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Desenvolvimento psicossexual Profa. Ms. Camila Motta Paiva 12 de setembro de 2022 Na última aula... “A primeira e mais vital atividade da criança, mamar no peito da mãe (ou de seus substitutos), já deve tê-la familiarizado com esse prazer. Diríamos que os lábios da criança se comportaram como uma zona erógena, e o estímulo gerado pelo afluxo de leite quente foi provavelmente a causa da sensação de prazer. No começo, a satisfação da zona erógena estava provavelmente ligada à satisfação da necessidade de alimento. A atividade sexual se apoia primeiro numa das funções que servem à conservação da vida, e somente depois se torna independente dela” (p. 85). (Freud, 1905/2016) “As manifestações da sexualidade infantil” “Parece fora de dúvida que o recém-nascido traz consigo germens de impulsos sexuais” (p. 78) - “por motivos que serão vistos adiante, tomaremos como modelo, entre as manifestações sexuais infantis, o ato de chuchar (sugar com deleite)” (p. 82); Satisfação de necessidade + registro de uma experiência além da necessidade -> representação de experiência de prazer. Reencontrar essa satisfação, reviver essa experiência. Se apoia na necessidade, mas vai além dela. “(...) o ato da criança que chupa é determinado pela busca de um prazer – já vivido e agora lembrado. Ele acha então satisfação, no caso mais simples, sugando ritmicamente numa parte da pele ou da mucosa. (...) teve as primeiras experiências desse prazer que agora se empenha em renovar; “(…) não está dirigido para outras pessoas; ele se satisfaz no próprio corpo, é autoerótico”. (Freud, 1905/2016, p. 85). “As manifestações da sexualidade infantil” “Nem todas as crianças chupam. É de supor que o façam aquelas em que a significação erótica da zona dos lábios é constitucionalmente forte” (p. 86); “Já pudemos ver, no ato de chupar ou sugar com deleite, as três características essenciais de uma manifestação sexual infantil: -Esta surge apoiando-se numa das funções vitais do corpo, -Ainda não tem objeto sexual, é autoerótica, -E sua meta sexual é dominada por uma zona erógena.” (Freud, 1905/2016, p. 87) “As manifestações da sexualidade infantil” “Do exemplo de sugar pode-se retirar ainda vários elementos para a caracterização de uma zona erógena. É uma parte da pele ou mucosa em que estímulos de determinada espécie provocam uma sensação de prazer de certa qualidade” (p. 87); “A propriedade erógena pode se ligar a certas partes do corpo de maneira notável. Há zonas erógenas pré-destinadas, como evidencia o exemplo do ato de chupar. No entanto, o mesmo exemplo ensina que qualquer outra parte da pele ou das mucosas pode servir de zona erógena, ou seja, deve possuir alguma aptidão para isso. Assim, a produção da sensação de prazer depende mais da qualidade do estímulo que da natureza da parte do corpo” (p. 88). (Freud, 1905/2016) Para Freud, o conceito de perversão polimorfa se refere à capacidade de obter prazer fora dos comportamentos sexuais socialmente determinados, que são usualmente associados no senso comum ao aspecto genital. A sexualidade infantil é marcada pela mobilidade: incide em múltiplas áreas possíveis do corpo. São múltiplas as formas de obter satisfação! A sexualidade não está restrita ao aspecto genital. Percebe-se que a sexualidade infantil surge ligada a necessidades orgânicas, mas que com o tempo levam a criança a ansiar pela satisfação. “Predisposição polimorficamente perversa” Corpo que é biológico, mas NÃO SÓ! “(...) corpo biológico, corpo da pura necessidade, vai desembocar na noção de corpo erógeno, inserido na linguagem, na memória, na significação e na representação, ou seja, um corpo próprio da psicanálise”. (Lazzarini & Viana, 2006) CORPO COMO APOIO DA SEXUALIDADE - OUTRA NOÇÃO DE CORPO! Os primeiros cuidados “maternos” são fonte da instauração de uma rede de afetos e intensidades que organizam o psiquismo: higiene, limpeza, afagos… “Função” materna: cabe ressaltar que os cuidados maternos não são necessariamente realizados pela mãe, mas por qualquer pessoa que realize a função de maternagem. Quando falamos de função materna e função paterna, não estamos necessariamente nos referindo às figuras dos genitores, mas dos que cuidam. Os cuidados primários da criança Assim, dizemos que a função materna é essa que oferece os cuidados iniciais com o bebê, de modo que as necessidades do bebê sejam sanadas - a qualidade da relação com quem exerce a função de maternagem é algo imprescindível para a estruturação e o desenvolvimento global daquele ser. As primeiras experiências de satisfação, nossas primeiras marcas psíquicas, vêm do cuidado que recebemos do outro. Diante disso, A mãe “considera puro amor assexual aquilo que faz”; “Mas (...) se a mãe compreendesse melhor a elevada importância [da sexualidade] para toda a vida psíquica, para todas as realizações éticas e psíquicas, pouparia a si mesma as autorrecriminações também após se esclarecer”. (Freud, 1905/2016, p. 144) Para a Psicanálise, o corpo passa a ser entendido além do modelo mecanicista predominante no pensamento científico da época. O corpo é erogeneizado, em outras palavras, compreende a conexão entre aspectos físicos e psíquicos. Aqui estamos falando da pulsão. Falamos, em psicanálise, de um corpo que não é apenas um conjunto de órgãos com funções vitais e com uma dimensão anatômica e fisiológica de determinada configuração. Falamos, sobretudo, de um corpo pulsional, um corpo que é indissociável de sua dimensão de relação ao outro que o cuidou. Conceito de pulsão Conceito excessivamente abstrato – a pulsão não pode ser vista, não é localizável; “Mitologia” - pulsão como “um mito psicanalítico” -> Necessidade de teorizar, construção explicativa. Uma ficção no sentido de construção teórica. O conceito de pulsão ganha uma materialidade dentro da obra freudiana, de forma sistemática, a partir do texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905); Pulsão (Trieb), designada por Freud como conceito fundamental e definida como fronteira entre o corporal e o psíquico - Construção teórica para explicar que sujeito deseja algo que está além da necessidade. Conceito de pulsão Obras de Jackson Pollock. “Definida, em termos clássicos, como o representante psíquico das excitações provenientes do corpo, a pulsão sexual constitui a ferramenta teórica que viabiliza a construção da teoria da sexualidade em Freud, teoria que se revelará fundamental para a compreensão de todas as outras formulações que compõem o conjunto de seu pensamento.” (Netto & Cardoso, 2012) Sexualidade e pulsão: conceitos indissociáveis em psicanálise “A pulsão sexual, diferentemente do instinto sexual, não se limita às atividades repertoriadas da sexualidade biológica, mas constitui o fator primordial que impulsiona toda a série de manifestações psíquicas, estando, portanto, no fundamento do aparelho psíquico e de seu funcionamento. Freud inaugura, assim, uma nova e revolucionária compreensão da sexualidade humana.” (Padilha Netto & Cardoso, 2012) Instinto x Pulsão É importante distinguir a pulsão do instinto, pois os dois termos são passíveis de confusões - Na maior parte de sua obra, Freud fala de Trieb (pulsão) e não de Instinkt (instinto). Instinto x Pulsão Instinto é biologizante, “animal”… condicionado, programado, impulso satisfeito - dado um estímulo, tem-se um comportamento regular entre os membros da espécie; reflexo; Pulsão fala da busca permanente por satisfação, pressão constante, ininterrupta, que não cessa, que não se extingue, “nenhuma fuga é eficaz contra ela”; Pulsão fala de SINGULARIDADE - a meta é sempre a satisfação, mas são variados os meios para alcançá-la; Pulsão não é naturalizante, o instinto sim - ex: instinto materno - uso do instinto para fins moralizantes. Instinto x Pulsão A pulsão nos impulsiona para a busca de satisfação. A libido é a energia da pulsão. Fonte:próprio corpo Pressão: constante, permanente (diferente da necessidade que pode ser reduzida quase à zero) Meta: encontrar satisfação - nunca encontra satisfação plena!!! O objeto da pulsão é um elemento intercambiável, substituível -> para alcançar sua meta, para obter satisfação, a pulsão pode lançar mão dos mais diferentes objetos – ex: seio amamentador é o primeiro objeto da pulsão (objeto porque é por meio dele que o bebê alcança a “primeira” satisfação); Constructo teórico a partir dos efeitos derivados do ics. Pulsão O conceito de pulsão foi concebido como algo fundamental que ancora o psiquismo no corpo. Por que conceito de pulsão é tão fundamental? -Há sexualidade na infância, mas essa sexualidade não é caracterizada pelo traço da genitalidade; -A sexualidade infantil remonta à ideia de marcas ligadas ao outro, denotando o seu caráter intersubjetivo. -O corpo não é meramente um corpo orgânico, mas um corpo pulsional. A pulsão é um conceito que se instaura entre o corpo (somático) e o psíquico (ou anímico). Até aqui podemos entender que: A partir das investigações sobre sexualidade infantil, Freud faz um mapeamento acerca do desenvolvimento psicossexual do sujeito. A criança obtém prazer no seu cotidiano, e esse prazer, seja na brincadeira com as outras crianças, com seus pais, enfim, com seu meio e com seu próprio corpo, cria marcas que serão constitutivas de sua organização psicológica. Com a ajuda da interlocução com Fliess (cartas 52 e 75), desde 1896, Freud empenha-se em estabelecer os períodos do desenvolvimento individual, os quais estariam relacionados a zonas erógenas determinadas. Por isso, emprega desde sempre o termo “fase”, para com ele designar as etapas da evolução da libido, isto é, da energia sexual. As fases estão ligadas à centralidade de alguma zona erógena. A partir da noção de zona erógena e da suposição de que algumas partes do corpo são mais suscetíveis à erogeneização, Freud desenvolveu seu conceito de “organização” da libido, implicando certo modo de relação do indivíduo com seu mundo. “Chamaremos de pré-genitais as organizações da vida sexual em que as zonas genitais ainda não assumiram o papel predominante” (Freud, 1905/2016, p. 108). MAS… Importante afirmar que Freud não pensa o desenvolvimento de forma exatamente linear e progressiva -> existem “fatores internos e externos que perturbam o desenvolvimento” de todos nós (Freud, 1905/2016, p. 161). A noção de fase Fixação fala das formas de satisfação que são preferenciais para o sujeito. “Escolha” de uma modalidade de satisfação como forma de se “consolar” diante das frustrações -> em “fracassos” futuros, o sujeito retornará a essa gratificação. Fixação e regressão Exemplo de regressão: Uma criança já passou por algumas fases do desenvolvimento, de forma que ela já conseguiu adquirir um controle muscular e esfincteriano e, portanto, ela já não faz xixi na cama. Após o nascimento de uma irmã ou irmão, ela pode se sentir insegura com relação ao amor dos pais por ela e reage à ameaça que a criança mais nova lhe causa. Com isso, ela pode rechaçar aquele bebê e voltar a fazer xixi na cama. Quer dizer, o aspecto emocional é importante para entender essa trama. Fixação e regressão FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL FASE ORAL 2 A 4 ANOS FASE ANAL 3 A 5 ANOS FASE FÁLICA 0 A 2 ANOS 5 ANOS - PUBERDADE PERÍODO DE LATÊNCIA PUBERDADE E VIDA ADULTA FASE GENITAL É a primeira fase, é pré-genital; Corresponde aos primeiros momentos de vida até 2 anos de idade, aproximadamente; Prazer está ligado à excitação da mucosa dos lábios e da cavidade bucal. O conhecimento do mundo se dá pela boca. Fase oral “Assim como a zona labial, a localização da zona anal a torna adequada para favorecer um apoio da sexualidade em outras funções do corpo. É de se presumir que a significação erógena dessa parte do corpo é muito grande originalmente. Através da psicanálise tomamos conhecimento, não sem alguma surpresa, das transformações normalmente experimentadas pelas excitações sexuais que dela partem, e como frequentemente essa zona mantém, por toda a vida, um grau considerável de suscetibilidade à estimulação.” (Freud, 1905/2016, p. 91) Fase anal “(...) a excitabilidade erógena da zona anal se revela no fato de reter a massa fecal até que esta, acumulando-se, provoque fortes contrações musculares e, na passagem pelo ânus, exerça um grande estímulo na mucosa. Isso deve produzir, juntamente com a sensação de dor, uma sensação de volúpia.” (Freud, 1905/2016, p. 91) Fase anal Segunda fase, pré-genital, situada entre os 2 e os 4 anos, aproximadamente. É uma fase marcada pelo controle dos esfíncteres - criança ATIVA, não só passiva, dependente. Atividade/passividade: Freud salienta o valor simbólico dessa fase, sobretudo ligado às fezes - dar, receber, expulsar, reter… Fase anal Nesse momento, simbolicamente, ela se encanta com o fato de seus excrementos serem uma produção de si, de seu corpo, “[O conteúdo intestinal] é claramente tratado como uma parte do próprio corpo, constitui o primeiro ‘presente’: através da liberação ou da retenção dele, o pequeno ser pode exprimir docilidade ou desobediência ante as pessoas ao seu redor” (Freud, 1905/2016, p. 92) A dimensão da ordem começa a surgir nessa fase, de forma a separar e organizar o limpo do sujo. Fase anal Entre os 3–5 anos, Secreções, lavagens, higiene… “tornam inevitável que a sensação de prazer que essa área do corpo é capaz de produzir seja notada pela criança, e nela desperte a necessidade de repeti-la” (Freud, 1905/2016, p. 94). “Na mesma época em que a vida sexual da criança atinge seu primeiro florescimento, dos três aos cinco anos de idade, também começa a aparecer aquela atividade que se atribui ao instinto de saber ou de pesquisa” (Freud, 1905/2016, p. 103) A criança reconhece apenas um órgão genital: o masculino - “A suposição de que há o mesmo genital (masculino) em todas as pessoas é a primeira das teorias sexuais infantis singulares e prenhes de consequências” (Freud, 1905/2016, p. 104). “Para o menino, é natural pressupor que todas as pessoas que conhece têm um genital como o seu, e é impossível conciliar a ausência dele com a ideia que faz dessas outras pessoas” (Freud, 1905/2016, p. 104). Fase fálica Quando as crianças se deparam com a diferença anatômica, o único genital que é registrado psiquicamente é o masculino. Dentro da lógica infantil, não são os dois genitais, o do menino e o da menina, que são levados em consideração, mas apenas o órgão masculino. Para Freud, essa fase apresentará a oposição entre os sexos - mas não masculino/feminino, e sim pela distinção fálico-castrado: portanto, caracterizada pela castração. FÁLICO # GENITAL: é fundamental observar que, nesse contexto, Freud se refere ao órgão genital masculino pelo termo falo. Ao escolher um termo diferente de pênis, Freud sublinha o caráter simbólico dessa operação. Não se trata exatamente do genital, mas do que ele simboliza - seja em sua presença, seja em sua ausência. Fase fálica O falo é o equivalente simbólico do pênis, símbolo de poder nessa teorização (um tem algo que o outro não tem). Ferida narcísica é o nome que Freud dá para um abalo no nosso amor-próprio: a menina se ressente, sentimento de inferioridade, injustiçada pela natureza -> menina “é vencida pela inveja do pênis”; Em "Organização Genital Infantil", ele afirma que "o que está presente, portanto, não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo" (Freud, 1996 [1923], p.158, grifo do autor). Primazia fálica na sexualidade infantil: sexualidade FALOCÊNTRICA. É durante a fase fálica que se configura o Complexo de Édipo. O falo -Primeira menção “oficial” em A interpretação dos sonhos (volume 4) (1899/1900); -“A dissolução do complexo de Édipo” (In: O Eu e o Id, volume 16) (1924). Chave na interpretação sobre o processo de elaboração dasubjetividade pela perspectiva da Psicanálise. A trama pela qual todo vivente passaria em seu processo de desenvolvimento é concebida por Freud por meio da alegoria da tragédia grega do Édipo Rei, na qual sentimentos ambivalentes em relação às figuras parentais orquestrariam nossa concepção subjetiva. Peça grega antiga, escrita por Sófocles aproximadamente em 427 a.C. https://www.youtube.com/watch?v=twDJTCaDkf0 https://www.youtube.com/watch?v=wk88mJ2Dqco Freud segue na estruturação dos primeiros passos na organização do complexo de Édipo constatando em si mesmo uma série de sentimentos ambivalentes com relação às suas figuras familiares. Essa constatação se dá por meio de sua produção onírica, ou seja, por meio de sonhos seus. Aí constata o que considera como um evento universal do início da infância, o eixo da trama edipiana: “cada pessoa da plateia foi, um dia, em germe ou na fantasia, exatamente um Édipo como esse” (Freud, 1950, p. 316). Na famosa Carta 69, Freud dirige a Fliess sua dúvida, dizendo não acreditar mais em sua neurótica -> descrença de que haveria abuso real em todos os casos. Fantasias edipianas -> fantasia tendo invariavelmente os pais como tema. Nessa fase, Freud identificou um forte apego do menino à mãe, que gera uma reação ao pai como ameaça potencial à satisfação de suas necessidades. Ao mesmo tempo, o menino ainda quer o amor e a afeição de seu pai. Surge, portanto, a ideia de ambivalência, ou seja, a criança terá que lidar com o fato de amor e ódio estarem muito próximos, sobretudo na fantasia. Fase fálica Em sua Conferência de 1917, Freud afirma que a conduta do menino se origina em motivos egoísticos, e explica que esse caráter egoísta é justamente a fonte de ligação com a mãe, na medida em que ela satisfaz todas as necessidades da criança. Freud fornece exemplos disso, como a insistência em dormir ao seu lado, solicitar sua presença à noite, permanecer junto a ela quando ela está se vestindo. Simbiose mãe-bebê -> ameaçada quando outros elementos importantes se impõem na cena. O complexo de Édipo Distinção anatômica -> impacto psíquico! Seres com pênis e seres sem pênus -> fantasia de que no início todos os seres tinham o pênis, mas que alguns seres o perderam (as mulheres). O complexo de Édipo https://www.youtube.com/watch?v=0CH2wOwEt6k https://www.youtube.com/watch?v=kcTgI27Mq1A&t=3s Para a criança que se encontra na fase fálica, aquilo que está presente e explícito representa mais satisfação. As crianças criam fantasias chamadas de “teorias sexuais infantis” antes de aceitar, de fato, essa diferença. Por exemplo: o “falo” da menina é pequeno e ainda pode crescer ou ela o perdeu por causa de alguma ação que resultou em punição. O falo, em sua presença, confere importância e valor e, em sua ausência, leva ao sentimento de inferioridade. Inaugura-se a divisão entre fálico e castrado, estando tal divisão definida em termos de ausência ou presença desse símbolo valorizado que é o falo. Menino “tem” esse algo - tem o órgão genital como zona erógena privilegiada (fase fálica) e, naturalmente, explora essa área de prazer, tocando frequentemente em seu genital. Essa ação é alvo de recriminação e, segundo Freud, o menino associa as repreensões com a imagem da castração. Assim, podemos compreender o abandono da vivência edipiana por medo da castração. Identificação com a figura paterna: o menino se identifica com os traços de masculinidade do pai e poderá fazer no futuro uma escolha amorosa tal como o pai fez ao casar-se com a mãe. O complexo de Édipo (do menino) se desfaz pela ameaça de castração, posto que uma fantasia poderosa de que há seres castrados (as meninas) e o medo de ele próprio também ser castrado leva o menino a abandonar o “encantamento” pela mãe. Assim, ele se identifica com a lei simbólica, atribuída ao pai. Em outras palavras, o menino se alia ao seu pai, como forma de lidar com o medo de ser castrado por ele. O complexo de Édipo https://www.youtube. com/watch?v=9-p- 7KfOF4s&t=1s NA MENINA – “(…) dado que a menina se vê como um ser castrado, tentativas de compensação seriam orquestradas. Pode-se dizer, simbolicamente, que ela desloca do pênis para um bebê. Seu complexo de Édipo culmina em um desejo fantasioso de ter um filho do pai, numa atitude restauradora pelo seu narcisismo por meio do bebê. Medo de perder o amor faz com que o Édipo sucumba, mas os dois desejos — possuir um pênis e um filho — permanecem fortemente investidos no inconsciente e ajudam a preparar a menina para seu papel posterior, de mulher” (!!!). Freud NÃO trabalha com o conceito do complexo de Electra, que seria tal qual o complexo de Édipo no menino, mas na menina. A ideia do complexo de Electra é trabalhada por Carl Gustav Jung posteriormente. Frente às ameaças e repressões, o menino fantasia que pode perder o pênis e o que ele representa (sua posição privilegiada). Do lado da menina, imediatamente já se constata a ausência, a falta -> sente-se injustiçada, privada do que ela poderia ter (mas não tem). ->CASTRAÇÃO SIMBÓLICA - fonte da angústia do sujeito. Menino – se identifica com o pai para não ser castrado por ele, Menina – castrada, dirigiria sua ambição rumo àquele que tem a possibilidade de lhe fornecer o falo. Castração Criança se vê obrigada a renunciar às suas expectativas. O equilíbrio entre princípio do prazer e princípio da realidade, nesse sentido, está associado à saúde psíquica e à vida em sociedade, na qual normas precisam ser introjetadas e o prazer muitas vezes precisa ser adiado. Para além do amor e identificação com as figuras parentais, outra coisa está em jogo: O que está em jogo na teoria do complexo de Édipo é a introjeção da lei que organiza a cultura. Ao renunciar, a criança aceita que não pode ter tudo o que quer e nem ser tudo para alguém, nem mesmo para a mãe. No complexo de Édipo, o menino quer ser o objeto exclusivo do amor materno; ele deseja a atenção, os cuidados e o reconhecimento da mãe só para ele. Ao aceitar que isso não é possível, ele aceita que a mãe tem outros interesses além dele e renuncia a uma parcela de seu narcisismo. O pai aqui funciona como um terceiro elemento fundamental para cortar a relação dual entre mãe e filho. Nesse sentido, o menino não pode satisfazer esse desejo, mas entra na ordem simbólica da cultura, em que poderá ter outros investimentos amorosos. Trata-se, então, da introjeção da lei paterna, a lei que organiza a capacidade de renunciar a outros desejos em nome da inserção na sociedade. https://www.youtube.com/watch?v=v5KS45umtM4 A “culpa” é do Édipo? -Primazia fálica, inveja do pênis, “desvantagem” das mulheres - releituras feministas à luz da categoria “gênero” na contemporaneidade; -Pioneirismo no interesse pelo que a mulher tem a dizer X contexto histórico-social-cultural; Críticas 5–6 anos até a puberdade. O período de latência no desenvolvimento da criança não é caracterizado como uma fase do desenvolvimento psicossexual exatamente, mas sim uma fase na qual o desenvolvimento fica como que suspenso. A palavra “latência” expressa exatamente um período durante o qual algo se elabora, antes de assumir existência efetiva. Nesse período, já houve a superação do complexo de Édipo. Mais adiante veremos que o superego, a instância crítica do aparelho psíquico, resta como herdeira do complexo edipiano: responsável pelas exigências morais do psiquismo, representa as normas da sociedade. Período de latência No período da latência, a pulsão sexual é desviada para outras finalidades, tais como a construção de aspirações estéticas e morais e a aquisição de conhecimento. Os impulsos da pulsão sexual são desviados para atividades intelectuais, amizades ou esportes. Período de latência “Ao longo de todo o período de latência, a criança aprende a amar outras pessoas - que a ajudam em seu desamparo e satisfazem suas necessidades” (Freud, 1905/2016,p. 143); “Após um breve período de florescimento entre os dois e os cinco anos de idade, ela entraria no chamado "período de latência". Nele a produção de excitação sexual não cessaria, continuando e fornecendo uma provisão de energia que seria aplicada, em grande parte, para outros fins que não os sexuais: por um lado, no aporte dos componentes sexuais para sentimentos sociais; por outro (através de repressão e formação reativa), na construção das futuras barreiras sexuais” (Freud, 1905/2016, p. 157). Período de latência “Com que meios são realizadas essas construções, tão significativas para a cultura e a normalidade posteriores do indivíduo? Provavelmente à custa dos impulsos sexuais infantis mesmos, que não cessaram nesse período de latência, mas cuja energia - integralmente ou na maior parte - é desviada do emprego sexual e dirigida para outros fins. Os historiadores da civilização parecem concordar em supor que, desviando-se das metas sexuais para novas metas - um processo que merece o nome de sublimação - adquirem-se fortes componentes para todas as realizações culturais.” (Freud, 1905/2016, p. 80-81) Período de latência “Pareceu-nos digno de especial atenção o fato de o desenvolvimento sexual começar em dois tempos no ser humano, isto é, de ser interrompido pelo período de latência. Ele parece ser uma das precondições da aptidão humana para desenvolver uma cultura superior, mas também da inclinação para a neurose. Pelo que sabemos, nada semelhante se encontra nos parentes animais do ser humano. A origem dessa peculiaridade deve ser buscada na pré-história da espécie humana.” (Freud, 1905/2016, p. 157) Puberdade e vida adulta; A fase genital se caracteriza pela viabilidade da vida sexual genitalizada; Volta a energia sexual para os órgãos genitais e, portanto, em direção às relações amorosas; Os conflitos internos típicos das fases anteriores atingem aqui uma relativa estabilidade conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os desafios da idade adulta. Nesse momento, meninos e meninas estão conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais. Fase genital Segundo Freud, a fase genital começa a partir do desenvolvimento da puberdade. Não há uma idade precisamente, até porque isso varia de pessoa para pessoa e contingências variadas, mas podemos afirmar que por volta dos 11 ou 12 anos mudanças corporais, hormonais e psicológicas são sensivelmente notadas. A fase genital é uma fase que marca o fim da vida infantil e marca o início da vida adulta. A atenção da organização da energia libidinal se concentra nos órgãos genitais. Sai do narcisismo e vai em direção ao outro, ao “par romântico” - objeto EXTERNO, deixa de voltar-se para si. É preciso fazer ligação com objetos reais, mesmo que revestidos de fantasia, para não adoecer psiquicamente. Fase genital “Com o advento da puberdade (…) [a pulsão] sexual, que era predominantemente autoerótica, encontra agora um objeto sexual. Ela operava a partir de diferentes instintos e zonas erógenas, que buscavam, cada qual de forma independente, determinado prazer como meta sexual. Agora recebe uma nova meta sexual e [todas as pulsões] parciais cooperam para alcançá-la, enquanto as zonas erógenas se subordinam ao primado da zona genital.” (Freud, 1905/2016, p. 121) -fase genital “normatiza” a sexualidade humana? -retorna à ideia de conjunção, junção de genitais? Críticas Para além da fisiologia, para além do coito, para além dos genitais… Registro de prazer ou desprazer é que constitui essa ordem sexual. Freud amplia o conceito de sexualidade, afirmando que ela é inerente ao sujeito - causa impacto ao apresentar a criança como um ser dotado de sexualidade e ao apontar a importância da sexualidade para a nossa constituição psíquica. Em síntese… A sexualidade… “(…) está na base dos processos que determinam os modos como nós amamos, desejamos, sofremos.” (Iannini & Tavares, 2021, p. 8) “Mas também é preciso lembrar que algumas coisas deste livro - a ênfase na importância da vida sexual em todas as realizações humanas e a tentativa de ampliação do conceito de sexualidade - sempre constituíram os mais fortes motivos para a resistência à psicanálise.” (Freud, 1905/2016, p. 18) Boroto, I. G.; & Senatore, R. C. M. (2019). A sexualidade infantil em destaque: algumas reflexões a partir da perspectiva freudiana. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, 14(2), p. 1339–1356. https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12583 Costa, A. O. (2016). Esquecimentos, fantasias e sexualidade infantil: efeitos da autoanálise de Freud. Estilos da Clinica, 21(1), 200-217. https://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v21i1p200-217 Freud, S. (2016). Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade. São Paulo: Companhia das Letras. Freud, S. (2021). As pulsões e seus destinos. Belo Horizonte: Autêntica. Honda, H. (2011). O conceito freudiano de pulsão (Trieb) e algumas de suas implicações epistemológicas. Fractal: Revista de Psicologia, 23(2) , 405-422.. https://doi.org/10.1590/S1984-02922011000200012 Lazzarini, E. R.; & Viana, T. de C. (2006). O corpo em psicanálise. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 22(2) , 241-249. https://doi.org/10.1590/S0102-37722006000200014 Padilha Netto, N. K.; & Cardoso, M. R. (2012). 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