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Universidade do Sul de Santa Catarina
UnisulVirtual
Palhoça, 2013
Teoria do 
conhecimento
teoria_do_conhecimento.indb 1 09/01/13 17:22
Reitor
Ailton Nazareno Soares
Vice-Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Chefe de Gabinete da Reitoria
Willian Máximo
Créditos
Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-
Graduação e Inovação
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação 
Institucional
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Diretora do Campus Universitário de Tubarão
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Diretor do Campus Universitário Grande Florianópolis
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Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
Moacir Heerdt
Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul
Gerente de Administração Acadêmica
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Secretária de Ensino a Distância
Samara Josten Flores
Gerente Administrativo e Financeiro
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Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Coordenadora da Biblioteca
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Gerente de Desenho e Desenvolvimento de 
Materiais Didáticos
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Coordenadora do Desenho Educacional
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Campus Universitário UnisulVirtual
Coordenadora da Acessibilidade
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Gerente de Marketing
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Coordenadora do Portal e Comunicação 
Cátia Melissa Silveira Rodrigues
Gerente de Produção
Arthur Emmanuel F. Silveira
Coordenador do Design Gráfico
Pedro Paulo Teixeira
Coordenador do Laboratório Multimídia
Sérgio Giron
Coordenador de Produção Industrial
Marcelo Bitencourt
Coordenadora de Webconferência
Carla Feltrin Raimundo
Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico
Maria Isabel Aragon
Assessor de Assuntos Internacionais
Murilo Matos Mendonça
Assessora para DAD - Disciplinas a Distância
Patrícia da Silva Meneghel
Assessora de Inovação e Qualidade da EaD
Dênia Falcão de Bittencourt
Assessoria de relação com Poder Público e Forças 
Armadas
Adenir Siqueira Viana
Walter Félix Cardoso Junior
Assessor de Tecnologia
Osmar de Oliveira Braz Júnior
Educação, Humanidades e 
Artes
Marciel Evangelista Cataneo
Articulador
Graduação
Jorge Alexandre Nogared Cardoso
Pedagogia
Marciel Evangelista Cataneo
Filosofia
Maria Cristina Schweitzer Veit
Docência em Educação Infantil, Docência em 
Filosofia, Docência em Química, Docência 
em Sociologia
Rose Clér Estivalete Beche
Formação Pedagógica para Formadores de 
Educação Profissional.
Pós-graduação
Daniela Ernani Monteiro Will
Metodologia da Educação a Distância
Docência em EAD
Karla Leonora Dahse Nunes
História Militar
Ciências Sociais, Direito, 
Negócios e Serviços
Roberto Iunskovski 
Articulador
Graduação
Aloísio José Rodrigues
Serviços Penais
Ana Paula Reusing Pacheco
Administração
Bernardino José da Silva
Gestão Financeira
Dilsa Mondardo
Direito
Itamar Pedro Bevilaqua
Segurança Pública
Janaína Baeta Neves
Marketing
José Onildo Truppel Filho
Segurança no Trânsito
Joseane Borges de Miranda
Ciências Econômicas
Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo
Turismo
Maria da Graça Poyer
Comércio Exterior
Moacir Fogaça
Logística
Processos Gerenciais
Nélio Herzmann
Ciências Contábeis
Onei Tadeu Dutra
Gestão Pública
Roberto Iunskovski
Gestão de Cooperativas
Pós-graduação
Aloísio José Rodrigues
Gestão de Segurança Pública
Danielle Maria Espezim da Silva
Direitos Difusos e Coletivos
Giovani de Paula
Segurança
Letícia Cristina B. Barbosa
Gestão de Cooperativas de Crédito
Sidenir Niehuns Meurer
Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública.
Thiago Coelho Soares
Programa de Pós-Graduação em Gestão 
Empresarial
Produção, Construção e Agro-
indústria
Diva Marília Flemming
Articulador
Graduação
Ana Luísa Mülbert
Gestão da Tecnologia da Informação
Charles Odair Cesconetto da Silva
Produção Multimídia
Diva Marília Flemming
Matemática.
Ivete de Fátima Rossato
Gestão da Produção Industrial
Jairo Afonso Henkes
Gestão Ambiental.
José Carlos da Silva Júnior
Ciências Aeronáuticas
José Gabriel da Silva
Agronegócios
Mauro Faccioni Filho
Sistemas para Internet
Pós-graduação
Luiz Otávio Botelho Lento
Gestão da Segurança da Informação.
Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher
Programa em Gestão de Tecnologia da Informação
Unidades de Articulação Acadêmica (UnA)
teoria_do_conhecimento.indb 2 09/01/13 17:22
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2013
Designer instrucional
Eliete de Oliveira Costa
Teoria do 
conhecimento
Alexandre de Medeiros Motta
Gabriel Henrique Collaço
Marciel Evangelista Cataneo
Vilson Leonel
teoria_do_conhecimento.indb 3 09/01/13 17:22
Livro Didático
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Copyright © 
UnisulVirtual 2013
Professores conteudistas
Alexandre de Medeiros Motta
Gabriel Henrique Collaço
Marciel Evangelista Cataneo
Vilson Leonel
Designer instrucional
Eliete de Oliveira Costa
Projeto gráfico e capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramador(a)
Marina Broering Righetto
Revisor(a)
Diane Dal Mago
ISBN
978-85-7817-535-1
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por 
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
121
T 29 Teoria do conhecimento : livro didático / conteudistas, Alexandre de 
Medeiros Motta, Gabriel Henrique Collaço, Marciel Evangelista 
Cataneo, Vilson Leonel ; design instrucional Eliete de Oliveira 
Costa. – Palhoça : UnisulVirtual, 2013.
103 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-535-1
1. Teoria do conhecimento. 2. Filosofia. I. Motta, Alexandre 
de Medeiros. II. Collaço, Gabriel Henrique. III. Cataneo, Marciel 
Evangelista. IV. Leonel, Vilson. V. Costa, Eliete de Oliveira.
teoria_do_conhecimento_capitulo_iniciais.indd 4 30/06/14 15:40
Sumário
Introdução I 7
Capítulo 1
Concepções e formas de conhecimento I 9
Capítulo 2
Ciência, Tecnologia e Arte I 25
Capítulo 3
As raízes da Teoria do Conhecimento I 43
Capítulo 4
Questões do conhecimento no pensamento 
moderno e contemporâneo I 61
Capítulo 5
Ética na produção e socialização do 
conhecimento I 85
Considerações Finais I 97
Referências I 99
Sobre os Professores Conteudistas I 103
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7
Introdução
Somos modernos, buscamos mais do que viver, compreender a vida e tudo que 
nos rodeia, instiga e desafia. No dizer de Nietzsche, “o conhecimento em nós, 
transmudou-se em paixão, que não se intimida diante de nenhum sacrifício e no 
fundo nada teme; a não ser a sua própria extinção.” (NIETZSCHE, F. W. Obras 
incompletas. 5.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 139 (Os pensadores).
A sociedade em que vivemos é frequentemente caracterizada como sociedade 
do conhecimento. Conhecimento é mais do que ter informações e dados sobre 
determinado tema ou assunto. Conhecimento implica saber quais informações 
e dados são relevantes e em que situações usá-los. Conhecimento é sabedoria 
de vida. Esta perspectiva filosófica está na base de todo esforço humano por 
compreender as coisas e o mundo e atribuir-lhes sentido.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai refletir sobre o conceito de 
conhecimento, suas formas, caminhos e possibilidades. Ele será apresentado 
como uma produção histórica e cultural. Uma reflexão filosófica e prática (isto é 
o sentido lato de “teoria”) sobre as raízes, desenvolvimento histórico e atualidade 
do conhecimento. Você ainda irá desenvolver as habilidades que lhe são 
inerentes: refletir criticamente, saber julgar e detectar contradições e incoerências 
na realidade e discursos, elaborar conclusões, saber argumentar em favor delas 
e demonstrá-las. Tudo isto, sempre atento/a às responsabilidades e exigências 
éticas da produção e socialização do conhecimento.
Por fim, cabe ressaltar a importância desta Unidade de Aprendizagem para 
a sua trajetória universitária. As habilidades, conteúdos e atividades aqui 
disponibilizados são “propedêuticos”, ou seja, preparatórios para o estudo 
e compreensão de todas as outras Unidades de Aprendizagem do itinerário 
formativoque você escolheu. Todos os itinerários disponíveis na formação 
superior exigem a correta compreensão da questão do conhecimento e da 
aplicabilidade das suas conquistas e reconhecimento dos seus limites e 
responsabilidade, na busca de solução para os desafios e problemas que marcam 
os campos do saber e de ocupação profissional hodiernos. 
O pensamento e o conhecimento produzem ideias, renovam todas as coisas, 
reinventam o mundo. Entre as qualidades exigidas de todos nós nas relações 
sociais e laborais, se sobressai a capacidade de pensar e de tomar decisões. 
Ou seja, avaliar o peso de cada coisa, fato, situação. Medir o peso de cada 
teoria_do_conhecimento.indb 7 09/01/13 17:22
8
atitude, escolha, decisão. A sobrevivência e o sucesso pessoal e profissional em 
realidade tão competitiva dependem desta capacidade – oferecida pela teoria do 
conhecimento e pela ética, de compreender o mundo, os relacionamentos e as 
circunstâncias que nos rodeiam e nos definem.
Vale muito o esforço para compreender os conteúdos, desenvolver as 
habilidades, apreender as competências desta Unidade de Aprendizagem. Esta 
atitude pode fazer a diferença na sua carreira acadêmica.
Bons estudos!
teoria_do_conhecimento.indb 8 09/01/13 17:22
9
Secões de estudo
Habilidades
Capítulo 1
Concepções e formas de 
conhecimento
Este capítulo foi elaborado para propiciar ao aluno o 
desenvolvimento das habilidades de compreensão 
do conceito de conhecimento, observando as 
distinções das formas de conhecimento e a 
identificação das principais características do 
conhecimento do senso comum, artístico, religioso, 
filosófico e científico.
Seção 1: A origem do conhecimento
Seção 2: Tipos de conhecimento 
teoria_do_conhecimento.indb 9 09/01/13 17:22
10
Capítulo 1 
Seção 1
A origem do conhecimento 
A palavra conhecimento tem sua origem no latim, cognitio, e pressupõe, 
necessariamente, a existência de uma relação entre dois polos: de um lado o 
sujeito e de outro o objeto.
Figura 1.1 – Relação sujeito-objeto
 
Fonte: Elaboração dos autores.
Na relação sujeito-objeto, o sujeito é aquele que possui capacidade cognitiva, 
isto é, capacidade de conhecer. O objeto é aquilo que se manifesta à consciência 
do sujeito, que é apreendido e transformado em conceito.
Isso equivale a dizer que o conhecimento é o ato, o processo 
pelo qual o sujeito se coloca no mundo e, com ele, estabelece 
uma ligação. Por outro lado, o mundo é o que torna possível o 
conhecimento ao se oferecer a um sujeito apto a conhecê-lo. 
(ARANHA; MARTINS, 1999, p.48).
Temos que levar em consideração que todas as formas de conhecimento 
coexistem. Podemos pensar um fenômeno por meio de matrizes de compreensão, 
como o conhecimento do senso comum, filosófico, religioso, artístico e científico. 
Com suas peculiaridades, aproximações e diferenças, aparecem diferentes 
maneiras de o sujeito “conhecer”. 
E conhecer, segundo Costa (2001, p. 4, grifo do autor) “é mais do que ter 
na memória um conjunto de informações: é conseguir fazer com que essas 
informações transformem-se em prática e sejam úteis sob a perspectiva pessoal, 
profissional, social ou política”. 
Todas as pessoas julgam conhecer algo e, de fato, podemos dizer que o ser 
humano naturalmente busca conhecer o mundo a sua volta, pois essa é uma 
condição para manter-se vivo.
Algumas vezes, dirigimos nossas perguntas ao mundo, outras vezes ao próprio 
fenômeno do conhecimento. Isso inclui o homem e o mundo na mesma dimensão 
e, então, temos uma visão mais complexa da realidade e a compreensão de nós 
mesmos como sujeitos ativos na produção do conhecimento.
teoria_do_conhecimento.indb 10 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
11
Num sentido geral, podemos dizer que conhecimento é o que permite aos 
seres vivos manterem-se vivos. Nesse caso, uma planta sabe que deve virar sua 
folhagem em direção à luz, assim como um cavalo sabe que determinado solo 
não é seguro para caminhar, e um homem sabe que, se jogar um objeto acima de 
sua cabeça, poderá, quando em queda, atingi-lo. Porém, num sentido exato, não 
seríamos capazes de definir, tão brevemente, o que é o conhecimento.
Para Luckesi e outros (2003, p. 137-138), existem duas maneiras de o sujeito 
se apropriar do conhecimento. A primeira consiste na apropriação direta da 
realidade sem a mediação de outra pessoa ou de algum outro meio. Nesse caso, 
o sujeito opera “com” e “sobre” a realidade. A segunda ocorre de forma indireta, 
na qual a compreensão se dá por intermédio de um conhecimento já produzido 
por outra pessoa ou por meio de símbolos orais, gráficos, mímicos, pictóricos etc. 
1.1 Distinção entre o conhecimento humano e o de outros 
animais
Ao contrário do que acontece com outros animais, nos seres humanos 
existe uma clara diferença entre os dados percebidos no meio ambiente e as 
respostas expressadas como reação. A diferença se deve ao fato de que, além 
do comportamento instintivo, exclusivamente reativo, o ser humano tem um 
comportamento reflexivo.
Antes de manifestar uma reação, o homem faz uma pausa e reflete. Imagina, 
idealiza e conceitua aquilo que apreende do mundo e depois é capaz de 
reconhecê-lo e identificá-lo.
O ser humano atribui significado às coisas do mundo físico, às imagens mentais 
que ele mesmo constitui e aos sentimentos que experimenta. O desenvolvimento 
dessa capacidade de reflexão permitiu a ele agir baseado em uma vontade 
consciente e não mais somente nos instintos.
Acredita-se que, em períodos remotos, o conhecimento humano respondia 
exclusivamente à necessidade de sobrevivência. Porém, por razões ainda não 
completamente elucidadas, ele foi além das solicitações imediatas, enquanto ser 
biológico, e passou a procurar respostas, por uma necessidade de compreensão e 
ordenação do mundo.
A manifestação definitiva desse pensamento ordenador se deu com a criação 
de um sistema simbólico específico que chamamos de linguagem, capaz de 
representar a realidade, expressar o pensamento e comunicá-lo aos outros.
Perceba que o ser humano ordena e dá significado ao mundo e isso inclui 
comunicá-lo. Disso depende a consolidação e validação do conhecimento, a 
existência da sociedade etc. 
teoria_do_conhecimento.indb 11 09/01/13 17:22
12
Capítulo 1 
Nesse sentido, é difundida a tese de que existe certa correspondência entre a 
linguagem e a complexidade das operações mentais que um ser humano é capaz 
de executar.
A capacidade humana de operar com elementos e situações abstratas está ligada 
a uma linguagem apropriada para transmitir raciocínios, de modo que, quanto 
mais complexo é o sistema de comunicação, mais complexo é o pensamento e o 
conhecimento humano.
No decorrer da história da humanidade, desenvolveram-se e tornaram-se 
cada vez mais complexos os meios de comunicação e de socialização do 
conhecimento.
O conhecimento depende do caráter coletivo, depende do outro. Ora, “dizer” ao 
outro o que se sabe é fundamental para a compreensão do meio ambiente e de 
si próprio. Esse “dizer” do homem não tem a função exclusiva de representar o 
mundo, mas também recria a realidade, à medida que não somente reproduz o 
que apreende, também abstrai, interpreta e humaniza a realidade.
Por se tratar de um animal capaz de refletir sobre si mesmo, de ser 
autoconsciente, o ser humano produziu inúmeros tipos de conhecimento, além 
de ver a si como sujeito cognoscente, ou seja, como um ser que é capaz de 
conhecer. Agora que você acompanhou essas considerações preliminares sobre 
o conhecimento, veja como Abbagnano (2000) o define: 
Conhecimento encontra-se definido como um procedimento operacional, uma 
técnica de verificação de um objeto qualquer, isto é, qualquer procedimento que 
torne possível a descrição, o cálculo ou a previsão controlável de um objeto; e por 
objeto há de entender-se qualquer entidade, fato, coisa, realidade ou propriedade, 
que possa ser submetido a um tal procedimento. A relação cognitiva é uma 
identidade ou semelhança,e a operaçãocognitiva é um procedimento de 
identificação com o objeto ou uma sua reprodução. A relação cognitiva é uma 
apresentação do objeto e a operação cognitiva um processo de transcendência. 
Bem, na definição citada, permeiam várias questões importantes da Teoria do 
Conhecimento. Entre as suscitadas, destacamos duas fundamentais:
a relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento;
a diferenciação entre o conhecimento empírico e o conhecimento abstrato.
Acompanhe, na sequência, explicações sobre cada uma destas questões.
teoria_do_conhecimento.indb 12 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
13
1.1.1 Relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento
Retomamos aqui o que foi rapidamente explicado no início deste capítulo. É 
possível definir o conhecimento como algo que emerge da interação entre o 
sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se 
dá a conhecer. Nesse caso, o conhecimento pode ser identificado como processo 
ou como resultado da apreensão do objeto pelo sujeito.
O objeto não é entendido, aqui, exclusivamente como sendo físico, mas no 
sentido de “objeto do conhecimento”, que inclui coisas e fenômenos físicos e 
mentais, mesmo tudo aquilo que se dá a conhecer.
Essas operações são entendidas como ações internas do sujeito cognoscente, 
organizadas e coordenadas para fazer combinações, juntar e separar ideias, 
conceitos, imagens etc.
Entre as operações mentais temos a abstração, a análise, a comparação, a 
classificação, a memorização, a imaginação etc.
Conforme Ferrater Mora (1994), a fenomenologia é um método de investigação 
contemporâneo que propõe descrever a realidade como ela se apresenta. Para a 
fenomenologia nada deve ser pressuposto: nem o mundo natural, nem o senso 
comum, nem as proposições da ciência, nem as experiências psíquicas. Deve-se 
colocar “antes” de toda crença e de todo julgamento o simplesmente “dado”.
Ao apreender o objeto, o sujeito cognoscente forma uma imagem mental que, 
até certo ponto, reproduz as características e propriedades do objeto. É a partir 
dessa imagem que as operações mentais interpretam e dão significado ao que é 
apreendido, ou seja, desenvolvem o conhecimento.
A princípio, pode parecer que o sujeito exerce um papel exclusivamente ativo na 
apreensão do conhecimento, contra um papel passivo do objeto apreendido, e 
que ambos, sujeito e objeto, são seres independentes.
Ora, tais papéis não são tão bem definíveis assim. Os sujeitos interagem 
no processo de construção do conhecimento e sofrem “passivamente” a 
interferência do ambiente cultural, do mundo do trabalho, do cotidiano etc. A 
própria linguagem envolvida nas informações e na socialização do conhecimento 
se torna relevante para esse processo. Além disso, o sujeito apreende o objeto 
e lhe atribui um significado, mas é inegável que esse conhecimento também 
modifica o próprio sujeito.
A relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento é um tema de discussão 
típico da Teoria do Conhecimento. Correntes filosóficas como a fenomenologia 
defendem que sujeito e objeto são distintos - visto que o sujeito somente pode 
apreender o que está fora de si - mas esses são tão interligados no ato de 
conhecer que não faz sentido tratá-los como entes independentes.
teoria_do_conhecimento.indb 13 09/01/13 17:22
14
Capítulo 1 
Para a fenomenologia, o sujeito que conhece tem uma intencionalidade que interfere 
na apreensão e no entendimento do objeto. Esse entendimento, por sua vez, pode 
modificar-se e adquirir outro significado em relação a outros objetos do contexto.
Existem outras peculiaridades relativas ao sujeito e ao objeto do conhecimento, 
em que algumas vezes o objeto do conhecimento é o próprio sujeito que conhece; 
em outras, o objeto do conhecimento é uma ideia forjada pela mente do sujeito 
cognoscente de algo que não existe, tal como a ideia de um cavalo alado.
Ainda, a distinção entre o sujeito e o objeto permite estabelecer um parâmetro de 
objetividade em que, quanto mais “distância” houver entre o sujeito e o objeto, mais 
“objetivo” e universal, pode-se dizer, que é o conhecimento; e quanto mais “próximo” 
um estiver do outro, mais comprometida fica essa objetividade, pois mais subjetivo 
será o conhecimento emergido dessa interação.
A objetividade é uma característica daquele conhecimento que não depende dos 
pontos de vista particulares, mas do consenso entre especialistas. No caso do 
conhecimento científico, a instituição conhecida como comunidade científica 
cerca-se de regras, métodos e instrumentos que buscam garantir a validade 
universal do conhecimento em questão. Principalmente pela utilização da 
linguagem matemática, tanto na formulação quanto na comunicação das suas 
teorias, a ciência busca evitar equívocos ou duplas interpretações.
Além disso, as condições em que as experimentações científicas são realizadas 
não dependem da “escolha” dos cientistas, não são acidentais ou variadas, de 
acordo com a experiência de vida de cada pessoa, mas são determinadas pela 
comunidade científica, seguem procedimentos preestabelecidos. Tudo isso faz 
com que o conhecimento científico sobre o objeto estudado seja o mais fiel 
possível ao próprio objeto, de acordo com o jeito que ele existe e não do jeito 
que um ou outro cientista julga que ele é, ou seja, tudo isso faz com que o 
conhecimento científico seja objetivo.
Sendo assim, para finalizar esta seção, segundo Costa (2001, p. 4), “conhecer é 
apropriar-se mentalmente de algo”. Um resultado de uma busca de conhecimento, 
que não basta acumular informações e experiências, mas o mais importante é 
saber a maneira como essas serão aplicadas. A seguir você conhecerá os tipos 
de conhecimento, cada qual com suas características. 
teoria_do_conhecimento.indb 14 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
15
Seção 2
Tipos de conhecimento 
No cotidiano, é comum ouvir as pessoas afirmarem que conhecem coisas. O 
mecânico diz que conhece o carro. A mãe diz que conhece o filho. O advogado 
conhece a questão. O mendigo conhece a praça. O treinador conhece o time. O 
matemático conhece a fórmula etc. Nas situações citadas, o conhecimento tem 
significado diverso e, ao mesmo tempo, mantém algo em comum, visto que todos 
os sujeitos afirmam conhecer.
O conhecimento pode ocorrer de diversas formas, isso significa dizer que um 
único objeto pode ser entendido à luz de diversos ângulos e aspectos. Estamos 
nos referindo aos tipos de conhecimento: senso comum, filosófico, religioso, 
artístico e científico. 
Para facilitar a compreensão deste assunto, considere, como exemplo, o 
problema da justiça. 
Você já imaginou de quantas formas é possível compreender este fenômeno tão 
antigo na história da humanidade? Esse problema pode ser “entendido” à luz do 
senso comum, da Religião, da Arte, da Filosofia e da Ciência. Você já imaginou 
as soluções que os referidos tipos de conhecimento apresentariam para esse 
problema? Observe a figura: 
Figura 1.2 – Tipos de conhecimento
Fonte: Elaboração dos autores.
teoria_do_conhecimento.indb 15 09/01/13 17:22
16
Capítulo 1 
2.1 O conhecimento popular ou do senso comum
O conhecimento popular ou do senso comum é “[...] aquele que não surge do 
estudo sistemático da realidade a partir de um método específico, mas provém 
do ‘viver e aprender’, da experiência de vida” (RAUEN, 1999, p. 8). Por isso, por 
meio desse tipo de conhecimento, não conseguimos explicar adequadamente um 
fenômeno, não se constituindo em uma teoria.
Forma de conhecimento que provém da experiência 
cotidiana, do senso comum. Considerada a primeira forma 
de conhecimento, gerada basicamente pela interação do 
ser humano com o mundo e fundamentada na experiência 
individual. É uma forma de conhecimento assistemática e 
a-metódica. (APPOLINÁRIO, 2004, p. 52). 
Consiste na ação pela ação, sem ideias comprovadas, que não permitem 
o estudo ou a investigação sobre um determinado fenômeno. Então, o seu 
conteúdo se forma a partir da experiência quese vivencia no dia a dia.
Todos nós sabemos muitas coisas que nos ajudam em nosso 
dia a dia e que funcionam bem na prática. Nas zonas rurais, 
muitas pessoas, mesmo sem nunca ter frequentado uma escola, 
sabem a época certa de plantar e de colher. Esse conjunto de 
crenças e opiniões, essencialmente de caráter prático, uma 
vez que procura resolver problemas cotidianos, forma o que se 
costuma chamar de conhecimento comum ou senso comum. 
(GEWANDSZNAJDER, 1989, p. 186).
O conhecimento popular, como não busca, profundamente, as raízes da realidade, 
como não suporta a dúvida permanente e como está vinculado à cultura e a 
práticas antigas, passadas de geração em geração, às vezes incorpora explicações 
religiosas ou míticas. Observe, porém, que o conhecimento “popular”, do senso 
comum, está alinhado com um sentido pragmático, uma utilidade habitual.
Köche (1997, p. 23-27) apresenta as seguintes características para o senso 
comum: “resolve problemas imediatos (vivencial); elaborado de forma 
espontânea e instintiva (ametódico); subjetivo (fragmentado) e inseguro; 
linguagem vaga e baixo poder de crítica; impossibilita a realização de 
experimentos controlados; as verdades apresentam certa durabilidade e 
estabilidade (crença); dogmático (crenças arbitrárias); não apresenta limites de 
validade”. Além das características mencionadas, é possível afirmar também 
que o conhecimento do senso comum é sensitivo.
teoria_do_conhecimento.indb 16 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
17
Em muitas situações, próprias desse tipo de conhecimento, observamos o 
abandono da razão e um apego àquilo que é captado apenas pelos órgãos 
sensoriais: visão, audição, olfato, paladar e tato. Você, por exemplo, tem a 
sensação de que a Terra está parada e não em movimento? Você vê que o céu é 
azul? Pois bem, para entender que a Terra não está parada e que o azul do céu é 
apenas uma ilusão de ótica, é necessário muito mais do que os órgãos sensoriais 
(visão, audição). Nesse caso, precisamos do uso da razão.
O senso comum representa um conhecimento sensitivo e aparente, porque se 
apega à aparência dos fatos e não à sua essência.
Para Laville e Dionne (apud RAUEN, 2002, p. 23), as fontes do conhecimento 
popular ou do senso comum são a intuição e a tradição. A intuição é a percepção 
imediata que dispensa o uso da razão, e a tradição ocorre quando, uma 
vez reconhecida a pertinência de um saber, organizam-se meios sociais de 
manutenção e de difusão desse conhecimento, tornando-se uma marca visível na 
formação da identidade cultural de uma comunidade.
Contudo, não se pode dizer de maneira alguma que o conhecimento do 
senso comum possa ser considerado como de qualidade inferior aos demais 
conhecimentos, pois em muitas ocasiões de nossas vidas ele funciona 
socialmente, como no caso do manuseio do chá caseiro ou das ervas medicinais, 
a partir do conhecimento adquirido por certas pessoas de seus pais ou avós, 
passando a se tornar uma sabedoria proveniente da cultura popular. 
A ideia de sabedoria, em muitas culturas, está ligada à figura do ancião pelo fato 
de ele ter vivido muito tempo e ter acumulado muito conhecimento.
2.2 O conhecimento religioso ou teológico
O conhecimento religioso ou teológico tem base na fé e na crença, ou seja, na 
aceitação de princípios dogmáticos, que podemos entender como irrefutáveis 
e indiscutíveis. Isto é, a forma de conhecimento religioso fundamenta-se na 
fé das pessoas, partindo do “[...] princípio de que as verdades nas quais [se] 
acredita são infalíveis ou indiscutíveis, pois se tratam de revelações da divindade”, 
tendo a visão do mundo interpretada como resultante da criação divina, sem 
questionamentos (OLIVEIRA NETTO, 2005, p. 5).
O conhecimento religioso apoia-se em seres divinos que revelam aos homens 
proposições sagradas, dogmáticas e inquestionáveis. Essas ‘verdades’ reveladas 
são aceitas como lei, não pela sua veracidade empírica ou validade lógica, mas 
pela autoridade de quem as revela, por isso mesmo, não é necessário comprová-
las, mas apenas aceitá-las pela fé.
teoria_do_conhecimento.indb 17 09/01/13 17:22
18
Capítulo 1 
Assim, “essas verdades são em geral tidas como definitivas, e não permitem 
revisão mediante a reflexão ou a experiência. Nesse sentido, podemos classificar 
sob este título os conhecimentos ditos místicos ou espirituais”. (MÁTTAR NETO, 
2002, p. 3).
Sua “matéria de estudo é Deus, como ser que existe independente e o qual 
detém não as potencialidades, mas a ação do perfeito”. Portanto, neste tipo de 
conhecimento há a necessidade da “[...] reflexão sobre a essência e a existência 
naquilo que elas têm como causa primeira e última de toda a vida”. (BARROS; 
LEHFELD, 1986, p. 52).
Para Chauí (2005, p. 138), “a percepção da realidade exterior como algo 
independente da ação humana nos conduz à crença em poderes superiores 
ao humano e à busca de meios para nos comunicar com eles. Nasce assim, a 
crença na(s) divindade(s)”.
Sendo assim, reflita: Para o conhecimento religioso, a verdadeira justiça é produzida 
pelos homens ou pela divindade? A justiça, pensada nessa perspectiva, não seria a 
realização do projeto de Deus?
Reflita sobre essa questão e descubra situações as quais você conhece ou 
que estejam presentes na sua comunidade e que expressem a forma do 
conhecimento religioso, definir ou se posicionar frente à questão da justiça.
Você refletiu sobre a situação anterior? Observe ao seu redor. Será importante 
para compreender melhor o assunto tratado neste capítulo. Continue seu estudo, 
passando a conhecer sobre o conhecimen to artístico. 
2.3 O conhecimento artístico 
O conhecimento artístico é baseado na intuição, que produz emoções, tendo por 
objetivo maior manifestar o sentimento e não o pensamento. Sendo assim, para 
Oliveira Netto (2005, p. 5), “a preocupação do artista não é com o tema, mas com 
o modo de tratá-lo”, configurando-se, necessariamente, em uma interpretação 
marcada pela sensibilidade. 
O conhecimento artístico é uma forma de conhecimento que transmite 
informações de natureza emocional, cuja referência é a estética. Baseia-se na 
interpretação subjetiva produzida pelo artista e pelo intérprete. Para Heerdt e 
Leonel (2006, p. 30):
teoria_do_conhecimento.indb 18 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
19
[...] a arte combina habilidade desenvolvida no trabalho 
(prática) com a imaginação (criação). Qualquer que seja sua 
forma de expressão, cada obra de arte é sempre perceptível 
com identidade própria, dando-lhe também componentes de 
manifestação dos sentimentos humanos, tais como: emoção, 
revolta, alegria, esperança.
Nesse sentido, qual é a visão artística ou estética sobre a questão da 
justiça? Você pensa que a poesia, a música, as obras de arte podem 
apresentar expressões de justiça ou de injustiça vividas pelo homem?
Reflita sobre essa questão e descubra situações as quais você conhece ou que 
expressem a forma do conhecimento artístico, definir ou se posicionar frente à 
questão da justiça. 
2.4 O conhecimento filosófico
A palavra filosofia vem do grego e é formada pelas palavras Philo, que significa 
amigo e sophia, sabedoria. Portanto, filosofia significa, em sua etimologia, amigo 
da sabedoria. Segundo Appolinário (2004, p. 52, grifo do autor), 
[...] forma de conhecimento caracterizada pela reflexão racional 
[...] e pelo foco na lógica interna, ou seja, pela coerência dos 
conceitos articulados em sua formulação, todavia prescindindo 
de verificação empírica (o que a diferencia do conhecimento 
científico, por exemplo).
A origem da Filosofia, na história do pensamento humano, é do século VI a.C., o 
qual foi marcado por uma grande ruptura histórica: a passagem do mito para a 
razão. Nesse período, houve uma grande modificação na forma de expressar a 
linguagem escrita, que passou do verso para a prosa. O verso representava o 
período anterior ao século VI a.C. e era a forma de transmitir o conhecimento 
mítico, produzido, principalmente, pelas experiências,narrativas e pelos relatos 
de Homero e Hesíodo.
Com a origem da Filosofia, no chamado milagre grego, houve a passagem da 
consciência mítica para a consciência racional ou filosófica e a linguagem escrita 
passou a representar a forma de manifestação da razão.
 A origem da palavra razão está em duas fontes: ratio (latim) e logos (grego). 
Ambas apresentam o mesmo significado: contar, calcular, juntar, separar. 
teoria_do_conhecimento.indb 19 09/01/13 17:22
20
Capítulo 1 
[...] logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, 
com medida e proporção, com clareza e de modo compreensível 
para outros. Assim, na origem, razão é a capacidade intelectual 
para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e 
dizer as coisas tais como são. (CHAUÍ, 2002, p. 59, grifo nosso).
Esse tipo de conhecimento surgiu em nossa sociedade para superar ou se opor 
a quatro atitudes mentais: conhecimento ilusório (conhecimento das aparências 
das coisas); emoções (sentimentos e paixões cegas e desordenadas); crença 
religiosa (supremacia da crença em relação à inteligência humana); êxtase místico 
(rompimento do estado consciente). (CHAUÍ, 2002, p. 59-60). 
Refletir ou conceber o mundo à luz do conhecimento filosófico significa, antes de 
tudo, usar o poder da razão para pensar e falar ordenadamente sobre as coisas. 
Assim, a reflexão filosófica é radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas 
que a realidade apresenta. Radical porque vai às raízes do problema, rigorosa 
porque é sistemática, metódica e planejada, e de conjunto porque analisa o 
problema em todos os seus ângulos e aspectos. (ARANHA; MARTINS, 1999).
Do mesmo modo, é possível afirmar que “o conhecimento filosófico constrói uma 
forma especulativa de ver o mundo. Especulação, de especulum que significa 
espelho, é um saber elaborado, a partir do exercício do pensamento, sem o uso 
de qualquer objeto que não o próprio pensamento”. (RAUEN, 1999, p. 23). 
Por isso, um dos papéis mais significativos desse tipo de conhecimento para o 
homem é o de desestabilizar o que está posto, no sentido de demonstrar que 
as coisas não estão prontas e acabadas, tornando o nosso pensamento falível e 
superável à medida que vamos conhecendo novos horizontes. O conhecimento 
filosófico não é verificável, daí não se pautar na experiência sensorial e por isso a 
utilização da razão é uma forma de bloquear a interferência dos sentimentos no 
ato de conhecer determinada coisa.
Sendo assim, a prática do conhecimento filosófico torna-se cada vez mais 
necessária em nosso cotidiano e meio acadêmico, pois nos estimula e 
motiva à reflexão mais crítica sobre a nossa vida, a sociedade e o mundo 
em que vivemos. 
Enfim, como a Filosofia aborda a questão da justiça? Não é difícil pressupor que 
se a Filosofia faz uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas 
da realidade fará também a mesma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre 
o problema da justiça. O filósofo, ou qualquer pessoa que se propõe a pensar 
sobre o assunto, fará especulações racionais, procurando apontar os seguintes 
questionamentos: a justiça é justa? A quem serve a justiça? Por que a justiça é 
mais severa para uns e mais branda para outros?
teoria_do_conhecimento.indb 20 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
21
E você, como pensa, filosoficamente, o problema da justiça? 
 Reflita sobre essa questão. Será um bom exercício para que você compreenda 
melhor sobre o conhecimento filosófico. E agora, para encerrar este capítulo de 
estudo, conheça mais detalhes sobre o co nhecimento científico, tão enfatizado 
em nossa realidade acadêmica.
2.5 O conhecimento científico 
Como você já estudou nas seções anteriores, cada tipo de conhecimento tem 
características próprias e um modo bem particular de compreender os fatos, os 
fenômenos, as situações ou as coisas. 
Com o conhecimento científico também não é diferente. Dos apresentados até o 
momento, o conhecimento científico é considerado o mais recente. 
A ciência, da forma como é entendida hoje, é uma invenção do mundo moderno. 
Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, Galileu, Newton, entre outros, foram os 
grandes expoentes que, no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, 
criaram as bases do conhecimento científico. 
Para Köche (1997, p. 17),
o conhecimento científico surge não apenas da necessidade 
de encontrar soluções para os problemas de ordem prática da 
vida diária, característica esta do conhecimento ordinário, mas 
do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam 
ser testadas e criticadas através de provas empíricas que é o 
conhecimento que advém dos sentidos ou da experiência sensível.
Observe que, “[...] o conhecimento científico é real – no sentido que se 
prende aos fatos – e contingente – porque se pauta, além da racionalidade, 
pela experiência e pela verificabilidade [das coisas]”. (RAUEN, 2002, p. 22). 
Geralmente, ele se verifica na prática, pela demonstração ou pela experimentação, 
dependendo da área de estudo em que esteja inserido: seja nas áreas sociais e 
humanas ou nas “exatas” e biológicas, por exemplo.
Para Silva (2005, p. 22), 
o conhecimento científico é alcançado através da ciência, porque 
a ciência está buscando constantemente explicações e soluções, 
revisando e avaliando os seus resultados, com uma clara 
consciência de que está sujeita a falhas e que tem limitações. 
A ciência é um processo de construção, ela está sempre se 
renovando e se reavaliando. 
teoria_do_conhecimento.indb 21 09/01/13 17:22
22
Capítulo 1 
Sendo assim, o conhecimento não se dá de forma absoluta, pesquisando não só 
o fenômeno, mas também as suas causas e suas leis. 
 E então, você está lembrado do problema apresentado no início desta seção de 
estudo para exemplificar os tipos de conhecimento? Pois bem, com base nas 
informações apresentadas sobre o conhecimento científico, como você analisa o 
problema da justiça? Quais são as bases conceituais, no âmbito do conhecimento 
científico, para fundamentar de forma metódica, racional e sistemática essa 
questão? 
Se você ainda não formalizou uma ideia consistente ou convincente sobre a visão 
da justiça sob o prisma do conhecimento científico, não seja impaciente, pois no 
decorrer do próximo capítulo serão apresentadas outras características desse 
tipo de conhecimento, além de estabelecer uma relação entre ciência, tecnologia 
e arte, de resgatar elementos de definição e classificação das ciências. 
2.6 Considerações finais 
Neste capítulo, você estudou a origem e o conceito de conhecimento. A palavra 
conhecimento vem do latim (cognitio) e resulta da relação entre o sujeito e o 
objeto. Como formas de apropriação do conhecimento, podemos destacar a 
direta e a indireta. A forma direta ocorre quando o sujeito enfrenta a realidade 
e opera “com” e “sobre” a mesma. Na indireta, o conhecimento é obtido por 
intermédio de símbolos gráficos, orais, mímicos etc. 
Você também estudou os tipos de conhecimento. O senso comum é aquele 
que provém do viver e aprender, da experiência de vida, sem apresentar uma 
preocupação com o estudo sistemático da realidade. O religioso ou teológico 
se funda na fé, acreditando que as verdades são infalíveis ou indiscutíveis, 
vinculadas às revelações divinas. O artístico preocupa-se em produzir emoções, 
por meio da manifestação dos sentimentos, marcadas pela sensibilidade do 
artista ou do intérprete. O filosófico utiliza o poder da razão para pensar e falar 
ordenadamente sobre as coisas, possibilitando uma reflexão rigorosa, radical e 
de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. Esse conhecimento 
constrói uma forma especulativa de ver o mundo. O conhecimento científico, por 
sua vez, fornece explicações sistemáticas que podem ser testadas e criticadas 
por meio de provas empíricas, caracterizando-se como real e contingente. 
Assim, como você pode observar, cada tipo de conhecimento apresenta uma 
forma bem peculiar de interpretar os fenômenosproduzidos pela natureza ou pelo 
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Teoria do conhecimento 
23
homem. O problema da justiça, que foi o exemplo utilizado no decorrer de todo 
o capítulo, ou qualquer outro problema, pode ser concebido ou interpretado à luz 
dos diversos tipos de conhecimento.
Os teóricos do conhecimento são capazes de descrever inúmeras semelhanças e 
diferenças entre os tipos de conhecimento apresentados aqui. Também ressaltam 
que as fronteiras entre eles nem sempre são tão claras quanto pensamos.
Os tipos de conhecimento que abordamos não descrevem as variadas formas de 
manifestação do conhecimento humano, mas estão entre as mais discutidas pela 
Teoria do Conhecimento, como base para entendimento das teorias dos filósofos, 
sobre como podemos conhecer.
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25
Secões de estudo
Habilidades
Capítulo 2
Ciência, Tecnologia e Arte
Neste capítulo, com a preocupação de ser 
competente no ato de produzir cientificamente, você 
terá a oportunidade de desenvolver habilidades 
sobre como argumentar e demonstrar ideias ou 
refletir criticamente os estudos sobre o conhecimento 
científico, por meio de sua definição, características, 
perspectiva histórica e, principalmente, da relação 
com a tecnologia e a arte.
Seção 1: Uma definição de ciência 
Seção 2: Ciência, tecnologia e arte
Seção 3: Classificação das ciências
Seção 4: A perspectiva histórica da ciência
teoria_do_conhecimento.indb 25 09/01/13 17:22
26
Capítulo 2 
Seção 1
Uma definição de ciência
A ciência está relacionada diretamente às necessidades humanas do nosso 
cotidiano, como alimentação, vestuário, saúde, moradia, transporte, entre outros. 
O conhecimento científico está por trás do remédio que tomamos, da orientação 
médica que recebemos, da roupa que vestimos. A ciência, na época em que 
vivemos, tornou-se um bem cultural. Por isso, é muito difícil imaginarmos nossa 
vida sem a presença dela.
O significado etimológico da palavra ciência vem do latim (scientia) e significa saber, 
conhecer, arte, habilidade. Apesar de a palavra ciência remontar à Antiguidade, é 
somente no século XVII que surge como um conhecimento racional, sistemático, 
experimental, exato e verificável.
Trujillo Ferrari (1973, p. 3) destaca cinco funções básicas das ciências, que são: 
a. aumento e melhoria do conhecimento; 
b. descoberta de novos fatos e fenômenos; 
c. aproveitamento espiritual; 
d. aproveitamento material do conhecimento; 
e. estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza.
Se não há unanimidade na definição de ciência, por conta de fatores culturais, 
históricos, filosóficos ou ideológicos, há, por outro lado, características que 
são unânimes em praticamente todas as tentativas de definição desse tipo de 
conhecimento.
Com base nisso, é possível afirmar que o conhecimento científico é:
 • Verificável;
 • Factual;
 • Racional;
 • Objetivo;
 • Intersubjetivo
 • Preditivo;
 • Comunicável;
 • Descritivo-explicativo;
 • Metódico; 
 • Movido por paradigmas. 
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Teoria do conhecimento 
27
A partir das características apresentadas, você deve estar se perguntando: quais 
são, então, os significados dessas características? Acompanhe, a seguir, uma 
sucinta descrição de cada uma delas.
1.1 Verificável 
 Corresponde à ideia de prova ou de constatação da experiência pela ação 
e demonstração de um fenômeno, com a preocupação básica de testar a 
consistência da validade desse fenômeno. O método adotado em uma pesquisa 
científica deve permitir a outro pesquisador atingir os mesmos resultados 
alcançados, desde que adote os mesmos critérios e procedimentos.
1.2 Factual 
Diz respeito aos fatos que acontecem na realidade, que está à disposição da 
nossa observação numa dada realidade. O conhecimento científico estuda 
fenômenos naturais e humanos que ocorrem ou acontecem na natureza ou vida 
humana.
1.3 Racional 
Relaciona-se com a construção de conceitos e juízos a partir do uso 
sistemático do raciocínio, ou melhor, o que se quer na verdade é “[...] atingir 
uma sistematização coerente do conhecimento presente em todas as suas leis 
e teorias” (KÖCHE, 1997, p. 31). As teorias científicas não podem apresentar 
ambiguidade ou incoerência entre seus enunciados, por isso, a necessidade de 
um conhecimento racional e lógico. Köche chama isso de verdade sintática, 
como se explica a seguir: 
O conhecimento das diferentes teorias e leis se expressa 
formalizado em enunciados que, confrontados uns com os 
outros, devem apresentar elevado nível de consistência lógica 
entre suas afirmações [...] A ciência, no momento em que 
sistematiza as diferentes teorias, procura uni-las estabelecendo 
relações entre um e outro enunciado, entre uma e outra lei, 
entre uma e outra teoria, entre um e outro campo da ciência, de 
forma tal que se possa, através dessa visão global, perceber as 
possíveis inconsistências e corrigi-las. (KOCHE, 1997, p. 31).
teoria_do_conhecimento.indb 27 09/01/13 17:22
28
Capítulo 2 
1.4 Objetivo 
Refere-se ao propósito de querer encontrar a verdade contida na realidade, 
dispensando as impressões imediatas que acobertam essa mesma realidade, 
permitindo, inclusive, a manipulação dos fatos e o desenvolvimento de 
uma linguagem específica inerente aos conceitos próprios de cada área do 
conhecimento científico. Quando se fala em objetividade científica, quer se dizer 
que os enunciados, conceitos ou teorias científicas devem corresponder aos 
fatos. Objetividade, portanto, significa a correspondência da teoria com os fatos. 
Köche chama isso de verdade semântica, ou melhor, “o ideal da objetividade 
[...] pretende que as teorias científicas, como modelos teóricos representativos 
da realidade, sejam construções conceituais que representem com fidelidade o 
mundo real [...].” (KÖCHE, 1997, p. 31).
1.5 Intersubjetivo
De nada adianta uma teoria ser coerente na sua construção lógica (ideal de 
racionalidade ou verdade sintática); de nada adianta uma teoria apresentar 
correlação entre seus enunciados e conceitos e os fatos (ideal de objetividade ou 
verdade semântica) se essa teoria não for submetida à apreciação e/ou validação 
e/ou crítica da comunidade científica. Köche chama isso de verdade pragmática, 
ou seja, o ideal de intersubjetividade é a possibilidade dos enunciados científicos 
serem “[...] submetidos a testes, em qualquer época e lugar e por qualquer sujeito 
[reconhecido pela comunidade científica]”. (KÖCHE, 1997, p. 33).
Assim, “[...] um enunciado científico é objetivo quando, alheio às crenças pessoais, 
puder ser apresentado à crítica, à discussão, e puder ser intersubjetivamente 
submetido a teste”. (POPPER, 1977 apud KÖCHE, 1997, p. 32).
1.6 Preditivo 
Remete ao entendimento de que, com o conhecimento científico, é possível 
prever como os fenômenos podem ocorrer. Não se trata de uma questão de 
simples vidência ou premunição, mas de previsão baseada na repetição contínua 
dos fatos.
O sol nasce todos os dias. 
Após a primavera, vem o verão. 
Objetos soltos caem com aceleração constante, se for desprezada a resistência do ar. 
Gatos dão sempre à luz gatinhos [sic]. 
teoria_do_conhecimento.indb 28 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
29
Como se pode ver, há uma ordem na natureza e [...] o cientista tenta descobrir e 
estudar estas regularidades, enunciando-as na forma de leis gerais e utilizando 
estas leis para explicar e prever novos fatos. (GEWANDSZNAYDER, 1989, p. 9, 
grifo nosso).
1.7 Comunicável 
Implica dizer que os resultados das investigações científicas devem ser 
comunicados à sociedade em geral e não ficarem restritos ao meio acadêmico. 
Uma descoberta científica só é reconhecida pela comunidade científica se for 
publicada em uma revista de circulação internacional. Qualquer estudo ou pesquisa 
que você desenvolver só será consideradoverdadeiramente um trabalho científico 
se for publicado ou submetido à apreciação da comunidade acadêmica. Fazer 
uma pesquisa e guardar os resultados para si não é uma postura de quem deseja 
contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científico, você não concorda?
1.8 Descritivo-explicativo
Significa dizer que o conhecimento científico é expresso por meio de enunciados 
que explicam as condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos 
fenômenos relacionados a um problema, pois somente por meio das leis e teorias 
é possível explicar os fenômenos.
As leis e teorias surgem da necessidade de se ter de encontrar explicações 
para os fenômenos da realidade. Esses fenômenos são conhecidos pelas suas 
manifestações, pelas suas aparências, assim como se percebe pela cor e pelo 
perfume quando um fruto está maduro. Pode-se descobrir nos fenômenos 
da mesma natureza a manifestação de alguns aspectos que são comuns e 
invariáveis. Por exemplo: sempre que um objeto é jogado para o alto, cai. O 
estudo dessas manifestações pode conduzir à descoberta da uniformidade ou 
regularidade do comportamento desse fenômeno, conjeturando sobre a estrutura 
dos fatores que interferem ou produzem essa regularidade. (KÖCHE, 1997, p. 90).
A função da Física consiste em descrever e explicar os fenômenos físicos, da 
Sociologia em descrever e explicar os fenômenos sociais, da Psicologia em 
descrever e explicar os fenômenos psíquicos. Isso que ocorre com a Física, a 
Sociologia e a Psicologia também ocorre com as demais ciências.
1.9 Metódico
Significa um conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, estabelecidas pelo 
pesquisador, a fim de investigar um determinado tema/questão/problema. Não 
há ciência sem método. Entre o sujeito que conhece (cientista) e o objeto que é 
teoria_do_conhecimento.indb 29 09/01/13 17:22
30
Capítulo 2 
conhecido há um conjunto de procedimentos, regras, instrumentos, técnicas e 
processos que permitem a elucidação mais precisa do objeto de estudo.
A definição se deu a partir de dois polos: de um lado o sujeito e, de outro, o objeto. 
O método, enquanto exigência do conhecimento científico, coloca-se entre essa 
relação.
1.10 Movido por paradigmas
Todo conhecimento científico baseia-se em modelos ou representações formadas 
por pressupostos teórico-filosóficos. Um exemplo disso é a física aristotélica, 
física newtoniana, física quântica, psicologia comportamentalista, psicanálise, 
dogmática jurídica ou qualquer outro modelo filosófico-científico. Afirmar que 
a ciência é movida por paradigmas significa dizer que a ciência é movida por 
modelos, marcada por concepções ou formas de interpretar o mundo, a vida e a 
sociedade.
Kuhn (2003, p. 13), em sua obra “A estrutura das revoluções científicas”, assim se 
expressa sobre os paradigmas: Considero ‘paradigmas’ as realizações científicas 
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e 
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.
Nesta seção, você estudou as principais características da ciência, que 
possibilitam defini-la de forma mais precisa e objetiva. Assim, prosseguiremos 
nossos estudos sobre a ciência, estabelecendo uma relação dessa com a 
tecnologia e a arte. É o que você verá a seguir.
Seção 2
Ciência, tecnologia e arte
Um dos desafios da Ciência tem sido marcado pela vontade de dominar a 
natureza, por meio do desenvolvimento tecnológico. Assim, “além de aumentar 
nosso conhecimento, a Ciência também pode ser utilizada como fonte de poder 
sobre a natureza”. (GEWANDSZNAJDER, 1989, p. 16).
Para Barros e Lehfeld (1986, p. 70), a ciência é o meio mais adequado para o 
controle prático da natureza, transformando-a em “[...] matriz de recursos técnicos 
e/ou tecnológicos, os quais utilizados com sabedoria contribuem para uma vida 
humana mais satisfatória, enquanto efetivação instrumental do fazer e do agir”.
teoria_do_conhecimento.indb 30 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
31
Do mesmo modo, Köche (1997, p. 43) afirma que a ciência pode “[...] satisfazer às 
necessidades humanas como instrumento para estabelecer um controle prático 
sobre a natureza”.
Como você pode observar, não há ruptura epistemológica entre a ciência e a 
técnica, mas há um encadeamento. Sendo assim, “há técnica para o conhecer e 
há técnica para o agir”, de modo que esta (técnica) se utiliza “[...] das orientações 
fornecidas pela ciência sobre a realidade, e transforma-as em programas e planos 
de execução”. (BARROS; LEHFELD, 1986, p. 71).
A técnica ou tecnologia (do grego téchne, que significa arte ou habilidade) 
pode utilizar tanto o conhecimento comum quanto os conhecimentos obtidos 
na pesquisa básica ou na ciência aplicada para criar novos artefatos ou 
produtos (aparelhos elétricos, computadores, medicamentos, corantes etc.), 
melhorar a produção, modificar o ambiente ou amenizar as atividades humanas. 
(GEWANDSZNAJDER, 1989, p. 16).
Segundo Barros e Lehfeld (1986, p. 71), “genericamente, a técnica é o manejo 
do conceito; é o exercício da investigação e o da intervenção sobre o objeto, 
para atingir resultados práticos compatíveis com as exigências situacionais de 
mudanças”.
Nesse sentido, Köche (1997, p. 43) afirma que:
a eletricidade, a telefonia, a informática, o rádio, a televisão, a 
aviação, as aplicações tecnológicas no campo da medicina, 
das engenharias e das viagens espaciais, o uso da genética 
na agricultura e na agropecuária e tantos outros relacionados 
à psicologia, e aos mais diferentes campos do conhecimento 
mostram a evolução crescente do uso do conhecimento 
científico na vida diária do homem, a tal ponto que dificilmente 
se desvincula a produção do conhecimento do seu benefício 
tecnológico e pragmático.
Aos poucos, o conhecimento científico toma conta das nossas decisões e ações 
cotidianas, configurando uma sociedade do conhecimento, na qual o poder se 
constitui pelo domínio do próprio conhecimento.
Outro aspecto importante a ser abordado é a relação entre a ciência e a arte, que 
pode ser estudada de diversas formas no processo histórico. O escultor, pintor, 
engenheiro e cientista Leonardo da Vinci (1452-1519), por exemplo, dizia que 
ciência e arte completavam-se formando uma atividade intelectual. Também a 
literatura de ficção científica indica proximidade entre ciência e arte. 
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32
Capítulo 2 
Vários artistas desenvolvem obras ligadas às áreas tecnocientíficas, aos avanços 
da computação e dos meios de comunicação, a biologia e a engenharia genética, 
entre outros. Esse é o caso da arte eletrônica, arte-comunicação, ou ainda, arte 
transgênica. 
Também, pelo universo digital, podem-se conhecer museus e exposições de arte, 
sem contar que, por meio da tecnologia, o produtor de arte tem a oportunidade 
de divulgar seu trabalho e torná-lo conhecido mundialmente. 
Apesar dos vários recursos que a tecnologia e a ciência oferecem, uma grande 
quantidade de arte continua a ser realizada alheia às inovações, confirmando que 
a utilização de técnicas e materiais tradicionais ainda não se esgotou.
Hoje, como se percebe, ciência, arte e tecnologia se comunicam abertamente, 
seja pela complementariedade ou pela influência recíproca. Essa relação só 
tende a crescer, já que, a cada dia surgem novos meios tecnológicos que 
ajudam a propagar e aprimorar os conhecimentos. A busca por recursos dessa 
natureza é cada vez maior em nossa sociedade para resolver ou contornar as 
mais diversas situações. 
Nesse sentido, o diálogo entre tecnologia, ciência e arte não pode ser separado 
do contexto social, político e ideológico que nos rodeia. O próprio conceito de 
arte sofre abalos constantes, quem dera os da ciência e da tecnologia. Por isso, 
Alves (2004) afirma:
há uma ciência dos olhos. Há uma especialidade médica que se 
dedica a eles: a oftalmologia. Mas, por mais que procuremos nos 
tratados de oftalmologia referências ao olhar, não encontraremos 
nada. O olhar não éobjeto de conhecimento científico. Nem 
tudo o que é real pode ser pescado com as redes metodológicas 
da ciência. Há objetos que escapam pelos buracos de suas 
malhas. Será possível fazer uma ciência dos olhares? Tratá-los 
estatisticamente? Não tem jeito. Aí a proposta de uma tese sobre 
o olhar foi rejeitada sob a justa alegação de que não era científica. 
E não era mesmo. Mas o fato é que os olhares são reais!
Você acabou de estudar a relação da ciência com a tecnologia e a arte, e 
percebeu que estão próximas, sendo, portanto, complementares. Isso permite 
ampliar sua visão sobre a abrangência dos estudos científicos. Nesse sentido, 
partimos para a próxima seção, a qual aborda a classificação das ciências. 
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Teoria do conhecimento 
33
Seção 3
Classificação das ciências
A classificação das ciências é outra tarefa um tanto difícil de estabelecer. Se 
você fizer um estudo na literatura sobre o assunto, com certeza, você encontrará 
muitas formas de agrupar ou de separar as ciências.
O que há de comum entre elas é que, em todas as classificações, os autores 
procuram levar em conta o critério do objeto de estudo, isto é, procuram agrupar 
as ciências pelas semelhanças ou diferenças que há entre elas. Assim, as 
ciências que estudam fenômenos produzidos pela ação humana fazem parte de 
um grupo, enquanto as ciências que estudam os fenômenos produzidos pela 
ação da natureza fazem parte de outro grupo.
Qual a classificação das ciências?
Observe a classificação de Bunge apud Gewandsznayder (1989, p. 12):
Figura 2.1 – Classificação das ciências
Fonte: Bunge apud Gewandsznayder (1989, p. 12).
A lógica e a matemática são ciências do pensamento, pois lidam com fenômenos 
ideais e abstratos. Enquanto a matemática opera com números, a lógica opera 
com ideias, mas ambas não possuem realidade física.
Você já imaginou a realidade física do zero ou a realidade física do pensamento? 
Toda ideia é uma abstração, o zero, ou qualquer outro número, é uma convenção 
humana, que por meio de um símbolo representa ausência de alguma coisa. 
teoria_do_conhecimento.indb 33 09/01/13 17:22
34
Capítulo 2 
As operações lógicas e matemáticas se dão exclusivamente no campo do 
pensamento.
A lógica e a matemática são importantes tanto para o homem comum que 
necessita pensar de forma ordenada e operar com números no seu dia a dia, 
como para a ciência, principalmente no que diz respeito a sua aplicação como 
contribuinte ou instrumento para testar a validade de suas teorias. 
Pitágoras, na Antiguidade Clássica, dizia que a essência de todas as coisas é o 
número, que tudo pode ser representado numericamente. Os positivistas lógicos 
no século XX afirmavam que um enunciado para ser verdadeiro deveria passar 
pelo crivo da lógica.
Ambas são consideradas Ciências Formais porque são instrumentais e lidam 
com operações que se encadeiam por meio dos números, ideias, funções, 
proposições etc. Alguns autores chegam a afirmar que a lógica ou a matemática 
não seriam propriamente ciência, mas método. Ambas não estão preocupadas 
com o conteúdo de suas operações, mas com a implicação dos elementos que 
compõem essas operações.
As Ciências Factuais referem-se aos fatos ou fenômenos concretos que 
correspondem a alguma coisa real e podem ser observados ou testados. As 
Ciências Naturais lidam com fenômenos produzidos pela ação da natureza 
(Química, Biologia, Física, Ecologia). As Ciências Culturais, sociais ou humanas 
lidam com os fenômenos produzidos pela ação do homem nas relações 
socioculturais (Sociologia, Psicologia, Antropologia, História).
Além da classificação apresentada (Ciências formais e factuais), alguns autores 
acrescentam um outro agrupamento: o das Ciências Aplicadas. Nesse grupo, 
encontram-se todas as ciências que se propõem a criar artefatos ou tecnologias 
para a intervenção na vida humana ou na natureza: Medicina, Arquitetura, 
Engenharia, Ciências da Computação, entre outras.
Como você acabou de estudar, a classificação das ciências não é uma tarefa 
nada fácil de estabelecer, pois existem várias formas de agrupar ou de separá-
las. Então, continuemos nossos estudos. Agora, partimos para o estudo da 
história da ciência. 
teoria_do_conhecimento.indb 34 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
35
Seção 4
A perspectiva histórica da ciência
Dos vários tipos de conhecimentos que existem (conhecimento do senso comum, 
conhecimento religioso, conhecimento artístico e conhecimento filosófico), o 
científico é o que pode ser considerado o mais recente.
A ciência, da forma como é entendida hoje, é uma invenção do mundo moderno, 
decorrente da Revolução Científica do século XVII.
Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, Galileu, Newton, entre outros foram os 
grandes expoentes que, no final da Idade Média e durante a Idade Moderna 
criaram as bases do conhecimento científico. Todavia, a história da ciência 
começa muito antes desse período, remetendo-nos para a Grécia Antiga do 
século VI a.C.
Nesse sentido, para que você possa iniciar o estudo da história das ciências com 
mais segurança e clareza, é importante, primeiramente, determinar os principais 
períodos históricos pelos quais se desenvolveu o conhecimento científico.
Visão Grega Visão Moderna Visão Contemporea
Século VI a.C. até o final 
da Idade Média.
Século XVII ao Século XIX. Século XIX até os nossos dias.
4.1 A visão grega de ciência
Os gregos dos séculos VI a IV a.C. foram os primeiros a desenvolver um tipo de 
conhecimento racional desligado do mito. “O pensamento laico, não religioso, 
logo se tornava rigoroso e conceitual, fazendo nascer a filosofia no século VI a.C.” 
(ARANHA, MARTINS, 1999, p. 93).
Uma das preocupações mais evidentes nesse período era a da busca do saber, a 
compreensão da natureza das coisas e do homem. Buscava-se uma nova forma 
de compreensão do universo em contraposição à visão mitológica.
Os filósofos “[...] pré-socráticos substituíram a concepção de mundo caótico 
concebido pela mitologia pela ideia de cosmos”. Agora o universo passava a 
ser a ordem ou o cosmos, contrapondo-se à concepção mitológica de que os 
fenômenos aconteciam no mundo de forma caótica, como se fossem movidos 
por forças espirituais e sobrenaturais, comandadas pelas forças dos deuses. 
(KÖCHE, 1997, p. 44).
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36
Capítulo 2 
Os primeiros filósofos buscavam o princípio explicativo de todas as coisas (a arché), 
cuja unidade resumiria a extrema multiplicidade da natureza. Os fenômenos estavam 
relacionados a causas e forças naturais que podiam ser conhecidas e previstas. “As 
respostas eram as mais variadas, mas a teoria que permaneceu por mais tempo foi a 
de Empédocles, para quem o mundo físico é constituído de quatro elementos: terra, 
água, ar e fogo”. (ARANHA; MARTINS, 1999, p. 93).
Assim, a noção de ciência na Grécia voltava-se para a especulação racional e se 
desligava da técnica e das preocupações práticas, pois “numa sociedade escravista, 
que deixava tarefas, trabalhos e serviços aos escravos, a técnica era vista como uma 
forma menor de conhecimento”. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 255).
Segundo essa concepção, era preciso buscar a ciência (episteme) que consistia 
no conhecimento racional das essências, das ideias imutáveis, objetivas e 
universais. As ciências como a matemática, a geometria e a astronomia são 
passos necessários a serem percorridos pelo pensamento, até atingir as 
culminâncias da reflexão filosófica. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 94).
Para Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, a ciência (episteme) “[...] 
produz um conhecimento que pretende ser um fiel espelho da realidade, por estar 
sustentado no observável e pelo seu caráter de necessidade e universalidade”. A 
Physis era o princípio ativo, a fonte intrínseca natural do comportamento de cada 
coisa, determinada por sua matéria e forma. Portanto, a ciência física era uma 
ciência da natureza (KÖCHE, 1997, p. 47).Nesse sentido, a concepção estática do mundo se mantém definida, na qual os 
gregos costumavam associar a perfeição ao repouso, caracterizada pela ausência 
de movimento.
Assim, na visão grega de ciência, predominou esse modelo cosmológico 
aristotélico, posteriormente confirmado por Ptolomeu (um helênico do século II 
d.C.), que defendia a ideia de um mundo “geocêntrico, finito, de forma esférica, 
limitado às estrelas visíveis e fechado, com princípios organizadores próprios, tal 
qual um organismo vivo, dotado de inteligência própria”. (KÖCHE, 1997, p. 48, 
grifo dos autores).
Outra característica marcante dessa astronomia (de Aristóteles) foi a 
hierarquização do cosmos, ou seja, o universo se achava dividido em dois 
mundos, sendo que um era considerado superior ao outro: o mundo sublunar, 
considerado inferior, correspondia à região da Terra [...] e o mundo supralunar, de 
natureza superior, correspondia aos Céus. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 94).
A partir desse breve esboço, segundo Aranha e Arruda (1999, p. 95), podemos 
atribuir à Ciência grega cinco características marcantes, as quais são:
teoria_do_conhecimento.indb 36 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
37
a. a ciência encontra-se ligada à filosofia;
b. a ciência é qualitativa;
c. a ciência não é experimental;
d. a ciência é contemplativa;
e. a ciência baseia-se em uma concepção estática do mundo.
4.2 O período medieval e a cristianização da concepção grega 
de ciência
Continuando o estudo, chegamos ao mundo medieval (que se estende, 
aproximadamente, dos séculos V ao XV), no qual observamos que continua a 
vigorar a influência da herança grecolatina, no que se refere à manutenção da 
mesma concepção de ciência. “Apesar das diferenças evidentes, é possível 
compreender essa continuidade, devido ao fato de o sistema de servidão também 
se caracterizar pelo desprezo à técnica e a qualquer atividade manual”. (ARANHA, 
MARTINS, 1999, p. 95).
Agora a ciência “[...] se vincula aos interesses religiosos e se subordina aos 
critérios da revelação, pois, na Idade Média, a razão humana devia se submeter 
ao testemunho da fé” (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 95). O que valia eram as 
verdades reveladas pelos “velhos livros”, fossem eles a Bíblia, Aristóteles ou 
Ptolomeu. “Eles eram o próprio conhecimento, a própria Ciência”. (ALFONSO-
GOLDFARB, 1994, p. 30).
Por isso, nessa fase histórica, não houve desenvolvimento das ciências particulares, 
fazendo com que a lógica aristotélica passasse a ser amplamente utilizada para 
justificar as verdades da fé.
Nesse sentido, você pode perceber que o Teocentrismo, tendo na figura de Deus o 
centro de todas as atenções humanas, passou a ser a visão de mundo que marcou 
o imaginário da maioria das pessoas que viveram neste momento. Portanto, o 
período medieval se constituiu, sobretudo, na primazia da fé sobre a razão.
4.3 A visão moderna de ciência
A visão moderna de ciência surge no final da Idade Média, perpassa o período 
renascentista e culmina no século XVII, com a chamada Revolução Científica.
Nicolau Copérnico (1473-1543), em oposição ao modelo geocêntrico de 
astronomia de Ptolomeu, no século XVI, propõe o modelo da teoria 
heliocêntrica. (ARANHA, ARRUDA, 1999, p. 96, grifo nosso).
teoria_do_conhecimento.indb 37 09/01/13 17:22
38
Capítulo 2 
No período renascentista, inicia-se uma concepção de ciência, em que as 
culturas fundamentadas no conhecimento racional das essências (da Antiguidade 
clássica) ou nas verdades reveladas pelos parâmetros bíblicos (do medieval) 
deveriam ser apagadas do imaginário e da mentalidade dos europeus ocidentais, 
de modo a valorizar-se apenas o uso de métodos experimentais rigorosos 
que, amparados no conhecimento matemático, eram capazes de proporcionar 
respostas consideradas cientificamente verdadeiras.
Assim, em princípio, temos a concepção racionalista de ciência, que se 
consolida até o final do século XVII. Nesse tipo de concepção, a ciência é definida 
como um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo.
Paralelamente à concepção racionalista, temos a concepção empirista de 
ciência, que se baseava no modelo de objetividade da medicina grega e da 
história natural do século XVII, estendendo-se até o final do século XIX. Nessa 
concepção, defendia-se a posição de que não existiam ideias inatas, tendo na 
experiência o parâmetro de aprendizado.
Assim, aos poucos, os pensadores modernos, seja pela concepção racionalista 
ou empirista, passam a negar tacitamente o saber aristotélico incorporado à 
teologia católica do período medieval europeu.
No campo da Física e da Astronomia, os estudos realizados por Galileu 
possibilitaram a Isaac Newton (1642-1727) elaborar a teoria da gravitação 
universal. A proposição física se tornava uma lei, obtida pela observação e 
generalização indutiva, transformando-se em “[...] proposições confiáveis e 
destituídas de dúvida ou de arbitrariedade, [como se fosse] um decalque fiel e 
objetivo da realidade”. (KÖCHE, 1997, p. 57).
A partir desse momento, estava instituída a Física Mecânica (de Newton), como 
paradigma para todas as ciências, criado matematicamente, as humanas e 
sociais inclusive. Agora, a ciência experimental newtoniana se transformava no 
modelo de conhecimento.
René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do racionalismo, pois defendia 
a ideia de que a verdade dos conceitos e demonstrações matemáticos era 
inquestionável.
John Locke (1632-1704) é considerado um dos grandes 
responsáveis por essa concepção de Ciência. Dizia que a mente 
era uma página em branco a qual a experiência viria a preencher.
Galileu Galilei (1564-1642) foi, certamente, um dos grandes 
expoentes da Ciência moderna, sendo o primeiro a formular 
o método quantitativo-experimental, o primeiro a formular o 
problema crítico do conhecimento.
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Teoria do conhecimento 
39
Figura 2. 2 - Pensadores modernos
René Descartes (1596-1650) é considerado o 
pai do racionalismo, pois defendia a idéia de 
que a verdade dos conceitos e demonstrações 
matemáticos era inquestionável.
John Locke (1632-1704) é considerado um dos 
grandes responsáveis por esta concepção de 
Ciência. Dizia que a mente era uma página em 
branco a qual a experiência viria a preencher.
Galileu Galilei (1564-1642) foi, certamente, um dos 
grandes expoentes da Ciência moderna sendo 
o primeiro a formular o método quantitativo-
experimental, o primeiro a formular o problema 
crítico do conhecimento.
Fonte: Portal Sofia (2010).
As Ciências Humanas e Sociais tiveram enorme dificuldade em estabelecer um 
estatuto próprio ou uma autonomia, pois, como você percebeu, todo o modelo de 
cientificidade, necessariamente, estava vinculado às Ciências Naturais. A Física 
era considerada a ciência perfeita.
Assim, a Economia, a Sociologia, a Psicologia, entre outras Ciências Sociais e 
Humanas, nos séculos XVIII e XIX, para atingirem o status de conhecimento científico, 
inicialmente tiveram que adotar o modelo experimental proposto pela Física.
A Sociologia chegou a ser chamada de Física Social e a Psicologia de Psicofísica.
A exaltação à ciência e ao método experimental deu origem ao chamado 
cientificismo: visão reducionista segundo a qual a ciência seria o único 
conhecimento válido. Dessa forma, o método das Ciências da natureza – baseado 
na observação, experimentação e matematização – deveria ser estendido a todos 
os campos do conhecimento e a todas as atividades humanas. A ciência virou 
praticamente um mito. (HEERDT; LEONEL, 2006, p. 42).
teoria_do_conhecimento.indb 39 09/01/13 17:22
40
Capítulo 2 
4.4 A visão contemporânea de ciência 
Esse período é marcado pela crise do modelo de ciência da Idade Moderna. 
Nesse sentido, “a principal contribuição para uma nova concepção de ciência foi 
dada (pelo físico) Einstein, pois “as teorias da relatividade restrita e da relatividade 
geral foram importantes não apenas pelo conteúdo que apresentaram, mas pela 
forma como foramalcançadas”. (KÖCHE, 1997, p. 60).
A cientificidade passa a ser pensada nesse momento como uma ideia reguladora 
de alta abstração e não mais como sinônimo de modelos e normas a serem 
seguidos. Agora a teoria não será mais aceita como definitivamente confirmada.
Então, “a objetividade da ciência resulta do julgamento feito pelos membros da 
comunidade científica que avaliam criticamente os procedimentos utilizados e 
as conclusões, divulgadas em revistas especializadas e congressos”. (ARANHA, 
MARTINS, 1999, p. 89).
Dessa maneira, a ciência procura demonstrar que é capaz de fornecer respostas 
dignas de confiança, desde que submetidas continuamente a um processo de 
revisão crítica, sistemática e fundamentada nas teorias vigentes. “A ciência, em 
sua compreensão atual, deixa de lado a pretensão de taxar seus resultados de 
verdadeiros, mas, consciente de sua falibilidade, busca saber sempre mais”. 
(KÖCHE, 1997, p. 79). Assim, o conhecimento científico pode ser definido como 
provisório e construído, até que outro venha a superá-lo.
A visão contemporânea de ciência é marcada pelas rupturas epistemológicas, 
não havendo um modelo exclusivo que caracterize o conhecimento científico 
nessa época. Ruptura epistemológica significa revisão crítica do conhecimento e 
tentativas de superar aquela visão estática, marcada pelas verdades dogmáticas 
e imutáveis, tão característico em toda a história do conhecimento científico.
4.5 Considerações finais
Você estudou, neste capítulo, a definição de ciência, a relação entre ciência, arte e 
tecnologia, a classificação das ciências e a perspectiva histórica da ciência.
Você percebeu que não há uma única forma de definir ciência. Esta dificuldade 
resulta de fatores culturais, históricos, filosóficos ou ideológicos. Entretanto, 
mesmo existindo essa dificuldade, é possível identificar algumas características 
que são próprias do conhecimento científico. Nesse sentido, podemos dizer 
que o conhecimento científico é verificável, factual, objetivo, racional, preditivo, 
comunicável, descritivo-explicativo, metódico, movido por paradigmas, 
intersubjetivo, entre outros.
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Teoria do conhecimento 
41
Sobre a relação entre ciência, arte e tecnologia você percebeu que a ciência é o 
meio mais adequado para o controle prático da natureza. Alimentação, transporte, 
saúde, produção industrial dependem das inovações tecnológicas, que, por sua 
vez, dependem dos avanços na ciência. A arte também se relaciona com a ciência, 
comunicando-se abertamente, seja pela complementariedade ou pela influência 
recíproca. Essa relação só tende a crescer, já que a cada dia surgem novos meios 
tecnológicos que ajudam a propagar e a aprimorar os conhecimentos. Dessa 
maneira, torna-se difícil separar a ciência e a arte da tecnologia.
As ciências se dividem em dois grupos: as formais e as factuais. As ciências 
formais ocupam-se de elementos ideais e abstratos e estudam as implicações 
lógicas e matemáticas do pensamento. As ciências factuais estudam fenômenos 
naturais (Física, Química, Biologia, Ecologia etc.), humanos e sociais (Sociologia, 
Economia, Antropologia, História, Psicologia, Direito etc.).
As ciências se agrupam conforme a familiaridade com o objeto de estudo. Assim, 
as ciências que estudam os fenômenos da natureza estão reunidas em um grupo 
e as que estudam os fenômenos sociais e humanos em outro grupo, apesar de 
ambas pertencerem ao grupo das Ciências Factuais. Estudando a divisão da 
ciência, também podemos entender o conhecimento científico como sendo o 
conhecimento das especialidades, das particularidades. Nesse sentido, podemos 
dizer que todo cientista é um especialista em determinada área do conhecimento.
Você estudou também sobre as três grandes concepções históricas de ciência: a 
visão grega, moderna e contemporânea. 
Na visão grega, você estudou que se desenvolveu um tipo de conhecimento 
racional desligado do mito. Nessa época, as concepções míticas do universo dão 
lugar às concepções baseadas na racionalidade, fazendo surgir a Filosofia. Na 
visão grega de ciência, predominou o modelo cosmológico de universo chamado 
geocentrismo (a Terra como centro do universo). Na Idade Média, o modelo de 
ciência grega vincula-se aos interesses religiosos e se subordina aos critérios 
da revelação. Esse modelo perdurou até o final da Idade Média, quando foi 
questionado pelos principais protagonistas da ciência moderna que propuseram o 
modelo heliocêntrico (sol como centro do universo), em substituição ao geocêntrico.
Na Idade Moderna, a concepção de ciência se desvincula da visão grega, por 
meio da chamada Revolução científica. Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, 
Galileu, Newton, entre outros foram os grandes expoentes que, no final da Idade 
Média, e durante a Idade Moderna criaram as bases do conhecimento científico. 
Duas concepções marcaram a Ciência no mundo moderno: a racionalista e 
a empirista. A concepção racionalista preconiza um conhecimento racional, 
dedutivo e demonstrativo e seu maior expoente é René Descartes (1596-1650). 
A concepção empirista defendia a posição de que não existem ideias inatas 
teoria_do_conhecimento.indb 41 09/01/13 17:22
42
Capítulo 2 
e a experiência é o parâmetro para todo aprendizado. O grande expoente da 
concepção empirista é John Locke (1632-1704), ele dizia que a mente era uma 
página em branco a qual a experiência viria preencher.
O modelo de cientificidade estava vinculado às Ciências Naturais e era baseado 
na matematização e na experimentação. A Física era a ciência perfeita e 
considerada modelo de cientificidade. A visão contemporânea de ciência é 
marcada pelas rupturas epistemológicas, não havendo um modelo exclusivo 
que caracterize o conhecimento científico. Como você estudou, ruptura 
epistemológica significa revisão crítica do conhecimento. A concepção atual de 
ciência é marcada pela ideia de que não há verdades eternas, pois as teorias são 
transitórias e podem ser renovadas ou até substituídas.
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Secões de estudo
Habilidades
Capítulo 3
As raízes da Teoria do 
Conhecimento
Pensando nas raízes da teoria do conhecimento 
nas concepções dos filósofos clássicos sobre 
as origens e possibilidades do conhecimento, 
propomos desenvolver as seguintes habilidades: 
refletir criticamente sobre essa temática, interpretar 
informações e dados, extrair conclusões e julgar, 
argumentar e demonstrar esse aprendizado, 
elaborar sínteses.
Seção 1: A descoberta da racionalidade 
Seção 2: O conhecimento na filosofia de Sócrates, 
Platão e Aristóteles
teoria_do_conhecimento.indb 43 09/01/13 17:22
44
Capítulo 3 
Seção 1
A descoberta da racionalidade
A partir desta unidade, você começará a estudar a questão do conhecimento 
em uma perspectiva histórica. Verá a questão do conhecimento no pensamento 
grego antigo de alguns filósofos pré-socráticos (primeiros filósofos ocidentais) 
e de Sócrates, Platão e Aristóteles (filósofos gregos mais estudados). Estudará, 
também, questões fundamentais sobre o conhecimento originado na Grécia 
Antiga e Clássica, que permaneceram sendo discutidas por pensadores 
medievais, modernos e contemporâneos.
Até aproximadamente o século VII a.C., o conhecimento cultivado na Grécia 
Antiga estava ligado a certos aspectos da vida em sociedade. Esse conhecimento 
constituía-se, basicamente, de técnicas aplicadas à agricultura, do desempenho 
dos ofícios tradicionais e da preparação para a guerra. Havia, também, o 
conhecimento mitológico, que, além de motivar os cultos religiosos, explicava boa 
parte da realidade, ligando os deuses diretamente aos fenômenos da natureza 
e aos acontecimentos da vida humana. Aos poucos, porém, os gregos foram 
aprimorando suas técnicas de produção de alimentos e produtos, o que os levou 
a produzir muito mais do que precisavam para seu consumo.
É comum historiadores afirmarem que a excelência no modo de produção da 
vidamaterial levou os gregos às transações de troca da produção excedente e ao 
desenvolvimento do comércio, condição histórica fundamental para o surgimento 
e o apogeu das cidades gregas, de sua cultura, filosofia e ciência.
Com o desenvolvimento da sociedade grega, as respostas finalistas e 
deterministas advindas dos mitos tornaram-se insuficientes para a explicação 
da realidade e foi, então, necessário ultrapassá-las, encontrando-se explicações 
baseadas na observação e no raciocínio.
Deterministas: concepção da realidade, de mundo, segundo a qual “tudo” já está 
predeterminado, razão pela qual era difundida uma postura conformista e passiva 
diante do destino ou da providência divina.
Os primeiros filósofos que passaram a buscar respostas na observação empírica 
dos fenômenos naturais e nas especulações racionais foram os chamados pré-
socráticos.
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Teoria do conhecimento
45
Eles não concebiam o universo como uma realidade aleatória e caótica, que 
dependia da vontade ou do humor de seres divinos. Isso não significa que tenham 
se tornado necessariamente ateus, mas que investigaram a natureza apesar das 
divindades.
Observaram que o universo possui uma ordem e que, conhecendo essa ordem, 
os segredos do universo poderiam ser desvendados pelas condições e atributos 
naturais do próprio homem, sobretudo pela racionalidade.
O principal objeto de estudo desses filósofos foi o cosmos, ou seja, o 
universo ordenado. Empenharam-se, especialmente, em encontrar a origem 
e a composição do universo, buscando um elemento originário, um princípio 
fundador. Alguns afirmavam que este princípio fundador era a água (como 
já vimos com Tales), outros que era o fogo, outros, o átomo etc. Por isso, o 
conhecimento dos pré-socráticos também é denominado de cosmológico ou de 
filosofia da natureza.
Observe que os pré-socráticos protagonizaram uma importante passagem do 
conhecimento mítico para o conhecimento racional, evento que se repetiu em 
outros momentos históricos do pensamento ocidental. Eles eram filósofos, físicos, 
matemáticos etc., mas não se pode chamá-los precisamente de cientistas, já que 
não praticavam a experimentação rigorosa, não quantificavam suas observações 
e não testavam rigorosamente suas teorias. Sua investigação se dava, em grande 
parte, pela especulação, análise e inferência teórica.
Alguns estudiosos modernos chamam a atenção para a falta de rigor da 
experimentação e observação empírica realizada pelos pré-socráticos. Mesmo 
assim, seu conhecimento “pré-científico” desviou o olhar das coisas particulares 
e da vida prática para o “céu”, para as teorias cosmológicas. Conforme Popper 
(1982), se a sua experimentação e observação carecem de objetividade, por outro 
lado sua “racionalidade franca e sincera” os levou à antecipação de teorias que 
só foram desenvolvidas mais tarde, por cientistas modernos.
Das questões tratadas pelos pré-socráticos, abordaremos nesta oportunidade 
apenas duas delas, que consideramos importantes para o estudo que está sendo 
desenvolvido aqui sobre o conhecimento. A primeira delas trata da mobilidade e 
imobilidade do universo, que envolveu, principalmente, os filósofos Parmênides 
de Eléia e Heráclito de Éfeso. A segunda questão é a da tradição crítica, que 
caracteriza as escolas pré-socráticas.
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46
Capítulo 3 
1.1 Mobilidade e imobilidade do universo
Parmênides (530-460 a. C.) tratou da questão do movimento, (i)mobilidade das 
coisas do universo, a partir da distinção entre o ser (o que existe) e o não ser (o 
que não existe). É célebre sua frase neste sentido: “O ser é e o não ser não é” 
(BORNHEIM, 1977, p. 63).
Parmênides queria chamar a atenção para o ser, para o que existe. Para ele, 
aquilo que existe não está sujeito à mudança, é sempre do mesmo jeito, sendo 
igual, por consequência, a ele mesmo. Logo, o movimento, a mudança, não 
existe. Assim, conforme esta concepção radical de mundo, nós só poderíamos 
conhecer o que existe. Por outro lado, o não ser (a negação do ser), aquilo que 
não existe, não pode ser, obviamente, conhecido.
Por mais simples que possa parecer essa distinção ente ser e não ser, veja 
que aqui é estabelecido um limite para o que pode ou não ser conhecido. Só 
podemos conhecer o que existe e não podemos conhecer o que não existe.
Parmênides expõe que o ser, aquilo que existe, pode ser identificado pelos 
nossos pensamentos, com a nossa razão. Ele, radicalmente, chega a identificar o 
pensamento referente ao que existe com a própria coisa que existe.
Esse pensador, à medida que privilegia a racionalidade e o pensamento para 
apreensão do que existe, desqualifica as experiências, as percepções, os 
sentidos que produzimos ao entrarmos em contato com esse mundo sensível, 
considerando-os como ilusões. Para ele, essa via sensorial, mundana, trata 
daquilo que não é digno de confiança, pois não nos proporcionaria um 
conhecimento seguro.
Com isso, Parmênides inaugura um dos mais clássicos problemas da Teoria do 
Conhecimento: a dualidade entre o percebido e o pensado, a experiência e a razão.
Considere a seguinte situação problema, que você pode já ter presenciado, 
referente à questão da (i)mobilidade das coisas do universo e que, 
posteriormente, permitirá a você aprofundar o entendimento sobre a tese de 
imobilidade de Parmênides.
Atente para o seguinte diálogo, que poderia fazer parte da aula de uma turma de 
Ensino Médio, em que o professor de matemática apresenta aos alunos a matéria 
de geometria espacial.
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Teoria do conhecimento
47
Professor – Meus caros alunos, a primeira coisa ao iniciar o estudo da geometria 
espacial é aceitar a existência do ponto, da reta e do plano como entes 
geométricos, isto é, entes abstratos de natureza matemática. Nós estudaremos sua 
definição, identificaremos suas características e isso basta. Esses são conceitos 
primitivos, elementares, a partir dos quais faremos cálculos, projeções etc.
Aluno – Mas você pode nos explicar o que são os entes geométricos?
Professor – Até certo ponto sim. Eles não existem de forma concreta na natureza, 
não se pode encontrar uma reta por aí. No entanto, podemos aplicar o conceito 
de reta a certos aspectos da realidade. Por exemplo, ao observarmos a parede de 
um prédio, identificamos uma linha vertical que pode ser tratada como uma reta. 
Do mesmo modo, os engenheiros podem construir pontes aplicando o conceito de 
reta em cálculos da construção civil. A reta é um ente unidimensional, ou seja, tem 
apenas comprimento, altura ou largura e é traçada entre dois pontos. E entre os 
dois pontos de uma reta existe um conjunto infinito de outros pontos.
Neste momento o aluno para, reflexivo.
Aluno – Professor, mas se é verdade que entre os dois pontos extremos de 
uma reta existem infinitos pontos, isso significa que se eu sair do ponto origem 
(enquanto extremidade desta reta), antes de alcançar o fim da reta (a outra 
extremidade), eu terei que atravessar infinitos pontos? Ora, então eu jamais 
chegarei ao outro lado da ponte!?
Esse “caso simples” pode colocar um professor incauto em situação 
desconfortável. Porém, o professor pode adotar a ideia do aluno e explicar que, 
considerando a reta contínua, é possível avançar sobre ela passo a passo, ou dar 
meio passo, ou um quarto de passo, ou um passo duplo. O passo sempre pode 
ser menor, o que leva à ideia de infinito.
O professor pode, também, expor que nem sempre é possível transpor 
diretamente modelos ideais para a realidade concreta, embora os entes 
matemáticos, como é o caso da reta no caso anterior, possam ser aplicados com 
sucesso em cálculos, em estudos de estruturas sólidas, no desenvolvimento de 
tecnologias aplicadas etc.
A questão apresentada aqui é tratada pela matemática atual, mas surgiu muito 
antes, com os pré-socráticos.
Zenão de Eléia (495-430 a. C.), filósofo pré-socrático e discípulo de Parmênides,desenvolveu argumentos que tratam do infinito, com a finalidade de defender as 
ideias de seu mestre e, assim, provar a imobilidade de todas coisas.
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48
Capítulo 3 
Um dos argumentos de Zenão expressa o seguinte. Imagine que dois corredores 
iniciaram uma corrida. Embora a corrida já tenha iniciado, diz Zenão que o 
corredor “mais lento” encontra-se na frente do “mais rápido”, de modo que 
o “mais lento” jamais será alcançado. A explicação de Zenão, para esse fato, 
considera que para o “mais rápido” alcançar o “mais lento” então ele teria que, 
pelo menos, percorrer a metade da distância que há entre os dois. Mas, para 
percorrer essa distância, o corredor “mais rápido” ainda teria que percorrer a 
metade da metade de tal distância. E assim sucessivamente, pois para percorrer 
a metade da metade da distância, ainda é obviamente preciso percorrer a metade 
da metade da metade da distância, até se chegar à ideia de infinito. 
Desse modo, o corredor jamais sairia do lugar. O movimento é então uma ilusão. 
Veja que, para Zenão, essa explicação corrobora a tese de Parmênides, a de que 
não há movimento. Veja que Zenão leva a questão da divisibilidade ao extremo, 
exatamente ao infinito, para então sustentar a imobilidade de todas as coisas.
Diferentemente de Parmênides e de seus discípulos, Heráclito de Éfeso (540-470 
a. C.) afirmava que a realidade está em constante mudança. Tal mudança ocorre, 
sempre, a partir da união de contrários, do ser e do não ser como faces de uma 
mesma moeda. Observe que para conhecermos, precisamos reconhecer essa 
“condição”.
Confira alguns dos fragmentos mais conhecidos de Heráclito (BORNHEIM, 1977, 
p. 36-43):
 Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia. (8)
 - Descemos e não descemos nos mesmos rios, somos e não somos.(49)
- A harmonia invisível é mais forte que a visível. (54)
- Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte, vigília e sono, 
juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente. (88)
Heráclito também reconhecia a importância da razão, mas defendia que o que 
existe, o ser, está continuamente mudando para o não ser e vice versa.
Se alguém tomar banho duas vezes no rio, então, na segunda vez, esse não será 
mais o mesmo e nem o rio. Ora, a água do rio passou e não volta mais, assim como 
aquele que tomou banho será uma pessoa diferente daquela que tomou banho pela 
primeira vez.
A percepção da mudança contínua da realidade pode ser sutil, mas diz Heráclito 
que devemos reconhecê-la como inexorável, válida para todas as coisas que 
existem. 
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Teoria do conhecimento
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Nesse sentido, Heráclito é considerado o cunhador do termo dialética, enquanto 
concepção da realidade formada pela união de contrários e em constante 
transformação e movimento.
1.2 Tradição crítica
A segunda questão que abordaremos é a da tradição crítica (perspectiva 
metodológica sobre o conhecimento) e que caracteriza as escolas pré-socráticas.
Provavelmente por terem vivido o surgimento da polis (este termo designa 
a cidade grega antiga) e da democracia, uma importante característica do 
conhecimento dos pré-socráticos era a possibilidade de suas teorias serem 
criticadas, alteradas ou substituídas por outras mais adequadas.
Existia entre eles um processo de discussão e desenvolvimento do conhecimento, 
diferente do que ocorria com os mitos. Ora, os mitos não podiam ser criticados 
ou superados por outros melhores, e os conhecimentos de ordem prática só eram 
modificados se fossem considerados inúteis.
Popper (1982, p. 164) afirma que, baseados em especulações abstratas e críticas, 
“e não se tenha aqui a ideia de um trabalho maçante de racionalização, mas o 
frescor e a criatividade das mentes curiosas e juvenis”, os pré-socráticos foram 
mais longe do que baseados em suas observações empíricas.
Segundo o mesmo autor, o conhecimento pré-socrático representou o início 
de uma tradição de produção de conhecimento baseado em conjecturas e 
refutações, de uma antecipação corajosa do que era impossível conhecer na 
base da observação concreta e, sobretudo, um conhecimento baseado no exame 
crítico das próprias teorias.
A postura crítica, aliás, era adotada pela maioria das escolas pré-socráticas e 
fomentada pelos seus mestres professores. Observe a seguinte citação de Karl 
Popper acerca da teoria de Anaximandro sobre a suspensão da Terra.
A Terra [...] não está sustentada por nada, permanecendo 
estacionária porque está situada a uma distância igual de todas 
as demais coisas. Sua forma é [...] como a de um tambor [...]. O 
tambor, obviamente, é uma analogia derivada da observação. 
Mas, a ideia da livre suspensão da Terra no espaço e a explicação 
de sua estabilidade não têm analogia em todo o campo dos 
fatos observáveis. Abriu caminho para as teorias de Aristarco e 
Copérnico. [...] e a concepção de Newton de forças gravitacionais 
imateriais e invisíveis. Como chegou Anaximandro a essa notável 
teoria? Certamente não mediante observações, mas pela razão. 
Ela é uma tentativa de solucionar um problema para o qual Tales, 
seu mestre, fundador da escola Milesiana ou Jônica já havia 
proposto uma solução. (1982, p. 163).
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50
Capítulo 3 
A aventura especulativa dos pré-socráticos e seu pensamento hipotético no 
intento de conhecer a realidade, somados ao exame crítico das teorias de seus 
pares, são características fundamentais do pensamento desses filósofos e, 
comumente, são relacionados ao processo do conhecimento científico. Essa 
atitude desenvolve o senso crítico e promove a ação criativa, objetivos da maioria 
das propostas educativas e atributos necessários para qualquer pessoa.
Seção 2
O conhecimento na filosofia de Sócrates, Platão 
e Aristóteles
Nesta seção, você verá que Sócrates, Platão e Aristóteles defendiam uma 
respectiva teoria do conhecimento, com características distintas. Em comum, 
os três têm o fato de que procuravam por um conhecimento seguro sobre a 
realidade, sobre nosso mundo, e essa busca foi, para os três, orientada pela 
procura de conceitos universais. Os conceitos universais se referem a um 
conhecimento seguro e amplamente válido, para todas as coisas, de tal modo 
que fundamentaria melhor, em relação a todos os outros tipos de conhecimento, 
o fazer, o pensar, o dizer etc.
2.1 Sócrates
A tradição racional que começou com os pré-socráticos foi continuada por 
Sócrates (470-399 a. C.), que buscava o verdadeiro conhecimento por meio do 
exercício da razão. Sócrates opunha-se aos sofistas, que eram considerados 
os mais respeitados mestres da sociedade grega. O foco dessa rivalidade era a 
teoria sobre o conhecimento verdadeiro.
Os sofistas eram grandes oradores e argumentadores. Eram, também, mestres 
que ensinavam argumentos e posicionamentos úteis para o sucesso na vida 
prática e política. Costumavam ser contratados para ensinar retórica e persuasão 
para os jovens que almejavam “prosperar”.
Os sofistas tinham uma visão pragmática da política e do conhecimento em geral.
Creditavam ao discurso, à forma, à eloquência e ao poder de convencimento o 
critério de verdade, de modo que desenvolveram uma filosofia que promovia o 
relativismo.
Assim, tantas verdades decorriam de quantos discursos fossem proferidos, de 
acordo com a tese preferida e argumentada pelo cidadão.
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Teoria do conhecimento
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Para Sócrates, não se tratava de procurar o discurso eloquente e 
persuasivo, mas de procurar a verdade (universal), para além da diversidade 
de perspectivas.
Nesse caso, “o homem não é a medida de todas as coisas”, como pensava o 
sofista Protágoras. Sócrates criticava os debates programados que eram comuns 
na vida política das cidades gregas antigas, com temas determinados, tempo de 
duração definido e afetados por interesses escusos dos debatedores.Segundo ele, o homem para descobrir a verdade deve adotar uma postura humilde 
e questionadora, condição eficiente e necessária para conhecer a realidade.
Pensava que a filosofia é uma prática de vida que exige dedicação e coerência 
total, sem jamais ceder a interesses externos. Por isso, passava os dias pela 
cidade, conversando com todos, sobre tudo, argumentando livremente e 
promovendo debates entre as pessoas que se juntavam a ele.
Sócrates exercitava a filosofia como debate vivo, como busca incessante pela 
verdade. Não deixou nada escrito, e o que sabemos de seu pensamento é por 
meio de historiadores ou de outros filósofos, especialmente Platão, que fez de 
Sócrates o personagem principal de seus diálogos.
Sócrates se considerava ignorante e não se fazia portador de nenhum saber, 
mas acreditava ter o dever de libertar as pessoas da convicção ilusória de que 
sabiam alguma coisa. Nessa perspectiva, todos são ignorantes e alguns, os que 
têm consciência da própria ignorância, são os mais preparados para se lançar 
em busca do conhecimento verdadeiro. Nos debates promovidos por Sócrates, 
seus interlocutores eram desafiados a falar sobre temas diversos e levados, por 
perguntas insistentes, a refletir profundamente. Se o debate concluísse com 
um argumento genérico e sem uma precisa definição do objeto do debate, o 
interlocutor ficava confuso. Assim, o interlocutor se tornava presa da dúvida, na 
visão do filósofo, e então ficava pronto para admitir sua ignorância e empenhar-se 
na busca pela verdade.
Segundo Sócrates, um corpo doente e intoxicado, antes de receber o remédio 
correto, precisa passar por um processo de depuração para somente depois 
assimilar o remédio. Do mesmo modo, um espírito arrogante, que julga só ter 
virtudes e que confia demasiadamente em seus conhecimentos, não pode 
produzir um conhecimento verdadeiro sem antes proceder uma “cura”, colocando 
seu próprio pensamento sob olhar crítico.
Sócrates suscitava a autocrítica e fazia seu interlocutor questionar o próprio 
conhecimento, ou seja, levava o aprendiz a reconhecer-se ignorante – ironia 
socrática. Depois, com a arte da maiêutica - ajudava seu interlocutor a exprimir o 
quanto de verdade sua razão fosse capaz de parir, de gerar.
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52
Capítulo 3 
Maiêutica é sinônimo de obstetrícia, parte da medicina que estuda os fenômenos 
da reprodução na mulher. Maiêuta é o médico que presta assistência à mulher 
e seu feto no período do grávido puerperal (obstetra). Porém, a palavra também 
é utilizada por Sócrates para denominar o momento do “parto” intelectual do 
aprendiz, na procura da verdade que está dentro de si. Sócrates era filho de 
parteira e comparava o seu ofício, de parteiro de ideias, ao da mãe, parteira de 
homens. Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Maiêutica 
É no trabalho interno da própria razão, no autoconhecimento, que a pessoa deve 
se concentrar, e se concentrar para sempre, enquanto guia para a nossa vida.
O método socrático não se reduz ao diálogo, como pode parecer. “Todos” 
podem até falar com segurança sobre virtudes, belezas, justiças, mas fazem isto 
enumerando casos particulares coletivamente conhecidos, mas nem todos são 
capazes de dar uma definição única para o termo geral, universal, como justiça 
ou virtude.
Sócrates, pelo contrário, buscou saber não quais são as coisas belas e justas, 
mas que é o Belo e a Justiça, o que é comum em todas as coisas as quais 
julgamos como belas ou justas. A pergunta socrática é, de fato, sobre a definição 
de essência, a universalidade do conceito.
Observe que Sócrates busca o conhecimento verdadeiro nas essências ou 
ideias universais que são alcançadas por meio da razão, e não por meio da 
manifestação concreta, da realidade, que é múltipla e depende da impressão de 
cada um.
Acompanhe a seguinte situação que visa a refletir sobre como o “conceito 
universal” de belo requer uma investigação mais aprofundada.
Um rapaz vai à floricultura, acompanhado dos amigos, para escolher flores que levará no 
primeiro jantar, na casa da namorada. O rapaz pede para ver as flores mais belas que têm na 
loja. Entre tantas flores, a florista lhe traz um ramalhete de lírios brancos. Então, os 
rapazes discutem a questão e cada um diz o que pensa:
– Oh, que belos lírios. Eles são brancos como o leite.
– Que horror. Não vejo beleza nos lírios. Eles lembram o dia dos finados.
– Também acho os lírios feios, e que belas são as rosas.
– Não, as rosas não são belas, pois elas têm espinhos. Belos são os cravos.
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Teoria do conhecimento
53
– Eu acho os lírios lindos, mas amanhã a beleza deles já terá desaparecido. Se você 
quer dizer a sua namorada como ela é bela, então tente outra coisa.
Você é capaz de sugerir ao rapaz alguma coisa que seja realmente, 
indubitavelmente e sempre belo, para presentear a namorada?
Sócrates diria que não, pois o Belo é um conceito universal que existe em 
essência, ou seja, em ideia, e somente lança seu reflexo sobre a realidade 
concreta. Você não pega o Belo, não vê o Belo, mas utiliza desta definição para 
qualificar as coisas como belas.
Algumas coisas parecem belas e outras não. Mesmo as que “parecem” belas, 
não o são para todas as pessoas, e mesmo que fossem belas para todas as 
pessoas, não o seriam para sempre, porque a realidade concreta muda e algo que 
é belo hoje, pode não ser amanhã. Mas, para Sócrates, o conceito universal (que 
apresenta uma essência imutável) de Belo é algo que não muda, jamais.
2.2 Platão
Ao procurar continuar o pensamento de Sócrates, Platão (428/27-347 a. C.) 
aprofundou a distinção entre a essência e a aparência das coisas.
Segundo Platão, precisamos distinguir as opiniões (doxa), que são uma forma de 
conhecimento simples e enganoso, obtido por meio dos órgãos sensoriais, da 
ciência (episteme), que é o conhecimento verdadeiro obtido pela via da razão.
Para Platão, chegamos ao conhecimento verdadeiro pelo diálogo filosófico, que 
consiste no confronto de argumentos e contra-argumentos. Tal procedimento, 
método, é chamado pelo filósofo de dialética e é considerado por ele como um 
primoramento do método socrático.
Atenção!
Não confunda o sentido da dialética de Platão com a de Heráclito. Em Platão, a 
dialética é considerada um método para a busca de conceitos universais. Para 
Heráclito, a dialética é considerada uma explicação ampla e geral acerca de como 
a realidade é regida.
Nos diálogos, portanto, não se trata de elaborar uma opinião pessoal, mas sim, 
por meio de raciocínios lógicos, depurar o conhecimento, aproximando-se do 
conhecimento verdadeiro, da essência, do conceito universal investigado.
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54
Capítulo 3 
Nesse sentido, não cabe ao mestre convencer pela via direta o seu discípulo 
a respeito de algo. O mestre inicia um diálogo apresentando um argumento 
acerca de algum tema e provoca o aprendiz a manifestar-se em relação ao 
tema. Assim, pela via da argumentação dialética – pelo embate de argumentos 
- as contradições, incoerências do conhecimento proferido e as observações 
acidentais acerca da realidade são evidenciadas e superadas por outras 
provisórias, que se sustentam no decorrer do diálogo.
As ideias passam por uma espécie de prova lógica e são, depois disso, 
consideradas mais verdadeiras pelos participantes do embate. Observe que o 
ponto de partida do diálogo platônico é a opinião que o aprendiz emite sobre o 
tema em questão.
As opiniões são consideradas falsas ideias sobre a realidade, porque não têm 
origem na razão. Veja que Platão parte da análise do “erro”, ou, talvez, de algum 
resquício de verdade que há na opinião, parte da aparência de verdade, da 
“verdade torta”, com a finalidade de superá-la e abandoná-la em seguida.
Com a prática da dialética, Platão reafirma a necessidade da crítica como forma 
de aproximação das ideias verdadeiras e, de certo modo, antecipa uma prática 
do conhecimentocientífico moderno que é a prova, pela qual as teorias científicas 
passam para atestar sua veracidade. Para a ciência, o erro pode ser o ponto de 
partida para uma nova teoria, não é descartado como experiência negativa que 
já esgotou suas possibilidades. A teoria científica que não se confirma não deixa, 
por isso, de ser científica.
Dos escritos de Platão, a Alegoria da Caverna é um dos mais significativos para 
elucidar como nos apropriamos do conhecimento verdadeiro. A seguinte figura 
ilustra essa busca.
Platão parte de uma suposição, de uma caverna fictícia onde vivem prisioneiros 
amarrados desde que nasceram e de modo que nunca viram nada além 
das sombras projetadas na parede de fundo da caverna, as quais não são 
reconhecidas pelos prisioneiros como sombras, mas como a própria realidade.
Em determinado momento, um dos prisioneiros liberta-se e percorre um árduo 
caminho que leva ao exterior da caverna, completamente diferente do mundo em 
que estava acostumado a viver até então.
Para Platão, o interior da Caverna é o “mundo dos sentidos”, das coisas 
particulares, das aparências, das opiniões, do senso comum, e o exterior da 
Caverna é o “mundo das ideias”, dos conceitos universais, das essências, do 
conhecimento verdadeiro, da ciência. Na metáfora da Caverna, os prisioneiros 
representam nós mesmos, e as correntes que nos prendem são nossos sentidos. 
Livrar-se das correntes e subir a caverna saindo de sua escuridão equivale 
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Teoria do conhecimento
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a desprender-se das opiniões que nos limitam e, gradativamente, alcançar a 
claridade do conhecimento abstrato e ideal.
A despeito da facilidade com que algemas foram abertas, a subida para o exterior 
da Caverna é um percurso doloroso. Platão faz questão de lembrar que, ao se 
movimentar e se dirigir para a luz, buscando sair da Caverna, o homem sente 
dores no corpo, nos olhos e deseja voltar. Para deixar para trás sua condição 
de prisioneiro, o homem tem que se desacomodar e lançar-se em um caminho 
desconhecido, no qual o seu esforço e a sua ação são exigidos, ao contrário da 
vida no interior da Caverna, em que recebia passivamente as sombras. De modo 
geral, essa é uma característica essencial para qualquer aprendiz: estar disposto 
ao esforço que o processo permanente de conhecimento exige.
O mundo do prisioneiro é apresentado a ele como verdade, ele vive nas sombras 
e das sombras; vive daquilo que aparece, do que lhe assaltam os sentidos. 
Metaforicamente, essa é a condição dos indivíduos reais que vivem mergulhados 
em seu cotidiano, com a curiosidade “satisfeita” ou alienada. Porém, na falta de 
um estranho que venha do exterior da caverna para libertar os prisioneiros, existe 
a rara possibilidade de que alguma coisa se altere na regularidade das sombras e 
os prisioneiros sejam levados ao questionamento.
Na representação de Platão, é verdade que as sombras enxergadas pelos 
prisioneiros existem de fato e que eles as veem. No entanto, o homem da Caverna 
não vê as sombras como sombras das coisas, mas como se fossem as próprias 
coisas. Não desconfia que exista algo além do que se apresenta para ele. Não 
desconfia da existência da fogueira atrás de si, dos homens que passam atrás de 
si. Isso equivale a dizer que o prisioneiro não tem consciência de sua condição de 
prisioneiro. O erro do prisioneiro da Caverna é satisfazer-se com a realidade das 
sombras e não se dar conta de sua condição de prisioneiro. Se mesmo preso ele 
desconfiasse daquilo que se apresenta como verdade da realidade, então não se 
poderia dizer que é um prisioneiro, mas que está prisioneiro. O que faz diferença, 
neste caso, é ter consciência ou não de sua condição. Ter consciência da prisão é 
o primeiro passo para se tornar um homem livre, ou seja, um verdadeiro aprendiz. 
Conhecer, para Platão, é estar mergulhado no processo de descoberta da 
verdadeira realidade, ou seja, as ideias. As ideias universais e verdadeiras das 
coisas já estão em nossa alma, em nossa razão, estão conosco desde que 
nascemos, o que significa que antes de qualquer experiência elas já existem e 
podem, portanto, ser desveladas. Por outro lado, as coisas que vemos e sentimos 
no mundo concreto são consideradas apenas ilusões, aparências da verdade.
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Capítulo 3 
2.3 Aristóteles
O estabelecimento das ideias como fonte do conhecimento verdadeiro, em Platão, 
não foi bem recebido por Aristóteles (384-322 a.C.). Ele concorda com o mestre 
que para alcançar o conhecimento verdadeiro é preciso, pelo trabalho da razão, 
chegar aos conceitos universais, porém, não dispensando a experiência sensível e 
a observação acurada das coisas particulares, a partir das quais podemos explicar 
o movimento ordenado e harmonioso dos entes materiais e formar ideias gerais 
que, aí sim, remetem-nos aos conceitos universais. Nisso Aristóteles discorda 
de Platão, pois para esse os conceitos universais são inatos e a experimentação 
somente nos desvia do caminho para o conhecimento verdadeiro.
Para Aristóteles, os conceitos universais nada mais são do que o resultado da 
atividade da razão, que, primeiramente, por experiência e indução, categoriza 
e classifica a variedade do mundo sensível. Capturamos com a razão as 
estruturas universais inerentes ao conjunto das coisas particulares, e não 
de cada uma delas individualmente, pois de coisas particulares tomadas em 
sua individualidade só se podem descrever as características sensíveis. Nisso 
concordam Sócrates, Platão e Aristóteles.
Assim, experimentando diversos tipos de seres do reino vegetal, por exemplo, 
Aristóteles acreditava ser possível identificar as características que são constantes, 
comuns e essenciais a todas as plantas, além das características acidentais, 
aparentes, que podem mudar sem que aquela planta deixe de ser o que é.
De acordo com Aristóteles, o conceito de “flor” que você tem e utiliza no cotidiano 
é resultado de diversas flores já conhecidas. Assim, se você isolasse uma margarida 
do conjunto das flores, não poderia chegar ao conceito universal de Flor, pois esse 
conceito abrange as margaridas e todas as outras flores que existem.
O conceito universal de Flor, que define o conjunto das diversas 
flores, não permite que você inclua a cadeira, por exemplo. 
Observe que quando consultamos o dicionário para buscar 
o significado de uma palavra, buscamos, de certo modo, o 
conceito universal que ela encerra.
Conforme a teoria de Aristóteles, para formar um conceito universal, realizamos 
uma indução. A indução ocorre a partir da observação de casos particulares, 
oferecendo-nos dados para propormos uma inferência, uma conclusão, ampla e 
geral. Porém, as observações particulares a que se referia Aristóteles não são as 
meramente acidentais, mas sistemáticas, planejadas.
Para Aristóteles, o conhecimento vulgar dá origem a um discurso repleto de 
falácias que parecem raciocínios verdadeiros, mas que não o são.
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Teoria do conhecimento
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Veja que sua Lógica é ampla, pois além de investigar quando um raciocínio é 
válido ou não, também estipula a indução (assim como a dedução) enquanto 
procedimento científico básico, que auxilia na busca pelos conceitos universais.
Para Aristóteles, a Lógica é fundamental no trabalho de organizar e sistematizar 
a experiência. Ele confia aos sentidos a captação das características das coisas 
no mundo físico e à razão, os procedimentos de indução e dedução, capazes 
de nos aproximar dos conceitos universais.
Ao investigar a realidade e os conceitos universais, Aristóteles propôs modos para 
falar do que existe. Entre esses modos, está a classificação do ser como ato ou 
potência.
O ser, a coisa, em ato, refere-se àquilo que existe agora e que se encontra 
plenamente realizado. O ser, a coisa, em potência se refere àquilo que 
tem condições de ser realizado, mas que ainda não está realizado, 
efetivado,de fato.
Acompanhe um exemplo.
Uma semente de mostarda é pequenina em ato, agora realizada, mas, em potência, 
essa semente representa uma árvore formosa e enorme. A semente representa o 
estágio atual desse ser, enquanto a árvore é o estágio possível, futuro, o qual a 
semente encontra-se passível de atingir.
Na grande maioria dos seres e coisas há a possibilidade de que ocorra uma passagem 
do que é em potência para o que é em ato, mas tais seres e coisas não podem se 
transformar em qualquer coisa.
Bem, para que algo em potência, uma semente, por exemplo, atualize-se, realize-
se, é necessária uma causa. Aristóteles afirma que conhecemos uma coisa 
quando conhecemos, de fato, as suas quatro causas.
Observe com atenção o desenho que segue, que ilustra as quatro causas que 
fazem parte do que um ser é, do que uma semente, por exemplo é. Essa figura, 
especificamente, refere-se a uma estátua.
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58
Capítulo 3 
Figura 4.1 – A estátua da vitória da Samotrácia e as 4 causas de Aristóteles
Fonte: VALVERDE (1987a.p. 84).
 Observe que Aristóteles estabeleceu quatro causas:
 • Material;
 • Formal;
 • Eficiente;
 • Final.
Se conhecermos estas quatro causas, poderemos, então, identificar, conhecer, 
um determinado ser - a semente da mostarda, a semente do pêssego, por 
exemplo, e de que modo ocorre a passagem de um estado atual para outro 
estado em ato (tal como o caso da árvore).
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Teoria do conhecimento
59
A causa material se refere à matéria da qual a coisa é feita, sobre a qual se 
aplica a forma, como o mármore da estátua.
A causa formal é o que torna o ser exatamente aquilo que ele é, são suas 
características essenciais, é o que dá a forma à matéria, tal como a modelo da 
estátua.
A causa eficiente é a força externa que provoca a transformação da causa 
material para atingir um fim, como é o caso do escultor na figura da estátua.
A causa final nada mais é do que o objetivo, a finalidade da transformação da 
potência em ato, que, no caso da estátua, é ela ser exibida.
Veja assim que, para Aristóteles, o conhecimento também está relacionado ao 
conhecimento das quatro causas, ou causas primeiras.
Saiba mais sobre as atividades de Aristóteles!
Aristóteles foi o mais brilhante e reconhecido estudioso da Academia de Platão, 
mas também seu maior crítico, especialmente da teoria das ideias de Platão.
Como físico e botânico que era Aristóteles valorizava muito as ciências físicas 
e biológica e se opôs à negação platônica do valor cognoscitivo da experiência 
concreta.
A ciência botânica teve origem no mundo antigo greco-romano, e o filósofo 
Aristóteles contribuiu muito para isso, por exemplo, criando a anatomia 
comparada. Aristóteles realizou uma extensa obra sobre o reino animal, que 
influenciou toda a percepção sobre o tema nos séculos seguintes, fundamentando 
a classificação da natureza. Alexandre, o grande, rei da Macedônia, foi aluno de 
Aristóteles dos treze aos dezesseis anos, aproximadamente, quando abandonou 
a Filosofia para construir seu império. Conta-se que Alexandre, já homem feito e 
com o império consolidado, em diversas situações, teria ordenado a seus súditos 
que colhessem diversos exemplares de plantas em uma vasta extensão de terra 
para os estudos de Aristóteles.
Aristóteles foi o último grande filósofo grego da tradição clássica. Depois de 
sua morte, do declínio das cidades gregas e de sua cultura, houve um período 
de incertezas que perdurou até o surgimento do cristianismo. Com esse 
sistema, perdurou um período de profunda transformação na mentalidade do 
homem ocidental.
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Capítulo 3 
Durante a Idade Média, sob a influência do pensamento cristão, a cultura 
grega foi considerada pagã. Primeiramente, porque os gregos eram politeístas 
(acreditavam em vários Deuses), enquanto que para o cristianismo há um só Deus 
(monoteísmo); depois, porque os gregos eram conhecidos pela sua curiosidade 
e investigação racional, ou seja, quando se tratava de conhecer a natureza, eram 
movidos pela dúvida, enquanto o cristianismo era baseado na fé.
A separação entre fé e razão foi a questão da Teoria do Conhecimento que 
prevaleceu no período medieval e se tornou a mais conhecida.
Vale lembrar que questão semelhante ocorreu no início da filosofia na Grécia 
Antiga: o poder explicativo do mito sobre a natureza teve sua força atenuada 
enquanto se desenvolveu a adoção de explicações oriundas da Filosofia. No 
período medieval, porém, prevaleceu a perspectiva religiosa. Dois dos principais 
pensadores cristãos foram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, ambos 
se basearam na filosofia grega para fundamentar as verdades da fé. O primeiro 
baseou se no pensamento de Platão e o segundo no pensamento de Aristóteles.
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61
Secões de estudo
Habilidades
Capítulo 4
Questões do conhecimento 
no pensamento moderno e 
contemporâneo
O conhecimento das concepções epistemológicas 
(teoria do conhecimento) dos filósofos modernos e 
contemporâneos sobre as origens e possibilidades 
do conhecimento nos possibilitam apontar as 
seguintes habilidades a serem trabalhadas: refletir 
criticamente essa temática, buscar e interpretar 
informações e dados, extrair conclusões e julgar, 
argumentar e demonstrar conhecimento sobre o 
assunto, elaborar sínteses.
Seção 1: A redescoberta da racionalidade 
Seção 2: Caminhos possíveis para o conhecimento
Seção 3: Questões da Teoria do Conhecimento na 
Contemporaneidade
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62
Capítulo 4 
Seção 1 
A redescoberta da racionalidade
A tradição da Teoria do Conhecimento iniciada com os filósofos gregos percorreu 
a história ocidental, inspirando todos os períodos subsequentes.
A passagem do pensamento clássico grego para o pensamento medieval 
foi marcada por uma controvertida ruptura que alterou o modo dos homens 
entenderem a realidade. Por um lado, a cultura grega incluía uma tradição 
racionalista e especulativa no conhecimento da natureza, o que oferecia risco aos 
dogmas cristãos. Os gregos cultuavam vários deuses, eram politeístas, enquanto 
o cristianismo surgiu como culto monoteísta, isto é, culto a um único Deus. Por 
outro lado, a cultura grega era magnífica, mesmo aos olhos dos dogmáticos 
doutores da Igreja.
Além do que, a dialética dos gregos, sobretudo a platônica, serviu de poderoso 
meio de argumentação e fundamentação das verdades da fé.
Inicialmente, grande parte dos filósofos cristãos da Idade Média se ocuparam 
em conciliar fé e razão no conhecimento da natureza.
Há certo consenso entre os estudiosos de que os dogmas religiosos exerceram 
uma influência profunda no pensamento medieval. Sobretudo na primeira parte 
desse período, a Escritura Sagrada representava uma das fontes mais confiáveis 
de conhecimento.
A natureza era interpretada como uma escritura divina na qual ciência, moral e 
realidade se fundiam. Mais do que conhecer e dominar a natureza, a Ciência 
deveria ser um modo de ilustrar a verdade teológica. Não deveria buscar a 
causa primeira dos fenômenos, mas decifrar as mensagens divinas expressas 
diretamente nos seres da natureza. O homem era considerado uma criatura 
privilegiada, que poderia ter a alma iluminada pela verdade divina.
Os religiosos proibiam a investigação da natureza e a aplicação livre desse 
conhecimento. Alguns aspectos deveriam continuar velados aos homens para 
que não fosse apresentada nenhuma contradição com as escrituras sagradas. 
Era o caso da Cosmologia e da Anatomia, por exemplo.
Poucos sabiam ler e escrever no período medieval, e os homens letrados 
participavam do clero. Afinal, a Igreja dominou os meios de educação 
e formação intelectual desde o século IV, quando o imperador romano 
Constantino reconheceu e deu liberdade ao cristianismo, até, aproximadamente, 
o século XII - quando todo panorama cultural, políticoe econômico do 
Ocidente começou a mudar.
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Teoria do conhecimento 
63
Mas o pensamento medieval não consistiu unicamente na obediência cega aos 
dogmas cristãos. A força do pensamento humano, subordinada a estes dogmas 
por longa data, não permaneceu inerte e ressurgiu a partir do que os historiadores 
denominaram de Pré-renascimento do século XII.
Conforme Abbagnano (2000), quando os doutores da Igreja retomaram a 
dialética com a finalidade de fortalecer a fé, acabaram influenciando o próprio 
sistema dogmático, uma vez que reestruturaram o conteúdo dogmático dentro de 
um sistema conceitual coerente.
A dialética foi introduzida nos debates cristãos pela Patrística e, mais tarde, foi 
revitalizada pela Escolástica.
Patrística refere-se a um núcleo de estudos dos fundamentos e doutrinas do 
Cristianismo que perdurou do século II até o VIII.
Reunia doutores da Igreja, cujo principal objetivo era fundamentar racionalmente 
as verdades da fé, conciliando fé e razão.
Escolástica refere-se a um núcleo de estudos cristãos que sucedeu a Patrística, 
perdurou do século IX até, aproximadamente, o século XVI e teve o mesmo objetivo 
da sua antecessora: conciliar a Teologia com a Filosofia e fundamentar as 
verdades das escrituras sagradas.
Uma marca da Escolástica é a influência aristotélica.
Entre os séculos XII e XIII surgiram as primeiras universidades, praticamente 
dominadas pela Escolástica, que ensinavam as sete artes liberais: o trivium, que 
eram os conhecimentos literários (Gramática, Retórica, Dialética) e o quadrivium, 
que eram os conhecimentos científicos (Aritmética, Geometria, Astronomia, Música).
As sete artes liberais que compreendem o trivium e o quadrivium constituem um 
programa de educação criado por Alcuíno de York, estudioso e catedrático que 
viveu no século VIII.
Foi nesse período, também, que começaram a ser traduzidas as obras gregas 
que haviam sido proibidas durante quase toda a Idade Média, além das obras 
árabes sobre as ciências da natureza, que chegavam à Europa por meio dos 
navios mercantes ou por cavaleiros que retornavam das cruzadas. Esses fatores, 
junto a outros de ordem política e econômica, como a decadência do feudalismo 
e o crescimento das cidades, deram início a uma revolução cultural que ficou 
conhecida como Renascimento.
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64
Capítulo 4 
De modo geral, o Renascimento foi um período histórico marcado pelo desejo 
do homem de produzir conhecimentos e orientar sua vida de forma autônoma, 
pela sua capacidade própria de conhecer, superando o conhecimento 
mitológico cristão.
Saiba mais sobre o Renascimento
Com o Renascimento, o conhecimento passou a espelhar a autonomia do homem 
para pesquisar livremente a natureza.
Este era o foco de atenção de diversos estudiosos renascentistas, especialmente 
dos anatomistas e astrônomos. Durante a Idade Média, era proibida a dissecação 
de corpos humanos, e médicos como Claudius Galeano exerciam a clínica 
fazendo dissecações e experimentos em animais. 
Ele tratava o corpo humano como suporte da alma e sua obra foi considerada 
definitiva para a prática da medicina durante toda a Idade Média. No 
Renascimento, porém, cada vez mais estudiosos, como o médico belga Andreas 
Vesalius, passaram a efetuar seus estudos anatômicos diretamente em corpos 
humanos e a apontar os erros de anatomistas anteriores.
Se você quiser saber mais sobre as mudanças ocorridas no século XII, que 
culminaram no Renascimento Clássico do século XIV, busque livremente na internet 
pelos termos “Renascimento do século XII” e “Renascimento Clássico”.
Sobre esse último, pesquise, também por “imagens” e você encontrará uma série 
de obras de arte, inventos e personagens interessantes deste período da história.
Também pode consultar o livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko. Esse 
livro oferece uma leitura introdutória do assunto e apresenta motivos políticos e 
econômicos que favoreceram o Renascimento. Outro livro interessante sobre a 
Idade Média é O pensamento medieval, de Inês C. Inácio e Tânia Regina de Luca.
Sobre a questão cosmológica do Renascimento, busque livremente na internet 
pelos termos: Galileu Galilei, Copérnico e Ptolomeu.
A preparação para a Modernidade
A Modernidade não foi fruto somente da transformação intelectual ocorrida no 
Renascimento, mas, primeiramente, das transformações econômicas e políticas 
que decorreram daquele período.
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Teoria do conhecimento 
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Foram mudanças importantes como: a introdução de um comércio basicamente 
monetário, que agilizava muito a circulação de mercadorias e a acumulação de 
riquezas; a descoberta de novas terras e as técnicas de navegação na corrida 
para a apropriação dessas terras; e a invenção da imprensa, que favoreceu a 
publicação de documentos e livros.
Esses foram alguns fatores que exigiram e fomentaram um tipo diferenciado de 
conhecimento que não era o conhecimento religioso medieval nem o filosófico 
grego, seja porque o primeiro estava irremediavelmente submetido à censura dos 
dogmas, o segundo, vinculado às especulações metafísicas e pouco concretas 
para atender às exigências da nova ordem social.
O termo “metafísica” se refere àquilo que está além da física, além de nossa 
realidade. Muitas das filosofias gregas antigas são denominadas metafísicas por 
procurarem explicar a realidade a partir de fundamentos que são difíceis de serem 
explicados a partir do que percebemos como realidade.
Nas universidades medievais, centros produtores do conhecimento da época, o 
debate prevalecia sobre a experimentação. As diversas ideias e teorias eram 
apresentadas e as questões divergentes resolvidas, preferencialmente, por meio 
da argumentação lógica.
Não havia demonstração empírica que não fosse para ilustrar os tratados antigos, 
validados pela cristandade. Além disso, os doutores que se envolviam nesses 
debates apoiavam-se, além das escrituras sagradas, nas ideias de Platão e 
Aristóteles, fundamentalmente naqueles aspectos que não contrariassem as 
verdades reveladas.
Este tipo de prática intelectual não dava conta da “vida real”, que exigia do 
homem moderno um conhecimento aplicável e eficiente na invenção de 
tecnologias de produção, no domínio e exploração da natureza, na urbanização 
das cidades etc.
Francis Bacon, filósofo inglês do século XVI, foi um dos principais defensores de 
uma nova ciência, baseada em experimentações empíricas, que não estivesse 
presa aos dogmas religiosos e nem aos enganos do senso comum.
Bacon acreditava que o conhecimento dá ao homem poder sobre a natureza. 
Nesse sentido, a Ciência deveria servir para o progresso e a expansão do império 
humano. Enquanto o conhecimento dos gregos tinha um fim em si mesmo, ou 
seja, era conhecer por conhecer, para a Modernidade o conhecimento tinha um fim 
prático, de melhoramento das condições da vida humana, de progresso.
teoria_do_conhecimento.indb 65 09/01/13 17:22
66
Capítulo 4 
Na sua obra, Novum Organum, Bacon propõe novas bases para a Ciência. Critica 
a Filosofia grega e sugere como fonte do conhecimento as informações objetivas, 
obtidas por meio da experimentação. Diz ele (BACON apud VERGEZ, 1984):
Aqueles dentre os mortais, mais animados e interessados, não no uso presente 
das descobertas já feitas, mas em ir mais além; que estejam preocupados, não 
com a vitória sobre os adversários por meio de argumentos, mas na vitória 
sobre a natureza, pela ação; não em emitir opiniões elegantes e prováveis, mas 
em conhecer a verdade de forma clara e manifesta; esses, como verdadeiros 
filhos da ciência, que se juntem a nós, para, deixando para trás os vestíbulos 
da ciência, por tantos palmilhados sem resultado, penetrarmos em seus 
recônditos domínios.
Vestíbulos: Antessala ou preparação para a ciência. Aquela, para Bacon, 
ainda não era a ciência propriamente dita.
Como “previu” Bacon, na Modernidade nasceramas principais ciências que 
conhecemos hoje, e as questões sobre o conhecimento permaneceram sendo 
fundamentais para filósofos e cientistas dessa época, tornando-se, inclusive, 
mais complexas.
De modo geral, a Teoria do Conhecimento, na Modernidade, foi polarizada por 
três grandes vertentes que mantiveram vivo o debate acerca da relação entre 
sujeito e objeto: o Racionalismo, o Empirismo e o Criticismo.
As três vertentes guardam entre si semelhanças e diferenças. Primeiramente, é 
preciso enfatizar que nenhuma delas nega a atividade sensível, nem a atividade 
racional. Além disso, aquilo que conhecemos não são as coisas mesmas, mas 
são nossas representações subjetivas, ideias, das coisas.
No entanto, elas diferem no que se refere à passagem das sensações para as ideias.
Para o Racionalismo, a atividade cognoscente constitui e organiza o mundo 
objetivo.
Para o Empirismo, a atividade cognoscente apreende a constituição e a ordem do 
mundo objetivo, apreendido pelos sentidos. Por fim, para o Criticismo, a atividade 
cognoscente é tal que jamais poderemos conhecer as coisas mesmas, uma vez 
que nossas estruturas e categorias mentais, que são inatas, que fazem parte do 
modo humano de conhecer, sempre irão influenciar o conhecimento das coisas.
Para o Empirismo, quando nascemos a mente é tal e qual uma tábula rasa, o 
que significa dizer que nascemos com a mente vazia e que somente com a 
experiência algo é escrito nela.
teoria_do_conhecimento.indb 66 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
67
Para o Racionalismo, a mente pode, de fato, alcançar as verdades universais. 
E isto é possível porque, de algum modo, as ideias universais podem ser 
desenvolvidas pelo pensamento racional.
Para o Criticismo, o conhecimento é a síntese do dado na nossa sensibilidade e 
daquilo que o nosso entendimento produz por si mesmo. Porém, o conhecimento 
nunca é o conhecimento das coisas “em si”, mas de como elas se dão no sujeito, 
ou seja, os objetos do conhecimento são determinados na natureza do sujeito 
pensante. O criticismo não propõe uma posição cética, mas crítica e, digamos, 
desconfiada, em relação ao conhecimento, ou, como afirma Kant, o criticismo é 
o método filosófico que consiste em investigar as fontes das afirmações e das 
objeções que fazemos, bem como as razões em que elas se baseiam.
Seção 2
Caminhos possíveis para o conhecimento
Nesta seção, você estudará, brevemente, alguns caminhos possíveis sobre o 
conhecimento, desenvolvidos pelos modernos René Descartes e sua perspectiva 
Racionalista, Hume e sua ótica Empirista, Kant e a proposta Criticista. Também 
verá as perspectivas dos filósofos contemporâneos Kuhn e Feyerabend.
2.1 Descartes e o Racionalismo
Uma das principais características do pensamento moderno é a consideração 
do sujeito racional como fundamento para o conhecimento e o reconhecimento 
da atividade cognoscente, como o princípio que constitui e ordena o mundo 
objetivo. O filósofo René Descartes (1596-1650), conhecido como fundador do 
racionalismo moderno, considera que apesar da possibilidade inegável de se 
obter informações dos corpos por meio dos órgãos dos sentidos, a essência dos 
corpos é acessível somente pela razão.
É o caso do conceito de extensão. Podemos definir um corpo qualquer como 
uma coisa extensa. As características como forma, cor, odor, textura, não 
servem para definir este corpo, pois elas não permanecem nele. No entanto, a 
extensão sempre permanece como seu atributo, visto que todo corpo a tem.
Veja o exemplo.
Considere um ramalhete de rosas brancas esquecido sobre a mesa. Ao cabo 
de dez dias, suas características se alteraram, mas mesmo mudando a forma, a 
cor, o cheiro etc., é possível continuar afirmando que estamos diante de uma 
determinada extensão ou de determinada quantidade de matéria orgânica vegetal.
teoria_do_conhecimento.indb 67 09/01/13 17:22
68
Capítulo 4 
Alguma coisa se conservou. Se absolutamente nada se conservasse, se tudo 
mudasse a todo o instante, o conhecimento seria impossível. O que se conservou, 
no caso do ramalhete de flores, foi justamente a extensão, visto que é um 
conceito e não uma simples imagem.
Observe que o ramalhete de flores tem sua extensão alterada a cada dia que 
passa, mas a extensão não desaparece. Pensa Descartes que a extensão dos 
corpos não decorre da percepção sensorial, mas somente pode ser captada pelo 
entendimento.
Os corpos materiais se transformam constantemente e os sentidos captam desses 
justamente as características que não permanecem, enquanto a razão capta as 
noções essenciais refletidas nas coisas concretas. Para Descartes, a Matemática 
é considerada a base do conhecimento científico porque essa “ciência precisa, 
rigorosa” é a que melhor nos apoiaria no conhecimento da natureza.
Para Descartes, ser humano é uma junção de:
- um corpo (res extensa),
- e uma alma (res cogitans).
Cogitans: O termo cogito significa pensamento.
A res extensa refere-se à extensão do corpo e nisso os seres humanos são como 
as coisas em geral. A res cogitans refere-se à alma, que é a parte pensante do ser 
humano, diferindo, então, das coisas e dos outros animais.
Esse pensador defende que os dados obtidos pelos sentidos são imprecisos 
demais para serem tomados como base do conhecimento científico. Já os 
conhecimentos obtidos pela via do raciocínio lógico, sobretudo o matemático, são 
racionalmente demonstráveis, precisos, universais e seguros para sustentar a Ciência.
Os aspectos próprios dos objetos, como forma, textura, cor etc., são retirados 
diretamente dos objetos ou das ações humanas sobre esses, mas eles não são 
suficientes para explicar as relações que estabelecemos quando conhecemos. Os 
conceitos dos quais não temos referência sensível, como é o caso dos princípios 
da Física e da Matemática, as ideias de extensão, infinitude, unidade, número, 
espaço, tempo, causalidade etc., somente são alcançados com a atividade racional.
Descartes iniciou sua investigação sobre o conhecimento examinando se suas 
opiniões eram verdadeiras ou se eram meras ilusões, partindo da identificação do 
erro, por meio da radicalização da dúvida.
teoria_do_conhecimento.indb 68 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
69
Qual é a origem do erro? Por que algumas pessoas erram e outras 
acertam? Por que uma mesma pessoa ora acerta, ora erra? Seria possível 
acertamos sempre?
Sim, responderia Descartes. Para tanto, precisamos reconhecer que a fonte de 
nossos erros é a falta de um método perfeito e definitivo, que nos conduza ao 
conhecimento verdadeiro e não nos deixe sucumbir ao erro, pela precipitação e 
pela prevenção.
As pessoas erram porque se precipitam, não observam e não refletem 
pausadamente sobre aquilo que desejam conhecer. Se o fizessem, então, seriam 
capazes de encontrar os aspectos do objeto que não comportam nenhuma dúvida, 
ou seja, poderiam encontrar as evidências. A partir dessas evidências, seria 
possível conhecer o objeto, mas as pessoas costumam emitir juízos superficiais e 
tirar conclusões aligeiradas acerca da realidade, e assim, perdem-se dele.
Também as pessoas erram por prevenção, isto é, apegam-se a preconceitos 
e opiniões ingênuas e, antes mesmo de abordar o objeto do conhecimento, 
acreditam saber algo sobre ele, deixando, assim, de continuar investigando a 
realidade.
Porém, uma vez que seja aplicado corretamente o método perfeito, é possível 
confiar na veracidade do conhecimento obtido por meio dele.
Mas qual seria este método?
O próprio Descartes responde:
[...] assim, em vez desse grande número de preceitos de que se compõem a 
lógica, julguei que me bastariam os quatro seguintes, desde que tomasse a firme 
e constante resolução de não deixar uma só vez de observá-los. O primeiro 
era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que não conhecesse 
evidentemente como tal [...], e de nada incluir em meus juízos que não se 
apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse 
nenhuma ocasião depô-lo em dúvida. O segundo, o de dividir cada uma das 
dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas 
necessárias fossem para melhor resolvê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem 
meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de 
conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos 
mais compostos,
[...] E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões 
tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir. (DESCARTES, 1973, p. 37).
teoria_do_conhecimento.indb 69 09/01/13 17:22
70
Capítulo 4 
Portanto, o método cartesiano consiste em estabelecer uma evidência a partir da 
dúvida, realizar o exercício da análise e da síntese, assim como da enumeração/
revisão. Esses são os procedimentos que, segundo o filósofo, conduzem os 
homens ao conhecimento seguro e científico.
Para Descartes, somente podem ser aceitas como verdadeiras as proposições 
que se apresentarem à razão como indubitáveis. Portanto, é necessário antes 
submeter todo conhecimento à dúvida, exatamente para descartar o que não 
resiste a ela. Observe que o primeiro passo do método cartesiano é a dúvida.
A dúvida cartesiana é a dúvida metódica, isto é, utilizada como meio para 
testar o conhecimento e separar o válido do inválido, o verdadeiro do falso.
É uma dúvida que coloca em cheque as sensações, as opiniões e os 
pensamentos, a fim de encontrar as evidências e não para negar a possibilidade 
do conhecimento.
Considere a seguinte situação, que lhe permite refletir sobre a importância da 
dúvida para conhecermos.
Imagine que você e seus colegas de curso estão conversando a respeito das aulas 
e o tema é a relação entre o desempenho dos professores e a aprendizagem dos 
alunos. O diálogo poderia ser mais ou menos o que segue:
Aluno 1 – Quando o professor explica bem a matéria, a gente não fica com 
dúvidas e consegue se sair bem na prova. Quando o professor fica em dúvida, a 
gente não confia no que ele está ensinando.
Aluno 2 – Mas tem professor que explica bem a matéria e nem sempre responde 
às perguntas que a gente faz, às vezes ele também não sabe a resposta. Assim, a 
gente tem que perguntar para os colegas, pesquisar e tentar responder sozinha.
Aluno 1 – Isso é muito chato, a gente pensa, pensa e fica sem saber qual é a 
resposta certa. Ora, professor bom é aquele que não deixa a gente com dúvidas. 
Você pensa que a dúvida do aluno deve ser sempre sanada e a dúvida do professor 
sempre ocultada?
teoria_do_conhecimento.indb 70 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
71
Será que a ausência da dúvida é sempre sinal de aprendizagem e de 
conhecimento? Registre aqui sua perspectiva.
O racionalismo cartesiano teve críticos de valor, como o filósofo John Locke (1632 
1704), considerado o maior representante do empirismo inglês. Para Locke, o 
conhecimento é a percepção da ligação, do acordo e do contraste entre a ideia 
e a coisa. Essa conformidade entre ideia e coisa, para o Empirismo, somente é 
possível por meio da experiência empírica.
Saiba um pouco mais sobre o Empirismo, em função das ideias de John 
Locke! 
Para o Empirismo, o objeto é, em última análise, o que determina o conhecimento, 
e por mais que nossa mente seja habitada por ideias diversas, nada existe na 
razão que não tenha antes passado pelos sentidos.
O Empirismo afirma que os seres humanos nascem com a mente vazia. A partir 
das primeiras experiências que temos é que surgem as primeiras ideias, que nada 
mais são do que representações das coisas concretas, percebidas por meio dos 
órgãos dos sentidos e acumuladas desde o nascimento.
Segundo o filósofo empirista John Locke, a partir do contato físico com os 
objetos, a mente transforma os dados obtidos em ideias simples. Por exemplo, 
você vê um livro sobre a mesa, fecha os olhos e percebe que guardou uma 
imagem mental idêntica do que viu. Bem, essas ideias simples vão sendo 
combinadas pela própria atividade racional e vão formando outras que são 
denominadas complexas. Assim é sucessivamente, até que se possa chegar a 
ideias com alto grau de complexidade lógica. Mas, por fim, tudo o que habita a 
mente humana, de alguma forma, tem sua origem na experiência concreta.
Hume e o Empirismo
Outro conhecido empirista é David Hume (1711-1776). Para esse filósofo, a fonte 
do conhecimento é a percepção e a associação mental das ideias que dela 
decorrem.
teoria_do_conhecimento.indb 71 09/01/13 17:22
72
Capítulo 4 
Mas você sabe o que é percepção?
As percepções são ocorrências mentais e podem ser de duas classes, que se 
diferenciam entre si pelo grau de vivacidade com que se apresentam ao sujeito 
do conhecimento. São elas:
 • as impressões ou sensações; 
 • as ideias.
As impressões são consideradas mais vivas e imediatas, pois penetram com 
mais força e evidência na consciência. Por exemplo:
Quando vamos à sauna, sentimos em nosso corpo o calor do vapor e o 
choque térmico da ducha fria, essas são sensações externas.
Mas também é possível ter sensações internas, como um sentimento de ciúmes, 
que se for forte pode ser avassalador para o corpo e o pensamento.
Essas são impressões ou sensações que se dão ao sujeito sem que ele pense 
nelas, elas não obedecem a qualquer lógica, e toda conclusão que decorre delas 
são suposições, probabilidades.
Já as ideias nada mais são do que cópias das impressões, pois são 
consideradas as percepções mais fracas da mente.
Retomando o exemplo anterior:
Estando na sauna, podemos lembrar das sensações que nos causou quando 
estávamos em casa, podemos antecipá-las pela imaginação, ou podemos até 
explicar a sauna como um fenômeno físicoquímico, porém, essas lembranças 
ou representações mentais jamais terão a força da sensação original, do 
fenômeno vivenciado.
O mesmo ocorre quando lemos um poema de amor e traição e nos lembramos 
do sentimento de ciúmes, não é possível dimensionar a diferença de intensidade 
que há entre um e outro.
Preste atenção nas seguintes palavras de Hume.
À primeira vista, nada parece mais ilimitado do que o pensamento humano 
[...] examinando o assunto mais de perto vemos que em realidade ele se acha 
encerrado dentro de limites muito estreitos e que o poder criador da mente 
se reduz à simples faculdade de combinar, transpor, aumentar ou diminuir os 
teoria_do_conhecimento.indb 72 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
73
materiais fornecidos pelos sentidos e pela experiência [...] Em resumo, todos os 
materiais do pensamento derivam da sensação interna ou externa; só a mistura e 
composição dessas dependem da mente e da vontade. (HUME, 1992, p.70).
Para Hume, toda a nossa atividade mental consiste em fazer associações de 
percepções derivadas da experiência. A mente parte de ideias simples, oriundas 
das impressões sensíveis, e, por meio de operações associativas, dá origem a 
outras complexas.
A possibilidade de combinações de ideias é tão grande que pode nos levar a 
crer que algumas nada têm a ver com a experiência concreta. De fato, há ideias 
obtidas pela aplicação do raciocínio, pelas construções das relações lógicas que 
não necessitam de experiência prévia e não podem ser verificadas no mundo 
concreto. É o caso da Lógica e da Matemática.
Os verdadeiros objetos de conhecimento da razão não são aquilo que 
percebemos, mas as relações entre as coisas que percebemos.
Elas se dividem em:
 • relações de ideias; 
 • relações ou questões de fato.
Essas relações ou associações não são aleatórias, mas seguem alguns princípios 
universais de associação. As primeiras, as relações de ideias, englobam as 
proposições cujas relações acontecem unicamente entre ideias, sem existirem de 
fato na natureza (são números, formas geométricas, fórmulas matemáticas etc.).
Essas relações seguem princípios de:
Semelhança;
Contrariedade;
Graus de qualidade;
Quantidade ou número.
É possível realizar longos raciocínios a partir delas sem se alterarem, porque não 
dependem dos fenômenos concretos.São proposições consideradas certas por 
demonstração lógica e por intuição, independentemente do nível de complexidade 
a que são levadas, conservam sempre sua exatidão, produzindo um conhecimento 
universal e logicamente necessário, e, por isso mesmo, não podem ser obtidas por 
meio de experiência concreta, já que toda experiência é particular. Portanto, essas 
relações entre ideias não tratam do conteúdo do mundo.
teoria_do_conhecimento.indb 73 09/01/13 17:22
74
Capítulo 4 
As segundas, relações ou questões de fato, englobam as relações que 
descrevem os acontecimentos concretos, e essas não estão sujeitas às regras 
lógicas, apenas se revelam, da forma como são percebidas, no momento 
da experiência vivida. Essas relações seguem princípios de semelhança, 
contiguidade (no tempo e no espaço) e causa e efeito.
Contiguidade: Que está próximo, é adjacente, que avizinha.
O princípio da semelhança faz com que, ao vermos um objeto, imediatamente 
nos remetamos a outro que lhe é semelhante. Por exemplo, quando um caipira na 
cidade grande visita um jardim botânico e lembra de seu sítio, ou quando o vinho 
derramado na camisa lembra ao médico uma mancha de sangue.
O princípio de contiguidade faz com que, ao vermos um objeto, 
automaticamente venha à mente outro objeto que lhe é contíguo. Por exemplo, 
quando vemos alguém se ferir gravemente, logo imaginamos a dor que deve 
estar sentindo, ou então, quando visitamos um apartamento de um prédio logo 
imaginamos os outros apartamentos.
O princípio de causa e efeito nos leva a relacionar o que antecede e o que 
sucede um objeto observado. Por exemplo, quando um médico legista investiga 
a causa da morte de alguém, analisa o ferimento e imagina que instrumento pode 
tê-lo causado, ou, quando alguém nos diz que derramou água fervente sobre a 
mão, imediatamente supomos que deve ter ocorrido uma queimadura.
No entanto, a relação de causa e efeito que o homem julga perceber na natureza 
é fruto da indução, que não garante a permanência das coisas. Para Hume (1992), 
a causalidade somente existe no pensamento e é decorrente do hábito. Nada 
existe na experiência concreta que garanta esta relação. Hume (1992) chama 
atenção para os equívocos que o hábito pode produzir.
O fato de um fenômeno acontecer muitas vezes faz com que o homem se 
acostume com ele e passe a esperar que ele se repita; assim, cria-se o hábito. 
Todas as vezes que uma pedra é jogada para cima, ela cai, o homem já se 
acostumou a ver esse fenômeno em toda sua vida, mas disso não decorre que 
este fenômeno ocorrerá sempre. Pode ser, quem sabe, que um dia ela não caia. 
Podemos supor, por exemplo, que daqui a algumas centenas ou milhares de anos, 
as condições atmosféricas mudem e a Lei da Gravidade seja negada. A certeza 
no que é observado é consequência de nosso treinamento, desde a infância, em 
decifrar e classificar as mensagens do meio ambiente, para nossa adaptação e 
sobrevivência neste meio.
teoria_do_conhecimento.indb 74 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
75
Avisa Hume (1992) que o hábito pode nos levar a conclusões precipitadas sobre 
as coisas e suas relações.
Se todo conhecimento se origina das percepções, algumas de impressões 
sensíveis e particulares e que não servem como referência universal e outras 
de idéias complexas que não derivam da experiência concreta, então o 
conhecimento humano não é certo, mas apenas provável. Para Hume (1992 ), 
certo seria se admitíssemos que, realmente, não conhecemos nada.
Observe que Hume (1992 ) nos apresenta uma crítica ao método indutivo. Ele 
afirma que não é possível justificar nenhuma das verdades obtidas por indução. O 
fato de o homem presenciar fenômenos que se repetem, não significa que ele pode 
inferir que os fenômenos sempre acorrerão da mesma maneira. Pela indução a 
partir de ocorrências particulares, não é possível fazer juízos universais, visto que 
não é possível experimentar o universal, apenas o particular e específico.
Reflita!
Pense no seu conhecimento sobre as cores. Certamente você conhece diversas 
cores e em diversos matizes. Imagine que entre tantas cores que você conhece 
não está o vermelho; ou seja, hipoteticamente falando, você simplesmente nunca 
viu o vermelho.
Agora imagine que lhe fosse apresentada uma escala de diversos matizes de 
vermelho, do mais fraco para o mais forte, porém, faltando um dos matizes.
O que vai ocorrer é uma distancia maior entre aqueles dois matizes contíguos em 
que falta um mais do que entre os outros matizes da escala.
Responda:
Você pensa que, mesmo sem conhecer a cor vermelha, seria possível identificar a 
falta de um matiz na escala de vermelho? Justifique sua resposta.
Segundo Hume sim, visto que a mente humana é capaz de identificar a 
descontinuidade e tentar, idealmente, suprir a falta percebida.
teoria_do_conhecimento.indb 75 09/01/13 17:22
76
Capítulo 4 
Kant e o Criticismo
Kant (1724-1804) é conhecido como um dos mais rigorosos filósofos de todos 
os tempos. No que se refere à Teoria do Conhecimento, pode-se dizer que a 
sua filosofia ao mesmo tempo em que critica as teorias anteriores (Empirismo 
inglês e Racionalismo cartesiano), de certa forma, aglutina os seus aspectos mais 
importantes.
Kant, ao contrário do Empirismo, considera a existência de ideias a priori, ou seja, 
antes da experiência.
De modo diferente do Racionalismo de Descartes, nega que possa haver 
conhecimentos seguros que tenham origem na metafísica, no plano divino, em 
Deus – pois afirma que desses assuntos não pode haver provas, de modo que 
tudo pode ser afirmado.
Considera que o fenômeno vivenciado é fonte necessária de conhecimento, 
ao contrário do Racionalismo, mas não que seja a única fonte, ao contrário do 
Empirismo.
Segundo Kant (1996), o conhecimento inclui o mundo físico percebido 
sensivelmente e as faculdades mentais do sujeito cognoscente, no 
contexto de uma experiência.
A experiência é o momento em que o sujeito atinge sensivelmente o objeto 
e intui a sua existência. Ela é fundamental para o conhecimento, nutre o 
entendimento e provoca a imaginação e as operações mentais do sujeito. De 
modo geral, o conhecimento começa com a experiência. 
No entanto, não se tem certeza da existência do mundo, exatamente como ele 
é, visto que a experiência não nos permite conhecê-lo, em si. Tudo o que chega 
do mundo físico ao sujeito é o que consegue passar pelos seus sentidos e suas 
faculdades cognitivas. Aqui está uma questão que interessa a Kant (1996). Ele 
está menos interessado na constituição da realidade do mundo físico do que nas 
operações mentais e faculdades do conhecimento do sujeito que conhece.
A participação do sujeito é fundamental no processo do conhecimento, visto 
que as categorias de análise da realidade, pelas quais ela se torna conhecida, 
estão no sujeito, são forjadas em sua mente, que é abastecida pelo mundo 
percebido por meio dos sentidos. O meio pelo qual o mundo é percebido, as 
ferramentas de organização da experiência externa e interna são, para Kant, 
puras, a priori, e é a elas que ele se dedica especialmente.
teoria_do_conhecimento.indb 76 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
77
Ele identifica quatro faculdades do sujeito, pelas quais é possível produzir o 
conhecimento. São elas:
 • Sensibilidade/intuição;
 • Imaginação;
 • Entendimento;
 • Razão.
Segundo Kant (1996), a sensibilização é a capacidade de obter 
representações a partir do modo diverso como o objeto nos afeta. E a 
sensação é justamente o efeito que o objeto produz sobre os órgãos dos 
sentidos e sobre a capacidade de representação do sujeito. Isso significa 
que a experiência com o objeto exige condições a priori de sensibilização, 
capacidade de representação imediata do sujeito.
Nesse sentido, Kant afirma que os objetos aparecem para nós em função de 
como esses afetam nossos sentidos.
Kant (1996) chama de intuição o modo como o conhecimento se refere 
imediatamente ao objeto.
A imaginação é entendida como uma faculdadeintermediária entre a 
sensibilização e o entendimento e se refere à capacidade de representar o objeto 
mesmo quando ele não está presente. É a capacidade de representação de um 
objeto intuído, mediante um conceito, o que significa que, pela imaginação, é 
possível fazer uma síntese da multiplicidade das coisas percebidas, ou dadas 
pela intuição.
O entendimento é o que opera as categorias e princípios a priori, que vão 
permitir realizar a síntese do múltiplo experimentado em conceitos universais. É 
ele que dá unidade ao trabalho das faculdades anteriormente citadas.
Conforme Morente (1970, p. 229), conceito para Kant é uma unidade mental 
dentro da qual estão compreendidos um número indefinido de seres e de coisas. 
Portanto, é universal e não pode ser atingido pela sensação que somente nos 
mostra a multiplicidade de coisas. Por exemplo, os diversos homens concretos e 
o conceito único de homem.
O entendimento é o que opera as categorias e princípios a priori, que vão 
permitir realizar a síntese do múltiplo experimentado em conceitos universais. É 
ele que dá unidade ao trabalho das faculdades anteriormente citadas.
Finalmente, a razão é faculdade que, por natureza, em nada se refere à 
experiência, mas ao próprio processo do entendimento. A razão faz, praticamente, 
a mesma tarefa do entendimento, mas não lida com as representações intuídas 
teoria_do_conhecimento.indb 77 09/01/13 17:22
78
Capítulo 4 
e a organização de conceitos. A razão lida antes com as regras que dão unidade 
a essas representações e aos conceitos. É a razão que dá unidade às regras 
do entendimento. Por meio de sínteses internas, a razão pode chegar aos seus 
próprios princípios, que são ideias puras.
Para Kant (1996), o conhecimento produzido sobre o mundo interno e externo 
é expresso pelo sujeito que conhece, por meio de juízos. Os juízos são frases 
formadas por um sujeito do qual se declara algo e por um predicado que é aquilo 
que se diz do sujeito.
Segundo Kant (1996), esses juízos podem ser:
Analíticos ou
Sintéticos.
Os juízos analíticos não dependem da experiência, estão ligados aos 
conceitos e são juízos a priori. Nesse caso, o predicado já está contido no sujeito, 
ou seja, basta saber quem é o sujeito para saber, antes de qualquer experiência, 
o predicado que se aplica a ele.
Veja o exemplo:
Quando pronuncio a frase: “Nos dias em que neva faz frio”, o predicado, que é 
o “faz frio”, já está contido em “Nos dias em que neva”, que é sujeito da oração. 
Observe que o atributo “frio” já está contido, implícito, no conceito “neve”.
Portanto, os juízos analíticos, a priori, não acrescentam nada de novo ao 
conhecimento.
Os juízos sintéticos, pelo contrário, necessitam das informações intuídas pela 
sensação para juntá-las, sintetizá-las.
São juízos a posteriori. Eles acrescentam ao sujeito da oração um predicado 
novo, que lhe acrescenta uma qualidade, não incluída no sujeito. Retomando o 
exemplo anterior para transformá-lo em um juízo sintético a posteriori, ficaria assim:
 “Nos dias em que neva é preciso usar agasalhos”. 
Neste caso, o predicado não está previamente dito no sujeito, pois se não 
houver a experiência de sentir frio em dias de neve, não é possível afirmar 
aquele predicado.
teoria_do_conhecimento.indb 78 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
79
Há, também, os juízos sintéticos a priori. Ocorrem porque os juízos sintéticos que 
dependem da experiência, que são a posteriori (como foi explicado no parágrafo 
anterior), são universalizados e tomados como leis da natureza. Kant considera 
que os juízos sintéticos a priori, apesar de ligados aos conceitos e às sensações 
não estão limitados à experiência, por isso, são universais e necessários. Esses 
são os juízos mais adequados às proposições científicas. Pode-se dizer que, com 
esses juízos, Kant junta razão e experiência.
Saiba mais sobre os juízos kantianos!
Em todo juízo analítico, o predicado é tal que esse “pertence” ao sujeito, está 
contido no sujeito em função da própria constituição do sujeito. Ex. Todo ser 
humano é mortal. Veja que o predicado ‘mortal’ faz parte do sujeito ‘ser humano’. 
Outro ex. Todo triângulo tem três lados. Veja que no sujeito ‘triângulo’ já está 
presente a ideia do que é dito no predicado ‘ter três ângulos’. Neste tipo de 
juízo, podemos reconhecer a verdade ou falsidade do juízo, independentemente 
da experiência e fundamentalmente a partir da análise do próprio juízo. Todo 
juízo analítico é considerado uma tautologia porque, de certo modo, repete 
no predicado o que já foi dito no sujeito. Nesse sentido, todo juízo analítico é 
considerado sempre verdadeiro, necessário e universal. Contudo, eles não nos 
proporcionam um conhecimento ‘novo’ sobre a realidade.
Os juízos analíticos são ditos a priori porque sua verdade ou falsidade 
independem de experiência.
Nos juízos sintéticos, o predicado é tal que não “pertence” ao sujeito, isto é, o 
predicado não está contido no sujeito. Porém, o predicado pode ser dito sobre 
o sujeito, isto é, podemos atribuir tal predicado ao sujeito. Veja um exemplo: 
Sócrates está sentado. Veja que o predicado ‘sentado’ não faz parte da 
constituição do sujeito ‘Sócrates’, mas é algo que podemos expressar sobre a 
condição do sujeito. Esse é um juízo sintético a posteriori, porque a verdade 
desse juízo depende de certa ‘experiência’, depende da nossa experiência para 
podermos dizer se ele é verdadeiro ou falso. Observe o caráter cambiante de 
veracidade deste juízo, da possibilidade, pois uma hora Sócrates pode estar 
sentado e em outra não.
Nos juízos sintéticos a priori, propomos um conhecimento independentemente 
da nossa experiência, atribuindo um predicado que não está dito no próprio 
sujeito. Esses juízos também expressam algo necessariamente verdadeiro ou 
necessariamente falso. Veja um ex. “a linha reta é a distância mais curta entre 
dois pontos”. Neste tipo de juízo o sujeito (reta) e o predicado (pontos) se 
referem a duas entidades distintas, o predicado não está contido no conceito do 
sujeito, mas podemos ‘intuir’ esta lei de modo racional, independentemente da 
teoria_do_conhecimento.indb 79 09/01/13 17:22
80
Capítulo 4 
experiência. Esse juízo sintético, a priori, acima, expressa uma lei (matemática), 
verdadeira em todas as localidades, lugares e épocas, independentemente da 
experiência de alguém.
A Filosofia de Kant influenciou a ciência moderna até os dias atuais, pela sua crítica 
às teorias do conhecimento anteriores, que polarizaram a discussão moderna sobre 
o conhecimento, pela sua própria explicação de como ocorre o conhecimento e 
pelo brilho e pela genialidade da lógica interna de seu pensamento.
Seção 3
Questões da Teoria do Conhecimento na 
Contemporaneidade
Descartes (1596-1650), em sua época, e não se pode esquecer que era uma 
época de crença no poder da razão, estava preocupado em construir um método 
assentado na Matemática, que garantisse um conhecimento verdadeiro. Hume 
(1711-1776), por seu lado, estava preocupado em frear a confiança na razão 
como fonte única de conhecimento, questionando a relevância do método 
dedutivo e do conhecimento puramente abstrato, questionando, também, a 
possibilidade do conhecimento das coisas em si e apontando as falhas da 
aplicação do método indutivo.
Essas duas teorias protagonizaram uma questão primordial para o conhecimento 
científico contemporâneo, não tanto pelo seu aspecto teórico, é claro, mas pelo 
abalo que elas provocam, ainda hoje, na confiabilidade que o homem adquiriu no 
conhecimento científico.
É preciso lembrar, porém, de uma outra corrente de pensamento, que buscou 
sintetizar o empirismo e o racionalismo e estabelecer a Ciência como um 
conhecimento positivo sobre a natureza e definitivo quanto a sua validade. Essa 
corrente é o Positivismo.
3.1 Saiba mais sobre o Positivismo
O Positivismo, sistema proposto pelo filósofo Augusto Comte (1798-1857), 
propõe levar em consideração tanto a experiência empírica do mundo físico 
quantoas formulações lógicas puramente racionais. Para o Positivismo, a ciência 
é, entre tantos tipos de conhecimento desenvolvidos pelo homem, o único 
conhecimento universalmente válido.
teoria_do_conhecimento.indb 80 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
81
Nesse sistema, acreditava-se ser possível “evoluir” no conhecimento 
científico, de modo progressivo e linear. Entre as principais características do 
conhecimento científico, de acordo com o Positivismo, estão a objetividade, a 
neutralidade e o progresso.
É interessante salientar que essas características aqui citadas estão entre as mais 
criticadas pelos teóricos contemporâneos da Ciência.
Para saber mais sobre o Positivismo, você pode procurar livremente na 
internet pelos verbetes: Positivismo, Augusto Comte, Sociologia. 
É inegável que a partir do século XIX o conhecimento científico tenha se 
consolidado e determinado significativamente a caminhada da humanidade. 
As possibilidades que a Ciência oferece para a explicação dos fenômenos 
da natureza, de interferência na ordem dos acontecimentos naturais e de 
modificação das maneiras de viver não têm precedentes.
No entanto, desenvolveu-se junto às descobertas científicas e as invenções 
tecnológicas a complexidade das questões do conhecimento.
Assim, surgiram questões como:
Quais são as possibilidades do conhecimento científico para o homem 
contemporâneo? Quais são as consequências das descobertas e invenções 
científicas para a vida humana e para o meio ambiente? É possível confiar na 
objetividade e na veracidade do conhecimento científico, assim como defendiam 
grande parte dos pensadores modernos?
A confiança que a modernidade depositou no conhecimento científico não 
permaneceu igual para os cientistas e filósofos contemporâneos. Os avanços 
científicos e o impacto destes na vida humana originaram uma série de 
indagações quanto aos procedimentos e a veracidade do conhecimento científico.
Muitos filósofos contemporâneos dedicam-se exclusivamente ao estudo do 
conhecimento científico, em outros casos, cientistas, refletindo sobre seu próprio 
trabalho, tornam-se teóricos do conhecimento.
teoria_do_conhecimento.indb 81 09/01/13 17:22
82
Capítulo 4 
3.1 Thomas Kuhn e o paradigma
Um dos mais importantes filósofos da Ciência é o contemporâneo Thomas Kuhn 
(1922- 1996). Na realidade, ele é um físico de formação, ou seja, um cientista. Porém, 
por uma contingência de seu trabalho na Universidade, especificamente numa 
situação em que teve que preparar um curso de ciências para não cientistas, Kuhn 
precisou rever o conhecimento científico em uma perspectiva história e aproximou-se 
irremediavelmente da Filosofia. Foi por esse caminho que alcançou notoriedade.
As ideias mais divulgadas de Kuhn acerca da Ciência são a noção de ciência 
normal, ciência revolucionária ou revolução científica e paradigma.
Segundo Kuhn , o desenvolvimento do conhecimento científico ocorre pela 
alternância da ciência normal e da ciência revolucionária. É a ideia de que 
a Ciência não progride gradualmente de forma linear - como se afirmava e 
defendia no Positivismo -, mas por meio de saltos qualitativos provocados pelas 
mudanças de paradigma.
Você sabe o que é um paradigma?
Segundo o autor, o paradigma é um conjunto de princípios, postulados e 
metodologias que regem todas as pesquisas de uma determinada disciplina 
científica. Um paradigma cientifico é partilhado pela comunidade científica e 
representa uma matriz a partir da qual cada cientista, em sua especialidade, 
desenvolve suas pesquisas.
É importante salientar que uma comunidade científica é um grupo de cientistas de 
uma determinada área, entre os quais há o controle do conhecimento produzido e 
das informações veiculadas no grupo, que partilham da mesma formação teórica, 
dos mesmos juízos profissionais e dos mesmos paradigmas.
Observe que o paradigma acaba direcionando as pesquisas e apontando sua 
perspectiva de desenvolvimento e seus limites.
Um paradigma também pode surgir de um conjunto de realizações científicas 
concretas, incorporado pela tradição científica e tornado modelo para outras 
pesquisas.
O período em que um paradigma é unanimemente aceito pela comunidade 
científica é denominado, por Kuhn, de ciência normal. Nesse período, os 
cientistas não estão preocupados em comprovar o paradigma ou em estudar 
aspectos que fogem a ele. É um período de aprofundamento no objeto da 
pesquisa e que permite a consolidação de resultados e a acumulação de 
conhecimentos, não é um período de alteração das “regras do jogo”.
teoria_do_conhecimento.indb 82 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
83
Mesmo que no entendimento de um cientista ou de outro pairem desconfianças 
sobre o paradigma que rege suas pesquisas, raramente um deles suscitará um 
ponto de desacordo entre eles. Se não houvesse períodos de estabilidade 
quanto aos paradigmas, não seria possível estudar profundamente nenhum 
aspecto da realidade.
No entanto, pode ser que no desenvolvimento da ciência normal comecem a 
aparecer incongruências (inconveniências, incompatibilidades). Como afirma 
Kuhn (2006), para o cientista normal pode ocorrer um problema que investiga não 
só não tem solução, em função do âmbito das regras em vigor, como o mesmo 
não pode, por isso ser qualificado de inepto ou despreparado.
Se essa situação estender-se ao âmbito de outras pesquisas, sem que os 
cientistas consigam encontrar soluções para os impasses, começa a nascer 
a suspeita de que o paradigma deve ser substituído, começa um período de 
crise. Muitas vezes, as incongruências encontradas nas pesquisas dão origem a 
descobertas que promovem o avanço científico, porém, sem que os paradigmas 
instituídos sejam alterados.
Os avanços que ocorrem pela mudança de paradigma são de outra natureza. 
Observe a citação que segue.
As mudanças revolucionárias são diferentes e bem mais problemáticas. Elas 
envolvem descobertas que não podem ser acomodadas nos limites dos conceitos 
que estavam em uso antes delas terem sido feitas. A fim de fazer ou assimilar 
uma tal descoberta, deve-se alterar o modo como se pensa, e se descreve, um 
conjunto de fenômenos naturais [...] Quando mudanças referenciais desse tipo 
acompanham mudanças de lei ou teoria, o desenvolvimento científico não pode ser 
inteiramente cumulativo. Não se pode passar do velho ao novo simplesmente por 
um acréscimo ao que já era conhecido. Nem se pode descrever inteiramente o novo 
no vocabulário do velho ou vice-versa. (Kuhn, 2006, p. 25).
Em condições de mudança de paradigma, ocorre o que Kuhn chama de ciência 
revolucionária. Todos os cientistas que trabalham sob a luz de um mesmo princípio 
paradigmático que está sendo substituído param suas pesquisas e aguardam ou 
verificam em sua prática os indícios que invalidem o paradigma em questão.
É necessário um grande esforço para alterar um paradigma, visto que, apesar de 
ele resolver incongruências aparentemente insolúveis no interior das pesquisas, 
também exige a revisão dos conhecimentos aceitos como válidos e que foram 
produzidos sob a proteção do paradigma que está sendo substituído. Além disso, 
teoria_do_conhecimento.indb 83 09/01/13 17:22
84
Capítulo 4 
o novo paradigma sempre afronta, de alguma maneira, a tradição e a autoridade 
de cientistas consagrados dentro da comunidade científica e defensores do velho 
paradigma. 
Finalizando, segundo Kuhn, cada disciplina científica, em períodos de 
“normalidade”, resolve seus próprios problemas dentro de uma estrutura fechada, 
preestabelecida por pressupostos metodológicos, convenções linguísticas e 
experimentos exemplares acolhidos e validados pela comunidade científica, 
até que os cientistas se deparam com a impossibilidade de resolver um número 
sempre maior de problemas na base do paradigma vigente. O acúmulo e 
disseminação de problemas não resolvidos criam, por sua vez, uma situação de 
crise, de onde deve nascer um novo paradigma.
Atenção!
Apesar de Kuhn criticar a crençana acumulação e no progresso gradativo e 
natural do conhecimento científico, ele não nega que a Ciência produz um 
conhecimento cumulativo - nos momentos de ciência normal. Também não nega 
que os paradigmas, ainda que provisórios, fundam princípios que, se seguidos, 
permitem o desenvolvimento de pesquisas e o conhecimento da natureza.
3.2 Paul Karl Feyerabend e o anarquismo epistemológico
Um dos filósofos contemporâneos mais críticos em relação à objetividade. 
Paul Karl Feyerabend (1924-1994) é considerado um crítico radical do positivismo 
científico, entre outros motivos, pelo seu anarquismo epistemológico, por 
recomendar ao cientista um posicionamento anárquico em relação à rigidez das 
regras, dos postulados, dos paradigmas e da tradição científica.
Feyerabend acredita que em várias situações da história da Ciência, em que 
foram feitas grandes descobertas e invenções, as regras científicas não foram 
respeitadas e somente por isso os cientistas obtiveram êxito. Ele afirma, 
também, que o cientista não deve ficar preso entre os limites do método 
científico, mas deve utilizar artifícios de qualquer natureza para desenvolver 
sua pesquisa e alcançar seu propósito. Segundo ele, “todas as ideias valem”. 
Também não há regras, ou melhor, a única regra que o cientista deve seguir, 
segundo este autor, é que não há regras, pelo menos não no sentido universal 
e positivista de método científico.
Um dos livros mais conhecidos de Feyerabend é Contra o método. Nele, o 
filósofo expõe suas razões para criticar a submissão do cientista aos preceitos 
científicos que são prévios, não acompanham a dinâmica social, direcionam e 
restringem a atividade científica, de certa forma, desumanizam-na.
teoria_do_conhecimento.indb 84 09/01/13 17:22
85
Secões de estudo
Habilidades
Capítulo 5
Ética na produção e 
socialização do conhecimento
Este capítulo foi elaborado para propiciar ao aluno 
o desenvolvimento de habilidades de compreensão 
em relação à distinção de 'Ética' e 'Moral' 
observando os preceitos éticos no momento da 
produção e da divulgação do conhecimento.
Seção 1: Ética e moral 
Seção 2: Questões éticas na produção do 
conhecimento
Seção 3: Questões éticas na socialização do 
conhecimento
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86
Capítulo 5 
Seção 1
Ética e moral
Se perguntássemos para os dez maiores filósofos da história da humanidade 
o que é Ética, cada um deles proporia uma resposta diferente para a questão. 
Esse fato permite-nos deduzir que não há um consenso sobre a definição de 
Ética. Porém, em função das várias respostas já oferecidas, no decorrer da 
história da Filosofia, nós poderíamos detectar muitos pontos em comum e 
propor a seguinte definição.
A Ética é a ciência, um ramo da Filosofia, que estuda, reflete, investiga, pesquisa 
racional e sistematicamente a conduta, a ação, os costumes do ser humano 
considerados como comportamento moral. Ou seja, a Ética é a teoria que estuda 
a moral.
Mas, você pode estar se perguntando: O que é um comportamento moral?
Acompanhe a resposta a essa pergunta na sequência. 
Veja alguns elementos que permitem entender o que é o comportamento ‘moral’.
O comportamento moral é todo tipo de comportamento humano, costume, 
considerado obrigatório (que deve ser realizado) ou proibido (que não deve ser 
realizado) e que está sujeito ao julgamento, ao arbítrio da própria consciência 
humana.
O comportamento moral é julgado, basicamente, em função de critérios e valores.
O critério mais utilizado para o julgamento do comportamento moral é a 
consideração de, no mínimo, dois extremos, duas qualidades contrárias, 
antagônicas: o certo (o bem) ou o errado (mal).
Os valores, por sua vez, referem-se às escolhas de determinados 
comportamentos que devem ser preferidos, escolhidos, ao invés de outro. Esses 
valores podem estar implícitos, subentendidos ou explícitos.
Em muitas culturas, podemos encontrar alguns valores comuns que são 
considerados como dignos de serem imitados, tais como: ‘não roubar’, ‘não 
mentir’, ‘ser honesto’ etc.
Contudo, observe que os valores que orientam os comportamentos morais são 
sempre relativos a uma cultura, uma civilização, uma época.
Considere esses exemplos que justificam o caráter relativo dos valores, referentes 
a um comportamento moral:
teoria_do_conhecimento.indb 86 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
87
Hoje, em nossa sociedade, tratar a mulher como sendo igual ao homem é 
considerado certo; enquanto que, em algumas sociedades africanas e asiáticas, 
esse nível de igualdade é errado. Por outro lado, nos primórdios da civilização 
humana, na idade da pedra, é bem provável que a moralidade vigente era diferente 
da aceita e cultivada hoje.
Hoje é considerado errado, inaceitável, a escravidão. Mas, na antiguidade, e mesmo 
há pouco tempo, no Brasil, a escravidão era considerada aceitável.
A moral sempre fez parte da história da humanidade. Todas as civilizações 
humanas, desde os primórdios, apresentam um tipo de moral. Contudo, a Ética 
(reflexão sobre a moral) surgiu como um fenômeno posterior à moral. Veja que foi 
a partir de uma prática moral, de vários costumes e comportamentos morais já 
efetivos, vividos, de um contexto fértil, que surgiu a Ética.
Ao estudar essas duas definições, de Ética e de Moral, você deve ter percebido 
que, basicamente, a Ética é a teoria que estuda a moral. E a moral refere-se às 
práticas humanas, aos comportamentos, que são classificados em função de 
critérios como certos (bons) ou errados (maus). A avaliação dos comportamentos 
também depende de valores que aceitamos, estabelecemos ou rejeitamos.
A relação entre a Ética e a Moral pode ficar mais explícita com um exemplo.
Considere a seguinte situação:
Um aluno da área da saúde, em fase de elaboração de trabalho 
de conclusão de curso (TCC), enviou o seguinte e-mail ao 
professor-orientador: 
“Prezado professor: minha hipótese de pesquisa é que pessoas 
que praticam artes marciais podem resistir ao sufocamento por 
um tempo significativamente mais longo do que as pessoas que 
não praticam artes marciais. Eu planejo que um atleta profissional 
aborde sorrateiramente sujeitos de ambos os grupos e sufoque-
os até ficar inconscientes. O tempo do início do sufocamento 
até a inconsciência será minha variável independente. Você 
acha que eu vou ter algum problema em ter meu tema aprovado 
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) na utilização de seres 
humanos na minha pesquisa? Atenciosamente, Bruce”. 
O professor-orientador responde:
“Prezado Bruce: Não quero diminuir seu entusiasmo pela 
pesquisa, mas você pode realmente ter um grande problema 
teoria_do_conhecimento.indb 87 09/01/13 17:22
88
Capítulo 5 
em obter aprovação para o seu tema (para não falar em pessoas 
voluntárias para a realização do estudo). Tenha certeza de que o 
comitê de ética não apenas desconsiderará sua proposta, mas 
também, é muito provável, que a jogue no lixo. Encontre outro 
tema. Atenciosamente, PMP”. (THOMAS; NELSON, 2002).
Você é capaz de perceber a Ética e a moral que permeia este caso?
Veja que aqui temos, especificamente, um ato moral. O ato moral refere-se 
ao sufocamento; refere-se ao comportamento moral praticado. Embora em 
algumas artes marciais admite-se o golpe do estrangulamento, em pesquisas, 
este ato jamais poderia ser adotado. 
E a Ética? Onde está? Bom, a Ética, como já vimos, é a teoria que propõe refletir 
as condutas morais. Você pode, então, perguntar: onde está tal reflexão sobre 
esta conduta moral: “o sufocamento”?
Ora, a Ética inicia-se justamente quando começamos a analisar racionalmente 
esse comportamento moral, esse ato moral, considerando, por exemplo, as 
seguintes questões:
Na realização de uma pesquisa, seria correto sufocar o sujeito/voluntário, ainda 
mais de forma sorrateira, até a sua inconsciência? Seria correta a realização de 
uma pesquisa sem o esclarecimento dos objetivos do estudo, sem consentimento 
do sujeito pesquisado? Os riscosdesse estudo não seriam maiores que os 
benefícios? E se o sujeito pesquisado, no momento da abordagem tivesse uma 
complicação decorrente do sufocamento?
Veja outros casos que caracterizam a falta de ética na pesquisa, ocorridos no 
século XX.
“Entre 1932 e 1972, um grupo de pacientes com sífilis foi 
deliberadamente deixado sem tratamento para que os médicos 
pudessem estudar o desenvolvimento natural da doença. Os 
pacientes eram pobres e negros. Isso aconteceu em Tukesgee, 
Alabama, EUA.” (VIERA; HOSSNE, 1998).
 “Para estudar os efeitos colaterais de anovulatórios orais 
(remédio para não engravidar), os médicos administraram, a um 
grupo de 76 mulheres, apenas placebo. Ocorreram 10 casos de 
gravidez indesejada no grupo que recebeu placebo. As mulheres 
eram americanas pobres, de ascendência mexicana” (VIERA; 
HOSSNE, 1998).
“Na República Dominicana, na Tailândia e na África, foram feitos 
experimentos, financiados pelo governo americano, com 12211 
mulheres, para determinar a dose mínima de AZT no tratamento 
de aidéticas grávidas. Cerca de metade dessas mulheres recebeu 
placebo”. (VIERA; HOSSNE, 1998).
teoria_do_conhecimento.indb 88 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
89
Observe que a Ética, relativa ao exemplo do sufocamento, torna-se explícita 
quando estabelecemos que questões morais devem ser discutidas, quais critérios, 
valores e métodos devemos propor para lidar com tais questões conflituosas, que, 
por sua vez, fazem parte do processo de pesquisa.
O ato moral em questão, o sufocamento, representa apenas uma gota de um 
oceano repleto de outras situações, referentes à prática da pesquisa. A avaliação 
ética do estudo deve levar em conta qualquer procedimento que possa trazer 
algum prejuízo ao participante da pesquisa. E esse prejuízo pode ocorrer desde 
uma simples pergunta que se possa fazer numa entrevista e/ou questionário 
até em procedimentos mais sofisticados, como por exemplo, em experimentos 
farmacêuticos, pesquisas com células tronco, vacinas, entre outros.
Apesar de a Ética ser a teoria que estuda a moral, saiba que existem várias éticas, 
doutrinas éticas, que foram propostas no decorrer da história da humanidade. 
Assim, foram propostos diferentes modos de refletir sobre os atos morais, 
inclusive sobre o caso exposto no exemplo anterior.
De fato, existem inúmeras éticas e elas podem ser agrupadas e estudadas de 
vários modos. Tais éticas podem ser reunidas em torno de três grandes áreas 
- em função da similaridade, semelhança ao refletir sobre a moral - como Ética 
Normativa, Metaética e Ética Prática ou Aplicada.
A ética normativa, como o próprio nome diz, procura estabelecer normas gerais 
e modelos universais de comportamentos morais a serem seguidos. Esses 
modelos universais deveriam ser válidos para todo um universo de sujeitos e todo 
um universo de situações.
A metaética estuda as proposições, as sentenças que estão relacionadas a um 
ato moral. Assim, são privilegiadas as reflexões relativas à verdade, à validade e à 
lógica de uma proposição que expressa um juízo moral.
A ética prática ou aplicada refere-se à tentativa de aplicação dos princípios gerais 
da ética normativa, em situações práticas do nosso dia a dia, do nosso cotidiano.
Considere a seguinte situação (hipotética) prática: 
Existe um amigo ou parente nosso que está moribundo, vegetando e sofrendo 
no leito do hospital – com câncer. O enfermo está infeliz porque não pode mais 
andar nem mexer os membros; porque só respira com o auxílio de uma série de 
aparelhos. Para piorar a situação, não há expectativa de melhora, apenas de mais 
sofrimento e de dor, que devem prolongar-se por algum tempo. Em função desse 
contexto, o enfermo solicita que sua vida seja interrompida, para que, então, possa 
encontrar a paz e a ‘felicidade’.
teoria_do_conhecimento.indb 89 09/01/13 17:22
90
Capítulo 5 
A ética prática discutiria, por exemplo, o que fazer em uma situação como essa. 
Nesse sentido, a ética prática poderia retomar dois princípios que fazem parte 
das reflexões da ética normativa, como por exemplo:
1. “nenhum ser humano pode ser privado de sua vida”;
2. “devemos ser felizes”.
Ora, com essa questão prática e com esses dois princípios estudados pela ética 
normativa, encontramo-nos em um dilema: o que fazer?
Veja as opções básicas:
1. Se a vida do enfermo for interrompida, então, ele encontrará a paz, 
a felicidade que alega e defende. Contudo, se agirmos desse modo, 
estaremos desrespeitando o preceito moral de que “nenhum ser 
humano pode ser privado de sua vida”.
2. Se a vida do enfermo não for interrompida, então, ele continuará 
a sofrer e permanecerá infeliz até o dia de sua morte. Contudo, se 
agirmos desse modo, estaremos desrespeitando o preceito moral 
de que “devemos ser felizes”, ou seja, de que o enfermo, mesmo 
nessas condições, tem direito a ser feliz.
Essas questões são problematizadoras e servem apenas para caracterizar, no 
campo da filosofia, o objeto da ética prática.
Destacamos como exemplos de ética prática ou aplicada, a “Ética na política”, 
a “Ética profissional”, a “Ética no serviço público”, a “Ética na Pesquisa”, entre 
outras tantas. 
A ética prática é a que mais nos interessa neste capítulo, pois é ela que fundamenta 
a conduta do pesquisador na produção e socialização do conhecimento. 
Primeiramente, vejamos algumas ações que devem orientar a conduta do 
pesquisador na produção do conhecimento.
Seção 2 
Questões éticas na produção do conhecimento
Além dos recursos lógicos e metodológicos que devem orientar o processo 
de pesquisa, são necessários recursos éticos que conduzem a produção, a 
discussão e a divulgação do conhecimento. A construção metodológica da 
pesquisa está diretamente relacionada com os preceitos éticos. A formulação 
teoria_do_conhecimento.indb 90 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
91
de um roteiro de entrevista ou a elaboração de um questionário, por exemplo, 
indicam de forma prática essa relação, pois a pergunta deve ser elaborada e 
conduzida de maneira que não cause nenhum prejuízo ao sujeito participante da 
pesquisa. Esse é apenas um dos exemplos que demonstram essa relação.
As pesquisas com seres humanos no Brasil são normatizadas por um conjunto 
de normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS), pelo Conselho Nacional 
de Saúde (CNS) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Entre 
as normas destaca-se, principalmente, a resolução 196/1996 que contém as 
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. 
(BRASIL, 1996)
A resolução 196/1996 apresenta um conjunto de termos e definições operacionais 
que servem de parâmetro para conduzir eticamente as pesquisas no Brasil. 
Para que você alcance uma maior compreensão do processo de pesquisa, 
destacamos alguns termos e, respectivamente, o significado que assumem:
a. Protocolo de Pesquisa: é o documento que apresenta todas as 
informações relativas à pesquisa: qualificação do pesquisador 
responsável, descrição dos sujeitos da pesquisa e dos 
procedimentos metodológicos. No protocolo, o pesquisador deve 
incluir a documentação necessária para a condução ética do 
processo de pesquisa. O CEP-UNISUL apresenta modelos para os 
seguintes documentos:
 • Folha de rosto para pesquisa, envolvendo seres humanos 
(Formulário CONEP);
 • Folha de identificação do projeto – Unisul;
 • Declaração de Ciência e Concordância das Instituições 
Envolvidas (DCCIE);
 • Termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE);
 • Consentimento para fotografias, vídeos e gravação de imagens;
 • Autorização do Guardião dos Prontuários;
 • Justificativa para a não utilização do TCLE.
b. Risco da pesquisa: possibilidade de ocorrer algum dano ao sujeito 
pesquisado em qualquer fase da pesquisa. Os danos podem ter 
dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou 
espiritual. O pesquisador responsável deve suspender a pesquisa 
se perceber algum risco ao sujeito participante do estudo. 
teoria_do_conhecimento.indb91 09/01/13 17:22
92
Capítulo 5 
c. Dano associado ou decorrente da pesquisa: agravo imediato ou 
tardio, causado ao indivíduo ou à coletividade. Se comprovado com 
nexo causal, o dano associado ou decorrente da pesquisa deverá 
ser indenizado. O sujeito participante da pesquisa deverá ter a 
cobertura material em reparação ao dano causado. 
d. Consentimento livre e esclarecido: manifestação da anuência 
à participação do processo de pesquisa mediante assinatura do 
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ao assinar 
o termo, o sujeito revela estar plenamente esclarecido, se puder 
responder às seguintes questões:
 • Quais são os objetivos da pesquisa?
 • O que justifica a realização do estudo?
 • Quais são os procedimentos que serão realizados?
 • Qual é a duração da pesquisa?
 • Quem são os pesquisadores?
 • Quais são os riscos e benefícios do estudo?
 • Em que momento é possível sair da pesquisa?
 • Quem procurar em caso de dúvida?
Para que não haja dúvidas sobre essas questões, o TCLE deve ser redigido em 
linguagem clara, sendo autoexplicativo.
e. Comitês de Ética em Pesquisa-CEP: órgão multidisciplinar 
formado por profissionais de várias áreas: médicos, enfermeiros, 
advogados, filósofos, estatísticos, teólogos, membros da 
comunidade etc. Toda pesquisa que envolve, direta ou 
indiretamente, seres humanos deve ser submetida à aprovação 
de um Comitê de Ética. Os comitês de ética no Brasil são 
subordinados ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), 
cuja finalidade é avaliar projetos de temáticas especiais, envolvendo 
genética humana, reprodução humana, fármacos, medicamentos, 
vacinas, populações indígenas, entre outros.
f. Vulnerabilidade: capacidade de autodeterminação reduzida 
no que se refere, principalmente, ao consentimento livre e 
esclarecido. Pode ser de uma pessoa ou de um grupo de pessoas 
sem autonomia para decidir sua participação na pesquisa. Como 
exemplo de sujeitos vulneráveis, pode-se mencionar pessoas 
envolvidas em relações de hierarquia de poder, como crianças e 
adolescentes, soldados, estudantes e funcionários.
teoria_do_conhecimento.indb 92 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
93
g. Incapacidade: ausência de capacidade civil para o consentimento 
livre e esclarecido da pesquisa. São considerados incapazes 
os doentes não conscientes, as crianças e as pessoas com 
incompetência psicológica.
h. Princípios bioéticos: princípios gerais que devem orientar a ética 
na pesquisa. O CEP-UNISUL apresenta, conceitualmente, os 
seguintes princípios:
 • Autonomia: significa liberdade e domínio do sujeito sobre sua 
própria vida. Para garantir a autonomia, entre outros fatores, o 
pesquisador deve respeitar a intimidade, os valores morais e as 
crenças do participante da pesquisa.
 • Beneficência: “assegura o bem-estar das pessoas, evitando 
danos, e garante que seus interesses sejam atendidos [...]”.
 • Não maleficência: “assegura que sejam minorados ou evitados 
danos físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. Riscos da 
pesquisa são as possibilidades de danos de dimensão física, 
psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser 
humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente”.
 • Justiça: ”exige equidade na distribuição de bens e benefícios, 
em qualquer setor da ciência, como por exemplo: medicina, 
ciências da saúde, ciências da vida, do meio ambiente etc.”
 • Proporcionalidade: “procura o equilíbrio entre os riscos e 
benefícios, visando ao menor mal e ao maior benefício às 
pessoas. Este princípio está intimamente relacionado com 
os riscos da pesquisa, os danos e o princípio da justiça”. 
(UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA, 2012). 
É importante ressaltar que a resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, 
apresenta outros termos e questões necessárias à condução ética da pesquisa. Caso 
você participe de algum grupo de pesquisa, de programas de bolsas de pesquisa 
(PUIC, PUIP, PIBIC, PMUC, Artigos 170 e 171) ou esteja elaborando o projeto de 
pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso, e, se a sua pesquisa envolve seres 
humanos, a Resolução 196/1996 deve ser consultada e lida com muita atenção.
Outra questão ética importante na produção do conhecimento diz respeito 
ao direito autoral. A transcrição de trechos ou até mesmo a apresentação de 
paráfrases, sem a menção da referência, pode caracterizar plágio. E plágio, como 
você já sabe, é crime. Segundo o dicionário Houaiss (2004, p. 2232), plágio 
corresponde à “apresentação feita por alguém, como de sua própria autoria, 
de trabalho, obra intelectual etc. produzido por outrem”. Observe que nessa 
definição não se verifica a boa-fé ou a má-fé, razão pela qual o uso indevido de 
uma ideia, por si só, pode caracterizar plágio, independente da má-fé. 
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94
Capítulo 5 
Um exemplo clássico de uso indevido de ideias, na produção escrita, é quando 
o pesquisador faz uma citação indireta passar por citação direta. Vejamos: A 
citação direta é uma transcrição literal de uma ideia e pode ser de dois tipos: 
curta, com até três linhas, e longa, com mais de três linhas. Em ambos os casos 
é necessário apresentar um destaque gráfico que indica a cópia: aspas para 
a citação curta e recuo de 4 cm, fonte menor, espaço simples e dispensa das 
aspas para a citação longa. Já a citação indireta, é livre, na forma de paráfrase, 
baseada na obra do autor consultado. Na citação indireta não há destaques 
gráficos, porém, exige-se a indicação da obra pesquisada. 
Todavia, muitas vezes o aluno faz passar uma citação direta por indireta, ou seja, 
transcreve trechos que deveriam estar entre aspas ou com recuo e fonte menor, 
como se fosse uma paráfrase. Trata-se de plágio parcial. Essa conduta poderia 
ser facilmente enquadrada na Lei nº 9.610, de 1998, que trata dos direitos 
autorais, no art. 7º, inciso I e arts.18, 28 e 29 e até mesmo no art. 184 do Código 
Penal. (BRASIL, 1988; BRASIL, 1940).
O art. 184 do Código Penal estabelece ser crime “violar direitos de autor e os que 
lhe são conexos.” (BRASIL, 1940).
Se você ainda não sabe fazer citações bibliográficas, para não incorrer em plágio, 
consulte o manual “Trabalhos Acadêmicos na Unisul” ou então a NBR 10520, da 
Associação Brasileira de Normas Técnicas. 
A discussão sobre as questões relacionadas à ética na produção do 
conhecimento é inesgotável. É preciso estar sempre alerta, inclusive para a 
possibilidade de fraudes, de fabricação de dados, de estatísticas falsas ou 
estudos com erros de delineamento metodológico. 
O trabalho não ético interessa ao pesquisador apenas enquanto objeto de estudo 
e discussão. Sua prática deve ser veementemente condenada.
teoria_do_conhecimento.indb 94 09/01/13 17:22
Teoria do conhecimento 
95
Seção 3
Questões Éticas na socialização do 
conhecimento
Além das questões éticas relacionadas à produção do conhecimento, é 
importante pontuar questões relacionadas à ética na socialização do 
conhecimento. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que se o conhecimento 
produzido no âmbito da ciência não for comunicável, não poderá receber o 
status de conhecimento científico.
Há diversas formas de divulgação e socialização do conhecimento: Congressos, 
Simpósios, Jornadas, Seminários, Mesa-Redonda, Painéis, Colóquios e Encontros. 
Esses eventos reúnem pessoas que, durante algum tempo, apresentam temas e 
discutem resultados de pesquisas de relevância acadêmica e social.
Figura 5 1 – Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul – IX ANPED Sul
Fonte: IX ANPED (2012). 
Você, na condição de acadêmico, deve ficar atento aos eventos que acontecem 
na área de conhecimento de seu curso, pois constituem uma grande 
oportunidade para se conhecer as novidades e as pesquisas que estão sendo 
realizadas na atualidade. A participação em um congresso nos permite ver a 
ciência e a produção acadêmico-científica com outros olhos.
Além dos eventos, outra forma de divulgação de socialização do conhecimentoconsiste na publicação de artigos em periódicos científicos. Assim, como nos 
eventos científicos, as revistas científicas possibilitam a circulação de forma 
dinâmica dos resultados de pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento.
teoria_do_conhecimento.indb 95 09/01/13 17:22
96
Capítulo 5 
As questões éticas relacionadas à socialização do conhecimento são tão 
complexas quanto as que são relacionadas à produção do conhecimento. Das 
várias questões relacionadas à divulgação do conhecimento, selecionamos 
duas para abordar neste capítulo: a primeira está relacionada ao problema das 
publicações endógenas e a segunda à devolutiva da pesquisa.
Uma publicação endógena, como o próprio nome diz, é caracterizada quando um 
periódico científico publica um número significativo de artigos provenientes da 
própria instituição que o mantém. O problema é que nesses periódicos, muitas 
vezes, os aspectos técnicos podem ficar em segundo plano e o critério político 
poderá prevalecer. 
As revistas que se orientam por critérios de publicação mais rigorosos 
estabelecem, em geral, 70% de contribuições exógenas e apenas 30% de 
contribuições endógenas. Além disso, a avaliação dos trabalhos é feita por 
pareceristas externos. 
Portanto, quando você for publicar um artigo científico, dê preferência para uma 
revista de outra instituição.
Outra questão importante para ser discutida no âmbito da socialização 
do conhecimento é a chamada “devolutiva da pesquisa”. Embora seja um 
direito dos participantes, é muito raro observar estratégias de devolução dos 
resultados de pesquisas. 
As ações de devolução de resultados de pesquisas podem ocorrer de inúmeras 
formas e já podem ser planejadas quando o pesquisador estabelece o primeiro 
contato com os sujeitos participantes do estudo. Entre as formas de devolução, 
o pesquisador pode enviar uma cópia física ou eletrônica do trabalho ou artigo, 
ministrar uma palestra, desenvolver uma intervenção educativa na comunidade etc.
Você estudou nesta unidade algumas orientações que devem conduzir o 
pesquisador no momento do planejamento, da execução e da divulgação 
dos resultados de uma pesquisa. Assim, quando você assumir a condição de 
pesquisador, é importante refletir sobre essas questões.
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97
Considerações Finais
Teoria do Conhecimento é uma Unidade de Aprendizagem institucional, presente 
em todos os itinerários formativos dos cursos de graduação da Unisul. Tem 
como preocupação básica oferecer ao estudante os meios necessários para 
desenvolver conhecimentos voltados ao processo de produção científica e de 
socialização do conhecimento. 
Trata-se de conhecimentos que permitem a interdisciplinaridade, pois a Unidade 
de Aprendizagem dispõe de capítulos de estudo de interesse de várias áreas do 
conhecimento. 
Este é o grande diferencial da Unidade de Aprendizagem. Atende, principalmente, 
às novas exigências da educação superior, preocupada em estimular o estudante 
a pensar dialeticamente, frente à multiplicação e choque de informações 
decorrentes da mundialização das relações econômicas e socioculturais. 
Os conteúdos apresentados neste livro não pretenderam esgotar todas as 
informações referentes à Unidade de Aprendizagem, mas, sem sombra de dúvida, 
permitiram o acesso, com consistência, às informações iniciais para aquele que 
tem a pretensão de iniciar-se no mundo da pesquisa e vida acadêmica. 
Agradecemos sua companhia e, mais uma vez, enfatizamos o desejo de que este 
livro tenha contribuído para o seu itinerário formativo e oferecido informações 
necessárias para a compreensão do conhecimento, os seus caminhos, desafios e 
responsabilidades, desenvolvendo as habilidades e competências apresentadas 
como objetivos e metas do presente estudo. 
Um grande abraço!
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Sobre os Professores 
Conteudistas
Alexandre de Medeiros Motta
Natural do município de Tubarão (SC), é graduado em Estudos Sociais e História 
pela extinta Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (FESSC), atual 
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL); especialista em Metodologia 
do Ensino Superior também pela extinta FESSC; mestre em Ciências da 
Linguagem pela UNISUL, desde 2005. Atuou como professor de História no 
ensino fundamental e médio, nas redes de ensino público e privado do município 
de Tubarão. Desde 1987, atua como professor nos cursos de graduação e de 
pós-graduação da Unisul, tanto na modalidade presencial como a distância, 
principalmente nas disciplinas da área de pesquisa. Por ora, coordena também as 
Licenciaturas de História e de Geografia da Unisul.
Gabriel Henrique Collaço 
Bacharel em Comunicação Social pela Universidade do Vale do Itajaí 
(Univali/2000), jornalista profissional (SC-01305-JP) e, desde 2002, professor da 
Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul/SC) em cursos de graduação e 
pós-graduação, presenciais e virtuais e coordenador de monografia do curso de 
Direito. Especialista em Jornalismo Cultural pela Pontifícia Universidade Católica 
de São Paulo (PUC/SP, 2002), especialista em Metodologia da Educação a 
Distância pela Unisul (2008) e especialista em Docência para o Ensino Superior 
pela Unisul (2010). Autor de livros, materiais didáticos e artigos científicos, 
membro do conselho editorial da revista Cadernos Acadêmicos (Unisul/SC) e 
revisor de periódicos acadêmico-científicos. Professor convidado da Escola da 
Magistratura do Estado de Santa Catarina e sócio-diretor da Collaço & Collaço 
Educação e Comunicação.
Marciel Evangelista Cataneo 
Graduado em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal 
de Santa Catarina (UFSC) e Bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico de 
Santa Catarina (ITESC). Mestre em Educação pela Universidade do Sul de Santa 
Catarina (UNISUL). Foi coordenador de Pastoral (Movimentos e Ações Sociais) da 
Diocese de Tubarão e coordenador do Regional Sul IV (Santa Catarina) da CNBB 
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), atuando na elaboração, captação 
de recursos, acompanhamento e avaliação de pastorais e projetos sociais. 
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Universidade do Sul de Santa Catarina 
Professor universitário desde março de 1990; leciona Filosofia e Ética nos cursos 
de graduação da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É o atual 
coordenador do Curso de Filosofia da UnisulVirtual e articulador da Unidade de 
Articulação Acadêmica Educação, Humanidades e Artes do campus UnisulVirtual 
da Unisul.
Vilson Leonel 
Possui graduação em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1985). 
Atualmente é professor da Universidade do Sul de Santa Catarina nas disciplinas 
Filosofia da Linguagem e Pesquisa Jurídica e Monografia. Atua nos cursos 
presenciais e a distância. Mestrando em Educação pela Universidade do Sul de 
Santa Catarina, atua principalmente nos seguintes temas: Produção Científica e 
Educação a Distância.
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