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. 1 SEE-MG PEB - Educação Física I - Educação Física Escolar: tendências pedagógicas da educação física escolar.. ............................. 1 II - Fisiologia do Exercício: efeitos fisiológicos decorrentes da prática de atividades físicas a curto e longo prazo. ........................................................................................................................................... 33 III - Anatomia: conceitos básicos sobre estruturas musculares e ósseas. .......................................... 41 IV - Aprendizagem e desenvolvimento motor: conceitos envolvidos no planejamento das habilidades motoras a serem trabalhadas. ................................................................................................................ 48 V - Esporte I: conceitos relacionados à iniciação esportiva universal, aos fundamentos básicos da psicologia do esporte e à metodologia de ensino das diversas manifestações esportivas. ..................... 55 VI - Esporte II: Jogos, lutas e brincadeiras. ........................................................................................ 63 VII - Atividades rítmicas e expressivas: inclui as manifestações da cultura corporal que têm como características comuns a intenção de expressão e comunicação mediante gestos e a presença de estímulos sonoros como referência para o movimento corporal. Estão aqui as danças e brincadeiras cantadas. ................................................................................................................................................ 69 VIII - Temas Especiais I: Educação Física e portadores de necessidades especiais. ........................ 70 IX - Temas Especiais II: Educação Física e saúde, ética e cidadania. ............................................... 77 X - Temas Especiais III: Avaliação da aprendizagem no ensino da Educação Física escolar. ........... 88 BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM ....................................................................................... 95 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Proposta Curricular para o Ensino Médio -2005. ........................................................................................................................................ 106 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Proposta Curricular para o Ensino Fundamental – 2014. ............................................................................................................................ 134 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos! Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 . 1 Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br As abordagens pedagógicas1 De acordo com Darido (2004) as Tendências Pedagógicas podem ser entendidas como pressupostos pedagógicos que caracterizam uma determinada linha pedagógica adotada pelo professor em sua prática, ou seja, são criadas em função dos objetivos, propostas educacionais, prática e postura do professor, metodologia, papel do aluno, dentre outros aspectos. Nascimento (2000) ressalta o fato das várias proposições metodológicas, neste estudo denominadas tendências pedagógicas, serem construídas ao longo do processo histórico brasileiro e possuírem estreita relação com o contexto político, econômico e social de cada época, ou seja, transpõem essas características em seus aspectos didático-pedagógicos. Segundo Melo (1999), a história da Educação Física encontrou institucionalização no Brasil Imperial, em meados de 1822 a 1889, quando a atividade física ganhou espaço nas Leis e Decretos que legislam acerca da Educação Física e Desportos, reforçadas pelos pareceres de um dos Patronos da Educação Física Brasileira: “Rui Barbosa”, que, naquela época, buscava chamar atenção para os valores que a atividade física podia desenvolver. Diante desse significativo apelo e da mobilização social desencadeada, assistiu-se em 1851, a promulgação da lei nº 630 que incluía a ginástica nos currículos escolares no Brasil. De acordo com o autor, foi desse modo que a Educação Física brasileira transpôs os muros da escola trazendo características da ideologia positivista. Este caráter militarista perdurou durante as quatro primeiras décadas do século XX, valorizando a educação do físico e da saúde corporal. Percebe-se uma forte influência dos métodos ginásticos trazidos pelos professores de Educação Física europeus que apresentavam uma rígida formação militar. De acordo com Resende (1994), a ginástica militar, enquanto conteúdo da Educação Física escolar começa a se dissipar, dando lugar aos esportes. Para Assis de Oliveira (2001), a influência do esporte na Educação Física se dá após a segunda guerra mundial, fortalecida pela ditadura militar que em seus objetivos incluía o desenvolvimento das aptidões físicas pela execução mecânica de exercícios de alto rendimento. Dessa forma, o aluno era visto como um atleta em potencial e as aulas de Educação Física deveriam desenvolver a qualidade e performance dos movimentos. No ESPORTIVISMO, os objetivos e a metodologia assemelhavam-se mais a um treinamento, centrando-se nas repetições para a aquisição da técnica (forma de executar o movimento), visando atingir um padrão de rendimento máximo. Assim, as informações técnicas eram exaltadas em contrapartida às reflexões sóciohistóricas, que ficavam em segundo plano. É importante salientar que estas considerações também eram inerentes às outras áreas (disciplinas), não só à Educação Física. Por conseguinte, o papel da Educação Física Escolar era o de aprimorar a potencialidade dos alunos / atletas, com ênfase na aprendizagem esportiva visando rendimento, sem, entretanto, abandonar os modelos anteriores do higienismo e militarismo. Daí a forte presença da aprendizagem do modelo esportivo no imaginário da Educação Física até os dias de hoje. O papel do professor é semelhante ao do técnico, do treinador e o do aluno, ao de atleta (SOARES et al., 1992). Infelizmente esta tendência foi muito intensa e está presente até hoje nas aulas Educação Física Escolar e nas concepções dos professores. Segundo Darido (2003) a partir do final da década de 70, surgem novas concepções pedagógicas na Educação Física Escolar. Um fator importante para o surgimento das novas concepções na área foi a valorização dos conhecimentos científicos, que se deu principalmente com a volta de vários professores que se especializaram nos principais centros de pesquisa no exterior e retornam ao país como doutores, com uma nova visão a respeito dos objetivos da Educação Física na escola. 1 BROUCO, G. R.; DARIDO, S.C. as diferentes tendências pedagógicas da educação física. I - Educação Física Escolar: tendências pedagógicas da educação física escolar. Apostila gerada especialmente para: JoãoVítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 2 A partir dos anos 80, cresce uma forte necessidade de rompimento com a forma da execução da Educação Física no passado, negando as concepções (tradicionais) anteriores dando origem ao movimento autodenominado “renovador” (RESENDE, 1994). Entre as teorias que apresentam propostas para a superação e rompimento do modelo mecanicista/esportivista/tradicional, as que se tornaram mais conhecidas foram: a psicomotricidade, a desenvolvimentista, a construtivista, a crítico-superadora e a crítico-emancipatória (DARIDO, 2003). No mesmo sentido a proposta contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais –PCNs, documentos criados na década de 90, pelo Ministério da Educação – MEC é apresentado como fonte orientadora das práticas pedagógicas dos professores na escola. Essas concepções, surgidas em contraposição à vertente tradicional, foram denominadas tendências pedagógicas “Renovadoras”, e emergiram da articulação entre as diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. A PSICOMOTRICIDADE, que tem como seu principal autor/pesquisador o estudioso francês, Jean Le Boulch, abordando o fato de que a atividade motora está diretamente relacionada aos aspectos psicológicos (emocionais e cognitivos) do indivíduo. Para o autor, há uma relação de interdependência entre essas áreas. Segundo Darido (2004) a psicomotricidade também é utilizada pela Psicologia, Pedagogia, Psiquiatria e Neurologia, sendo que na Educação Física ganhou força e influência somente nas décadas de 70 e 80. Já a DESENVOLVIMENTISTA, também surgida nos anos 80, destina-se principalmente às crianças de quatro a quatorze anos, defende que as aulas de Educação Física promovam a aquisição de habilidades motoras, como andar, correr, saltar, arremessar, rolar, respeitando certos padrões apontados como ideais para cada faixa etária e que serão úteis ao longo da vida do aluno. Destaca-se como principal obra desta tendência, “Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista” (TANI et al., 1988). Os autores ressaltam que não se deve defender a Educação Física como meio de solucionar os problemas de cunho social do Brasil, mas sim privilegiar nas aulas de Educação Física a aprendizagem do movimento para obtenção e desenvolvimento das habilidades motoras. Abordando-se a Tendência INTERACIONISTA CONSTRUTIVISTA, constata-se a influência da Psicomotricidade, tanto na busca da formação integral, com a inclusão das dimensões afetivas, cognitivas ao movimento humano, como na discussão sobre o papel da Educação Física na escola. E assim como a psicomotricidade, tem uma proposta de ensino principalmente voltada para crianças na faixa etária até os 10-11 anos, ou seja, dentro dos primeiros ciclos do Ensino Fundamental. O principal representante desta concepção no Brasil é o professor João Batista Freire e a obra de maior expressão ”Educação de corpo inteiro – Teoria e prática da Educação Física” (FREIRE, 1989). Ele defende nesta obra a idéia de que a escola não pode se ater somente às capacidades cognitivas da criança, mas ao corpo como um todo. Uma das principais abordagens da Educação Física Escolar que também se opõe ao modelo mecanicista / esportivista, surge embasada filosoficamente no Marxismo e denominada CRÍTICO- SUPERADORA. Segundo Soares et al. (1992) a tendência Crítico-Superadora é diagnóstica, por que pretende ler os dados da realidade, interpretá-los e emitir um juízo de valor especifica, e trabalha pedagogicamente com a reflexão. A Educação Física escolar nesta visão aborda os esportes, as danças, as lutas, as ginásticas e os jogos, como parte de um conhecimento da cultura corporal do movimento, que devem abranger temas da cultura corporal, sempre ligados à realidade social a que estão inseridos. O professor tem o papel de orientar a leitura da realidade, por intermédio dos temas (reais) da cultura corporal inserido em suas aulas, e o aluno de maneira crítica, poderá constatar, interpretar, compreender e explicar a mesma. O marxismo também dá suporte filosófico à Tendência CRITICO-EMANCIPATÓRIA, sendo uma das principais obras o livro Transformação Didático – Pedagógica do Esporte, escrito em 1994 pelo professor Elenor Kunz, seu principal defensor. De acordo com Assis de Oliveira (2001) apud Kunz (1994) o nascimento desta proposta pedagógica deu-se em virtude da falta de propostas teórico-práticas em nível do desenvolvimento concreto na realidade escolar, surgindo com propósito de acrescentar aos avanços das reflexões / produções didático- pedagógicas da Educação Física escolar. Nesta concepção o principal conteúdo na Educação Física escolar é o Esporte, pedagogicamente desenvolvido de maneira reflexiva, voltado à formação de um aluno crítico e emancipado. Kunz (2001) salienta que pode-se entender por emancipação, um processo contínuo de libertação do aluno, das condições limitantes de suas capacidades racionais críticas e até mesmo o seu agir no contexto sociocultural e esportivo. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 3 Kunz (2001) critica o livro Metodologia do Ensino da Educação Física (Soares et al., 1992), por “intransparência metodológica” no ensino da Educação Física, pois não esclarece como relacionar o conhecimento com a prática, ou seja, por não explicitar qual o conhecimento que os alunos devem adquirir para criticar e compreender o esporte, indo além da simples prática. Esta tendência pode ser compreendida como um agir comunicativo, ou seja, proporciona ao aluno o desenvolvimento de uma capacidade consciente de questionamento e argumentação acerca dos temas abordados nas aulas. No decorrer das décadas de 1980 e 1990 ocorreu um embate político na construção de políticas educacionais que culminou com a LDBEN e nos desdobramentos desta, não colocando um ponto final nesse embate, mas sim redimensionando-os (CAPARROZ, 2003). Um destes desdobramentos são os PCNS – PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. A construção dos PCNs se pautou na perspectiva de compreender o texto como uma tentativa de síntese propositiva de inserção da Educação Física no currículo escolar. Os interrogantes que guiaram o estudo foram: o entendimento do que é Educação Física; a concepção de corpo e movimento e os conteúdos e objetivos [...] (CAPARROZ, 2003). Segundo Darido (2004) estes documentos objetivam subsidiar a versão curricular dos Estados e municípios respeitando e empregando comumente as experiências já existentes, por meio de reflexões e discussões internas de cada escola (de acordo com suas realidades sociais) elaborando projetos, dando sustentação a prática pedagógica dos professores. Segundo Darido et al. (2001) os PCNs elegem a cidadania como eixo norteador trabalhando valores como respeito mútuo, dignidade, solidariedade; valorizam a pluralidade da cultura corporal. Propõe a utilização de hábitos saudáveis; analisa criticamente os padrões de estética e beleza apresentados pela mídia e impregnados em nossa sociedade; além de reivindicar espaços apropriados para prática de lazer e atividades corporais. E, por conseguinte, proporcionam aportes relevantes como: princípio da inclusão (escola dirigida a todos sem discriminação), as dimensões dos conteúdos (atitudinais, conceituais e procedimentais) e os temas transversais (Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural,Orientação Sexual e Trabalho e Consumo). Ainda de acordo com a autora, embora as abordagens contenham enfoques diferenciados entre si, com pontos muitas vezes divergentes, tem em comum a busca de uma Educação Física que articule as múltiplas dimensões do ser humano. Esse fato fez emergir, nos últimos 20 anos, novos olhares e novas reflexões acerca do modus operanti das práticas pedagógicas dos professores de Educação Física e também refletiu nos processos de seleção para provimento de vagas nas redes de ensino de todo país. Conteúdos de ensino da educação física escolar O componente curricular, Educação Física, abrange os seguintes conteúdos de forma progressiva e por níveis de complexidade: jogos, brincadeiras, atividades esportivas, atividades rítmicas e expressivas, ginásticas, danças, lutas e conhecimentos sobre seu próprio corpo. Para o ensino e a aprendizagem de cada um desses conteúdos é essencial considerar as abordagens: Procedimental (fazer) sem restringir somente ao entendimento/desenvolvimento de habilidades motoras e dos fundamentos do esporte, mas também incluir a organização, sistematização de informações, aperfeiçoamento, entre outros; Conceitual (conhecimentos teóricos, conceitos e fatos) que além da reflexão sobre o conhecimento das regras, táticas e dados históricos, devem abordar conceitos sobre ética, estética, desempenho, satisfação, eficiência, entre outros e; Atitudinal (valores, atitudes e normas) que expressam o próprio objeto de ensino e aprendizagem por meio das experiências vivenciadas pelos alunos, contribuindo para a construção de posturas responsáveis perante si e os outros (PCNs, 1998). Para garantir a efetivação dos conteúdos é necessário um planejamento que considere as diferentes fases do desenvolvimento e o grau de complexidade das atividades propostas, além de reconhecer que ao chegar à escola o aluno já traz um repertório de movimentos, resultante das suas experiências de vida. É fundamental, portanto, incluir nos conteúdos de ensino, não obstante os descritos anteriormente, questões e temas transversais importantes para a formação como cidadania, saúde e qualidade de vida, meio ambiente, violência, diversidade cultural, novas tecnologias, entre outros. Ainda sobre os conteúdos de ensino da Educação Física, deve-se observar sua abrangência em relação às expectativas/direitos de aprendizagem, considerando-se sua relevância social e cultural; a formação intelectual e potencialidade do aluno para a construção de competências; o estabelecimento de conexões interdisciplinares e contextualizações, além da acessibilidade e adequação aos interesses da faixa etária, tais como: Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 4 Em relação ao esporte O esporte é um fenômeno social em expansão no mundo contemporâneo. Tomou dimensões sociais que buscam atender não somente à performance, mas à educação e ao lazer. Portanto, a importância do esporte na sociedade pode ser evidenciada pela sua capacidade de produzir satisfação e prazer, além do seu caráter político-participativo e transformador. Desse modo, cabe à Educação Física escolar o importante papel de disseminadora dos seguintes conteúdos: - Conhecer aspectos históricos, geográficos e políticos do esporte e para desporto enquanto elementos da cultura humana; - Relacionar aspectos do esporte com os jogos; - Vivenciar aspectos básicos dos fundamentos (movimentos + regras) de esportes coletivos e individuais trabalhados como conteúdo específico; - Compreender as diferenças entre esporte de rendimento, esporte como lazer e esporte como meio para promoção da saúde; - Conhecer as características dos esportes e sua relação com o ambiente; - Identificar, analisar e compreender a influência da mídia nos esportes; - Conhecer o contexto social e econômico de diferentes esportes; - Compreender as dimensões do esporte e suas relações no âmbito da escola e fora dela; - Identificar e interpretar o esporte e sua apropriação pela indústria cultural; - Compreender as relações entre esporte e trabalho; - Conhecer os processos de organização de eventos esportivos e sistemas de disputas; - Compreender o fenômeno esportivo e aspectos relativos à competição esportiva; - Ressignificar as práticas esportivas, considerando as limitações físicas e intelectuais das pessoas com deficiência. Em relação aos jogos e brincadeiras As estratégias lúdicas favorecem o processo de aprendizagem, obtendo-se a atenção do aluno na execução do movimento de forma prazerosa, sem, no entanto, desconsiderar que, além da brincadeira, proporciona um momento de interação social e cultural. Por outro lado, observa-se que atualmente os jogos eletrônicos tornaram-se meios lúdicos de forte adesão, em substituição aos jogos e brincadeiras tradicionais. Portanto, o professor contemporâneo tem o grande desafio de resgatar os jogos e brincadeiras tradicionais, incorporando concomitantemente as novas tecnologias dos games por meio das seguintes estratégias: - Conhecer a origem dos jogos, brincadeiras e cantigas de roda, trabalhados como conteúdo específico; - Vivenciar experiências de criação e recriação dos jogos e brincadeiras; - Apropriar-se da flexibilização quanto às regras oferecidas nos jogos, vivenciando, experimentando e criando diferentes formas de jogar; - Reconhecer e apropriar-se dos jogos considerando: o outro, seus objetivos, resultados, consequências e motivações; - Construir o conhecimento por meio dos jogos e brincadeiras tradicionais, bem como dos jogos atuais; - Conhecer as novas tecnologias de jogos eletrônicos, refletindo sobre as possibilidades de contribuição para o processo ensino/aprendizagem. Em relação à ginástica Na atualidade, a ginástica tem sido pouco praticada no ambiente escolar. Essa preocupação é corroborada por vários estudiosos sobre a temática da Educação Física. Para tanto, é necessário um novo olhar no sentido de reposicioná-la a partir de uma nova perspectiva teóricometodológica, que amplie o leque de possibilidades vivenciais e corporais, uma vez que a ginástica é um importante fio condutor de manifestações culturais, na medida em que permite ao aluno experimentar, conhecer, problematizar e compreender seus próprios limites e criar alternativas de superação. Portanto, a ginástica deve abordar os seguintes temas: - Conhecer o contexto histórico-conceitual da ginástica (métodos e modalidades); - Conhecer e vivenciar as modalidades de ginástica; - Identificar as modalidades de ginástica e seu desenvolvimento até os dias atuais; - Vivenciar movimentos de transferência de peso, deslocamento, salto, giro, torção, equilíbrio, desequilíbrio, inclinação, expansão, contração, entre outros; Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 5 - Reconhecer a influência da mídia nos padrões de comportamento do/no corpo; - Identificar e compreender a influência da mídia, ciência e indústria cultural nas práticas corporais; - Aplicar conteúdos nos quais os alunos vivenciem e aprendam a executar elementos referentes à ginástica; - Propor conteúdos que abordem a cooperação, a participação e a inclusão. Em relação à dança A dança, uma das principais expressões corporais, favorece o desenvolvimento de habilidades e harmonização entre o corpo e a mente. Essa linguagem corporal é um relevante instrumento educativo, pois possibilita o reconhecimento do potencial do aluno de forma lúdica, criativa e prazerosa por meio do movimento. Nessa perspectiva, devem-se considerar os seguintes fatores: - Conhecer o conceito, contexto e origem da dança; - Conhecer os aspectos culturais atrelados à origem eà permanência das danças folclóricas; - Vivenciar os movimentos básicos das danças trabalhadas como conteúdo específico; - Ampliar repertório pessoal de movimentos; - Experimentar formas variadas de se mover; - Vivenciar experiências de criação e recriação da dança; - Reconhecer e inovar movimentos; - Conhecer e compreender a dança como manifestação cultural; - Conhecer e compreender elementos estéticos; - Identificar e compreender a influência da mídia, ciência e indústria cultural no âmbito da dança; - Vivenciar processos coreográficos, elaboração e produção; - Compreender aspectos relativos a apresentações, festivais e concursos de dança. Em relação às lutas Esse conteúdo da Educação Física escolar está presente no cotidiano social de forma concreta, sobretudo pelo forte apelo midiático das lutas de competição. Nesse contexto, emerge um grande leque de oportunidades para o desenvolvimento de valores, potencialidades, limites e disciplina, além de manifestações socioculturais que permitem ao aluno vivenciar experiências motoras, contato corporal, elaboração de estratégias e troca de informações. Para tanto, propõe-se: - Conhecer os aspectos históricos, filosóficos e origem das lutas trabalhadas como conteúdo específico; - Apresentar os diversos tipos de lutas e seus desdobramentos na atualidade; - Vivenciar movimentos característicos das lutas trabalhadas em outras práticas corporais; - Vivenciar as relações corporais consigo mesmo e com o outro; - Diferenciar formas de apresentação das lutas; - Identificar e compreender a influência da mídia, ciência e indústria cultural no âmbito das lutas; - Vivenciar modalidades e características peculiares de diferentes lutas; - Compreender aspectos relativos a apresentações, festivais e competições de lutas; - Ampliar repertório pessoal de movimentos. Educação “corporal” no âmbito da educação física2 Neste primeiro item, desejamos apresentar as categorias e as problematizações básicas que orientaram nossas reflexões sobre o tema. Elas são derivadas de questões como: do ponto de vista educativo, o que tem significado a educação “corporal”? Que tipo de educação “corporal” a escola e a educação física vêm realizando? Por que surge o interesse pela educação “corporal” (também na escola) e quais suas determinações sócio-históricas? A utilização de aspas na expressão educação “corporal” fornece uma pista de uma das questões que pretendemos colocar. A tradição racionalista ocidental tornou possível falar confortavelmente da possibilidade de uma educação intelectual, por um lado, e de uma educação física ou corporal, por outro, quando não de uma terceira educação, a moral – expressão da razão cindida das três críticas de I. Kant, filósofo que, não obstante, segundo Welsch, preocupou-se intensamente com as mediações entre as diferentes dimensões da racionalidade. Essas educações teriam alvos, objetos bem distintos: o espiritual ou mental (o intelecto), por um lado, e o corpóreo ou físico, por outro, resultando da soma a educação 2 BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes. v. XIX, n. 48, p. 69-88, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/ccedes/v19n48/v1948a05.pdf > Acesso em: 23 out. 2015. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 6 integral (educação intelectual, moral e física). É claro, o alvo era ou é o comportamento humano, mas influenciá-lo ou conformá-lo pode ser alcançado pela ação sobre o intelecto e sobre o corpo. Também na melhor tradição ocidental, a educação “corporal” vai pautar-se pela ideia, culturalmente cristalizada, da superioridade da esfera mental ou intelectual – a razão como identificadora da dimensão essencial e definidora do ser humano. O corpo deve servir. O sujeito é sempre razão, ele (o corpo) é sempre objeto; a emancipação é identificada com a racionalidade da qual o corpo estava, por definição, excluído. A esse respeito, assim se expressa Santin: A racionalidade foi proclamada como a especificidade exclusiva e única das dimensões humanas. O humano do homem ficou enclausurado nos limites da racionalidade. Ser racional e ter o uso da razão constituíram-se nos únicos pressupostos para assegurar os plenos direitos de pertencer à humanidade. Ou, como afirma Gil em seu brilhante Monstros, referindo-se à visão de corpo-máquina: Deu-se uma transferência dos poderes do corpo para o espírito: de nada serve ao corpo estar substancialmente unido ao espírito (e, assim, tornar-se vivo e indivisível), é este último que define a sua natureza humana. Doravante, o único defeito do corpo é poder levar a alma a enganar-se. As teorias ou metanarrativas que circunstanciam o projeto da modernidade e que projetavam perspectivas para a humanidade não reservavam ao corpo (a seus desejos, suas fantasias etc.) papel central. Não lhe atribuíam papel importante para a construção de uma prática emancipatória, como também nenhum papel subversivo. A emancipação humana (iluminista) dar-se-ia pela razão, pela consciência desencarnada. As teorias da consciência, mesmo as de orientação positivista, são mentalistas – vai ser a psicanálise, que não casualmente não goza de grande prestígio acadêmico, que colocará o corpóreo, a dimensão não-racionalizada, como elemento importante para o entendimento das ações humanas. Nas teorias do conhecimento da modernidade, que têm sua expressão máxima no chamado método científico (a ciência moderna), o corpo ou a dimensão corpórea do homem aparece como um elemento perturbador que precisa ser controlado pelo estabelecimento de um procedimento rigoroso. Para Veiga Neto, se existe alguma culpa na ciência ou na racionalidade moderna, ela se situa na divisão entre res estensa e res cogitans, pois essa separação fundamentou o nosso afastamento em relação ao resto do mundo. Esse afastamento, segundo o autor, deixa-nos sem compromisso com o destino de tudo o que nos cerca, incluindo aí os outros homens e mulheres. Tal separação está na base da ideia do controle racional do mundo. Tanto as teorias da construção do conhecimento como as teorias da aprendizagem, com raras exceções, são desencarnadas – é o intelecto que aprende. Ou então, depois de uma fase de dependência, a inteligência ou a consciência finalmente se liberta do corpo. Inclusive as teorias sobre aprendizagem motora são em parte cognitivistas. O papel da corporeidade na aprendizagem foi historicamente subestimado, negligenciado. Hoje é interessante perceber um movimento no sentido de recuperar a “dignidade” do corpo ou do corpóreo no que diz respeito aos processos de aprendizagem. Isso acontece, curiosamente, por intermédio dos desenvolvimentos nas ciências naturais. Mas claro que esse entendimento de ser humano tem bases concretas na forma como o homem vem produzindo e reproduzindo a vida. Nesse sentido, o corpo sofre a ação, sofre várias intervenções com a finalidade de adaptá-lo às exigências das formas sociais de organização da produção e da reprodução da vida. Alvo das necessidades produtivas (corpo produtivo), das necessidades sanitárias (corpo “saudável”), das necessidades morais (corpo deserotizado), das necessidades de adaptação e controle social (corpo dócil). O déficit de dignidade do corpo vinha de seu caráter secundário perante a força emancipatória do espírito ou da razão. Mas esse mesmo corpo, assim produzido historicamente, repunha a necessidade da produção de um discurso que o secundarizava, exatamente porque causava um certo mal-estar à cultura dominante. Ele precisa, assim, ser alvo de educação, mesmo porque educação corporal é educação do comportamento que, por sua vez, não é corporal, e sim humano. Educar o comportamento corporal é educar o comportamento humano. Mas vejamos na trajetóriadas diferentes construções históricas da educação física (EF) como esse entendimento de corpo e de educação corporal se concretizou. Antes é imprescindível fazer uma observação quanto a um equívoco que grassa no âmbito da educação física. Trata-se do entendimento de que a educação corporal ou o movimento corporal é atribuição exclusiva da educação física. Sem dúvida, à educação física é atribuída uma tarefa que envolve as atividades de movimento que só pode ser corporal, uma vez que humano. No entanto, a educação do comportamento corporal, porque humano, acontece também em outras instâncias e em outras disciplinas escolares. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar . 7 Contudo, neste texto vou me concentrar na contribuição da disciplina educação física (EF) para a “educação corporal” que acontece na escola, portanto, na construção das teorias pedagógicas da EF. Mas é importante observar que na instituição escolar o termo disciplina envolve um duplo aspecto: por um lado, a dimensão das relações hierárquicas, observância de preceitos, normas, da conduta do corpo; por outro, os aspectos do conhecimento propriamente dito. Portanto, a escola promove a “educação corporal”. Nos dizeres de Faria Filho: “Assim como a escola ‘escolarizou’ conhecimentos e práticas sociais, buscou também apropriar-se de diversas formas do corpo e constituir uma corporeidade que lhe fosse mais adequada”. Esse aspecto reveste-se de importância, uma vez que o tratamento do corpo na EF sofre influências externas da cultura de maneira geral, mas também internas, ou seja, da própria instituição escolar. Da origem médica e militar à esportivização A constituição da educação física, ou seja, a instalação dessa prática pedagógica na instituição escolar emergente dos séculos XVIII e XIX, foi fortemente influenciada pela instituição militar e pela medicina. A instituição militar tinha a prática — exercícios sistematizados que foram ressignificados (no plano civil) pelo conhecimento médico. Isso vai ser feito numa perspectiva terapêutica, mas principalmente pedagógica. Educar o corpo para a produção significa promover saúde e educação para a saúde (hábitos saudáveis, higiênicos). Essa saúde ou virilidade (força) também pode ser (e foi) ressignificada numa perspectiva nacionalista/patriótica. Há exemplos marcantes na história desse tipo de instrumentalização de formas culturais do movimentar-se, como, por exemplo, a ginástica: Jahn e Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e Getúlio Vargas e seu Estado Novo no Brasil. Esses movimentos são signatários do entendimento de que a educação da vontade e do caráter pode ser conseguida de forma mais eficiente com base em uma ação sobre o corpóreo do que com base no intelecto; lá, onde o controle do comportamento pela consciência falha, é preciso intervir no e pelo corpóreo (o exemplo mais recente é o movimento carismático da Igreja Católica no Brasil – a aeróbica do Senhor). Normas e valores são literalmente “incorporados” pela sua vivência corporal concreta. A obediência aos superiores precisa ser vivenciada corporalmente para ser conseguida; é algo mais do plano do sensível do que do intelectual. O corpo é alvo de estudos nos séculos XVIII e XIX, fundamentalmente das ciências biológicas. O corpo aqui é igualado a uma estrutura mecânica – a visão mecanicista do mundo é aplicada ao corpo e a seu funcionamento. O corpo não pensa, é pensado, o que é igual a analisado (literalmente, “lise”) pela racionalidade científica. Ciência é controle da natureza e, portanto, da nossa natureza corporal. A ciência fornece os elementos que permitirão um controle eficiente sobre o corpo e um aumento de sua eficiência mecânica. Melhorar o funcionamento dessa máquina depende do conhecimento que se tem de seu funcionamento e das técnicas corporais que construo com base nesse conhecimento. Assim, o nascimento da EF se deu, por um lado, para cumprir a função de colaborar na construção de corpos saudáveis e dóceis, ou melhor, com uma educação estética (da sensibilidade) que permitisse uma adequada adaptação ao processo produtivo ou a uma perspectiva política nacionalista, e, por outro, foi também legitimado pelo conhecimento médico-científico do corpo que referendava as possibilidades, a necessidade e as vantagens de tal intervenção sobre o corpo. Como lembra Le Breton, a medicina representa, em nossas sociedades, um saber em alguma medida oficial sobre o corpo. Mas novamente esse entendimento vai se alterar e mais uma vez em consonância com alterações de ordem mais geral, ou seja, da forma como se produz e reproduz a vida, portanto, de mudanças históricas. Foucault identifica uma mudança importante da ação do poder ou do envolvimento do corpo pelos/nos micropoderes. Paulatinamente no século XX saímos de um controle do corpo via racionalização, repressão, com enfoque biológico, para um controle via estimulação, enaltecimento do prazer corporal, com enfoque psicológico. Muitos estudos citam a década de 1960 como o momento mais importante dessa inflexão. Voltaremos a isso mais adiante. Outro fenômeno muito importante para a política do corpo foi gestado e adquiriu grande significação social nesse período histórico (séculos XIX e XX). Essa prática corporal, a esportiva, está desde cedo muito fortemente orientada pelos princípios da concorrência e do rendimento. Este último aspecto ou esta última característica é comum a outra técnica corporal incentivada pelos filantropos e pela medicina na Europa continental que é a ginástica. Aumento do rendimento atlético-esportivo, com o registro de recordes, é alcançado com uma intervenção científico-racional sobre o corpo que envolve tanto aspectos imediatamente biológicos, como aumento da resistência, da força etc., quanto comportamentais, como hábitos regrados de vida, respeito às regras e normas das competições etc. Treinamento esportivo e ginástica promovem a aptidão física e suas consequências: a saúde e a capacidade de Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 8 trabalho/rendimento individual e social, objetivos da política do corpo. A ginástica é parte importante do movimento médico-social do higienismo, como mostrou Soares. Interessante observar que Foucault, quando perguntado sobre quem coordena a ação dos agentes da política do corpo, afirma que é “um conjunto extremamente complexo (...). Tomemos o exemplo da filantropia no início do século XIX: pessoas que vêm se ocupar da vida dos outros, de sua saúde, da alimentação, da moradia... Mais tarde, dessa função confusa saíram personagens, instituições, saberes... uma higiene pública, inspetores, assistentes sociais, psicólogos. E hoje assistimos a uma proliferação de categorias de trabalhadores sociais”. Entre estes, seguramente podemos situar os professores de EF. Interessante observar que a adesão ao esporte na Inglaterra puritana, segundo Grieswelle, deveu-se também ao fato de este ter incorporado o princípio do rendimento que o aproximou da ética do trabalho, propiciando inclusive a construção do conceito de “Cristandade Muscular”. Courtine mostra de forma brilhante como o puritanismo absorve esse tipo de prática corporal nos Estados Unidos, conferindo-lhe um significado coerente com a doutrina religiosa e com os valores culturais dominantes. A emergência do esporte após a Guerra Civil ocorreu sobre o pano de fundo de um individualismo disciplinado, exigindo auto sacrifício e devotamento a uma causa comum. A ética puritana do trabalho tinha se infiltrado profundamente nas práticas esportivas, como se a utilidade social destas práticas devesse ser julgada apenas de acordo com seu critério. Entretanto, no final do século XIX,esta lógica de organização racional e de ordem moral já estava em declínio. Durante as primeiras décadas deste século, ela foi sendo progressivamente substituída por uma concepção um tanto diferente das finalidades da cultura física. O espírito de competição, o desejo de vencer tinham, mais ainda que no passado, sido investidos pelo esporte, ao mesmo tempo em que invadiam o sentimento de que se podia legitimamente buscar no exercício muscular uma gratificação pessoal e um prazer do corpo. Um cuidado com o bem- estar individual aparece nas críticas da ética puritana formuladas desde então. Reprova-se essa ética por investir a totalidade da energia do indivíduo americano em fins puramente utilitaristas, por exprimir e mesmo reforçar um medo do prazer. É claro que o esporte, assim como a ginástica, é um fenômeno polissêmico, ou seja, apresenta vários sentidos/significados e ligações sociais. Por exemplo, o movimento olímpico permitiu conferir, pela categoria política da nação, um significado mais imediatamente político aos resultados esportivos, o qual é incorporado à política do corpo mais geral, com as repercussões que todos conhecemos na educação física. Chamo aqui a atenção para a combinação de dois fatores, e para o fato de que o esporte passa a substituir, com vantagens, a ginástica como técnica corporal que corporifica/condensa os princípios que precisam ser incorporados (no duplo sentido) pelos indivíduos. A pedagogia da EF incorporou, sem necessidade de mudar seus princípios mais fundamentais, essa “nova” técnica corporal, o esporte, agregando agora, em virtude das intersecções sociais (principalmente políticas) desse fenômeno, novos sentidos/significados, como, por exemplo, preparar as novas gerações para representar o país no campo esportivo (internacional). Tal combinação de objetivos fica muito clara no conhecido Diagnóstico da Educação Física/Desportos, realizado pelo governo brasileiro e publicado em 1971. Como os princípios eram os mesmos e o núcleo central era a intervenção no corpo (máquina) com vistas ao seu melhor funcionamento orgânico (para o desempenho atlético-esportivo ou desempenho produtivo), o conhecimento básico/privilegiado que é incorporado pela EF para a realização de sua tarefa continua sendo o que provém das ciências naturais, mormente a biologia e suas mais diversas especialidades, auxiliadas pela medicina, como uma de suas aplicações práticas. Os anos 80 e a crítica ao “paradigma da aptidão física e esportiva” O paradigma que orientou a prática pedagógica em EF descrito no item anterior esteve presente desde a origem e durante a implementação no Brasil, e foi revitalizado pelo projeto de nação da ditadura militar que aqui se instalou a partir de 1964. Pelo Diagnóstico da EF/Desportos, anteriormente citado, e pelos documentos da política de desenvolvimento dos esportes e da educação, aliás, extremamente abundantes nesse período, fica claro que a EF (no sentido lato) possuía um papel importante no projeto de Brasil dos militares, e que tal importância estava ligada ao desenvolvimento da aptidão física e ao desenvolvimento do desporto: a primeira, porque era considerada importante para a capacidade produtiva da nação (da classe trabalhadora) – ver a esse respeito Gonçalves –, e o segundo, pela contribuição que traria para afirmar o país no concerto das nações desenvolvidas (Brasil potência) e pela sua contribuição para a primeira, ou seja, para a aptidão física da população. É claro que no percurso da hegemonia desse paradigma ele foi contestado, alternativas foram propostas; no entanto, nada que pudesse abalar seriamente seus princípios. No seio da própria instituição militar, que teve forte influência na trajetória da Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 9 EF brasileira, muitos de seus intelectuais foram influenciados nas décadas de 1920 a 1950 pelo movimento escolanovista e pensaram a educação e a educação física com base nos princípios dessa teoria pedagógica. Neste ponto aproveito para abordar um outro equívoco recorrente na área da EF. O de que o predomínio do conhecimento das ciências naturais, principalmente da biologia e seus derivados, como conhecimento fundamentador da EF, significava a ausência da reflexão pedagógica. Ao contrário, como procurei demonstrar em estudo anterior de Bracht, até o advento das ciências do esporte nos anos 70, o teorizar no âmbito da EF era sobretudo de caráter pedagógico, isto é, voltado para a intervenção educativa sobre o corpo; é claro, sustentado fundamentalmente pela biologia. Falava-se na educação integral (o famoso caráter biopsicossocial), mas como a educação integral não legitima especificamente a EF na escola (ou na sociedade) e sim o seu específico, este era entendido na perspectiva de sua contribuição para o desenvolvimento da aptidão física e esportiva. A entrada mais decisiva das ciências sociais e humanas na área da EF, processo que tem vários determinantes, permitiu ou fez surgir uma análise crítica do paradigma da aptidão física. Mas esse viés encontra-se num movimento mais amplo que tem sido chamado de movimento renovador da EF brasileira na década de 1980. Um primeiro momento dessa crítica tinha um viés cientificista. Por esse viés, entendia-se que faltava à EF ciência. Era preciso orientar a prática pedagógica com base no conhecimento científico, este, por sua vez, entendido como aquele produzido pelas ciências naturais ou com base em seu modelo de cientificidade. O desconhecimento da história da EF fez com que não se percebesse que esse movimento apenas atualizava o percurso e a origem histórica da EF e, portanto, que ele não rompia com o próprio paradigma da aptidão física. Nesse período vamos assistir à entrada em cena também de outra perspectiva que é aquela que se baseia nos estudos do desenvolvimento humano (desenvolvimento motor e aprendizagem motora). O segundo momento vai permitir, então, uma crítica mais radical à EF, como veremos a seguir. A partir da década de 1970, no mundo e no Brasil, passa a constituir-se mais claramente um campo acadêmico na/da EF, campo este que se estrutura a partir das universidades, em grande medida em virtude da importância da instituição esportiva, já em simbiose com a EF. O discurso (neo)cientificista da EF visava também à legitimação desta no âmbito universitário. A educação física, como participante do sistema universitário brasileiro, acaba por incorporar as práticas científicas típicas desse meio. Uma das consequências será a busca de qualificação do corpo docente dos cursos de graduação em programas de pós-graduação, inicialmente no exterior, mas também, e crescentemente, no Brasil. Um grupo desses docentes optou por buscar os cursos de pós- graduação em educação no Brasil. Principalmente com base nessa influência, o campo da EF passa a incorporar as discussões pedagógicas nas décadas de 1970 e 1980, muito influenciadas pelas ciências humanas, principalmente a sociologia e a filosofia da educação de orientação marxista. O eixo central da crítica que se fez ao paradigma da aptidão física e esportiva foi dado pela análise da função social da educação, e da EF em particular, como elementos constituintes de uma sociedade capitalista marcada pela dominação e pelas diferenças (injustas) de classe. Toda a discussão realizada no campo da pedagogia sobre o caráter reprodutor da escola e sobre as possibilidades de sua contribuição para uma transformação radical da sociedade capitalista foi absorvida pela EF. A década de 1980 foi fortemente marcada por essa influência, constituindo-se aos poucos uma corrente que inicialmente foi chamada de revolucionária, mas que também foi denominada de crítica e progressista. Se, num primeiro momento – digamos, o da denúncia –, o movimento progressista apresentava-se bastante homogêneo, hoje, depois de maisde 15 anos de debate, é possível identificar um conjunto de propostas nesse espectro que apresentam diferenças importantes. O quadro das propostas pedagógicas em EF apresenta-se hoje bastante mais diversificado. Embora a prática pedagógica ainda resista a mudanças, ou seja, a prática acontece ainda balizada pelo paradigma da aptidão física e esportiva, várias propostas pedagógicas foram gestadas nas últimas duas décadas e se colocam hoje como alternativas. A seguir apresentamos de forma resumida algumas delas. Uma dessas propostas é a chamada abordagem desenvolvimentista. A sua ideia central é oferecer à criança – a proposta limita-se a oferecer fundamentos para a EF das primeiras quatro séries do primeiro grau – oportunidades de experiências de movimento de modo a garantir o seu desenvolvimento normal, portanto, de modo a atender essa criança em suas necessidades de movimento. Sua base teórica é essencialmente a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, e seus autores principais são os professores Go Tani e Edison de Jesus Manoel, da USP, e Ruy Jornada Krebs, da UFSM. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 10 Observe-se que próxima a essa abordagem podemos colocar a chamada psicomotricidade, ou educação psicomotora, que exerceu grande influência na EF brasileira nos anos 70 e 80. Influência esta que está longe de ter-se esgotado, conforme podemos perceber pela reportagem recente da revista Nova Escola, intitulada “A educação física dá uma mãozinha”, na qual se demonstra como a EF pode auxiliar no ensino de matemática. Essa proposta vem sendo criticada exatamente porque não confere à EF uma especificidade, ficando seu papel subordinado a outras disciplinas escolares. Nessa perspectiva o movimento é mero instrumento, não sendo as formas culturais do movimentar-se humano consideradas um saber a ser transmitido pela escola. A proposta do professor João Batista Freire (Unicamp), embora preocupada com a cultura especificamente infantil, porque fundamentada também basicamente na psicologia do desenvolvimento, pode igualmente ser colocada como próxima às duas anteriores. Talvez devêssemos também fazer menção a um movimento de atualização ou renovação do paradigma da aptidão física, levado a efeito com base no mote da promoção da saúde. Considerando os avanços do conhecimento biológico acerca das repercussões da atividade física sobre a saúde dos indivíduos e as novas condições urbanas de vida que levam ao sedentarismo, essa proposta revitaliza a ideia de que a principal tarefa da EF é a educação para a saúde ou, em termos mais genéricos, a promoção da saúde. As propostas abordadas até aqui têm em comum o fato de não se vincularem a uma teoria crítica da educação, no sentido de fazer da crítica do papel da educação na sociedade capitalista uma categoria central. Esse é o caso de duas outras propostas que vão mais explícita e diretamente derivar-se das discussões da pedagogia crítica brasileira. Uma delas está consubstanciada no livro Metodologia do ensino da educação física, de um coletivo de autores, publicado em 1992. Essa proposta baseia-se fundamentalmente na pedagogia histórico crítica desenvolvida por Dermeval Saviani e colaboradores, e autointitulou-se crítico-superadora. Entende essa proposta que o objeto da área de conhecimento EF é a cultura corporal que se concretiza nos seus diferentes temas, quais sejam, o esporte, a ginástica, o jogo, as lutas, a dança e a mímica. Sistematizando o conhecimento da EF em ciclos (1º - da organização da identidade dos dados da realidade; 2º - da iniciação à sistematização do conhecimento; 3º - da ampliação da sistematização do conhecimento; 4º - do aprofundamento da sistematização do conhecimento), propõe que este seja tratado de forma historicizada, de maneira a ser apreendido em seus movimentos contraditórios. Outra proposta nesse espectro é a que se denomina críticoemancipatória e que tem como principal formulador o professor Elenor Kunz, da UFSC, hoje acompanhado na tarefa por um conjunto de colegas que compõem o Núcleo de Estudos Pedagógicos do Centro de Desportos daquela universidade. As primeiras elaborações do professor Kunz foram fortemente influenciadas pela pedagogia de Paulo Freire. Outra forte influência são as análises fenomenológicas do movimento humano com base, em parte, em MerleauPonty, tomadas de estudiosos holandeses como Gordjin, Tamboer, e também Trebels, este seu orientador no doutorado em Hannover (Alemanha). A proposta de Kunz parte de uma concepção de movimento que ele denomina de dialógica. O movimentar-se humano é entendido aí como uma forma de comunicação com o mundo. Outro princípio importante em sua pedagogia é a noção de sujeito tomado numa perspectiva iluminista de sujeito capaz de crítica e de atuação autônomas, perspectiva esta influenciada pelos estudiosos da Escola de Frankfurt. A proposta aponta para a tematização dos elementos da cultura do movimento, de forma a desenvolver nos alunos a capacidade de analisar e agir criticamente nessa esfera. É imperioso fazer menção também à proposta da concepção de aulas abertas à experiência, tornada conhecida no Brasil pelo professor alemão Reiner Hildebrandt, que foi professor visitante da UFSM. Essa proposta está consubstanciada principalmente em dois livros: um de autoria do professor Hildebrandt em conjunto com seu colega alemão R. Laging; o outro, resultado da divulgação e do trabalho do professor Hildebrandt no Brasil, o qual foi publicado por dois grupos de estudo, o da UFPE e o da UFSM. Trabalhando com a perspectiva de que a aula de EF pode ser analisada em termos de um continuum que vai de uma concepção fechada a uma concepção aberta de ensino, e considerando que a concepção fechada inibe a formação de um sujeito autônomo e crítico, essa proposta indica a abertura das aulas no sentido de se conseguir a coparticipação dos alunos nas decisões didáticas que configuram as aulas. Após esta breve (e insuficiente) descrição das diferentes propostas (não todas) que se colocam como alternativas ao paradigma dominante, gostaria de ressaltar alguns pontos. Para as teorias progressistas da EF citadas (pedagogia crítico-superadora e crítico-emancipatória), as formas culturais dominantes do movimentar-se humano reproduzem os valores e princípios da sociedade capitalista industrial moderna, sendo o esporte de rendimento paradigmático nesse caso. Reproduzi-los Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 11 na escola por meio da educação física significa colaborar com a reprodução social como um todo. A linguagem corporal dominante é “ventríloqua” dos interesses dominantes. Assim, ambas as propostas sugerem procedimentos didático-pedagógicos que possibilitem, ao se tematizarem as formas culturais do movimentar-se humano (os temas da cultura corporal ou de movimento), propiciar um esclarecimento crítico a seu respeito, desvelando suas vinculações com os elementos da ordem vigente, desenvolvendo, concomitantemente, as competências para tal: a lógica dialética para a crítico-superadora, e o agir comunicativo para a crítico-emancipatória. Assim, conscientes ou dotados de consciência crítica, os sujeitos poderão agir autônoma e criticamente na esfera da cultura corporal ou de movimento e também agir de forma transformadora como cidadãos políticos. Vale ressaltar que as propostas buscam ser um “antídoto” para um conjunto de características da cultura corporal ou de movimento atuais que, segundo a interpretação dessas abordagens, por um lado, são produtoras de falsa consciência e, por outro, transformam os sujeitos em objetos ou consumidores acríticos da indústria cultural. Para realizar tal tarefa é fundamentalentender o objeto da EF, o movimentar-se humano, não mais como algo biológico, mecânico ou mesmo apenas na sua dimensão psicológica, e sim como fenômeno histórico-cultural. Portanto, essa leitura ou esse entendimento da educação física só criará corpo quando as ciências sociais e humanas forem tomadas mais intensamente como referência. No entanto, é preciso ter claro que a própria utilização de um novo referencial para entender o movimento humano está na dependência da mudança do imaginário social sobre o corpo e as atividades corporais. Entendo que essa visão do objeto da EF está alcançando uma quase unanimidade na discussão pedagógica desse campo. Os termos cultura corporal, cultura de movimento ou cultura corporal de movimento aparecem em quase todos os discursos, embora lhes sejam atribuídas consequências pedagógicas distintas. Desafios das propostas pedagógicas progressistas da educação física As propostas pedagógicas progressistas em EF deparam com desafios de várias ordens: desde questões relativas à sua implementação, ou seja, de como fazer com que sejam incorporadas pela prática pedagógica nas escolas, até questões mais teóricas que dizem respeito, por exemplo, às suas bases epistemológicas. Um desses desafios é conquistar legitimidade no campo pedagógico. Os argumentos que legitimavam a EF na escola sob o prisma conservador (aptidão física e esportiva) não se sustentam numa perspectiva progressista de educação e educação física, mas, ao que tudo indica, hoje também não na perspectiva conservadora. Parece que a visão neotecnicista (economicista) de educação, que enfatiza a preparação do cidadão para o mercado de trabalho, dadas as mudanças tecnológicas do processo produtivo, pode prescindir hoje da EF e não lhe reserva nenhum papel relevante o suficiente para justificar o investimento público – a revitalização do discurso da promoção da saúde é uma tentativa de setores conservadores de legitimar a EF na escola, mas tem pouca probabilidade de encontrar eco, haja vista a crescente privatização, e individualização, da saúde promovida pelo Estado mínimo neoliberal. Além disso, o crescimento da oferta e do consumo dos serviços ligados às práticas corporais fora do âmbito da escola e do sistema tradicional do esporte – como as escolas de natação, academias, escolinhas de futebol, judô, voleibol etc. – permite o acesso à iniciação esportiva, às atividades físicas, sem depender da EF escolar. Parece-nos mais fácil, paradoxalmente, encontrar argumentos para legitimar a EF (e a educação artística), hoje, na escola, de uma perspectiva crítica de educação. Os argumentos vão na mesma direção do exposto quando apresentamos as propostas progressistas do âmbito da EF. A dimensão que a cultura corporal ou de movimento assume na vida do cidadão atualmente é tão significativa que a escola é chamada não a reproduzi-la simplesmente, mas a permitir que o indivíduo se aproprie dela criticamente, para poder efetivamente exercer sua cidadania. Introduzir os indivíduos no universo da cultura corporal ou de movimento de forma crítica é tarefa da escola e especificamente da EF. Outro ponto que se coloca como um desafio é fazer uma leitura adequada da “política do corpo” (Foucault) ou então de como o “corpo” aparece na atual dinâmica cultural, no sentido mais amplo, com suas intersecções sociais, principalmente na sua função de afirmar, confirmar e reconstruir (porque constantemente contestada) a hegemonia de um projeto histórico, bem como situar o papel da instituição educacional nesse processo. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 12 Embora nossa atenção, como profissionais ligados à EF, esteja mais voltada para a cultura corporal ou de movimento num sentido restrito, para compreender as mudanças que se operam nesse âmbito é preciso analisar também o percurso da “história do corpo”. Podemos constatar, principalmente nas três últimas décadas (a partir dos anos 60), um verdadeiro boom do corpo. Essa (re)descoberta do corpo se dá em várias instâncias e perspectivas e suas razões só podem ser aqui discutidas de forma muito precária. Tal (re)descoberta está presente também no meio acadêmico, onde o corpo passa a ser objeto privilegiado da história, da filosofia, da antropologia, da psicologia da aprendizagem etc. As razões pelas quais o “corpo” – e, por consequência, as práticas corporais – passa a ser objeto digno das diversas disciplinas científicas, objeto de atenção da teoria política às teorias da aprendizagem, são, seguramente, múltiplas e complexas. O que é possível afirmar é que estas estão vinculadas ao novo status social que a cultura ocidental vai conferir ao corpo, principalmente a partir da década de 1960. Sem adotar uma perspectiva internalista nem externalista da história da ciência, é possível dizer que desenvolvimentos internos (conhecimentos do âmbito das ciências cognitivas, da neurofisiologia, da biologia, da filosofia etc.) e externos à ciência (crítica ao caráter repressivo das instituições, a possibilidade da vivência do sexo pelo prazer graças aos avanços da anticoncepção, possibilidades de mercadorização do corpo, o advento da indústria do lazer etc.) levaram a conferir ao corpo ou à dimensão corpórea do homem um significado ou uma importância maior nas teorias explicativas de algumas ciências e a reconhecê-lo como problema ou objeto. Algumas delas possuem importância central para a educação. Refiro-me às teorias da sociologia, da história e da antropologia que enfatizam a importância da ação sobre o corpo como elemento da ordem social, à filosofia, campo em que, depois da crise da razão iluminista (paradigma da consciência), percebe-se a retomada do tema da dimensão não-racional do comportamento humano ou da sua dimensão estética; nas teorias da aprendizagem, o corpo passa a ser reconhecido como sujeito epistêmico, pois, como coloca Assmann, “todo conhecimento é um texto corporal, tem uma textura corporal”. Enfim, como assevera Eagleton, citado por Alves de Lima, “a retomada da importância do corpo foi uma das mudanças mais importantes no pensamento radical presente”. Mas centrando nossa atenção novamente sobre a dinâmica cultural e sobre como a corporeidade nela se apresenta, seria importante perguntar se está se gestando uma nova visão de corpo (um novo significado humano de corpo), uma visão de corpo que efetivamente supere a visão moderna apresentada aqui e que foi (é?) a base da EF moderna. Em que medida as práticas corporais da atual dinâmica cultural ainda são tributárias fiéis daquela visão moderna de corpo? (corpo-máquina, corpo-ter). Se estamos num momento de transição na cultura ocidental – caminhando para uma cultura pós- moderna –, estamos num campo bastante complexo, indefinido, que não admite simplificações – e que por isso mesmo se coloca como desafio. Se adotarmos uma postura mais próxima da perspectiva pós-moderna, como, por exemplo, a de Lipovetsky, tenderemos a responder afirmativamente à primeira questão acima. Viver o corpo com base nos valores do presentismo e do narcisismo, sem culpa, e a pulverização radical dos sentidos/significados dessa vivência seriam indicadores do rompimento com valores próprios da modernidade. Já para Le Breton, hoje realmente há outra visão no discurso que se faz acerca do corpo, há outra visão, outra atenção, normas sociais modificadas. Neste entusiasmo, se mudou o imaginário do corpo, porém sem que se alterasse o paradigma dualista. Pois não poderia existir uma liberação do corpo e sim uma liberação do homem mesmo, isto é, que significasse para o sujeito uma maior plenitude. E isto através de um uso diferente das atividades físicas ou de uma nova aparência. Separar o corpo do sujeito para afirmar a liberação do primeiroé uma figura de estilo de um imaginário dualista. Para o autor, “a paixão pelo corpo modifica o conteúdo do dualismo sem mudar sua forma. Tende a psicologizar o ‘corpo-máquina’, mas esse paradigma mantém sua influência de forma mais ou menos oculta”. O dualismo de que fala Le Breton é o entre homem e corpo (e não mente-corpo), que tem por base o dualismo homem-natureza. A mercadorização do corpo (técnicas corporais, produtos para o corpo etc.) necessita manter a diferenciação homem-corpo, precisa manter a oposição entre o “que corresponde ao corpo e o que corresponde ao inapreensível do homem”. Courtine, analisando o caso dos Estados Unidos, também entende que o momento narcísico do corpo corresponde não a um laisser-aller hedonista, mas a um reforço disciplinar, a uma intensificação dos controles. Ele não corresponde a uma dispersão da herança puritana, mas antes a uma repuritanização dos comportamentos, cujos signos, de modo mais ou menos explícito, multiplicam-se hoje. O desafio se amplia na medida em que essas mudanças ou permanências estão articuladas com as estruturas e os movimentos sócio-históricos mais amplos que são o alvo, em última instância, das pedagogias progressistas. Essas pedagogias se nutrem de um projeto alternativo de sociedade que Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 . 13 precisa se afirmar diante do hoje hegemônico. Daí a importância de uma leitura adequada da realidade que possa se articular com um projeto alternativo realizável. Outro desafio situa-se no plano mais especificamente epistemológico. É sabido que um movimento, muito influente no momento, questiona fortemente a pretensão de verdade da ciência (ou da razão científica), e com isso acaba atingindo o núcleo central da pedagogia crítica que é exatamente sua pretensão de superar, por meio de uma leitura crítica da realidade (do esclarecimento), a ideologia, superar uma visão superficial, distorcida ou falsa da realidade. Não será possível aqui aprofundar a questão. Mas talvez valha a pena reproduzir ainda um comentário de Tomaz T. da Silva, um dos mais importantes teóricos da tradição crítica na educação: “esses questionamentos colocam em questão a própria utilização do termo ‘crítico’ ou pelo menos nos obriga a repensá-lo. Não creio [diz ele] que haja presentemente alguma resposta fácil a esse importante desafio”. É claro que os pontos citados não esgotam a agenda das teorias pedagógicas críticas da educação física, embora já constituam uma pauta bastante volumosa. PROPOSTAS PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL3 A educação nacional tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, prepará-lo para o exercício da cidadania e qualificá-lo para o trabalho. Entre os seus princípios, a Lei preconiza que a educação deve garantir o padrão de qualidade do ensino e propiciar a interação entre educação escolar junto às práticas sociais, estimulando assim, o “aprender a aprender”. Ao referir-se ao pleno desenvolvimento da criança, presumi-se o desenvolvimento global ou integral que contemple os aspectos motores, afetivos, cognitivos e sociais. Priorizar uma educação de corpo inteiro e contemplar as atividades motoras, cujo aluno tem direito é parte das ações de uma educação de qualidade que viabiliza ao educando a possibilidade de expressar suas manifestações, culturais através das diversas áreas do saber. A educação como fenômeno macro, inseparável e articulado à cultura, deve projetar suas ações educacionais atreladas ao contexto social e desta forma relacioná-las ao cotidiano. Nesta perspectiva, as possibilidades de expressão, movimentação, percepção e imaginação vêm propiciar a liberdade e o respeito à diversidade. Neste cenário a Educação Física desponta como instrumento viabilizador desta concepção. Educação Física é um segmento da educação que utiliza as atividades físicas, orientadas por processos didáticos e pedagógicos, com a finalidade do desenvolvimento integral do homem, consciente de si mesmo e do mundo que o cerca. A Educação Física escolar como disciplina sistematizada e regulamentada do componente curricular está apta a contribuir significativamente para o processo de construção dos conhecimentos e formação integral dos alunos. Pautada na autonomia e na emancipação do sujeito ético e moral, atende as novas perspectivas educacionais, que preconizam o acesso e a busca de uma formação mais completa a todas as crianças inseridas no contexto educacional. Nessa dimensão, Daólio pontua que a Educação Física como componente curricular pode ser entendida como uma prática cultural, com uma tradição respaldada em certos valores. Ela ocorre historicamente em um certo cenário, com um certo enredo, que demanda de uma certa expectativa. Ao tomar consciência da relevância desta disciplina, é significativo que os profissionais que atuam nas aulas de Educação Física, defendam os princípios que já estão legitimados nesta área para benefícios propostos, bem como a sociedade em geral deve reivindicar esta prática desenvolvida por um profissional preparado, propiciando uma melhor formação para os futuros cidadãos. Na proposta contida nos Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil, fica evidenciada a exigência de que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos, provenientes das diversas áreas de conhecimento. Este caráter polivalente demanda por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz ao refletir constantemente sobre sua prática, debater com seus pares, dialogar com as famílias e a comunidade e buscar informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crianças, a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. 3 ALBUQUERQUE, D. I. de P. Denise Ivana de. CARVALHO, T. F. de. Abordagem Didático-Pedagógica do Processo Ensino-Aprendizagem da Educação Física Escolar na Educação Infantil e no Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 14 Tais parâmetros são elementos norteadores de uma prática que implica competências, habilidades e conhecimentos específicos, cuja aquisição deveria ser o objetivo central da formação inicial e continuada destes docentes. As discussões e reflexões que cercam a formação profissional atrelada aos professores polivalente e especialista em relação à Educação Física, precisam ser revistas, pois as questões corporativistas e burocráticas do contato com um único professor nas séries iniciais podem engessar a resolução desta problemática. Para Freire, se houver maior seriedade neste país, no que se refere educação, o espaço de trabalho deverá ser daquele que estiver mais bem preparado para ocupá-lo. Nesta perspectiva, cabe aos cursos de formação de professor, rever seus currículos, articulando teoria e prática. Assim no processo de formação, os cursos deveriam ao menos, discutir a importância das práticas corporais para reflexão docente, e organizar-se em torno de eixos articuladores das competências e habilidades que deverão ser demonstradas pelo professor reflexivo, no seu exercício profissional. Para Daólio, são muitas as justificativas dos professores polivalentes para não ministrarem as aulas de Educação Física. Entre elas, estão à consequência de não serem especialistas e a ausência de contato com os conteúdos específicos desta disciplina no seu processo de formação inicial. A cultura da nossa sociedade, relacionada à prática de atividades físicas aumenta as barreiras paralidar com a tradição, de que não há tempo a perder com brincadeiras. Também se acrescenta à crença que a Educação Física não proporciona o pensamento e conhecimento. Estes conceitos são inerentes nos discursos pedagógicos que tratam desta questão. A Educação Física, a partir da revisão do conceito de corpo e considerando a dimensão cultural simbólica a ele inerente, pode ampliar seus horizontes, abandonando a ideia de área que estuda movimento humano, o corpo físico ou o esporte na sua dimensão técnica, para vir a ser uma área que considera o homem eminentemente cultural, contínuo construtor de sua cultura relacionada aos aspectos corporais. As atividades pertinentes à Educação Física se constituem como elementos fundamentais na vivência dos alunos, em interação com valores e conceitos do contexto sociocultural, que proporcionam a possibilidade de comunicação através da linguagem corporal. A propósito de seus objetivos e conteúdos, o processo de ensino e aprendizagem na Educação Física não deve se restringir aos exercícios de certas habilidades e destrezas, mas também a capacidade do indivíduo refletir sobre suas possibilidades corporais, com autonomia, de modo a exercê-las de maneira social e culturalmente significativas. São esses os preceitos da cultura corporal de movimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física, trazem uma proposta que procura democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica da área, buscando, ampliar, de uma visão apenas biológica, para um trabalho que englobe as dimensões afetiva, cognitiva e sociocultural dos alunos. Incorpora de forma organizada, as principais questões que o professor deve considerar no desenvolvimento do seu trabalho, subsidiando as discussões, os planejamentos e avaliações da prática de Educação. O desafio que se apresenta é o de transformar a concepção de Educação Física e seus objetivos em uma cultura corporal capaz de assumir a responsabilidade de formar o cidadão. A concepção de cultura corporal amplia a contribuição para o pleno exercício da cidadania, na medida em que seus conteúdos permitem uma vivência de diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais. Ensino Infantil Caracterização da Criança4 Os primeiros anos de vida da criança são de importância fundamental para o seu desenvolvimento, sendo que a escola irá desempenhar uma função ímpar nesse processo. Para falarmos sobre a criança, faz-se necessário defini-la. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI: “a criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura e um determinado momento histórico”. Borges afirma que a criança é um ser representante do meio no qual está inserida, onde os pais desempenham um papel de extremo poder. São personagens mágicos, que adivinham desejos secretos, 4 MAGALHÃES, J. S.; KOBAL, M. C.; GODOY, R. P. de. Educação Física na Educação Infantil: Uma Parceria Necessária. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2007. Apostila gerada especialmente para: João Vítor de Assis 10518504603 Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar . 15 satisfazem os anseios mais profundos e executam façanhas miraculosas. Quando estávamos vivenciando essa fase, também imaginávamos assim: que nossos pais eram mágicos; nossos brinquedos ganhavam vida durante a noite; e a vida era um grande faz-de-conta; ou seja, éramos ingênuos, iniciando os primeiros contatos com o mundo, que com o passar dos anos se tornaria bastante instável. O período da Infância, segundo Barbanti, é definido por: Período de crescimento, no qual um ser humano se encontra quase inteiramente na dependência dos cuidados dos pais. Vai desde o nascimento até a adolescência. Este período é extremamente dinâmico e rico, no qual o crescimento se faz, concomitantemente, em todos os domínios, e que, segundo os caracteres anatômicos, fisiológicos e psíquicos, se divide em três estágios: primeira infância, de zero a três anos; segunda infância, de três a sete; e a terceira infância, de sete anos até a puberdade. É um período da vida que não é constituído somente por alegria e encantos, como imaginam os adultos. Gradualmente, as crianças percebem e tomam consciência de que elas têm que lutar contra os perigos para alcançarem seus anseios e tê-los satisfeitos. A família representa um papel de fundamental importância ao longo desse período. É dela que os pequeninos devem receber afeto, carinho, estímulos e muita atenção. Os adultos devem buscar participar da vida das crianças, mostrando interesse pelas suas descobertas, questionamentos, dentre outros, porque o desenvolvimento infantil adequado depende da família. Barbosa salienta que: Somos hoje, o espelho dos investimentos que recebemos ontem. Um indivíduo com valores sólidos é invariavelmente o fruto de um longo preparo. A infância tem um papel importante nesse processo. Esses processos são contínuos e interligados, influenciam-se e apresentam ritmos que diferem de indivíduo para indivíduo. Atualmente, os pais não permanecem mais em casa tempo integral para cuidar dos filhos. Nossa sociedade impõe a necessidade de trabalhar para conquistarmos uma vida digna. Portanto, cada vez mais cedo as crianças são colocadas em instituições de Educação Infantil. Esse espaço deve ser o mais acolhedor possível, porque é onde as crianças ficam longe do ambiente familiar. As instituições precisam elaborar sempre um projeto pedagógico, um documento onde os objetivos, valores, filosofia, metas, estejam claros. Kishimoto destaca que deve ser fruto de trabalho coletivo de todos os profissionais, pais e comunidade. Faz-se necessário que os profissionais estudem, procurem saber o que, por que, e para que os conteúdos devem ser desenvolvidos nas aulas. Cada idade tem características únicas e diferentes das outras. Para que o desenvolvimento aconteça da melhor maneira, é de fundamental importância o professor ter consciência plena do processo ensino e aprendizagem. Para uma Compreensão da Educação Física Escolar A Educação Física no Brasil, de sua implantação aos dias atuais, passou primeiramente pelas influências do sistema político brasileiro, seguindo o padrão de políticas internacionais, onde exercia o papel de formar o cidadão forte, com saúde e moralidade cívica, integrado à nação, e o poderio militar se sobressaia como forma de nacionalismo. Nesse período, a Educação Física Escolar preocupou-se com a saúde e a higiene dos escolares, levando à sua concepção biológica, fazendo com que o aluno despertasse para o sentido de saúde, através da criação de hábitos higiênicos, do convívio com a água e exercícios ao ar livre, servindo dessa forma, aos objetivos de grupos interessados em sua implantação. De acordo com os autores citados, seguindo-se a esse período, a Educação Física passa pela ascensão do fenômeno esportivo. Nessa época, a disciplina foi incluída como obrigatória para os cursos de primário a médio até os 18 anos de idade, determinada pela LDB promulgada em 1961. Como afirma Betti a Educação Física recebe nova regulamentação, segundo a qual a “Educação Física, Desportiva e Recreativa” deve integrar como atividade escolar, todos os graus de escolaridade oficial, sendo entendida como atividade, que por seus meios, processos e técnicas deve desenvolver forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do aluno. A partir desse período, a Educação Física Escolar passa a ser objeto de estudos mais aprofundados, seguindo novas concepções, que levam a disciplina ao campo dos domínios motor, cognitivo e afetivo, compreendendo o indivíduo como um todo. Desta forma, ganham força os estudos acadêmicos, surgindo novas concepções de ensino, confirmando as novas
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