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RACIOCÍNIO LÓGICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir as relações de equivalência e implicação lógica. > Distinguir relações de equivalência e implicação lógica. > Usar os conceitos de equivalência e implicação lógica na resolução de pro- blemas. Introdução Uma das aplicações da lógica matemática é na formalização e na justificativa dos elementos do raciocínio empregados em demonstrações e provas de teoremas. No estudo da lógica, as proposições (sentenças/afirmações) assumem valores- -verdade que podem ser verdadeiros ou falsos. Além disso, algumas relações que se estabelecem entre as proposições são muito importantes, como as relações de equivalência e implicação lógica. Na matemática, a equivalência indica que as características das grandezas têm o mesmo valor, como a força ou o peso. Para a lógica, equivalência significa igualdade entre duas proposições, ou seja, que elas têm o mesmo valor-verdade. Neste capítulo, você vai estudar a definição de equivalência e implicação lógica, as diferenças entre as duas e a resolução de problemas relacionados. Relações de equivalência e implicação lógica Cristiane da Silva João Pedro Realce Relações de equivalência e implicação lógica No estudo de lógica proposicional, proposição é uma sentença declarativa, ou seja, que declara um fato. Pode ser verdadeira ou falsa, mas não verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Nesta seção, conheceremos duas relações importantes, denominadas equivalência e implicação lógica. Dizemos que duas proposições p e q são equivalentes quando os resultados de suas tabelas-verdade são iguais, têm os mesmos valores lógicos em cada linha. Segundo Barbosa (2017, p. 65), “A relação de equivalência é entendida sempre que temos duas propo- sições com o mesmo valor lógico. Assim, concluímos que duas proposições são equivalentes quando apresentam a mesma tabela-verdade.” Para dizer que p e q são equivalentes, podemos escrever p ≡ q ou p ⇔ q ou p = q. A dupla negação ~p(~p) é equivalente a p, assim como ~p(p ∨ q) é equivalente a ~p ∧ ~q. Observe: p q p ∨ q ~(p ∨ q) ~p ~(~p) ~q ~p ∧ ~q V V V F F V F F V F V F F V V F F V V F V F F F F F F V V F V V Note que as proposições p e ~(~p) e as proposições ~(p ∨ ~q) e ~p ∧ ~q têm o mesmo valor lógico, apresentando a mesma tabela-verdade e, por- tanto, são equivalentes. Em outras palavras, proposições equivalentes são aquelas que apresentam a mesma sequência de valores na devida coluna da tabela-verdade. Relações de equivalência e implicação lógica2 João Pedro Sublinhado João Pedro Realce João Pedro Realce Outro caso de relação de equivalência pode ser observado ao considerar as proposições p ∧ q e q ∧ p e suas tabelas-verdade: p q p ∧ q q ∧ p V V V V V F F F F V F F F F F F Perceba que as proposições p ∧ q e q ∧ p têm o mesmo valor lógico em sua tabela-verdade, portanto, são equivalentes. Uma relação em um conjunto A é denominada relação de equivalência se for reflexiva, simétrica e transitiva. O exemplo de Rosen (2009) a seguir evidencia essa definição. Exemplo Seja m um inteiro positivo com m > 1, mostre que R = {(a, b) | a ≡ b (mod m)} é uma relação de equivalência no conjunto dos inteiros. Solução Por definição, temos que, se a e b forem números inteiros e m for um número inteiro positivo, então a é congruente a . b módulo m se m divide a – b. Utiliza-se a notação a = b (mod m) para indicar que a é congruente a ab módulo m Portanto: a ≡ b (mod m) se e somente se m divide a – b Note que a – a = 0 é divisível por m, pois 0 = 0. Portanto, a ≡ a (mod m), de modo que a congruência módulo m é reflexiva. Suponha agora que a ≡ b (mod m). Então, a – b é divisível por m, de modo que a – b = km, em que k é um inteiro. Segue que b – a = (–k)m, de modo que b ≡ a (mod m). Portanto, a congruência módulo m é simétrica. Agora, suponha que a ≡ b (mod m) e b ≡ c Relações de equivalência e implicação lógica 3 (mod m). Então, m divide tanto a – b quanto b – c. Portanto, existem inteiros k e l com a – b = km e b – c = l m. Somando essas duas equações, obtém-se: Logo, a = c (mod m). Portanto, a congruência módulo m é transitiva. Segue que a congruência módulo m é uma relação de equivalência. Para ficar mais claro, acompanhe o seguinte detalhamento: � porque é múltiplo de 3. � porque é múltiplo de 3. � porque não é múltiplo de 3. Uma notação frequentemente utilizada para indicar que dois ele- mentos, a e b, são equivalentes é dada por a ~ b. Também é possível combinar proposições por meio de uma relação de implicação. Por definição, tomamos p e q como duas proposições. A proposição condicional p → q é a proposição “se p, então q”. A condicional p → q é falsa quando p é verdadeira e q é falsa, e verdadeira em qualquer outro caso. Na condicional p → q, p é chamada de hipótese, antecedente ou premissa, e q é denominada conclusão, consequência ou consequente. Importante destacar que a proposição p → q é chamada de condicional porque p → q afirma que q é verdadeira na condição de que p também o seja. Uma proposição condicional é também denominada implicação (ROSEN, 2009). Confira a tabela-verdade a seguir que exemplifica a relação de implicação: p q p → q V V V V F F F V V F F V Como se percebe, a implicação, ou condicional, indica que uma condição deve ser satisfeita necessariamente para que a outra seja verdadeira. Relações de equivalência e implicação lógica4 João Pedro Realce Existe diferença entre os símbolos → e ⇒. Enquanto → representa uma operação matemática entre as proposições p e q que tem como resultado a proposição p → q, com valor lógico V ou F, o símbolo ⇒ representa a não ocorrência de VF na tabela verdade de p → q, ou seja, o valor lógico da condicional p → q será sempre V, o que se denomina tautologia. Alguns autores, no entanto, não fazem essa distinção, deixando a cargo do leitor identificar se o contexto é de condicional ou de implicação. Outro aspecto que merece atenção é o símbolo ≡, que não é um conectivo lógico, e p ≡ q não é uma proposição composta, apenas quer dizer que p ↔ q (a bicondicional) é uma tautologia. O símbolo ⇔ é comumente utilizado no lugar de ≡ para indicar equivalências lógicas (ROSEN, 2009). Na próxima seção, aprofundaremos o estudo das relações de equivalência e implicação lógica abordando a distinção entre elas. Distinguindo relações de equivalência e de implicação Em uma relação lógica entre duas proposições, p e q, expressa por p → q (p então q), em que p é verdadeira, então q também precisa ser verdadeira, a informação contida em q está incluída em p. Conforme Bispo, Castanheira e Souza Filho (2012), uma implicação tautológica é uma proposição condicional tautológica. Tautologia é uma proposição cujo valor lógico é sempre verdadeiro, ou seja, a última coluna da tabela-verdade só possui V. Contradição é uma proposição cujo valor lógico é sempre falso, ou seja, a última coluna da tabela-verdade só possui F. É o contrário da tautologia. Contingência é uma proposição cujo valor lógico pode ser verdadeiro ou falso, ou seja, não é nem uma tautologia e nem uma contradição, é uma proposição indeterminada. Relações de equivalência e implicação lógica 5 João Pedro Realce João Pedro Realce Note, pela tabela-verdade, que a proposição p ∧ q → p é tautológica: p q p ∧ q p ∧ q → p V V V V V F F V F V F V F F F V Isso permite afirmar que p ∧ q implica tautologicamente p, ou seja, p ∧ q ⇒ q. Perceba que, nas relações de implicação, as proposições envolvi- das podem assumir o valor lógico V ou F sem a necessidade de que tenham o mesmo valor-verdade final. Já no caso das relações de equivalência lógica, as proposições envolvidas têm o mesmo valor lógico, apresentando a mesma tabela-verdade, como detalhado na seção anterior. Bispo, Castanheira e Souza Filho (2012) apresentam o exemplo de uma equivalência tautológica, observe: A proposição é uma equivalência tautológica: p q ~p ~q p ∧ q ~(p ∧ q) (~p ∨ ~q) ~(p ∧ q) ↔ (~p ∨ ~q)V V F F V F F V V F F V F V V V F V V F F V V V F F V V F V V V A equivalência lógica p ↔ q significa que, p é verdadeiro se, e somente se, q também for verdadeiro. Se p for falso neste caso, então q também será falso. Em outras palavras, p ≡ q. Em lógica, a igualdade é chamada de equivalência, e utiliza-se o sinal ↔. Na relação de implicação tem-se que: O símbolo ⇔ é utilizado porque a equivalência lógica também pode ser en- tendida como uma implicação nos dois sentidos. No caso da implicação lógica, a tabela-verdade para a condicional (implicação) p → q é verdadeira quando Relações de equivalência e implicação lógica6 ambos o são e quando p é falsa, independentemente do valor-verdade de q. Portanto, p → q só será falsa quando p for verdadeira e q for falsa. Observe: p q p → q V V V V F F F V V F F V Pode-se utilizar diferentes termos para expressar a implicação lógica p → q, alguns deles são: “se p, então q” “p implica q” “se p, q” “p apenas se q” “p é suficiente para q” “uma condição suficiente para q é p” “q se p” q sempre que p” “q quando ocorrer p” “q é necessário para p” “uma condição necessária para p é q” “q segue de p” “q a menos que ~p” Fonte: Adaptado de Rosen (2009). Grande parte das equivalências envolve a proposição P → Q, chamada de condicional, ou implicação. Na implicação, vimos que P é o antecedente, e Q é o consequente. A primeira equivalência transforma a condicional em uma disjunção: Construindo a tabela-verdade, temos: P Q P → Q ~P ~P ∨ Q V V V F V V F F F F F V V V V F F V V V Relações de equivalência e implicação lógica 7 Isso nos permite concluir que a equivalência é obtida a partir da disjunção entre a negação do antecedente ~P e o consequente Q. Na prática, quando queremos saber se existe uma equivalência, verificamos se a bicondicional é uma tautologia, que é o mesmo que verificar se suas colunas na tabela são iguais. Se desejamos saber se a proposição P implica a proposição Q, verificamos se a condicional, se P então Q, é uma tautologia. A implicação, portanto, está relacionada com a condicional, e a equivalência está relacio- nada com a bicondicional. Solução de problemas Nesta seção, vamos acompanhar problemas de implicação e equivalência em que, a partir da linguagem corrente, realize-se a passagem para a linguagem simbólica, avaliando se P implica Q ou se P é equivalente a Q. Para iniciar, considere a seguinte frase: “Se Ana estudou, então foi apro- vada”. De acordo com a lógica proposicional, essa frase é equivalente a: a) Ana não estudou e foi aprovada. b) Ana não estudou e não foi aprovada. c) Ana estudou ou não foi aprovada. d) Ana estudou se, e somente se, foi aprovada. e) Ana não estudou ou foi aprovada. Para encontrar a solução, lembre-se de que “Ana estudou” é o antecedente, e “foi aprovada” é o consequente. Para identificar a proposição equivalente, desconsidere a expressão “se”, negue o antecedente e troque o “então” por “ou”. Mantendo-se o consequente, tem-se: Se Ana estudou, então foi aprovada. Ana não estudou ou foi aprovada. A resposta correta é a alternativa e, que diz: “Ana não estudou ou foi aprovada”. Confira a tabela-verdade desse problema: Relações de equivalência e implicação lógica8 João Pedro Realce p q p → q ~p ~p ∨ q V V V F V V F F F F F V V V V F F V V V Como as colunas na tabela são iguais para as proposições p → q e ~p ∨ q, dizemos que elas são equivalentes. Agora, considere a seguinte frase: “Se Gustavo tem CRC, então é profis- sional da contabilidade”. De acordo com a lógica proposicional, essa frase é equivalente a: a) Gustavo tem CRC ou é profissional da contabilidade. b) Se Gustavo não tem CRC, então não é profissional da contabilidade. c) Se Gustavo não é profissional da contabilidade, então não tem CRC. d) Gustavo é profissional da contabilidade e não tem CRC. e) Se é profissional da contabilidade, então Gustavo tem CRC. Para encontrar a solução, aplica-se a contra-positiva para determinar a proposição equivalente para “Se Gustavo tem CRC, então é professional da contabilidade”. Fazemos a negação de “é profissional da contabilidade” para obter a negação de “Gustavo tem CRC”. Desta forma, tem-se: Se Gustavo tem CRC, então é profissional da contabilidade. Se Gustavo não é profissional da contabilidade, então não tem CRC. A resposta correta é a alternativa c, que diz: “Se Gustavo não é profissional da contabilidade, então não tem CRC”. Confira a tabela-verdade deste problema: p q p → q ~p ~q ~q → ~p V V V F F V V F F F V F F V V V F V F F V V V V Relações de equivalência e implicação lógica 9 Como as colunas na tabela são iguais para as proposições p → q e ~q → ~p, dizemos que elas são equivalentes. Vejamos mais alguns exemplos aplicados de Rosen (2009) e Hunter (2011). Caso de uma condicional (implicação) Tome como exemplo a seguinte afirmação: “Se eu for eleito, então vou diminuir os impostos”. Se o político for eleito, os eleitores devem esperar que esse político diminua os impostos. No entanto, se o político não for eleito, os eleitores não terão nenhuma expectativa sobre o que tal político fará com os impostos, mesmo que a pessoa tenha influência suficiente para baixá-los. Será apenas quando o político for eleito, mas não baixar os impostos, que os eleitores poderão dizer que o político quebrou sua promessa de campanha. Esse último cenário corresponde ao caso em que p é verdadeira e p é falsa em p → q. Caso do quadrilátero Se um quadrilátero tem um par de lados paralelos, então ele tem um par de ângulos suplementares. Observe a Figura 1. Figura 1. Quadrilátero. Fonte: Hunter (2011, p. 4). Esse teorema é da forma p → q, em que p é a sentença de que o quadrilátero tem um par de lados paralelos, e q é a sentença de que o quadrilátero tem um par de ângulos suplementares. Podemos, além disso, afirmar um teorema diferente, representado por ~q → ~p: se o quadrilátero não tem um par de ângulos suplementares, então ele não tem um par de lados paralelos. Este segundo teorema é logicamente equivalente ao primeiro, pois a sentença Relações de equivalência e implicação lógica10 formal p → q é logicamente equivalente à sentença formal ~q → ~p, como é possível observar na tabela-verdade a seguir: p q p → q ~q ~p ~q → ~p V V V F F V V F F V F F F V V F V V F F V V V V Note que a coluna p → q é igual a coluna ~q → ~p. Uma vez que o primeiro teorema é um teorema de geometria verdadeiro, concluímos que o segundo também é. Agora, vamos considerar a seguinte variação para esse teorema: “Se um quadrilátero tem um par de ângulos suplementares, então ele tem um par de lados paralelos”. Essa sentença é da forma q → p. Mas a tabela verdade mostra que q → p não é logicamente equivalente a p → q, pois os valores V, F são diferentes na segunda e terceira linhas comparativamente ao caso anterior. Observe: p q p → q ~q ~p ~q → ~p q → p V V V F F V V V F F V F F V F V V F V V F F F V V V V V De fato, esta última sentença geralmente não é verdadeira em geometria. A sentença ~q → ~p é chamada de contrapositiva de p → q, e a sentença q → p é chamada de recíproca. A tabela-verdade nos prova que, para qualquer sentença s, a contrapositiva de s é logicamente equivalente a s, enquanto a recíproca de s pode não ser logicamente equivalente. Por fim, considere a seguinte proposição: “Não é verdade que nossa energia elétrica é barata e oriunda de fontes renováveis”, que é logicamente equi- valente a “Nossa energia elétrica não é barata ou não é oriunda de fontes renováveis”. De fato, negar a conjunção “Nossa energia elétrica é barata e Relações de equivalência e implicação lógica 11 oriunda de fontes renováveis” é negar pelo menos uma das proposições que a compõe. Escrevemos: � p: nossa energia elétrica é barata. � ~p: nossa energia elétrica não é barata. � q: nossa energia elétrica é oriunda de fontes renováveis. � ~q: nossa energia elétrica não é oriunda de fontes renováveis. � ~(p ∧ q): não é verdade quenossa energia elétrica é barata e é oriunda de fontes renováveis. � ~p ∨ ~q: nossa energia elétrica não é barata ou não é oriunda de fontes renováveis. Construindo as duas tabelas-verdade, teremos: p p p ∧ q ~(p ∧ q) V V V F V F F V F V F V F F F V p q ~p ~q (~p ∨ ~q) V V F F F V F F V V F V V F V F F V V V Comparando os valores lógicos da última coluna das duas tabelas, con- cluímos que Esse resultado vale para quaisquer que sejam as proposições p e q. Nesta seção, você acompanhou diversos problemas aplicados envolvendo as relações de implicação e equivalência. O uso da linguagem corrente (por- tuguês) permitiu compreender a passagem desta para a linguagem simbólica, utilizada em lógica. O capítulo do livro também apresentou a definição de equivalência e implicação lógica, evidenciando exemplos e tabelas-verdade, além de tratar da distinção entre essas duas relações lógicas. Relações de equivalência e implicação lógica12 Referências BARBOSA, M. A. Introdução à lógica matemática para acadêmicos. Curitiba: InterSa- beres, 2017. BISPO, C. A. F.; CASTANHEIRA, L. B.; SOUZA FILHO, O. M. Introdução à lógica matemática. São Paulo: Cengage Learning, 2012. HUNTER, D. J. Fundamentos da matemática discreta. Rio de Janeiro: LTC, 2011. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2009. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Relações de equivalência e implicação lógica 13
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