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Democracia em foco

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Prévia do material em texto

DEMOCRACIA EM FOCO
Um balanço dos desafios da 
trajetória política brasileira
Jaqueline Porto Zulini 
organ izadora
Um livro sobre a trajetória e os de-safios da democracia no Brasil não 
poderia ser mais oportuno, e a estraté-
gia de organizá-lo a partir de múltiplos 
pontos de vista é mais que apropriada. 
No momento em que discutimos os 
desdobramentos de uma competição 
eleitoral dramática, a iniciativa desta 
publicação sinaliza para a sociedade, 
os políticos e a academia a urgência de 
uma reflexão séria, informada e acessí-
vel sobre a política.
Nascida de um debate que reuniu a 
política prática com o seu estudo aca-
dêmico, a presente coletânea promete 
iluminar outros debates no Brasil: os 
que estamos fazendo e os que precisam 
ser feitos. Governo, representação, so-
ciedade: como funcionam, como se for-
maram, que efeitos produzem? Como 
os queremos e como os estamos mol-
dando? Os especialistas que aqui com-
partilham os achados de suas pesquisas 
hão de ajudar muitos estudantes a res-
ponderem essas questões.
As contribuições aqui oferecidas 
descortinam para todos os públicos um 
universo de conhecimentos crucial para 
entender o presente e para projetar o fu-
turo. Instituições, atores e seus compor-
tamentos aqui analisados são objetos 
para estudiosos e matéria para os polí-
ticos. Este livro colabora para que se tor-
nem também assunto para a cidadania.
Gabriela da Silva Tarouco
Departamento de Ciência Política
Universidade Federal de Pernambuco
JAQUELINE ZULINI graduou-se em 
ciências sociais pela USP, onde tam-
bém obteve o mestrado e o dou-
torado em ciência política. Atuou 
como pesquisadora do Cebrap de 
2006 a 2018. É professora de ciência 
política da FGV desde 2019, e coau-
tora de Estudos legislativos (2020) e 
Eleições na primeira fase da Justiça 
Eleitoral (no prelo).
Democracia em foco 
é uma rica coletânea que reúne cientistas 
políticos, economistas, historiadores e 
sociólogos no propósito de problematizar a 
trajetória do regime representativo no Brasil 
e discutir os atuais desafios da democracia 
no país. A linguagem acessível do texto 
não poderia ser mais pertinente para o 
grande público, sedento pelas avaliações 
e prospecções dos especialistas neste 
momento crítico da vida política brasileira.
D
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CIA
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Jaqueline Porto Zulini 
o
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g
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d
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www.fgv.br/editora
ISBN 978-65-5652-189-3
Fundação Getulio Vargas
Presidente: Carlos Ivan Simonsen Leal
Editora-executiva: Marieta de Moraes Ferreira
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
Presidente: André Ceciliano
Diretor-Geral: Wagner Victer
Subdiretor-Geral de Cultura: Nelson Freitas
Superintendente da Curadoria do Palácio Tiradentes: 
Maria Lucia Cautiero Horta Jardim
Coordenação do Projeto “Casa da Democracia”: Franklin Dias Coelho
Assistente Administrativo: Gabriela Coutinho de Figueiredo
Mesa Diretora
Presidente: Dep. André Ceciliano
1o Vice-Presidente: Dep. Jair Bittencourt
2o Vice-Presidente: Dep. Chico Machado (Francisco Alves Machado Neto)
3o Vice-Presidente: Dep. Franciane Motta
4o Vice-Presidente: Dep. Samuel Malafaia
1o Secretário: Dep. Marcos Muller
2o Secretário: Dep. Tia Ju (Jucélia Oliveira Freitas)
3o Secretário: Dep. Renato Zaca
4o Secretário: Dep. Filipe Soares
1o Vogal: Dep. Brazão (Manoel Inacio Brazão)
2o Vogal: Dep. Dr. Deodalto (Deodalto José Ferreira)
3o Vogal: Dep. Valdecy da Saúde (Valdecir Dias da Silva)
4o Vogal: Dep. Giovani Ratinho (Giovani Leite de Abreu)
DEMOCRACIA EM FOCO
Um balanço dos desafios da 
trajetória política brasileira
Jaqueline Porto Zulini 
organ izadora
© Copyright Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
Direitos desta edição reservados à
EDITORA FGV
Rua Jornalista Orlando Dantas, 9
22231-010 | Rio de Janeiro, RJ | Brasil
Tel.: 21-3799-4427
editora@fgv.br | www.editora.fgv.br
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, 
no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei no 9.610/98).
Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores.
1a edição: 2022
coordenação editorial e copidesque
Ronald Polito
revisão
Marco Antonio Corrêa e Sandro Gomes dos Santos
capa, projeto gráfico de miolo e diagramação 
Ligia Barreto | Ilustrarte Design
foto da capa
Rafael Wallace
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas/FGV
Democracia em foco : um balanço dos desafios da trajetória política bra-
sileira / Jaqueline Porto Zulini (Org.). - Rio de Janeiro : FGV Editora, 2022.
196 p.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5652-192-3
1. Democracia – Brasil. 2. Brasil – Política e governo. I. Zulini, Jaqueline
Porto. II. Fundação Getulio Vargas.
CDD – 320.981
Elaborada por Mariane Pantana Alabarce – CRB-7/6992
Sumário
Prefácio 7
André Ceciliano
Apresentação 9
Maria Lúcia Jardim
Palácio Tiradentes, casa do povo e lugar de memória 13
Adelina Novaes e Cruz e Thais Blank
Introdução 15
Jaqueline Porto Zulini
Mesa 1: Governo representativo no Brasil: do Império à 
Era Vargas 17
Capítulo 1 — O governo representativo no Brasil Imperial 19
Miriam Dolhnikoff
Capítulo 2 — Primeira República (1889-1930): uma certa gramática 
política 27
Marly Motta
Capítulo 3 — Partidos e competição política durante a Era Vargas 
(1933/34) 33
Paolo Ricci
Debate 43
Mesa 2: Partidos e sistemas partidários no Brasil 51
Capítulo 4 — Partidos e eleições no Brasil do pós-1988 53
Jairo Nicolau
D E MO C RAC I A E M F O CO
6
Capítulo 5 — Baixa representação de mulheres no legislativo 
brasileiro e a relação com sistemas partidários e eleitoral 61
 Clara Araújo
Capítulo 6 — A fusão do Rio de Janeiro: efeitos sobre os arranjos 
político-partidários fluminenses 75
 Marieta de Moraes Ferreira
Debate 83
Mesa 3: Instituições políticas e relações Executivo-Legislativo 
no Brasil 95
Capítulo 7 — A crise econômica brasileira 97
 Ladislau Dowbor
Capítulo 8 — Os Poderes no presidencialismo de coalizão 105
 Fernando Limongi
Capítulo 9 — Judicialização da política no Brasil pós-1988 113
 Margarida Lacombe Camargo
Debate 125
Mesa 4: Capacidade estatal e políticas públicas 135
Capítulo 10 — Crise democrática e desmantelamento do Estado 137
 Daniela Campello
Capítulo 11 — Autonomia burocrática no Brasil 149
 Sérgio Praça
Capítulo 12 — O desafio da desigualdade e as políticas públicas 
no Brasil 155
 Celia Kerstenetzky
Debate 169
Considerações finais 177
Referências 179
Sobre os autores 191
Prefácio
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro tem pautado 
sua atuação, historicamente, pela defesa da democracia e dos valores 
inerentes ao estado democrático de direito.
No momento em que a sociedade brasileira vê o crescimento de 
ideais extremistas e o desprezo pelo diálogo e respeito às diferenças, a 
realização do ciclo de debates “Democracia em Foco” no Palácio Tira-
dentes, sede histórica do Poder Legislativo fluminense, representa um 
marco e uma tomada de posição em prol dos valores democráticos.
Este livro retrata os debates que foram realizados com o apoio e 
organização da Fundação Getulio Vargas (FGV), que é uma das insti-
tuições de ensino mais prestigiadas do país, sediada no Rio de Janeiro, 
o que muito orgulha a todo o povo fluminense.
Boa parte dos problemas enfrentados no Brasil está relacionada 
com uma carência de debate acerca dos grandes temas nacionais, sen-
do fundamental, neste sentido, a discussão em torno da separação de 
poderes e da harmonia entre o Executivo e o Legislativo. O sistema 
partidário e as regras que conformam a organização política e o pro-
cesso eleitoral merecem igual destaque, pois representam a essência 
do processo democrático.
Com a abordagem destes temas e a publicação desta obra, esta-
rá a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro oferecendo 
importante contribuição para o debate público e para a consolidação 
D E MO C RAC I A E M F O CO
8
da democraciano Brasil, afastando qualquer tentativa de reescrever 
a história e ver reavivado o autoritarismo que tanto mal causou ao 
nosso país.
André Ceciliano 
Presidente da Alerj
Apresentação
Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de 
caçadas continuarão glorificando o caçador.
(Eduardo Galeano)
Este livro traduz uma esperança. A esperança de que tendo a democra-
cia como foco continuaremos na construção de um país democrático 
e justo socialmente. Essa esperança está presente na ideia de trans-
formar o Palácio Tiradentes na Casa da Democracia, projeto que é o 
pano de fundo que nos estimulou a fazer esta parceria com a Funda-
ção Getulio Vargas (FGV) e a produzir o seminário que deu origem ao 
livro Democracia em foco.
Cabe registrar que este projeto tem as digitais do presidente da As-
sembleia Legislativa, André Ceciliano, que ao apresentá-lo referiu-se à 
necessidade de estabelecer o “compromisso de promover o acesso da po-
pulação às principais fontes de conhecimento guardadas na memória na-
cional e que fazem parte dos ideais de construção da nossa democracia”.
É com base neste compromisso que o professor Franklin Coelho, 
professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), desenvolveu o 
conceito e o desenho do projeto Casa da Democracia, entendendo que 
se constitui na ressignificação da evolução da construção democrática 
e da história republicana, com espaços interativos de apreciação e va-
lorização do patrimônio material e imaterial do Palácio, procurando 
usar a tecnologia para ajudar no relacionamento com o público, nas 
formas lúdicas de conhecimento, nas possibilidades de permitir que o 
público vivencie momentos históricos e deixe fluir a emoção do olhar 
sobre fatos e personagens da resistência democrática.
D E MO C RAC I A E M F O CO
10
Nesse contexto, cabe resgatar o papel relevante do Palácio Tiraden-
tes na construção de um Brasil politicamente independente e sustentá-
vel. Neste ano de 2022 o Brasil comemora 200 anos da Independência e 
de história de construção republicana e democrática. E o Palácio Tira-
dentes, como símbolo e referência dessa construção histórica, completa 
100 anos de lançamento da sua pedra fundamental.
Repensar a história republicana e democrática do país, a partir 
do lugar da fala do Palácio Tiradentes, é o desafio que estabelecemos 
nesta parceria com o CPDOC. É ali onde a democracia brasileira dá 
seus primeiros passos e enfrenta também as primeiras resistências. 
O primeiro edifício construído na rua da Cadeia data de 1640 e serviu 
para abrigar os primeiros três vereadores eleitos. O voto era indireto 
e durava apenas um ano. Cabia a eles cuidar da cidade e das finanças 
públicas. Todo o dinheiro arrecadado ficava guardado em um cofre 
chamado “burra”, que só podia ser aberto por três chaves: cada uma 
ficava com um vereador. Era um tempo da Cadeia Velha, com o legis-
lativo e o cofre público no andar de cima, e no andar de baixo a cadeia 
da cidade.
Pela Cadeia Velha passaram fatos memoráveis que se constituem 
como uma herança que mais tarde o Palácio Tiradentes vai herdar. 
Com a vinda da Coroa Portuguesa, o prédio retoma sua função le-
gislativa ao abrigar a Assembleia Constituinte de 1823. Dissolvida a 
Constituinte, o prédio abrigou a partir de 1826 a Câmara dos Deputa-
dos. Este local foi palco de momentos históricos, como a aprovação da 
Lei Áurea, que aboliu a escravidão em 1888, e os debates entre liberais 
e conservadores que antecipavam a proclamação da República.
O Projeto Casa da Democracia procura nesse resgate da história 
republicana e democrática um caminho de consolidação de nossa 
identidade política e cultural. Trata-se não de um historicismo re-
construindo o passado a partir de uma sucessão de acontecimentos, 
mas de identificar seus momentos mais significativos e de abrir um 
campo de narrativas que nos estimulem a mergulhar nesse passado 
em busca de nossa identidade e de nossa história.
Neste momento de crescimento de um negacionismo histórico 
que tem como alvo a memória brasileira, começamos a ter a dimensão 
de o quanto precisamos conhecer os fatos que revelam nossa origem e 
que possam ser levados para novas gerações. Sem um determinismo 
ou uma história de celebrações, procuramos revisitar esses momentos 
a p r e s e n tação
11
no sentido de ampliar nosso conhecimento e repensar quanto o que 
aprendemos na escola é a história dos vencedores.
Os artigos aqui apresentados marcam este momento de refletir a 
nossa história, um caminho de reconhecimento de continuidades e 
mudanças que nos permitam pensar com muita clareza, com mui-
ta lucidez, as possibilidades de pensar o contrário da historiografia 
oficial, a história escovada a contrapelo ou o papel significativo na 
construção das memórias que nos levam ao relevante processo de cons-
trução das identidades.
Este olhar do Projeto Casa da Democracia tem o compromisso de 
construção de um centro cultural como espaço de aprendizagem, ca-
paz de gerar espaços de reflexão do passado e inspiração para a trans-
formação do futuro.
Maria Lúcia Cautiero Horta Jardim
Palácio Tiradentes, casa do povo 
e lugar de memória
[…] que a luz que banha o plenário, esta salutar e republicana luz, 
possa sempre ser admirada e compreendida por todos os cidadãos, 
agora, enfim, admitidos com toda a pompa e circunstância neste 
espaço que deveria ter sido sempre seu.
[Sarmento, 2002 apud Correa e Medeiros, 2005]
O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea 
do Brasil (CPDOC) firmou, nos anos 1990, uma parceria com a As-
sembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que daria 
origem à criação do Núcleo de Memória Política Carioca e Fluminen-
se, criado em maio de 1997 a partir de um convênio assinado com a 
Alerj. O Núcleo teve como objetivo construir um projeto de produção 
intelectual e referência documental sobre a história contemporânea 
da cidade e do estado do Rio de Janeiro. Nesse âmbito, foram realiza-
das entrevistas de história oral com parlamentares que resultaram em 
uma série de artigos, livros e, desde 1998, a exposição Palácio Tira-
dentes: lugar de memória do parlamento brasileiro, de caráter perma-
nente. Essa exposição, montada no interior do Palácio, composta por 
pranchas ilustradas com fotografias, caricaturas, desenhos e pinturas 
de época, além de textos informativos, destina-se a apresentar even-
tos marcantes da recém-conquistada democracia brasileira, além de 
destacar acontecimentos relevantes da história do Palácio. A curado-
ria trabalhou com três módulos temáticos subdivididos em eixos de 
abordagem:
D E MO C RAC I A E M F O CO
14
Módulo Palácio Tiradentes: nova sede; inauguração; reinaugura-
ção e tombamento.
Módulo Câmara dos Deputados: anos 1920; Assembleia Nacional 
Constituinte de 1933; fechamento da Câmara dos Deputados; e Esta-
do Novo.
Módulo Assembleia Legislativa: Assembleia Constituinte do es-
tado da Guanabara; Assembleia Legislativa do estado da Guanabara; 
Assembleia Constituinte do novo estado do Rio de Janeiro; Assem-
bleia Constituinte estadual de 1989.
A exposição permaneceu instalada até o presente ano, recebendo, 
diariamente, um significativo número de visitantes.
O CPDOC, 24 anos depois e após a mudança da Alerj para um 
novo prédio, é convidado a elaborar uma proposta repensando a ex-
posição dos anos 1990 à luz das questões do tempo presente. Estamos 
honrados em participar desse ambicioso projeto que propõe a trans-
formação do Palácio Tiradentes em um espaço de memória integral-
mente voltado para registrar e revelar os desafios contemporâneos ao 
longo da história republicana brasileira, com ênfase na luta e na defesa 
da democracia.
No novo projeto, revisitamos e expandimos a exposição de 1998 
com olhar historiográfico contemporâneo sobre fontes primárias e 
secundárias, pesquisadas e selecionadas, que serão potencializadas 
pelo uso de recursos tecnológicos viáveis no século XXI. Com isso, 
assumimos que, mais do que “complementar” aexposição de 1998, 
foi preciso incorporar novos debates, novos atores e, sobretudo, uma 
nova estética. As 133 imagens selecionadas para a primeira exposi-
ção atenderam à demanda de criação de uma exibição permanente 
e estática. A proposta de 2022, por sua vez, tem como pilar a flexibi-
lidade e adaptabilidade da exposição à tecnologia imersiva. Mais do 
que ampliar a exposição original, nosso objetivo é ressignificá-la, in-
corporando diversidade de fontes, sujeitos e narrativas à história da 
República brasileira, da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e do 
grande protagonista que é o Palácio Tiradentes.
Adelina Novaes e Cruz e Thais Blank
Introdução
Este livro materializa o seminário Democracia em foco, realizado na 
sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) 
entre os dias 2 e 3 de agosto de 2022, sob a coordenação do Centro de 
Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da 
Fundação Getulio Vargas (FGV CPDOC), para discutir a trajetória 
da política brasileira.
A programação do seminário se fundou em torno de quatro mesas-
-redondas que problematizaram pontos nevrálgicos da produção cien-
tífica disponível e, com base em evidências, prospectaram os rumos po-
líticos do país, dignos de amplo debate público. Abrindo os trabalhos, 
a mesa “Governo representativo no Brasil: do Império à Era Vargas” foi 
um convite para relembrarmos o significado de instituições políticas e 
das eleições antes mesmo do advento da democracia no país. Uma re-
flexão sobre as origens elitistas do governo representativo tão necessária 
para a revalorização do regime atual. Na sequência, a mesa “Partidos e 
sistemas partidários no Brasil” refletiu sobre os limites e a lógica pró-
pria das nossas instituições representativas que coordenam o mercado 
eleitoral e orquestram a cena política, em tempos de descrença dissemi-
nada na democracia de partidos.
No segundo dia do seminário, a mesa “Instituições políticas e re-
lações Executivo-Legislativo no Brasil” abordou o impacto da crise 
econômica e das relações entre os poderes para a governabilidade 
D E MO C RAC I A E M F O CO
16
do país. Os especialistas compartilharam a preocupação em obser-
var o presidencialismo de omissão praticado pelo governo Bolsonaro 
(2018-22) paralelamente ao gradativo fortalecimento do Poder Judi-
ciário. As palestras que integraram a mesa de encerramento do even-
to, intitulada “Capacidade estatal e políticas públicas”, retrataram o 
aprofundamento da desigualdade no país durante os últimos anos e 
o desmantelamento de uma rede crucial de proteção para as mino-
rias e populações em vulnerabilidade social. Em comum, houve uma 
inclinação dos analistas em identificar fórmulas políticas conhecidas 
para contornar os problemas socioeconômicos e de governabilidade 
do país. A série de análises baseadas em evidências esclarece como, na 
prática, a história política muitas vezes se repete.
Os capítulos que compõem o livro correspondem a versões revisa-
das das palestras apresentadas durante o seminário, e o leitor poderá 
acompanhar o debate ocorrido em cada uma das quatro mesas-re-
dondas, com base na transcrição das perguntas realizadas pelo públi-
co e nas respectivas respostas dos palestrantes. A linguagem acessível 
e o tratamento objetivo e didático de todos os temas abordados pelas 
palestras convergem para o grande compromisso dessa iniciativa com 
a preservação da memória política do país. Diante do apelo crescente 
da desinformação na atual conjuntura, espera-se que sejam realiza-
dos mais eventos de difusão científica sobre a trajetória do Brasil, de 
modo a disseminar entre a população a importância de se resgatar 
nosso passado político para a compreensão do presente e o enfrenta-
mento dos desafios futuros.
Que continuemos a escrever e debater a trajetória política brasilei-
ra para além dos muros da universidade!
Jaqueline Porto Zulini
M E SA 1
Governo representativo no Brasil: 
do Império à Era Vargas
Quais eram as características do governo representativo no Brasil antes 
da democracia? Essa foi a pergunta que guiou a organização da pri-
meira mesa-redonda do seminário Democracia em foco. A intenção foi 
retomar o conhecimento disponível sobre o passado imperial, a expe-
riência oligárquica e os primeiros anos da Era Vargas para debater as 
visões pessimistas que ainda persistem e minimizam a complexidade 
da trajetória do governo representativo no país.
Com a consolidação do sufrágio universal e a abolição dos crité-
rios censitários que restringiam o direito de voto às pessoas de posses, 
especialistas mundo afora perderam de vista a dimensão aristocrática 
e desigual das eleições (Manin, 1995). Como resultado, cristalizou-se 
paulatinamente o entendimento normativo de que as eleições deve-
riam ser democráticas por definição, garantindo ampla participação 
popular em disputas livres, justas e competitivas entre os partidos po-
líticos por votos. No caso do Brasil, a consequência desse referencial 
teórico enviesado por expectativas democráticas foi a multiplicação 
de interpretações que julgam as primeiras experiências de governo re-
presentativo no país como falhas e incompletas, sobretudo por conta 
do eleitorado restrito e da fraude eleitoral generalizada.
A exposição de Miriam Dolhnikoff sobre o Brasil monárquico tra-
tou justamente de relembrar o caráter liberal do regime representativo 
durante o Império quando as eleições tinham o propósito de insti-
D E MO C RAC I A E M F O CO
18
tucionalizar a resolução dos conflitos entre as elites que disputavam 
o poder. Suas reflexões nos convidam a deslocar o foco do eleitor e 
das denúncias de fraude para o estudo das práticas eleitorais. Nes-
sa guinada, vê-se que as eleições serviam, antes de tudo, como um 
meio de legitimação política. Paolo Ricci endossa a mesma proposta e 
questiona a interpretação convencional segundo a qual o Código Elei-
toral de 1932 encaminhou o país para a democratização. Em sua lei-
tura, as fraudes eram, naquela época, um instrumento de competição 
política, e a narrativa criada pelos revolucionários de 1930 procurou 
apagar o caráter autoritário do governo representativo na Era Vargas. 
A gramática política pejorativa construída pelos ideólogos autoritá-
rios do Estado Novo para diminuir a experiência da Primeira Repú-
blica brasileira foi revisitada na palestra proferida por Marly Motta, 
que compartilhou a importância de se rever as visões depreciativas 
sobre o período oligárquico ainda presentes no nosso imaginário 
político. No conjunto, as comunicações dos três especialistas con-
vergiram para a urgência de fazermos as pazes com a trajetória do 
governo representativo no Brasil, retomando o seu estudo como o 
padrão — e não a exceção — de um tempo que não pode ser julgado 
pelo que não foi.
CA P Í TU LO 1
O governo representativo 
no Brasil Imperial
Miriam Dolhnikoff
É um prazer estar aqui, especialmente em um seminário com este 
tema, atualmente. Todos nós vamos repetir isso aqui, com certeza, 
mas vale repetir sempre. É absolutamente fundamental estarmos dis-
cutindo a democracia sob todos os pontos de vista. Gostaria de agra-
decer especialmente à Jaqueline pelo convite. Um convite que, para 
mim, é muito importante porque sou uma historiadora que pesquiso 
o período da monarquia constitucional no século XIX.
Quando se fala em história da democracia no Brasil, todo mundo 
pensa em República. Proponho uma abordagem diferente para enten-
dermos o motivo: durante muito tempo, a historiografia entendeu que 
o regime liberal instaurado no Brasil pós-Independência, na forma 
de uma monarquia constitucional, era, na verdade, só aparência, quase 
uma farsa. Porque seria impossível um regime liberal em um país es-
cravista. Proponho que pensemos o contrário, ou seja, o regime libe-
ral e o liberalismo no século XIX eram compatíveis com a escravidão.
O regime liberal foi importante para manter a ordem escravista, 
mas isso não quer dizer que ele era apenas aparência.Se tomarmos os 
exemplos dos governos representativos no mundo ocidental no sécu-
lo XIX, a monarquia brasileira tinha basicamente as mesmas caracte-
rísticas e os mesmos princípios: a separação entre poderes, uma nova 
forma de relação entre Estado e indivíduo — que se tornava cidadão 
D E MO C RAC I A E M F O CO
20
— e a eleição de representantes. A questão é discutir de que modo isso 
funcionava. É claro que os princípios gerais estavam presentes em to-
dos os países do mundo que adotaram esse regime no mundo ociden-
tal, mas suas especificidades resultaram de cada contexto histórico.1
No caso do Brasil, a especificidade era a de um país escravista. 
O que não impediu que o regime liberal funcionasse. Pensar assim ou 
adotar essa abordagem é importante porque inclui o regime liberal na 
história da democracia contemporânea brasileira.
Podemos entender melhor como um regime que tinha como ob-
jetivo manter a ordem escravista conseguiu se transformar, ao longo 
de dois séculos, em uma democracia de verdade, em que a escravidão 
é impensável; em uma democracia com uma ampliação infinita da 
cidadania se comparada com a do século XIX. Então, pensar o regime 
liberal no século XIX é pensar a longa história para que chegássemos 
até aqui. É pensar todas as conquistas que fomos capazes de fazer nes-
ses últimos 200 anos.
Para tratar desse tema, focarei em duas questões.2 Primeiro, o go-
verno representativo no Brasil, instaurado a partir da Independência, 
tinha o mesmo objetivo que os governos representativos que surgiram 
nesse período no mundo ocidental: institucionalizar os conflitos entre 
os diversos setores da elite. É obviamente um regime de elite, dirigido 
por uma elite, mas são setores diferentes entre si, com diferentes de-
mandas. A união em torno da defesa da ordem escravista não foi su-
ficiente para que houvesse coesão no sentido de formarem um grupo 
com interesses únicos ou homogêneo. Institucionalizar os conflitos, 
ou seja, trazer para dentro das instituições os embates entre os setores 
da elite — a negociação entre eles — foi uma forma importante de se 
estabelecer um regime capaz de garantir um controle sobre a ordem 
escravista e a hierarquia, ou a manutenção da profunda hierarquia 
social.
A institucionalização desses conflitos teve como instância funda-
mental o parlamento. Quando se fala em monarquia no Brasil, em 
geral, desconsidera-se o papel do parlamento no processo decisório, 
porque existia o Poder Moderador e um imperador que podia dis-
1 Nota da Organizadora (N.O.): Para uma síntese sobre o perfil dos regimes represen-
tativos liberais adotados na América Latina durante o século XIX, ver Sabato (2021).
2 N.O.: Os argumentos desta palestra são desenvolvidos, de forma bastante didática, 
em: Dolhnikoff (2017).
o g ov e r n o r e p r e s e n tati vo n o b ras i l i M p e r i a l 
21
solver a Câmara. Esse é o primeiro ponto que tenho estudado nas 
minhas pesquisas: a importância do parlamento autônomo. Um par-
lamento que, obviamente, tinha de negociar com o imperador e com 
o ministério, mas onde os representantes eleitos, de setores de elite 
divergentes, negociavam. Portanto, desde o início, o parlamento foi 
fundamental na história do governo representativo no Brasil, além da 
negociação que se dava entre esses diversos grupos de elite dentro do 
próprio parlamento, mas também no ministério. Para aprovar proje-
tos de lei, o ministério precisava conquistar a maioria parlamentar. Ou 
seja, a questão da governabilidade já estava então colocada. A questão 
de como o ministério, o Executivo, seria capaz de formar uma maioria 
para aprovar seus projetos estava colocada já no século XIX, o que sig-
nifica que temos de procurar entender as diferentes formas de cons-
truir essa governabilidade. Por ser um regime de elite, que mantinha 
exclusividade no processo decisório, as negociações para construção 
de maioria passavam por esse grupo, mas variavam muito dependen-
do dos temas que estavam sendo discutidos. Às vezes, prevaleciam os 
interesses das províncias; às vezes, os interesses econômicos; outras, 
determinadas crenças doutrinárias e também dos partidos.
Os partidos tiveram importância na negociação com o ministério e 
na construção, ou não, da governabilidade. Uma governabilidade que, 
se não fosse conquistada, em geral terminava com a queda do gabine-
te e, no caso da monarquia, também havia possibilidade de dissolução 
da Câmara pelo imperador. Mas essa dissolução tinha um grande uso 
político, exatamente pela importância do Parlamento.3 Importância 
para institucionalizar os conflitos e para garantir legitimidade para o 
regime. Um regime liberal tem que ser capaz de criar mecanismos de 
legitimação. Essa era uma tarefa para o regime monárquico e uma das 
formas era justamente a garantia ou a existência de um parlamento 
capaz de participar de forma autônoma do processo decisório.
O segundo ponto em que quero me deter, ainda que de forma ge-
nérica, é a questão das eleições — um ponto central no debate atual, e 
na história da democracia, já está presente na monarquia brasileira do 
século XIX. Quando falamos em eleições no século XIX, em geral, a 
3 N.O.: Por trás da aparente dominância que o Poder Moderador exercido pelo impe-
rador permitiria impor sobre os demais poderes e fragilizar os gabinetes ministeriais, 
existem evidências de que a negociação política, na prática, fosse mais comum. A este 
respeito, ver Ferraz (2017:63-91).
D E MO C RAC I A E M F O CO
22
ideia que surge — e esse é um retrato construído por uma historiogra-
fia mais tradicional — é a de eleições fraudadas, violentas, com uma 
porcentagem extremamente restrita da população livre e pobre e mar-
cada pelo clientelismo. Ou seja, a participação em eleições era para 
homens livres, os escravizados obviamente estavam fora. O governo 
representativo no Brasil do século XIX é um governo para o mundo 
dos homens livres. Os escravos estavam excluídos pela sua condição 
de escravizado, o que significava, inclusive, não ser considerado um 
sujeito portador de direitos, condição necessária para o exercício da 
cidadania. Mas, para os homens livres, havia algum grau de participa-
ção. Então, em geral, essas eleições são tratadas como se não valessem 
nada por estas razões: a fraude, a violência, o clientelismo. Ou seja, 
uma relação — consequência da escravidão — entre os homens livres 
pobres e os proprietários, de absoluto arbítrio dos proprietários sobre 
a vida dos homens livres pobres.
Mais uma vez, proponho pensarmos de uma forma um pouco di-
ferente. Proponho a abordagem de que, já no século XIX, na monar-
quia brasileira, as eleições eram importantes como um fator de legiti-
mação do regime. Era uma participação muito diminuta em relação 
ao mundo atual. Trata-se, então, de entender como, ao longo desses 
200 anos, conquistamos a ampliação da cidadania. Partimos de uma 
participação restrita, mas não tanto quanto normalmente se imagina. 
José Murilo de Carvalho (2003:96-115), por exemplo, fez um cálculo 
de que cerca de 10% da população brasileira participava das eleições 
no século XIX. Essa porcentagem é maior do que a participação em 
qualquer país europeu e é similar à participação nos Estados Unidos. 
Richard Graham (1990), considerando só o universo daqueles que 
podiam participar — ou seja, homens, livres, com mais de 25 anos 
—, calcula que essa participação era em torno de 50%. Então, é uma 
participação ampla para os padrões da época. A questão é entender a 
forma como essa participação se dava.
Não só eu, como vários historiadores, tenho estudado e questiona-
do alguns elementos. Primeiro, o clientelismo. Havia uma relação de 
sujeição e arbítrio entre homens livres e proprietários, mas isso não 
significa dizer que esses homens livres não tivessem alguma capaci-
dade de agência. Ou seja, que não tivessem capacidade de, de algu-
ma forma, colocar suas demandas e negociar, especialmente o voto. 
O voto não era apenas (ainda que muitas vezes pudesse ser)uma im-
o g ov e r n o r e p r e s e n tati vo n o b ras i l i M p e r i a l 
23
posição do proprietário, mas, sim, uma arma de negociação na mão 
desses homens livres pobres.
O segundo elemento é a questão da fraude, que tanto está em 
discussão hoje. É inegável que a fraude marcava o processo eleitoral 
brasileiro no século XIX. Mas não só no Brasil, a fraude foi uma ca-
racterística dos governos representativos no mundo ocidental do sé-
culo XIX. Quando inventaram a eleição, inventaram a fraude. Mas é 
importante destacar que houve a necessidade, por parte dessa mesma 
elite política, de criar mecanismos para o combate à fraude. A eleição 
era uma forma de legitimar o regime, que precisava dessa validação, 
inclusive, para manter a ordem escravista. Logo, ela precisava, de cer-
ta maneira, funcionar, ser um espaço de disputa política reconhecido 
por parte dessa população pobre com efetiva participação. Portanto, a 
história dos governos representativos, no mundo ocidental, incluindo 
o Brasil, é a história do combate à fraude eleitoral. Um combate que 
teve a grande conquista, no século XX, de efetivamente tirar a fraude 
das eleições e da pauta. Entender essa conquista do século XX é en-
tender o processo em que ela ocorreu. No século XIX, a elite política 
brasileira tinha a preocupação em, pelo menos, minimizar ou dimi-
nuir a fraude nas eleições. Vários projetos foram discutidos, várias leis 
foram promulgadas visando minorar a fraude, para que as eleições 
pudessem ser vistas como legítimas.
Outro ponto, que me parece ser o mais importante de todos, e que 
vários autores têm demonstrado, é: a eleição no século XIX foi um 
importante aprendizado para a população livre e pobre. Participar das 
eleições era compartilhar do discurso da elite sobre um regime cons-
titucional, sobre os direitos do cidadão, sobre liberdade, sobre partici-
pação. De modo que a participação nas eleições, mesmo que restrita e 
pautada por fraude e pela relação com o proprietário, foi utilizada por 
essa população para se apropriar dos maiores princípios dos regimes 
liberais. Construiu-se, ao longo do século XIX, o que o historiador 
Matthias Assunção chamou de “liberalismo popular”, que é o libe-
ralismo apropriado pela população, que dá a ele um novo conteúdo, 
inclusive em revoltas armadas por determinadas demandas.4 Vários 
estudos mostram que as lideranças das revoltas de homens livres po-
bres no Brasil do século XIX utilizavam como bandeira princípios dos 
4 A expressão está bem descrita em: Assunção (2011:295-327).
D E MO C RAC I A E M F O CO
24
regimes constitucionais. Por exemplo, a demanda contra o recruta-
mento forçado, que era uma prática oficial da época e causou várias 
revoltas, porque, obviamente, os afetados eram os homens livres po-
bres. Há revoltas em que essas lideranças diziam que o recrutamento 
forçado é inconstitucional, contrário aos princípios da Constituição. 
Ou revoltas por demandas em que o princípio da liberdade e a defesa 
da liberdade e da cidadania eram fundamentais no discurso das lide-
ranças. Então, a expressão do Matthias Assunção é muito feliz. É um 
liberalismo popular que se constrói a partir do século XIX.
A elite política também tinha a percepção de que as eleições eram 
importantes e promoveu diversas reformas eleitorais procurando 
normatizá-las. O debate no parlamento em torno dessas reformas 
eleitorais expressa as questões que eram fundamentais para essa elite. 
Tratava-se não só de combater a fraude, mas também de discutir qual 
o perfil dos representantes que seriam eleitos. Porque é um regime 
liberal em processo de construção, portanto, o perfil (o desenho insti-
tucional) estava em jogo. Como exemplo, apresento duas concepções 
distintas, que atribuo uma ao Partido Liberal e outra ao Partido Con-
servador, sobre o perfil dos representantes eleitos.
Para o Partido Liberal, esses representantes deveriam ser uma es-
pécie de espelho da sociedade. Na concepção do século XIX, o es-
pelho da sociedade é formado por representantes de diversos setores 
da elite no parlamento, excluindo-se a participação das camadas mais 
pobres, obviamente. Refere-se à diversidade em termos de ofícios, de 
profissões da elite, à diversidade em relação às províncias. Enfim, uma 
espécie de espelho dessas diferenças. A outra concepção, do Partido 
Conservador, defende que os parlamentares deviam ser os homens 
mais ilustres do país, porque apenas homens ilustrados seriam capa-
zes de decidir o que seria o melhor para o país.
Esse embate esteve presente na discussão sobre as reformas eleito-
rais, que já traziam pontos que são debatidos até hoje. Por exemplo, 
a questão de o parlamento ser uma espécie de espelho da sociedade 
significava garantir o que se chamava de representação da minoria. 
Minoria, no século XIX, tinha sentido completamente diferente. Eles 
estavam falando de minoria partidária. Ou seja, que o partido mino-
ritário nas eleições também tivesse representante no parlamento, que 
o parlamento não fosse apenas o resultado daqueles que obtiveram a 
maioria dos votos e, portanto, a possibilidade da representação de um 
o g ov e r n o r e p r e s e n tati vo n o b ras i l i M p e r i a l 
25
único partido. Uma das formas de garantir essa unicidade, defendida 
pelos liberais, era o voto distrital. O voto distrital é um tema absolu-
tamente fundamental no debate da política brasileira. Porque o voto 
distrital era, até a década de 1860, no caso do Brasil, a única forma 
conhecida de garantir a representação dos dois partidos no parlamen-
to. Depois, a partir da década de 1860, surgiu no debate político in-
ternacional o voto proporcional, que rapidamente foi assimilado pela 
elite brasileira como uma alternativa. A discussão entre voto distrital 
e voto proporcional estava presente, justamente, porque eles eram ar-
ticulados a diferentes concepções do regime representativo.
Insisto em destacar que essa é uma forma de se pensar a história 
da democracia brasileira fundamental. Podemos pensar que estamos 
discutindo temas absolutamente novos ou modelos estrangeiros para 
adotar aqui. Mas essa é uma discussão que tem história no país. Dei o 
exemplo do voto distrital, do voto proporcional, se os representantes 
devem ser os mais ilustrados ou se devem expressar a diversidade da 
sociedade. Posso dar outro exemplo de uma discussão muito presen-
te no Brasil, que é o que chamavam de “incompatibilidades”, e que 
tomamos como algo quase natural. Um juiz que quer ser candidato 
a deputado ou que quer ser ministro tem que se desincompatibilizar 
do cargo. Isso é fundamental em termos de garantia da separação en-
tre poderes e para garantir a lisura das eleições, e é uma construção 
histórica. Durante todo o século XIX, discutiu-se se a medida deveria 
ser adotada ou não, e quais seriam as regras. Foi uma conquista da 
história brasileira, construída a partir desse regime liberal no século 
XIX. Uma ideia que nos parece hoje tão natural.
Dou esses exemplos para tentar convencê-los de que a história da 
democracia brasileira começa no século XIX e para dizer que é uma 
história, portanto, de conquistas. A ampliação da cidadania não se 
deu apenas pela vontade de determinado grupo de elite, mas também 
pelas conquistas dos setores populares, que conseguiram sua entrada 
não apenas por revoltas e mobilizações, mas também por entender 
e utilizar as próprias instâncias do regime liberal. Então, é a entrada 
dos excluídos com base nessas estratégias, que incluem o uso do regi-
me liberal. Termino dizendo que isso mostra a plasticidade do regime 
democrático. A longevidade do regime democrático, a meu ver, está, 
justamente, na sua capacidade de transformação. A evolução de um 
regime garantidor da ordem escravista para um regime, hoje, em que 
D E MO C RAC I A E M F O CO
26
a escravidão é absolutamente inaceitável. De um regime com baixa 
representatividade no século XIX para um regime de ampla repre-
sentatividade e de ampla cidadania. Infelizmente, ainda hámuito a se 
caminhar nessa direção, mas há conquistas fundamentais. Uma plas-
ticidade que nos obriga a permanentemente defender essa democra-
cia. [Aplausos].
CA P Í TU LO 2
Primeira República (1889-1930): 
uma certa gramática política
Marly Motta
Agradeço muito o convite feito pela Jaqueline para falar neste se-
minário que, por vários motivos, aborda um tema que me é muito 
caro. Primeiro, porque estamos na Alerj. Como estudiosa da política 
carioca e fluminense, a Alerj — e a antiga Assembleia Legislativa da 
Guanabara (Aleg) — tem um protagonismo muito grande nas minhas 
obras sobre o Rio de Janeiro. Também porque fiz parte do primeiro 
convênio entre a Alerj e o CPDOC da FGV. Nós fizemos uma série de 
entrevistas, perfis biográficos, gravações, exposição. Gostaria muito 
de lembrar a figura do professor Carlos Eduardo Sarmento, que foi a 
ponte inicial para esse convênio. Onde quer que ele esteja, as minhas 
saudações alvinegras.1 Ele torcia pelo Fluminense. Finalmente, não 
posso deixar de fazer propaganda do livro E agora, Rio? Um estado 
em busca de um autor (Motta, 2022), que lancei agora e que se bene-
ficiou muito desse primeiro convênio. As entrevistas, as biografias, os 
trabalhos sobre a fusão e o novo estado do Rio de Janeiro estão aqui 
contemplados. Faço referência constante a isso.
1 N.O.: Carlos Eduardo Sarmento faleceu em 2013. Sua carreira foi marcada pelo es-
tudo da história política da cidade do Rio de Janeiro, com destaque para as obras O Rio 
de Janeiro na era Pedro Ernesto (2001), A política carioca em quatro tempos (2004) e O 
espelho partido da metrópole (2009).
D E MO C RAC I A E M F O CO
28
Quando a Jaqueline me pediu para falar sobre a Primeira Repú-
blica, pensei: “‘Primeira República’, mesmo eu, que sou historiadora 
de formação e que trabalho com isso, constantemente escorrego para 
‘República Velha’”. Quem deu à República de 1889 a 1930 o nome de 
República Velha? Claro que foi a elite vitoriosa de 1930, para se referir 
ao período anterior. Essa é uma luta política clássica: a etiqueta no 
período anterior de “velho”, “Antigo Regime”, “Idade Média”. Toda a 
gramática política que usamos para nos referir a determinados pe-
ríodos históricos reflete lutas em termos de conceitos, de nomes, que 
acabam sendo usualmente empregados sem que façamos uma refle-
xão daquele conteúdo específico. Portanto, optei pelo título “Primeira 
República: uma certa gramática política”, porque o sociólogo Edson 
Nunes escreveu um livro sobre a gramática política do Brasil.2 Achei 
muito interessante usar esse arcabouço teórico para trabalhar a Pri-
meira República. Para não fugir ao que Edson Nunes defendeu, usarei 
a expressão dele. Gramática política designa as diferentes linguagens 
em uso na política. As gramáticas indicam os princípios por meio dos 
quais instituições e sistema social se estruturam.
Quando ouvimos “República Velha”, parece que tudo faz sentido, 
porque imediatamente nos referimos ao coronelismo. É quase um si-
nônimo de expressões: República Velha, coronelismo, voto de cabres-
to, curral eleitoral, voto de bico de pena. Há uma gramática, um con-
junto de palavras, de conceitos, que imediatamente nos vêm à cabeça 
quando pensamos nesse período histórico que acabou espremido en-
tre o Império e a Era Vargas. A Primeira República é como se fosse um 
intermediário entre esses dois momentos, vamos dizer, grandiosos.
Ao mesmo tempo, Edson Nunes faz essa relação entre a gramáti-
ca de determinado período histórico como uma característica dele, e 
também faz uma comparação interessante com a qual concordo intei-
ramente. Tal como camadas arqueológicas, esses conceitos são produ-
zidos e se sobrepõem ao longo da história. Ou seja, embora tenham 
sido criados especificamente para um período — no caso, a Primeira 
República —, isso não significa que fiquem restritos a ele. Esses con-
ceitos vão se produzindo e se sobrepondo. Semana passada, ouvi na 
Rádio CBN ou na GloboNews a referência: “coronel Tasso Jereissati”. 
Como um “coronel”, ele não aceitaria ser vice da Simone Tebet.3 Eu 
2 Refiro-me à obra de Nunes (1997).
3 N.O.: A professora Marly Motta fazia referência à definição das chapas eleitorais 
cogitadas para a corrida presidencial de 2022.
p r i M e i ra r e p ú b l i ca (1889 - 1930)
29
não daria a ele o título de “coronel”. Fiquei surpresa com como foi feita 
essa trajetória, do termo “coronel”, lá da Primeira República, para um 
senador que consideramos progressista, que quebrou certos valores 
no governo do Ceará. A interpretação é que ele, como coronel, jamais 
aceitaria ser vice de uma mulher. Essa notícia deu mais força para 
minha fala de hoje.
O que é o coronelismo? Em que medida usamos, da maneira mais 
ampla possível, esse termo, essa expressão? Primeiro, o termo coro-
nelismo é bem posterior ao fim da Primeira República. Ele foi criado 
por Victor Nunes Leal, em uma tese de concurso de professor de di-
reito, da Faculdade Nacional de Direito, em que ele discutia o papel 
do município na federação brasileira. O livro que daria origem a esse 
conceito de coronelismo é Coronelismo, enxada e voto, publicado em 
1949.4 Portanto, o termo “coronelismo” foi criado a partir de um olhar 
do fim da década de 1940 e ao longo da década de 1950. De certa 
maneira, Victor Nunes Leal quer buscar as raízes do atraso brasileiro. 
Aliás, essa geração dos anos 1940 e 1950 acabou desembocando em 
Juscelino, no desenvolvimentismo (“cinquenta anos em cinco”), que, 
de certa maneira, localiza nas práticas políticas do interior, do mun-
do rural, a causa do nosso subdesenvolvimento. O termo “coronel” se 
originou no Império, mas está ligado à Guarda Nacional e à aquisição 
ou à doação da patente de coronel por parte de grandes proprietários 
de terra e escravos. Chamo a atenção para o fato de que, em boa par-
te do Império, a grande riqueza eram os escravizados. Inclusive, eles 
eram usados como fiança para garantir empréstimos bancários para 
os proprietários rurais. A terra tinha pouco valor. O que valia mesmo 
era a mão de obra, que era oferecida como garantia para empréstimos 
bancários àquela época. A figura do coronel foi construída na inter-
pretação do Victor Nunes Leal. Quero deixar bem claro que esse con-
ceito foi construído, não brotou da terra. Ele foi construído no âmbito 
de um mundo acadêmico, neste caso, especificamente, em uma tese à 
cátedra na Faculdade de Direito.
Trabalharei a gramática política em três aspectos. Primeiro, ten-
tarei entender como a figura do coronel no Império se torna a base 
do sistema coronelista na Primeira República, porque aí ocorre uma 
mudança. Quer dizer, a figura do coronel é uma coisa, o sistema 
4 Mais precisamente: Leal (1976).
D E MO C RAC I A E M F O CO
30
coronelista é outra. O sistema coronelista terá sua montagem e seu 
funcionamento característico na Primeira República. Basicamente, a 
gramática do clientelismo é: compromissos recíprocos — é dando que 
se recebe. Não há nada de mau em dar e se receber na política. A polí-
tica é a arte da negociação. O problema são os termos da negociação. 
O que a legislação permite. O que a moral permite. O que um fun-
cionamento funcional (desculpe a ênfase) do sistema republicano, no 
caso da Primeira República, permite.
Um pequeno parêntesis: se, na época do Império, você tinha 10% 
do eleitorado, o eleitorado que elegeu o presidente Campos Salles foi 
de 3% da população de homens livres.5 Portanto, há uma redução do 
corpo eleitoral na República, porque tínhamos um corpo eleitoral res-
trito. Havia o presidente da República e os presidentes dos estados. 
As oligarquias locais eram representadas pelos coronéis. Então, tinha 
um sistema que funcionava, tanto de cima para baixo quanto de baixo 
para cima. É esse sistema que, ao contrário do que se pensa, não pos-
suía doses de estabilidade.
Uma das chaves da Primeira República (e do Império) é a questão 
da estabilidade. Criou-se uma ideia de que a Primeira República, com 
o funcionamento dessescompromissos recíprocos — ou seja, o presi-
dente da República se entendia com os presidentes dos estados, que se 
entendiam com as oligarquias locais —, seria um regime estável. Não 
é verdade. Ao contrário do que muita gente acredita, esse sistema não 
funcionava como máquina. Tinha muita areia nessa máquina. Você 
tinha uma quantidade enorme de interesses presentes nessa máquina 
supostamente bem engrenada pela fraude, pela violência, pelo corpo 
eleitoral restrito. O que quero dizer é que esse regime tinha funcio-
namento muitas vezes traumatizado. Vemos esses traumas nas suces-
sivas rebeliões locais intraoligárquicas, nas disputas de interesse que 
não permitiam esse funcionamento idealizado, tanto nos 50 anos do 
Império quanto nos 30 anos da Primeira República (Viscardi, 2012).
O segundo tópico é: o povo como ator político. Estamos no se-
minário Democracia em foco. É óbvio que a ideia de democracia na 
Primeira República tem muito pouco a ver com a que temos hoje. 
Não encontramos, nos discursos, mesmo de líderes mais populares, 
a democracia nos termos tais como conhecemos hoje. Era um corpo 
5 Os dados relativos à magnitude do eleitorado são estimativas de Carvalho (1987).
p r i M e i ra r e p ú b l i ca (1889 - 1930)
31
eleitoral restrito. Vocês entenderão por que não posso falar de demo-
cracia. Analfabetos não votavam, e o analfabetismo existia em grande 
escala. O argumento era liberal: o analfabeto não tinha consciência do 
voto, da escolha. Aliás, esse argumento será usado, em alguma medi-
da, posteriormente, nos anos 1930, na ocasião do Estado Novo.
Teóricos como Oliveira Vianna (1949) achavam o voto universal 
uma ideia aberrante, porque a maioria da população estaria subme-
tida aos coronéis. A ideia de um tipo de participação do povo era 
algo impensável na Primeira República. Havia o argumento de que 
as mulheres eram histéricas. Mas isso não é novidade, uma das ale-
gações — não só no Brasil, mas em outros países — era exatamente 
da instabilidade emocional das mulheres para poder escolher alguém 
para um cargo público. Os praças também não votavam. Então, ha-
via legalmente o afastamento de parcelas substantivas da população. 
O que não significava, no entanto, que essa população marginalizada 
legalmente, ou que não participava de forma ativa, não estava presen-
te. Basta ver a literatura de cordel. Uma orientanda minha trabalhou 
a política na literatura de cordel (Maya, 2012). É uma fonte muito 
interessante para se observar a participação da população. De que ma-
neira as camadas excluídas da participação ativa — e mesmo aqueles 
que votavam — negociavam com os coronéis, com seus apaniguados, 
com seus representantes. É muito interessante.
Chamo atenção para algumas expressões criadas nesse período e 
que duram até hoje: “voto de cabresto”, “curral eleitoral”. Não nos da-
mos conta do quanto é ofensivo chamar os eleitores das favelas, das 
periferias, de “curral eleitoral” ou de “voto de cabresto”. É um cuidado 
que deveríamos ter. Vale a pena transferir o que, na Primeira Repúbli-
ca, correspondia a certa realidade? A maior parte do eleitorado era da 
zona rural. É uma gramática que — na falta de termos adequados ao 
nosso período — acabamos transportando da Primeira República, de 
uma realidade diferente.
O primeiro elemento foi o sistema coronelista. O segundo, o povo 
como ator político. Nada de voto de cabresto nem curral eleitoral. 
As demandas eram encaminhadas por outros instrumentos pouco 
detectados em uma fonte tradicional. Como terceiro elemento, cito 
Campos Salles: “A política dos estados é a política nacional”. Como 
se a política nacional estivesse submetida à política dos estados. 
A expressão talvez mais comum desse período é “café com leite”. Mi-
D E MO C RAC I A E M F O CO
32
nas não era leite, era café. A elite mineira tinha conexão com o mundo 
exterior, principalmente o sistema financeiro. Não por acaso, a maio-
ria dos bancos era de Minas Gerais (depois São Paulo se apoderou 
de todos eles). Portanto, a elite mineira defendia o contencionismo, 
o ajuste fiscal. Era um programa de governo muito mais centrado em 
um funcionamento do Tesouro Nacional superavitário. A elite paulis-
ta, ao contrário, era papelista, era a favor da emissão, do subsídio, da 
proteção, porque era voltada para o mercado interno. A produção 
da elite paulista obviamente não tinha lugar no sistema internacional. 
Mas o objetivo — e na Primeira República isso está muito claro — é 
conquistar o mercado interno, onde a indústria paulista poderia com-
petir se devidamente amparada pelos subsídios do Estado (federal, 
estadual e municipal). Não estou falando mal de São Paulo, não, pelo 
contrário. Podemos enterrar essa história de “café com leite”, porque 
havia muito mais disputas. São Paulo queria o Ministério da Fazenda 
e o Banco do Brasil. Nem sempre havia combinação, dependendo do 
contexto externo, não se conseguia chegar a um acordo. Muitas vezes 
o conflito era claro entre Minas e São Paulo.
Uma das coisas que também se costuma dizer da Primeira Repú-
blica é que o presidente era fraco, que o Estado era fraco. É como se 
Vargas e a Revolução de 1930 viessem formar um Estado forte. Estu-
dos como o de Renato Lessa (1988), Elisa Reis (1988:187-203) e do 
próprio Edson Nunes provam que o Estado na Primeira República e 
o presidente não eram simples porta-vozes dos interesses dos estados. 
Havia instâncias de claro fortalecimento do papel do Estado e de sua 
intervenção na economia. Longe, portanto, daquele mundo liberal em 
que os teóricos de Vargas costumavam designar a Primeira República. 
Fecharei com uma frase do Campos Salles. Cada um fará a própria tra-
dução, embora eu já tenha a minha. “Quem se propõe a consultar opi-
niões alheias sujeita-se, naturalmente, a modificar as suas, e era isso o 
que eu queria evitar.” Para bom entendedor… Obrigada. [Aplausos].
CA P Í TU LO 3
Partidos e competição política 
durante a Era Vargas (1933/34)
paolo ricci*
Saudações a todos e todas. Sou estrangeiro aqui, não só em nacio-
nalidade, mas também sou cientista político. Faço a minha incursão 
na história do Brasil porque é uma coisa que sempre me cativou, seja 
pensar o Brasil, ou pensar comparativamente o século XIX. Talvez te-
nha errado de profissão, tinha que ser historiador. Então fico muito 
bem aqui na mesa com vocês.
Quero organizar uma reflexão menos focada no que os teóri-
cos e críticos do sistema representativo pensam e mais relacionada 
com as práticas eleitorais da época. Essencialmente, quero ressaltar 
quatro aspectos que são, para mim, proeminentes hoje para pen-
sar a evolução do governo representativo. Antes de começar, uma 
premissa se faz oportuna: quando se pensa o Brasil, evito usar, de 
imediato, o termo democracia. Sabemos que se trata de um termo 
que entra em cena no fim do século XIX, assim como aconteceu 
em países da Europa. Ainda que o debate sobre o conceito tenha 
levado a abordagens interessantes e métricas variadas, acredito for-
temente que o pesquisador deva dar maior ênfase às práticas, de 
* As reflexões de que tratei nesta exposição foram amadurecidas graças aos projetos que 
desenvolvi junto à Fapesp (processo 18/23060-2) e ao CNPq (processo 307864/2020-0), 
cujos financiamentos de pesquisa agradeço.
D E MO C RAC I A E M F O CO
34
modo a compreender em profundidade a transição de um governo 
representativo — ou seja, essencialmente com base na presença de 
instituições representativas, mas que não são democráticas — para 
a democracia. Eis o ponto: dar a devida atenção para esse momento 
de transição na história política do Brasil, algo que, até agora, não foi 
devidamente explorado pela ciência política.
Trato de um período bastante complicado, porque a literatura, em 
geral, aponta justamente os anos 1930 como o nascimento da demo-
cracia no Brasil. Pelo menos do ponto de vista institucional, há essa 
associação clássica em virtude, por exemplo, da criação da Justiça 
Eleitoral e do próprio Código Eleitoral.1Nesse sentido, meu primeiro 
ponto diz respeito ao reconhecimento da importância das instituições, 
isto é, do aspecto institucional do governo representativo. Acho que, 
como estudiosos, não podemos nos esquivar de entender a evolução 
do governo representativo e da democracia sem levarmos em conta as 
regras e normas. São elas que ditam o tom das relações entres os atores 
políticos, sejam eles eleitores, votantes ou políticos e partidos.
Com relação a esse ponto em particular, sabemos que as normas 
eleitorais são uma criação dos próprios políticos. Naquela época, ain-
da que houvesse um debate na sociedade civil nos anos 1920 e 1930 
quanto à reforma das regras eleitorais, o Código Eleitoral foi elabora-
do, basicamente, por três juristas e políticos bem conhecidos: Assis 
Brasil, João Cabral e Pinto Serva.2 Foi uma elaboração difícil, con-
siderando que eles dificilmente se encontraram. Pinto Serva alegava 
problemas de saúde e não se ausentava de São Paulo, enquanto Assis 
Brasil e Cabral residiam em outras localidades. João Cabral, que foi 
considerado um dos artífices de parte do Código, teve que ir até Bue-
nos Aires, porque Assis Brasil havia assumido o cargo de embaixador 
em 1931. Comparativamente, esse é um Código que nasce a partir da 
elaboração restrita de algumas pessoas, influenciadas pelas reformas 
nos países vizinhos, em particular Argentina e Uruguai, às quais se 
juntam depois outros juristas, quando se percebe que o Código não 
sai do papel. Depois de mais de um ano de trabalho, o ministro da Jus-
tiça, Maurício Cardoso, endossa os trabalhos da comissão incumbida 
de rever as regras eleitorais e, em um mês e meio, elabora o projeto fi-
1 Ver, a título de exemplo, Sadek (1995).
2 Para um estudo em profundidade da elaboração do Código, ver Zulini (2019:41-60).
pa rti D o s e coM p e ti ção po l í ti ca D u ra n te a e ra va rgas (1933/34) 
35
nal do Código Eleitoral, entregando-o a Vargas em fevereiro de 1932. 
Esses aspectos institucionais são centrais para pensarmos a transição.
Para mim, o Código é importante para entender dois aspectos: a 
relação entre elites e eleitores — portanto, aqui temos o tema da par-
ticipação política — e a relação entre elites e eleições, em particular 
o custo de competir. Quanto ao primeiro, a literatura o tem explo-
rado com base nas relações clientelísticas entre eleitores e coronéis.3 
Quanto ao segundo, a ênfase é geralmente posta sobre as caracterís-
ticas não competitivas das eleições que antecedem a democracia de 
1945.4 Voltarei ao primeiro aspecto mais à frente. No que tange ao 
segundo, antecipo a força da mudança observada na primeira eleição 
após a outorga do Código Eleitoral de 1933. Ela é a primeira eleição de 
fato competitiva. O significado do termo “competitiva” também é um 
problema. Não estou dizendo que as eleições na Primeira República 
nunca foram competitivas e renhidas. Não é isso, pelo contrário: não 
faltam histórias de mortes, de violência política, disputas partidárias, 
rachas de alianças políticas.5 Mas a grande diferença quanto à Pri-
meira República é que a oposição consegue derrotar o governo. Isso 
acontece nos anos 1930, e é crucial relacionar esse efeito ao Código 
Eleitoral.
Esses são dois pontos do primeiro aspecto institucional que queria 
tratar com vocês. Nas palestras, nós sempre fazemos um mea-culpa. 
Acho importante fazer isso aqui também. Estamos celebrando, in-
clusive, 90 anos do Código Eleitoral e até agora não temos estudos 
sistemáticos sobre o tema. No máximo temos uma descrição de seu 
conteúdo e suas especificidades, mas as origens do Código, os deba-
tes em torno da necessidade de incluir algumas normas, como o voto 
feminino, a representação classista, o debate em torno do voto secre-
to ainda devem ser aprofundados. Um esforço recente que coordenei 
pode ser considerado a primeira tentativa de avançar nesse sentido 
(Ricci, 2019:41-60). Digo isso porque, para pôr na mesa algumas 
questões para o debate futuro, pensar nas possíveis pesquisas, é im-
portante voltar nosso olhar para o desenho das regras e sua aplicação 
naqueles anos.
3 Para uma discussão clássica do tema ver Leal (2012).
4 A ideia de que 1945 constitua uma ruptura, pois as eleições se tornaram competiti-
vas, pode ser encontrada, por último, em Limongi (2012:37-69).
5 A esse respeito ver Ricci e Zulini (2014:443-479).
D E MO C RAC I A E M F O CO
36
Entro, então, no segundo e terceiro aspectos que queria discutir 
neste evento. Trata-se das práticas eleitorais e dos efeitos produzidos 
pelas regras. Muito se discute em torno das regras, como se elas auto-
maticamente levassem a alguma coisa. No caso em questão, o Código 
é frequentemente associado à democracia. Acho que isso tem de ser 
esquecido, tem de ser deixado de lado, pelo menos nesse momento, va-
lorizando as pesquisas que resgatam documentos e material da época. 
Temos que diminuir o peso das discussões em torno da transição para a 
democracia em termos conceituais, deslocando o assunto para como as 
mudanças do Código de 1932 impactaram os próprios atores políticos 
da época. Se isso levou a uma maior democracia, é outra questão e só 
pode ser respondida após pesquisas mais aprofundadas. Antes de tudo, 
é proeminente pensarmos um pouco sobre o tema de como os atores jo-
gavam entre si. Quando penso nas práticas eleitorais, de imediato surge 
a questão das fraudes, do papel da recém-criada Justiça Eleitoral, dos 
mecanismos inventados para garantir o voto secreto. Se, por exemplo, 
como defendido por alguns autores, as fraudes devem ser interpretadas 
como formas de disputas pelo poder, é plausível supor que o controle 
da Justiça Eleitoral tenha modificado as inúmeras formas de manipular 
o voto. E, ainda, em que medida a sobrecarta oficial e a cabine indevas-
sável impactaram o eleitor? Apenas uma maior atenção para as práticas 
eleitorais da época poderá fornecer respostas mais precisas e certeiras 
sobre os detalhes destas reformas.
O terceiro aspecto que quero trazer para vocês é, justamente, a 
questão dos efeitos da reforma de 1932. O que o Código Eleitoral trou-
xe de inovativo para o mundo da política? Em primeiro lugar, com-
parativamente, é difícil encontrar um Código Eleitoral tão inovador 
mundo afora: voto proporcional, voto obrigatório, Justiça Eleitoral, 
voto secreto, voto feminino e representação classista. Onde encontra-
mos isso? Em lugar nenhum do mundo. É claro que a historiografia 
tem se dedicado ao estudo do Código em algumas questões específi-
cas. Talvez o voto feminino e a representação classista sejam aquelas 
mais pesquisadas, mas temos que levar em conta todas as dimensões 
institucionais ao mesmo tempo, não isoladamente, porque elas ope-
ram em conjunto. Vamos lembrar que o Código Eleitoral foi aprovado 
em fevereiro de 1932, depois de demorar um ano para ser elaborado 
por Assis Brasil, Cabral e Pinto Serva. Caiu na mão de uma comissão 
que entregou aquele calhamaço para o próprio Vargas, que demorou 
pa rti D o s e coM p e ti ção po l í ti ca D u ra n te a e ra va rgas (1933/34) 
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um mês fazendo as correções e inserindo a representação classista, 
que inicialmente tinha ficado de fora. Sob pressão, evidentemente, de 
um grupo — de parte dos tenentistas — que queria esse tipo de repre-
sentação. Eu diria que esse é, justamente, o único elemento do Código 
que não reconhecemos como democrático.
Hoje em dia, ninguém fala em representação classista. Mas todas 
as demais dimensões — voto secreto, proporcional e o voto obrigató-
rio — são institutos que caracterizam a democracia. Quero fazer um 
lembrete contra os paulistas, porque sempre se retoma esta ideia de 
uma revolução que quer constitucionalizar versus os outros que não 
querem as eleições. A eclosão da revolução acontece em julho de 1932. 
O Código foi aprovado em fevereiro de 1932. Em maio, temos um 
decreto do próprio presidente Vargas fixando as eleições para maio 
de 1933. Ou seja, já havia um calendário eleitoral prefixado. O então 
TribunalSuperior da Justiça Eleitoral e todos os Tribunais Regionais 
Eleitorais (TREs) foram instalados em maio de 1932. Por fim, durante 
o conflito paulista, na maioria dos estados, os TREs desenhavam as 
zonas eleitorais, as varas eleitorais e os ofícios que ficavam incumbi-
dos dos serviços de qualificação e identificação dos eleitores. Então, 
esse processo inicia-se antes da Revolução Constitucionalista e corre 
de forma paralela a ela. Esse é um ponto importante, porque significa 
que parte daquela elite — identificada por alguns como os tenentes 
— já tinha perdido a batalha antes da eclosão do conflito paulista. 
Perdido no sentido de que várias oligarquias e atores políticos já pres-
sionavam para uma constitucionalização e, portanto, para a volta das 
eleições e a criação de um governo representativo definido por uma 
dinâmica que conhecemos bem e que remete às relações entre um 
presidente e um parlamento, ambos eleitos.
Qual é a inovação desse Código? Falarei dos efeitos do próprio 
Código Eleitoral de 1932. Primeiramente, as eleições se tornam com-
petitivas. Apresentarei alguns gráficos. Acho importante fazer esse 
esforço, porque os dados sintetizam uma coleta de informações ain-
da pouco conhecida. Para essa época, temos muitos estudos de casos, 
mas poucas pesquisas que pensam o Brasil como um todo. Quantos 
trabalhos sobre a Primeira República pensam nela como um todo? 
Muito poucos. Que eu me lembre, o trabalho da Claudia Viscardi 
(2012), centrado na eleição dos presidentes da República, que mostra 
justamente como, apesar de o resultado ser conhecido, havia uma di-
D E MO C RAC I A E M F O CO
38
nâmica anterior de forte pressão, negociação, entre as elites políticas. 
Nada estava certo, nada estava acomodado nos termos São Paulo ver-
sus Minas Gerais. Outras elites regionais disputavam o poder e as va-
gas para presidente ou vice da República. Esse é um ponto importante 
que também condiciona as pesquisas sobre os anos 1930. Porque, do 
ponto de vista da dinâmica política, pouco muda. Pouco muda em 
termos da abrangência da competição política. Se pensarmos nas dis-
putas da Primeira República, não temos partidos nacionais. Houve al-
gumas tentativas nos anos 1910, mas no pós-1932, na primeira eleição 
de 1933, que é a Constituinte, não existem partidos nacionais, cada 
estado tem seus partidos políticos, replicando o modelo da Primeira 
República. É assim durante as eleições sucessivas até 1937, com o gol-
pe que dá origem ao Estado Novo.
Esse é um aspecto importante para pensarmos sobre como nasce 
a democracia de 1945, com a Lei Agamenon, que obriga os partidos 
a se nacionalizarem.6 Aí temos na própria legislação a exigência de 
determinados requisitos, obrigando o partido a estar presente em vá-
rios estados para ser reconhecido como tal e poder disputar o pleito. 
O Código tem efeitos substantivos importantes com relação, em pri-
meiro lugar, à participação política, porém, se penso no eleitor como 
indivíduo, nada muda. Nada muda em termos de voto ideológico, 
nem em termos de voto de pertencimento, aquele voto de bandeira. 
Nos anos 1930, ainda não temos o voto ideológico. Grande parte da 
população vive no campo, 75% mais ou menos.
Já no que concerne às regras, o Código Eleitoral inova. Por exemplo, 
se pensarmos no alistamento ex offício, feito pelos chefes das reparti-
ções públicas. Acho que há muita ênfase ao alistamento ex offício, mas, 
no fundo, ele conta essencialmente apenas nas cidades, não nas demais 
áreas do Brasil. Tem um aspecto do Código — por isso é importante 
olhar as regras — que aumenta os custos para o eleitor participar, que 
6 N.O.: O professor Paolo refere-se ao Decreto-Lei no 7.586, de 28 de maio de 1945, 
mais conhecido como Lei Agamenon, em referência a Agamenon Magalhães, então 
ministro da Justiça encarregado por Getúlio Vargas de rever as regras eleitorais. Entre 
as medidas adotadas pelo Decreto-Lei, constava um dispositivo que condicionava o 
registro partidário a organizações com 10 mil eleitores em pelo menos cinco estados 
(art. 109). O objetivo era nacionalizar o sistema partidário, para combater a reorgani-
zação de partidos estaduais, que dominavam a cena política brasileira até 1937. Para 
detalhes, ver Souza (1976).
pa rti D o s e coM p e ti ção po l í ti ca D u ra n te a e ra va rgas (1933/34) 
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é a fotografia. Na época, para ter o título eleitoral, era preciso tirar uma 
fotografia. Imaginem quem poderia tirar fotografias e se havia fotógra-
fos nas cidades do interior. Esse é um mecanismo importante que sina-
liza para um fato: o custo era tão elevado para o cidadão comum que 
quem fazia o alistamento eram os próprios partidos políticos. Quem 
organizava o alistamento inteiro eram os partidos, os candidatos, ob-
viamente, as próprias máquinas que organizavam e faziam os eleitores.
Os efeitos desse processo, para mim, se observam com dados 
relativos à participação política. Em 1933, nós não temos um au-
mento dos eleitores, aqueles 5% ou pouco mais de alistados sobre a 
população total que caracterizava a Primeira República continuam 
em 1933. Aumenta um pouquinho em 1934. A grande mudança é a 
participação política: quem é alistado agora vota. Oitenta por cento 
comparece às urnas e vota em 1933; 75%, mais ou menos, em 1934. 
Ou seja, apesar de não termos um aumento dos eleitores, observa-
mos um aumento da participação política. Isso não se deve, no meu 
entender, ao voto obrigatório, mas à maior capacidade de mobiliza-
ção por parte dos partidos políticos. As elites agora competem para 
ter os votos, para fazer eleitores. Essa lógica da competição se deve a 
dois mecanismos presentes no próprio Código Eleitoral. Um deles, 
para mim, é primordial, que é a proporcional. Um sistema eleito-
ral proporcional complicado, com um efeito majoritário embutido 
no cálculo das cadeiras e que foi pensado por Assis Brasil. Houve 
muitas críticas à sua aplicação. Os próprios TREs na época se con-
fundiram na hora da contagem dos votos. Mas, apesar disso, o que 
observamos é que esse mecanismo do sistema proporcional permite 
algo até então inédito: o acesso das oposições ao Congresso. Essa é 
a grande mudança em respeito à Primeira República, do ponto de 
vista da participação política e do ponto de vista das eleições, do 
conflito e da competição política.
Aqui podemos retomar o debate sobre democracia. Cientista polí-
tico geralmente pensa em termos conceituais: “o que é a democracia?”. 
Uma definição de democracia é justamente aquela em que o governo 
reconhece a própria derrota e os opositores têm chances reais de ga-
nhar (Przeworski, 1997:3-36). Os gráficos a seguir mostram isso cla-
ramente para a eleição de 1933 e 1934.7
7 Todos os gráficos foram reproduzidos de Ricci e Silva (2019).
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Gráfico 1
Número de partidos políticos competindo (1930-34)
Fonte: Reproduzido de Ricci e Silva (2019).
O gráfico 1 ilustra o número de partidos políticos competindo na 
Primeira República e nas duas eleições federais que ocorreram sob 
vigência do Código de 1932. Observem como em todos os estados 
houve um aumento abrupto de competidores. Não sabemos quais são 
as características desses partidos, as relativas especificidades. Existiam 
várias cores políticas em 1933 e 1934. Em 1933, por exemplo, temos 
mais de 100 partidos que concorrem às eleições, além dos avulsos.8
No gráfico 2 temos os dados relativos ao percentual de cadeiras 
obtidas pelos partidos em cada unidade da Federação nas eleições de 
1933 e de 1934. Pouquíssimos estados têm partidos que ganham todas 
as cadeiras. Esse era o padrão da Primeira República, quando a eleição 
resultava em apenas um ganhador. Em 1933, temos cinco estados onde 
isso acontece. Nos demais, temos pelo menos dois partidos políticos. 
É o efeito da proporcional. Isso significa, olhando de outro ângulo, que 
o partido do interventor, isto é, o governismo, perde. Conseguem a 
maioria em alguns estados, mas não todas as cadeiras. Em alguns esta-
dos maisde dois partidos políticos ocupam as cadeiras.
8 O Código Eleitoral permitia que candidatos sem filiação partidária, denominados de 
“avulsos”, competissem ao pleito.
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1899-1930
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Gráfico 2
Porcentagem de cadeiras conquistadas pelos partidos em 1933 e 1934
Fonte: Reproduzido de Ricci e Silva (2019).
Gráfico 3
Cadeiras ocupadas pelos partidos dos interventores em 1933
Fonte: Reproduzido de Ricci e Silva (2019).
O Gráfico 3 é relativo à eleição de 1933, em que mostro quais são 
as cadeiras ocupadas pelos partidos dos interventores. Em alguns es-
tados, o partido do interventor ganha todas as cadeiras, mas são pou-
cos; nos demais ele divide com outro partido — um que não era opo-
sição ao governo Vargas, mas se encontrava em oposição ao governo 
1o partido 2o partido 3o partido 4o partido
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1933 1934
100
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oiás
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istrito Federal
ceará
rio g
rande do n
orte
são paulo
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aranhão
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rio de Janeiro
estados
D E MO C RAC I A E M F O CO
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estadual, ou seja, ao próprio interventor. Pouquíssimos partidos na 
época se opunham à Revolução de 1930. O gráfico também mostra 
que há situações em que o partido do interventor ou concorre e perde, 
ou nem concorre, porque não consegue se organizar, como é o caso do 
Rio de Janeiro. O caso mais conhecido talvez seja o do Ceará. A Liga 
Eleitoral Católica (LEC) derrota o partido do interventor. Concluin-
do, justamente nos anos 1930, podemos observar os primórdios de 
uma eleição competitiva, isto é, um aspecto que alguns associam à de-
mocracia e que costumamos identificar apenas no regime de 1945-64.
Para além dessas reflexões ainda parciais — no fundo, esse é um 
projeto de pesquisa em andamento —, como quarto ponto da minha 
fala, gostaria de concluir nos seguintes termos. É importante pensar o 
Brasil tendo como objeto de estudo suas instituições e seus atores po-
líticos de antes de 1945. Se você conversar com um cientista político, 
ele só fala de pós-1988 e um pouco de 1945-1964. Falta um investi-
mento, uma atenção maior por parte da ciência política com nosso 
passado. Essa é uma característica, infelizmente, da ciência política 
em geral. Em outros países também é muito difícil ver um cientista 
político que volta no tempo. A segunda reflexão é para os historiado-
res, é um incentivo para que eles saiam do caso, do detalhe, e pensem 
nos conceitos, nos problemas, para que pensem as perguntas e as res-
pondam. E aqui, na pauta, está uma grande pergunta: qual é, de fato, a 
mudança em relação à Primeira República quando se trata de pensar 
o governo representativo? Precisamos de respostas mais abrangentes, 
que não fiquem presas ao estudo de caso, como um estado. Isso exi-
ge um esforço enorme. Por isso é fundamental, para mim, (re)pensar 
essa época partindo de uma reflexão interdisciplinar e que agregue 
pesquisadores de várias regiões do Brasil. Estou feliz de estar aqui com 
vocês justamente por isso. Obrigado. [Aplausos].
Debate
Marco Aurélio Vannucchi (M. A. V.): É uma honra moderar esta 
mesa centrada no “Governo representativo no Brasil: do Império à 
Era Vargas”. Muito obrigado a todos os palestrantes. Agora abriremos 
as inscrições para a participação do público.
Pergunta 1 (Anônima): Minha pergunta é para a Marly. Queria sa-
ber sobre a “política do café com leite”. Sempre fui ensinado na escola 
que a “política do café com leite” era uma aliança entre as elites de 
São Paulo e de Minas, envolvendo uma alternância combinada en-
tre presidentes desses estados. Você explicou muito bem que existia 
um conflito de interesse entre as duas. Existe algum fundo de verdade 
nessa alternância combinada? Se não existe, de onde veio essa ideia? 
Como ela foi construída de um jeito tão consolidado como a “política 
do café com leite”? Quem construiu? De onde partiu isso? Obrigado.
Pergunta 2 (Anônima): Gostaria de fazer uma pergunta que me foi 
suscitada pela fala do Paolo, em relação à participação dos tenen-
tes na criação do Código de 1932 (e talvez Marly e Miriam possam 
acrescentar alguma coisa a este respeito). Não entendi bem se a de-
manda deles foi relacionada com a proporcionalidade, a representa-
ção classista, ou ambas. Trabalhei com arquivos do Juarez Távora, no 
CPDOC, e encontrei muita informação dele negociando formação 
de partido para as eleições desse período. Ele mostrou irritação com 
o caso do Ceará, que perdeu parte dessas cadeiras. Como a agenda 
tenentista aparece com a Revolução de 1932 ou mesmo antes, profes-
sor Paolo? E como a mesma agenda, após essas eleições, perde força 
nesse projeto maior do Governo Vargas? Queria que os professores 
comentassem um pouco sobre essa suposta agenda social tenentista, 
com a participação política e a competição entre partidos. Será que 
D E MO C RAC I A E M F O CO
44
essa agenda, em vez de fortalecida, foi enfraquecida por conta dessa 
disputa política eleitoral?
Pergunta 3 (Jaqueline Zulini): Também gostaria de fazer uma questão 
única para os três componentes da mesa, com base nas excelentes expo-
sições que surgiram. Apareceram, na fala dos três palestrantes, possíveis 
agendas de pesquisa. Eu acho que, aproveitando a presença dos nossos 
alunos, dos jovens estudantes, que podem ver diante de si uma opor-
tunidade de navegar pelo próprio CPDOC, para revisitar as origens do 
governo representativo no Brasil, seria interessante ouvir tanto a profes-
sora Miriam quanto a professora Marly e o professor Paolo sobre temas 
que eles ainda acreditam que sejam importantes de resgatar. O que os 
jovens estudantes e pesquisadores poderiam retomar ou investir mais 
para revisitar o Império, a Primeira República e a Era Vargas?
Para além disso, gostaria de fazer outra pergunta para a professora 
Miriam. Professora, parece-me injusta a má fama que a Primeira Re-
pública recebe quando se trata de reformas eleitorais. A literatura faz 
parecer que ocorreram muito mais reformas eleitorais durante a Pri-
meira República. Mas não foi no Império que se adotou e implemen-
tou muito mais reformas comparativamente à Primeira República?
M. A. V.: Também gostaria de aproveitar para fazer uma última per-
gunta para a professora Miriam. Achei interessantíssima essa conse-
quência citada durante a sua palestra — possivelmente imprevista 
pelas elites do regime representativo — de que teria ocorrido a dis-
seminação dos valores liberais, dos valores do próprio regime repre-
sentativo entre as camadas populares. Queria ouvi-la um pouco mais 
sobre isso. Sobretudo, sobre como conseguimos aferir empiricamente 
a incorporação desses valores.
Miriam Dolhnikoff: Bom, primeiro, eu acho que a pergunta mais di-
fícil é sobre as possíveis agendas de pesquisa. Acho que é tanta coisa… 
O que teve de comum aqui nas três falas é justamente a ideia de que 
o conhecimento se produz pelo questionamento do que está dado 
como conhecimento. Então, as agendas de pesquisa devem abrir no-
vas formas de compreensão. No caso do Império, falei das reformas 
eleitorais, mas há poucos estudos sobre a prática das eleições. No Im-
pério, a visão é sempre sobre “o clientelismo, a vontade do proprietá-
D e bate
45
rio”, e é uma pesquisa difícil, com documentação difícil, então acho 
que essa é uma agenda importante: analisar as eleições superando

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