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ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 32 2. MATERIAIS O concreto armado é um material formado por dois outros materiais: o concreto e o aço. A seguir serão vistas algumas das propriedades de cada um dos materiais componentes e, também, do material resultante. 2.1. CONCRETO O concreto consiste em agregados inertes envolvidos por uma pasta feita com cimento Portland e água, que preenche os vazios entre os agregados, unindo-os. Após o endurecimento desta pasta através da reação química resultante da união do cimento com a água, forma-se o concreto. As propriedades mais importantes do concreto para as estruturas são: resistência à compressão, deformabilidade e durabilidade. 2.1.1. Resistência à compressão: Segundo Mehta & Monteiro (1994), “A resistência de um material é definida como a capacidade de este resistir à tensão sem ruptura”. A resistência do concreto à compressão, sua característica mais importante, é medida através de ensaios de compressão axial em corpos- de-prova, sendo esses ensaios utilizados para o controle de qualidade e a aceitação do concreto utilizado na estrutura. As Figuras 2.1a e 2.1b apresentam detalhes do ensaio de compressão axial em corpos-de-prova cilíndricos. (a) (b) Figura 2.1 – Detalhes de ensaio de compressão axial em corpos-de-prova cilíndricos de concreto. Fatores que interferem na resistência à compressão do concreto: a) Fator água/cimento - porosidade: Principal responsável pela resistência do concreto à compressão, o fator água/cimento mede a relação entre o peso da água e o do cimento utilizado no traço do concreto. Ele determina a porosidade do concreto endurecido, que por sua vez afeta na resistência do mesmo, visto que uma menor porosidade, ocasionada ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 33 por uma menor relação água/cimento, proporcionará uma maior área de contato entre os elementos, proporcionando assim uma maior resistência. b) Tipo de Cimento: O tipo de cimento utilizado no concreto em geral influi pouco na resistência à compressão definitiva do concreto, sendo mais utilizado para ajustar outras características do mesmo. Segundo Mehta & Monteiro (1994), “..., a influência da composição do cimento sobre a porosidade da matriz e a resistência do concreto fica limitada às baixas idades”. A Tabela 2.1 mostra esse efeito do tipo de cimento Portland sobre a resistência relativa do concreto a 1, 7, 28 e 90 dias. Tabela 2.1 – Resistência relativa aproximada do concreto segundo a influência do tipo de cimento (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Tipo de cimento Natureza Resistência à compressão (porcentagem em relação ao Tipo I ou concreto de cimento Portland comum) Portland ASTM1 1 dia 7 dias 28 dias 90 dias I Normal ou uso comum 100 100 100 100 II Calor de hidratação moderado e moderada resistência a sulfatos 75 85 90 100 III Alta resistência inicial 190 120 110 100 IV Baixo calor de hidratação 55 65 75 100 V Resistente a sulfatos 65 75 85 100 c) Cura: As condições de cura do concreto são especialmente importantes para a resistência à compressão do mesmo. A cura inadequada ou a alta temperatura pode ocasionar uma perda de água prematura do concreto, deixando espaços vazios, reduzindo assim a sua resistência. d) Idade do Concreto: A resistência do concreto à compressão cresce em função do tempo decorrido da concretagem, mais rapidamente nas primeiras idades e mais lentamente a partir do nonagésimo dia, vindo a se estabilizar, aproximadamente, após o primeiro ano de vida da estrutura. Os ensaios feitos no concreto levam em consideração a idade de 28 dias. A Tabela 2.2, apresentada pelo CEB-FIP CM 90 (1993) apud Süssekind (1981), fornece uma relação entre as resistências para várias idades e tipos de cimento. Tabela 2.2 - Variação da resistência do concreto à compressão (temperatura ambiente entre 15o e 20o C) (SÜSSEKIND, 1981). Idade do concreto (dias) 3 7 28 90 360 Cimento Portland Comum 0,40 0,65 1,00 1,20 1,35 Cimento Portland de Alta Resistência Inicial 0,55 0,75 1,00 1,15 1,20 1 ASTM – Americam Society for Testing and Materials: O cimento ASTM I corresponde aos cimentos brasileiros CP I e CP I-S; os ASTM II e ASTM V correspondem aos CP I-RS, CP I-S RS, CP II-E RS, CP II-Z RS, CP II-F RS, CP III RS e CP IV-RS; o ASTM III ao CP V-ARI; o ASTM IV não tem similar no Brasil. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 34 Segundo a NBR 6118 (2014) item 12.3.3, para idades inferiores a 28 dias, pode-se utilizar a seguinte expressão: ( ) cktsckckj feff .. ])/28(1[1 2/1−== 0,38 para concreto de cimento CP III e IV; onde: s = 0,25 para concreto de cimento CP I e II; 0,20 para concreto de cimento CP V – ARI. t é a idade efetiva do concreto em dias. e) Adensamento: O adensamento, feito imediatamente após o lançamento do concreto, tem a função de eliminar os vazios existentes no mesmo. Nos concretos estruturais, o adensamento é feito principalmente através de vibração, que deve ser feita tomando-se os devidos cuidados para evitar: pontos sem vibração (que provocarão surgimentos de vazios), segregação do material por meio de vibração exagerada, ou perda de aderência com a armadura. O adensamento do concreto no corpo-de-prova é feito de forma manual, por procedimentos definidos em norma. O adensamento feito fora destes padrões pode conduzir a resultados errôneos da resistência do concreto à compressão. f) Forma e dimensões do corpo-de-prova: A medida da resistência do concreto através de corpos-de-prova apresenta certas dificuldades de compatibilização com o comportamento da estrutura real. Uma destas dificuldades é o dimensionamento do corpo-de-prova, que deve ser tal que o diâmetro permita uma concretagem fácil, e a altura não pode ser excessivamente baixa para evitar um impedimento da deformação transversal, devido ao atrito das faces extremas com os pratos da prensa de ensaio. Baseado neste princípio, a norma brasileira e a maioria das normas internacionais recomendam a adoção de corpos- de-prova cilíndricos de 15 cm de diâmetro de base por 30 cm de altura. Existem ainda alguns países, como a Alemanha, que adotam corpos-de-prova cúbicos com 20 cm de aresta, encontrando resultados superiores aos dos cilíndricos, devido, sobretudo, ao atrito mencionado anteriormente. Correção da resistência à compressão Como foi citado, há diferenças entre o valor encontrado nos ensaios de compressão axial do corpo-de-prova e o valor de resistência que estará atuando nas estruturas. Essas diferenças são decorrentes de três fatores: o tamanho do corpo-de-prova; a velocidade de carregamento; e a idade do concreto. Para levar em conta a diferença de tamanho entre o corpo-de-prova cilíndrico de 15x30cm e as estruturas, admite-se um coeficiente de correção de 0,95, ou seja, a resistência da estrutura é 0,95 da resistência do corpo-de-prova. Para outras dimensões e formas de corpos-de-prova (cilíndrico 10x20cm; cilíndrico 5x10cm; prismático; cúbico, etc.) tem-se outros coeficientes. A resistência do concreto aumenta com o tempo, como indicado na Tabela 2.2. Para levar em conta a idade do concreto, admite-se que a resistência à compressão aumenta 20%, em um ano, em relação à resistência aos 28 dias, ou seja, fc,1ano=1,2 fck. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 35 A velocidade de carregamento de uma estrutura influi na sua resistência. Quanto mais rápido o carregamento maior a carga máxima, porém, mais acentuada é a queda. Segundo Rush2 apud Mehta & Monteiro (1994), “A resistência final do concreto é também afetada pela velocidade de carregamento. Devido à progressiva microfissuração sob cargas mantidas constantes, o concreto sofrerá ruptura a uma tensão menor do que a induzida por carregamento instantâneo ou rápido, normalmente utilizado em laboratório”. A Figura 2.2 apresenta esse efeito. Figura 2.2 – Relação entre as resistências sob carregamentorápido e lento (Rüsh apud MEHTA & MONTEIRO, 1994). Para levar em conta a velocidade de carregamento, admite-se que, a favor da segurança, a resistência obtida com um carregamento lento é 75% da resistência obtida em ensaios com carregamento rápido. Levando-se em conta os três fatores, tem-se que: fck,projeto = 0,95 * 1,2 * 0,75 * fck = 0,85 fck,ensaio Determinação do fck do concreto A determinação da resistência do concreto é feita através de tratamento estatístico dos resultados dos ensaios realizados em um número suficiente de corpos de prova (CP), definido através de normas. Os resultados dos ensaios obedecem aproximadamente a uma curva normal de distribuição de frequências ou Curva de Gauss, com as abcissas representando os valores da resistência do corpo-de-prova correspondentes a uma frequência, marcada nas ordenadas, como pode ser visualizado na Figura 2.3. 2 Rüsh, H – J. ACI, Proc., Vol. 57, No. 1, 1960. Fator de correção ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 36 = = = (CP) ensaios de número n absuluta Freqência F onde , n F fr i ordem de CP do aresistênci concreto do média resisência = == ci ci cm f n f f Figura 2.3 - Curva de Gauss. Através desta curva, encontramos a resistência característica do concreto (fck), considerada como sendo o valor que tem 95% de probabilidade de ser igualado ou superado. Matematicamente, através da curva de Gauss temos que: 1n )ff( concreto do qulidade Indica amostra. da dispersão da Medida Padrão Desvio 65.1ff n 1i 2 cmci cmck − − = →= −= = EXERCÍCIO 2.1: Foram ensaiados dez corpos-de-prova de concreto à compressão axial, cujos resultados são apresentados a seguir. Determinar o fck (MPa) do concreto analisado. n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 fci 28 30 26 30 29 35 30 31 30 31 Quando não possuímos os dados dos ensaios, apenas o valor de fcm, o desvio padrão pode ser arbitrado através de recomendações da Norma, variando de 4 MPa até 7 MPa, como segue: • 4 MPa: Utilizado quando houver um tecnologista a serviço da obra, e todos os materiais forem medidos em peso; • 5,5 MPa: Utilizado quando houver um tecnologista a serviço da obra, o cimento for medido em peso, e os demais agregados em volume. Este volume deve ser corrigido em função da umidade, previamente determinada, assim como a quantidade de água; • 7 MPa: Utilizado quando o cimento for medido em peso e os demais agregados em volume, sendo apenas a quantidade de água corrigida em função de um valor de umidade estimado. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 37 Por exemplo, para um concreto com fcm=30 MPa, os valores para as resistências características (fck) utilizando os valores de desvio padrão citados anteriormente são: fck,=4 = 23,4 MPa; fck2,=5,5 = 20,9 MPa; fck3,=7 = 18,4 MPa Analisando o problema sob outra ótica, pode-se dizer que, para que se obtenha um concreto com resistência característica à compressão (fck) de 30 MPa, a depender do tipo de execução que se tenha, os valores das resistências de dosagem (fcm) teriam que ser os seguintes: fcm,=4 = 36,6 MPa; fcm2,=5,5 = 39,1 MPa; fcm3,=7 = 41,6 MPa Logo, conclui-se que um concreto de mais qualidade é também mais barato, uma vez que a sua resistência de dosagem é menor. Módulo de elasticidade O Módulo de elasticidade (Ec) é a relação entre a tensão atuante e a deformação longitudinal resultante desta tensão. Por esta definição, temos que seu valor em um determinado ponto M (Figura 2.4), deve ser dado por: McM tgE = Figura 2.4 – Diagrama Tensão versus Deformação do concreto. Levando em consideração que a adoção de coeficientes de segurança impostos ao cálculo das estruturas faz com que, em serviço, o concreto trabalhe com uma tensão fs não superior a 40% da sua tensão de ruptura e que da origem até o ponto de tensão fs, a inclinação não varia significativamente, podemos tomar como módulo de elasticidade tangente para este trecho, o valor em sua origem: 00c tgE = Segundo a NBR 6118 (2014) item 8.2.8, “quando não forem realizados ensaios, pode-se estimar o valor do módulo de elasticidade inicial usando as expressões a seguir:” ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 38 ckEci fE .5600.= para fck de 20 a 50 MPa; para fck de 55 a 90 MPa. sendo onde Eci e fck são dados em megapascal (MPa) O módulo de deformação secante pode ser obtido segundo método de ensaio estabelecido na ABNT NBR 8522, ou estimado pela expressão: Ecs = αi . Eci sendo A tabela 8,1 da NBR 6118 (2014) apresenta valores estimados arredondados de Módulo de elasticidade em função do fck que podem ser usados no projeto estrutural, considerando uso de granito como agregado graúdo Classe de resistência C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50 C60 C70 C80 C90 Eci (GPa) 25 28 31 33 35 38 40 42 43 45 47 Ecs (GPa) 21 24 27 29 32 34 37 40 42 45 47 αi 0,85 0,86 0,88 0,89 0,90 0,91 0,93 0,95 0,98 1,00 1,00 O módulo de elasticidade de uma idade menor do que 28 dias pode ser avaliado pelas expressões a seguir, substituindo fck por fcj: para concretos com fck de 20 a 45 MPa; para concretos com fck de 50 a 90 MPa; é a estimativa do módulo de elasticidade do concreto em uma idade entre 7 e 28 dias; é a é a resistência à compressão do concreto na idade em que se pretende estimar o módulo de elasticidade, em megapascal (MPa). 3 1 3 25,1 10 105,21 += ckEci f xE arenito7,0 calcário9,0 gnaisseegranito0,1 diabásioebasalto2,1 →= →= →= →= E E E E 0,1 80 .2,08,0 += cki f ( ) 5,0 )( = ck ckj ci f tf tE ( ) 3,0 )( = ck ckj ci f tf tE )(tEci )(tfckj ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 39 Coeficiente de Poisson O coeficiente de deformação transversal, ou coeficiente de Poisson () representa a relação entre as deformações transversais e longitudinais na peça (Figura 2.5). Varia entre 0,15 e 0,25, sendo sugerido pela NBR 6118 (2014) o valor constante de 0,20, devido a pequena variação que estes valores representam nos cálculos. Esse valor, entretanto, válido para tensões de compressão menores que 0,5fc e tensões de tração menores que fct. Figura 2.5 – Coeficiente de Poisson. = tg Valor aproximado = 0,20 Diagrama Tensão versus Deformação simplificado De forma a estabelecer um critério de dimensionamento comum aos concretos com diferentes resistências à compressão com que se trabalha na prática, havia a necessidade de um diagrama ideal, mesmo que simplificado, para possibilitar a sua aplicação numérica. A partir dos ensaios realizados por E. Grasser, com diferentes resistências de concreto (fr entre 17 e 34 MPa), feitos para cargas de curta duração, comprovou-se que a tensão máxima ocorre com uma deformação específica da ordem de 0,2%, atingindo a ruptura com uma deformação média em torno de 0,35%. Com esses dados, a maioria das normas, inclusive a NBR 6118 (2014) e o CEB-FIP CM 90 (1993), recomenda a utilização do diagrama simplificado parábola-retângulo (Figura 2.6) no dimensionamento do concreto normal para carregamentos de curta duração. Porém, para tensões de compressão menores que 0,5.fc, admiti-se uma relação linear entre tensões e deformações, adotando-se para o módulo de elasticidade o valor do módulo secante (Ecs). ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 40 −−= n c c cdc f 2 11.85,0 Para fck ≤ 50MPa: n = 2 Para fck ˃ 50MPa:n= 1,4 + 23,4 [(90-fck)/100] 4 Figura 2.6 – Diagrama tensão-deformação idealizado (NBR 6118, 2014). Os valores para serem adotados para os parâmetros ec2 (deformação específica de encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e ecu (deformação específica de encurtamento do concreto na ruptura) são definidos a seguir: - para concretos de classes até C50: ɛc2 = 2,0‰; ɛcu = 3,5‰; - para concretos de classes C55 até C90: ɛc2 = 2,0‰ + 0,085‰ . (fck -50) 0,53; ɛcu = 2,6‰ + 35‰ . [(90 - fck)/100] 4; 2.1.2. Resistência à tração A resistência à tração do concreto é relativamente baixa, girando em torno de 8 a 15% da sua resistência à compressão. Além disso, é muito mais difícil mensurar o seu valor, pois este varia muito, a depender do ensaio realizado, além das variações pelo tipo do agregado, pela resistência à compressão e pela presença de uma tensão de compressão transversal a tensão de tração. Os ensaios para a determinação da resistência à tração do concreto são: ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 41 Ensaio de tração direta: Consiste em tracionar um corpo-de-prova (CP) cilíndrico de concreto, como mostrado na Figura 2.7. Este tipo de ensaio possui grandes dificuldades de realização pela forma de colocação do corpo-de-prova na prensa. Quando da aplicação da carga, pode ocorrer um esmagamento nas extremidades do CP, comprometendo o ensaio. A Ft t = Figura 2.7 - Ensaio de tração direta A NBR 6118 (2014) intitula essa variável de fct. Ensaio de tração indireta ou tração na flexão: Esse ensaio é feito com a utilização de um corpo-de-prova prismático, com seção transversal de 15 cm x 15 cm e comprimento de 75 cm, que é submetido à aplicação de carga transversal nos terços médios entre os apoios, conforme Figura 2.8. A NBR 6118 (2014) intitula essa variável de fct,f, e estabelece a seguinte relação: fct = 0,7 fct,f. Figura 2.8 - Ensaio de tração indireta. I yM 3 LP M máxr r r = = Ensaio de compressão diametral: Ensaio mais utilizado para a determinação da resistência à tração do concreto, é também chamado na literatura internacional de Ensaio Brasileiro, por ter sido idealizado pelo pesquisador brasileiro F. L. Lobo Carneiro. Este ensaio consiste na aplicação de um carregamento em duas arestas diametralmente opostas de um corpo de prova cilíndrico de 15 cm de diâmetro por 30 cm de altura, conforme mostrado na Figura 2.9a. Devido à aplicação desta carga de compressão, surgem tensões de tração praticamente constantes na direção perpendicular ao carregamento (Figura 2.9b). ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 42 Figura 2.9 - Ensaio de tração por compressão diametral. Caso as tensões de tração fossem constantes: dh F2 t = Correção devido a existência da compressão: dh F55,0 t = A NBR 6118 (2014) intitula essa variável de fct,sp, e estabelece a seguinte relação: fct= 0,9 fctsp. Fórmulas empíricas: Como os projetos de estruturas são desenvolvidos apenas a partir do fck do concreto, torna-se necessária a utilização de expressões confiáveis para determinação da resistência característica do concreto à tração (fctk), sendo estas expressões sugeridas pela NBR 6118 (2014), a partir de dados experimentais para concretos normais, como: mctctkmctctk ffff ,sup,,inf, 3,17,0 == - para concretos de classes até C50: 3/2 , 3,0 ckmct ff = - para concretos de classes C55 até C90: )11,01(ln12,2, ckmct ff += onde fct,m e fck são expressos em megapascal (MPa). Sendo fckj ≥ 7 MPa, estas expressões podem também ser usadas para idades diferentes de 28 dias. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 43 2.1.3. Retração / expansão A retração e a expansão são deformações volumétricas do concreto, independentes de carregamento e direção. Estas variações ocorrem devido à perda (retração) ou a absorção (expansão) de água por parte do concreto. A intensidade do fenômeno varia de acordo com a umidade do ambiente, a espessura da peça, e o fator água/cimento da mesma. No processo de retração, a água é inicialmente expulsa das fibras externas do concreto, criando deformações diferenciais que, por sua vez, geram tensões capazes de provocar fissuração em peças de concreto armado, e perda de tensão em cabos de peças em concreto protendido. Para minimizarem-se os efeitos da retração, deve ser efetuado um processo de cura no concreto, por pelo menos sete dias, de forma que a umidade existente ao seu redor impeça a perda de água do interior do mesmo. No caso de estruturas com comprimento muito elevado, somente a cura não é suficiente para se evitar a retração, devendo então este comprimento ser reduzido, através de juntas de concretagem, que pode ser definitiva (gerando estruturas distintas), ou provisórias, que serão preenchidas após o processamento da parcela principal de retração. 2.1.4. Variação de temperatura Uma peça submetida a uma variação uniforme de temperatura t ºC terá uma deformação axial dada pela expressão: tct = , onde é o coeficiente de dilatação térmica do material. Para o caso do concreto, a NBR 6118 (2014) recomenda a adoção do valor de 10-5/ºC para o coeficiente de dilatação térmica, . A variação de temperatura pode ser ocasionada por dois fatores: • Meio ambiente; • Calor de hidratação, em estruturas com grande volume de concreto, como o caso das barragens. Para minimizarem-se os efeitos da temperatura, deve-se: • Prever juntas de dilatação na estrutura, de tal forma que as dimensões da estrutura entre as juntas seja sempre inferior a 30 m; • Considerar os efeitos de temperatura nos cálculos da estrutura. 2.1.5. Fluência (deformação lenta) É o aumento da deformação, sem que haja uma mudança no carregamento da peça. Consideremos, segundo Süssekind (1981), a peça de concreto representada na Figura 2.10, carregada axialmente com uma tensão de compressão constante ao longo do tempo, de valor c. No instante de aplicação do carregamento, ela sofrerá uma deformação imediata ci, gerando uma redução no volume da peça. Esta redução provocará o deslocamento da água quimicamente inerte existente no interior do concreto para regiões onde a mesma já tenha evaporado, desencadeando um processo análogo à retração, aumentando a deformação até um máximo de ct no tempo infinito. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 44 Figura 2.10 - Deformações em uma peça de concreto (SÜSSEKIND, 1981). A fluência varia com: • Umidade do Ambiente Quanto mais seco o ambiente, maior a fluência do concreto; • Espessura da peça Maior fluência em peças menos espessas, com mais área exposta; • Prazo de desforma Quanto mais jovem o concreto no momento do carregamento, maior a deformação lenta; • Composição do concreto A fluência aumenta com o aumento do fator água/cimento e do consumo de cimento na peça. Como efeitos favoráveis da fluência no concreto, temos o alívio das concentrações de tensões e dos esforços de deformações impostas à estrutura, como a retração. São efeitos desfavoráveis o aumento da flecha e da curvatura dos pilares com cargas excêntricas, provocando um acréscimo na excentricidade inicial; a perda de tensão em cabos de peças em concreto protendido. 2.1.6. Estanqueidade, isolamento térmico e acústico Segundo Süssekind (1981), a estanqueidade do concreto só pode ser considerada razoável quando a peça tem um baixo fator água/cimento, granulometria bem determinada e espessura superior a 20 cm, além do procedimento de uma vibração cuidadosa. Em geral, principalmente no concreto fissurado, a estanqueidade só é conseguida com a utilização de impermeabilizantes. Geralmente, o produto impermeabilizante é ao mesmo tempo um isolante térmico, devido ao fato de o concreto proporcionar um isolamento térmico muito deficiente, em comparação com outros materiais de construção. Ainda segundoSüssekind (1981), quanto ao isolamento acústico, temos duas situações distintas: ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 45 • Os ruídos que são trazidos pelo ar, em ondas sonoras de baixa energia, não produzem vibração no concreto, comportando-se este como um excelente isolante acústico; • Quando o ruído é provocado pelo contato com o concreto (um móvel arrastado, por exemplo), o concreto vibra com grande intensidade, sendo aconselhável a utilização de revestimentos acústicos em pisos e paredes. 2.1.7. O comportamento do concreto Antes de mostrarmos o comportamento do concreto, vamos fazer uma revisão sobre o comportamento dos materiais: a) Comportamento Elástico (Figura 2.11) Tem a capacidade de recuperar integralmente a deformação introduzida. Figura 1.11 - Comportamento elástico. l l = b) Elasticamente Perfeito ou elástico-linear (Figura 2.12) Material que segue a Lei de Hooke. Figura 2.12 - Comportamento elasticamente perfeito. = .E ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 46 c) Comportamento Plástico (Figura 2.13) Quando os efeitos da deformação introduzida são permanentes. Figura 2.13 - Comportamento plástico. d) Para o concreto temos (Figura 2.14): Figura 2.14 - Comportamento do concreto. Tipos de deformação • Que dependem do carregamento = Fluência plástica Lenta elástica Lenta plástica Imediata elástica Imediata • Que independem do carregamento ra temperatude ãopor variaç Causadas xpansãoretração/epor Causadas Ensaio de deformação do concreto: O ensaio representado pelos gráficos a seguir (Figura 2.15) demonstra o comportamento do concreto ao longo do tempo, sofrendo cargas e descargas em sequência. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 47 Figura 2.15 - Ensaio do comportamento do concreto. OA Deformação Imediata O’A Deformação elástica imediata OO’ Deformação plástica imediata BC Deformação imediata CD Deformação lenta (alguns materiais não a apresentam) DE Deformação elástica imediata EF Deformação elástica lenta BF = Deformação plástica lenta EXERCÍCIO 2.2: Determinar o histórico de deformações para o ensaio indicado na Figura 2.16, sabendo-se que: • Para F0 a recuperação elástica é de 50%; • Não há deformação lenta nos intervalos (t1-t2) e (t3-t4); • Há deformação lenta plástica nos intervalos (t2-t3) e além de t4. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 48 Figura 2.16 – Histórico do carregamento para o corpo-de-prova de concreto. 2.2. AÇO O aço empregado em barras nas peças de concreto armado é uma liga constituída principalmente de ferro e carbono, à qual são incorporados outros elementos para melhoria das propriedades. O aço é usado em conjunto com o concreto com a finalidade principal de resistir aos esforços de tração, que não são suportados pelo concreto. Segundo a NBR 6118 (2014), a massa específica dos aços para concreto armado pode ser tomada como =7850kg/m3. O valor do coeficiente de dilatação térmica do aço, para intervalos de temperatura entre –20oC e 150oC, pode ser considerado de =10-5/oC. 2.2.1. Processos de fabricação e diagramas Tensão versus Deformação: a) Aço tipo A: É o aço de dureza natural, no qual a mistura de ferro com carbono é laminada à quente, sem qualquer tratamento posterior. Os aços desta categoria apresentam um patamar de escoamento bem caracterizado, tendo seu diagrama Tensão versus Deformação real representado na Figura 2.17a. Na Figura 2.17b é representado o diagrama simplificado ou padronizado, a ser considerado no dimensionamento, tendo como limite uma deformação de s=10 000 para o alongamento, a fim de se evitar a deformação excessiva da peça. fyk Limite de escoamento característico; aquele que tem 95% de chance de ser ultrapassado; yk = s yk E f Deformação unitária limite de escoamento; Es = tg Módulo de deformação longitudinal do aço. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 49 (a) Diagrama Real (b) Diagrama Simplificado Figura 2.17 - Diagramas Tensão versus Deformação para o aço tipo A. b) Aço tipo B: Os aços desta categoria são, após a laminação à quente, encruados por deformação a frio (torção, tração, trefilação, etc.). Estes aços não têm patamar de escoamento definido, sendo adotado um “limite convencional de escoamento”, fyk, como a tensão sob a qual, sendo descarregada a peça, reste uma deformação de 2 000 . Os ensaios mostram ainda que até o valor de 0,7fyk, o diagrama se mantém retilíneo, sendo caracterizado um regime elástico nesta fase. Na figura 2.18b, vemos o diagrama tensão deformação simplificado proposto para o dimensionamento, no qual se fez uma concordância parabólica para as tensões no intervalo entre a fase elástica e o limite convencional de escoamento. (a) Diagrama Real (b) Diagrama Padronizado Figura 2.18 – Diagramas Tensão versus Deformação para o aço classe B. fyk Limite de escoamento convencional; tensão correspondente a uma deformação residual de 2 000 ; yk = s yk E f +2 000 Deformação unitária limite de escoamento; 0,7fyk Limite de proporcionalidade; ponto até onde é válida a Lei de Hooke (comportamento perfeitamente elástico). Para o cálculo nos estados-limite de serviço e último, pode-se utilizar o diagrama simplificado mostrado na figura 2.19 para os aços com ou sem patamar de escoamento de acordo com a NBR 6118 (2014) ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 50 Figura 2.19 - Diagrama tensão x deformação para aços de armaduras passivas - NBR 6118 (2014) Obs.: Para todos os aços utilizados em concreto armado, seja ele classe A ou B, o ângulo é sempre constante (Figura 2.20), sendo então constante o valor de Es, que é dado por: Es = 210.000MPa (2.100.000 kgf/cm 2) Figura 2.20 - Diagrama Tensão versus Deformação para aços de diferentes tipos 2.2.2. Classificação quanto ao limite de escoamento O limite de escoamento dos aços empregados em concreto armado varia entre 250 MPa (2.500 kgf/cm2) e 600MPa (6000 kgf/cm2), sendo sua nomenclatura baseada neste limite de escoamento, seja ele real ou convencional, sendo feita a notação da seguinte forma: CA–50 A, em que: • CA Tipo de concreto no qual será aplicado, sendo CA correspondente a concreto armado; • 50 Limite de escoamento (fyk) em Kgf/mm2; • A Classe do aço. Comercialmente, até há alguns anos atrás, os aços fabricados eram os seguintes: CA – 25 A CA – 32 A CA – 40 A CA – 40 B CA – 50 A CA – 50 B CA – 60 B ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 51 Segundo a NBR 7480 (2007), a classificação se reduz às três categorias abaixo, sendo, porém, permitido que se utilize categorias diferentes. CA – 25 A CA – 50 A CA – 60 B 2.2.3. Dimensões O aço é vendido em forma de barras (para aços com ≥ 5mm) e fios ( ≤10mm). Os fios são vendidos em rolos e as barras possuem comprimento de 12 m, sendo limitado por norma a tolerância de 1%. As Tabela 2.3 e 2.4 apresentam respectivamente as características dos fios e barras mais utilizados no mercado brasileiro. Tabela 2.3 – Características dos fios, segundo a NBR 7480 (2007). Diâmetro nominal mm Massa tolerância por unidade de comprimento Valores nominais Fios Massa nominal kg/m Máxima variação permitida para massa nominal Área da seção mm2 Perímetro mm 2,4 0,036 ±6% 4,5 7,5 3,4 0,071 ±6% 9,1 10,7 3,8 0,089 ±6% 11,3 11,9 4,2 0,109 ±6% 13,9 13,2 4,6 0,130 ±6% 16,6 14,5 5,0 0,154 ±6% 19,6 15,7 5,5 0,187 ±6% 23,8 17,3 6,0 0,222 ±6% 28,3 18,8 6,4 0,253 ±6% 32,2 20,1 7,0 0,302 ±6% 38,5 22,0 8,0 0,395 ±6% 50,3 25,1 9,5 0,558 ±6% 70,9 29,8 10,0 0,617 ±6% 78,5 31,4 ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 52 Tabela 2.4 – Características das barras, segundo a NBR 7480 (2007). Diâmetro nominal mmMassa tolerância por unidade de comprimento Valores nominais Barras Massa nominal kg/m Máxima variação permitida para massa nominal Área da seção mm2 Perímetro mm 6,3 0,245 ±7% 31,2 19,8 8,0 0,395 ±7% 50,3 25,1 10,0 0,617 ±6% 78,5 31,4 12,5 0,963 ±6% 122,7 39,3 16,0 1,578 ±5% 201,1 50,3 20,0 2,466 ±5% 314,2 62,8 22,0 2,984 ±4% 380,1 69,1 25,0 3,853 ±4% 490,9 78,5 32,0 6,313 ±4% 804,2 100,5 40,0 9,865 ±4% 1256,6 125,7 Obs.: Não é aconselhável o uso de diâmetros inferiores a 5 mm, pois por serem muito finos, o seu manuseio na obra pode gerar deformações que comprometam o seu funcionamento. 2.2.4. Classificação quanto ao tipo de superfície aderente Os fios e as barras de aço podem ser lisos, entalhados ou providos de saliências ou mossas. A configuração e a geometria das saliências ou mossas devem satisfazer também o que é especificado na ABNT NBR 6118 (2014). A capacidade aderente entre o aço e o concreto está relacionada ao coeficiente 1, que indica a maior ou menor aderência entre o concreto e o aço, de acordo com presença ou não de nervuras.. A NBR 6118 (2014) fornece a seguinte tabela (Tabela 2.5) com os valores do coeficiente de aderência 1 para os aços usuais. Tabela 2.5 – Valor do coeficiente de aderência 1 (NBR 6118, 2014). Tipo de superfície 1 Lisa 1,0 Entalhada 1,4 Nervurada 2,25 A NBR 7480 (2007) estabelece que as barras da categoria CA-50 são obrigatoriamente providas de nervuras transversais oblíquas, conforme a figura 2.20. As barras devem possuir pelo menos duas nervuras longitudinais e diametralmente opostas que impeçam o giro da barra dentro do concreto, exceto no caso em que as nervuras transversais oblíquas estejam dispostas de forma a se oporem a este giro. Esta mesma norma (item 4.2.1) trás uma série de indicações sobre inclinação das nervuras, altura, espaçamento, etc. (figura 2.21) ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 53 Os fios (CA-60) podem ser lisos, entalhados ou nervurados. Os fios de diâmetro nominal igual a 10,0 mm devem ter obrigatoriamente entalhes ou nervuras. As barras de categoria CA-25 devem ter superfície obrigatoriamente lisa, desprovida de quaisquer tipos de nervuras ou entalhes, Neste caso o coeficiente de conformação superficial para todos os diâmetros deve ser adotado igual a 1 ( =1). Figura 2.21 – Exemplo de configuração geométrica com nervuras transversais oblíquas em dois lados da barra e nervuras longitudinais segundo NBR 7480 (2007). A Figura 2.22 apresenta alguns tipos de nervuras encontradas nas barras de aço. Figura 2.22 – Tipos de conformação superficial de barras de aço (FERGUSON et al, 1988). 2.2.5. Exigências de qualidade Segundo Süssekind (1981), para recebimento de um lote de barras de aço na obra, devemos nos certificar de sua qualidade, que deve ser verificada através de ensaios normalizados. No ensaio de tração, deve ser verificado o limite de escoamento fyk, além do alongamento mínimo de ruptura. No ensaio de dobramento é verificada a trabalhabilidade das barras de aço, que serão dobradas para a execução de ganchos na obra. Existe ainda o ensaio de aderência, para verificar o coeficiente de conformação superficial (). A Tabela 2.6 apresenta as características mecânicas exigidas para as barras de aço empregadas nas peças em concreto armado. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 54 Tabela 2.6 – Propriedades mecânicas exigíveis para barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado (NBR 7480/07) Categoria Valores mínimos de tração Ensaio de dobramento a 180o Aderência Diâmetro do pino mm Coeficiente de conformação superficial mínimo Resistência característica de escoamentoa fyk MPae Limite de resistênciab fst MPaf Alongamento após a ruptura em 10ϕc A % Alongamento total na força máximad Agt % ϕ < 20 ϕ ≥ 20 ϕ < 10mm ϕ ≥ 10 mm CA-25 250 1,20fy 18 - 2 ϕ 4 ϕ 1,0 1,0 CA-50 500 1,08fy 8 5 3ϕ 6ϕ 1,0 1,5 CA-60 600 1,05fy c 5 - 5ϕ - 1,0 1,5 a Valor característico do limite superior de escoamento fyk da ABNT NBR 6118 obtido a partir do LE ou δe da ABNT NBR ISO 6892. b O mesmo que resistência convencional à ruptura ou resistência convencional à tração (LR ou δt da ABNT NBR ISO 6892) c ϕ é o diâmetro nominal, conforme item 3.4 da NBR 7180 d O alongamento deve ser atendido através do critério de alongamento após a ruptura (A) ou alongamento total na força máxima (Agt) e Para efeitos práticos de aplicação desta Norma, pode-se admitir 1 MPa = 0,1 kgf/mm2 f fst mínimo de 660 MPa. 2.2.6. Fadiga do Aço Segundo Süssekind (1981), os estudos realizados sobre o comportamento do aço empregado em peças de concreto armado submetidas a solicitações alternadas, como no caso de pontes, chegou aos seguintes resultados: • Para aços CA – 25 e CA – 32, não há qualquer problema de diminuição de resistência; • As barras de aços CA – 40, CA – 50 e CA – 60 registram problemas de diminuição de resistência para cargas alternadas. Esse problema pode ser minorado com a utilização de nervuras inclinadas nas barras, no lugar de nervuras perpendiculares ao eixo, além do uso de nervuras transversais não ligadas com as longitudinais ao longo de toda a seção. Por conta disso, essas barras de aço devem ter nervuras que, ao mesmo tempo que assegurem o grau de aderência, minimizem os problemas de fadiga do material. A NBR 6118 (2014) traz considerações sobre a fadiga no item 23.5.5. EXERCÍCIO 2.3: Para os aços CA 40 A e B, determine: a) fyk b) yk c) s para s=0,5 000 d) s para s=3 000 e) s para s=6 000 ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 55 2.3. CONCRETO ARMADO O uso do concreto e do aço em conjunto, formando o concreto armado deve acontecer de tal forma que as melhores qualidades de cada um dos materiais isoladamente sejam aproveitadas, e um possa suprir as deficiências do outro. Dessa forma, segundo Süssekind (1981), devem ser verificados os tópicos descritos a seguir. 2.3.1. Comportamento elétrico O concreto seco é um bom isolante elétrico, porém, quando úmido e sob a ação contínua de corrente elétrica pode ser atacado pela eletrólise. Este ataque não tem grandes repercussões no concreto, porém, a ação da eletrólise favorece a corrosão das armaduras. Por estas razões, em estruturas que ficarão em contato com correntes elétricas, como o caso de ferrovias e metrôs, deve haver um isolamento elétrico entre as linhas elétricas e a estrutura. 2.3.2. Defesa contra agentes químicos O perigo dos agentes químicos na estrutura é a corrosão das armaduras. Este fato é contornado no concreto armado com a utilização de cobrimentos mínimos de concreto, de forma a impedir o contato destes agentes com a armadura, além da proteção química da cal livre formada durante a pega do concreto. Deve-se evitar, no entanto, a presença de certos materiais que causam oxidação no aço (halogenetos e sulfatos), além de certos limites previstos em norma, nos agregados e água de amassamento do concreto, pois eles eliminam a proteção química proporcionada pela cal. 2.3.3. Resistência às altas temperaturas O aço, quando elevado a altas temperaturas (acima de 550oC), começa a sofrer uma diminuição na sua resistência, devendo desta forma ser protegido conforme segue: Adoção de maiores espessuras de cobrimento Quando houver a necessidade de uma estrutura resistente a altas temperaturas, deve ser utilizado um cobrimento maior, de forma a haver uma maior dissipação do calor no concreto, evitando que a armadura atinja sua temperatura crítica. Formas geométricas e dimensões do elemento estrutural Está provado por ensaios, que as estruturas mais esbeltas são menos resistentes ao fogo, pelo fato de as mesmas possuírem mais área de contato, proporcionando um aquecimento mais rápido. Desta forma, são definidos limites mínimos de dimensãopara os elementos em concreto armado. Tipo de concreto Os concretos com agregados calcários proporcionam um maior isolamento térmico que aqueles com agregados silícicos, devendo ser adotados quando se for obrigado a enfrentar altas temperaturas. ENG 004 – Estruturas de Concreto Armado 56 Tipo de armadura Como já foi relatado anteriormente, a armadura perde resistência mecânica quando sua temperatura crítica é ultrapassada. A resistência dos aços da classe B é a mais afetada quando da exposição à altas temperaturas, sendo este material desaconselhável nesta situação. Tipo de construção e estaticidade da estrutura As estruturas hiperestáticas são mais aconselháveis para o caso de contato com altas temperaturas, pois, nesse caso, a ação das deformações impostas pelo aumento da temperatura tende a provocar redistribuições de esforços, utilizando reservas de resistência capazes de aumentar a segurança da estrutura ao incêndio. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118 (2014) – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7480 (2007) – Barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado – Especificação. Rio de Janeiro, 2007. CEB-FIP – Comité Euro-International du Béton. CEB-FIP Model Code 1990. Bulletin d’Information, no 203-205, 1993. FERGUSON, P. M.; BREEN, J. E.; JIRSA, J. O. – Reinforced concrete fundamentals. John Wiley & Sons, 1988. MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. – Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo: PINI, 1994. SÜSSEKIND, J. C. – Curso de concreto (concreto armado). Vol. 1, 2a ed., Ed. Globo, Rio de Janeiro, 1981. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118 (1978) – Projeto e execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro, 1978. ACI – American Concrete Institute. ACI-318 R-02 – Building code requirements for reinforced concrete and commentary. Detroit, 2002. Fib – Fédération Internationale du Béton. Structural concrete: textbook on behaviour, design and performance. Vols. I e II. Sprint-Druck, Suíça, 1999. FUSCO, P. B. – Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo, PINI, 1995. MACGREGOR, J. G. – Reinforced concrete: mechanics and design. Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice-Hall, 1988. PINHEIRO, L. M.; GIONGO, J. S. – Concreto armado: propriedades dos materiais. EESC-USP, 1986.