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Semiótica, a ciência dos signos

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DESCRIÇÃO
Consolidação da Semiótica como disciplina acadêmica, com seus principais conceitos e
categorias, a partir das contribuições teóricas do pensador americano Charles S. Peirce.
PROPÓSITO
A Semiótica é uma ciência ampla e diversificada, que oferece importantes ferramentas para o
estudo dos processos comunicativos. Seus métodos de análise ajudam a observar de forma mais
sistemática e crítica a produção de sentidos e a construção dos significados e do conhecimento
humano. Trata-se de um arcabouço teórico ainda atual e de extrema relevância para compreender
como nos relacionamos por meio das múltiplas formas de linguagem existentes na cultura e na
natureza.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer as origens da Semiótica moderna e sua consolidação como disciplina acadêmica, a
partir dos fundamentos iniciais propostos por Charles S. Peirce
MÓDULO 2
Identificar os principais conceitos, categorias e métodos da Semiótica americana, bem como suas
possíveis aplicações
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, estudaremos a Semiótica, compreendendo as origens da ciência e identificando
suas principais características, a partir das contribuições do cientista americano Charles Peirce.
Discutiremos o sistema de tricotomias proposto pelo autor, analisando suas categoriais e
compreendendo como diversos tipos de signo – palavras, sons e imagens, por exemplo – são
acionados e se relacionam na construção de significados.
A temática pode parecer ampla e complexa, mas quando nos aventurarmos nessas discussões,
refletiremos sobre nossa própria mente e a realidade que nos cerca, e nos tornaremos aptos a
pensar essas interações de maneira mais analítica e aprofundada.
MÓDULO 1
 Reconhecer as origens da Semiótica moderna e sua consolidação como disciplina
acadêmica, a partir dos fundamentos iniciais propostos por Charles S. Peirce
A JOVEM CIÊNCIA DAS LINGUAGENS
O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só interpreta essa
representação numa outra representação.
(Lucia Santaella)
 Charles Sanders Peirce (1839 – 1914).
O cientista estadunidense Charles Sanders Peirce (1839-1914) é considerado um dos maiores
pensadores americanos de todos os tempos. Filho de um importante matemático e professor da
Universidade de Harvard, ele cresceu entre artistas, acadêmicos e cientistas, formando-se um
intelectual multifacetado. Graduado em química e formado pela mesma instituição na qual o pai
lecionava, também era matemático, físico e astrônomo. Além de tudo, Peirce era um entusiasta da
filosofia e se entendia principalmente como um lógico, sendo reconhecido como inventor do
pragmatismo, um método baseado em análises empíricas e na percepção da realidade por meio
da experimentação.
Mas o que de fato tornou o pesquisador mundialmente conhecido foi a criação de uma teoria
ampla e diversificada, a Semiótica – termo que vem do grego semeîon (signo) e sema (sinal).
semeîon (signo) + sema (sinal)
 
Semiótica
Trata-se de uma ciência que estuda os signos e a produção de significados (semiose) na
natureza e na cultura (NÖTH, 1995). A Semiótica tem como principal objetivo investigar todas as
linguagens existentes, sejam elas:
VERBAIS
MATEMÁTICAS
BIOLÓGICAS
ARTÍSTICAS
COMUNICACIONAIS
A partir da sistematização dessa teoria, Peirce buscou realizar seu desejo de identificar uma
linguagem comum às diversas ciências. Até os dias atuais, os métodos por ele propostos são
amplamente utilizados em pesquisas de distintos campos científicos.
Peirce iniciou suas investigações sobre as linguagens, as representações e a cognição humana, a
partir do estudo da fenomenologia, observando a produção do conhecimento e as diversas
interpretações da realidade a partir da consciência. Por meio desses caminhos iniciais, o teórico
elaborou e propôs uma nova doutrina, capaz de abarcar diversas linguagens e de analisar os
diferentes tipos de signos em suas funcionalidades práticas e em suas potencialidades.
FENOMENOLOGIA
É uma corrente filosófica que pensa a relação entre sujeito (sua consciência) e o objeto,
defendendo que o único conhecimento possível passa pela consciência, por como se percebe um
fenômeno.
É POSSÍVEL AFIRMAR QUE O MODELO SEMIÓTICO DE
COMUNICAÇÃO TEM COMO FOCO A CRIAÇÃO DE
MENSAGENS A SEREM TRANSMITIDAS E A PRODUÇÃO
DE SEUS SENTIDOS POR MEIO DO PENSAMENTO
HUMANO. EM OUTRAS PALAVRAS, ANALISA COMO OS
SIGNIFICADOS SÃO CONSTRUÍDOS POR MEIO DO USO
DE DIFERENTES CÓDIGOS.
A princípio, esses termos e suas definições conceituais podem parecer muito abstratos e difíceis
de compreender. Mas os processos analisados pela Semiótica fazem parte do nosso dia a dia e
dos nossos esforços para compreender a realidade que nos cerca. São ainda mais necessários
em tempos de intenso compartilhamento de informações e diante do surgimento de novas
linguagens e formas de expressão.
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 EXEMPLO
Sempre que queremos comunicar algo a alguém, utilizamos sinais, códigos ou símbolos que se
apresentam para nos expressarmos, garantindo, assim, que o conteúdo transmitido seja de fato
compreendido por nosso interlocutor. Palavras, sons, imagens, gestos e até mesmo ações são
exemplos de recursos aos quais podemos recorrer para atingir esse objetivo.
Mas, para que a mensagem seja efetivamente entendida pelos demais, é fundamental que os
outros percebam e conheçam os sinais que utilizamos e produzam suas próprias representações
mentais para processar os sentidos possíveis. É por isso que precisamos falar um mesmo idioma
para conversar ou conhecer os mesmos símbolos religiosos para participar de uma liturgia, por
exemplo.
Os signos, que são os elementos que utilizamos para formular as mensagens, representam algo a
alguém. Quando erguemos nossa mão e a balançamos de um lado para o outro estamos
representando uma saudação por meio de um gesto. Isso só acontece porque culturalmente
aprendemos que o aceno significa “olá” ou “tchau”.
Dessa maneira, é possível afirmar que as mensagens e os processos de interação entre os signos
e as pessoas se condicionam mutuamente.
OS SIGNOS NÃO TÊM UM SIGNIFICADO INTRÍNSECO,
EM SI MESMOS, MAS DEPENDEM DO CONTEXTO NO
QUAL ESTÃO INSERIDOS E DOS REPERTÓRIOS QUE OS
SUJEITOS DA INTERAÇÃO POSSUEM E ACIONAM PARA
QUE A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO OCORRA.
Apesar de a Semiótica ser uma ciência ainda jovem, a discussão sobre os signos e os processos
de significação é tão antiga quanto o pensamento filosófico. Desde a Antiguidade Clássica,
passando pela Idade Média e por pensadores modernos, o estudo das diversas formas de
linguagem permeou muitos momentos da história do pensamento ocidental. Entender os múltiplos
processos de interação entre os seres humanos, a natureza ou as máquinas têm sido uma
curiosidade constante ao longo da história.
PANORAMA HISTÓRICO GERAL
A Semiótica moderna e sua formulação como uma disciplina acadêmica data da segunda metade
do século XX. E não por acaso. O período é marcado pelo apogeu dos meios de comunicação de
massa – como jornais, cinema, rádio e TV –, que passaram a levar informação e entretenimento
para uma audiência de proporções nunca antes vistas.
A multiplicidade de linguagens que despontam nesse período impactou não apenas os
comportamentos de consumo de conteúdo, mas toda a cultura do seu tempo. A consolidação
dessas mídias trouxe consigo novos hábitos, modismos, visões de mundo. A comunicação deixou
de ser prioritariamente verbal e restrita a públicos reduzidos.
Esses impactos não foram sentidos apenas no cotidiano, mas despertaram também a curiosidade
de cientistas e intelectuais de diversas áreas, que perceberam a importância do fenômeno em
todo mundo. Nesse contexto, surgiram os primeiros esforços intelectuais para propor um estudo
sistemático dos signos e seus significados.
 SAIBA MAIS
Um importante marco histórico é a publicação da obra Curso de Linguística Geral, um compilado
de anotações de aulas ministradas pelo linguista e filósofo suíço Ferdinand de Saussure (1857-
1913)na Universidade de Genebra. O material, organizado por seus alunos após sua morte,
tornou-se ponto de partida para a consolidação de uma ciência geral dos signos, a Semiologia. Os
semiologistas se interessavam especificamente por linguagens humanas.
Como já colocado, o campo da Semiótica não contempla apenas as expressões verbais, mas
também outras linguagens, de imagens e elementos da natureza a sinais matemáticos, e o
primeiro autor a utilizar o termo, também como proposta de consolidação da disciplina foi o
cientista estadunidense Charles S. Peirce.
O teórico estipulou um modelo de análise baseado em três categorias universais, que explicam o
processo de compreensão da realidade por meio de signos:
PRIMEIRIDADE
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Corresponde às impressões puras e imediatas da realidade, sentidas, mas ainda não analisadas
racionalmente.
SECUNDIDADE
É referente aos processos de reflexão, comparação e análise das sensações mais instintivas e
automáticas.
TERCEIRIDADE
Está associada ao processo de produção de significado a partir do pensamento (semiose), sendo,
portanto, a conexão entre as duas categorias anteriores.
Adiante, entenderemos melhor cada uma delas.
SEMIÓTICA SOVIÉTICA E SEMIÓTICA NO
BRASIL
A Semiótica soviética surge a partir da relação entre o Partido Comunista e distintas correntes
teóricas da época, na primeira década após a Revolução de 1917. É nesse contexto que os
estudos da área começam a se desenvolver de forma mais sistemática.
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 Yuri Lótman com a primeira edição do seu livro
Curso de poética estrutural, de 1964
O período histórico foi marcado por diversos estudos sobre a produção artística, como o cinema e
a literatura de vanguarda – vertente que ficou conhecida como Semiótica da Cultura. Mas a
produção oriunda da extinta União Soviética só ganhou espaço internacional na década de 1950,
sobretudo, a partir das contribuições de teóricos como Yuri Lotman e Boris Uspênski e dos
estudos da Universidade de Tartu, na Estônia. Um dos maiores méritos dessa escola da Semiótica
foi ampliar as delimitações do campo da pesquisa comunicacional, incluindo a produção cultural
como objeto de estudo.
No Brasil, os estudos semióticos se iniciam na década de 1960, sobretudo, a partir da influência
do professor e poeta concretista Décio Pignatari, que lecionava na Escola Superior de Desenho
Industrial no Rio de Janeiro. O docente foi pioneiro na proposição de uma teoria Semiótica
peirceana voltada para o Design, a Arquitetura e a Comunicação. Na década seguinte, passou a
integrar o programa de pós-graduação da Universidade Católica de São Paulo, que se tornaria um
curso de Comunicação e Semiótica. Por fim, é importante destacar a criação do Centro
Internacional de Estudos Peirce (CIEP), na Universidade Católica de São Paulo, em 1996. O
espaço foi inaugurado por Lucia Santaella, uma das pesquisadoras mais influentes do campo da
Semiótica no Brasil até os dias atuais.
 Beba Coca-Cola, Décio Pignatari, 1957.
SEMIÓTICA AMERICANA
A Semiótica americana – que, como vimos, tem em Charles Peirce seu maior expoente – busca
estudar o aspecto relacional dos signos, adotando uma abordagem mais ampla sobre as múltiplas
linguagens. Trata-se, portanto, de uma corrente mais interessada nos significados produzidos, a
partir das interações do que no estudo isolado dos signos, por si só.
PEIRCE PROPÔS O CONCEITO DE RELAÇÃO SÍGNICA,
QUE ENVOLVE O SIGNO PROPRIAMENTE DITO, O
OBJETO QUE ESTÁ SENDO REPRESENTADO POR ELE
E SEU INTERPRETANTE (A IMAGEM MENTAL À QUAL O
INTERLOCUTOR RECORRE PARA LHE ATRIBUIR
SENTIDO). OU SEJA, QUANDO NOS DEPARAMOS COM
UM SIGNO E ACIONAMOS ALGUM REPERTÓRIO PARA
COMPREENDÊ-LO, PRODUZIMOS OUTROS SIGNOS EM
NOSSO PENSAMENTO PARA COMPLETAR O
PROCESSO DE SIGNIFICAÇÃO. DESSE MODO, O
SIGNIFICADO DAQUELE SIGNO INICIAL SE CONCLUI
POR MEIO DE OUTRO SIGNO PRODUZIDO EM NOSSO
PENSAMENTO.
Outro aspecto original da vertente proposta pelo autor norte-americano é a noção triádica do
signo, um modelo dinâmico e contextualizado, cuja proposta é pensar a produção dos sentidos
para além de dicotomias simplistas de análise. Além disso, nessa corrente de pensamento, os
signos não devem ser pensados a partir de uma perspectiva abstrata ou metafísica, mas
observados em seus usos práticos, no cotidiano.
E isso não é por acaso. Como mencionamos anteriormente, o cientista é considerado o pai do
pragmatismo, uma escola teórica norte-americana que partia do princípio de que o conhecimento
humano e o desenvolvimento das faculdades mentais ocorrem a partir da aprendizagem na
experiência concreta, empírica. O termo vem do grego pragma, que significa ação. Os teóricos
ligados ao pragmatismo são céticos em relação à metafísica, defendendo, portanto, um método de
análise pautado apenas nos sentidos. Em outras palavras, só atestam o que pode ser comprovado
por meio da experimentação sensível do mundo real.
Martino (2014) apresenta um exemplo bastante ilustrativo sobre o olhar pragmático acerca dos
signos: a arquitetura das igrejas católicas:
Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro
Foto: Paulo Arquiteco / Wikimedia commons / CC-BY-SA-4.0.
Como o autor comenta, esses templos religiosos cristãos apresentam algumas similaridades
estéticas, como vitrais, imagens de santos, pias batismais, torres, crucifixos, pinturas que ilustram
passagens bíblicas etc. Assim, qualquer pessoa familiarizada com os códigos da cultura ocidental
não terá dificuldades em perceber que esse tipo de construção é uma igreja. No entanto, todos
esses signos foram escolhidos e convencionados socialmente de forma arbitrária.
Discoteca e casa noturna Paradiso, cujo prédio era originalmente uma igreja construída no século
XIX, em Amsterdã, Holanda. Foto: Andreas Praefcke / Wikimedia commons / CC BY 3.0.
O pesquisador ressalta que na Europa há muitos prédios de antigas igrejas que atualmente são
utilizados com outras finalidades, sem qualquer relação com o universo místico. São centros
culturais ou salões de exposições, por exemplo. Em suma, todos os sinais religiosos permanecem
nesses locais, mas não necessariamente serão considerados religiosos para quem os ocupa
agora. Essa simples constatação, nos leva à conclusão de que “o signo pode virtualmente ser
qualquer coisa no momento que é usado como tal. As três partes dessa relação – signo,
significante e significado – não existem de maneira separada” (MARTINO, 2014, p.118).
RAMOS DA SEMIÓTICA
Desde sua origem como campo científico, a Semiótica é apresentada a partir de diferentes
vertentes. O mais correto seria falarmos em semióticas, no plural, para dar conta das diferentes
correntes que existem no âmbito dessa ciência.
O ESTUDO DA SEMIÓTICA ABARCA DIVERSOS
ASPECTOS RELATIVOS AOS SIGNOS, COMO SUA
REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE E AS DIVERSAS
FORMAS DE INTERPRETÁ-LOS E APREENDÊ-LOS.
ANALISA, PORTANTO, AS CARACTERÍSTICAS DESSES
SINAIS, OS POTENCIAIS SENTIDOS QUE PODEM
INCITAR E AS MÚLTIPLAS FORMAS DE COMPREENSÃO
DE UMA MENSAGEM.
A vertente teórica proposta por Peirce, mais especificamente, propõe três ramos que abarcam o
campo da Semiótica: a gramática especulativa, a lógica crítica e a metodêutica ou retórica
especulativa.
GRAMÁTICA ESPECULATIVA
LÓGICA CRÍTICA
METODÊUTICA
GRAMÁTICA ESPECULATIVA
É o ramo de estudos que analisa os diversos tipos de signo, suas múltiplas formas de
representação e seus potenciais significados. De acordo com Santaella (2008), esse segmento
trabalha com conceitos abstratos, que permitem que determinados comportamentos possam ser
considerados signos; e analisa os elementos determinantes para a compreensão dos signos e
suas propriedades, ou seja, o que um signo deve ter para que possa incorporar qualquer
significado.
LÓGICA CRÍTICA
Leva em conta os diferentes tipos de raciocínio. Analisa pensamentos, deduções e imagens que
surgem na mente dos receptores de determinada mensagem. Corresponde à “teoria das
condições gerais da referênciados Símbolos e outros Signos aos seus Objetos manifestos, ou
seja, é a teoria das condições da verdade” (PEIRCE, 2000, p. 29). Os argumentos estudados pela
lógica crítica são denominados inferências.
METODÊUTICA
Ramo abordado com menos frequência nos estudos de Semiótica, analisa as condições por meio
das quais um signo dá origem a outro e, principalmente, busca compreender como um
pensamento gera outro pensamento. Ou seja, debruça-se sobre a relação entre os tipos de
raciocínio que são analisados pela lógica crítica (SANTAELLA, 1996, 2008).
 RESUMINDO
Nessa perspectiva, a gramática especulativa é o ramo da Semiótica que estuda a forma dos
signos, a lógica crítica é aquela que cuida dos sentidos da representação e, por fim, a metodêutica
analisa os métodos originados pelos diversos tipos de raciocínio, observando os outros ramos no
contexto cultural no qual estão inseridos.
CATEGORIAS UNIVERSAIS DO
PENSAMENTO
Analisemos um exemplo, a partir de uma situação cotidiana. Imagine que você está em casa e
alguém toca a campainha. O que veríamos se pudéssemos observar o pensamento em câmera
lenta?



Em um primeiro momento, ouve-se um som. Na sequência, há um esforço para racionalizar
aquele estímulo sonoro, diferenciando-o de outros barulhos, como o áudio da televisão ou o apito
do micro-ondas. Por fim, é possível compreender o que aquela impressão inicial significa: há uma
pessoa do lado de fora da casa querendo falar com você. Na prática, todas essas etapas
ocorreriam em milésimos de segundos e sequer seriam perceptíveis. Não nos damos conta da
complexidade do nosso próprio raciocínio diante dos estímulos que recebemos o tempo todo.
Essa situação simples é um exemplo de semiose, ou seja, corresponde a um processo de
interpretação da realidade a partir de determinados signos.
PEIRCE COMPREENDE O SIGNO COMO ALGO QUE
ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA PARA ALGUÉM.
O que está em jogo nessa premissa é uma relação construída a partir de três partes interligadas:
O SIGNO
A REPRESENTAÇÃO MENTAL
A CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO
Quando algo se apresenta para nós e, ao se projetar em nossa mente, transforma-se em um
signo, o resultado desse movimento forma o objeto de estudo da fenomenologia, ciência que cuida
da investigação dos elementos que estão em nossa mente ou consciência. A representação
mental ou referência é o que permite compreender o signo, é a ponte para a construção do
significado.
Na perspectiva da Semiótica americana, mais especificamente, todo o processo envolvendo a
produção de sentido – da percepção inicial de um signo à construção de seu significado por meio
do pensamento –, pode ser pensado a partir de três categorias propostas por Peirce:
PRIMEIRIDADE
Corresponde ao contato inicial com determinado signo, que pode ser uma palavra, um som, uma
imagem, um objeto. Trata-se da impressão imediata. Essa experiência está relacionada à
percepção de um estímulo novo, original, espontâneo, que antecede qualquer distinção ou análise
mais aprofundada. Ocorre antes da plena tomada de consciência sobre sua própria existência. É o
que Santaella (1996) chama de “estado-quase”, uma forma de percepção rudimentar, imprecisa e
indeterminada. Corresponde ao mundo dos sentidos, independente da racionalidade. No
caso do exemplo que apresentamos anteriormente, a primeiridade corresponde ao momento do
toque da campainha, quando se ouve o som.
SECUNDIDADE
Refere-se à etapa de racionalização das sensações iniciais da experiência da primeiridade, na
qual o signo é distinguido, diferenciado e racionalmente processado. A primeira parte do processo
restringe-se à qualidade do signo, às sensações despertadas, enquanto a segunda etapa
materializa o estímulo em um pensamento. Em nossa situação hipotética, a secundidade
corresponde ao rápido momento em que processamos o som que vem da porta, diferenciando-o
de outros ruídos à nossa volta e decifrando-o.
TERCEIRIDADE
Síntese racional das duas etapas anteriores. Fase da compreensão, da criação do significado
por meio do pensamento. É quando o indivíduo conecta o sinal recebido à sua experiência de
vida, contextualizando-o a partir dos repertórios que conhece e detém. Em nossa história, a
categoria estaria associada ao momento em que se percebe que o barulho que ouvimos (o signo)
refere-se à campainha e, portanto, significa que há alguém à porta esperando para ser atendido.
Aprendemos desde cedo a fazer a associação entre o som e o ritual que se repete toda vez que
alguém vai a nossa casa para falar conosco. Esse ensinamento reflete uma convenção social, um
conhecimento compartilhado coletivamente.
Agora vamos ver se você compreendeu o processo de produção de sentido por meio dos signos
proposto Peirce.
A PRODUÇÃO DE
INTELIGIBILIDADE E O
SURGIMENTO DO PENSAMENTO
EM SIGNOS FAZEM PARTE DE
QUAL CATEGORIA?
 Primeiridade
 Secundidade
 Terceiridade
SENSAÇÕES E IMPRESSÕES
ESTÃO EM QUAL CATEGORIA?
 Primeiridade
 Secundidade
 Terceiridade
O ESFORÇO INTELECTUAL DE
PERCEPÇÃO INICIAL SE
ENQUADRA EM QUAL CATEGORIA?
A Semiótica peirceana trabalha com três tricotomias (divisão em três categorias):
1
A primeira tricotomia trata da relação entre os signos.
2
A segunda, corresponde à relação entre os signos e os objetos da realidade concreta por eles
representados.
3
 Primeiridade
 Secundidade
 Terceiridade
A terceira tricotomia se debruça sobre a relação entre os signos e as imagens mentais formadas
no pensamento humano para compreender seus significados.
No próximo módulo, detalharemos cada uma dessas categorias e apresentaremos um resumo do
método de análise peirceano, que constitui o cerne da Semiótica americana.
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira fala sobre o signo e as categorias universais do
pensamento. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A ORIGEM DA SEMIÓTICA MODERNA COMO DISCIPLINA ACADÊMICA
DATA DO SÉCULO XX, A PARTIR DE DIVERSOS ESTUDOS REALIZADOS
NOS ESTADOS UNIDOS, NA EUROPA ORIENTAL E NA EXTINTA UNIÃO
SOVIÉTICA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDE A UMA DAS
ESPECIFICIDADES DA SEMIÓTICA AMERICANA EM COMPARAÇÃO COM AS
DEMAIS CORRENTES DE ESTUDO DOS SIGNOS, QUE DESPONTARAM NA
MESMA ÉPOCA.
A) Análise restrita às linguagens e formas de expressão verbais.
B) Método baseado em três categorias de ações mentais, acionadas nos processos de produção
de sentido.
C) Fundação a partir dos estudos da Semiologia, capitaneados por Ferdinand de Saussure.
D) Estudo exclusivo dos signos e significados que fazem parte da cultura anglófona.
E) Corrente teórica considerada arcaica e que tende a cair em desuso.
2. AS CATEGORIAS UNIVERSAIS DO PENSAMENTO, PROPOSTAS POR
CHARLES PEIRCE, SÃO: PRIMEIRIDADE (IMPRESSÕES INICIAIS E
ESPONTÂNEAS); SECUNDIDADE (PERCEPÇÃO POR MEIO DE
COMPARAÇÕES) E TERCEIRIDADE (SÍNTESE RACIONAL DAS DUAS
ETAPAS ANTERIORES). A PARTIR DESSA PERSPECTIVA, ASSINALE A
DEFINIÇÃO CORRETA ACERCA DA CATEGORIA TERCEIRIDADE.
A) Análise restrita às emoções e sensações viscerais.
B) Conclusão obtida por meio da análise de três argumentos distintos.
C) Produção de sentido a partir de signos acionados pelo pensamento.
D) Tradução dos estímulos sensoriais para uma linguagem matemática e, portanto, objetiva.
E) Ato de descartar a percepção do signo da memória para se dedicar a outros pensamentos.
GABARITO
1. A origem da Semiótica moderna como disciplina acadêmica data do século XX, a partir de
diversos estudos realizados nos Estados Unidos, na Europa Oriental e na extinta União
Soviética. Assinale a alternativa que corresponde a uma das especificidades da Semiótica
americana em comparação com as demais correntes de estudo dos signos, que
despontaram na mesma época.
A alternativa "B " está correta.
Ao contrário dos estudos do campo da Semiologia, a Semiótica não trabalha com modelos
dicotômicos, partindo sempre de tríades de categorias para analisar os signos e as suas relações
com os objetos e os significados.
2. As categorias universais do pensamento,propostas por Charles Peirce, são:
primeiridade (impressões iniciais e espontâneas); secundidade (percepção por meio de
comparações) e terceiridade (síntese racional das duas etapas anteriores). A partir dessa
perspectiva, assinale a definição correta acerca da categoria terceiridade.
A alternativa "C " está correta.
A categoria peirciana da terceiridade corresponde ao processo de produção de sentido que ocorre
na mente humana, por meio de signos acionados mentalmente. Essa categoria de pensamento é
a síntese das duas outras: primeiridade e secundidade.
MÓDULO 2
 Identificar os principais conceitos, categorias e métodos da Semiótica americana, bem
como suas possíveis aplicações
A INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE
Imagine um soldado em combate, observando seus adversários em uma trincheira à sua frente.
Vamos supor que, após o confronto, ele consiga avistar um borrão branco em meio aos seus
inimigos. A princípio, tudo o que pode enxergar é uma mancha, não sendo possível chegar a
nenhuma conclusão precisa a respeito do que vê. Aproximando-se, o homem consegue identificar
que se trata de um pano sendo balançado de um lado para o outro. O soldado estabelece,
portanto, uma relação entre o branco e o pano e compreende que se trata de um objeto
conhecido. Chegando ainda mais perto, o mistério se revela: alguém está agitando uma bandeira
branca. Nesse exato momento, ele tem a total compreensão da situação: um pedido de paz, uma
declaração de redenção.
Esse exercício imaginativo ilustra a maneira como interpretamos a realidade e ajuda a
compreender os princípios básicos da Semiótica na perspectiva de Peirce:
 
Em um primeiro momento, os objetos da realidade concreta simplesmente aparecem diante de
nós e são percebidos pela nossa mente.
 
Posteriormente, procuramos estabelecer uma relação de identificação para entender o que
estamos vendo, ouvindo ou sentindo.
 
Por fim, conseguimos interpretar aquela imagem e, por meio do repertório que temos,
compreendemos o seu significado naquele contexto.
É importante ressaltar também a importância do conhecimento dos códigos e dos repertórios que
cada indivíduo possui para elaborar um significado inteligível por meio do pensamento. No caso do
exemplo anterior, o soldado só conseguiu compreender que o signo “bandeira branca em
movimento” significava um pedido de trégua porque, em algum momento ao longo da história,
essa associação foi criada e o simbolismo coletivamente foi transformado em uma convenção
social. Para processar a mensagem do seu adversário, o combatente de nossa história teve que
acionar em sua mente uma imagem mental capaz de fornecer o significado daquele signo avistado
no meio do confronto. Foi necessário acionar as informações apreendidas e produzir um novo
signo em seu pensamento para que o objeto “bandeira branca” fosse assimilado e associado a um
pedido de paz.
A Semiótica peirceana, portanto, é baseada em uma tríade:
A percepção dos objetos que existem no mundo concreto, na realidade prática.
As representações desses objetos por meio de signos diversos.
A elaboração mental do significado desses signos, por meio de novos signos que acionamos em
nossa mente, com o repertório que possuímos.
O esquema proposto por Peirce envolve basicamente:
O SIGNO
O OBJETO POR ELE REPRESENTADO
O CHAMADO INTERPRETANTE
INTERPRETANTE
A imagem mental à qual o interlocutor recorre para atribuir sentido ao signo – e que também é, ela
mesma, um signo.
Confira, no esquema a seguir, um resumo das categorias Peirceanas associadas ao interpretante:
A seguir, discutiremos cada um desses elementos e as relações que estabelecem entre si, a partir
da perspectiva da Semiótica.
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SIGNO
Comecemos por uma definição de dicionário. De acordo com o dicionário Michaelis, signo é um
“sinal indicativo de algo; indício, símbolo, vestígio”.
EM UMA DEFINIÇÃO SIMPLES E RESUMIDA, TRATA-SE,
PORTANTO, DE ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA
COISA (OBJETO), PARA REPRESENTÁ-LA PARA
ALGUÉM. TUDO O QUE REMETE OU FAZ REFERÊNCIA A
ALGO ALÉM DE SI MESMO PODE SER CONSIDERADO
UM SIGNO.
O signo, também chamado de representamen, é qualquer coisa que faz referência a um objeto
concreto ou fenômeno da realidade. Substitui o objeto, representando-o, mas não é o objeto em si.
Também não dá conta de fazer referência a todos os aspectos daquilo que substitui, mas sim a um
tipo de ideia sobre o elemento ou fenômeno referenciado (PEIRCE, 2000).
Vejamos dois exemplos:
Foto: Shutterstock.com
É o caso de um sinal de trânsito, com suas diferentes cores, que indica regras a serem seguidas.
Em tese, não é necessário um texto explicativo ou um guarda de trânsito para que motoristas e
pedestres saibam quando podem seguir em frente e quando devem parar e aguardar.
Foto: Shutterstock.com
É também o caso de um crucifixo, objeto que ilustra e aciona a lembrança religiosa do sacrifício de
Cristo para os fiéis católicos.
Os signos são, portanto, um meio de interação entre os seres, as linguagens e as representações.
Pensemos em nosso idioma, por exemplo. Cada palavra associada à língua portuguesa é um
signo, sendo formada por um conjunto de letras (no caso da linguagem escrita) ou fonemas (na
linguagem oral). São caracteres e sons que, ao se unirem, passam a representar alguma coisa e a
comunicar determinada mensagem. Mas apenas quem sabe falar português vai entender o que
esses signos representam nas distintas situações.
 EXEMPLO
Quando escrevemos a palavra árvore (um conjunto de seis letras e um acento), esperamos que o
leitor compreenda que estamos fazendo referência ao objeto concreto árvore, com seu tronco,
folhas e galhos. Mas esse entendimento só acontecerá se houver conhecimento dos códigos do
idioma, historicamente convencionados.
Para quem fala inglês, por exemplo, o objeto árvore em si é simbolizado pela sequência de
caracteres tree. Ou seja, um signo só acionará a produção de sentidos na mente se
entendermos o sistema de códigos no qual este está inserido. Nem árvore, nem tree são
uma árvore propriamente dita ou fazem referência a todas as suas características, mas são signos
que representam esse objeto por meio da linguagem.
O signo corresponde à unidade básica de entendimento de determinado código e pode ser
desmembrado em dois níveis de compreensão:
SIGNIFICANTE
Corresponde ao elemento seu elemento material, tangível.
SIGNIFICADO
É a sua esfera abstrata e conceitual.
Desse modo, para dar conta de sua função mediadora e representativa, o signo precisa estar
materializado em um veículo sensível ou em uma forma expressiva.
A partir da relação do signo consigo mesmo (a chamada primeira tricotomia de Peirce), o
representamen pode ser classificado em três categoriais que indicam o tipo de interpretação que
ocorre na mente do interlocutor:
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Imagem: Shutterstock
Quali-signo
Corresponde às nossas impressões e sensações imediatas – portanto, ainda vagas,
descontextualizadas, viscerais. Por exemplo, quando sentimos que o signo “cor azul” nos desperta
sensações de paz e tranquilidade. É como se esses sentimentos fossem um pré-signo, um
impulso espontâneo que ainda não foi racionalizado ou analisado em profundidade.
Imagem: Shutterstock
Sin-signo
É o resultado da singularização do quali-signo. Ou seja, no caso da ilustração anterior, poderíamos
dizer que, se alguém entende que a cor azul transmite serenidade; e rosa, delicadeza, é porque
percebe as cores de maneira pessoal, particular.
Imagem: Shutterstock
Legi-signo
É uma impressão mediada por convenções, pactos sociais, ideias universalizadas, apreendidas e
compartilhadas coletivamente. É o caso, por exemplo, da ideia de que a cor azul está associada
aos meninos e a cor rosa às meninas, uma relação de significação arbitrária, mas convencionada
histórica e culturalmente, atribuindo determinados valores a signos específicos.
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira fala sobre signo,objeto e interpretante, trazendo
exemplos da primeira trocotomia peirceana. Vamos assistir!
OBJETO
A partir do que foi discutido até aqui, é possível perceber que existem duas dimensões a serem
analisadas no campo da Semiótica:
A realidade (palpável)
 
O pensamento humano
O mundo concreto é composto por objetos, percebidos e compreendidos por meio de
representações e interpretações que produzimos e acionamos em nossa mente. Os objetos são
classificados de duas maneiras:
OBJETOS DINÂMICOS
São os objetos pertencentes à vida concreta, ou seja, tudo aquilo que existe na natureza e sobre o
qual podemos pensar ou falar.
OBJETOS IMEDIATOS
São os aspectos e as características que um signo seleciona desse objeto concreto para poder
representá-lo.
Ao contrário do campo da Linguística, que se atém às linguagens humanas e verbais, a Semiótica
abarca diversas expressões, como sons, imagens, gestos e ações, sensações e sentimentos.
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Assim, na perspectiva peirceana, há diversas maneiras de representação passíveis de análise.
A relação entre signos e objetos, que correspondem à segunda tricotomia desse método, pode ser
classificada em três categorias distintas:
ÍCONES
São representações que se constroem a partir de semelhanças e de aproximação com a
realidade. É o caso, por exemplo, de fotografias, pinturas, esculturas e placas de trânsito, que
fazem referências icônicas a determinados objetos da realidade concreta. Esses signos não são a
mesma coisa que os objetos que representam, mas ambos estão diretamente vinculados.
ÍNDICES
Em inglês, index, são referências estabelecidas por meio de relações de causa e efeito. Se
vemos uma pegada na areia (que, nessa perspectiva, pode ser considerada um signo),
compreendemos que alguém pisou naquela superfície em algum momento, mesmo que não
possamos ver quem andava por ali. É o que ocorre também quando avistamos nuvens pretas no
céu ou ouvimos o som de trovoadas e deduzimos que vai chover.
Peirce apresenta um exemplo que, para nós, virou até ditado popular: onde há fumaça, há fogo.
Ou seja, o signo fumaça é um índice de fogo, incêndio. Não por acaso, falamos em indícios
quando tratamos de uma investigação ou pesquisa. A solução de um mistério ou de problema
intelectual ocorre a partir da observação e interpretação de signos.
SÍMBOLOS
São signos que representam a realidade, a partir de uma convenção, de determinado significado
construído e disseminado historicamente, e compartilhado coletivamente. É o caso das palavras
em certo idioma, de imagens religiosas (como a estrela de Davi) e políticas (a suástica nazista ou
a foice e o martelo do comunismo, por exemplo).
Trata-se da forma mais distante e abstrata de relação entre um signo e um significado. Quando
lemos a palavra carro, logo mentalizamos a imagem de um veículo, mas essas cinco letras não
têm nenhuma semelhança com o automóvel em si; são apenas uma combinação de caracteres
que, no idioma português, está associada ao objeto carro.
 EXEMPLO
Agora, vamos refletir: os signos de gênero, ou a já citada convenção da sugestão da cor rosa para
o feminino e do azul para o masculino, são símbolos, ou seja, signos arbitrariamente definidos
como próprios a determinados significados.
Mas e o signo de uma pessoa aparentemente vestida com um vestido e outra com calças
compridas para indicar que um banheiro é feminino ou masculino? Trata-se de um ícone ou de
símbolo? Mais uma vez, se considerarmos que o vestido está, necessariamente, associado ao
feminino, e as calças, associadas ao masculino, talvez seja possível argumentar que se trata de
um ícone. Caso contrário, incorremos em um erro de lógica.
INTERPRETANTE
Ao nos depararmos com um signo e percebê-lo, acontece uma projeção, em nosso pensamento,
do objeto que está sendo representado. As referências que acionamos para distinguir e
compreender as coisas que se colocam diante de nós são conhecidas como interpretante (não
confunda com intérprete, que é o sujeito desse processo!).
Na história hipotética da visita que chega à sua casa, o interpretante seria a percepção da
campainha tocando e a imagem mental de alguém à porta, que rapidamente aparece em nossa
mente e remete aos repertórios necessários para compreender o que está acontecendo ao nosso
redor. A relação entre o signo e seu interpretante corresponde à terceira tricotomia de Peirce.
 RESUMINDO
Vamos recapitular! Um signo representa um objeto da realidade concreta e, por meio dessa
relação de referência, nossa mente cria um segundo signo para produzir o significado do primeiro.
Ou seja, o segundo signo produzido nesse processo – que pode ser uma imagem mental, uma
ação, um gesto ou um sentimento – é o interpretante do primeiro.
É possível afirmar que os interpretantes são variáveis, pois são produzidos e acionados em cada
mente, de maneira particular e pessoal – mesmo que convoquem repertórios coletivos. O
interpretante depende também da natureza e do potencial significativo do signo.
 EXEMPLO
Pensemos no ato de escutar uma música. Se não dominamos os códigos da composição musical,
a audição só provocará em nós qualidades de impressão, ou seja, sensações viscerais, que
poderemos traduzir em interpretantes emocionais, como alegria, tristeza, tédio. Ou seja, o
interpretante desse processo será condicionado e limitado pelo repertório que possui e pelas
relações que estabelece com o que ouve (SANTAELLA, 1983).
Vamos imaginar exemplos mais elaborados:
Você escrevendo para um amigo em um aplicativo de mensagens. O conteúdo enviado por meio
do texto é um signo do que você, de fato, gostaria de comunicar (objeto). Já o impacto que a
mensagem terá no destinatário será o interpretante da mensagem. Nesse caso, o interpretante
nada mais é do que um mediador entre o que você gostaria de transmitir ao seu amigo e os efeitos
que provocou por meio do envio daquela mensagem específica.
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Pense, agora, em um filme baseado em fatos reais. Esse tipo de longa-metragem nada mais é do
que um signo da história real que representa, a qual, por sua vez, é o objeto do signo. O
interpretante, nesse caso, será o efeito do filme em quem o assistir – e compreende, portanto,
inúmeras possibilidades.
A categoria interpretante se subdivide em:
Interpretante imediato
Nível de análise abstrato, corresponde ao potencial significativo de um signo, ou seja, todo tipo de
interpretação que um signo pode ocasionar. As possibilidades de criações de referência do
interpretante abstrato são inúmeras.

Interpretante dinâmico
É o efeito que um signo realmente produz no interpretante, ou seja, ocorre a partir de uma análise
sobre o fenômeno de fato.
Quanto ao interpretante dinâmico, ele pode ser:
INTERPRETANTE EMOCIONAL
INTERPRETANTE ENERGÉTICO
INTERPRETANTE LÓGICO
Como o nome sugere, é um primeiro efeito despertado pelos signos e está associado às
sensações e sentimentos. Está, portanto, ligado à categoria da primeiridade. Se retomarmos os
últimos exemplos analisados, o interpretante emocional poderia ser a emoção de quem recebe a
mensagem de um amigo, ou a raiva de um espectador, que assiste a um filme baseado na história
de um assassino em série.
Aciona uma reação na mente, que pode ser um movimento físico ou mental (como pegar um
objeto ou ter uma ideia). Trata-se, portanto, do contexto da secundidade. Ainda no caso dos
nossos exemplos, poderia ser a movimentação de quem ouviu o celular tocar e decidiu estender o
braço para alcançar o aparelho e ler as mensagens que chegaram.
É “o pensamento ou entendimento geral produzido pelo signo” (SANTAELLA, 1995, p.105).
Ou seja, abarca o processo completo de significação, que demanda um esforço mental para
realizar inferências e estabelecer relações de causa e consequência. É relativo à terceiridade.
RELAÇÃO ENTRE SIGNOS E SEUS
INTERPRETANTES
De acordo com Peirce, nessa relação, é possível identificar três categorias diferentes:REMA
Corresponde a um enunciado que não pode ser averiguado e classificado como verdadeiro ou
falso. É o caso, por exemplo, de palavras soltas (sim, não, talvez) ou dos nomes. Trata-se,
portanto, de um signo compreensível isoladamente, mas que se apresenta a nós fora de qualquer
contexto mais abrangente. É algo amplo e impreciso, e não pode ser julgado ou avaliado de
maneira mais aprofundada.
O rema “casa”, por exemplo, é um signo com diversas possibilidades de significação, visto que
pode ser associado a uma série de atributos e características: casa pequena, casa suja, casa
acolhedora etc. Mas, ao surgir desse modo, sem complementos ou qualificações, não nos diz
muita coisa.
DICENTE
Também chamado de dicissigno, segundo Peirce (2000), é uma proposição que indica o objeto
representado denominado de seu sujeito, sem interferir no interpretante. Desse modo,
corresponde a hipóteses e suposições, a ideias que podem ser valoradas, qualificadas ou
classificadas como verdadeiras ou falsas.
É o caso da frase “minha casa é amarela”, por exemplo. O dicente corresponde, portanto, às
particularizações interpretativas.
ARGUMENTO
Está relacionado a constatações mais complexas e conclusões mais profundas no processo de
construção de significação. São enunciados organizados de modo a apresentar uma conclusão,
como, por exemplo, “minha casa é amarela, pois decidi destacá-la, pintando-a de uma cor
diferente das outras residências da minha rua”.
Recorrendo ao seu papel de lógico, Peirce propôs, ainda, três classificações possíveis para os
argumentos, que variam de acordo com a estratégia de verificação da verdade e com a proposição
de afirmações conclusivas. São elas:
DEDUÇÃO
INDUÇÃO
ABDUÇÃO
Para explicar cada uma dessas vertentes, utilizaremos um exemplo do próprio Peirce (1972),
esquematizado no quadro a seguir:
ARGUMENTO
Dedução Indução Abdução
Parte de um caso
específico, particular,
para chegar a uma
conclusão geral, mais
ampla.
Segue o caminho oposto
da dedução, ou seja,
conclui algo sobre casos
particulares, a partir das
regras existentes.
Inicialmente denominada
hipótese, essa categoria
corresponde a um esforço
criativo, que propõe uma
solução, a partir da conexão
entre dois fatos.
Regra: todos os
feijões deste pacote
são brancos.
Caso: estes feijões são
deste pacote.
Regra: todos os feijões deste
pacote são brancos
  
Caso: estes feijões
são deste pacote.
Resultado: estes feijões
são brancos.
Resultado: estes feijões são
brancos.
  
Resultado: estes
feijões são brancos.
Regra: todos os feijões
deste pacote são brancos.
Caso: estes feijões são deste
pacote.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
 Peirce (1972) adaptado por Júlia Silveira e Pedro Tamburro.
Para recapitular tudo que foi discutido até aqui, apresentamos a seguir, um quadro com o resumo
das distintas formas de relação entre signos e fenômenos, a partir da perspectiva das três
triconomias propostas por Peirce.
TESTE SEU CONHECIMENTO!
ASSOCIE CORRETAMENTE OS EXEMPLOS A
CADA UMA DAS CATEGORIAS DA TERCEIRA
TRICOTOMIA DE PEIRCE.
REMA
DICENTE OU DICISSIGNO
ARGUMENTO
A RENOVAÇÃO DA SEMIÓTICA
Diante do que foi exposto, é possível perceber que a Semiótica não se restringe a um conjunto de
regras aplicáveis de maneira automática ou sem conexão com os usos práticos das linguagens.
Pelo contrário, trata-se de uma ciência complexa, de um campo amplo e multifacetado, que é
acionado em diversas áreas do saber.
AS CATEGORIAIS PROPOSTAS POR PEIRCE NOS
AJUDAM A SISTEMATIZAR A INVESTIGAÇÃO DOS MAIS
VARIADOS OBJETOS DE ESTUDO; MAIS DO QUE ISSO,
CONSTITUEM IMPORTANTES FERRAMENTAS PARA
COMPREENDERMOS AS RELAÇÕES ENTRE OS SIGNOS
E A PRODUÇÃO DE SENTIDO NA MENTE HUMANA.
Se, no século passado, a chamada ciência dos signos já se revelava uma temática abrangente e
importante, imagine agora, diante das novas tecnologias e linguagens digitais às quais temos
acesso? Do sistema binário dos computadores, passando pelo repositório infinito de assuntos na
internet, estamos diante de uma diversidade de informações sem precedentes. Isso sem
mencionar os novos hábitos de consumo de conteúdo, por meio da lógica do hipertexto, ou seja,
os textos que agregam conteúdos e ligam palavras, imagens, sons e tudo o que pode ser
referenciado na internet.
Longe de se tornar uma ciência datada, a Semiótica continua sendo um importante conjunto de
ferramentas teóricas, úteis para a compreensão dos processos comunicativos. É um instrumento
relevante (e ainda atual!) de análise da realidade que nos cerca – e cada vez mais midiatizada e
complexa.
No vídeo a seguir, a professora Júlia Silveira comenta sobre importância, utilidades e funções do
conhecimento da Semiótica. Vamos assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutimos as origens do campo da Semiótica como disciplina acadêmica, analisando mais
especificamente a escola americana, capitaneada por Charles Peirce, no século XX.
Estudamos as principais categorias associadas à Teoria dos Signos, que se articulam por meio de
tricotomias. Também discutimos as definições de alguns conceitos fundamentais na teoria
peirceana, como signo, objeto e interpretante, recorrendo a exemplos para auxiliar a
compreensão. Além disso, analisamos como os signos se relacionam entre si, com os elementos e
fenômenos que representam, e com os significados produzidos por meio do pensamento humano.
Percebemos como os instrumentos analíticos da Semiótica podem ser um conhecimento de
extrema importância em um mundo em que o volume de informações e sua complexidade vêm
aumentando a cada dia.
 PODCAST
Agora com a palavra a professora Júlia Silveira, relembrando tópicos abordados em nosso estudo.
Vamos ouvir!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
MARTINO, L.M.S. Teoria da Comunicação: ideais, conceitos e métodos. 5. ed. Petrópolis: Vozes,
2014.
NÖTH, W. A Semiótica no Século XX. São Paulo: Annablume, 1995.
PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2000.
PEIRCE, C. S. Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.
SANTAELLA, L. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 42.
SANTAELLA, L. Teoria geral dos signos: semiose e autogeração. São Paulo: Ática, 1995.
SANTAELLA, L. Produção de linguagem e ideologia. São Paulo: Cortez, 1996.
SANTAELLA, L. Epistemologia Semiótica. In: Cognitio, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 93-110, jan./jun.
2008.
SIGNO. In: Dicionário Michaelis. Consultado na internet em: 31 mar. 2021.
EXPLORE+
Assista ao vídeo A realidade transformada em símbolos, em que o professor Luiz Mauro
Sá aborda o conceito de linguagem e discute diferentes formas de representação; produzido
pela Casa do Saber.
Estude mais sobre os conceitos básicos da Semiótica, a partir da leitura do artigo Semiótica
peirceana e a questão da informação e do conhecimento, de Silvana Drumond Monteiro,
disponível no portal de periódicos da UFSC.
Leia o artigo A atualidade estratégica da Semiótica, de Lucia Santaella, na edição de
agosto de 2020 da revista Cult.
CONTEUDISTA
Júlia Silveira
 CURRÍCULO LATTES
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