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Todos os direitos reservados Copyright © 2022 by AllBook Editora. Direção Editorial: Beatriz Soares Tradução: Ana Carolina Consolini Preparação e Revisão: Clara Taveira e Raphael Pelosi Pellegrini Diagramação e produção digital: Cristiane [Saavedra Edições] Capa: Rebecca Barbosa Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados. Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou estabelecimentos é mera coincidência. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) https://www.saavedraedicoes.com.br/ CIP - BRASIL. C���������� �� P��������� S�������� N������� ��� E������� �� L�����, RJ G������� F���� F������� L���� - CRB-7/6643 K44d Kent, Rina O domínio de um rei [recurso eletrônico] / Rina Kent ; tradução Ana Carolina Consolini. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Allbook, 2022. Tradução de: Reign of a king Continua com: A ascensão de uma rainha Modo de acesso: word wide web ISBN: 978-65-86624-89-2 (recurso eletrônico) 1. Ficção africana. 2. Livros eletrônicos. I. Consolini, Ana Carolina. II. Título. III. Série. 22-77612 CDD: 896 CDU: 82-3(6) DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À ALLBOOK EDITORA contato@allbookeditora.com HTTPS://ALLBOOKEDITORA.COM https://www.allbookeditora.com/ Para Cassie, Por ser a fã número um de Jonathan King desde quando ele era o vilão. NOTA DA AUTORA Olá, amigo leitor, Se você ainda não leu algum dos meus livros, talvez não saiba disso, mas eu escrevo histórias mais sombrias que podem ser incômodas e perturbadoras. Meus livros e personagens principais não são para os fracos de coração. Para permanecer fiel aos personagens, o vocabulário, a gramática e a ortografia de O Domínio de um Rei foram escritos em inglês britânico. O Domínio de um Rei é o primeiro livro de um dueto e NÃO é um título independente. Dueto: Livro 1: O Domínio de um Rei Livro 2: A Ascensão de uma Rainha Não se esqueça de se inscrever na newsletter da autora Rina Kent para receber notícias sobre os próximos lançamentos. PLAYLIST Elastic Heart (Rock Version) – Written by Wolves In The End – Linkin Park Broken Into Two – Scarlet City & Devin Barrus Crutch (Piano Version) – Scarlet City & Sarah Aviano Just – Ghostlight Orchestra The Hardest Part – Coldplay Graveyard – Halsey Burn It Down – Linkin Park The Catalyst – Linkin Park Battle Symphony – Linkin Park Until It’s Gone – Linkin Park Sharp Edges – Linkin Park Lose Somebody – Kygo & OneRepublic Close – Nick Jonas & Tove Lo Hollow – Scarlet City & Stetson Whitworth Drowning – Scarlet City & S.P.I.T Saved My Life – Sia Cold – James Blunt Wish It Was Love – Cemetery Sun SUMÁRIO CAPA CRÉDITOS NOTA DA AUTORA PLAYLIST CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 8 CAPÍTULO 9 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 16 CAPÍTULO 17 CAPÍTULO 18 CAPÍTULO 19 CAPÍTULO 20 CAPÍTULO 21 kindle:embed:000C?mime=image/jpg CAPÍTULO 22 CAPÍTULO 23 CAPÍTULO 24 CAPÍTULO 25 CAPÍTULO 26 CAPÍTULO 27 CAPÍTULO 28 CAPÍTULO 29 CAPÍTULO 30 CAPÍTULO 31 CAPÍTULO 32 CAPÍTULO 33 A HISTÓRIA CONTINUA EM... A ASCENSÃO DE UMA RAINHA ALLBOOK EDITORA CAPÍTULO 1 Aurora MEDIDAS DRÁSTICAS. Elas não são algo que desejo, mas que devo tomar. Estou apenas jogando com as cartas que recebi. Bem, também estou pagando por não ter sido mais cuidadosa, mas é inútil refletir sobre o passado. Eu, melhor que ninguém, sei disso muito bem. O casamento não é o que eu esperava vindo de famílias grandiosas como os King e os Steel. É uma cerimônia simples, com algumas pessoas presentes. Provavelmente são a elite da elite se conseguiram ser convidadas para este evento. Eu com certeza não fui. Em vez disso, passei uma semana inteira tentando forjar um convite. Acabei saindo com um dos líderes da Steel Corporation, Agnus Hamilton. Ele não é apenas o CFO. Também é o braço direito de Ethan Steel. De certa forma, matei dois coelhos com uma cajadada só, já que também pude aprender mais sobre a corporação — não que ele falasse muito sobre o assunto. Eu também fui convidada para o casamento, como sua acompanhante. Eu nem mesmo tive de me esforçar tanto quanto imaginava. Agnus me garantiu a entrada na comitiva de Ethan Steel. Ele apenas me acompanhou até a área de recepção e então desapareceu. Eu terei de encontrá-lo, para que ele possa me apresentar a Ethan, mas primeiro… Eu preciso praticar meu arremesso novamente. É por isso que estou em uma área isolada ao lado da mesa do bufê, mordiscando um pedaço de lagosta e prestando atenção ao redor. A recepção do casamento está organizada em torno da piscina da família Steel. A noiva está em casa. O sol fraco da tarde brilha na superfície da água, iluminando a água azul-claro. É uma cena elegante, cheia de homens distintos em smokings caros e mulheres em vestidos de grife. Minha pesquisa valeu a pena, reconheci quase todos os figurões presentes. Aprendi desde cedo a nunca ser pega de surpresa, e por isso mesmo fiz o máximo de pesquisas possível. Por exemplo, o homem mais baixo, em um smoking elegante, é Lewis Knight, Secretário de Estado. Ele está sorrindo por algo que os dois homens com traços aristocráticos disseram. Eles são nobres de verdade, com títulos. Duque Tristan Rhodes e conde Edric Astor. Mas não termina aí. O primeiro-ministro, o próprio Sebastian Queens, e sua esposa estão parabenizando a noiva e o noivo. Não deveria ser uma surpresa. Todos eles pertencem ao mesmo ciclo de figuras influentes. O poder emana de cada canto desta recepção “familiar”. Corrompido. Infinito. Intocável. É como estar na órbita mais próxima do sol. Se uma pessoa normal deseja se aproximar desse tipo de energia, deve estar pronta para sair queimada. Suponho que eu esteja. Porque não tenho escolha. O desespero leva a decisões radicais que você nunca havia considerado antes. Esta é minha única chance de salvar o sustento de centenas de trabalhadores, suas famílias, seu futuro e suas dívidas — que eles direcionam para essas pessoas ricas. Eles dizem que você sempre tem uma escolha, mas descobrir qual é a melhor nunca é algo claro. Tomar decisões é ainda mais difícil. Se dependesse de mim, não teria pisado aqui. Se dependesse de mim, teria evitado esse ciclo de pessoas como uma praga. O noivo levanta a cabeça, e eu lentamente me afasto, ficando atrás de um jovem casal que está rindo. Xander Knight, filho do Secretário de Estado, e uma garota de cabelos verdes, que se bem me lembro é filha de um famoso artista e diplomata. Eles são universitários. Assim como o casal feliz que se casou hoje. Quando soube que os dois tinham dezenove anos um e quase vinte o outro, admito que fiquei surpresa. Eu não sabia que crianças hoje em dia se casavam tão jovens. Eu tenho vinte e sete anos, e casamento nem mesmo está no meu radar. Não que algum dia estará. Sou defeituosa e não vou impor minha vida atípica a ninguém. Mas, ei, eu sou grata por eles decidirem se casar agora. Isso me trouxe uma oportunidade para estar aqui, neste momento, o qual nunca sonhei viver. Mesmo se Agnus tivesse me ajudado com algo além de me convidar, não teria me dado a chance de ter um encontro com o grande Ethan Steel; mesmo se eu tivesse oferecido meu corpo. Não que eu fosse fazer isso. Esta é a minha oportunidade perfeita. Hoje acontece a união de duas famílias poderosas no Reino Unido. A filha de Ethan Steel vai se casar com o filho de Jonathan King. Em outras palavras, a rivalidade longa e implacável entre os dois ex- amigos, Ethan e Jonathan, estáterminando. King Enterprises e Steel Corporation estão virando a página pela união de seus filhos. Eles até uniram forças para uma parceria com a empresa da família de Tristan Rhodes — o duque que vi antes. Ou pelo menos é o que dizem as revistas. Na realidade, pode ser algo totalmente diferente. Se tem uma coisa que aprendi na minha vida é que a verdade nem sempre é o que parece. Especialmente quando se trata dos ricos e poderosos. As pessoas que têm dinheiro e influência bombeando em suas veias em vez de sangue pensam de forma diferente do que o restante de nós, camponeses. Eles agem de maneira diferente também, por isso preciso ter cuidado. Eu não posso ser pega. Principalmente agora. Faço outra varredura discreta pelos convidados, em busca de Agnus. Não há nenhum vestígio dele ou de Ethan. Eles estariam em uma reunião privada? Não. O Primeiro-Ministro, o duque, o conde e o Secretário de Estado estão lá fora. Como Agnus e Ethan pertencem ao seu círculo mais próximo, eles não os deixariam de fora. Será que eles foram para o outro lado do jardim? Eu preciso acabar com isso e sair antes de encontrá-lo. Ou pior, antes que ele me reconheça. Eu não consigo reforçar o suficiente o quanto não posso ser pega. Tudo vai aos ares se isso acontecer. Essa é a única desvantagem de vir aqui em vez de agendar uma reunião na Steel Corporation. Tenho maiores chances de fechar um acordo, mas também há o risco de confrontá-lo. Respirando fundo pelo nariz e pela boca, aliso meu vestido preto tipo sereia, com um V duplo e profundo na frente e nas costas. Mostra um pouco de pele, mas não muito, e se molda perfeitamente às minhas curvas. Eu acentuei o visual com as pérolas que minha melhor amiga me deu de aniversário. Meu cabelo está preso elegantemente na nuca, e minha maquiagem é ousada — batom vermelho, delineador pesado e muito rímel. Não é nada que eu normalmente usaria no dia a dia. Viver a vida inteira nas sombras me ensinou a nunca me destacar. Se eu fizer isso, o jogo termina. Hoje eu tive de agir contra meu método de sobrevivência principal e partir para um jogo de sobrevivência diferente. Minha aparência combina com o fato de estar de braço dado a Agnus Hamilton. Não que o homem saiba elogiar, mas considerando sua posição no grande esquema das coisas, eu precisava parecer o seu par. Principalmente para despertar a atenção de Ethan. Estou prestes a voltar para procurá-los quando uma presença de repente se materializa ao meu lado. Dou um passo para trás involuntariamente, e um arrepio sobe pela minha espinha e me envolve em uma espessa mortalha de névoa. Corre. Eles me encontraram. Porra, corra. Eu engulo esses pensamentos e estabilizo a respiração. Eu moro aqui há cinco anos. Ninguém me conhece. Ninguém. Sufocando o pânico, sorrio e olho para a pessoa que apareceu do nada — sem nem mesmo fazer algum som. Eu sei, porque geralmente sou boa em ouvir os menores ruídos. É como eu sobrevivi por tanto tempo. Olhar por cima do ombro, no armário e embaixo da cama não é apenas um hábito desagradável. É a única maneira de existir. Meu sorriso vacila quando fico cara a cara com ninguém menos que o próprio noivo. Aiden King. Filho único de Jonathan King e um de seus dois herdeiros, junto com seu sobrinho, Levi. Ele tem feições marcantes e uma altura impressionante que lhe permite olhar para mim de cima. Seus olhos cinza metálicos focalizam meu rosto com espanto, admiração e o que me parece ser… perda. A pequena verruga ao lado de seu olho direito chama minha atenção primeiro, fazendo minhas pernas tremerem. É a mesma das minhas memórias. Seus lábios se abrem, mas ele leva um segundo para falar: — Mãe? Um tremor contrai meus dedos quando coloco a lagosta inacabada de volta no prato e finjo mexer na comida, embora esteja vendo tudo meio borrado. Agradeço que minha voz saia calma, nem mesmo afetada. — Eu sinto muito. Você deve estar me confundindo com outra pessoa. Ele não diz nada, mas não tenta se mover. Sinto seu olhar sobre minha cabeça como se fosse um falcão. — Por que você está desviando o olhar? Eu levanto a cabeça e lanço para ele o sorriso sereno muito bem fingido. Aquele que esconde o caos sem fim por baixo. Aiden continua me observando com olhos julgadores e calculistas. — Você não é minha mãe. Ufa. — Foi o que eu disse. — Então quem diabos é você? — Seu olhar não desvia do meu rosto, quase como se estivesse procurando por algo. Ou, para ser mais específica, alguém. — Perdão? — Eu finjo inocência. — Se você não é Alicia, por que se parece exatamente com ela, e o que diabos você está fazendo no meu casamento? Eu mantenho a calma. — Fui convidada por Agnus. — Por quê? — Não sei como responder a isso. Ele se aproxima, o rosto e a voz perdendo seu elemento de surpresa e se transformando em um aço tão frio, que combina com a cor de seus olhos. — Por que você está aqui? Quem diabos é você? E não me diga que isso é uma coincidência, porque eu não acredito nisso. Não me admira que as pessoas chamem Aiden de uma réplica do pai. Se ele não fosse oito anos mais novo, eu realmente teria medo dele. Esquece. A única razão pela qual estou defendendo minha posição na frente dele é porque já estou familiarizada com o diabo. As pessoas não são nada comparadas ao diabo. Então elas não me assustam. — Aiden? A noiva aparece ao seu lado, segurando a bainha de seu amplo vestido branco. Seu cabelo loiro cai em ondas elegantes pelas costas, dando-lhe uma aparência angelical. — O que você está fazendo…? — Ela para quando seus olhos azuis encontram os meus. Sua expressão de surpresa é maior do que a do novo marido; ela pisca algumas vezes antes de dizer: — A-alicia? — Eu acabei de dizer a Aiden que ele me confundiu com outra pessoa. — Desta vez, eu me recupero rapidamente. Ele estreita os olhos. — Como você sabe meu nome? Merda. — Está em tudo quanto é canto. Parabéns pelo casamento. Eu me viro e saio antes que Aiden possa me segurar. Não tenho dúvidas de que ele me questionaria, e não posso permitir que isso aconteça. Além disso, não tenho respostas para ele. Eu estou em uma missão. Tudo o que tenho a fazer é acabar logo com isso. Eu vou para o outro lado do jardim, acelerando o passo como se estivesse sendo perseguida. O que poderia muito bem ser verdade. Um suspiro me escapa quando me vejo fora do alcance visual de Aiden. Eu faço uma pausa no canto e me recomponho. Essa foi por pouco. O que significa que estou sem tempo e preciso acabar com isso o mais rápido possível. Como esperado, encontro Agnus e Ethan aqui. Eles estão em volta de uma mesa com Calvin Reed, o diplomata e pai da garota de cabelo verde que vi antes. Toco no meu relógio de pulso, aquele que levo comigo o tempo todo. Meu relógio da sorte que me salvou mais de uma vez. É quase como se a pessoa que me deu estivesse cuidando de mim. Aqui vamos nós. Colocando meu sorriso no lugar, pego uma taça de champanhe de um garçom que passa, encaixo a coluna em uma linha reta e caminho suavemente em direção a eles. Bem quando estou prestes a alcançá-los, uma criança com menos de dez anos bate na perna de Calvin e exige sua atenção. O diplomata acena para os outros dois, pega a mão do menino e o conduz em direção à casa. Ethan e Agnus continuam conversando entre si. É minha chance perfeita. Como nas fotos na internet, a aparência de Ethan é impressionante: cabelos castanho-claros, um queixo acentuado e uma estrutura alta e em forma. De longe, ele realmente não tem muitas semelhanças com o noivo, mas quando me aproximo deles, a semelhança está lá, sutil sob a superfície. Eu toco o bíceps de Agnus. — Aí está você. Seus olhos neutros se voltam para mim. É como se não tivessem cor; o azul-claro é desbotado, quase inexistente. Ele é mais largo do que Ethan, mas menos anguloso e com um comportamento mais silencioso. Seu físico é muito bem construído para alguém na casa dos quarenta, e ele emana vibrações intocáveis. Quando o tornei meu alvo pela primeira vez e descobri onde ele toma seus cafés da manhã, pensei que seria maisdifícil fazer com que me notasse, considerando que nunca marca encontros ou mostra interesse por mulheres. Fiquei surpresa quando ele se ofereceu para pagar meu café naquela manhã. Talvez eu esteja me subestimando muito? Quem sabe? Não importa quão difícil tenha sido, eu nunca me reduzi a jogar esse tipo de jogo antes, então não tenho nenhuma experiência anterior para comparar. — Certo. — Ele sorri. Ou tenta, de qualquer maneira. Agnus é quase inexpressivo, como se suas expressões tivessem sido removidas quando nasceu ou algo assim. Quando ele fala, há uma sugestão de um sotaque refinado de Birmingham em suas palavras. — Aurora, deixe-me apresentá- la. Este é Ethan Steel. Ethan, Aurora Harper. Trocamos cartões de visita e tento não sorrir. Adquirir o número de telefone pessoal de Ethan é como ganhar a sorte grande. — Eu te falei sobre ela. — Agnus acrescenta. Agnus falou para Ethan algo sobre mim? Isso! Minha dança da vitória é interrompida quando percebo a hesitação nas feições de Ethan. Ele é o imperador da Steel Corporation, tem quarenta e poucos anos e uma presença tão intensa, que você fica tentada a parar e olhar para ele. Não é do tipo invasivo, no entanto. É mais do tipo acolhedor, em que você só precisa chegar perto dele. É por isso que ele é o candidato mais adequado a me ajudar. Ethan ficou em coma por nove anos e, desde que voltou, quase três anos atrás, tem investido em pequenas empresas e reconstruído seu império usando vários investimentos em diferentes campos. O fato de estar hesitante não é bom. Por favor, não me diga que ele vai agir como se tivesse visto um fantasma, assim como sua filha e Aiden. — Sra. Harper. — Ele pega minha mão e beija o dorso, nunca cortando o contato visual. — Prazer em conhecê-la. Ufa. — O prazer é todo meu e, por favor, me chame de Aurora. Parabéns pelo casamento de sua filha, sr. Steel. — Apenas Ethan. Agnus me disse que você vende relógios, certo? Obrigada, Agnus. Eu lanço a ele um olhar agradecido e me concentro de novo em Ethan. — Sim. Na verdade, é minha paixão. — Como assim? Eu aponto para seu relógio de pulso. — Isso deve ter custado uma fortuna, mas você sabe por quê? — A marca. — Sim, a marca. Mas também há o trabalho que a marca estabeleceu para ter esse dito reconhecimento. Seu relógio é feito sob medida para se ajustar ao tamanho do seu pulso e ser confortável, mesmo se você passar doze horas no escritório e depois mais algumas horas em jantares ou festas. Ele está lá para ajudá-lo a passar o dia, mas permanece despercebido. Quase como um plano de fundo. — Impressionante. — Ele vislumbra o braço direito. — Eu não disse? — Agnus questiona, ainda impassível. — Vamos fazer um brinde. — Ethan levanta o copo. — Para o plano de fundo. — Para o plano de fundo. — Eu levanto minha taça, um largo sorriso no rosto. Eu consegui. Vou salvar a empresa. Tudo o que tenho a fazer é manter as gentilezas, oferecer outro relógio feito sob medida e passar para a conversa de negócios. Não tenho tempo a perder. Inúmeras pessoas na H&H me admiram, não vou decepcioná-las. — Eu vou pegar outra bebida. — Agnus nos cumprimenta com a cabeça antes de desaparecer de vista. Isso faz com que apenas Ethan e eu permaneçamos à mesa. Eu sorrio, embora prefira ter Agnus por perto. Ele é de grande ajuda, considerando que fez a maior parte do trabalho para mim. Posso não me conectar com ele emocionalmente, considerando que Agnus realmente não tem esse tipo de conexão com mulheres — ou com qualquer ser humano —, mas serei eternamente grata pela ajuda que ele ofereceu. Ethan se inclina para mais perto, seus traços são acolhedores, mas concentrados. — Fale-me mais sobre o lado comercial. Prestes a começar a falar, minha mente se acelera com todos os argumentos que passei muito tempo preparando. Eu levanto a cabeça ligeiramente, e meu sorriso desaparece quando meu olhar colide com os olhos cinzentos sinistros. Olhos de assassino. Sua presença me arranca do agora e me leva para onze anos no passado. Estou de volta àquele dia, recuperando o fôlego ao lado da estrada. Partida em pedaços, ainda sou incapaz de me recompor novamente. Ele é uma das razões pelas quais eu nunca vou me recuperar. Jonathan King. Um governante neste mundo. Um verdadeiro rei que detém mais poder do que a própria rainha. Meu pior inimigo. CAPÍTULO 2 Jonathan OS FANTASMAS DEVEM FICAR NO LUGAR EM QUE PERTENCEM. Mortos. Então por que diabos aquele fantasma está olhando para mim como se estivesse pronto para me arrastar para o túmulo? No meu mundo, é o contrário. Eu sou aquele que arrasto coisas — e pessoas — para onde eu quiser. Já é ruim o suficiente ter que estar na casa de Ethan para celebrar o casamento de meu filho com sua filha — que ainda não acho ter sido a decisão mais brilhante de Aiden. Eu não preciso que a situação piore com este… fantasma. Se eu não tivesse visto Alicia morta com meus próprios olhos, acreditaria que ela de alguma forma ressuscitou. Talvez tenha voltado para se vingar. Talvez seja sua hora de buscar justiça. Mas o que é justiça? Se a percepção de todos sobre essa palavra é diferente, a verdade de quem é a verdade real? Para mim, justiça não existe. É uma palavra inútil que as pessoas politicamente corretas usam para acalmar suas pequenas mentes. Justiça é uma ilusão em um mundo onde gente como eu segura as rédeas do poder com mãos implacáveis. Eu não acredito em justiça. Meu pai fez isso, e morreu ainda procurando por ela. O que a justiça deu a ele? Porra de pêsames, é isso. Desde então, construí meu reino com métodos impiedosos e coloquei a justiça de joelhos bem na minha frente. É aí que todo mundo que me desafia fica. De joelhos, porra. Alicia — ou sua sósia — está a uma mesa com Ethan, bebendo uma taça de champanhe. Seus delicados dedos com unhas pintadas de vermelho circundam o copo com infinita elegância. Ela é ainda a mesma. Desde o vestido e a postura tensa até a curva do pescoço e a suavidade das bochechas. Seu cabelo preto como tinta e o nariz pequeno. Até os contornos de sua boca carnuda. É tudo uma réplica. Porém uma coisa está errada. Ou, mais precisamente, duas. Um, o batom vermelho. Alicia nunca usaria isso. Dois, a cor dos olhos. É como o céu azul-escuro logo após uma guerra. Ou pouco antes de uma tempestade. Ao que parece, guerras e tempestades são minhas especialidades. Se houver uma chance de perturbar a paz de alguém e agarrar o que estiver disponível, eu não hesito. Ao contrário da crença comum, não sou insensível. Sou implacável. Eu não paro até que a guerra e a tempestade terminem a meu favor. Se não o fizerem, podem muito bem continuar até que caiam de joelhos na minha frente — como todos os outros. Pela primeira vez em uma década, não ajo primeiro. Eu paro. Eu assisto. Eu saboreio o momento e o valor de choque contido nele. Ela me surpreendeu, admito. Eu não gosto de surpresas — a menos que seja eu quem as apresenta. Demoro um momento para separar o que está na minha frente do que eu já conheço. A verdade do passado. A verdade da imaginação. E é ela. Não é Alicia. Mas alguém próximo, que conseguiu escapar do meu radar por anos. Por anos, porra. Achei que ela havia morrido em um buraco qualquer ou que tinha ido para outro canto do mundo. Acontece que não foi nenhum dos dois. Ela está aqui no meu império. Bem debaixo do meu nariz. Ela apareceu do nada como a porra de um fantasma. Ela acha que vai escorregar entre os meus dedos tão facilmente? Ou que pode escapar de mim em meu próprio território? Agora que superei a névoa e estou pensando de forma mais racional, lembro da primeira e última vez que a encontrei. Foi no meu casamento com Alicia. Uma garotinha com cabelo despenteado trombou em mim, ergueu os enormes olhos brilhantes e sua boca formou um “O”. Suas primeiras palavras para mim foram: “Sinto muito, senhor.” Ela vai se arrepender muito mais agora. Ela vai desejar ter ficado longe do meu reino. Aquele canalha do Ethan deve ter desempenhado um papel nisso, mas ele também vai pagar. E issovai acontecer comigo usando-a a meu favor. O fantasma. A sorrateira. A irmã mais nova da minha falecida esposa. CAPÍTULO 3 Aurora AH, NÃO. Não, não, não. De todos os momentos possíveis, ele não podia aparecer agora. Meu olhar se mantém cativo ao seu, mais escuro e sombrio. Ele nem mesmo pisca ou mostra qualquer reação. Jonathan está a uma pequena distância, mas poderia muito bem estar envolvendo suas mãos em volta da minha garganta como se fosse um laço apertado. Um smoking elegante embeleza seu corpo largo e destaca as longas pernas. É quase como se ele tivesse trinta e tantos anos em vez de quarenta. Sua aparência está tensa, dura e feroz — como tudo nele. Seu cabelo cor da meia-noite está penteado para trás, revelando uma testa forte e um queixo anguloso que poderia me cortar ao meio se eu chegasse mais perto. Uma ligeira barba por fazer cobre seu rosto, lhe dando uma aparência mais velha, mais dura e intocável. O rei. Literalmente. Figurativamente. É mais do que seu sobrenome e tudo a respeito do poder que não conhece limites. A rainha? Esqueça. Ela não faz nada no mundo real. São tipos como Jonathan King que brincam com a economia como se fosse seu tabuleiro de xadrez pessoal. O Primeiro-Ministro? Esqueça também. Jonathan foi o principal patrocinador de sua campanha, e isso deve explicar tudo sobre quão longe sua influência pode ir. É assustador pensar no que mais ele poderia ter sob controle. Isso se houver algo que não esteja. Topar com Jonathan King era um risco que eu corri quando vim ao casamento de seu filho — meu sobrinho, que nem sabe que eu existo. Espero que Jonathan também não. Só nos encontramos uma vez, durante seu casamento com Alicia. Também houve aquele telefonema, mas foi há muito tempo. Certamente ele não se lembra de mim. Eu me lembro dele, no entanto. Não acho que seja possível apagar as poucas memórias que tenho. Jonathan tem uma presença que assombra inesperadamente e logo toma conta de tudo ao seu redor. É o bombardeio de um avião. O som de um trovão. A erupção de um vulcão. E isso? Isso não chega nem perto de ser esquecível. Para muitas pessoas, conhecer Jonathan é o ponto alto de suas existências. No casamento dele, eu era jovem. Tinha sete anos. Ele tinha vinte e quatro. Mas eu me lembro claramente de como ele parecia gigante. Como um deus. Eu não conseguia parar de olhar para ele enquanto me escondia atrás do vestido de noiva de Alicia. Eu afundei meus dedinhos no pano e olhei para ele, fazendo-a rir daquele jeito radiante que aquecia meu peito. Ela me disse que eu não precisava me esconder e que ele era da família agora. Eu me escondi mesmo assim. Porque ele era um deus, e os deuses têm uma ira tão brutal, que erradicam todos que atravessam seu caminho. Se Jonathan era gigante, ele agora é uma força a ser considerada. Ele é a fúria, cujo caminho não quero atravessar, não importa o quanto o odeie pelo que fez à Alicia. Talvez ele tenha se esquecido de mim. É possível, não é? Alicia está morta há onze anos, e eu o conheci há vinte. Fique calma. Inspire. Expire. Jonathan caminha em minha direção a passos tão fortes, que é quase como se eu pudesse senti-los em meus ossos. Ele está ao meu lado. Não ao lado de Ethan — ao meu lado. O desejo de tocar em meu relógio de pulso toma meus pensamentos, mas eu os corto o mais rápido que posso. Jonathan não está perto de invadir meu espaço pessoal, mas está próximo o suficiente para que eu possa sentir seu cheiro forte e distinto que, por algum motivo tolo, ainda me lembro. Naquela época, eu não sabia como categorizar seu cheiro, exceto por ser bastante viciante. Agora eu o reconheço como picante e amadeirado. Jonathan tem tudo a ver com poder, até cheiro que exala. Isso transparece em toda a sua aparência. Os ternos feitos sob medida com abotoaduras de diamante. Os sapatos italianos feitos sob medida. O luxuoso relógio suíço. Tudo sobre ele diz, mesmo que sem palavras: Não sou um homem que deva ser contrariado. Se alguém tentar, não tenho dúvidas de que ele os esmagará com a sola dos seus sapatos de couro. — Jonathan. — Ethan cumprimenta com um tom tão desapaixonado, que sinto a agressão sutil por trás do gesto. — Ethan. — O tenor profundo de sua voz atinge minha pele como um chicote. Eu aperto a taça de champanhe, e é quando percebo como minha cabeça está inclinada desde que ele parou ao meu lado. Minha atenção está focada no relógio azul em seu pulso. Relógios são minha especialidade, minha paixão, e geralmente me dão confiança. Hoje, não. Hoje sinto que apostei em mim mesma e perdi. Eu me arrisquei, e agora isso está se voltando contra mim. Se eu apenas tivesse mantido meu contador sob rédeas e verificado tudo o que ele fazia, o sujeito não teria roubado os fundos da empresa e nos feito hastear bandeiras de falência que podiam ser vistas à distância. Eu confiei nele. Todos nós confiamos. Somos uma família na H&H. Começamos pequenos e crescemos em alguns anos. Começamos a fazer contratos maiores e recebemos melhores oportunidades de exibição. Estávamos prontos para avançar ao próximo nível, até que Jake estragou tudo. Então tivemos de implorar por investidores quando sempre pensamos que estávamos acima deles. No entanto, quando descobriram nossos números e que nosso próximo produto era uma aposta, eles recuaram. O banco se recusou a nos conceder mais empréstimos, considerando o valor que já devemos a eles. Ethan é meu último recurso antes de ter de reduzir o número de funcionários e, eventualmente, anunciar a falência e matar o sonho que comecei com minhas próprias mãos. Só esse pensamento me faz perder o sono. — Quem é a sua acompanhante? — Jonathan pergunta a Ethan com um tom ilegível. Eu solto um suspiro. Isso significa que ele não me reconheceu, certo? Ethan sorri, mas está projetando exatamente o oposto do que um sorriso deveria. Em vez de ser acolhedor, é absolutamente ameaçador. — Não vejo por que isso deveria te interessar. — Mesmo? — O olhar de Jonathan se volta para mim. Eu sinto sem ter de olhar para cima. E eu não vou olhar para cima. É como assinar meu próprio atestado de óbito. Ele está me estudando. Na verdade, não. É mais como se estivesse me provando antes de atacar como um predador faminto. Só que eu não sou sua presa. Já passou muito tempo desde que jurei nunca mais ser a presa de ninguém. Já derrubei um predador em minha vida e farei tudo de novo se for preciso. Consequências e pesadelos que se danem. No entanto, ter Jonathan King como oponente é a última coisa que desejo. Há uma diferença entre ser corajosa e totalmente tola. Desafiar o rei em seu reino é a última alternativa. É como os mensageiros enviados por monarcas, que tiveram suas cabeças decepadas e penduradas na entrada da capital para que todos vissem. — Se você nos der licença — diz Ethan. — Aurora estava me contando algo. — Aurora — Jonathan reflete. — Mas esse não é o seu nome, é? Merda. Porra. Droga! Eu me sinto como se estivesse prestes a vomitar minhas tripas enquanto olho para ele. Ele está me olhando com uma expressão fria, quase maníaca, que não revela nada de seus pensamentos. Mas posso sentir isso alto e claro. Ele sabe. Ele lembra. Meus dedos tremem ao redor da taça, e preciso me esforçar para colocá- la na mesa sem derramar e fazer papel de boba. — Você não ouviu a parte em que deveria nos dar licença? — Ethan levanta uma sobrancelha. — Ouvi. Embora, por acaso, eu não receba ordens. — Jonathan está falando com Ethan, mas toda a sua atenção está voltada para mim. Impenetrável. Sem emoção. Imóvel. A cada segundo, seu foco se afia, tornando-se mais e mais sombrio. No mínimo, torna-se letal com a intenção de destruição. Um deus prestes a desencadear sua ira. Eu preciso sair daqui. Agora. Com um sorriso estampado, me volto para Ethan. — Vou procurar Agnus. Eu tenho o seu cartão, então se importa se eu ligar para você? — Eu tenho o seu. Eu te ligo. — Obrigada. — Eu mal consigo me despedir de Jonathan com um aceno ininteligível enquanto me viro e saio de cena.Uso tudo em mim para não correr e revelar meu desconforto ou a sensação do quanto fodi com tudo. Isto não é bom. Não. Pode ser desastroso para tudo o que passei anos construindo enquanto cuidadosamente ficava nas sombras para não ser notada. Eu estraguei tudo em uma noite. Assim que chego à área da piscina, evito Aiden, o que não é muito difícil. Ele está dançando lentamente com a noiva, a cabeça dela relaxada em seu ombro enquanto ele apoia o queixo. Por um segundo, paro e fico olhando para a cena, para quão serenos e felizes os dois parecem. É semelhante ao dia do casamento de Alicia e Jonathan, vinte anos atrás. Embora… Jonathan não dançasse. Eu me pergunto se o tirano sabe dançar. Eu me puxo para fora do meu estupor e me esgueiro para o estacionamento. Então eu menti. Eu não ia encontrar Agnus. Isso significa que eu terei de ficar por aqui, de jeito nenhum passaria um minuto a mais nas proximidades de Jonathan. Quanto ao meu outro lado do plano? Agora que quebrei o gelo com Ethan, poderemos ter uma reunião em sua empresa e, com sorte, não terei de ver Jonathan novamente nesta vida. Ele ficará em seu trono, e eu voltarei para o meu pequeno canto em Londres, no qual ele não concentra sua atenção. Ser um governante significa que ele não se importa em olhar para presenças insignificantes, e é exatamente o que pretendo ser. Não peço a nenhum dos funcionários para trazer meu carro; em vez disso, acelero o passo em direção ao automóvel, sem olhar para trás. Se você não olhar para trás, ninguém a encontrará. Isso é o que se imagina. Eu balanço a cabeça com aquela voz sinistra ressoando. A voz dele. O diabo que eu conheço. Meus dedos estão trêmulos quando tiro as chaves da bolsa. Eu aperto o botão nas chaves do carro, fazendo meu Toyota destrancar com um bipe. No momento em que abro a porta, uma mão aparece ao meu lado e a fecha. Eu vacilo quando o mesmo cheiro forte de madeira que nunca esqueci invade minhas narinas. O hálito quente de Jonathan deixa meu rosto arrepiado enquanto ele sussurra em um tom baixo, quase ameaçador: — Há quanto tempo não te vejo, Aurora. Ou devo chamá-la de Clarissa? CAPÍTULO 4 Aurora ESTOU PRESA. Essa sensação de estar em um lugar confinado sem saída parece retomar algo ocorrido há mais de onze anos. Eu deveria estar livre. Mas eu estou? De verdade? Eu me afasto das garras de Jonathan, e isso me faz ficar com as costas contra a porta fechada do meu carro. Jonathan se eleva sobre mim como uma grande parede. Calculei mal sua altura. Não sou baixinha, de forma alguma, mas para encontrar seu olhar, tenho de inclinar a cabeça para cima. Tenho de sair da minha zona de conforto e pagar o preço pelo risco que corri. Clarissa. Ele se lembra. Por que ele se lembra de um nome que só ouviu duas vezes na vida? Alicia não teria falado de mim. Ela veio me ver em segredo e disse que era nosso mundinho particular que ninguém precisava saber. Nós até fizemos isso pelas costas do meu pai enquanto eu crescia. Tínhamos somente a mesma mãe, que morreu logo depois que nasci, e então Alicia quis cumprir esse papel. Ela tentou, de qualquer forma. Mas eu já conhecia o diabo, e não tinha saída. Nada que Alicia pudesse ter feito me salvaria. No mínimo, isso poderia ter acelerado sua morte. O ponto principal é que Jonathan não deve se preocupar com a minha existência, muito menos lembrar do meu antigo nome. — Aurora. Meu nome é Aurora Harper agora. Ele permanece imóvel como uma montanha. — Vejo que você está rompendo com sua associação a Maxim Griffin. Imagens sombrias assaltam minha cabeça. Os gritos. As vozes. O ataque da multidão furiosa. Meu lábio inferior treme, e eu o prendo com meus dentes para o impedir. — Não faça isso. — Eu coloco a mão em volta da minha cintura e me abraço. A velha cicatriz está bem debaixo das minhas roupas, mas sinto a queimadura como se estivesse sendo feita agora. — O quê? — ele repete. — Não diga o nome dele. — Isso não apaga sua existência. — Só não faça isso. Pare com isso. — Eu poderia pensar no assunto se você me dissesse uma coisa. — O quê? — Onde você esteve, Clarissa? Quero dizer, Aurora. — Por que eu deveria te contar? Ele inclina a cabeça para o lado, me observando por alguns segundos sem piscar. Estar sob o escrutínio brutal de Jonathan é como se ajoelhar na corte de um rei esperando para ser julgado. — Você acha que pode aparecer do nada, no casamento do meu filho, e fingir que nada aconteceu? Sim. Mas agora que ouço com esse tom arrogante, quase condescendente, sinto que estava sendo infantil por pensar dessa forma. — Vamos fingir que nunca nos conhecemos. — Tento em meu tom suave. — Eu não finjo. — Ele se aproxima, invadindo propositalmente meu espaço pessoal como se fosse um direito dado por Deus. — Então, que tal você me dizer o que diabos estava fazendo com Ethan? — Nada. — Tente novamente, mas desta vez não minta para mim. Se o fizer, considerarei que está pronta para arcar com as consequências. Eu poderia mentir para ele e me livrar dessa situação, mas isso só me levaria até certo ponto. Posso não ter visto Jonathan pessoalmente por vinte anos, mas seu nome não pode ser esquecido neste país ou mesmo no cenário internacional dos negócios. Ele é um investidor. Um comandante. Um governante. Se colocar seus olhos em algo, não há como pará-lo até que ele consiga o que deseja ou destrua a empresa. Preto ou branco. Não há cinza em seu dicionário. E por essa razão, preciso cuidadosamente escapar de seu radar tão suavemente quanto estava presa nele. Cruzei as linhas do inimigo por engano, e agora preciso encontrar a saída mais segura. Eu respiro fundo. — Negócios. — Que tipo de negócios? — Apenas negócios. — Não me ouviu perguntar que tipo de negócio? Não gosto de precisar repetir, Aurora. Maldito seja ele e sua maneira autoritária de falar. É como se Jonathan esperasse que todos caíssem aos seus pés com um simples comando. Posso não querer provocá-lo de propósito, mas não vou ficar de joelhos na sua frente. Nem agora. Nem nunca. Eu cansei de ficar ajoelhada a vida toda. — Não é nada que seja do seu interesse. — Nada que diga respeito a mim, mas diz respeito a Ethan. Correto? — Sim. — Não. — Não? — Repito com uma confusão que deve estar estampada em meu rosto. — Você vai encerrar qualquer negócio que tenha com Ethan. — Por que eu faria isso? — Porque eu disse isso, selvagem. Jonathan está brincando comigo? Ele não está. Eu sei que não é do tipo que brinca, mas ele honestamente acredita que eu obedeceria simplesmente porque mandou? E daí se ele tem poder? Não é absoluto. Nada nem ninguém é. Eu levanto o queixo. — E se eu disser não? — Então faremos do meu jeito. — Um pequeno sorriso surge em seus lábios. Seus lábios são sensuais e bem proporcionais. E agora estou olhando para seus lábios. Pare de olhar para os lábios dele. Ergo o olhar para ele, e tudo fica claro. Jonathan não está sorrindo, está sendo ameaçador. Este é o olhar de quem se prepara para uma batalha. Um homem tão acostumado à guerra, que a paz o aborrece. E eu estou no outro lado do campo de batalha, em seu caminho de conquista. Então, não, não é um sorriso. É uma declaração de algo sinistro e potente. — Por que você se importaria com os negócios que faço, Jonathan? — Da última vez que verifiquei, ele não era meu guardião. — Você acha que pode me ignorar em meu território e escolher outra pessoa para fazer negócios? E não qualquer um, mas Ethan. O que você está querendo me dizer com isso? Você está tentando me desafiar? — Não. — Essa é a última coisa que eu quero. — Então por que não veio até mim? — Não gosto de misturar questões familiares com negócios. — E eu o odeio pela maneira como Alicia morreu. Se eu não soubesse que ele iria me dominar, eu o socaria no rosto e aliviaria a tensão que carrego há onze anos. — A única família que tenho tem o sobrenome King. Você não é minha família, selvagem. Nunca foi. Nunca será. — O sentimento é mútuo. — Que bom que concordamos quanto a isso. Agora você vai cortar qualquer contatoou comunicação com Ethan, incluindo Agnus. — Minha resposta é não. — Você acabou de me dizer não? — Sim, Jonathan. Não sei qual é o seu problema, mas você não pode me dizer o que fazer. Silêncio. Ele me olha com aquela expressão vazia que, agora tenho certeza, abriga um monstro. — É mesmo? Eu mantenho o queixo erguido, sem romper o contato visual. Jonathan dá um passo à frente. Minhas costas se chocam contra o metal da porta do carro enquanto seu peito quase toca no meu. Minha pele nua formiga, arrepios explodindo na superfície, e não tenho ideia do porquê. Ele coloca a mão perto da lateral da minha cabeça, lentamente descansando no metal do carro, e agarra meu queixo com a outra mão livre. Minha pulsação ruge em meus ouvidos enquanto ele me prende. Não há como escapar de Jonathan, mesmo se eu tentasse. Não que eu vá. Estou presa por sua presença absoluta e mantida prisioneira pelas profundezas escuras de seus olhos cinzentos. É como ser pega no olho de um furacão, então tudo o que posso fazer é cair. Me afogar. Cair… Eventualmente desaparecer. Isso é o que pessoas como Jonathan fazem. Se quiserem, podem fazer com que você desapareça como se nunca tivesse existido. A sensação de sua pele na minha é como estar queimando de dentro para fora. Ninguém deveria exalar tanto controle quanto ele. Deveria ser proibido. Ilegal. — Este é o meu primeiro e último aviso. Não mantenha contato com Ethan. Entendido? Quero dizer não, gritar, mas é como se minha língua tivesse um nó em si mesma. Estou muito presa pela sua proximidade, em sua presença letal e pela intimidação que ele emprega tão bem. Não sou o tipo de pessoa que se intimida, mas este é Jonathan. Ele está em uma categoria especial só dele. Jonathan toma meu silêncio como aprovação e solta meu queixo. Em vez de sair do meu espaço, vasculha minha bolsa e pega o cartão que aceitei de Ethan. Antes que eu possa impedi-lo, ele o rasga em quatro e joga para trás. Os pedaços voam com o vento. Em seguida, ele enfia a mão em sua jaqueta, pega um cartão seu e o desliza no lugar do de Ethan. — Esta é a única informação de contato que você precisa. Ligue para mim, peça desculpas por me ignorar e, dependendo do meu humor, posso considerar ajudá-la. Maldito seja. Quem o escroto pensa que é? Ele dá um passo para trás, todo o contato físico se foi, e eu finalmente respiro direito — ou pelo menos tento. Não parece normal me lembrar de como inspirar e expirar regularmente. Mas se eu não fizer isso, posso interromper completamente minha ingestão de oxigênio. Seus olhos vagam sobre mim mais uma vez, com uma intensidade sufocante que me tira o fôlego novamente. Eu resisto à vontade de ficar inquieta enquanto seu olhar para no meu rosto. — E então você vai me dizer onde esteve. E, com isso, ele se vira e vai embora. Eu me escoro contra o meu carro, respirando fundo como se tivesse acabado de aprender a fazer isso. O ato está lá, mas o peso me atingindo torna quase impossível me orientar. É a primeira vez em anos que me sinto tão presa e sem saída. Não prometi a mim mesma que nunca estaria nesta posição novamente? Quer saber? Que se foda Jonathan King. Ninguém me diz o que fazer. CAPÍTULO 5 Jonathan AURORA HARPER. Anteriormente Clarissa Griffin. Foi assim que eu a perdi — não que estivesse procurando ativamente por ela. Alicia mencionou em seu testamento que desejava que eu cuidasse de Clarissa. Então Clarissa desapareceu da face da Terra. Ela não devia ter mais de dezesseis anos quando toda a tempestade de merda com Maxim Griffin desabou. Ela era menor de idade, mas desapareceu. Cheguei a perguntar por aí, no Serviço de Pessoas Protegidas do Reino Unido, usei métodos desleais, mas eles também disseram que ela era uma pessoa desaparecida. É como se ela tivesse desaparecido. Resignado, não dediquei todo o meu empenho em procurá-la, porque eu não queria um lembrete de Alicia logo após sua morte. Eu precisava seguir em frente, e Clarissa teria atrapalhado esse processo. Ainda assim, como ela ousa desaparecer e reaparecer sem minha permissão? Ela acha que isso é um jogo? Que pode fazer o que quiser e ir embora sem pagar o preço? E Ethan? Essa é uma jogada ousada pela qual ele será punido. Eventualmente. Eu entro no carro e encontro meu assistente e braço direito, Harris. Ele é um daqueles nerds que passou a vida inteira estudando e se tornou um gênio, não só com números, mas também com informações. Ele sabe tudo sobre tudo. Cumprimentando-me com um pequeno gesto de cabeça, ele se concentra novamente em seu tablet, ajustando os óculos de armação invisível. — Como está o rascunho? — pergunto. — Oitenta por cento concluído. Está com a equipe jurídica e estará pronto em duas horas. — Termine em uma hora diga a eles que comecem a redigir o contrato de fusão adicional. — É para já. — Ele digita em ritmo acelerado em seu tablet. — E, Harris? — Sim, senhor? — Eu preciso que você procure alguém. Ele levanta a cabeça de seu tablet para me lançar um olhar interrogativo. As únicas pessoas que procuro são aquelas com quem farei negócios ou cujas empresas assumirei. Harris não precisa de um lembrete para fazer isso. Ele me encaminha todas as informações relevantes antes mesmo de eu pedir. A razão por trás de sua reação é minha mudança de padrão. Ele, mais do que ninguém, sabe que sigo rotinas. É o que mantém a ordem e o controle. Isso me permite governar com punho de ferro e sem errar. O fato de estar quebrando minha própria regra está atrapalhando seus métodos usuais de trabalho. Mas ele não vai perguntar a respeito do motivo. E é isso que mais gosto em Harris. Ele guarda o lixo desnecessário para si e trata apenas dos dados. — Nome? — Aurora Harper. Anteriormente Clarissa Griffin. A filha de Maxim Griffin, o Assassino da Fita Adesiva, no norte da Inglaterra. Eu preciso que você me diga tudo o que sabe sobre ela. Eu tenho uma premonição de que Clarissa vai me desafiar. Meus lábios se contraem, lutando contra um sorriso. Já faz muito tempo que alguém se atreveu a me desafiar depois de receber um aviso. Eles geralmente caem de joelhos sem nem mesmo um contato verbal. Vamos ver como Aurora vai reagir. Seja qual for o caminho que ela escolher, apenas a trará de volta para mim. Onde ela deveria ter ficado onze anos atrás. CAPÍTULO 6 Aurora NO DIA SEGUINTE, VOU TRABALHAR COM UMA NOVA MOTIVAÇÃO. Passei a noite inteira me revirando na cama, com raiva de mim mesma por deixar Jonathan me tratar como sua propriedade ou como uma criança pequena. Não tenho ideia do que me irritou mais, mas os dois me deixaram fervendo de raiva reprimida. Então decidi ignorá-lo completamente. Sim, ele rasgou o cartão de Ethan, mas tenho contato direto com Agnus, que é a segunda melhor parte disso tudo. Hoje vou continuar com o projeto e esquecer a ameaça do banco que está pairando sobre nossos pescoços como uma guilhotina. Eles estão apenas adiando o leilão das ações porque nós imploramos a eles. “Nós”, o que significa minha parceira de crime e eu. Por falar nisso, passo pelo escritório dela, fazendo malabarismo com dois cafés gelados de caramelo. O que é a razão de sermos amigas, como ela gosta de me lembrar. Ela não está aqui. Saúdo os meus trabalhadores com um bom dia, mantendo o rosto livre da ansiedade que vejo irradiar deles. A atmosfera está sombria e tensa há alguns meses. A fábrica tem funcionado de forma irregular ultimamente, e os funcionários do banco já definiram o valor. Funcionários fofocam, não importa o quanto a gente tente convencê-los de que tiraremos a H&H dessa situação. Alguns até passaram a solicitar dias de folga em busca de outro emprego. Eu não os culpo. Afinal, eles precisam ganhar a vida, e se esta situação em que nos encontramos seguir adiante, seremos forçados a dispensar alguns deles. No momento em que abro meu escritório, sou saudada pelo som de Don’t Look Back in Anger, do Oasis. O gosto musical de Layla está preso ao passado, de modo que ela ainda lamenta o fim da banda. Minha parceira e melhor amiga estána frente do quadro transparente, rabiscando em velocidade supersônica. Ela tem uma estrutura minúscula, então quando usa calças largas e moletons grandes, parece uma cantora de hip-hop — um fato que ela se orgulha, já que se considera criada completamente na rua. Seu cabelo está coberto por um hijab elegantemente acertado em seu pescoço. Layla é uma muçulmana devota e cidadã britânica de terceira geração. Seu pai é de ascendência paquistanesa e sua mãe é tunisiana. Como resultado, sua pele é um tom mais escuro que o de sua mãe, caucasiana, e mais claro que o do pai, nascido no sul asiático. Ela tem a pele mais lisa que eu já vi, para além de propagandas com Photoshop, e seus enormes olhos castanhos podem mostrar o mundo todo, se você olhar para eles com atenção suficiente. — Oasis tão cedo? Ela estende a mão para mim sem levantar a cabeça. — Meu café gelado, cara. — Tome. — Eu o coloco em sua mão, e nós tomamos um gole ao mesmo tempo, então suspiramos. Eu fico ao lado dela na frente do quadro. Layla está escrevendo seu plano de marketing — aquele de que precisaremos se conseguirmos investimentos. Quando começamos esta aventura logo depois de nos formarmos na universidade, concordamos que eu cuidaria da parte que envolve design no negócio, e ela faria o marketing, porque ela é um gênio nisso. Cinco anos depois, estávamos arrasando. Nossa empresa passou de duas pessoas para mais de cem. Nós fizemos a empresa acontecer. Apenas Layla e eu. Até aquele bastardo do Jake arruinar o que levou anos para ser construído em questão de meses. — Que maravilha. — Ela dá outro gole. — Eu me sinto mais energizada e pronta para chutar o rabo de alguém. — Você já deve ter tomado café. — Eu preciso de dois para acordar completamente. Lembra no dormitório? — Ugh. — Eu costumava literalmente espirrar água nela para que ela acordasse e não se atrasasse para a aula. — Uh-huh. Exatamente. — Parece bom. — Eu mexo no quadro. — Não é bom o suficiente, mas esquece isso. — Ela pega minha mão e me leva para o sofá em frente à minha mesa, então diz à Alexa para parar de tocar a música. — Como foi ontem? — Já te disse. — Uma mensagem no meio da noite que diz: “Acho que estamos bem, falo com você amanhã” não explica nada. Eu preciso de detalhes. — Calma… — Todos os detalhes — ela fala como uma mãe severa, e eu suspiro, então conto a ela a essência do que aconteceu ontem e o encontro terrível com Jonathan. Eu já havia dito a Layla que o mero pensamento daquele encontro em particular me assustava pra caralho. — Que saco — ela exala depois que eu termino. — Um saco, com certeza. — Então seu sobrinho realmente te chamou de mãe? — Sério, Lay? — O quê? Eu acho isso fofo. — Aiden é tudo menos fofo. Ele é uma versão em miniatura do pai. — Então qual é o problema aqui? — Jonathan me ameaçou. Se eu continuar com a questão com Ethan, ele virá atrás de mim. — Não se você tiver a proteção de Ethan. Minha testa franze. — O que você quer dizer? Ela toma um gole generoso de seu café gelado e cruza uma perna sobre o sofá, totalmente de frente para mim. — Ok, me escuta. Jonathan é como um lobo mau, certo? Adivinha quem pode matar um lobo? — Um caçador? — Sim, mas não temos isso. Qual é a melhor opção? — Eu nem tenho certeza de onde você quer chegar com isso. Essa é mais uma de suas ideias malucas? — Concentre-se, companheira. O que mais além de um caçador pode matar um lobo? — Poupe-me do suspense. — Outro lobo. — Outro lobo? — A única maneira de derrubar Jonathan é usar Ethan. — Mesmo? — Por que você acha que Jonathan é tão contra a ideia de você se encontrar com Ethan? Ele sabe que se você tiver o apoio da Steel Corporation, ele não poderá tocar em você. De certa forma, estaremos sob a proteção de Ethan, e ele é conhecido por cuidar muito bem de pequenas empresas e até mesmo de seus processos. — Você acha? — Tenho certeza. — Tipo? — O fato de ele insistir em saber onde você esteve no passado continua me confundindo. — Ela dá outro gole no café. — Por que você não esclareceu isso? — Eu não devo nada a ele. — Você não deve, mas se puder esclarecer um mal-entendido, faça isso. É melhor não estar em seu radar. O problema é que acho que já estou. Eu estraguei tudo ontem e fui descoberta por Jonathan, goste ou não. Além disso, que mal-entendido poderia haver? Jonathan e eu sempre vivemos em mundos diferentes. Droga, o filho de dezenove anos dele não parece nem saber que tem uma tia. Há um abismo entre nós, mas ele agiu como se isso nunca tivesse existido. — Então? — Layla pergunta. — O quê? — O que você está esperando? Ligue para Ethan. — Não deveria dar a ele mais tempo para pensar no assunto? — Você quer dizer esquecer o assunto, né? Um homem como ele deve receber cem ofertas de empresas por dia. Ok, isso é um exagero, mas essa é a ideia. Aproveita enquanto está quente, cara. Eu escondo a risada que quero dar por causa da maneira como ela fala. Ter sido criada como a caçula de quatro irmãos mais velhos tornou Layla adoravelmente moleca. — Do que você está rindo? — Você parece um bandido de rua. — Chupa meu P. Layla é o tipo que sempre quer falar palavrão, mas ela se abstém por respeito à religião, então ela usa as iniciais ou soletra as palavras. — Você não tem pau, Layla. Ela faz uma careta e depois bate palmas. — Vamos, não há tempo a perder. Faça sua mágica de design. — Estou nervosa. — Isso é o que você diz todas as vezes e sempre deixa a todos boquiabertos. Agora vamos trabalhar. Meu coração aquece por suas palavras. Layla acredita em mim, mesmo quando eu não acredito em mim mesma. Ela é a melhor amiga e parceira que eu poderia desejar. E é por isso que eu a protejo do meu passado. Tudo o que ela sabe sobre mim é que sou órfã — o que está longe de ser verdade. Eu me levanto e a abraço. Layla desajeitadamente dá um tapinha nas minhas costas. Outra coisa sobre Lay? Ela não gosta de abraços ou de ser tocada em geral, mas me atura. — Obrigada — eu digo, me afastando. — Você é minha amiga para o que der e vier. — Esse foi o seu abraço da semana. — Ela acena, seguindo seu caminho para a porta. — Chupa meu pau, Lay. — Você não tem um — responde por cima do ombro, rindo. Quando a porta se fecha, eu puxo meu telefone e ligo para Agnus. Ele atende após o primeiro toque. — Bom dia, Agnus. — Bom dia. — Escuta. Sinto muito por ter saído assim ontem. Eu estava me perguntando se eu poderia pegar outro cartão de Ethan. Acho que perdi o meu. — Por causa do bruto Jonathan. — Não há necessidade. Meu coração afunda no peito. Isso significa que acabou? Eles ficaram ofendidos por eu ter ido embora ontem? — Eu ia ligar para agendar uma reunião entre você e Ethan em sua empresa. Ele quer visitar e considerar um investimento. Digamos, amanhã às dez? Oh. Deus. Ele está considerando um investimento. Quanta sorte! Tento não parecer tão animada ao dizer: — Seria perfeito. Obrigada. Vai se foder, Jonathan. Vou seguir o conselho de Layla. Se eu tiver Ethan por perto, ele não será capaz de me machucar, mesmo que tente. Pelo menos eu acho. CAPÍTULO 7 Aurora HOJE É O DIA. Desde que descobrimos a traição de Jake, Layla e eu — e todos os outros na empresa — temos trabalhado muito para chegar a um dia como este. Investidores. Os legítimos — não os outros que recuaram após uma caminhada na fábrica ou nos escritórios. Sempre que os levo para um passeio, me sinto tão vulnerável. De certa forma, estou abrindo minha casa para estranhos que podem não gostar. E eles não gostam. Na maior parte das vezes. Ethan é diferente. Ele não mostra nenhum sinal de descontentamento quando Layla e eu o levamos, com Agnus, para a fábrica e conversamos sobre nossos planos para o próximo lançamento de produto. Agnus permanece inexpressivo como de costume, mas Ethan nos questiona sobre certas partes que gostaria de entender melhor. Nossos escritórios não são extravagantes. Ocupamos um prédio modesto na área industrializada de Londres, mas é o suficiente para a administração e a fábrica. Estávamos pensando em expandir antes que todoo show de horrores com Jake acabasse. Agora teremos sorte se conseguirmos manter este prédio. Quando voltamos ao meu escritório, estou prestes a explodir de ansiedade e nervosismo. Eu toco em meu relógio, em seguida deixo cair a mão para que meu gesto nervoso passe despercebido. Quando acordei esta manhã, tomei cuidado redobrado com a aparência. Eu usei minha saia lápis preta e camisa branca passada com um laço preto. Meu cabelo cai de cada lado dos ombros, e até passei o batom vermelho novamente. Há algo de poderoso em ter a melhor aparência possível; isso me enche de uma explosão de confiança muito necessária. Até Layla colocou um vestido, que normalmente só reserva para ocasiões especiais, e isso diz alguma coisa. Nós duas sentamos uma ao lado da outra enquanto Ethan e Agnus ocupam o sofá à nossa frente. Ethan está lendo o plano de marketing de Layla para o novo lançamento, sem pressa para virar as páginas. Agnus percorre nossa loja online em seu tablet. Layla se contorce ao meu lado. Embora ela nunca tenha sido do tipo nervoso, quase posso ver o halo de ansiedade em torno de sua cabeça. Como eu, ela percebe que esta pode ser nossa última chance. Se não conseguirmos isso, a H&H terá de fechar as portas, e talvez precisaremos ir atrás de algum trabalho corporativo que ambas odiamos tanto. E pior, deixaremos nossos funcionários desamparados. Temos o sr. Vincent, nosso investidor silencioso francês, com onze por cento das ações. Só o vimos algumas vezes no início, mas nunca depois disso. Ele é um homem reservado e quase não vem mais para a Inglaterra. Poderíamos oferecer a ele mais ações nossas para investimento, mas Layla e eu estamos deixando essa ideia como último recurso. Ela e eu possuímos quarenta e cinco por cento cada uma, e já usamos vinte por cento cada uma para cobrir nosso último empréstimo. O suor cobre minhas costas, colando minha camisa na pele, e não há nada que eu possa fazer para interrompê-lo. É como se meu corpo estivesse sendo empurrado de volta para o modo de fuga ou luta. Não. Isso é diferente. Eu nunca vou voltar para aqueles tempos. — Devo dizer. — Ethan fecha perfeitamente o plano organizado de Layla. — Estou impressionado. E raramente fico impressionado. Layla e eu respiramos ao mesmo tempo. — Obrigada. — Layla sorri. — Estou um pouco surpreso por Agnus não ter te raptado assim que você saiu da universidade. Ele reuniu o melhor do melhor em nosso departamento de marketing, e eles precisariam de uma ou duas dicas suas. Layla sorri. — Foi porque eu já havia começado minha própria empresa. — Perda minha. — Agnus acena com a cabeça. — Aurora. — Ethan me encara. — Sim? — Eu acredito que vocês duas se complementam muito bem. Os designs são únicos, e Layla precisa sair da caixinha para encontrar seus clientes especiais. — Eu acredito que sim. — É por isso que Layla e eu raramente temos quaisquer divergências. Não somos rivais; nós nos completamos. — Deixe-me perguntar algo. — Ethan nos encara. — O que fez você começar a projetar relógios? Eu poderia dar a ele a resposta genérica que sempre dou. Tipo, é minha paixão e minha arte, e embora seja realmente isso, essa não é toda a verdade. Ethan é o tipo que pode detectar uma mentira, e não quero parecer desonesta na frente dele em um momento tão delicado. Ele pode levar isso como desrespeito, e isso é a última coisa que desejo. Então eu vou pelo caminho que me deixa mais vulnerável. Porque a situação em que estamos exige que nos tornemos vulneráveis. — Quando eu era criança, minha irmã comprou um presente para mim. Meu primeiro relógio. Eu adorei demais, e como não tinha coisas tão bonitas, escondi-o e estudei à noite, quando estava prestes a dormir. Então comecei a pensar em como foi feito e por que foi feito daquele jeito. Tornou-se minha paixão, e com o tempo, percebi que era o que eu queria fazer. Sempre que me sento para desenhar, lembro da admiração que senti quando olhei para o meu primeiro relógio. Lembro de minha irmã e da felicidade que ela me trouxe, então me esforço para recriar essa sensação. Quero que as pessoas se sintam felizes quando receberem um dos meus relógios. — A arte do tempo — Agnus recita nosso slogan. — Exatamente. Layla encosta em meu braço, e eu sorrio, tentando não me deixar levar pelas memórias. — Sua irmã é… — Ethan para de falar. — Alicia, eu suponho. Meus olhos se arregalam. Ele também sabe? — Mas como…? — Não foi tão difícil. Exceto pela cor dos olhos, você é idêntica a ela, Aurora. Eu sabia que Ethan e Jonathan compartilhavam uma história, uma história sangrenta, mas nunca pensei que Ethan fosse um conhecido de Alicia. Tudo começa a se encaixar. Meu olhar segue para Agnus. — É por isso que você se aproximou de mim? — Eu diria que nos aproximamos. — Agnus permanece completamente inalterado. Layla e eu trocamos um olhar preocupado antes de me concentrar novamente em Ethan. — Isso significa que você nunca teve a intenção de investir? — Eu tenho pensado sobre isso. Acredito que sua empresa pode ter um futuro brilhante. — Mesmo? — Layla e eu dizemos ao mesmo tempo. — Com certeza. Vou pagar a dívida do banco e fornecer um orçamento para impulsionar o lançamento do novo produto. Agnus enviará a você o contrato e os detalhes sobre como pensamos nossa parceria. — Ele se levanta. — Até mais. Um largo sorriso curva meus lábios enquanto aperto sua mão. — Muito obrigada. — Não vamos te decepcionar. — Layla aperta sua mão em seguida. — Eu não tenho dúvidas. Eu limpo a garganta. — Você teria investido se não soubesse que sou parente de Alicia? Layla me cutuca em uma espécie de repreensão. Eu sei o que ela está pensando — que já fechamos o negócio, então por que perguntar isso? No entanto, preciso saber. Chame de valor pessoal, ou orgulho, ou o que for. — Provavelmente, mas já seria tarde demais quando seu arquivo caísse na minha mesa. Digamos que seu relacionamento com Alicia e a presença de Jonathan aceleraram o processo. — Jonathan? — eu pergunto em voz baixa. O que ele tem a ver com isso? Demorou muito para não pensar nele hoje. Há sempre aquela vozinha na mente me dizendo que eu cutuquei o leão e que ele virá atrás de mim. Eu sei que é paranoia, mas não consigo parar de pensar nisso. Maldito seja. Eu estava bem antes de encontrá-lo novamente. O que aconteceu por minha culpa já que invadi o casamento de seu filho, mas não é como se eu tivesse escolha. — Sim, Jonathan. — Os lábios de Ethan se movem em um sorriso predatório. — Ele não vai gostar. Layla levanta as sobrancelhas para mim como se dissesse “avisei”. A rivalidade entre Jonathan e Ethan deve ser profunda para eles continuarem atacando um ao outro. Não faço ideia de como eles permitiram que seus filhos, que são seus únicos herdeiros, se casassem. Certamente sabem que herdarão as empresas de seus pais algum dia e ambos provavelmente farão uma fusão completa. Não que eu devesse me importar. Contanto que eu tivesse meu investimento, não me importava com o que dois reis fariam em seus reinos. A porta se abre, e Jessica corre atrás de vários homens. — Senhor, você não pode entrar… Minha respiração encurta quando homens lotam meu escritório. Esquece. Nem mesmo se trata de todas essas pessoas. Apenas um homem mantém minha atenção prisioneira e se recusa a deixá-la escapar. Eu posso sentir o sangue drenando do meu rosto enquanto fico presa no furacão dos olhos cinzentos de Jonathan. A raiva e a desaprovação são tão tangíveis, que ele não precisa de palavras para expressá-las. É como um poço profundo e oco que o levará para o desconhecido. Ele está na frente de quatro homens, todos vestidos com ternos escuros, parecendo terem saído de um programa de negócios. Embora Jonathan também esteja usando um terno, ele consegue se destacar em comparação com os outros. Sua presença grandiosa rouba o ar e confisca todo o oxigênio. De repente, meu escritório parece bastante pequeno e sufocante. Eu cutuquei o leão, e agora ele apareceu para me devorar. — Senhor, por favor… vá embora — Jessica, minha assistente,tenta novamente, me lançando olhares constrangidos. Mesmo em suas tentativas de ser severa, ela não pode ignorar o fator de intimidação que Jonathan trouxe com ele. Como um senhor da guerra em batalha, todos os camponeses precisam se curvar ou morrer. O olhar de Jonathan vagueia entre mim e Ethan, como se fôssemos pedras irritantes em seu sapato. O completo desprezo em seu rosto dispara ondas de desconforto pelas minhas costas. É por isso que o odeio tanto. Ele tem a capacidade de me abalar após os anos intermináveis que passei me estabilizando. Suas próximas palavras pintam todo o meu mundo de preto. — Serei o último a sair. Esta empresa agora é minha. CAPÍTULO 8 Aurora — ESTA EMPRESA AGORA É MINHA. Devo ter ouvido errado, porque acho que Jonathan disse que agora a empresa é dele. — Do que você está falando? — Eu queria explodir, mas minha voz sai baixa, com medo até. Jonathan gesticula para os homens com ele. — Meus advogados vão lhe dar os papéis da aquisição. Comprei as ações que você usou como garantia para o banco. Layla e eu pegamos os papéis com mãos trêmulas e os estudamos. Meus olhos saltam ao olhar para a assinatura do diretor do banco ao lado da de Jonathan. — Mas ele disse… — Layla engole. — Ele disse que nos daria tempo. — Seu tempo acabou — Jonathan continua com a voz arrogante que eu gostaria de poder silenciar ou, melhor ainda, jogá-lo pela janela. — Mesmo assim — Eu me recomponho, embora meu coração esteja prestes a pular da garganta. — Layla e eu temos noventa por cento das ações. Usamos apenas vinte por cento cada como garantia do banco. Se você adquiriu quarenta por cento das ações, ainda temos cinquenta juntas. Jonathan sorri como se esperasse que eu dissesse isso. O sorriso dele é estranho. Sempre parece uma declaração de guerra e uma promessa de destruição. Como se não sorrisse de bom grado por qualquer outro motivo. — Correção: vocês duas juntas tinham oitenta e nove por cento das ações. Agora, são quarenta e nove. — Ainda é mais do que seus quarenta. — Quem disse que tenho quarenta? Harris. — Ele aponta para o homem ao lado dele, que está segurando um tablet e um documento preto no qual King Enterprises está gravado em letras douradas com uma coroa no topo. Harris, um homem magro que parece afetado e distante, ajusta os óculos com o indicador e o dedo médio e me oferece a pasta. Eu a abro o mais rápido que já fiz em minha vida. O mundo começa a escurecer quando vejo a assinatura ao lado de Jonathan. Lucien Vincent. Nosso investidor silencioso. — Entrei em contato com seu terceiro investidor, e ele transferiu todos os onze por cento de suas ações para mim. Agora tenho cinquenta e um por cento e possuo a H&H. — O sr. Vincent não pode fazer isso — sussurra Layla para mim. — Assinamos um contrato. — Sim, assinamos. — Endureço a espinha, de frente para Jonathan. — A transferência das ações do sr. Vincent é nula. Assinamos um contrato no qual ele não pode vender suas ações a menos que fale com uma de nós primeiro. — Ou em caso de falência. — As palavras de Jonathan parecem um chicote nas minhas costas. — Que é a situação atual. A transferência é totalmente legal. Certamente você pode lutar por alguns anos no tribunal se acreditar que tem direito, mas não vai ganhar, então você pode também economizar seus esforços e finanças. Minha boca abre e fecha novamente. Nenhuma palavra sairia, mesmo se eu tentasse falar. Deus. Ah, não. Não posso acreditar que perdi a empresa dessa forma. Como? Onde é que eu me enganei? Culpar Jake é inútil. Ele pode ter nos roubado, mas fui eu que confiei nele quando não deveria. — Você manipulou o diretor do banco, não foi? — Ethan fala pela primeira vez desde que Jonathan entrou. Sua expressão perdeu o triunfo que ganhou quando apertamos as mãos antes. — Você deve ter trocado de banco por uma de suas subsidiárias que tem um lucro líquido significativo para o referido banco para fazer o diretor concordar em vender as ações. Jonathan sorri com puro sadismo. — Um passo à sua frente, como de costume. — Eu não soltaria fogos de artifício ainda, Jonathan. — É sempre um prazer esmagar você, Ethan. Desnecessário dizer que seu investimento na H&H foi suspenso, a partir de já. Ethan dá um passo à frente de Jonathan, e um choque de olhares irrompe entre eles. É como dois titãs se preparando para uma luta. — Isso não acabou. — Sim, acabou — Jonathan diz naquele tom alto e poderoso. — Agora, se você nos der licença, preciso ter uma reunião com minhas funcionárias. Ele acabou de nos chamar de suas funcionárias? — Nós nos encontraremos novamente, Layla. Aurora. — Ethan se volta para nós e aperta a mão de Layla, em seguida oferece a sua para mim. Eu aperto, embora esteja atordoada e incapaz de acompanhar o que acabou de acontecer. Agnus acena com a cabeça enquanto ele e seu CEO deixam o escritório com a mesma confiança com que entraram. Jonathan os segue com um olhar tão sombrio, que é como se ele pudesse incendiá-los apenas olhando para eles. Layla e eu ficamos na presença de Jonathan e de quem quer que tenha sido escolhido para vir aqui com ele. É uma tática para mostrar o poder que possui e com que facilidade pode levar as pessoas para o seu lado, se quiser. Não é pretensão, é um plano cuidadosamente traçado. Jonathan é o tipo de homem que exibe seu batalhão antes de uma guerra para lançar o medo nos corações dos inimigos. Dessa forma, ele pode vencer com o mínimo de esforço. Seu olhar se volta em mim, e eu instintivamente engulo em seco. Eu me esforço ao máximo para não meter Layla debaixo do braço e correr para longe de seu alcance. Parte dos meus métodos de defesa consiste na minha capacidade de reconhecer ameaças — ou pelo menos senti-las. É o que me salvou onze anos atrás, e é o que grita comigo para me salvar agora. Jonathan é um homem perigoso, senão o mais fatal de todos. A diferença é que suas armas não são facas ou revólveres. É a sua capacidade de deixar você sem roupas por causa do poder absoluto que passou anos cultivando e ampliando a alturas impossíveis. O fato de eu ter agido contundentemente contra sua ordem me transformou em um problema que ele precisa resolver. Ou erradicar. Agora vejo que Jonathan se conteve no dia do casamento de Aiden. Porque o Jonathan que está na minha frente veio preparado para uma guerra completa. E eu sou essa guerra. — Harris. Espere por mim no carro — ele fala com seu funcionário, mas sua atenção enervante, sem piscar, nunca se desvia de mim. Harris concorda com a cabeça e gesticula para todos os outros homens, que o seguem sem dizer uma palavra. — Você também pode sair, sra. Hussaini. — Eu não vou. Aurora e eu somos parceiras. Se você tiver alguma conversa de negócios, estaremos ambas presentes. — Layla entrelaça seu braço no meu. Há um leve tremor no gesto, e eu sei quão abalada ela deve se sentir agora. Jonathan não é o tipo de homem a ser tratado levianamente. Ainda assim, sua lealdade e o modo como se recusa a me deixar em paz aquecem meu coração a ponto de explodir. No entanto, não quero que ela enfrente a ira de Jonathan. Eu que fui contra sua ordem, e se alguém precisar ficar na frente de um deus enquanto ele aplica sua punição, essa pessoa sou eu. Layla não fez nada para merecer isso. Além disso, tenho uma espécie de vínculo familiar com ele. Ela, não. Ele não hesitaria antes de esmagá-la com o sapato. — Você pode ir, Lay. — Eu acaricio sua mão. — Não. — Ela balança a cabeça daquele jeito teimoso. — Ouça sua parceira, sra. Hussaini — Jonathan interrompe. Layla o ignora e se concentra em mim. — Você vai ficar bem? — Eu posso lidar com ele. — Me mande uma mensagem se alguma coisa acontecer. — Ela se inclina e sussurra para que apenas eu possa ouvi-la. — Se ele te machucar de alguma forma, vou dar um chute naquele nariz reto, talvez trazê-lo um pouco para a realidade. Lembra como mandei aquele bandido que tentou nos roubar para o pronto-socorro? O próximo será o nariz de Jonathan King. Eu sorrio, balançando a cabeça, e ela finalmente me libera.Antes de sair, para na frente de Jonathan. Layla é muito pequena ao lado dele, que seria cômico em outras circunstâncias. — Eu sou faixa preta em caratê e dois de meus irmãos são capitães do exército britânico — ela diz a ele casualmente. — Lay… — Eu balanço a cabeça. A última coisa que ela quer é ameaçá-lo ou se colocar no radar dele. Jonathan levanta uma sobrancelha. — Isso é uma ameaça, sra. Hussaini? — É uma informação fornecida espontaneamente. — Pelas costas dele, ela gesticula para que eu envie uma mensagem de texto e depois sai. Quando a porta se fecha com um clique alto, sinto a gravidade da situação antes mesmo de Jonathan dizer uma palavra. Eu engulo todas as emoções que vêm à superfície e mantenho contato visual. Nunca foi um problema fazer isso com ninguém no passado. Agora é diferente. Tudo é diferente. Começando com o homem que está parado no meio do meu escritório como se fosse o dono — o que, de certa forma, agora ele é. Manter contato visual com Jonathan é como ser feita em pedaços e não ter a capacidade de fazer nada a respeito. Ele se alimenta de minha energia da maneira mais selvagem, e não tem planos de devolvê-la. — O que você quer, Jonathan? — Eu disse a você o que eu queria, e você propositalmente foi na direção contrária. Muito ousada. Eu engulo em seco enquanto ele dá a volta na minha mesa e se abaixa na minha cadeira com total confiança, como se sempre tivesse sido dele. Minhas pernas mal me mantêm de pé, então não tento me mover da minha posição. — Você vai me deixar em paz agora? Ele ri, o som é vazio e assustador. — Vou interpretar isso como uma piada. — Você conseguiu o que queria. Ethan já está fora. — Verdade, mas eu fiz isso, não você. Por que você deveria ser recompensada por isso? — E daí? Você será só o dono da minha empresa? — Minha empresa, mas estou divagando. — Você não pode fazer isso. — Já fiz. — Ele coloca os cotovelos na mesa e se inclina, apoiando o queixo. — A menos que você esteja disposta a oferecer algo como pagamento. Eu me animo, a esperança florescendo como fogos de artifício. — Eu estou. Pagarei qualquer coisa. — Qualquer coisa? Cuidado, selvagem. Essa é uma palavra forte para ser usada. — Eu quis dizer dentro do razoável, e somente se você nos permitir pagar em parcelas. — Parcelas. Eu gosto dessa ideia. — Certo. — Dou a volta no sofá para ficar na frente da minha mesa, aquela que ele tão abruptamente tornou sua. — Você pode até manter algumas de suas ações como forma de investimento, se quiser. — É mesmo? — Sim. — Estou deixando as coisas escaparem agora, mas não me importo, desde que isso nos traga nossa empresa de volta. — Layla e eu podemos até oferecer a você um pouco mais do que você pagou pelas ações. Só precisamos da opção de parcelar e com prazo até o lançamento do próximo produto. — Ações e dinheiro não são o pagamento que eu estava pensando. Eu franzo a testa. — Então o que é? — Você, Aurora. CAPÍTULO 9 Aurora EU FICO OLHANDO PARA JONATHAN COM O QUE DEVE PARECER UMA EXPRES Pela segunda vez em poucos minutos, ele me deixou sem eira nem beira. É como se de repente tivesse voltado à minha forma mais básica e não conseguisse nem começar a explicar o que está acontecendo. — O que você disse? — murmuro, resistindo ao desejo de cair na cadeira em frente à minha mesa, aquela em que ele está sentado como se fosse dele. Toda essa situação parece que sempre foi dele, para começar e dominar. — Você me ouviu. — A expressão de Jonathan permanece calma, até entediada, como se não tivesse sugerido que ele me… possuiria. — O que você quer dizer exatamente com me aceitar como pagamento? — Minha voz recupera um pouco de seu tom normal. — É tão simples quanto parece. Em troca de transferir a propriedade total das ações, quero que você pague por elas se tornando minha. Minhas bochechas esquentam com a humilhação do pensamento, mas minha voz sai forte e clara. — Eu não sou uma prostituta. — Você será minha, não minha prostituta. Existe uma diferença. Eu não estou interessado em uma vagabunda. Se eu quisesse uma, poderia tê-la tirado das ruas ou arranjado alguma em uma festa. Elas não valem as centenas de milhares que paguei pelas ações da H&H. — Isso é uma tentativa de fazer com que eu me sinta lisonjeada ou algo do tipo? — Não é meu propósito, mas se você ficar, tudo bem. Que babaca. Meu sangue ferve de necessidade de acertá-lo no rosto e gritar a plenos pulmões. Mas mesmo eu reconheço que com Jonathan, ele vai fazer parecer que fui eu quem cometeu o assassinato, e não o contrário. Tento negociar comigo mesma para permanecer com a cabeça fria, percebendo muito bem que a agitação só me levará a cometer erros. Sim, sua sugestão e a maneira indiferente com que disse — como se fosse um fato — faz parecer que tenho tentáculos enrolados em meu peito, mas preciso encontrar uma maneira de lidar com isso. — Você está louco se pensa que eu concordaria com isso. — Cuidado com a boca, Aurora. Não gosto de ser chamado de louco. — E não gosto de ser tratada como uma prostituta na minha empresa. — Minha empresa. Agora é minha propriedade. Você vai se acostumar com o tempo. Eu cruzo os braços sobre meu peito. — Vou comprar de volta as ações pelo dobro do preço que você pagou. — Não estou interessado. — Por que diabos não? Você é um empresário. Você deve considerar o lucro inicialmente. Ele se levanta, e eu preciso de toda a minha autoconfiança para não dar um passo para trás e me grudar na parede — ou melhor ainda, me virar e dar o fora de sua presença letal. Não tenho respirado direito desde que ele invadiu meu escritório. Mas o fato é que é o meu escritório. Não vou permitir que Jonathan ou qualquer outra pessoa me faça abandoná-lo. — Você já ouviu falar sobre sofrer pequenas perdas por um bem maior? Esta é uma daquelas situações, selvagem. Você pode me oferecer dez vezes o que eu paguei, e mesmo assim não venderei. — Ele para na minha frente, a mão no bolso, seu nariz arrogante quase batendo no telhado. — Olha como vai ser. Você se oferece a mim de boa vontade. E por boa vontade, quero dizer que você está completamente envolvida nisso; não haverá renúncia, mudança de opinião ou se fazer de vítima. — E se eu não concordar? — pergunto, embora minha língua esteja grudada no céu da boca seca. — Você renunciará à propriedade da H&H, e terei a liberdade de vendê- la ou fundi-la com outra empresa. Eu ainda não decidi. — Você… Você não pode fazer isso. O valor artístico da H&H desaparecerá. — Eu estou pouco me fodendo. — E os funcionários? Você vai pelo menos mantê-los? Muitos deles têm dívidas e empréstimos a pagar. Eles estão conosco desde o início, e alguns são muito velhos para trabalhar para empresas maiores. — Não vejo por que isso seria problema meu. — Seu rosto permanece impassível, imutável. Lágrimas se acumulam em meus olhos com a injustiça do mundo. Um mundo governado por gente como Jonathan King. Grandes corporações como a King Enterprises não dão a mínima para as empresas menores. Eles não param para olhar sob seus sapatos depois de esmagar várias famílias com suas besteiras capitalistas. Respirando fundo, tento ignorar quão perto ele está e o fato de que seu cheiro está me envolvendo, quer eu goste ou não. É mais um dos fatores de intimidação que ele usa implacavelmente e sem culpa. É inútil lutar contra Jonathan em uma escala maior ou em qualquer argumento do tipo empresa versus empresa. Ele veio aqui sabendo que tem a vantagem, então nunca vai desmoronar. Eu vou por um caminho totalmente diferente. — Você é o marido da minha irmã. Não podemos fazer isso. — Eu decido a respeito e digo que faremos. — Como você pode fazer isso com Alicia depois… — Eu paro antes de deixar escapar todos os pensamentos que quero gritar na sua cara. Este é o pior momento para confrontá-lo sobre o passado. Ele erradica a distância entre nós em um passo e mantém meu queixo preso como fez no casamento. Tento dar um passo para trás, mas Jonathan envolve a outra mão em volta do meu pescoço, me prendendo. Minha pulsação
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