sinto uma onda de apreço pelas pessoas que me acolheram após a morte de meus pais. Faz com que eu sinta que ainda tenho uma casa, não apenas um lugar para dormir durante os intervalos da Holt. Após vinte anos de amizade, Landon pode sentir que estou sobrecarregada, mesmo por telefone. — Mamãe e papai estão falando em visitar Somerville, — diz ele. — Mamãe disse que você parecia estressada da última vez que falou com ela. — O último ano da faculdade é estressante, — digo a ele. — Você descobrirá no próximo ano. Landon é nove meses mais novo que eu, então sempre tivemos um ano de diferença na escola. Ele é apenas um calouro enquanto estou correndo para o final da minha carreira universitária. — Mal posso esperar, — diz ele. — Eles não precisam vir visitar, — digo. — Estarei em casa em apenas algumas semanas no Dia de Ação de Graças. — Eles querem, Harlow. — Eu sei, mas... — Eles não deveriam ser incapazes de visitá-la só por causa dele. Fico calada. A disfunção que poderia ser a trama de um drama televisivo semi-bem-sucedido é um campo minado que faço o possível para evitar. Estou surpresa que Landon esteja trazendo Conor. Ele raramente o faz, a menos que haja uma oportunidade de fazer um comentário cáustico. Landon é a pessoa mais amigável e relaxada que possa conhecer. Até que o assunto de seu meio-irmão seja abordado. — Você terá outra maratona de filmes hoje à noite? — pergunta Landon após o silêncio se arrastar por algumas batidas, nem se incomodando em agir como se não fosse uma tentativa descarada de mudar de assunto. — Não. Eve quer ir a um jogo de basquete. — Sério? Landon já conheceu minha melhor amiga e colega de quarto, Eve. Seus muitos interesses ecléticos incluem decoração de interiores e bordados. Não esportes. — Sim. Ela inventou essa lista de coisas a fazer antes do final da faculdade durante nossa bebedeira na noite passada. Ir para um evento esportivo foi o escolhido. Não compartilho algumas das outras tarefas que completaram a lista de vinte itens, como usar pijama para a aula e fazer sexo emuma sala de estudo. Eve fala que será uma grande brincadeira, mas acho que – espero – a maioria cairá no esquecimento. — E você decidiu assistir basquete? — Há outros esportes de inverno? — pergunto inocentemente. — Harlow... — Eu mal o vejo, Landon. É a segunda mentira que conto a ele no decorrer dessa conversa. Vi Conor Hart no Gaffney's quatro noites atrás. Ele me ignorou e agi como se ele não estivesse sugando toda a atenção e oxigênio do restaurante. — Bom. Paro na frente da minha casa e desligo o carro. — É melhor eu ir, Land. Acabei de chegar em casa e cheiro a cloro. Agora são três mentiras. Embora eu cheire. — Ok. Falo com você em breve. Você sempre pode vir para Brighton. Mamãe e papai poderiam nos visitar. — Sim, seria divertido, — respondo, apesar do fato de que há uma razão pela qual escolhi frequentar Holt e viver na sonolenta Somerville. Além de ver Landon, Brighton não me atrai. — Boa sorte gravando. Landon bufa. — Sim, obrigado. Falo com você mais tarde. A ligação é encerrada. Permaneço no meu carro estacionado, olhando para o céu nublado. Empurrei o e-mail que vi no início desta manhã para o fundo da minha mente. Minha conversa com Landon trouxe de volta à tona. A cidadezinha na costa oeste do Canadá, onde cresci, abriga uma maratona como parte de seus eventos anuais de verão. Este ano, será em homenagem aos meus pais para arrecadar dinheiro, na esperança de salvar os outros do mesmo triste destino. Suponho que eles decidiram que quatro anos eram tempo suficiente para comemorar. É um gesto atencioso que eu deveria estar e estou grata. Também é um lembrete de uma noite que gosto de fingir que nunca aconteceu. Não nego que meus pais se foram. Nunca tive uma grande ilusão de que eles saíram em férias prolongadas e voltarão a qualquer momento. A morte deles é uma realidade que enfrento. Como a decisão de um estranho de ficar bêbado alterou para sempre minha vida. Como as coisas que você considera garantidas – como ter pais – podem desaparecer no mesmo curto espaço de tempo que leva para piscar um olho. Saio do meu carro e sigo pela frente para o duplex que compartilho com Eve. Além de Landon, que me conhece praticamente desde o nascimento, ela é minha amiga mais próxima. Fiz um péssimo trabalho em manter contato com as crianças com quem cresci. Assim como a próxima maratona, eles são um lembrete doloroso do passado. Prefiro me lembrar dos bons tempos com meus pais. Não os olhares simpáticos no último ano do ensino médio. O grupo de luto que eu frequentava esporadicamente. Será um retorno constrangedor se eu seguir meu plano de voltar à cidade em que cresci depois da formatura. Destranco a porta da frente e entro no pequeno hall. Eve e eu tivemos a sorte de conseguir este lugar para o último ano. Casas próximas ao campus e ao centro da cidade são ocupadas rapidamente, e geralmente monopolizadas por equipes esportivas e irmandades que têm grandes grupos de pessoas querendo se filiar. Lugares com dois quartos como este são raros. A cozinha está vazia quando entro. Não estou surpresa que Eve ainda esteja dormindo. Pipoca derramada está espalhada pela bancada, e eu a varro no lixo antes de seguir pelo corredor para o meu quarto. Estou tentada a tirar todas as minhas roupas e tomar um banho escaldante. Mas não fui nadar esta manhã e não há tempo como o presente para ver como estou para terminar uma maratona. Tanto quanto me lembro, era um evento casual. Não há prêmios em dinheiro ou medalhas oferecidos na linha de chegada. É tudo patrocinado para caridade. Ainda são quarenta e dois quilômetros. Suspiro enquanto troco minha capa de chuva por um sutiã esportivo e fleeces5. Vou correr até ao centro e voltar. Começar em algum lugar. Natação sempre foi minha forma preferida de exercício. Não conheço ninguém que corre regularmente por diversão ou fitness. Masoquistas. 5 Casaco esportivo com tecido isolante macio feito de poliéster. Landon estava brincando sobre a contratação de um personal trainer – eu acho – mas talvez eu precise de um para me motivar. Não há sinal de atividade quando volto ao ar úmido e frio e começo a correr. Não é terrível. A princípio. A batida dos meus tênis no asfalto é rítmica. O ar entra e sai dos meus pulmões facilmente. Não sei se é sobre isso que as pessoas fãs de correr falam, mas estou me sentindo muito bem. Tão bem que estendo minha distância original e corro por toda a Main Street, até a borda do campus antes de voltar para a Spring. De repente, correr não é tão fácil. Parece que a porcentagem de oxigênio no ar despencou. Bater no chão duro é mais desconfortável do que relaxar. Minhas panturrilhas estão duras e tensas. Quase lá. Quase lá. Quase lá, eu canto para mim mesma enquanto me forço a continuar correndo e não diminuir a velocidade para uma caminhada. Acho que não corri mais de dois quilômetros. Talvez três? Não quero saber o quão abismal de uma conquista atlética isso é. Assim como eu gostaria de poder mentir para mim mesma sobre o quanto ainda preciso correr. Seis quarteirões. Um quarteirão depois passo pelo Sr. Goodman passeando com seu cachorro. Aceno para ele, esperando parecer melhor do que sinto. Ele não chama uma ambulância, então devo parecer. Faltam cinco. Quatro. Três. Dois. Posso ver meu carro. A entrada. A porta da frente. Desabo no gramado, não me importando que a grama esteja molhada. É bom, na verdade. Ofego, me levanto e olho para o céu. Eventualmente, estimulo minhas pernas para se colocarem em movimento. Com membros trêmulos, vou para a porta da frente. Minha entrada é um alvoroço. Lanço meus tênis e derrubo o suporte do guarda-chuva enquanto tiro meu fleece e tropeço no espaço que leva para a cozinha. Eve está na ilha da cozinha, comendo uma banana. — O que diabos aconteceu com você? — Fui correr, — arquejo. — Por quê? — pergunta ela, parecendo horrorizada. Excelente pergunta. — Correrei uma maratona neste verão. — Por quê? — repete Eve. Encolho os ombros. — Parecia um bom objetivo de vida. Construção de caráter, sabia? Ela levanta as duas sobrancelhas e dá outra mordida na banana. Não deveria ser uma expressão persuasiva, mas funciona comigo. — Será em casa. Em memória dos meus pais. — Vou para a geladeira e pego a jarra de água para encher um copo. — O dinheiro irá para uma organização que trabalha para manter motoristas bêbados fora da estrada. Tomo um gole de água e olho para ela. Eve está me estudando. — Tudo bem. Estou bem, — garanto. Eve é a única pessoa em Holt que contei sobre meus pais. Que eles estão mortos e como morreram. Deixei todos os meus outros amigos aqui acreditarem que os pacotes de cuidados que os Garrisons enviam são dos meus pais, não da melhor amiga da minha mãe e seu marido. — Você precisa de alguém para treinar com você? Porque eu totalmente vou. Sorrio para ela, esperando que isso transmita apreciação e carinho. Vindo de Eve é uma oferta generosa. Ela faz longas caminhadas para poder ouvir seus podcasts favoritos, mas sei que sua velocidade máxima preferida é apenas isso: uma caminhada. — Eu não faria você fazer isso. Hoje fui sozinha e foi tudo bem. — Deixo de fora o fato de que não sei se poderei andar amanhã. — Vou tomar banho. Os vinte minutos que passo sob um fluxo fumegante de água quente ajudam a lavar as memórias traumáticas do exercício desta manhã. Coloco meu par de moletons mais confortável e me preparo para um smoothie antes de me aconchegar no sofá. Eve se acomodou na mesa da cozinha para trabalhar em sua última obra de arte. É um sábado típico. Eu relaxo no sofá, alternando entre estudar e assistir a episódios antigos de Arrested Development. Só levanto minha bunda para o sustento ocasional. Os lápis de Eve arranham ao fundo o tempo todo. Eles não paramaté que seja necessário acender as luzes da sala de estar. Bem, eu não ligo. Eve liga. Estava contente em deitar aqui no escuro, assistindo televisão. Olho de soslaio na luminescência artificial. — É hora de ir! — anuncia Eve. — O jogo de basquete começa em vinte minutos. — Pensei que você tinha esquecido, — resmungo. Eve faz um som de incredulidade, então aponta para o quadro de avisos à direita do fogão. A lista de desejos do último ano que ela rabiscou ontem à noite é exibida com destaque ao lado de nossa pequena coleção de menus para viagem. Suspiro e saio do sofá. — Dez minutos! — grita Eve enquanto sigo pelo corredor até o meu quarto. Estou tentada a usar meus moletons, mas resisto ao desejo. Sinto-me nojenta depois de ficar com eles o dia todo e acho que sairemos depois do jogo. Visto meu par favorito de jeans skinny escuro e um moletom com capuz cinza da Universidade Holt. Meu cabelo ruivo já está uma bagunça, então faço um coque solto, espero que pareça mais proposital do que preguiçoso. Um pouco de rímel e estou pronta. Eve já está me esperando. Ela trocou de roupa para calças de veludo e um suéter rosa. A maior parte de seu guarda-roupa consiste em roupas que eu nunca conseguiria usar, mas em Eve elas funcionam. — Preparada? — Ela sorri para mim. — Sim, vamos lá. — Eu dirijo. — Eve pega as chaves do balcão da cozinha. — Quem diria que você ficaria tão empolgada com esportes? — pergunto enquanto saímos. — Mary disse que os jogos são superdivertidos. — Mary gosta de basquete? Eve me dá um olhar astuto. — Mary gosta de Clayton Thomas. Eu rio. — Oh. Entendi. Não sei quase nada sobre basquete. Sei que os cabelos loiros e o sorriso amigável de Clayton fazem dele uma figura popular no campus. Ao contrário do outro atleta masculino bem conhecido no campus – Sr. Hart-breaker 6– ele também é um cara decente. Tivemos uma aula de humanas juntos no ano passado. — Acho que ela está esperando que você a apresente, — diz Eve. — E a trama se complica, — falo quando entramos no carro de Eve. Ela olha timidamente para mim enquanto liga o carro. — Ouvi falar dele por semanas em nossa aula de pintura, ok? Disse a ela que tentaria puxar conversa com ele. Mas não é como se eu estivesse no primeiro nome com todas as equipes esportivas do jeito que você tem. — Isso é um grande exagero. — Todo o time de hóquei parou para falar com você quando estávamos no Gaffney's na terça-feira. Nem toda a equipe. Conor passou por mim sem dizer uma palavra, e eu gostaria de não ter notado. Embora uma parte pequena e vingativa estivesse feliz por ele não parecer satisfeito com seus companheiros de equipe falando comigo. Ele raramente está por perto quando o fazem. 6 Jogo de palavras, uma vez que Hart é o sobrenome do personagem e heartbreaker significa alguém que parte corações. — Isso é só por causa de Jack. Você sabe disso. Não me arrependo de ter namorado Jack Williams no segundo ano, mas se eu pudesse voltar e mudar, eu o faria. Ao contrário do resto do time de hóquei, ele usa camisas de botão e calças – na maioria dos dias. Não fazia ideia de que ele estava no time até o nosso segundo encontro. Fiz questão de me afastar de qualquer jogador de hóquei de Holt até então. Quando soube que Jack estava no time, decidi não deixar Conor influenciar minha vida. Infelizmente, essa postura teimosa fez meu relacionamento com Jack durar mais tempo do que eu pretendia, algo pelo qual me sinto culpada toda vez que o vejo. — Jack nem estava lá, — aponta Eve. — Apenas diga oi para Clayton quando o virmos e se Mary e eu estivermos com você, você pode apresentá-la. — Quando o virmos? Você sabe que o time não costuma bater papo com os espectadores entre os tempos, certo? — Há socialização na festa depois, no entanto. Eu rio. — Uh-hum. Quando você planejava me informar sobre todo o itinerário desta noite, colega de quarto? — Se você tentasse sair de casa de calça de moletom. Reviro os olhos quando Eve estaciona do lado de fora do prédio esportivo que abriga o ginásio de basquete. Mary corre até nós assim que entramos no saguão. Ela é estudante de arte como Eve. Ao contrário de Eve, ela é pequena, loira e quieta. Estou surpresa ao saber que Clayton Thomas é o tipo dela. Ele pode não ser um idiota, mas tem muitas outras tendências estereotipadas de atletas. Acho que nunca o vi com a mesma garota mais de uma vez. Ele também passou muito tempo da nossa aula de humanas dando em cima de mim. — Oi, Mary, — cumprimento. — Oi, Harlow, — responde, me dando um sorriso tímido. — Harlow está a bordo do plano, — anuncia Eve, piscando para Mary. — Realmente não conheço Clayton muito bem, — digo a Mary, — mas ficaria feliz em apresentá-lo. Ela cora. — Obrigada. — Vamos conseguir lugares, — decide Eve. Nós três entramos no ginásio. Cheira a suor e pipoca velha. A participação é medíocre, o que não me deixa tão chocada. Holt deixa muito a desejar quando se trata de espírito escolar. — Não há muita gente, hein. — Eve lê meus pensamentos. — Não. Mas você deveria ter visto o jogo de hóquei ontem à noite, — diz Mary. — Completamente insano. Parecia que toda a escola estava lá. — Desde quando você vai aos jogos de hóquei? — pergunta Eve. Mary ri. — Darcy e Teegan queriam ver Conor Hart jogar. Mal resisto a revirar os olhos. Claro. — Holt venceu? — pergunto. — Sim, — responde Mary. — Conor marcou os dois gols. — Droga. Deveríamos ter ido ao jogo ontem à noite, — lamenta Eve, olhando para mim. — E você deveria ter escolhido Conor Hart em vez de Jack Williams. Conor é muito mais gostoso. — A atenção de Eve salta para Mary antes que eu responda. Provavelmente o melhor. — Ela e Jack tiveram um caso no segundo ano, lembra? — pergunta ela a Mary. — Oh sim. Não era... Ignoro a discussão de Eve e Mary sobre meu histórico de namoro. Posso ter confiado em Eve sobre meu próprio passado, mas nunca contei a ninguém sobre a teia emaranhada que me conecta a Conor Hart. Não temos problemas para encontrar lugares, e depois é só esperar o jogo começar. Mary e Eve conversam sobre uma tarefa de arte enquanto procuro rostos familiares nas arquibancadas. Das cerca de cinquenta pessoas aqui, eu diria que conheço um quarto delas pelo nome. Uma garota com quem estudei Biologia Avançada na primavera passada acenou para mim. O jogo começa sem muita pompa ou circunstância. Em um minuto os jogadores não estão na quadra, no próximo eles estão fazendo arremessos de aquecimento. Alguns acertam, mas a maioria erra. Começo a ter a sensação de que este será um jogo longo. Com certeza, ele se arrasta. Faltando dez minutos para o fim, Holt está perdendo por vinte pontos. — Vou ao banheiro, — digo a Eve e Mary, depois fico de pé e contorno a borda da quadra, saindo pela primeira porta que encontro. Olho para a esquerda. Então para a direita. Ambas as direções parecem indefinidas. A piscina fica em um dos outros dois edifícios esportivos. Acho que não estive nesta parte do complexo esportivo de Holt mais que algumas vezes. Ambos para eventos de orientação realizados no ginásio que acabei de sair. Escolho ir para a direita. Não há uma única porta ao longo do corredor de linóleo. Viro a esquina e paro. Estou do lado de fora da entrada de uma sala de musculação que circunda a arena de basquete. As luzes estão acesas. A porta está aberta. E Conor Hart é o único ocupante da sala. Ele está deitado em um dos bancos pretos e estreitos que as pessoas usam para levantar pesos. Fazendo exatamente isso. Fico congelada no lugar enquanto o vejo levantar e abaixar a barra. Irônico, considerando que parece que a temperatura subiu algumas centenas de graus ao meu redor. Não me considero uma pessoa superficial. Julgo as pessoas com base em como elastratam os outros. As coisas que dizem. A maneira como agem. Nunca fiquei atordoada ou deslumbrada com a boa aparência ou influência. Conor tem ambas. Sua atratividade é uma linda ilusão – superficial – e não esqueci isso. Há apenas muito dessa pele em exibição. Criando uma visão tentadora em que bebo como se estivesse perdida no deserto e precisando desesperadamente de hidratação. Conor está sem camisa, vestindo nada além de um par de shorts de malha preta que ficam na cintura. Baixo. Posso ver a definição do V esculpido entre seus quadris e a poeira de cabelo escuro que desaparece no cós de seu short. Meus olhos seguem para o tanquinho mais duro que já vi – não que eu tenha o hábito de cobiçar homens sem camisa, ou que haja muitos para cobiçar em um estado onde a temporada de roupas de banho dura aproximadamente três semanas. Estudo o suor se acumulando em seus peitorais. Avalio a forma como seus bíceps se contraem enquanto ele levanta uma barra com muitos pesos redondos e pesados em cada extremidade. Observo a expressão intensa e focada em seu rosto. Meu olhar percorre seu torso esculpido até as coxas musculosas que se estendem em cada lado do banco, que não parecem resistentes o suficiente para suportar alguém com esse tipo de forma levantando tanto peso. Engulo algumas vezes. Minhas unhas afundam na palma da mão direita. Não tenho ideia de há quanto tempo estou aqui, olhando para ele. Clayton Thomas é objetivamente tão bonito quanto Conor Hart. Ele tem cabelos dourados em vez de escuros. Doçura em vez de arrogância. Simpatia em vez de escárnio. Passei a última hora vendo Clayton correr e suar. Tinha um assento na primeira fila para seus músculos e masculinidade. Nada. Nada. Nenhum efeito. Estava tão entediada que saí para ir ao banheiro. Assistindo Conor levantando pesos? Eu poderia ficar aqui por mais algum tempo e não me satisfazer com essa visão. Raramente me permito olhar para ele, e parece ter tido o efeito perturbador de me fazer não querer desviar o olhar agora que olhei. Finalmente, me forço a recuar. A possibilidade horrível de Conor me pegar olhando para ele é o que me faz virar e sair muito mais rápido do que cheguei. Não me incomodo em tentar encontrar o banheiro. Refaço meus passos de volta para o ginásio. Restam apenas alguns minutos no jogo dos quais mal registro um segundo. De acordo com o placar, Holt acaba perdendo por vinte e oito pontos. Assim que o jogo termina, Eve sugere ir ao Gaffney's. Concordo rapidamente. Talvez uma cerveja gelada clareie a visão do peito nu de Conor do meu cérebro. Eu também meio que gostaria de ter tirado uma foto. Gaffney's está lotado, o que não é surpresa. Acho que nunca estive aqui e não estivesse lotado. Há algo a ser dito sobre opções limitadas, mas a sensação descontraída e amigável do lugar também garantiria sua popularidade, mesmo que houvesse muitas outras opções na cidade. Acabamos encostadas no bar para pedir e comer antes de caminhar até a casa que está hospedando a multidão de basquete hoje à noite. Junto com qualquer outra pessoa que por acaso apareça. Essa é uma das minhas coisas favoritas sobre Holt. Não há sinal da hierarquia social cuidadosamente cimentada presente em tantas outras faculdades. Nas poucas vezes em que visitei Brighton, ficou óbvio que a multidão artística e criativa da qual Landon faz parte é separada de qualquer time esportivo. Aqui, eles se misturam livremente. A presença na festa pós-jogo supera em muito a multidão no próprio jogo. Temos que abrir caminho pela porta da frente e entrar na sala abafada. Imediatamente, vejo Clayton no canto. — Perfeito, vamos lá, — digo a Mary e Eve, acenando para onde ele está parado. Mary empalidece. — Uh, não, tudo bem. Ele já está falando com alguém. Não quero interromper nada. Eu rio. — Isso não é um cotilhão7. Boas maneiras não a levarão a lugar nenhum. Vamos. Mary atira em Eve um olhar em pânico. — Tudo bem. Harlow sabe o que está fazendo, — garante Eve. Bufo enquanto sigo em direção a Clayton. Ele me vê quando me aproximo. Clayton bate nas costas do cara com quem ele falava antes de virar e vir para mim. Se não fosse tão visível, eu diria não disse? para Eve e Mary agora. — Ei, Harlow! — Clayton me cumprimenta com entusiasmo, até me puxando para um abraço rápido. — Ei, Clayton. Bom jogo, — sorrio para ele e ele sorri. 7 Uma dança semiformal para a qual as garotas se vestem demais (vestidos e joias extravagantes, etc.) e para a qual muitos caras ficam severamente mal vestidos. — Você estava no mesmo em que eu estava jogando? — pergunta secamente. Meu sorriso se transforma em um sorriso sem graça. — Sim. Perda difícil. Clayton encolhe os ombros, mantendo seu bom humor. — Você ganha alguns, você perde mais. Certo? Eu rio. — Certo. — Mary e Eve nos alcançam. — Estas são minhas amigas. Eve e Mary, — aceno para cada uma delas enquanto faço as apresentações. — Ei, senhoritas. — Clayton dá a ambas um sorriso encantador. — Sou Clayton. — Oi, — diz Mary. Suas bochechas estão rosadas. Eve olha entre os dois, sorrindo. Sutil ela não é. — Eu ia à cozinha. Vocês, meninas, querem bebidas? — pergunta Clayton. — Claro, — responde Mary. — Vou correr para o banheiro. Encontro vocês na cozinha, — digo, piscando para minhas duas companheiras e depois indo para o que acho que é a sala de jantar. Desta vez eu tenho que ir ao banheiro. Se eu puder encontrar um. Atravesso a sala de jantar lotada e saio em um corredor que parece promissor. — Ei, Harlow. Olho para a esquerda. Aidan Phillips está encostado na parede. Eu paro. — Ei, Aidan, — respondo, sorrindo enquanto meu estômago afunda. Não tinha ideia de que o time de hóquei estaria aqui. A presença de Aidan significa que Jack provavelmente está aqui. Significa que o Sr. Trabalho Sem Camisa provavelmente está aqui. — Como você está? — Vencemos ontem à noite, tão incrível! — Ele sorri amplamente. Mantenho meu sorriso no lugar. — Sim, eu ouvi. Parabéns. — Obrigado. — Aidan toma um gole do copo que está segurando. — Ei, eu estava dirigindo na Spring Street mais cedo. Era você correndo? — Sim, era. — Pensei que fosse. Você é uma grande corredora? Eu bufo. — Não, na verdade não. — Tentando algo novo? — Mais ou menos. Vou correr uma maratona este verão. Os olhos de Aidan se arregalam. — Não brinca? Aceno. — Sério. — Uau. Como é o seu plano de treinamento? — Meu plano de treinamento? — ecoo. Ele acena. — Uh, correr muito, eu acho? Aidan ri. — Estilo livre. Gosto disso. Você sabe com quem deve conversar... — os olhos dele deixam os meus, olhando para algo, alguém, atrás de mim. Ele sorri. — Hart! Recuso-me a olhar para trás no corredor. Sei que Aidan está ciente do fato de que Conor me evita como uma doença infecciosa. A única razão pela qual não estou em pânico agora é que sei que Conor não virá aqui. Não para mim. Evitar um ao outro parece ser somente – e única – maneira em que estamos exatamente na mesma página. Exceto... que ele vem. — O que? — A palavra é um estalo conciso. Ele está de mau humor. Chocante. Aidan parece não se incomodar com o mau humor de Conor. Provavelmente devido à exposição repetida. Não posso reivindicar o mesmo. — Harlow está praticando corrida de longa distância. Você não adicionou um monte de quilometragem à sua rotina de exercícios neste verão? — E? — Eu classificaria seu tom como dez sólidos no arrogante medidor de bunda. — Harlow precisa de um plano de treinamento para maratona. O atual dela é correr. — Aidan ri como se fosse a coisa mais engraçada que ele já ouviu. Não vejo nenhum problema com isso, o que diria se não estivesse agindo como se ainda fosse apenas eu e Aidan aqui. — O que isso tem a ver comigo? — Ele está ao meu lado agora. Posso dizer pelalocalização de sua voz. Também porque parece que o lado esquerdo do meu corpo está sob uma lâmpada de calor. O corredor não é estreito, mas também não é largo. Conor Hart está a centímetros de mim. Muito mais perto do que ele já esteve. Ele obviamente tomou banho depois da academia, porque ele cheira a colônia e sabão, não a suor. — Cara, não seja um idiota. Sinto uma onda de carinho por Aidan Phillips. Aidan cutuca meu braço. — Vá em frente, peça ajuda a Hart, — sussurra ele para mim. Qualquer carinho desaparece. Eu bufo. Não posso evitar. Ajuda é uma coisa que Conor Hart nunca me oferecerá. — Conor, você me ajuda a treinar para uma maratona? — pergunto ao seu perfil no tom mais doce que posso reunir. Só para foder com ele. Forçar a lembrar ao seu amigo – lembrar a mim – que idiota insensível ele é. Silêncio. Então, lentamente – deliberadamente – ele olha para mim pela primeira vez desde sua abordagem chocante. Nunca consegui decidir qual é a cor dos olhos de Conor. É uma fixação estúpida e inexplicável. Ele raramente olha para mim, então não tive muito tempo para descobrir. Eles são uma mistura de azul e cinza. Como a superfície do oceano quando reflete as nuvens. Uma das minhas cores favoritas, olhando para mim com um rosto irritantemente atraente revestido de desprezo. — Não. — É tudo o que Conor diz antes de se afastar, continuando pelo corredor. Não estou nem um pouco surpresa. Aprendi há muito tempo que Landon não está exagerando quando chama seu meio-irmão de idiota egoísta. Também estou aliviada. Viu? Eu grito com minha libido traidora. Aidan suspira enquanto observa Conor recuar. — Desculpa. Não sei qual é a coisa dele... com você. Coisa. Que maneira adorável de abranger o ódio. — Sim. — A palavra é irônica. Eu sei o que é a coisa dele comigo. Não estou surpresa que Conor não tenha dito a ninguém em Holt qual é seu problema comigo. Sua resposta é exatamente o que eu esperava dele. O que não consigo entender é por que estou decepcionada por ele não ficar tempo suficiente para eu determinar se seus olhos são cinza ou azuis. CAPÍTULO TRÊS O disco encontra o fundo da rede e sou cercado. Três jogos na temporada e estamos invictos. Apesar do fraco desempenho do time de hóquei no gelo nas temporadas anteriores, nossas arquibancadas geralmente estão lotadas. Podemos nem sempre ganhar, mas somos fodidamente divertidos de assistir a perder. Pelo menos, é o que dizem as garotas que vêm até mim depois dos jogos que perdemos. — É disso que estou falando, porra! — grita Hunter no meu ouvido enquanto pula em mim. Robby patina e me dá um tapa no capacete com a luva. Jeff Powers se junta à nossa celebração segundos depois. Os caras estão todos de pé no banco. Eu patino na linha, batendo nas luvas. Marcar gols é esperado de mim, mas isso não torna a façanha menos satisfatória. Sou bom no hóquei, mas até os melhores jogadores têm dias de folga. Até agora, minha temporada sênior tem sido um trecho consistente dos melhores jogos da minha carreira universitária. Faltam trinta segundos no jogo, mas não paramos de pressionar. Nosso oponente esta noite, Burham, nem conseguiu puxar o goleiro deles. Estamos ganhando por dois gols. Eu me sinto bem, o resto dos caras também. O terceiro tempo começou de forma instável. Passei para Phillips em vez de Powers, e Jeff estava livre. Cobramos um pênalti desleixadamente e quase perdemos um gol de contra-ataque. Pequenos erros como esses podem entrar na sua cabeça, corroer a confiança coletiva. Mas nós nos acertamos. Nós nos recompomos. A energia na arena zumbe como um fio vivo: cru e exposto. Vinte e cinco segundos. Passo para Hunter. Ele passa para Robby. Robby devolve para mim. Quinze segundos. O pobre coitado designado para me defender faz uma careta. Ele se lança, mas o antecipo. Mando o disco ao longo das placas, atrás do gol e no taco de Aidan. Cinco segundos. A satisfação sobe pela minha coluna e se espalha, afugentando os nervos. O medo de três vitórias serem um lance de sorte. Quatro sons diretos são mais dominantes. Soa como gritaria. Como impulso. Como esperança. O sino toca e toda a equipe me cerca. Apesar das provações e decepções na minha carreira no hóquei, não acho que poderia estar cercado por um grupo de companheiros de equipe mais solidário. Aidan está comemorando como se tivéssemos acabado de ganhar o campeonato, e as arquibancadas lotadas parecem estar a bordo com esse nível de entusiasmo. Gritos e uivos reverberam nos tetos altos da arena de hóquei de Holt, decorada com uma bandeira solitária de décadas atrás. Se eu conseguir, haverá uma novinha em folha, de cores vivas, pendurada nas vigas em questão de meses. A euforia chega ao vestiário. Estou tentado a dizer aos caras para esfriarem, que temos um longo caminho a percorrer, mas não. É fácil ficar preso em apenas comemorar as maiores vitórias da vida. Mas as menores também valem a pena. O próximo momento de alegria nunca é garantido. — Bom trabalho, rapazes, — elogia o treinador Keller antes de entrar no pequeno escritório que se projeta do outro lado do nosso vestiário. Ele combina as palavras com um sorriso pobre que faz todos nós explodirmos em aplausos. A porta do escritório se fecha em resposta. Eu rio antes de ir para os chuveiros. Hunter, Aidan e eu decidimos ir ao nosso lugar mexicano favorito depois de nos trocarmos para recarregar as energias pós-jogo. É um pequeno local a algumas cidades de Somerville que descobrimos no segundo ano. Não há espera quando chegamos, e não perco tempo, pedindo dois burritos. Hunter tem uma coisa com qualquer um comendo em seu carro e estou com muita fome para esperar até chegarmos à festa, então me sento em uma das cadeiras de madeira frágeis e como. A tortilha ainda está fumegando, mal contendo o arroz, feijão, legumes e carne. Termino o primeiro burrito em cerca de quatro mordidas e começo o segundo ao mesmo tempo em que Aidan se senta à minha frente. — Obrigado por esperar, Hart, — diz ele sarcasticamente antes de comer seus tacos. Estou muito ocupado comendo meu segundo burrito para responder. Termino de comer antes mesmo de Hunter se sentar, então me levanto e peço algumas batatas fritas e guacamole. — Droga, isso estava bom, — afirma Aidan, recostando-se em seu assento assim que termina de comer. A cadeira dobrável de madeira range sob seu corpo alto. — Agora, eu só preciso de algumas cervejas. — Não vou limpar seu vômito de novo, — digo a ele. Aidan revira os olhos. — Isso aconteceu no primeiro ano. Uma vez. Mas não planejo dormir em casa esta noite, de qualquer maneira. Hunter e eu trocamos um olhar divertido. Nenhum de nós é celibatário, mas Aidan vê mais bunda do que o assento de um banheiro público. Com base em sua divagação bêbada uma noite, eu tenho minhas suspeitas de que ele está tentando esquecer alguém. Apesar da pequena devassidão em que os vi se envolver, Aidan e Hunter são os dois caras mais decentes que conheci. Mas não discutimos nosso passado. Um plano com o qual estou totalmente de acordo, por razões óbvias. — Rebeca? — pergunta Hunter. — Não, acabou, — responde Aidan. — Por quê? Aidan dá de ombros. — Apenas superei. Eu bufo. — Teto de vidro, Hart, — avisa Aidan. — Eu não disse nada, Phillips, — sorrio. Minha aversão ao compromisso é bem conhecida na equipe. Quando se trata de mulheres, pelo menos. Não tenho problemas em me dedicar a outro lugar. Mesmo se eu não tivesse crescido com lembretes constantes de como um relacionamento supostamente monogâmico pode sair pela culatra, duvido ficar entusiasmado com a ideia de namorar. Quando as garotas se jogam em você regularmente, limitar suas opções não parece ser a jogada mais brilhante. — Sarah irá hoje à noite? — pergunta Hunter.— Como diabos eu deveria saber? — Afundo uma batata em guacamole. Na verdade, se eu me incomodasse em ler todas as minhas mensagens, eu poderia dizer a ele a maioria, se não todas, as mulheres que estarão presentes esta noite. — O Hart-breaker ataca novamente, — comenta Aidan. Ele ficou sabendo do fato de que algumas garotas no campus reapropriaram meu sobrenome no início do semestre e falava o estúpido novo apelido pelo menos uma vez por semana desde então. Conheço alguns caras que seguram as garotas, preocupados em não conseguirem nenhuma caso não ajam como se houvesse uma chance de estarem nisso a longo prazo. Sou exatamente o oposto. Não ficarei com uma garota se ela agir como se quisesse algo sério. Vi a destruição que mentiras deixam para trás e não quero fazer parte disso. — Conor, o Hart-less, — acrescenta Hunter. Enrolo minhas embalagens de burrito e reviro os olhos. — Vocês terminaram para que possamos ir? — Sim, vamos lá. A maior parte da equipe já está na sala quando chegamos à casa do segundo ano. As equipes esportivas tendem a viver juntas com base no ano de aula. Quase um terço da equipe deste ano é de veteranos, então Aidan, Hunter e eu temos nossa própria casa. Esta noite, os cinco alunos do segundo ano serão os anfitriões. A casa deles é mais próxima do centro da cidade, o que significa que encherá assim que o Gaffney's fechar. Nossas festas atraem uma grande multidão, independentemente da localização. Ando pela sala de estar, parando para conversar com alguns dos caras e relembrando partes do jogo que foram boas. Apesar de seu curto sorriso, eu sei que o treinador terá muitas críticas para fazer no treino de amanhã de manhã. Por enquanto, eu mergulho na doce sensação de vitória junto com o resto dos caras. Poucos deles levam a sério o jogo como eu. Sou uma bola de demolição de um homem só indo para um troféu de campeonato. Todos sabiam que eu seria. Sabiam que esta temporada é para mim. Saber algo e ver acontecer são duas coisas diferentes. Hoje à noite, senti minha energia percorrer o resto da equipe pela primeira vez nesta temporada. Talvez alguns tivessem dúvidas sobre se conseguiríamos. Mas não sou mais o único cara do time com estrelas em forma de troféu nos olhos. Isso alivia a pressão e a aumenta. Um objetivo de grupo é mais alcançável do que um único. Se o resto dos caras trabalhar duro tira um pouco do meu fardo. Ao mesmo tempo significa que se perdermos eu não vou me decepcionar. Finalmente vou até a cozinha para pegar um refrigerante. Não bebo durante a temporada. Algumas horas de perda de inibições não valem a dor de cabeça resultante ou a patinação lenta na manhã seguinte. Também não resultava em habilidades fantásticas de tomada de decisão. A única vez que não lembrei a uma garota que era apenas sexo antes do sexo foi depois de duas Heinekens no segundo ano. Acho que ela não gostou do lembrete no meio do ato. Sarah Clark se aproxima de mim assim que entro na cozinha. — Oi, Conor. — Ela me dá um sorriso brilhante que faz suas covinhas aparecerem. — Ei, — respondo, sorrindo. Sarah sempre adotou a linha de apenas sexo como uma campeã, e é a principal razão pela qual ela é a coisa mais próxima que tenho de um encontro regular. Tenho quase certeza de que ela não quer mais nada de mim. Tenho certeza absoluta de que deixei o fato de que não quero nada mais claro para ela. Vou até a geladeira e pego uma lata de refrigerante. — Quer alguma coisa? — pergunto a Sara. Ao contrário do que Harlow Hayes pensa, não sou um completo idiota. Tenho uma tendência a exibir alguns traços idiotas em torno dela, no entanto. Algo que Aidan deixou claro na festa no fim de semana passado. Minha vida seria muito mais fácil se ela tivesse escolhido uma faculdade diferente. Ou ainda melhor, se estivesse em outro país. — Não, estou bem. Acabei de tomar algumas doses, — responde Sarah. — Hunter? — pergunto. Ela ri. — Sim. Reviro os olhos. Hunter tem uma obsessão bizarra por doses com gelatina, e isso resulta que em todas as festas que o time de hóquei dá há álcool envolto em gelatina. Não vejo nenhuma graça. Mais de meus companheiros de equipe entram na cozinha atrás de mim, incluindo Hunter, que começa a fazer as rondas com sua bandeja de copos balançando. Alguns dos caras do basquete se aproximam, seguidos por suas próprias fangirls. Estou conversando com Clayton Thomas quando vejo um flash de vermelho e enrijeço. Sou distraído por um corpo feminino se esfregando em mim. — Conor, você jogou tão bem hoje, — diz Emily Orens. — Obrigado, querida, — respondo, então tomo um gole de refrigerante. Clayton sorri; Hunter revira os olhos de seu lugar ao meu lado. Quero revirar meus olhos. Como se Hunter pudesse julgar. Suas cantadas são terríveis. Apenas esta noite, eu o ouvi usar, Aqui estou. Quais são seus outros dois desejos? e Parece que perdi meu número de telefone. Posso ter o seu? Nunca me esforcei para pegar uma garota. Elas se jogam em mim desde o ensino médio. Mas não presto atenção à garota fazendo isso agora. Harlow ainda está no canto da cozinha, e meus olhos continuam indo para lá. Não consigo focar em mais nada. Nem em Emily se esfregando em mim, nem em Hunter tentando me fazer tomar uma de suas doses nojentas, nem em qualquer uma das pessoas vindo me parabenizar por mais uma vitória. Ela conversa com uma garota loira, depois com Cole Smith, e então fica sozinha. Foda-se. Afasto a mão de Emily e vou até onde Harlow está perto do fogão. Ela não vê minha abordagem. Está olhando para o telefone, mas não como quando se está em uma festa e não têm nada melhor para fazer. Duas linhas de concentração estão franzidas entre suas sobrancelhas enquanto ela desliza por algo. Talvez seja um dos cinquenta e sete aplicativos de treinamento projetados para corredores iniciantes aumentarem sua quilometragem. Um palpite de como sei disso. Oito minutos da minha vida que nunca terei de volta. — Por que você me perguntou? Harlow se assusta. Uma música antiga de Britney Spears está tocando nos alto-falantes da sala de estar, mas é o som da minha voz que a faz pular. Ela bate o cotovelo na beirada da bancada de mármore e estremece. Quase peço desculpas, mas não. Ela me olha de cima a baixo, e acho que vejo um pouco de calor em sua expressão. Mas esta é Harlow Hayes, o que significa que definitivamente estou interpretando mal as coisas. — Aidan. — Ela dá de ombros como se eu não soubesse por que Phillips me chamou quando conversava com ela no último fim de semana. Como se ela não estivesse ciente do fato de que meus companheiros de equipe não têm ideia de qual é o meu problema com ela ou quão profundo é o ressentimento. — Jogo hóquei. Não sou um corredor. Coisas que ela sabe. Coisas que eu não precisava dizer. Outro pequeno encolher de ombros. — Você é atleta. Harlow consegue fazer a simples declaração soar como um insulto. Estou surpreso que esteja se dando ao trabalho de me responder. Igualmente chocado quando escolho manter a conversa. — Assim como os outros caras da equipe. Você é amiga da maioria. — Deixo claro como me sinto sobre essa amizade na minha voz. Harlow revira os olhos. Aqueles que noto que são verdes. — Eu não pediria a nenhum deles. — Mas você pediu para mim? — Obviamente pedi ou você não estaria aqui me atormentando sobre isso. Ela cruza os braços, chamando minha atenção para o peito. Ao contrário da maioria das garotas aqui, ela está vestindo uma camiseta de algodão que mal revela seu decote. Infelizmente, a camisa branca fica bem nela. Muito bem. Harlow é uma beleza natural, e a falta de qualquer roupa glamorosa só chama mais atenção para esse fato. — Algo na minha camisa, Hart? Pego. — Apenas pensando que já passamos muito do Dia do Trabalhador,— digo a ela. — Não aceitarei conselhos de moda de um cara cuja braguilha está aberta. Mantenho meus olhos nela. Ela encontra meu olhar desafiadoramente, olhos da cor de pinheiros encaram os meus. Ela está tentando te provocar, digo a mim mesmo. O desejo de verificar é como uma coceira. Sem permissão, meus olhos disparam para minha virilha. Fechado. Droga. Há um sorriso divertido brincando em seus lábios quando olho para cima. Harlow Hayes tem mais fogo do que eu esperava. Combina com seu cabelo vibrante. Toda vez que a observei ao redor do resto da equipe, era por favor e obrigada. Eu a julguei como ingênua. Este é o momento em que eu deveria ir embora. Levar Emily ou Sarah para cima. Talvez até mesmo beber uma das nojentas doses de Hunter, apenas para lavar a estranheza desse encontro. Limpar essa estranha compulsão de permanecer exatamente onde estou. Harlow solta um suspiro exasperado. — Olha, Aidan me viu correndo. Ele perguntou sobre o meu treinamento. Ele te chamou. Eu sabia que você diria não. Você disse. Fim da história. Ela está ansiosa para terminar essa conversa, isso é óbvio. Apesar de continuar me encarando, ela está lutando contra o desejo de desviar o olhar. Eu me pergunto se é porque ela sabe que outras pessoas na cozinha estão olhando para nós. Nossa briga particular é apenas de conhecimento comum entre o time de hóquei, mas as pessoas tendem a prestar atenção em com quem eu converso. Passo para a outra parte do pedido dela que está me incomodando. — Por que diabos você se inscreveria para uma maratona, afinal? Especialmente se nunca correu? Ela continua me encarando, mas não diz nada. Estou sendo avaliado – julgado – e é desconfortável pra caralho. Não recuo, no entanto. Para ninguém. Especialmente para Harlow Hayes. — Não importa por que estou fazendo isso, — diz Harlow finalmente. Ela pega uma lata verde de ginger ale do balcão e bate na lata de refrigerante que estou segurando. — Parabéns pela vitória, Hart. Se você tivesse passado para Powers no início do terceiro tempo teria sido 5 a 2. Ela sorri zombeteiramente, então sai. E de repente sei com absoluta certeza que não foi a última conversa que tive com Harlow Hayes. Apenas a primeira. CAPÍTULO QUATRO Cutucões me acordam. Jogo um braço sobre o meu rosto, certa de que estou sonhando. Estou sozinha na minha própria cama. Quem diabos estaria me cutucando? — Harlow. Harlow! Abro um olho. Eve está empoleirada ao lado da minha cama. Seu cabelo escuro está uma bagunça e seus óculos estão tortos. — O que? — murmuro, fechando os dois olhos novamente. — Acorde. — Outro cutucão nas costelas. Murmuro algo ininteligível, esperando que ela simplesmente desista. — Conor Hart está aqui. Isso chama minha atenção. Abro os olhos e foco nela. — O que? — Conor Hart. Ele está aqui. Na nossa porta da frente. Agora mesmo. — O que? — repito. — Por quê? — Não sei! Abri a porta pensando que eram os donuts que pedi, e lá estava ele, dez vezes mais delicioso! — Você pediu donuts? — Tentei ontem à noite. Pensei que eles estavam finalmente entregando. — Isso não faz sentido. Holey Moley nem sequer entrega. — Quem se importa, Harlow? Eu estava dormindo e não vi você arrastando sua bunda para fora da cama para atender a porta. A questão é que o cara mais gostoso que já vi na vida real está na nossa porta da frente. Eu me concentro, embora esteja desejando um donut agora. — Você não perguntou o que ele está fazendo aqui? — Claro que perguntei! Ele quer falar com você. — Comigo? — Aproximar-se de mim na festa ontem à noite foi bastante estranho. Vir à minha casa é bizarro. Louca realidade alternativa. Tento pensar em uma única razão pela qual ele poderia ter feito isso e fico em branco. — Diga a ele que não estou aqui. — Harlow... — Eve me dá um olhar. Apesar de todas as suas proclamações impetuosas, ela é um epicentro moral; o tipo de pessoa que não aprova se esconder do conflito. Ou de um cara gostoso. Neste caso em particular, também tenho certeza de que ela quer ser capaz de espionar. O que ela não entende – o que não posso dizer a ela – é que evitar Conor é para um bem maior. No interesse global. Conversar com ele ontem à noite não foi apenas inesperado. Também foi emocionante. Há uma emoção perigosa que vem junto com o proibido. Ou talvez seja assim que toda garota se sente ao falar com ele. Eve definitivamente parece deslumbrada, o que vou provocá-la uma vez que esta manhã não seja nada além de uma memória distante e estranha. — Eve, — combino com seu tom determinado. Ela suspira, então se levanta. — Ok. Direi a ele que você deve ter escapado pela janela no meio da noite para encontrar seu amante secreto. — Excelente. — Deito novamente e puxo meu travesseiro sobre minha cabeça. A porta do meu quarto se fecha e olho em volta do meu travesseiro para verificar a hora no meu telefone. 7h05. Estou quase impressionada que Conor esteja acordado tão cedo. Ele ainda estava na festa quando saí ontem à noite. Talvez ainda não tenha ido para a cama. Viro novamente, mas não consigo dormir. A curiosidade queima a exaustão. O que ele fazia aqui? Nossa conversa ontem à noite me abalou, para ser honesta. Não estava finalmente determinando se seus olhos são mais cinzas do que azuis. Estava vendo aquela mandíbula afiada de perto. Aqueles ombros largos. Os antebraços musculosos. Conor Hart é objetivamente bonito – alguns podem dizer lindo de cair o queixo. Ok. Isso bateu mais forte depois de olhá-lo sem camisa na sala de musculação. Também não foi um detalhe incluso em nenhum dos discursos de Landon sobre seu meio-irmão quando crescíamos, mas reconheci e segui em frente desde a primeira vez que o vi pessoalmente no primeiro ano. Isso foi quando ele se aproximou de mim. As ondas de hostilidade que ordinariamente emanavam dele, ausentes. Ele não foi amigável, mas também não foi totalmente rude. Uma conversa, e estou incomodada com o fascínio por Conor Hart que eu achava que era imune. Não consigo voltar a dormir, então saio de debaixo dos lençóis quentes. Pego um maiô, visto uma calça de moletom e um moletom. A porta de Eve está fechada quando passo por ela. Claramente, ela foi capaz de voltar para a cama. Resisto à vontade de bater e perguntar o que Conor disse quando ela o mandou embora. Mas resisto, porque é Conor Hart. Sempre vi a sedução física, mas ao contrário das garotas que se apaixonam por seu charme e sorriso arrogante, eu também sei o que está por baixo da superfície tempestuosa. Sei que a indiferença despreocupada mascara inclinações mais feias. Sei que a fúria que o torna uma força no gelo feriu repetidamente as pessoas com quem me importo. Uso o banheiro, faço meu smoothie de sempre e pego as chaves do carro na tigela perto da porta. Está chovendo – nenhuma surpresa – e minhas botas de chuva da marinha chapinham enquanto caminho em direção à rua. Não me incomodo em puxar meu capuz. Meu cabelo está prestes a ficar encharcado, de qualquer maneira. Há apenas dois outros carros no estacionamento quando chego ao complexo esportivo. São 7h40 de um domingo. Não é assim tão impressionante. Ando pela garoa até a porta da frente do prédio. Uma passagem da minha carteira de estudante e estou dentro do saguão. Vou para a direita, para o vestiário feminino. Meus óculos estão esperando no meu armário. Rapidamente tiro minhas roupas e as coloco dentro da caixa de metal antes de entrar na área da piscina. Não há uma única outra pessoa aqui. Passo pelo, Sem salva-vidas. Nade por seu próprio risco. Assino e caminho ao longo da piscina até as raias. Entrar na água é sempre a pior parte. Coloco meus óculos e subo na plataforma de plástico. Eu me inclino e agarro a frente, então me empurro e caio na piscina. Água