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LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA E ATUAÇÃO DO INTERPRETE NO MERCADO DE TRABALHO Belo Horizonte Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 INTRODUÇÃO http://3.bp.blogspot.com/_DzYdGSWQlDk/TLC1N1dVXOI/AAAAAAAAAvM/OPsstFrcUR4/s160 0/INTERPRETE.jpg Segundo o dicionário Aurélio, intérprete é a pessoa que serve de intermediário para fazer compreender indivíduos que falam diferentes idiomas. Essa apostila pretende retratar sobre a importância desse profissional, sua história, seu código de ética e a regulamentação dessa profissão. Para ser um intérprete, esse profissional deve se manter imparcial, evitando com que religião ou vínculos de amizade interfira em seu trabalho. O processo de interpretação é uma habilidade científica que o cérebro aprende após muito treino e dedicação, portanto ser filho de pais surdos não é sinônimo de qualificação. Além disso, o intérprete tem que ser bilíngue, procurar participar de seminários, saber trabalhar em equipe, ter equilíbrio durante a interpretação e ser capaz de admitir suas limitações quando não se sentir capaz. Sendo assim, aproveite o conteúdo dessa apostila. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS1 http://1.bp.blogspot.com/_T_jF4- TJlmE/S7BE1h28NuI/AAAAAAAAAZM/yvHcFkRr2ss/s1600/interprete.jpg Em vários países há tradutores e intérpretes de língua de sinais. A história da constituição deste profissional se deu a partir de atividades voluntárias que foram sendo valorizadas enquanto atividade laboral na medida em que os surdos foram conquistando o seu exercício de cidadania. A participação de surdos nas discussões sociais representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes de língua de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da língua de sinais em cada país. À medida que a língua de sinais do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito linguístico. Assim, consequentemente, as 1 Material completo em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 instituições se viram obrigadas a garantir acessibilidade através do profissional intérprete de língua de sinais. A seguir serão apresentados os fatos históricos relevantes sobre a constituição do profissional intérprete de língua de sinais na Suécia, nos Estados Unidos e no Brasil. Suécia a) Presença de intérpretes de língua de sinais sueca em trabalhos religiosos por volta do final do século XIX (Suécia, 1875). b) Em 1938, o parlamento sueco criou cinco cargos de conselheiros para surdos que imediatamente não conseguia atender a demanda da comunidade surda. c) Em 1947, mais de 20 pessoas assumiram a função de intérprete. d) Em 1968, por uma decisão do Parlamento, todos os surdos teriam acesso ao profissional intérprete livre de encargos diante de reivindicações da Associação Nacional de Surdos. Neste ano, também foi criado o primeiro curso de treinamento de intérprete na Suécia organizado pela Associação Nacional de Surdos, junto à Comissão Nacional de Educação e à Comissão Nacional para Mercado de Trabalho. e) Em 1981, foi instituído que cada conselho municipal deveria ter uma unidade com intérpretes. Estados Unidos a) Em 1815, Thomas Gallaudet era intérprete de Laurent Clerc (surdo francês que estava nos EUA para promover a educação de surdos). b) Ao longo dos anos, pessoas intermediavam a comunicação para surdos (normalmente vizinhos, amigos, filhos, religiosos) como voluntários utilizando uma comunicação muito restrita. c) Em 1964, foi fundada uma organização nacional de intérpretes para surdos (atual RID), estabelecendo alguns requisitos para a atuação do intérprete. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 d) Em 1972, o RID começou a selecionar intérpretes oferecendo um registro após avaliação. O RID apresenta, até os dias de hoje, as seguintes funções: selecionar os intérpretes, certificar os intérpretes qualificados; manter um registro; promover o código de ética; e oferecer informações sobre formação e aperfeiçoamento de intérpretes. Brasil http://4.bp.blogspot.com/- gQz7Hc7VQe4/UBFnVQSV6kI/AAAAAAAAlLo/de56XJT7bCo/s1600/novo.jpg a) Presença de intérpretes de língua de sinais em trabalhos religiosos iniciados por volta dos anos 80. b) Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete. c) Em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais, também organizado pela FENEIS que promoveu o intercâmbio entre as diferentes experiências dos intérpretes no país, discussões e votação Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 do regimento interno do Departamento Nacional de Intérpretes fundado mediante a aprovação do mesmo. d) De 1993 a 1994, realizaram-se alguns encontros estaduais. e) A partir dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos escritórios regionais da FENEIS. Em 2OO2, a FENEIS sedia escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz no Rio de Janeiro. f) Em 2000, foi disponibilizada a página dos intérpretes de língua de sinais www.interpretels.hpg.com.br Também foi aberto um espaço para participação dos intérpretes através de uma lista de discussão via e-mail. Esta lista é aberta para todos os intérpretes interessados e pode ser acessada através da página dos intérpretes. g) No dia 24 de abril de 2OO2, foi homologada a lei federal que reconhece a língua brasileira de sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras. Tal lei representa um passo fundamental no processo de reconhecimento e formação do profissional intérprete da língua de sinais no Brasil, bem como, a abertura de várias oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão legal. A seguir consta a transcrição desta lei: LEI N° 10436, DE 24 DE ABRIL DE 2OO2 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1° É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais -Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil o Art. 2 Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3° As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normaslegais em vigor. o Art. 4 O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. o Art. 5 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. o Brasília, 24 de abril de 2OO2; 181° da Independência e 114 'da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza Esta lei representa uma conquista inigualável em todo o processo dos movimentos sociais surdos e tem consequências extremamente favoráveis para o reconhecimento do profissional intérprete de língua de sinais no Brasil. Além Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 desta lei, vale destacar as seguintes leis que respaldam a atuação do intérprete de língua de sinais direta ou indiretamente: • Lei 1O.O98/OO (Lei da acessibilidade) • Lei 1O.172/O1 (Lei do Plano Nacional de Educação) • Resolução MEC/CNE: O2/2OO1 (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica) • Portaria 3284/2OO3 que substituiu a Portaria 1679/99 (acessibilidade à Educação Superior) O resultado de uma pesquisa realizada sobre intérpretes na Europa conclui que à medida que os surdos ampliam suas atividades e participam nas atividades políticas e culturais da sociedade, o intérprete de língua de sinais é mais qualificado e reconhecido profissionalmente. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS2 https://encrypted- tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTTh4oVrkK95xAxYb_y3kXQD8 8t9Iu1gpEFgOdghLmk9BSxkpn 2 Material completo em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A língua brasileira de sinais é uma língua visual-espacial articulada através das mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua natural usada pela comunidade surda brasileira. Estudos sobre essa língua foram iniciados no Brasil pela Gladis Knak Rehfeldt (A língua de sinais do Brasil, 1981). Há também artigos e pesquisas realizadas pela Lucinda Ferreira-Brito que foram publicadas em forma de um livro em 1995 (Por uma gramática das línguas de sinais). Depois desses trabalhos, as pesquisas começaram a explorar diferentes aspectos da estrutura da língua brasileira de sinais. Vale mencionar alguns exemplos, tais como Fernandez (199O), um trabalho de psicolinguística; Karnopp (1994) que estudou aspectos de aquisição de fonologia por crianças surdas de pais surdos; Felipe (1993) que propõe uma tipologia de verbos em língua brasileira de sinais; os meus trabalhos: Quadros (1995) que apresenta uma análise da distribuição dos pronomes na língua brasileira de sinais e as repercussões desse aspecto na aquisição da linguagem de crianças surdas de pais surdos (publicado parcialmente em forma de livro em 1997 - Educação de surdos: a aquisição da linguagem) e Quadros (1999) que apresenta a estrutura da língua brasileira de sinais. Tais pesquisas associadas às atividades dirigidas pela Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo (FENEIS) foram responsáveis pelo reconhecimento da língua brasileira de sinais como uma língua de fato no Brasil. Como uma língua percebida pelos olhos, a língua brasileira de sinais apresenta algumas peculiaridades que são normalmente pouco conhecidas pelos profissionais. Perguntas sobre os níveis de análises, tais como, a fonologia, a semântica, a morfologia e a sintaxe são muitos comuns, uma vez que as línguas de sinais são expressas sem som e no espaço. Porém, as pesquisas de várias línguas de sinais, como a língua de sinais americana e a língua brasileira de sinais, mostraram que tais línguas são muito complexas e apresentam todos os níveis de análises da linguística tradicional. A diferença básica está no canal em que tais línguas expressam-se para estruturar a língua, um canal essencialmente visual. Stokoe et al. (1976), Bellugi e Klima (1979), Liddell (198O), Lillo-Martin (1986) são exemplos clássicos de Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 pesquisas da língua de sinais americana que trazem evidências da existência de todos os níveis de análise dessa língua. Karnopp (1994), Quadros (1995, 1999), Ferreira-Brito (1995) e Felipe (1993) são exemplos de pesquisas que evidenciam a complexidade da língua brasileira de sinais. Fonologia é compreendida como a parte da ciência linguística que analisa as unidades mínimas sem significado de uma língua e a sua organização interna. Quer dizer, em qualquer língua falada, a fonologia é organizada baseada em um número restringido de sons que podem ser combinados em sucessões para formar uma unidade maior, ou seja, a palavra. Nas línguas de sinais, as configurações de mãos juntamente com as localizações em que os sinais são produzidos, os movimentos e as direções são as unidades menores que formam as palavras. O INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS http://www.ufjf.br/dircom/files/2010/04/libras.jpg Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O que envolve o ato de Interpretar? Envolve um ato COGNITIVO-LINGÜÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. Quem é o intérprete de língua de sinais? É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a língua de sinais americana e fazer a interpretação para a língua brasileira de sinais ou vice- versa (por exemplo, conferências internacionais). Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). Qual o papel do intérprete? Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e viceversa observando os seguintes preceitos éticos: a) confiabilidade (sigilo profissional); b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérpretenão pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). O que acontece quando há carência de profissionais intérpretes? Quando há carência de intérpretes de língua de sinais, a interação entre surdos e pessoas que desconhecem a língua de sinais fica prejudicada. As implicações disso são, pelo menos, as seguintes: a) os surdos não participam de vários tipos de atividades (sociais, educacionais, culturais e políticas); b) os surdos não conseguem avançar em termos educacionais; c) os surdos ficam desmotivados a participarem de encontros, reuniões, etc. d) os surdos não têm acesso às discussões e informações veiculadas na língua falada sendo, portanto, excluído da interação social, cultural e política sem direito ao exercício de sua cidadania; e) os surdos não se fazem "ouvir"; f) os ouvintes que não dominam a língua de sinais não conseguem se comunicar com os surdos. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O que é possível fazer? a) investigação sobre todos os serviços de intérpretes existentes oficiais e extraoficiais; b) criação de leis sobre o direito ao serviço de intérprete reivindicando que a sociedade assuma a responsabilidade desses serviços; c) reconhecimento da profissão de intérprete; d) realização de pesquisas sobre interpretação e as condições de trabalho dos intérpretes; e) formação sistemática para os intérpretes; f) aumento de cursos de línguas de sinais; g) criação de programas para a formação de novos intérpretes; h) cursos que orientem aos surdos como e quando usarem os serviços do intérprete. ALGUNS MITOS SOBRE O PROFISSIONAL INTÉRPRETE http://imgs.concursoseempregos.opovo.com.br/app/noticia_132517821217/2013/01/07/2 231/empregos-libras.jpg Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Professores de surdos são intérpretes de língua de sinais Não é verdade que professores de surdos sejam necessariamente intérpretes de língua de sinais. Na verdade, os professores são professores e os intérpretes são intérpretes. Cada profissional desempenha sua função e papel que se diferenciam imensamente. O professor de surdos deve saber e utilizar muito bem a língua de sinais, mas isso não implica ser intérprete de língua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ensino e, portanto, completamente inserido no processo interativo social, cultural e linguístico. O intérprete, por outro lado, é o mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, na medida do possível, de interferir no processo comunicativo. As pessoas ouvintes que dominam a língua de sinais são intérpretes Não é verdade que dominar a língua de sinais seja suficiente para a pessoa exercer a profissão de intérprete de língua de sinais. O intérprete de língua de sinais é um profissional que deve ter qualificação específica para atuar como intérprete. Muitas pessoas que dominam a língua de sinais não querem e nem almejam atuar como intérpretes de língua de sinais. Também, há muitas pessoas que são fluentes na língua de sinais, mas não têm habilidade para serem intérpretes. Os filhos de pais surdos são intérpretes de língua de sinais Não é verdade que o fato de ser filho de pais surdos seja suficiente para garantir que o mesmo seja considerado intérprete de língua de sinais. Normalmente os filhos de pais surdos intermediam as relações entre os seus pais e as outras pessoas, mas desconhecem técnicas, estratégias e processos de tradução e interpretação, pois não possuem qualificação específica para isso. Os filhos fazem isso por serem filhos e não por serem intérpretes de língua de sinais. Alguns filhos de pais surdos se dedicam a profissão de intérprete e Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 possuem a vantagem de ser nativos em ambas as línguas. Isso, no entanto, não garante que sejam bons profissionais intérpretes. O que garante a alguém ser um bom profissional intérprete é, além do domínio das duas línguas envolvidas nas interações, o profissionalismo, ou seja, busca de qualificação permanente e observância do código de ética. Os filhos de pais surdos que atuam como intérprete têm a possibilidade de discutir sobre a sua atuação enquanto profissional intérprete na associação internacional de filhos de pais surdos (www.coda-international.org). CÓDIGO DE ÉTICA http://1.bp.blogspot.com/-Et- 5TfedhkY/UXDLzUAvbdI/AAAAAAAACCY/hc4zkow6ZYM/s1600/interpretee.jpg O código de ética é um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 intérprete estabelece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar um processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e discursivas. Nestas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela veracidade e fidelidade das informações. Assim, ética deve estar na essência desse profissional. A seguir é descrito o código de ética que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS). Registro dos Intérpretes para Surdos - em 28-29 de janeiro de 1965, Washington, EUA) Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA por Ricardo Sander. Adaptação dos Representantes dos Estados Brasileiros - Aprovado por ocasião do II Encontro Nacional de Intérpretes - Rio de Janeiro/RJ/Brasil - 1992. CAPÍTULO 1 Princípios fundamentais o Artigo 1 . São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele; o 2 . O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo; o 3 . O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar-se dos limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; 4°. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas; Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 5°. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função. CAPITULO 2 Relações com o contratante do serviço 6°. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não são possíveis; 7°. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS. CAPITULO 3 Responsabilidade profissional 8°. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou outras em seu favor; o 9 . O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como da Língua Portuguesa; 2O°. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é possível e o intérprete, então terá que parafrasearde modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade; 11º. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento; 12°. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 CAPITULO 4 Relações com os colegas http://www.hrf.se/sites/default/files/tsptolk.jpg 13°. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O INTÉRPRETE EDUCACIONAL http://gerenciador.tjma.jus.br/app/webroot/files/publicacao/22608/m_20110504_em_sala_ de_aula__instrutora_interprete_e_servidores_comunicandose_pela_linguagem_brasileira_de_s inais.jpg O intérprete educacional é aquele que atua como profissional intérprete de língua de sinais na educação. É a área de interpretação mais requisitada atualmente. Na verdade, essa demanda também é observada em outros países: Nos Estados Unidos, em 1989, estimava-se que 22OO intérpretes de língua de sinais estivessem atuando nos níveis da educação elementar e no ensino secundário. (...). Atualmente, mais de um terço dos graduados nos cursos de formação de intérpretes são empregados em escolas públicas. Mais da metade dos intérpretes estão atuando na área da educação. (Stewart, D. et alli, 1998) Considerando a realidade brasileira na qual as escolas públicas e particulares têm surdos matriculados em diferentes níveis de escolarização, seria impossível atender às exigências legais que determinam o acesso e a permanência do aluno na escola observando-se suas especificidades sem a Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 presença de intérpretes de língua de sinais. Assim, faz-se necessário investir na especialização do intérprete de língua de sinais da área da educação. O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. No entanto, as competências e responsabilidades destes profissionais não são tão fáceis de serem determinadas. Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor. Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. Vale ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela. Diante destas dificuldades, algumas experiências têm levado à criação de um código de ética específico para intérpretes de língua de sinais que atuam na educação. Em alguns casos, ao intérprete de língua de sinais é permitido oferecer feedback do processo de ensino-aprendizagem ao professor, por exemplo. Se esta possibilidade existe, poder-se-ia prever que o intérprete assumiria a função de tutoria mediante a supervisão do professor, o que em outras circunstâncias de interpretação não seria permitido. No entanto, isso poderia Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 gerar muitos problemas.... Os intérpretes-tutores deveriam estar preparados para trabalharem com as diferentes áreas do ensino. Se a eles fossem atribuídas às responsabilidades com o ensino, eles deveriam ser professores, além de serem intérpretes. E se estiverem assumindo a função de professores, por que estariam sendo contratados como intérpretes? Considerando tais questões, poder-se-ia determinar que o intérprete assumirá somente a função de intérprete que em si já se basta e caso seja requerido um professor que domine língua de sinais que este seja contratado como tal. Conforme apresentado em http://www.deafmall.net/deaflinx/ edcoe.html (2OO2), nos Estados Unidos já houve tal discussão e foi determinado ser antiético exigir que o intérprete assuma funções que não sejam específicas da sua atuação enquanto intérpretes, tais como: • Tutorar os alunos (em qualquer circunstância) • Apresentar informações a respeito do desenvolvimento dos alunos • Acompanhar os alunos • Disciplinar os alunos • Realizar atividades gerais extraclasse Em http://www.deafmall.net/deaflinx/useterp2.html (2OO2), apresentamse alguns elementos sobre o intérprete de língua de sinais em sala de aula que devem ser considerados: • Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade absoluta. • Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais. • Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através da revisão e preparação das aulas que garantem a qualidade da sua atuação durante as aulas. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 • As aulas devem prever intervalos que garantem ao intérprete descansar, pois isso garantirá uma melhor performance e evitará problemas de saúde para o intérprete. • Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que garantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e precisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no quadro, olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. Também, deve ser resolvido como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo para realizá-las. Outro aspecto importante é a garantia da participação do aluno surdo no desenvolvimento da aula através de perguntas e respostas que exigem tempo dos colegas e professores para que a interação se dê. A questão da iluminação também deve sempre ser considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retroprojetor podem ser recursos utilizados em sala de aula. Ainda se podem levantar outros problemas que surgem em relação aos intérpretes em sala de aula. Por exemplo, o fato dos intérpretes interagirem com os professores pode levar a um problema ético, pois é natural travar comentários a respeito dos alunos durante os intervalos.O código de ética prevê que o intérprete seja discreto e mantenha sigilo, não faça comentários, não compartilhe informações que foram travadas durante sua atuação. Assim, o código de ética dessa especialidade deveria também prever que ao intérprete fosse permitido apenas fazer comentários específicos relacionados à linguagem da criança, à interpretação em si e ao processo de interpretação quando estes forem pertinentes para o processo de ensino-aprendizagem. Outro aspecto a ser considerado na atuação do intérprete em sala de aula é o nível educacional. O intérprete de língua de sinais poderá estar atuando na educação infantil, na educação fundamental, no ensino médio, no nível universitário e no nível de pós-graduação. Obviamente que em cada nível deve- se considerar diferentes fatores. Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 têm dificuldades em compreender a função do intérprete puramente como uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder realizar as interpretações compatíveis com o grau de exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização. De modo geral, aos intérpretes de língua de sinais da área da educação é recomendado redirecionar os questionamentos dos alunos ao professor, pois desta forma o intérprete caracteriza o seu papel na intermediação, mesmo quando este papel é alargado. Neste sentido, o professor também precisa passar pelo processo de aprendizagem de ter no grupo um contexto diferenciado com a presença de alunos surdos e de intérpretes de língua de sinais. A adequação da estrutura física da sala de aula, a disposição das pessoas em sala de aula, a adequação da forma de exposição por parte do professor são exemplos de aspectos a serem reconsiderados em sala de aula. http://www.blogbahiageral.com.br/site/wp- content/uploads/2012/03/Libras_int%C3%A9rprete-na-sala-de-aula-230x142.jpg Cabe apresentar uma outra questão, há vários professores que também são intérpretes de língua de sinais. O próprio MEC está procurando formar Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 professores enquanto intérpretes. Isso acontece, pois, alguns professores acabam assumindo a função de intérprete por terem um bom domínio da língua de sinais. Nesse caso, esse profissional tem duas profissões: a de professor e a de intérprete de língua de sinais. A proposta do MEC em formar intérpretes selecionando professores da rede regular de ensino objetiva abrir este campo de atuação dentro das escolas. Assim, o "professor-intérprete" deve ser o profissional cuja carreira é a do magistério e cuja atuação na rede de ensino pode efetivar-se com dupla função: 1) Em um turno, exercer a função de docente, regente de uma turma seja em classe comum, em classe especial, em sala de recursos, ou em escola especial (nesse caso, não atua como intérprete). 2) Em outro turno, exercer a função de intérprete em contexto de sala de aula, onde há outro professor regente. REGULAMENTO PARA ATUAÇÃO COMO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS http://librasdiaria.files.wordpress.com/2014/07/educac3a7c3a3o-oferece-oficina- paraintc3a9rpretes-de-libras.jpg Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Publicada no Diário Oficial no dia 2-9-2O1O, a Lei 12.319, de 1-9-2O1O, que regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LÍBRAS. O novo profissional terá competência para realizar interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; cursos de extensão universitária; e cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. De acordo com a lei, até o dia 22-12-2O15, a União, diretamente ou por intermédio de instituições credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Veja a seguir a íntegra da Lei 12.319/2O1O: "LEI No- 12.319, DE 1o- DE SETEMBRO DE 2O1O Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LÍBRAS. O P R E S I D E N T E D A R E P Ú B L I C A Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LÍBRAS. Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. Art. 3o (VETADO) Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 5o Até o dia 22 de dezembro de 2O15, a União, diretamente ou por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 6o São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdo-cegos, surdo-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdoe, em especial: I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida; II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. Art. 8o (VETADO) Art. 9o (VETADO) Art. 1O. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 1º de setembro de 2O1O; 189o da Independência e 122o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA ARTIGO PARA REFLEXÃO MEDIADOR X INTERPRETE: A “Diferença” na Função e na Aprendizagem dos Alunos Surdos Elaine Cristina Gonçalves elainecrisg@bol.com.br Universidade Tuiuti do Paraná Resumo Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Este trabalho apresenta uma análise das possíveis diferenças entre a função de mediador e de intérprete na aprendizagem de alunos, dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Através da legislação e documentos normativos do Estado Paraná, busca-se identificar a definição e a diferenciação entre a função estabelecida para o mediador (anos iniciais do Ensino Fundamental) e para o interprete (anos finais do Ensino Fundamental), para posteriormente analisar como ocorre a aprendizagem dos alunos surdos em ambos os níveis do ensino fundamental acompanhados por ambos. Além, da investigação normativa e legal em sites do Estado do Paraná, realizou-se entrevista com duas professoras, que exercem ou já exerceram ambas as funções (mediador e interprete) para assim, buscar analisar as possíveis diferenças de aprendizagem. Para tanto, primeiramente se apresentará um esboço da construção histórica da formação de professores no Brasil, para entender como se deu o processo de consolidação e aprimoramento desses profissionais em nosso país. Também discute-se, brevemente, a formação do educador para a Educação Especial, fundamentando-se nas ideias de Saviani (2OO9). Em seguida, apresenta-se uma discussão sobre a formação de mediador e de interprete, e sobre suas diferenças, fundamentando-se nas ideias de Goes (2OOO) e Lacerda (2OOO). Posteriormente, realiza-se uma análise dos dados coletados nas entrevistas e nos documentos normativos e legais, para compreender se há ou não diferenças na aprendizagem dos alunos surdos nos diferentes níveis do Ensino Fundamental por conta das distinções entre o papel de mediador e de interprete. As considerações apontadas como conclusivas, relatam o descaso ao atendimento do aluno surdo, por parte dos educadores dos diferentes níveis de ensino aqui analisados. Nos anos iniciais de Ensino Fundamental, assim chamado mediador, atua como um “professor ajudante”, que apoia não só na tradução da Língua de Sinais para o aluno surdo, como também, desempenha as funções de mediar à aprendizagem desse e dos outros alunos da turma, além de colaborar com ideias para o planejamento diário da professora regente. Já os intérpretes que atuam nos anos finais de Ensino Fundamental, somente atuam como tradutores da Língua de Sinais e reclamam da falta de compreensão por Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 parte dos professores regentes das diferentes disciplinas por não demonstrarem interesse em sanar determinadas dúvidas de seus alunos surdos. Palavras–chave: Educação, Formação de Professores, Educação de Surdos; Aprendizagem. INTRODUÇÃO A busca para entender a diferença entre a função de mediador e de intérprete, pode remeter à compreensão sobre se há ou não uma discrepância na aprendizagem de alunos, nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Acredita-se que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador. Essa intervenção, ou também, mediação, pode ajudar na elevação intelectual do mesmo, promovendo assim, uma elevação no nível de conhecimento e compreensão desse aluno, fazendo com que, algumas dificuldades sejam supridas. Em se tratar de educação a aprendizagem plena dos alunos, é uma das maiores metas do educador, isso não é diferente com o aluno surdo, qual pode necessitar de maiores aparatos pedagógicos para que a aprendizagem ocorra, como a preparação e formação de seus educadores e até mesmo com a formação e função desempenhada pela pessoa que o acompanha na tradução da língua, entre outros pontos relevantes. Para se fazer entender a função do professor, primeiramente se faz necessário uma retomada geral da formação do mesmo no Brasil, para em seguida discutir a sua necessidade de conhecimento para atuar com a Educação Especial, apontada como uma modalidade educacional, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 93949/96. Em seguida, entender a formação continuada e a função exercida pelo professor mediador e interprete e sua interferência na aprendizagem dos alunos. Logo se faz uma análise perante os dados coletados nas entrevistas realizadas com as duas professoras do Município de Campo Largo, Paraná, para se Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 entender como se dá o processo de aprendizagem dos alunos surdos dos anos finais e iniciais do ensino fundamental, além de denotar a preocupação das mesmas com a aprendizagem desses alunos. Como metodologia de pesquisa, se utilizou como técnica de pesquisa a análise documental, retiradas do portal do Estado do Paraná, e entrevista com duas professoras que trabalham como mediadora e já trabalharam como interprete de alunos dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Dessa forma, o que se pode constatar é que há uma diferença entre a função do mediador e do intérprete de Libras nos anos iniciais e finais do ensino fundamental no Município, assim como, nos anos iniciais de Ensino Fundamental, assim chamado mediador, atua como um “professor ajudante”, que apoia não só na tradução da Língua de Sinais para o aluno surdo, como também, desempenha as funções de mediar à aprendizagem desse e dos outros alunos da turma, além de colaborar com ideias para o planejamento diário da professora regente. Já os intérpretes que atuam nos anos finais de Ensino Fundamental, somente atuam como tradutores da Língua de Sinais e reclamam da falta de compreensão por parte dos professores regentes das diferentes disciplinas por não demonstrarem interesse em sanar determinadas dúvidas de seus alunos surdos. ASPECTOS FUNDAMENTAIS NA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL A preocupação com a formação docente só vem a repercutir no Brasil, nas duas ultimas décadas, mesmo que sua discussão história anteceda-se com as ideias defendidas por Comenius (163O). Segundo Saviani (2OO9) a preocupação mundial com a formação do professor, principalmente voltada para a instrução população, acontece com a Revolução Francesa, no século XIX, assim, a mobilização dos países, influência a corte Portuguesa a prover ensaios educacionais no Brasil. Entre os anos de 1827 a 189O, surgem as Escolas de Primeiras letras, tendo um método único que o professor deveria dominar. Mas, como não haviam Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 professores formados, em 1834, por meio da Promulgação do Ato Adicional, segundo Saviani “que coloca a instrução primária sob a responsabilidade das províncias (...) com a criação de Escolas Normais”. Ou seja, primeira aparição de uma instituição pública voltada para a formação doprofessor e que se estabeleceu sem modificações até o ano de 189O. Somente no ano 189O, algumas reformas educacionais na formação do educador foram instigadas no Estado de São Paulo, quais provocaram algumas melhorias no ensino, provocando uma adaptação em outros Estados Brasileiros. Essas reformas, segundo Saviani foi marcada por dois vetores: enriquecimento dos conteúdos curriculares anteriores e ênfase nos exercícios práticos de ensino, cuja marca característica foram à criação da escola-modelo anexa à escola Normal – na verdade a principal inovação da reforma. (2OO9, p. 145) Muitos Estados enviaram professores para estagiar ou realizar “missões” em São Paulo para atuar nos cursos de formação. A organização de institutos de educação, surgem em nosso pais por volta dos anos de 1932 a 1939, com a finalidade de se abrir uma nova fase com o advento dos institutos de educação, concebidos como espaços de cultivo da educação, encarada como objeto do ensino e também da pesquisa. (SAVIANI, 2OO9, p. 145). Com inspiração nas ideias pedagógicas da Escola Nova, aderindo-se no currículo a fundamentação teórica da mesma. Entre os anos de 1939 a 1971, alguns institutos de educação, passa a se consolidar como Universidades, enriquecendo assim, os cursos de formação de Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 professores para o ensino secundário da época, mas, mantêm-se ainda alguns institutos de educação para a formação primária. Com o golpe Militar e com a Lei nº 5692/71, a escola de normalista para a se chamar, formação para o Magistério, que Saviani explica com Pelo Parecer nº 349/72 (Brasil – MEC-CFE, 1972), aprovado em 6 de abril de 1972, a habilitação especial do magistério foi organizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.2OO horas), que habilitariam a lecionar até 4ª Série; e outra com a duração de quatro anos (2.9OO horas), habilitando ao magistério até a 6ª Série do 1º Grau. (2OO9, p. 147) Além dessa modificação, se ampliou os problemas com a formação por causa da mudança do currículo, para então suprir essas falhas, ofereceu-se em 1892, o Projeto de Formação e aperfeiçoamento do Magistério (Camas), alcançando pontos positivos, mas, destituído por falta de quórum. Somente em 198O, foram novamente levantadas algumas possíveis modificações nos cursos de licenciatura em Pedagogia, que para Saviani (2OO9, p. 148): À luz desse princípio, a maioria das instituições tendeu a situar como atribuição dos cursos de Pedagogia a formação de professores para a Educação Infantil e para as séries iniciais do ensino de 1º Grau (Ensino Fundamental). As alterações e preocupações expostas em relação à formação para a Educação infantil e anos iniciais do fundamental, são novamente ressaltadas na Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional, nº 9394/96, exigindo formação superior ate a próxima década, promovendo assim, a formação aligeirada de alguns professores, com algumas instituições de cursos superiores à distância. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Para Saviani a formação dos docentes no Brasil, por mais modificações propostas nos decorres dos séculos, “não se encontrou até hoje, um encaminhamento satisfatório” (2OO9, p. 148). Principalmente em se tratando de Educação Especial, a formação docente ainda continua em aberto, como afirma Saviani “não se pode dizer que a educação especial não tenha sido contemplada na legislação em vigor” (2OO9, p. 152), mas a questão aqui apontada é a formação desse educador. Pois para Saviani (2OO9) a resolução CNE/CP 1, de 2OO6, que definiu as diretrizes do curso de pedagogia, no artigo 5º, inciso X e artigo 8º, inciso III, trata rapidamente em dois momento de Educação Especial. Vê-se que, nos dois dispositivos, a referência a Educação Especial é claramente secundária. No primeiro caso, a menção não chega a ser modalidade de ensino, mas apenas a situa no rol das várias situações demonstrativas da consciência da diversidade; no segundo caso, limita-se a uma atividade complementar, de caráter opcional, para efeito de integração dos estudos. (SAVIANI, 2OO9, p. 153). Observando as ponderações de Saviani (2OO9) acredita-se que, a formação dos professores de ensino fundamental ainda é falha e que a educação especial é uma modalidade de ensino que precisa de um espaço específico para a preparação desses educadores. Como integrantes do corpo docente de uma escola regular ou especial, o tradutor da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, também, segundo a Lei 12O95/98, de 11 de março de 1998, estabelece que, o interprete deve possuir [...] domínio da Língua de Sinais; conhecimento das implicações da surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo; conhecimento da comunidade surda e convivência com ela; ¨ formação acadêmica, em curso de interpretação, Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 reconhecido por órgão competente; ¨ filiação a órgão de fiscalização do exercício dessa profissão; ¨ noções de linguística, de técnica de interpretação, e bom nível de cultura; ¨profissional bilíngue;¨ reconhecido pelas associações e /ou órgãos responsáveis-, ¨ interprete e não explicador; ¨ habilitado na interpretação da Língua oral, da Língua de Sinais, da Língua escrita para Língua de Sinais e da Língua de Sinais para a Língua oral. Formação: preferencialmente 3º grau Requisitos para o exercício da função. (PARANÁ, 1998, p. 1). Assim, não só há uma preocupação com a formação do professor regente, mas, também com a do tradutor da língua. A Função de Mediador e de Intérprete e suas Contribuições para a Aprendizagem dos Alunos Para atuar em uma escola regular do Estado do Paraná, o interprete de Libras, tal como estabelece a Lei 12O95/98, precisa ter formação e estar devidamente habilitado. Mas, ao se referir à função exercida, essa legislação vigente no Estado do Paraná, apresenta uma divisão entre a função de interprete de Libras, para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, assim como, para o Ensino Médio. Segundo os dados de apoio, cedidos pela Secretaria de Educação Especial do Estado no Paraná (2OO9), ao intérprete de Libras (Língua Portuguesa/TILS – Área da Surdez), caberia à função de: [...] oferecer suporte pedagógico à escolarização de alunos surdos matriculados na Educação Básica, da rede regular de ensino, por meio da mediação linguística entre alunos (s) surdo (s) e demais membros da comunidade escolar, de modo a assegurar o desenvolvimento da proposta de Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 educação bilíngue (Libras/Língua Portuguesa). (PARANÁ, 2OO9, p. 13). A proposta denota, mediar à tradução da Libras/Língua Portuguesa, cabendo ainda ao interprete exercer maiores funções explicativas da fala do professor, mas não interagir no processo de aprendizagem do aluno, apenas exercer sua função de mediador da língua e não da aprendizagem. No que se refere à outra função, cabe, segundo a Secretaria de Educação Especial do Paraná, ao Professor de Apoio Permanente em Sala de Aula, “atuar em sala de aula como mediador e interlocutor no apoio à comunicação entre o aluno, o grupo social e o processo de ensino e aprendizagem. Esse serviço de apoio especializado é nos estabelecimentos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos” (2OO9, p. 13). Observado as duas funções, pode-se perceber que quanto ao apoio permanente, há a preocupação com a aprendizagem do aluno e não somente com a interação social, como ocorre na função do tradutor/interprete. Segundo Góes, “tendo em vista que o ensinar-aprendersomente se dá na dialogia, a qualidade da experiência escolar dos surdos depende das formas pelas quais a escola aborda a questão da linguagem e concebe a importância ou o lugar das duas línguas” (2OOO, p. 29). Pode-se perceber que a presença de um interprete é extrema relevância, não só para a inserção e comunicação social do surdo, mas, também, para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo do mesmo. Essa forma de educação chama-se, Educação Bilíngue. Pois, acordo com Lacerda, o objetivo da Educação Bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua do grupo majoritário. (2OOO, p. 54) Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A inserção da criança surda no ensino regular exige das autoridades responsáveis à presença de um tradutor da língua para que o aprendizado significativo ocorra, proporcionando a esse aluno o direito a igualdade perante a sociedade. Para Lacerda, Quando se opta pela inserção do aluno surdo na escola regular, esta precisa ser feita com muitos cuidados que visem garantir sua possibilidade de acesso aos conhecimentos que estão sendo trabalhados, além do respeito por sua condição linguística e por seu modo peculiar de funcionamento. (2OOO, p. 55). Ao exposto acima, fica clara a necessidade de um apoio de um interprete da língua, pois sem ela, o aluno surdo se torna incomunicável e não consegue se apropriar dos conhecimentos necessários. Assim, pode-se dizer que, o tradutor da Língua é um dos aparatos principais para a inclusão do surdo no ensino regular. Análise da Pesquisa. A análise a seguir, busca investigar as possíveis diferenças existentes entre a função do mediador e do interprete na aprendizagem de alunos, dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental Município de Campo Largo, PR, por meio dos pontos discutidos pelo Documento de Apoio da Secretaria Municipal de Educação Especial do Estado do Paraná (2OO9), vigente também em Campo Largo e por Lacerda (2OOO). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A função do tradutor de Libras no Município de Campo Largo segue fielmente, como pode ser observado nas entrevistas realizadas com duas professoras que atuam e já atuaram no Município (aos iniciais do Fundamental) e pelo Estado (anos finais do Fundamental), ao proposto pela secretária do Estado, quanto aos serviços especializados. Constatou-se também, que há a presença de alunos inclusos no ensino regular do Município, tanto nos anos inicias e finais do ensino Fundamental, possibilitando a pesquisa. As duas professoras entrevistadas relataram que já atuaram tanto na função de Interprete nos anos finais do fundamental, como também, nos anos iniciais como professoras de apoio permanente. Correspondendo assim, a real possibilidade de existência das diferentes funções do tradutor da língua. Pode-se extrair durante a entrevista com as professoras, que ambas demonstram maior interesse de trabalho com os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, pois de acordo com uma das entrevistadas Acredito que, quando se trabalha como mediadora em sala de aula, o aproveitamento da aprendizagem do aluno se torna muito mais significativo, pois, acompanho diariamente o desenvolvimento do mesmo, além de participar ativamente na elaboração do plano de aula da professora, tirando dúvidas da mesma e combinando atividades que envolvam mais o aluno surdo, quanto aos outros alunos da turma. (Relato da professora entrevistada, 2O1O). Verifica-se que com o professor de apoio permanente e a relação direta do mesmo com o professor regente da turma, o aproveitamento da aprendizagem do aluno surdo se torna muito mais significativo. Já em relação à aprendizagem do aluno surdo, dos anos finais do fundamental, as professoras relatam que, por mais que a tradução da língua seja feita diariamente em todas as aulas, o interprete (assim denominado pólas Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 entrevistadas) não consegue conversar e participar da elaboração do planejamento de todos os professores que trabalham na turma, além de, muitas vezes não terem a possibilidade nem mesmo de uma conversa informal com o professor sobre o aluno surdo e seu desenvolvimento. Uma das professoras entrevista relata ainda que muitos dos professores fingem que o aluno não está presente, pois acreditam que a responsabilidade sobre o aluno, deve ser exercida, por nos interpretes. Não se preocupam em tirar suas dúvidas, quando o aluno pergunta alguma coisa, o professor nos olha e pede para que nos responda a duvida do mesmo, sem ao menos perguntar se nós, interpretes, temos algumas dúvidas, pois nossa formação não está relacionada à disciplina ministrada por ele. (Relato da professora entrevistada, 2O1O). Assim, por mais que o interprete esteja presente diariamente na turma à função que lhe recai não está vinculada a sua formação inicial e continuada, mesmo que se tenha como exigência do Município e do Estado uma formação em nível superior, mas, vale lembrar que são diferentes disciplinas ministradas. Pois de acordo com Lacerda, “a interprete figura efetivamente como educador, atuando frente às dificuldades, dúvidas, questionamentos, ou distanciamento do aprendiz” (2OOO, p. 71), ou seja, o interprete atua como uma ancora para os alunos surdos, mas, se é produtivo ainda não se sabe. Considerações Finais O que se verificou foi uma possível distinção na função do interprete e do professor de apoio permanente (mediação) , pois como interprete nos anos finais do ensino fundamental o professor só faz a mediação da língua, sendo seu apoio pedagógico fazer a tradução e mediar a aprendizagem por meio da mesma. Já Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 nos anos inicias do ensino fundamental, o professor mediador ou de apoio permanente em sala, como o próprio nome já diz, permanece diariamente apoiando o professor da turma com a inclusão do surdo, realiza a tradução da língua, além de interagir na aprendizagem do mesmo. Sucintamente, pode-se verificar com a elaboração deste artigo uma preocupação com o aluno surdo incluso nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, mas, precisa um aprimoramento dos professores regentes para o tratamento com a inclusão de alunos surdos no ensino regular. Dessa forma, acredita-se que a formação do professor, mesmo em outros cursos de licenciatura, precisa conter em seu currículo a preocupação em formar o mesmo para conviver e atuar com alunos com necessidades educacionais especiais, inclusos na rede regular de ensino. REFERÊNCIAS GÓES, M. C. R; LACERDA, C. B. F. (Orgs.). Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2OOO. PARANÁ, Governo do. Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional: Semana Pedagógica – O2 a O6 fevereiro de 2OO9. Disponível em: www.diadia.pr.gov.br/arquivo/file/deein_sem_ped_2OO9.pdf. Acesso em: O8/O5/2O1O. SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 14, nº4O, jan/abr 2OO9. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n4O/v14n4Oa12.pdf Acesso em: 2O/O5/2O1O. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 BIBLIOGRAFIA ARANHA, M. S. F. 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Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2OO2/L1O436.htm>. Acesso em 1O jan. 2O11. SMOLKA, A. L.; GÓES, M. C. R. (Org.). A Linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas, SP; Papirus, 1993. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 GÓES, M. C. R. Com quem as crianças surdas dialogam em Sinais? In: LACERDA, C. B. F.; GÓES, M. C. R. (Orgs.) Surdez: Processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2OOO. p. 29-49. GÓES, M. C. R. Linguagem, surdez e educação. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2OO2. GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer?São Paulo: Moderna, 2OO3. NORTHERN, J. L.; DOWNS, M. P. Audição em crianças. 3. ed. 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Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 ATIVIDADES DE FIXAÇÃO 1- Sobre a história da evolução da Língua de Sinais Brasileira, podemos afirmar que no Brasil aconteceram os seguintes fatos: a) Em 1815, Thomas Gallaudet era intérprete de Laurent Clerc. b) Ao longo dos anos, pessoas intermediavam a comunicação para surdos (normalmente vizinhos, amigos, filhos, religiosos) como voluntários utilizando uma comunicação muito restrita. c) Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete. d) Em 1972, o RID começou a selecionar intérpretes oferecendo um registro após avaliação. O RID apresenta, até os dias de hoje, as seguintes funções: selecionar os intérpretes, certificar os intérpretes qualificados; manter um registro; promover o código de ética; e oferecer informações sobre formação e aperfeiçoamento de intérpretes. 2- A Lei que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais é a nº: a) 10.436 de 24 de abril de 2002. b) 10.526 de 22 de abril de 2003. c) 10.435 de 25 de abril de 2000. d) Nenhuma das respostas. 3- Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visualmotora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Essa frase é> a) Verdadeira. b) Falsa. 4- A língua brasileira de sinais é uma língua visual-espacial articulada através das: a) Mãos. b) Das expressões faciais. c) Do corpo. d) Todas as respostas estão corretas. 5- Sobre o Interprete podemos afirmar que: a) É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. b) No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a língua de sinais americana e fazer a interpretação para a língua brasileira de sinais ou vice-versa (por exemplo, conferências internacionais). c) Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). d) Todas as respostas estão corretas. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 6- Quando há carência de intérpretes de língua de sinais, a interação entre surdos e pessoas que desconhecem a língua de sinais fica prejudicada. As implicações disso são, pelo menos, as seguintes, exceto: a) Os surdos não participam de vários tipos de atividades (sociais, educacionais, culturais e políticas). b) Os surdos não conseguem avançar em termos educacionais. c) Os surdos se sentem motivados e encorajados a participar. d) Os surdos não têm acesso às discussões e informações veiculadas na língua falada sendo, portanto, excluído da interação social, cultural e política sem direito ao exercício de sua cidadania. 6- Cada profissional desempenha sua função e papel que se diferenciam imensamente. O professor de surdos deve saber e utilizar muito bem a língua de sinais, mas isso não implica ser intérprete de língua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ________ e, portanto, completamente inserido no processo interativo social, cultural e linguístico. O intérprete, por outro lado, é o mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, na medida do possível, de interferir no processo __________________. Complete a frase: a) Ensino, comunicativo. b) Comunicativo, de aprendizagem. c) Comunicativo, de ensino. d) Ensino, de expressão. 7- É um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete estabelece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar um processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e discursivas. Nestas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 veracidade e fidelidade das informações. Estamos nos referindo a qual documento? a) Código deconduta. b) Código de ética. c) Código da Língua Brasileira de Sinais. d) Nenhuma das respostas está correta. 8- São deveres fundamentais do intérprete, exceto: a) O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. b) Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele. c) O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo. d) O intérprete não precisa interpretar fielmente o que as pessoas estão falando, este pode transmitir o seu pensamento. 9- O intérprete educacional é aquele que atua como profissional intérprete de língua de sinais na educação. É a área de interpretação menos requisitada atualmente. Essa frase é: a) Verdadeira. b) Falsa. 10- A regulamentação da profissão de Tradutor e Interprete da Língua Brasileira de Sinais – LÍBRAS, aconteceu no ano de: a) 2002. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 b) 2004. c) 2008. d) 2010.