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Parque Novo Santo Amaro V HIS1430 - História da Arquitetura no Brasil Ana Beatriz de Oliveira Breno Cardoso Brenda Perrett Conceituação do Partido Arquitetônico e Perfil do cliente e usuário 1 Parque Novo Santo Amaro V Local: Jardim Ângela, São Paulo, SP Data: 2009-2012 Cliente: Prefeitura de São Paulo / Consórcio Mananciais: Construbase + Engeform Programa: Programa Saneamento Ambiental dos Mananciais do Alto Tietê – Programa Mananciais Área de intervenção: 21.900 m² Área construída: 14.674,3 m² Unidades habitacionais: 201 unidades, 11 tipologias, 52,5 a 76,5 m² Ana Beatriz Contexto ● Na década de 1990, grande parte das favelas e loteamentos irregulares ganhou cada vez mais pessoas, abrigando aqueles que não tiveram acesso ao financiamento da moradia durante o regime militar com o Banco Nacional da Habitação (BNH); ● A solução tradicional encontrada para enfrentar o problema da habitação – compra de lote clandestino e periférico para a construção da casa própria individual pelo auto empreendimento; ● Em consequência, as favelas que em 1973 abrigavam apenas 1% da população paulistana, passaram a crescer diante da falta de alternativas habitacionais para a população de baixa renda e concomitantemente agravaram-se a lotação dos cortiços e a ocupação de áreas de risco e de zonas de proteção ambiental, como os mananciais; ● Surge o Programa de Proteção e Recuperação dos Mananciais da Prefeitura de São Paulo, fruto da revisão da Legislação de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo (LPM) de 1970; Ana Beatriz Contexto ● As novas diretrizes normativas que incidiram sobre as ocupações irregulares das áreas de preservação dos mananciais permitiram, em linhas gerais, a possibilidade de construção de novas unidades habitacionais dentro da própria área, unindo as políticas de âmbito ambiental e habitacional. Esse foi um avanço legislativo importante, considerando a complexidade e a precariedade instaurada, com os desafios de zelar pela qualidade da água e conter o adensamento populacional. Dessa forma, somente se tornou possível a construção desse conjunto residencial, paradigmático devido a tais condições de implantação. ● O escritório Vigliecca & Associados foi contratado pela Secretaria de Habitação do Município de São Paulo para desenvolver o projeto de provisão habitacional e requalificação urbana. A obra foi concluída em 2012, com recursos conjuntos da Prefeitura, do Governo do Estado e do Governo Federal. Ana Beatriz O projeto fez parte da diretriz da PMSP de remover e prover habitação, primeiramente para aqueles que se encontravam ocupando áreas de risco em situação muito precária e onde problemas ambientais colocavam a vida das pessoas em perigo. Assim era o cenário do local em que foi implantado o empreendimento, uma favela que ocupava terreno público, assentada em cima do córrego no fundo de vale, o qual recebia esgoto in natura e tinha as encostas ocupadas de maneira desordenada que constituíam parte do problema a ser sanado. Croqui do partido arquitetônico Planta de remoções dos 210 domicílios Ana Beatriz Robin Hood Gardens (1970) / Alison e Peter Smithson Parque Novo Santo Amaro V (2012) / Vigliecca & Associados Temas como o respeito à geografia e a solidariedade ao existente são particularidades ao modo de projetar do arquiteto Hector Vigliecca, influência do seu período de formação em 1968, quando o movimento moderno na arquitetura era revisado, e questões como o sítio eram de extrema relevância ao projeto. Diante dessa herança pós-moderna, o conjunto habitacional, tem como referência as obras do casal de arquitetos ingleses Smithsons que fizeram parte do Team X. Elementos estruturais advindos da ideologia dos Smithsons são reinterpretados na obra de Vigliecca, as circulações horizontais, pensadas como ruas por exemplo, articulam cotas de transposição dos pedestres, o edifício se torna uma parte da estrutura urbana. Ana Beatriz Robin Hood Gardens (1970) / Alison e Peter Smithson Parque Novo Santo Amaro V (2012) / Vigliecca & Associados Um outro ponto de pensamento do projetista, presente no projeto do Parque Novo Santo Amaro V, é a de que, para ele, o profissional "constrói urbanidades” através da intervenção no urbano com edifícios estruturadores, promovendo a superposição de uma nova estrutura sobre uma estrutura existente. A permeabilidade entre o existente -urbano-, e o novo- o edifício-, é feita através de espaços de transição caracterizados nas circulações horizontais e verticais. Nas suas obras as circulações são estruturas que se articulam ao tecido urbano; uma referência clara à proposta do casal inglês. Ana Beatriz Sua morfologia serpenteia longitudinalmente o território e sugere uma potencial continuidade a exemplo das megas estruturas propostas pelo grupo Team X. Proposta do conj. hab. Golden Lane (1952) / Alison e Peter Smithson Parque Novo Santo Amaro V (2012) / Vigliecca & Associados Ana Beatriz Parque Novo Santo Amaro V (2012) / Vigliecca & Associados Ilot Insalubre (1937) / Le Corbusier Ana Beatriz Espaço físico, Setorização e Partido Arquitetônico 2 ● Estabeleceu o eixo do edifício a partir do curso que o manancial realizava; ● Apesar do manancial ter sido canalizado, um espelho d’água foi criado para remeter aos mananciais que são característicos da região; ● O edifício é pensado de forma contínua e se estendendo ao longo de todo o terreno de forma única, contrapondo com as edificações presentes na região, que são em sua maioria pequenas casas que se aglomeram ocupando o menor espaço possível; Breno Cardoso ● Uma nova circulação alternativa às ruas é criada, ligando as extremidades do terreno e as ruas adjacentes Breno Cardoso ● Ao longo do percurso estabelecido, o parque busca criar relação e conexão com o redor, através de passagens, passarelas ou do paisagismo trabalhado ● A relação entre níveis é um fator determinante para essa integração, em alguns pontos a chegada ao terreno só é possível através de rampas e escadas, devido ao desnível muito acentuado ● Apesar da forma linear que o edifício se estrutura, ele busca criar nas fachadas variações de profundidade que podem remeter as construções vernaculares na região. Breno Cardoso ● Atravessamentos que buscam estabelecer uma conexão com o interior do parque para que o edifício não se torne um obstáculo, estas relações também acontecem através de escadas e passarelas Breno Cardoso A B C D E F A. Tipo 1 dois quartos B. Tipo 2 dois quartos C. Tipo 3 dois quartos D. Tipo 3 três quartos E. Tipo 1 duplex F. Tipo 2 duplex Plantas superiores Duplex Plantas Duplex Breno Cardoso Tipo 3 dois quartos Tipo 1 duplex ● A forma como as residências se distribuem através do longo edifício favorecem para uma boa iluminação e circulação do ar. ● Circulação dos moradores por passarelas e corredores externos criam uma relação mais forte com o entorno Breno Cardoso ● Quase como se estivesse sendo decomposta, a construção habitacional se acomoda à topografia existente mantendo o gabarito uniformemente baixo. Esse modo de inserção do projeto na malha urbana faz com que não haja conflitos com as preexistências do entorno, as diferentes alturas vão se adequando ao relevo harmoniosamente junto a horizontalidade do conjunto. Assim como o parque linear tinha como conceito primordial gerar o sentimento de identidade dos moradores, a estruturação do projeto ao longo da topografia também parece ter essa intenção. Brenda Perrett Tecnologia da Construção e Partido Arquitetônico 3 ● A estrutura do conjunto é em alvenaria estrutural com blocos de concreto. Esse sistema construtivo dispensa pilares e vigas, uma vez que as paredes portantes distribuem as cargas uniformemente ao longo da fundação. Esse tipo de alvenaria estrutural de blocos de concreto acaba simplificando o processo construtivo, uma vez que possui menos etapas,exige menos mão-de-obra, e o tempo de execução e o custo final é menor. ● É válido destacar que em edifícios de alvenaria estrutural, nem todas as paredes são portantes, podem existir alvenarias apenas com função de vedação. Brenda Perrett Sistema estrutural ● Exemplos de amarração de paredes: Brenda Perrett Sistema estrutural ● O graute é um tipo específico de concreto ou argamassa que tem o objetivo de preencher espaços vazios de blocos ou canaletas para aumentar a capacidade portante, ou seja, aumentar a resistência da alvenaria. ● Blocos tipo calha são preenchidos com graute e ferragem são utilizados para travamento da estrutura. ● Concreto. Brenda Perrett ● O revestimento externo é tinta texturizada. ● Estrutura metálica presente nas escadas, passarelas e esquadrias. Principais materiais Escadas ● As escadas de estrutura metálica nesse conjunto habitacional possuem 2 tipos de contraventamentos: o travamento em X e o travamento em Y. O contraventamento atua como uma estrutura auxiliar posicionada estrategicamente afim de dar mais estabilidade contra a ação do vento e para impedir a movimentação da estrutura de modo vertical e horizontal. Brenda Perrett Travamento em “X” Travamento em “Y” Passarela ● A passarela de estrutura metálica assume protagonismo ao servir como ponto de contato entre o projeto e a cidade. Ela permite o atravessamento da cidade pelo conjunto habitacional, sendo assim um dos fatores condicionantes para o partido do projeto. ● A passarela conta com 2 torres que possuem contraventamentos em “X”. Dessas torres partem tirantes que se conectam em um apoio centralizado no tabuleiro e no próprio tabuleiro. O conjunto das torres e dos cabos fazem a sustentação da passarela. Brenda Perrett ● As esquadrias possuem perfil metálico e são variadas, pode-se encontrar janelas que vão do chão ao teto, janelas altas, estreitas ou mais largas, de correr, de abrir, basculantes e fixas. Tendo isso em vista, não são fachadas inteiramente padronizadas. Brenda Perrett Esquadrias ● As janelas estreitas bem características da Europa não funcionam no Brasil por conta da incidência solar. Um estudo feito acerca da iluminação natural do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V comprova a ineficácia do uso dessas janelas, uma vez que não promovem iluminação adequada aos ambientes. Além disso, há cômodos que não possuem aberturas para o exterior da edificação, acarretando na deficiência de luz natural e ventilação. Brenda Perrett Esquadrias ● Nas áreas de circulação e de serviço, os elementos vazados permitem a entrada de iluminação natural e circulação de ar. Além disso, esses elementos quebram a dureza da materialidade do revestimento. Brenda Perrett Elementos vazados ● O conjunto habitacional não apresenta pavimentos iguais e repetitivos, possui diferentes tipologias de plantas baixas, ou seja, há uma variedade de apartamentos. Essa diversidade se reflete na fachada, que ganha movimento a partir dos cheios e vazios criados. Há planos da fachada que avançam enquanto outros recuam. Brenda Perrett Cheios e vazios ● O vazio gerado pela circulação vertical faz o intervalo entre o interior e exterior do conjunto evidenciando a intenção de transição das pessoas pelo projeto. ● Em determinados momentos o conjunto apresenta “portais” que conectam a cidade ao parque linear, deixando o térreo livre. Brenda Perrett Brenda Perrett Contraste materialidade ● Uma tinta texturizada reveste a estrutura de blocos de concreto do conjunto habitacional garantindo a durabilidade e facilidade de manutenção. A cor neutra é utilizada em todo o complexo e ao mesmo tempo em que a aridez da cor utilizada não desgasta a paisagem existente tão conhecida pelos moradores, gera um contraste nítido que chama a atenção. Análise Crítica 4 Ana Beatriz Imprecisão dos espaços privados e públicos ● Público por estar inserido em um parque urbano acessível a qualquer pessoa e é privado no âmbito da moradia. ● O arquiteto propõe o objeto arquitetônico como ente articulador e transformador da ordem local; ● Hipótese contestada, em vista das apropriações feitas pelos moradores anos mais tarde; ● Dezembro de 2012 - “Manual do Morador: Vivendo em Condomínio” Ana Beatriz Imprecisão dos espaços privados e públicos O projeto original previa acessos abertos ao público ao longo de toda sua extensão. Contudo, foram colocados portões e grades ao longo de todos os acessos. Estes permanecem parcialmente abertos ao longo do dia, mas inibem a circulação de visitantes. Corredores-varandas que dão acesso às habitações e são utilizados como espaços de circulação, encontro e permanência entre os moradores. Esses espaços também foram gradeados e os portões são fechados durante a noite, impedindo a circulação de pessoas. Portanto, o cuidado com o espaço coletivo não se estende para além da unidade habitacional. O gradeamento demonstra a ânsia dos moradores em definir os limites entre o público e privado e tornar espaços públicos em espaços coletivos condominiais, tal qual como acontece na produção habitacional no mercado. Dinâmicas Socioespaciais Diante da falta da dimensão urbana, ou seja, pouca disposição de infraestrutura básica como áreas verdes, parques e equipamentos de lazer se tornam raros em meio às necessidades primordiais da moradia. Nesse cenário de escassas atividades, é que se deu o uso intenso do parque linear do conjunto habitacional pela vizinhança e visitantes de outras partes da cidade. Apresentando-se como única alternativa de lazer das redondezas, se tornou um catalisador de encontros da região e isso trouxe alguns incômodos motivadores do fechamento do parque por parte dos moradores, pelo potencial de risco e ameaça à ordem urbana e ao bem-estar dos residentes. Resultando em um atravessamento de condutas formais e informais, e com isso surge um espaço público fechado, com códigos de convivência marcados por interesses presentes na vida cotidiana da periferia de São Paulo. São formas reais de ocupação não previstas no projeto arquitetônico, somadas pela imprecisão da propriedade e da falta de clareza do que é de uso coletivo privado e do que é de uso público da cidade. As intervenções posteriores observadas no conjunto estudado, mostram um desvio entre os desejos de projeto e a realidade social de cada local, que deveriam ser enfrentados com maior diálogo entre arquitetos, assistentes sociais e a comunidade. Brenda Perrett Qualidade dos espaços públicos O parque projetado na intenção de atender não somente aos moradores da edificação como também a comunidade do entorno, cria poucos espaços acolhedores para os moradores e principalmente para as crianças. A pavimentação árida com poucos trechos gramados somado aos vários degraus criados durante o percurso, não se tornam convidativos para a permanência do público em geral. O projeto do edifício também não contribui para um ambiente mais agradável no trecho público, que muitas vezes está entre um muro de contenção devido ao relevo irregular e o edifício que se assemelha bem mais a arquitetura europeia que propriamente a brasileira. Breno Cardoso Bibliografia VIGLIECCA, Hector; RUBANO, Lizete; RECAMÁN, Luiz. O TERCEIRO TERRITÓRIO, habitação coletiva e cidade. São Paulo, La mar em coche, 2014. GONÇALVES, T. S. ; DA MATA, Nathália ; PEREIRA, C. C. . Análise gráfica do projeto Conjunto Santo Amaro V. In: Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2019, Natal. Anais XVIII ENANPUR 2019, 2019. Projeto de Golden Lane. Autores: Allisson e Peter Smithson. Cronologia do Pensamento Urbanístico. Revista eletrônica UFBA. Disponível em: http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao. php?idVerbete=11. Acesso em 09/11/2022 Projeto Parque Novo Santo Amaro V. Autor: Hector Vigliecca. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/623191/residencial-parque-novo-santo-amaro-v-slash-vigliecca-and-associados/53ac22d7c07a80af89000002-novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-and-associados-photo. Acesso 09/11/2022. http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/parque-novo-santo-amaro-v https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7064 https://caubr.gov.br/expouia2021rio/vigliecca-associados-parque-novo-santo-amaro-v/ https://www.architectural-review.com/buildings/parque-novo-santo-amaro-v-in-sao-paulo-by-vigliecca-associados http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/parque-novo-santo-amaro-v https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/18.212/7064 https://caubr.gov.br/expouia2021rio/vigliecca-associados-parque-novo-santo-amaro-v/ https://www.architectural-review.com/buildings/parque-novo-santo-amaro-v-in-sao-paulo-by-vigliecca-associados
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