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Habeas Corpus Características do Habeas Corpus • Conceito: “A expressão habeas-corpus indica a essência do instituto. Literalmente significa ‘tome o corpo’ – Habeas Corpus é o subjuntivo de habeo, es, habui, habitum, habere (ter, manter, possuir, tomar posse, etc.) e corpus, corporis (corpo) – isto é, tome a pessoa presa e a apresente ao Juiz, para julgamento do caso”. (NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal, p. 542- 543); • Bem jurídico tutelado: Seu objetivo é a proteção ou tutela da liberdade física, no sentido de ir, ficar e vir. [...] É a liberdade de locomover-se, de mudar de lugar, de situação e de transportar-se para onde deseje, sem entraves, óbices ou impedimentos, a não ser, evidentemente, os impostos pela lei. [...] é a liberdade física que tem em vista; é o jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque que é tutelado e protegido por ele. (NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal, p. 543); • Natureza jurídica: Segundo Pontes de Miranda, “o pedido de habeas corpus é pedido de prestação jurisdicional em ação. Trata-se de ação predominantemente mandamental.” Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, ostentando ainda a natureza de garantia fundamental, cerne irrestringível da Carta Magna de 1988; • Fundamento legal: Art. 5º, inciso LXVIII, CF c/c art. 647 e ss. do Código de Processo Penal; Fundamento Legal • Art. 5º [...] LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; [...] • Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. Características do Habeas Corpus • Legitimidade ativa: qualquer pessoa do povo, o próprio paciente, o Ministério Público. Juiz e Delegado como cidadão. Tem-se, aqui, a figura do impetrante; • Legitimidade passiva: a pessoa apontada como coatora, pode ser autoridade ou não; • Ato coator: aquele que é revestido de ilegalidade, que restringe ou ameaça restringir a liberdade de locomoção do paciente; • Quem pode ser paciente? Por que essa denominação jurídica?; • Espécies: preventivo e repressivo. Profilático e trancativo. Partes envolvidas no procedimento do Habeas Corpus Autoridade coatora Ato coator A impetração do Habeas Corpus busca combater o ato coator Da Ratio Essendi do Habeas Corpus [...] O que particularmente o distingue e caracteriza é a prontidão e celeridade com que ele restitui a liberdade àquele que é vítima da prisão ou constrangimento ilegal. [...] Esta é a razão por que as leis não subordinam um recurso tal às formulas lentas e demoradas [...] É esta ainda a razão por que as leis dão, pelo habeas-corpus, ao poder judiciário uma competência tão fora das razões gerais e comuns do direito. Evitar ou fazer cessar de pronto e imediatamente a prisão ou o constrangimento ilegal, porque qualquer destes fatos, importando a violação de um direito fundamental da personalidade humana, causa danos e sofrimentos irreparáveis, tal é a natureza e o fim do habeas- corpus. (NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal, p. 546) Do pedido liminar em Habeas Corpus • Justificativa do pedido liminar: [...] Embora não encontre assento legal, o pedido de liminar em habeas corpus é hoje largamente aceito pela doutrina e pela jurisprudência, desde que presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. Admite-se, portanto, o pedido liminar quando estiver patente que a demora no julgamento do writ irá incrementar ainda mais a coação imposta ao paciente. Três são as situações em que se vislumbra nitidamente esse incremento: quando o réu já estiver preso, quando tiver sido expedido mandado de prisão e quando, no processo, estiver marcado ato ao qual deva comparecer o réu. Nesses três casos, portanto, incontestável a possibilidade do pedido liminar. [...] WANDER, Garcia; DOMPIERI, Eduardo. Como passar na OAB 2ª Fase – Prática Penal. 6ª ed. São Paulo: Foco, p. 193); • Requisitos do pedido liminar: fumus boni iuris (plausibilidade jurídica do direito alegado) e periculum in mora (perigo da demora do não deferimento do pedido de imediato); Quando cabe Habeas Corpus? • Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade. Não cabe impetração de Habeas Corpus • Persecução criminal referente a delito punido apenas com pena de multa; • Persecução criminal cujo polo passivo é ocupado apenas pela pessoa jurídica; • Pena integralmente cumprida; • Discussão referente à perda de cargo público; • Apreensão de veículos (Habeas Carro!?); • Pedido de Reabilitação; • Reparação civil fixada em sentença condenatória; • Custas processuais; • Suspensão do direito de dirigir veículo automotor; • Perda de direitos políticos; • Impeachment; • Habeas Corpus substitutivo de Recurso Ordinário: [...] Logo, deve ser reconhecida a inadequação do habeas corpus sempre que a sua utilização revelar a banalização da garantia constitucional ou a substituição do recurso cabível, como inegável supressão de instância. (BRASILEIRO, Renato. Manual de Processo Penal, p. 1.741). Competência para julgamento do Habeas Corpus • O Habeas Corpus deve ser impetrado perante a autoridade imediatamente superior à coatora; • Importante observar quem é a autoridade coatora, qual o específico ato coator que se procura combater e quem é o paciente (exemplo: se possui foro de prerrogativa por função ou não); • Ler os arts. 102, inciso I, alíneas “a” a “d”, e 105, inciso I, alíneas “a” e “c”, da Constituição Federal; • A seguir, confira-se o quadro de competência elaborado pelos doutrinadores Garcia Wander e Eduardo Dompieri in Como passar na OAB 2ª Fase – Prática Penal. 6ª ed. São Paulo: Foco, p. 189. Competência para julgamento do Habeas Corpus Autoridade Coatora Competência para julgar o Habeas Corpus Delegado de Polícia Estadual Juiz de Direito da Vara Criminal Delegado de Polícia Federal Juiz Federal Delegado de Polícia dos crimes de menor potencial ofensivo Juiz de Direito do Juizado Especial Criminal Particular Juiz de Direito da Vara Criminal Promotor de Justiça Tribunal de Justiça Juiz de Direito Tribunal de Justiça Juiz Federal Tribunal Regional Federal Juiz do Juizado Especial Criminal Turma Recursal Turma Recursal Estadual Tribunal de Justiça Turma Recursal Federal Tribunal Regional Federal Tribunal de Justiça e Tribunal Regional Federal Superior Tribunal de Justiça Superior Tribunal de Justiça Supremo Tribunal Federal Procedimento do Habeas Corpus Impetração do Writ Decisão. Análise dos pressupostos processuais e condições da ação. Possibilidade de concessão de liminar Prestação de informações pela Autoridade Coatora Apresentação de parecer pelo Ministério Público, funcionando como custus iuris. (Não ocorre no primeiro grau) Julgamento do Habeas Corpus Recursos Cabíveis. Atentar para Órgão Julgador. Principais teses suscitadas em Habeas Corpus • Vício de fundamentação; • Excesso de prazo; • Ausência de contemporaneidade dos fundamentos da prisão cautelar; • Desnecessidade da prisão e violação ao princípio da proporcionalidade; • Violação ao princípio da homogeneidade das medidas cautelares; • Trancamento de inquérito policial ou ação penal; • Ilegalidades praticadas ao longo da execução criminal (demora na análise de pedido de progressão de regime); Súmulas do STF sobre Habeas Corpus • Súmula 344-STF: Sentença de primeira instância concessiva dehabeas corpus, em caso de crime praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da união, está sujeita a recurso "ex officio". • Súmula 395-STF: Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a liberdade de locomoção. • Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. Lembrar ainda: Cabe habeas corpus contra decisão monocrática de Ministro do STF? NÃO. Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de Ministro ou outro órgão fracionário da Corte. STF. Plenário. HC 170263/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/06/2020. Súmulas do STF sobre Habeas Corpus • Súmula 691-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar. Segundo Márcio André, esta súmula se encontra válida, mas com ressalva. Pode ser afastada em casos excepcionais, quando houver teratologia, flagrante ilegalidade ou abuso de poder que possam ser constatados ictu oculi. • Súmula 692-STF: Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito. • Súmula 693-STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. • Súmula 694-STF: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública. • Súmula 695-STF: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade. Jurisprudência em Teses do STJ. Edição nº 36. Habeas Corpus 1) O STJ não admite que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso próprio (apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco à revisão criminal, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade da paciente, seja cogente a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus. 2) O conhecimento do habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do direito alegado, devendo a parte demonstrar de maneira inequívoca a pretensão deduzida e a existência do evidente constrangimento ilegal. 3) O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida excepcional, admissível apenas quando demonstrada a falta de justa causa (materialidade do crime e indícios de autoria), a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. 4) O reexame da dosimetria da pena em sede de habeas corpus somente é possível quando evidenciada flagrante ilegalidade e não demandar análise do conjunto probatório. 5) O habeas corpus é ação de rito célere e de cognição sumária, não se prestando a analisar alegações relativas à absolvição que demandam o revolvimento de provas. 6) É incabível a impetração de habeas corpus para afastar penas acessórias de perda de cargo público ou graduação de militar imposta em sentença penal condenatória, por não existir lesão ou ameaça ao direito de locomoção. 7) O habeas corpus não é a via adequada para o exame aprofundado de provas a fim de averiguar a condição econômica do devedor, a necessidade do credor e o eventual excesso do valor dos alimentos, admitindo-se nos casos de flagrante ilegalidade da prisão civil. 8) Não obstante o disposto no art. 142, § 2º, da CF, admite-se habeas corpus contra punições disciplinares militares para análise da regularidade formal do procedimento administrativo ou de manifesta teratologia. 9) A ausência de assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo na inicial de habeas corpus inviabiliza o seu conhecimento, conforme o art. 654. § 1º, “c”, do CPP. Jurisprudência em Teses do STJ. Edição nº 36. Habeas Corpus 10) É cabível habeas corpus preventivo quando há fundado receio de ocorrência de ofensa iminente à liberdade de locomoção. 11) Não cabe habeas corpus contra decisão que denega liminar, salvo em hipóteses excepcionais, quando demonstrada flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão impugnada, sob pena de indevida supressão de instância, nos termos da Súmula n. 691/STF. 12) O julgamento do mérito do habeas corpus resulta na perda do objeto daquele impetrado na instância superior, na qual é impugnada decisão indeferitória da liminar. 13) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma Recursal dos Juizados Especiais. 14) A jurisprudência do STJ admite a reiteração do pedido formulado em habeas corpus com base em fatos ou fundamentos novos. 15) O agravo interno não é cabível contra decisão que defere ou indefere pedido de liminar em habeas corpus. 16) O habeas corpus não é via idônea para discussão da pena de multa ou prestação pecuniária, ante a ausência de ameaça ou violação à liberdade de locomoção. 17) O habeas corpus não pode ser impetrado em favor de pessoa jurídica, pois o writ tem por objetivo salvaguardar a liberdade de locomoção. 18) A jurisprudência tem excepcionado o entendimento de que o habeas corpus não seria adequado para discutir questões relativas à guarda e adoção de crianças e adolescentes. O Habeas Corpus na praxis jurídica contemporânea • A utilização do Habeas Corpus para combater decisões teratológicas; • A importância da sustentação oral no Habeas Corpus; • A questão da concessão da Ordem de Ofício em casos de não conhecimento do Habeas Corpus; • A advocacia especializada em Habeas Corpus; • O uso indiscriminado e generalizado do Habeas Corpus: necessidade ou desvirtuamento? Questão discursiva (IV Exame de Ordem Unificado): Caio, Mévio, Tício e José, após se conhecerem em um evento esportivo de sua cidade, resolveram praticar um estelionato em detrimento de um senhor idoso. Logrando êxito em sua empreitada criminosa, os quatro dividiram os lucros e continuaram a vida normal. Ao longo da investigação policial, apurou-se a autoria do delito por meio dos depoimentos de diversas testemunhas que presenciaram a fraude. Em decorrência de tal informação, o promotor de justiça denunciou Caio, Mévio, Tício e José, alegando se tratar de uma quadrilha de estelionatários, tendo requerido a decretação da prisão temporária dos denunciados. Recebida a denúncia, a prisão temporária foi deferida pelo juízo competente. Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso: a) Qual(is) o(s) meio(s) de se impugnar tal decisão e a quem deverá(ão) ser endereçado(s)? b) Quais fundamentos deverão ser alegados? a) A princípio, seria possível apresentar um requerimento de relaxamento de prisão (art. 5º, inciso LXV, da CF/88), tendo em vista que a prisão temporária dos denunciados violou o art. 1º, inciso III, da Lei nº 7.960/89. Ora, como não ficou demonstrada a estabilidade e permanência para fins de configurar o delito de formação de quadrilha, subsiste, de fato, apenas o suposto crime de estelionato, o qual não está descrito no rol das infrações penais passíveis de admitir a imposição da medida restritiva supracitada. É dizer: não cabe decretação de prisão temporária nos casos de crime de estelionato. Caso o Magistrado indefira o pedido de relaxamento de prisão, é possível impetrar Habeas Corpus perante o Tribunal de Justiça, com fulcro no art. 648, inciso I, CPP. b) Os fundamentos que podem ser alegados para combater a prisão temporária são os seguintes: inexistência de configuração de crime de formação de quadrilha (associação criminosa), porquanto a simples reunião de agentes para a prática de um delito, por si só, pode configurar concurso de pessoas, mas não um delito de per si; a inexistência do crime de estelionato no rol dos crimes que admite a imposição de prisãotemporária (art. 1º, inciso III, da Lei nº 7.960/89 e a impossibilidade de decretar a prisão temporária durante a etapa processual, haja vista que somente cabe a imposição de tal medida na fase investigatória (art. 1º, inciso I, da Lei nº 7.960/89). Estrutura do Habeas Corpus • Endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL .... EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE... • Qualificação das Partes: Identificar parte legítima ativa, passiva (autoridade coatora) e o paciente; utilizar o tempo jurídico correto, qual seja, impetrar Habeas Corpus; apontar o nomen iuris da peça, com o fundamento legal correto; • Narrativa dos fatos: resumo dos fatos visando demonstrar a ilegalidade da restrição à liberdade de locomoção; • Direito: trancamento de inquérito policial, trancamento de ação penal, extinção de punibilidade, excesso de prazo, vício de fundamentação, relaxamento de prisão, revogação de prisão, revogação de cautelar diversa da prisão, etc; • Possibilidade de elaboração de pedido liminar: demonstração do fumus boni Iuri e do periculum in mora; • Pedidos: Ante o exposto, requer o conhecimento e a concessão da Ordem pleiteada no sentido de... • Parte Final: local, data, ADV/OAB Caso Prático: Deoclécio Mariano da Silva Santos está sendo acusado da suposta prática de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos III e IV, do Código Penal). Isso porque teria sido o único responsável pela morte de Theobaldo Souza. Quando do recebimento da denúncia, o Magistrado da 7ª Vara Criminal da Capital asseverou que o suposto crime teria causado enorme repercussão social na comunidade, o que justificava a segregação cautelar do agente, para fins de salvaguardar a ordem pública, fato que veio a ser efetivado em 12 de janeiro de 2020. Para além, embora a denúncia já tenha sido oferecida e o réu apresentado resposta à acusação, é possível notar que se passou cerca de 01 (um) ano e 04 (quatro) meses e sequer existe audiência de instrução designada, não se sabendo também quando ocorrerá, sobretudo diante da atual pandemia do COVID-19. Diante desse cenário fático, a defesa pleiteou a revogação da prisão cautelar, aduzindo que não se mostrava mais necessária. O causídico, inclusive, juntou documentos médicos atestando que Deoclécio testou positivo no presídio onde se encontra acautelado e corre risco de ter sua situação agravada, caso continue no ambiente carcerário com possibilidade de aglomeração e falta dos cuidados médicos adequados. Contudo, o Juiz de instância singela indeferiu o pedido. Considerando as informações narradas, adote medida cabível para lograr a soltura do acusado, inclusive faça uso dos mecanismos mais céleres possíveis para alcançar a liberdade do segregado. Montando o esqueleto ❖ Endereçamento: Presidente do Tribunal de Justiça ❖ Peça: Habeas Corpus ❖Fundamento legal: art. 5º, LXVIII, da CF/88, c/ arts.. 647 e 648, inciso I, do Código de Processo Penal ❖Narrativa dos fatos ❖ Direito: excesso de prazo na duração do processo; vício de fundamentação e desaparecimento do fato ensejador da prisão preventiva; possibilidade de fixação de medidas cautelares diversas da prisão ❖ Elaboração de pedido liminar (fumus boni iuris e periculum libertatis) ❖ Pedidos: deferimento do pedido liminar e concessão da Ordem, em definitivo, com a respectiva expedição de alvará de soltura ❖ ADV/OAB EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE _______ Nome, qualificação, advogado inscrito com o OAB nº...., com escritório localizado na...., vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, impetrar HABEAS CORPUS, COM PEDIDO LIMINAR, com fulcro no art. 5º, LXVIII, da CF/88, c/ arts.. 647 e 648, inciso I, do Código de Processo Penal, em favor de Deoclécio Mariano da Silva Santos, nacionalidade, estado civil, endereço, atualmente recolhido no.... , em face de ato coator praticado pelo Excelentíssimo Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal da Comarca da Capital, pelas razões de fato e direito a seguir expostas. 1. Dos Fatos O paciente está sendo acusado, no primeiro grau, da suposta prática de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos III e IV, do Código Penal), porquanto teria sido o único responsável pela morte de Theobaldo Souza. Segundo a autoridade coatora, tal delito teria causado enorme repercussão social na comunidade local, o que justificou a segregação cautelar do agente, no dia 12 de janeiro de 2020, para fins de salvaguardar a ordem pública. Como a denúncia já foi oferecida e o réu apresentou resposta à acusação em seguida, tendo, assim, se passado cerca de 01 (um) ano e 04 (quatro) meses da segregação cautelar, sem sequer ter ocorrido audiência de instrução designada, não se sabendo quando tal ato ocorrerá, sobretudo diante da pandemia do COVID-19, a defesa aduziu que o fato ensejador da prisão havia perdido força e também juntou documentos atestando que o segregado testou positivo para o mencionado vírus, pugnando pela liberação do denunciado, pretensão que foi rechaçada pelo julgador. Diante desse indeferimento, o impetrante não teve outra saída se não socorrer-se a esta Corte de Justiça para fazer cessar o constrangimento ilegal sofrido pelo ora paciente. Eis a suma dos fatos. 2. Do Excesso de Prazo A princípio, percebe-se que o paciente amarga o cárcere, a título cautelar e precário, por um longínquo lapso temporal. Além disso, não sabe, ao certo, quando será formado um juízo definitivo de culpa sobre sua pessoa. Pois bem. Ao apreciar o caso sob a ótica do princípio da razoabilidade, não se mostra prudente manter o paciente preso preventivamente. Ora, para além de não existir certeza quanto à prática do crime por parte do paciente, pois tal juízo até então formado é baseado em cognição sumária, nota-se que o caso em tela é simples, conta com um único réu, não podendo o réu sofrer as consequências de infortúnios epidemiológicos pelos quais não é responsável. Ora, Excelências, amargar o carecer, a título precário e por um longo tempo, é medida que deve ser combatida, sob pena de direitos e garantias fundamentais do paciente, tais como a presunção de inocência e a liberdade de locomoção, restarem fulminadas. Não é outro o entendimento do STJ. Veja-se: HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. NÃO CONHECIMENTO. ANÁLISE DO MÉRITO. PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. CORRUPÇÃO DE MENORES. EXCESSO DE PRAZO NA INSTRUÇÃO PROCESSUAL CARACTERIZADO. PRISÃO PREVENTIVA SUPERA 1 ANO E 4 MESES. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. PARECER FAVORÁVEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. [...] 2. O prazo para a conclusão da instrução criminal não tem as características de fatalidade e de improrrogabilidade, fazendo-se imprescindível raciocinar com o juízo de razoabilidade para definir o excesso de prazo, não se ponderando a mera soma aritmética dos prazos para os atos processuais (Precedentes do STF e do STJ) (RHC n. 62.783/ES, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 1º/9/2015, DJe 8/9/2015). 3. Excesso de prazo caracterizado. O tempo de prisão preventiva do paciente (1 ano e 5 meses), sem que a instrução criminal tenha se encerrado, tornou-se excessivo e desarrazoado. Trata-se de processo simples e a demora no trâmite processual não se deve a causas atribuíveis à defesa: (i) se dispendeu 1 ano e 2 meses para a realização audiência de instrução e julgamento; (ii) houve instauração de correição parcial, a requerimento do Parquet, para a oitiva de testemunhas, em virtude da dispensa realizada pelo Juízo processante; (iii) o paciente está sendo acusado, juntamente com outrem, da prática de tráfico de drogas, associação para o tráfico e corrupção de menores - foram apreendidas 34 porções de crack em sua residência (24,4 gramas), dinheiro em espécie, além de aramee saco semelhantes aos encontrados na casa da corré. Constrangimento ilegal configurado. [...] (HC 547.567/PA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 19/12/2019, grifo nosso) Por tudo isso, o impetrante entende que resta configurado o excesso de prazo. 2. Do desaparecimento do fato ensejador da prisão preventiva Importa colocar em relevo ainda, que o fato que ensejou a decretação da prisão cautelar do paciente – ainda que se entenda válido, já que a mera repercussão social de um suposto crime não justifica a imposição da cautelar extrema – não mais subsiste, pois, embora a autoridade coatora tenha decretado a segregação, porque o delito ganhou repercussão no seio da comunidade, tal circunstância não mais se mostra tão forte a ponto de sustentar a manutenção do aprisionamento. Isso porque já se passou cerca de 01 (um) ano e 04 (quatro) meses, de modo que, provavelmente, poucos devem lembrar do crime em apreço, não havendo mais tamanha repercussão do ilícito. Cabe anotar, também, que o cenário fático mudou substancialmente, haja vista o vírus mortal que acometeu todo o globo terrestre, tendo, inclusive, contaminado o ora paciente, o que requer cuidados médicos específicos e fora do ambiente carcerário. Como se sabe, a prisão preventiva demanda um fundamento atual para subsistir, de forma que, havendo o desaparecimento do fato que a ensejou, sua revogação é fato que se impõe. Nesse sentido se encontra a dicção dos arts. 315, § 1º e 316 do CPP. Leia-se: Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada. § 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. Não é outro o entendimento da Corte Superior. Confira-se: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO ATIVA. REVOGAÇÃO DA PRISÃO DECRETADA EM OUTRO PROCESSO. IMPOSSIBILIDADE. FIANÇA ARBITRADA EM SUBSTITUIÇÃO À PRISÃO. AUSÊNCIA DE CONTEMPORANEIDADE E DE NECESSIDADE. APLICAÇÃO CONCOMITANTE DE MEDIDAS DE BLOQUEIO SOBRE A DISPOSIÇÃO DOS BENS. PROVIDÊNCIA SUFICIENTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. [...] 3. Nos termos do § 1° do art. 315 do CPP (redação dada pela Lei n. 13.964/2019), "Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.". No caso, embora os fatos tenham sido desvendados no desdobramento da investigação Torrentes, no final do ano de 2017 (IP 14/2018), estão distantes na linha do tempo, não havendo a demonstração de um perigo atual e iminente para justificar a prisão preventiva, como reconheceu o Tribunal Regional, ou mesmo a medida cautelar de fiança, como exige a norma processual penal. Precedente. 4. Ainda, o próprio acórdão, ao justificar a desnecessidade da prisão preventiva, registrou não haver "nos autos elementos suficientes para indicar que o Paciente tenha o objetivo de fugir e frustrar a aplicação da lei penal", bem como "evidência de que o Paciente esteja atrapalhando as investigações, ocultando provas ou mesmo corrompendo testemunhas". Ademais, foram adotadas outras providências judiciais para garantir o êxito do processo, como bloqueio de valores e sequestro de bens. Precedente. 5. Recurso ordinário em habeas corpus parcialmente provido para revogar a fiança estabelecida pelo Tribunal Regional Federal. (RHC 106.641/PE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 28/02/2020) Tem-se, aqui, mais um motivo apto a justificar a soltura do paciente. 3. Da possibilidade de fixação de medidas cautelares diversas do cárcere (arts. 318 e 319 do Código de Processo Penal) Excelências, caso esta Corte entenda que a gravidade do caso, em tese, recomende a necessidade de salvaguardar a ordem pública, que se digne, então, aplicar medidas cautelares de natureza mais branda, porquanto, in casu, já seria o suficiente para alcançar o aludido objetivo. Diz-se assim, porque o paciente se encontra com seu estado de saúde altamente vulnerado. Além disso, houve o desaparecimento do fato que ensejou a aplicação da medida de maior rigor em detrimento do ora segregado. Por fim, importa gizar, à luz do princípio da proporcionalidade (art. 282, incisos I e II, e § 4º, todo do CPP), que o espírito da lei processual penal pátria caminha no sentido de aplicar medidas cautelares menos restritivas diante de circunstâncias fáticas que não apontem a necessidade do aprisionamento preventivo. Por tudo isso, a defesa roga, desde já, pela substituição da cautelar extrema pela prisão domiciliar (art. 318, inciso II, do CPP), cumulada ou não, com outras cautelares diversas do aprisionamento preventivo (art. 319 do CPP). 4. DO PEDIDO LIMINAR Apesar de não haver previsão legal, a doutrina e jurisprudência são pacíficas quanto ao cabimento do pedido liminar em sede de Habeas Corpus. Assim, considerando que a tese formulada neste Writ goza de plausibilidade jurídica, haja vista que os argumentos suscitados alcançam força constitucional e legal, estando ainda devidamente comprovados mediante prova pré-constituída, resta preenchido o fumus boni iuris. Quanto ao periculum in mora, revela-se inconteste o prejuízo que o paciente pode vir a sofrer, caso sua soltura não seja determinada de imediato, porquanto o agravamento do citado vírus em seu organismo acarretará sua morte num lapso temporal muito curto. Para além, não se pode olvidar que a cada dia que passa o paciente amarga o cárcere de maneira injusta, tal como se estivesse cumprindo pena. Por fim, importa gizar que a Recomendação nº 62/2020 do CNJ impõe que o quadro do paciente seja reanalisado, diante da pandemia do COVID-19, o que tem toda razão de ser quando observamos o quadro sanitário do sistema prisional brasileiro e o caso específico do paciente. Fortes nesses argumentos, o impetrante requer o deferimento do pedido liminar, no sentido de colocar o paciente em liberdade, expedindo-se o respectivo alvará de soltura. 5. DOS PEDIDOS Isto posto, o impetrante requer, inicialmente, o DEFERIMENTO DO PEDIDO LIMINAR, com a respectiva expedição de alvará de soltura. Requer, ainda, a notificação da autoridade coatora para prestar informações, bem como a intimação da Procuradoria-Geral de Justiça para ofertar parecer. Em definitivo, o impetrante pugna pelo CONHECIMENTO E CONCESSÃO DA ORDEM pleiteada, no sentido de colocar o paciente em liberdade, com a respectiva expedição de alvará de soltura, confirmando, assim, o pedido liminar por ventura deferido. Em caráter subsidiário, pleiteia a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares diversas da prisão, na forma do art. 318, inciso II, e art. 319, ambos do Código de Processo Penal. Pugna, por fim, pela intimação do impetrante para realizar sustentação oral, quando do julgamento deste Writ. Termos em que, pede deferimento. Local, data. ADV/OAB “Os sonhos são o Habeas Corpus do inconsciente”. (Douglas Liandi)
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