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Avaliação Nutricional na Gestação A avaliação nutricional da gestante faz-se necessária para melhorar sua qualidade de vida e, consequentemente a do bebê, com o propósito de identificar e corrigir possíveis intercorrências, como: o Diabetes Mellitus Gestacional (DMG); as Síndromes Hipertensivas da Gravidez (SHG); excesso ou baixo peso, entre outras (Williams, 2001). A Avaliação Nutricional engloba as avaliações: da história reprodutiva anterior, dos fatores de risco, sóciodemográfica, de exames complementares, funcional, bioquímica, antropométrica e dietética. • Avaliação Antropométrica ✓ Investigação e registro do peso pré-gestacional (PPG). O ideal é realizar a avaliação do estado nutricional inicial segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional (calculado com o PPG informado, correspondente ao peso até no máximo 2 meses antes da concepção ou medido até a 13ª semana gestacional). ✓ Para gestantes adultas o IMC pré-gestacional será classificado de acordo com o quadro 1. Para adolescentes, deve-se consultar os pontos de corte específicos segundo a idade materna (em anos e meses), de acordo com as curvas da WHO e que pode ser observado no quadro 2 do SISVAN e classificá-lo de acordo com o quadro 3. ✓ Caso não seja possível estimar o IMC pré-gestacional, calcular o IMC gestacional (com o peso na data da consulta) e avaliar o estado nutricional da gestante segundo o IMC por semana gestacional (quadro 4), para adultas e adolescentes. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA Campi: Niterói / RJ Curso: Nutrição Disciplina: Nutrição Materno Infantil – ARA0982 Docente responsável: Tainá Marques Moreira Quadro 1: Recomendação para ganho de peso gestacional semanal e total (kg), segundo o IMC pré- gestacional para gestantes de feto único. Legenda: a - Os pontos de corte de IMC pré-gestacional propostos no quadro 1, devem ser adotados na classificação do estado nutricional de gestantes adultas; b - Diante da importância do ganho de peso, no primeiro trimestre e seu impacto comprovado na predição do peso ao nascer e do índice ponderal do recém-nascido, sempre que possível, estimar o ganho de peso para o período. c - Os limites mínimos de ganho de peso semanal propostos para cada categoria de IMC pré-gestacional podem ser adotados como ganho de peso mínimo ou modesto. Devem ter um ganho mínimo saudável de 0, 17kg/semana até o parto (40 semanas). Observação: Deve-se avaliar cuidadosamente ganho de peso >0,5 Kg/semana ou >3 Kg/mês, especialmente após a 20a semana, pois é sugestivo de edema e Síndromes Hipertensivas da Gravidez. Quadro 2: Percentil de IMC pré-gestacional por Idade para Adolescentes do sexo feminino. Quadro 3: Diagnóstico Nutricional segundo os pontos de corte estabelecidos para adolescentes. Quadro 4: Avaliação do estado nutricional da gestante segundo Índice de Massa Corporal Gestacional - IMC por semana gestacional. Quadro 5: Ganho semanal e total para gestação gemelar, segundo IMC pré-gestacional. Legenda: *1 - Para a classificação do IMC pré-gestacional das gestantes gemelares adultas e adolescentes, adotar o mesmo procedimento para as gestantes de feto único; ✓ Para gestante TRIGEMELAR: o ganho de peso gestacional total deve ser de 22,7kg (ADA, 2002). ✓ Cálculo do ganho de peso gestacional recomendado ➢ Classificação do estado nutricional pré-gestacional - Peso pré-gestacional conhecido ou medido antes de 14 semanas; ➢ Calcular o Índice de Massa Corporal pré-gestacional (IMC): • Cálculo das necessidades energéticas na gestação: Para calcular as necessidades energéticas da gestante, é necessária avaliação nutricional individualizada. Obtido o IMC pré-gestacional, deve-se calcular o Valor Energético Total (VET) diário, baseado na Taxa Metabólica Basal (TMB) e no Nível de Atividade Física (NAF), somando-se o adicional energético proposto para gestantes. IMC = Peso (kg) Estatura2 (m) ➔ Valor Energético Total (VET) da dieta = TMB x NAF + adicional energético gestacional • TMB x NAF = GE Legenda: GE = gasto energético TMB = Taxa Metabólica Basal NAF = Nível da atividade física (média) ➔ Taxa Metabólica Basal (TMB): Cálculo da Taxa Metabólica Basal de acordo com a (FAO/OMS, 2004), segundo a idade materna: Idade (anos) TMB (Kcal/dia) 10-18 13,384 x P + 692,6 18-30 14,818 x P + 486,6 30-60 8,126 x P + 845,6 ➔ Nível atividade física (NAF) para GESTANTES ADULTAS (FAO/OMS, 2004): Categoria Nível de Atividade Física (Média) Sedentário ou Leve 1,40 – 1,69 (1,53) Ativo ou moderadamente ativo 1,70-1,99 (1,76) Intenso ou moderadamente intenso 2,00 – 2,40 (2,25) ➔ Nível atividade física (NAF) para GESTANTES ADOLESCENTES, segundo a idade (FAO/OMS, 2004): Idade (anos) Atividade leve Atividade moderada Atividade pesada 10-11 1,45 1,70 1,95 11-12 1,50 1,75 2,00 12-13 1,50 1,75 2,00 13-14 1,50 1,75 2,00 VET= GE + adicional energético gestacional 14-15 1,50 1,75 2,00 15-16 1,50 1,75 2,00 16-17 1,50 1,75 2,00 17-18 1,45 1,70 1,95 OBS: Para gestantes adultas não obesas e não atletas, em geral, o NAF utilizado será de 1,53 + Adicional da dieta será considerado; OBS 1: Gestantes com obesidade SEM comorbidades associadas, utilizar o NAF de 1,4 + Adicional energético será considerado; OBS 2: Gestantes com obesidade e COM comorbidades associadas (DMG, SHG, entre outras), utilizar o NAF de 1,4 sem o adicional energético. ➔ Adicional Energético da Gestação: Para um ganho ponderal gestacional de 12kg são necessárias 77.000kcal, assim para ganho de 1kg são necessárias 6.417kcal (FAO/OMS/ONU, 2004). Fórmulas de bolso: ✓ 1º trimestre (IG < 14 s) → 85 kcal/dia; ✓ 2º trimestre (IG ≥ 14 e < 28 s) → 285 kcal/dia; ✓ 3º trimestre (IG ≥ 28 s) → 475 kcal/dia. - VET da dieta = GE + adicional energético gestacional Obtido o total de Kcal necessárias para o ganho de peso desejado, dividir o valor pelo número de semanas que faltam até o termo (40ª semana), em seguida dividir por 7 dias, para se obter o número de calorias diárias e adicionar ao valor obtido com o cálculo da GE. • Colocando os cálculos em PRÁTICA: Caso Clínico: JMT, 30 anos, IG: 26 semanas, PPG: 48 kg, estatura: 1,43 m, peso atual (PA): 51,45 kg. Passo 0: calcular o IMC PG (PPG/Estatura2): 23,5 kg/m2. Passo 1: ganho de peso até o momento = PA – PPG = 3,45 kg. Passo 2: segundo o IMC PG, a paciente é classificada com eutrofia/adequada, logo, seu ganho ponderal total deverá atingir o intervalo entre 11,5 kg a 16.5 kg (Quadro 1). Passo 3: número de semanas que faltam para o termo (considerando 40 semanas): 40 semanas – 26 semanas = 14 semanas. Passo 4: cálculo do ganho de peso semanal: semanas que restam: 14 semanas x ganho semanal recomendado = 0,42 kg (média recomendada para ganho semanal a partir do 2º e 3º trimestres para eutrofia (Quadro 1). = 14 semanas x 0,42 kg = 5,88 kg (ganho nas próximas 14 semanas); Passo 5: somar este valor encontrado ao ganho de peso até a data: 5,88kg + 3,45kg = 9,33kg OBS: Ganho total estimado está baixo, pois está fora da faixa de 11,5 a 16 kg! Logo, é possível propor um ganho semanal superior, como: 0,60 kg → = 14 semanas x 0,60 kg = 8,4 kg + 3,45kg = 11,85 kg; Desta maneira, mesmo ultrapassando o limite recomendado de ganho de peso para gestantes com IMC PG de eutrofia, a orientação pode ser assim, uma vez que o ganho de peso total está dentro da faixa recomendada: 11,5 a 16 kg. Passo 5: calcular a TMB (30-60 anos): 8,126 x 48 Kg + 845,6 = 1.235,64 kcal x 1,53 (FA escolhido) → GE =1.890,54 kcal. Passo 6: calcular o adicional energético: 1kg ------------- 6417 kcal8,4 kg -------------- x → x = 53.902,8 kcal / nº de semanas que faltam (14) / 7 dias = 550,02 Kcal/dia. OBS: 8,4 kg = 14 semanas (número de semanas que faltam) x 0,60 g (ganho de peso semanal recomendado). Passo 7: somar o adicional energético diário ao Gasto Energético (GE) anteriormente calculado: Ou seja → 1.890,54 kcal + 550,02 kcal = 2.440,56 kcal – aproximadamente 2500 kcal. RESULTADO: O plano alimentar diário oferecido a gestante deverá ter um valor energético total (VET) de 2500 kcal. • Avaliação funcional para deficiência de vitamina A – adotar a entrevista para Cegueira Noturna (XN) ✓ Possui dificuldade para enxergar durante o dia? Se sim, investigar os casos diagnosticados de miopia, hipermetropia ou outros. Atenção para diagnosticar o início do sinal ocular. ✓ Dificuldade para enxergar com pouca luz ou à noite? Explicar à entrevistada que se trata de dificuldade de visão com pouca luminosidade (ex. dificuldade para caminhar no escuro e reconhecer objetos e pessoas, limitação da rotina). Outro recurso que pode ser adotado é utilizar como referência à capacidade de visão noturna antes e durante o período gestacional e indagar se houve alteração nesse padrão individual. Investigar quando começou a apresentar o sintoma e, investigar se ocorreu na última gestação ou lactação, ou se iniciou na gestação atual, na fase adulta, etc. ✓ Atenção para diagnosticar o período de ocorrência do sintoma ocular (início e término), em semanas ou meses. ✓ Tem XN? Investigar se a entrevistada acha que tem XN. Atenção para a estimativa de tempo de ocorrência. ✓ É diagnosticada a XN quando houver dificuldade para enxergar ao anoitecer ou à noite, mas quando não for relatada dificuldade para enxergar durante o dia. Fonte: Saunders; Leal, 2014. • Distribuição percentual dos macronutrientes em relação ao VET (% kcal, WHO, 2003; IOM, 2005): adultas e adolescentes sem comorbidades: • Adicional de proteína: ✓ FAO/WHO, 2007: 1g/kg/dia + 1g (1º. Trim), 9g (2º. Trim) e 31g/dia (3º. Trim); ✓ ANVISA (MS, 2005): 1,1g/kg/d ou + 25g/dia: total de 71g/dia; ✓ Gestação gemelar FAO (2007): + 50g/dia a partir da 20ª semana gestacional e + 1000kcal, além das recomendações previstas para as mulheres de gestação de feto único. ✓ OBS: Uso do peso pré-gestacional nestas fórmulas. • Para as adolescentes: ✓ ADA (1989): < 15 anos: 1,7g/kg/dia de peso ideal; > 15 anos: 1,5g/kg/dia de peso ideal. • Recomendações de Vitaminas e Minerais Os valores de ingestão recomendados correspondem à Ingestão Dietética de Referência (IDR) propostas pelo IOM, (1997; 2001), para todas as gestantes. ✓ Por exemplo: ✓ Vitamina A: 750 – 770 µg/dia; ✓ Vitamina C: 80 – 85 mg/dia; ✓ Ácido Fólico: 600 µg/dia; ✓ Ferro: 27 mg/dia; ✓ Cálcio: 1000 – 1300 mg/dia. ✓ Carboidratos: 55 - 75% do VET; ✓ Fibras: > 25 g/dia; ✓ Açúcar de adição: < 10% do VET; ✓ Proteínas: 10 – 15% do VET; ✓ Lipídios: 15 a 30% do VET - [ácidos graxos saturados (<10%), poliinsaturados (até 10%), monoinsaturados (10% a 15%) e trans (<1%)]. ✓ Evitar ácidos graxos saturados, trans e colesterol. • Suplementação na Gravidez: ✓ Ferro e Ácido fólico: 60mg/dia de ferro elementar + 1mg de ácido fólico a partir da 20ª semana de gestação; ✓ A suplementação de ferro deve ser mantida no pós-parto e no pós-aborto por 3 meses; ✓ Ácido Fólico: 400µg (0,4mg)/dia; ✓ Ômega 3 (DHA): 200mg/dia; ✓ Probióticos: 1 sachê (109 UFC´s); ✓ Iodo: 150 – 200µg de iodeto de potássio/dia. • Orientações Nutricionais qualitativas: Orientação nutricional individualizada e detalhada, adequadas as condições socioeconômicas, com ênfase nas porções e na lista de substituição dos alimentos, objetivando o ganho de peso recomendado e a prevenção e o tratamento das carências nutricionais específicas. ✓ Orientar o maior fracionamento da dieta, com menor volume (preferencialmente 5-6 refeições/dia); ✓ Orientações específicas para sinais e sintomas digestivos, intolerâncias alimentares e para correções de práticas alimentares errôneas - anamnese; ✓ Orientações específicas para as intercorrências, morbidades crônicas e carências nutricionais; ✓ Desestimular o consumo de alimentos gordurosos, frituras, alimentos processados e o consumo de preparações concentradas em glicídios simples como doces, balas, refrigerante e pastelarias; ✓ Orientação para que sejam evitados alimentos ultraprocessados (BRASIL, 2014); ✓ Para prevenção ou tratamento de anemia desestimular o consumo de café, chá, mate (taninos), refrigerante, leite e derivados e alimentos ricos em oxalatos, fosfatos e fitatos junto às grandes refeições. Estimular o consumo de frutas ricas em vitamina C junto às grandes refeições. ✓ No caso de cegueira noturna (hipovotaminose A) - bife de fígado bovino (100g) 1x/semana e aumentar o consumo de derivados do leite, ovo, folhosos verdes e vegetais alaranjados. O bife de fígado semanalmente também é indicado para prevenir ou tratar anemia (1x /semana no almoço ou jantar); ✓ Orientar a ingestão de, no mínimo, 2 litros água ao dia, no intervalo das refeições; ✓ Consumo moderado de café, chá preto e mate (máximo 300mg de cafeína/dia); ✓ Evitar o fumo e uso de bebidas alcoólicas; ✓ Investigar tabus, crenças e experiências anteriores relacionadas com o aleitamento materno; ✓ Incentivo ao aleitamento materno e orientações técnicas de acordo com as diretrizes do MS, 2012. • Conduta Nutricional em situações específicas: Picamalácia: ✓ Conversar com a gestante, investigando problemas emocionais ou familiares que possam estar associados e tentar convencê-la a substituir essa prática pela ingestão de alimentos de sua preferência; Esclarecer que as substâncias não alimentares podem contribuir para o agravo da anemia e interferir na absorção de nutrientes ou mesmo acarretar doenças (parasitoses, por exemplo). Constipação: ✓ Aumentar a ingestão de fibras: frutas laxativas e as aquelas com bagaço; vegetais de preferência crus; ✓ Estimular o consumo de produtos integrais (cereais, pães, biscoitos, farinhas); ✓ Estimular o consumo de farelo de trigo ou aveia. Iniciar com 1 colher de chá e aumentar conforme a tolerância, chegando até a 2 colheres de sopa/dia; ✓ Aumentar a ingestão hídrica (2 litros/dia). Náuseas e Vômitos: Frequente entre a 6ª e 20ª semana; a partir da 14ª - o apetite melhora. ✓ Refeições pequenas - intervalos regulares. Comer demais ou estômago vazio aumenta os enjoos; ✓ Evitar alimentos gordurosos, condimentados ou muito doces; ✓ Preferir alimentos mais secos, principalmente pela manhã; ✓ Sucos: preferir os ácidos, como limão, abacaxi; ✓ Consumir gengibre, pedacinho, chá ou bala pode ajudar. Pirose (Azia): Com o aumento do útero, aumenta a pressão sobre o estômago - favorece o retorno do ácido gástrico para o esôfago. ✓ Comer devagar, em ambiente calmo; ✓ Pequenas quantidades; ✓ Mastigar bem; ✓ Boa percepção do que está se alimentando e pode causar o sintoma. Bons estudos!
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