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Portfólio 01- Literatura Brasileira, Vilanir Faustino

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
INSTITUTO UNIVERSIDADE VIRTUAL – UFC VIRTUAL
PROGRAMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB
 LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS
ALUNO (A): VILANIR PEREIRA FAUSTINO
DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA III
PROFESSOR(a): FERNANDA MARIA DINIZ DA SILVA
POLO: ARATURI/CAUCAIA
PORTFÓLIO 01:
Jose de Abreu Albano (1882-1923), poeta brasileiro, nascido em Fortaleza no Ceará, neto dos Barões de Aratanha, estudou no seminário daquela diocese, depois em colégios da Inglaterra, da Áustria e da França. Moreu, solitário em 11 de julho de 1923 aos 41 anos em Montauban, na França. Viveu grande parte da sua vida na Europa.
Sobre seu estilo poético, pode se considerar que Jose Albano tem uma poesia complexa, com sua lingua de tons envelhecidos, seus sonetos se constituia em um verdadeiro depoimento de religiosidade e de culto ao Amor ideal. O que era distante dos padrões das poéticas de sua época, não é raro encontrar na poedia de Albano, doálogos com Camões, Gregório de Matos e outros mestres da época.
Percebe-se que em “Soneto” de Jose de Carvalho, ele nos mostra rimas simples, puras, em oposição aos “ouros-gramaticais” Parnasianos e Simbolistas. A sintaxe de sua poesia é translúcida, ou seja nela percebe-se nitidamente todo seus sentimentos opostos nela, sem margens possíveis para opalas dos signos.
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968), mais conhecido como Manuel Bandeira, foi um dos mais importantes escritores da primeira fase do Modernismo e um dos pontos mais altos da poesia lírica nacional. Foi considerado um clássico da literatura brasileira do século XX. Nasceu em Recife no dia 19 de abril de 1886, filho de engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e Francelina Ribeiro, família de proprietários rurais, advogados e politicos.
Suas obras era recheada de lirísmo poético, Bandeira foi adepto do verso livre, da lingua coloquial, da irreverência e da liberdade criadora. Seus principais temas explorados são o cotidiano e a melancolia. 
No poema “Desencanto” notamos que ele é contaminado pela a melancomia e o sofrimento, ele faz parte da coletânea e tambem do primeiro de A cinza das horas, de 1917, no qual foi o livre de estreia de Manuel Bandeira.
Notamos que em “Desencanto” existem diversas estruturas da apresentada coletânea da editora Ediouro, o ato poético insinua-se, aqui, com uma função catártica-de purgação de extravazemanto da subjetividade, permitindo assim,a associação na obra de Bandeira, a uma visão romântica, tradicional, popular, da poesia. Percebe-se também duas linhas temáticas importantes na poetica de Bandeira, a associação entre poesia e vida e a poesia a serviço da expressão de enlevações eróticos e amorosos.
Praticamente desconhecido Pedro Kilkerry foi um poeta cuja poesia foi recuperada no livro Re-visão de Kilkerr, por Augusto de Campos, ele foi considerado o precursor do Modernismo, embora não tenha publicado nenhum livro em vida.
Pedro Kilkerry foi considerado o líder do movimento simbolista baiano.foi redescoberto pelos os críticos da vanguarda. Filho de um irlandês com uma mestiça baiana, se formou-se em Direito pela Faculdade da Bahia. Seus poemas foram impressos em jornais e revistas da época, especialmente nas publicações simbolistas “Os Anais e Nova Cruzada”. Criador de uma poética fragmentada, Kilkerry não deixou obra editada, Sua poesia foi editada em livro pela primeira vez no ano de 1970. 
No poema “É o silêncio” descreve o processo de criação, nos mostra a experiência poética revelada ao mundo sem perder seu caráter enigmático. À arquitetura sonora do poema, erigida em paronomásias e cadeias aliterativas (m e p), somando assim, um rico trabalho de construção de imagens e de inversões da lógica sintática: no lugar de um sujeito percepiente que olha as coisas, são as coisas que passam de predicado a sujeito da ação, percebendo, olhando o sujeito. Rompendo com a lógica formal dalinguagem cotidiana e operando uma espécie de metamorfose da realidade apreendida sensorialmente, Kilkerry inscreve no corpo do poema a experiência de um sujeito lírico em devir que, inserido em uma “câmara muda”, imerso no instante da criação poética, espreita as percepções e afecções por ele experimentadas nesse acontecimento. 
Raul de Leoni Raul de Leoni (1895-1926) nasceu em Petrópolis- RJ, Poeta singular, culto, formado nas mais clássicas tradições do nosso ensino e da nossa literatura, Leoni teve apenas um livro – Luz Mediterrânea – publicado em 1922, no ano da escandalosa Semana de Arte Moderna. Mas Raul de Leoni nunca foi modernista, foi um clássico em pleno séc. XX, optou pela tradição em plena era das vanguardas artísticas. É considerado um poeta neoparnasiano por uns e, simbolista por outros. Seus ultimos poemas se destacam pelas abstrações filosóficas apresentando modulações simbólicas.
Seus sonetos, tinha métricas perfeitas, repletos de metáforas e de concepções filosóficas extraordinárias, como no poema ‘E o poeta falou” notamos que contém palavras doces, que conteinham, ao mesmo tempo, simplicidade e esclarecimentos.
Augustos dos Anjos (1884-1914), foi considerado um dos mais sombrio poetas brasileiros, mas também foi considerado o mais original. Augustos dos Anjos tinha uma poética composta por apenas um livro de poemas, e não se encaixava em nenhuma escola literária, embora tenha sido influenciado por características do Naturalismo e do Simbolismo, a produção única de Augusto dos Anjos não pode ser enquadrada em nenhum desses movimentos. É por isso que classificamos o poeta juntamente aos seus contemporâneos do Pré-Modernismo. Augusto dos Anjos nasceu no engenho "Pau d'Arco", na Paraíba, no dia 22 de abril de 1884. Era filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos e se formou em direito pela na Faculdade de Direito do Recife entre 1903 e 1907.
Em “Monólogo de uma sombra”, de Augusto Anjos, percebe-se que o poema foi consagrado tanto pelo meio artístico, e acadêmica, apenas de forma póstuma, o poema representa um marco na poesia brasileira do século XX. No poema percebemos a manifestação de mais de um eulírico no decorrer da obra, realizando uma justaposição de vozes com suas próprias visões de mundo. Portanto, notamos uma espécie de niilismo latente em toda a obra do poeta, e que muitos pesquisadores já atribuíram a uma influência direta do filósofo Arthur Schopenhauer, que teria marcado muito a forma do poeta pensar e retratar a humanidade.
Percebe-se que o autor, trás uma disjunção na forma do homem ver o tempo no período entre guerras, este que vem acompanhado de uma nova forma de ver o mundo e a vida, em 206 Revista de Estudos Acadêmicos de Letras Vol. 10 Nº 01 – julho de 2017 ISSN: 2358-8403 que “O tempo tem um fim e esse fim será imprevisto; vivemos num mundo instável: a mudança não é mais sinônimo de progresso, mas de repentina extinção” (PAZ, 2014, p. 321 – 322). O autor se refere, nessa frase, não apenas a queda da bomba atômica, mas também a uma série de mudanças que começaram a ocorrer no final do século XIX e que levariam ao predomínio da técnica na sociedade humana, a desvalorização de tudo que não encontrasse uma utilizada prática ou monetária.
Referências:
https://www.soliteratura.com.br/simbolismo/simbolismo6.php
Acesso em 09 de Maio de 2023.
file:///C:/Users/kaasu/Downloads/biblioteca,+15.+KLEBER+(210+-+222).pdf
Acesso em 09 de Maio de 2023.
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/augusto-dos-anjos-1.htm
Acesso em 09 de Maio de 2023.
http://artculturalbrasil.blogspot.com/2009/01/petrpolis-rj-1895-1926-se-um-dia-eu.html
Acesso em 09 de Maio de 2023.
http://www.mallarmargens.com/2014/09/a-poesia-de-jose-albano.html
Acesso em 09 de Maio de 2023.
https://manoelneves.com/2008/02/07/meus-poemas-preferidos-desencanto-de-manuel-bandeira/
Acesso em: 09 de Maio de 2023.
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/ceara/jose_albano.html
Acesso em 09 de Maio de 2023.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Albano
Acesso em 09 de Maio de 2023.ANEXOS:
POEMAS:
Soneto
Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.
Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saudades me atormento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
                                    José Albano
 Desencanto 
Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira;
É o Silêncio
É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa. 
Olha-me a estante em cada livro que olha. 
E a luz nalgum volume sobre a mesa...
Mas o sangue da luz em cada folha.
Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das cousas... Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima...
E a câmara muda. E a sala muda, muda...
Àfonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante como quem sacuda
Um pesadelo de papéis acima...
.......................................................................
E abro a janela. Ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas... O dia
Tarde florescerá pela montanha.
E ó minha amada, o sentimento é cego...
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e as asas de um morcego.
Pedro Kilkerry;
E poeta Falou
Afinal, tudo que há de mais nobre e mais puro
Neste mundo de sombras e aparências
Fui eu quem revelou ou concebeu...
Fui a primeira luz neste planeta obscuro!
Fui a suprema voz de todas as consciências!
Fui o mais alto intérprete de Deus!
Dei alma à natureza indiferente,
Inteligência às cousas, sentimentos
Às forças cegas e automáticas do Cosmos!...
Acompanhei e dirigi os Povos
Na sua eterna migração para o Poente:
Levantei os primeiros monumentos
E os primeiros impérios milenários;
Teci as grandes lendas tutelares,
Despertei na memória das criaturas
A sua antiga tradição divina,
Criando as regiões, as fábulas, os mitos
Para iludir a dor universal;
Abri os horizontes infinitos;
Bebi o néctar das primeiras taças;
Plasmei os altos símbolos humanos.
Sutilizei o instinto e imaginei o amor;
Fui a força ideal das civilizações!
O gênio transfigurador da História!
O espírito anônimo dos séculos!
E, harmonioso, profético, profundo,
Passei humanizando as cousas pelo mundo,
Para divinizar os homens sobre a terra!
(LEONI, 1961. pp. 51 e 52)
Monólogo de uma sombra
"Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!
A simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas
E a morbidez dos seres ilusórios!
Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
— Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus
E a miséria anatômica da ruga!
Na existência social, possuo uma arma
— O metafisicismo de Abidarma —
E trago, sem bramânicas tesouras,
Como um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva
De todas as espécies sofredoras.
Como um pouco de saliva quotidiana
Mostro meu nojo à Natureza Humana.
A podridão me serve de Evangelho...
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques
É com certeza meu irmão mais velho!
Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha,
À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça
Como uma vocação para a Desgraça
E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno,
Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens,
Que se chama o Filósofo Moderno!
Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem.
E apenas encontrou na idéia gasta,
O horror dessa mecânica nefasta,
A que todas as cousas se reduzem!
E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes
A mostrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada,
espólio dos seus dedos peçonhentos.
Tal a finalidade dos estames!
Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis
Da energia intra-atômica liberta!
Será calor, causa úbiqua de gozo,
Raio X, magnetismo misterioso,
Quimiotaxia, ondulação aérea,
Fonte de repulsões e de prazeres,
Sonoridade potencial dos seres,
Estrangulada dentro da matéria!
E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
— Engrenagem de vísceras vulgares —
Os dedos carregados de peçonha,
Tudo coube na lógica medonha
Dos apodrecimentos musculares!
A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.
É uma trágica festa emocionante!
A bacteriologia inventariante
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s.
E foi então para isto que esse doudo
Estragou o vibrátil plasma todo,
À guisa de um faquir, pelos cenóbios?!...
Num suicídio graduado, consumir-se,
E após tantas vigílias, reduzir-se
À herança miserável de micróbios!
Estoutro agora é o sátiro peralta
Que o sensualismo sodomista exalta,
Nutrindo sua infâmia a leite e a trigo...
Como que, em suas células vilíssimas,
Há estratificações requintadíssimas
De uma animalidade sem castigo.
Brancas bacantes bêbedas o beijam.
Suas artérias hírcicas latejam,
Sentindo o odor das carnações abstêmias,
E à noite, vai gozar, ébrio de vício,
No sombrio bazar do meretrício,
O cuspo afrodisíaco das fêmeas.
No horror de sua anômala nevrose,
Toda a sensualidade da simbiose,
Uivando, à noite, em lúbricos arroubos,
Como no babilônico sansara,
Lembra a fome incoercível que escancara
A mucosa carnívora dos lobos.
Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda.
Negra paixão congênita, bastarda,
Do seu zooplasma ofídico resulta...
E explode, igual à luz que o ar acomete,
Com a veemência mavórtica do ariete
E os arremessos de uma catapulta.
Mas muitas vezes, quando a noite avança,
Hirto, observa através a tênue trança
Dos filamentos fluídicos de um halo
A destra descarnada de um duende,
Que, tateando nas tênebras, se estende
Dentro da noite má, para agarrá-lo!
Cresce-lhe a intracefálica tortura,
E de su'alma na caverna escura,
Fazendo ultra-epilépticos esforços,
Acorda, com os candieiros apagados,
Numa coreografia de danados,
A família alarmada dos remorsos.
É o despertar de um povo subterrâneo!
É a fauna cavernícola do crânio
— Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.
As alucinações tácteis pululam.
Sente que megatérios o estrangulam...
A asa negra das moscas o horroriza;
E autopsiando a amaríssirna existência
Encontra um cancro assíduo na consciência
E três manchas de sangue na camisa!
Míngua-se o combustível da lanterna
E aconsciência do sátiro se inferna,
Reconhecendo, bêbedo de sono,
Na própria ânsia dionísica do gozo,
Essa necessidade de horroroso,
Que é talvez propriedade do carbono!
Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...
Assim também, observa a ciência crua,
Dentro da elipse ignívoma da lua
A realidade de uma esfera opaca.
Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo o fogo telúrico profundo
E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
Á condição de uma planície alegre,
A aspereza orográfica do mundo!
Provo desta maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria.
Continua o martírio das criaturas:
— O homicídio nas vielas mais escuras,
— O ferido que a hostil gleba atra escarva,
— O último solilóquio dos suicidas —
E eu sinto a dor de todas essas vidas
Em minha vida anônima de larva!"
Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos,
Da luz da lua aos pálidos venábulos,
Na ânsia de um nervosíssimo entusiasmo,
julgava ouvir monótonas corujas,
Executando, entre caveiras sujas,
A orquestra arrepiadora do sarcasmo!
Era a elegia panteísta do Universo,
Na podridão do sangue humano imerso,
Prostituído talvez, em suas bases...
Era a canção da Natureza exausta,
Chorando e rindo na ironia infausta
Da incoerência infernal daquelas frases.
E o turbilhão de tais fonemas acres
Trovejando grandíloquos massacres,
Há-de ferir-me as auditivas portas,
Até que minha efêmera cabeça
Reverta à quietação da treva espessa
E à palidez das fotosferas mortas!
Augusto dos Anjos;

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