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Brasileira Prof.ª Denise Costa Prof.ª Letícia Francez arte Indaial – 2021 2a Edição Elaboração: Prof.ª Denise Costa Prof.ª Letícia Francez Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C837a Costa, Denise Arte brasileira. / Denise Costa; Letícia Francez. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 208 p.; il. ISBN 978-65-5663-956-7 ISBN Digital 978-65-5663-954-3 1. Arte brasileira no século XX. - Brasil. I. Francez, Letícia. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 709 Acadêmico, seja bem-vindo aos estudos da Arte Brasileira. Conhecer as criações artísticas produzidas em nosso país é fundamental para compreendermos as origens de nossa história, assim como os caminhos que nos trouxeram até a arte produzida na contemporaneidade. É também uma forma de valorizarmos nossos saberes, percebendo a diversa riqueza cultural que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos e que hoje se converte em importantes expressões e manifestações artísticas. Na Unidade 1, abordaremos as origens da arte brasileira. Vamos conhecer os primeiros vestígios da arte pré-histórica no Brasil, de modo a compreender as diferenças entre as culturas e tradições das antigas civilizações brasileiras. Estudaremos sobre os sítios arqueológicos e sambaquis, a arte marajoara e a cultura Santarém, além de reconhecer os aspectos e valores das manifestações artísticas dos povos originários Em seguida, na Unidade 2, vamos verificar a chegada dos europeus em nosso território, a partir dos registros produzidos por esses colonizadores. Veremos também a valiosa herança das culturas africanas, por meio das representações da arte dessas etnias. Nesta unidade, iremos abordar a arte do período colonial no Brasil, além do barroco e do rococó brasileiro. Fecharemos o tema com os estudos sobre a missão artística francesa e as influências neoclássicas europeias. Por fim, na Unidade 3, nosso foco será a arte brasileira no século XX e XXI. Verificaremos as influências das correntes artísticas europeias em nossa arte, observando o modo como foi se constituindo o modernismo em nosso país. Nesta unidade, abordaremos também sobre a Semana de Arte Moderna, os manifestos produzidos pelos artistas e a organização das Bienais. Ao final da unidade, vamos discorrer sobre a arte realizada na contemporaneidade, identificando a produção artística da segunda metade do século XX e os hibridismos do século XXI. Ao finalizar seus estudos, esperamos que você perceba a relevância das produções artísticas e culturais brasileiras, passando a valorizar ainda mais a diversidade que as permeiam. Que você identifique e conheça os importantes povos, artesãos e artistas que construíram esse trajeto e, também, se reconheça como parte integrante dessa história. Bons estudos! Prof.ª Denise Costa e Prof.ª Letícia Francez APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. 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O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - ORIGENS DA ARTE BRASILEIRA ..................................................................... 1 TÓPICO 1 - ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL ....................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 VESTÍGIOS DA ARTE PRÉ-HISTÓRICA ..............................................................................3 2.1 REGISTROS MILENARES DA ARTE RUPESTRE NO BRASIL ......................................................... 5 2.2 TRADIÇÕES DA ARTE RUPESTRE ......................................................................................................7 3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SAMBAQUIS ........................................................................18 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 24 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 25 TÓPICO 2 - VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO ..........................................27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................27 2 ARTE MARAJOARA ...........................................................................................................27 3 CULTURA SANTARÉM ...................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 34AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 35 TÓPICO 3 - MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS PRIMITIVOS .............................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................37 2 ARTE INDÍGENA ............................................................................................................... 38 2.1 CERÂMICA .............................................................................................................................................39 2.2 CESTARIA ..............................................................................................................................................43 2.3 ARTE PLUMÁRIA .................................................................................................................................46 2.4 MÁSCARAS .......................................................................................................................................... 48 2.5 PINTURA CORPORAL .........................................................................................................................49 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 53 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................57 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60 UNIDADE 2 — INFLUÊNCIAS CULTURAIS NA ARTE BRASILEIRA .................................... 63 TÓPICO 1 — DIFERENTES CULTURAS CRIANDO A ARTE NO BRASIL ............................... 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 65 2 REGISTROS DO BRASIL NA VISÃO DOS EUROPEUS ..................................................... 65 2.1 CENAS DO BRASIL NA REPRESENTAÇÃO DOS HOLANDESES ................................................66 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................72 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................73 TÓPICO 2 - ARTE DO PERÍODO COLONIAL NO BRASIL ......................................................75 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................75 2 ARTE COLONIAL ................................................................................................................76 2.1 ARQUITETURA ...................................................................................................................................... 77 2.1.1 Fortificações ................................................................................................................................82 2.1.2 Igrejas .......................................................................................................................................... 84 2.2 PINTURA .............................................................................................................................................. 88 2.3 ESCULTURA ........................................................................................................................................92 3 O BARROCO NO BRASIL ...................................................................................................95 3.1 ALEIJADINHO E SUAS OBRAS .........................................................................................................99 3.2 MESTRE ATAÍDE E SUAS OBRAS ..................................................................................................103 4 O ROCOCÓ NO BRASIL ................................................................................................... 104 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................106 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................107 TÓPICO 3 - FRUTOS DE UMA ÉPOCA REAL ......................................................................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................109 2 MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA......................................................................................111 2.1 VISÃO DOS ARTISTAS VIAJANTES .................................................................................................114 3 INFLUÊNCIAS NEOCLÁSSICAS EUROPEIAS ................................................................. 119 3.1 TALENTOS BRASILEIROS DA ARTE ACADÊMICA ....................................................................... 122 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................133 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................135 UNIDADE 3 — ARTE BRASILEIRA NO SÉCULO XX E XXI .................................................. 137 TÓPICO 1 — RUMO A UMA ESSÊNCIA ESTILÍSTICA BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS DE CORRENTES ARTÍSTICAS DA EUROPA ............................................................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................139 2 VANGUARDAS EUROPEIAS NO BRASIL........................................................................ 140 2.1 EXPRESSIONISMO ..............................................................................................................................141 2.1.1 Anita Malfatti .............................................................................................................................141 2.1.2 Lasar Segall ............................................................................................................................... 142 2.1.3 Candido Portinari .....................................................................................................................143 2.2 FAUVISMO ..........................................................................................................................................144 2.2.1 Arthur Timótheo da Costa .....................................................................................................144 2.2.2 Inimá José de Paula .............................................................................................................. 145 2.3 CUBISMO ............................................................................................................................................146 2.3.1 Tarsila do Amaral ...................................................................................................................... 147 2.3.2 Vicente do Rego Monteiro ....................................................................................................148 2.3.3 Emiliano Di Cavalcanti ...........................................................................................................149 2.4 SURREALISMO ..................................................................................................................................150 2.4.1 Ismael Nery ................................................................................................................................1512.4.2 Cícero Dias ............................................................................................................................... 152 3 DIFERENTES EXPRESSÕES DA ARTE BRASILEIRA .....................................................153 3.1 LITERATURA ........................................................................................................................................ 154 3.2 ESCULTURA ....................................................................................................................................... 155 3.3 ARQUITETURA ...................................................................................................................................158 3.4 GRAVURA ........................................................................................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................162 TÓPICO 2 - ARTE MODERNA BRASILEIRA: EM BUSCA DA RUPTURA ............................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................165 2 SEMANA DE ARTE MODERNA .........................................................................................165 3 VALOR ÀS RAÍZES NACIONAIS ...................................................................................... 167 3.1 MOVIMENTO PAU-BRASIL ...............................................................................................................168 3.2 MOVIMENTO VERDE-AMARELO ....................................................................................................169 3.3 MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO ..................................................................................................... 170 4 FORMAÇÃO DE SOCIEDADES, CLUBES E GRUPOS .......................................................171 4.1 NÚCLEO BERNARDELLI .................................................................................................................... 171 4.2 SOCIEDADE PRÓ-ARTE MODERNA .............................................................................................. 172 4.3 CLUBE DOS ARTISTAS MODERNOS ............................................................................................. 172 4.4 GRUPO SANTA HELENA .................................................................................................................. 172 5 BIENAIS DE SÃO PAULO ................................................................................................. 172 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 179 TÓPICO 3 - ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL: PANORAMA DO SÉCULO XXI .......... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 181 2 PRODUÇÃO ARTÍSTICA DO SÉCULO XX ........................................................................ 181 2.1 EXPERIMENTAÇÕES VISUAIS .........................................................................................................182 2.1.1 Arte Concreta ............................................................................................................................185 2.1.2 Arte Cinética .............................................................................................................................188 2.1.3 Pop art ........................................................................................................................................189 2.1.4 Arte conceitual .........................................................................................................................190 2.1.5 Instalações .................................................................................................................................191 2.1.6 Performances ........................................................................................................................... 192 2.1.7 Grafite .......................................................................................................................................... 193 3 HIBRIDISMO DO SÉCULO XXI .........................................................................................194 3.1 INTERVENÇÕES E MATERIALIDADES ........................................................................................... 195 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................198 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 204 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 205 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 207 1 UNIDADE 1 - ORIGENS DA ARTE BRASILEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer as origens da arte brasileira; • compreender as diferenças entre as culturas e tradições das antigas civilizações brasileiras; • identifi car a arte das culturas amazônicas da pré-história; • reconhecer os aspectos e valores da arte indígena brasileira. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL TÓPICO 2 – VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO TÓPICO 3 – MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS PRIMITIVOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste primeiro tópico você irá conhecer as origens da arte brasileira. Abordar estes caminhos iniciais é também referir-nos ao que precede a chegada dos portugueses, em 1500, bem como a formação política do Brasil, pois aqui viviam as populações denominadas pré-cabralinas, ou seja, comunidades que possuíam sua própria cultura. Segundo Tirapeli (2006, p. 11), “as estimativas sobre o número de habitantes nativos no Brasil na época da chegada dos europeus são pouco precisas, variando entre um e dez milhões de indivíduos”. O autor alega que na bacia amazônica podem ter vivido, na época, 5,6 milhões de indivíduos. A partir de estudos dos registros encontrados e analisados por pesquisadores podemos conhecer a origem de nossa cultura. O termo cultura, em uma concepção mais ampla, para Coelho (2014, p. 114), “caracteriza o modo de vida de uma comunidade”. Assim, é possível descortinar o passado e escrever a história. Por meio da História é possível observar as complexas transformações ocorridas no pensamento humano por milhares de anos, na tentativa de compreender razões ou motivações que levaram as populações pré-históricas a produzir as diversas expressões que hoje denominamos arte. Entrar nas cavernas mais primitivas da nossa história para conhecer os mistérios dos primórdios de nossos antepassados, suas descobertas, práticas e costumes é um convite a uma viagem fascinante às origens milenares do ser humano. 2 VESTÍGIOS DA ARTE PRÉ-HISTÓRICA A arte vem sendo produzida pelo ser humano desde os tempos mais distantes, quando ainda não havia instrumentos e ferramentas próprias para sua execução. Vestígios milenares de grafismos, pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, podem ser observadosnas mais diversas regiões do Brasil, mas é importante relembrar alguns conceitos para localizar-nos no tempo histórico. Uma das características que envolvem o significado de Pré-História é a ausência de registros expressos por meio da escrita formal, considerando que “no continente americano adotou-se o termo Pré-História para se referir ao período anterior à chegada de Colombo”, como apontam Funari e Noelli (2020, p. 14). Mesmo que em TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 outros continentes a escrita já existisse na época das grandes navegações, no território da América do Sul onde é hoje o Brasil, a escrita não foi detectada, sendo introduzida após a chegada dos Europeus. Para Prous (2011, p. 11), “as artes da Pré-História (grafismos e objetos aos quais atribuímos um valor estético, elaborados por grupos humanos que não deixaram textos escritos e sobre os quais não dispomos de documentação escrita) são estudadas pela arqueologia, ou seja, a partir da interpretação dos vestígios materiais”. Esses vestígios são rigorosamente analisados, datados e descritos por arqueólogos, possibilitando o acesso das pessoas interessadas às informações. É importante saber que para identificar as datas dos vestígios encontrados, Funari e Noelli (2020, p. 20) esclarecem que arqueólogos utilizam “diversas técnicas em laboratório, como o Carbono 14 e a termoluminescência”. Dessa forma é possível datar os materiais encontrados e até revelar sua constituição e formas de utilização. Imaginar o que poderia ser feito de um simples pedaço de rocha e transformá-lo em instrumento de caça, dominar técnicas para construir ferramentas e utensílios sem o acesso a maquinários, evidenciam que as habilidades de nossos ancestrais garantiram a sobrevivência da espécie humana por milhares de anos. Diante disso, é importante reconhecer o papel do ser humano pré-histórico no desenvolvimento tecnológico que nos acompanha a cada milênio. O que é Carbono 14? Os cientistas usam o carbono 14 para determinar a idade de fósseis animais e vegetais ou de qualquer objeto que seja subproduto de tais, como um pedaço de madeira ou de pano. Prous (2007) explica que os seres vivos (vegetais e animais) absorvem partículas de carbono. Quando ocorre a morte, não há mais renovação do carbono; o carbono radioativo (de massa atômica 14), instável, transforma-se, então, progressivamente em carbono 12 (isótopo estável) e quanto menos carbono 14 sobra, maior será o tempo decorrido desde a morte. O método não permite datar com segurança além de 40.000 anos, quando a quantidade de carbono 14 se torna pequena demais para ser medida e a margem de erro aumenta muito. Veja também sobre o Carbono 14 em: https://brasilescola.uol.com.br/o- que-e/quimica/o-que-e-carbono-14.htm. INTERESSANTE 5 2.1 REGISTROS MILENARES DA ARTE RUPESTRE NO BRASIL O que entendemos hoje como arte, ou seja, as manifestações estéticas registradas durante milênios, em rochas ou em outras produções utilitárias e cerimoniais, acompanham o ser humano, desde tempos remotos, quando já se sentia a necessidade de se comunicar. Já o período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos por meio de inscrições em rochas. As artes gravadas, desenhadas ou pintadas em paredes de rochas, são denominadas rupestres “do latim rupes, rupis, que significa rochedo”, como explica Prous (2011, p. 11). Podem ser encontradas em várias regiões do Brasil, datadas de milhares de anos, como mostra a figura a seguir: FIGURA 1 – SÍTIO ARQUEOLÓGICO DA PEDRA PRETA FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/624/>. Acesso em: 30 jul. 2021. É importante observar e conhecer as diferenças entre as técnicas utilizadas para a representação dos registros parietais. Os desenhos, formas delineadas nas rochas, muitas vezes recebiam pinturas com tintas preparadas com pigmentos obtidos a partir de elementos naturais (PROUS, 2011). O óxido de ferro era utilizado para a produção de vermelho, ocre e amarelo, enquanto o marrom e tonalidades escuras tinham como base o dióxido de manganês. Pigmentos pretos eram extraídos de carvão obtido pela queima de madeira ou ossos. FIGURA 2 – DESENHO FONTE: <https://bit.ly/3owprMz>. Acesso em: 30 jul. 2021. 6 As cores eram aplicadas na rocha friccionando uma espécie de massa de pigmento seco e duro. Algumas pinturas eram elaboradas com as mãos, por meio de sopro, ou também com pincéis confeccionados com galhos de árvores. As tintas eram produzidas com um aglutinante, possivelmente extraído de gordura animal, para dar liga ao pigmento, facilitando a pintura. FIGURA 3 – PINTURA FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/396?eFototeca=1>. Acesso em: 30 jul. 2021. Algumas gravuras rupestres eram elaboradas com incisões que produziam sulcos na rocha, formando figuras, formas geométricas ou outros elementos. Em determinados locais há aplicação de pigmentos em sulcos produzidos nas rochas. Em alguns sítios a pintura desaparece devido às condições climáticas. FIGURA 4 – GRAVURA: ABRIGO DO ALVO, SÃO PAULO FONTE: Prous (2011, p. 23) Outra técnica utilizada na elaboração de gravuras eram os picoteados, possivelmente realizados com uma ferramenta de ponta sobre a parede rochosa. Essa técnica resulta em figuras foscas em um fundo rugoso. 7 FIGURA 5 – GRAVURA PICOTEADOS: LAPA DE POSEIDON, MINAS GERAIS FONTE: Prous (2011, p. 23) O pensamento que se tem de que os primeiros seres a ocuparem o território brasileiro eram ditos “primitivos” e estavam somente a caçar grandes animais é uma ideia que contrasta com o universo pictórico e de forte apelo estético desses povos (GASPAR, 2003). O estudo da arte rupestre nos revela um universo bastante simbólico e complexo e que aos poucos vai sendo desvendado pelos pesquisadores da arte pré-histórica. As imagens da arte rupestre demonstram as expressões dos povos milenares, bem como suas particularidades. As representações de cenas carregadas de simbologias, cores, elementos estilísticos, nos permitem fazer uma viagem ao passado e imaginar o cotidiano dessas sociedades. Os registros da arte rupestre sofreram a ação do clima por milhares de anos, por esse motivo, suas cores e formas podem estar com aspecto diferente do que quando foram produzidas. Além disso, sabe-se que há riscos de atos de vandalismo, o que significa grande perda para o patrimônio histórico. 2.2 TRADIÇÕES DA ARTE RUPESTRE Tradição é um termo utilizado na arqueologia para fazer referência ao conjunto de traços culturais que possibilita a identificação das sociedades, nos diversos lugares e tempos. Gaspar (2003) faz alusão às denominações estabelecidas pelo arqueólogo André Prous às oito tradições distribuídas no território brasileiro: Meridional, Litorânea, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. É importante ressaltar que as tradições possuem milhares de anos de existência e, algumas delas foram sucedidas por outros registros também milenares. Por esse motivo podem ser encontrados diferentes padrões estilísticos em um mesmo sítio arqueológico, como formas geométricas, figuras biomorfas, zoomorfas ou antropomorfas. 8 Na figura a seguir pode-se observar as oito tradições da arte rupestre, que estão distribuídas em todas as regiões do Brasil. FIGURA 6 – MAPA COM A DISTRIBUIÇÃO DAS TRADIÇÕES DE ARTE RUPESTRE FONTE: Gaspar (2003, p. 44) A Tradição Meridional ocorre no sul do Brasil, a maioria no planalto do Rio Grande do Sul, possivelmente com menos de 2.000 anos, estende-se para a Argentina e ao longo dos rios Paraná e Paraguai, segue até a Bolívia e possivelmente pelo rio Araguaia até Serranópolis, estado de Goiás. Em relação às formas das figuras, aquelas consideradas biomorfas referem- se às formas de organismos vivos; as zoomorfas correspondem às formas de animais e as antropomorfas são relativas às formas de seres humanos. NOTA 9 São encontradas gravuras com sulcos de aproximadamente um centímetro, onde há vestígios de pigmentos empreto, branco, marrom ou roxo. Alguns registros possuem conjuntos de círculos que fazem referência à forma de pegadas de animais, possivelmente felídeos. Há também gravuras picoteadas com algumas incisões circulares e representações biomorfas, que possuem semelhanças com organismos vivos. FIGURA 7 – CANHEMBORÁ, NOVA PALMA (RS) FONTE: Gaspar (2003, p. 29) Com temática considerada pobre, as imagens apresentam traços retos, paralelos ou cruzados e algumas linhas curvas. Há também a combinação de traços retos, os quais produzem formas denominadas tridáctilos, ou seja, que possuem três dedos. FIGURA 8 – GRAVURA DA TRADIÇÃO MERIDIONAL – SÍTIO D. JOSEFA (RS) FONTE: Gaspar (2003, p. 27) 10 A Tradição Litorânea, encontrada no litoral do estado de Santa Catarina, do município de Porto Belo até o Farol de Santa Marta. No município de Laguna, caracteriza- se por gravações com sulcos de até quatro centímetros de largura, feitas no granito. O pesquisador André Prous encontrou registros de quatorze temas com formas humanas e geométricas, todos com características comuns, mas com temas bem específicos, parecendo marcar sua individualidade. FIGURA 9 – ILHA DO CAMPECHE (SC) FONTE: Gaspar (2003, p. 30) Segundo Prous (2011, p. 25), os desenhos mais comuns encontrados na Ilha do Arvoredo são círculos ou elipses, enquanto na Ilha das Aranhas e Praia do Santinho aparecem losangos e figuras em formato de ampulheta. Desenhos com linhas entrecortadas são encontrados na Barra da Lagoa e na Guarda do Embaú. FIGURA 10 – ILHA DOS CORAIS (SC) FONTE: Gaspar (2003, p. 27) 11 A Tradição Geométrica, como nomeada, possui quase somente gravuras geométricas. Gaspar (2003, p. 28) indica que “atravessando o planalto de Sul até o Nordeste, cortando os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso” estão localizadas essas inscrições. Prous classifica a Tradição Geométrica em setentrional, locais próximos a rios, e meridionais, como aponta Gaspar (2003), aquelas que possuem gravações, por vezes, retocadas com pigmentos, em locais que não são banhados por águas. FIGURA 11 – A PEDRA LAVRADA, DE INGÁ (PB): TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (SETENTRIONAL) FONTE: <https://bit.ly/3l5xAp9>. Acesso em: 30 jul. 2021. A Pedra de Ingá, representada no esquema da figura seguinte, “possui a possível representação de uma espiga de milho” (PROUS, 2011, p. 38), entre outros elementos que indicam formas de animais e figuras humanas. FIGURA 12 – A PEDRA LAVRADA, DE INGÁ (PB): TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (SETENTRIONAL) FONTE: Gaspar (2003, p. 28) É importante ressaltar que as inscrições localizadas no Morro do Avencal, próximo da cidade de Urubici, no estado de Santa Catarina, pertencem à Tradição Geométrica, classificada por Prous como meridional. 12 FIGURA 13 – TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (MERIDIONAL). MORRO DO AVENCAL (SC) FONTE: Acervo das autoras A figura seguinte traz um esquema da representação das gravuras localizadas no planalto catarinense, as quais se parecem com a tradição Meridional e são diferentes daquelas encontradas no litoral do estado. FIGURA 14 – TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (MERIDIONAL) – MORRO DO AVENCAL (SC) FONTE: Gaspar (2003, p. 37). A Tradição Planalto, encontrada do Paraná ao estado do Tocantins, apresenta grafismos representando predominantemente figuras de cervídeos. Segundo Gaspar (2003, p. 37) “a maioria dos sítios apresenta grafismos pintados em vermelho, embora ocorra também alguns nas cores preta, amarela e mais raramente branca”. Há também representação de peixes, como demonstrado na figura que segue, entre outros animais. 13 FIGURA 15 – SANTANA DO RIACHO (MG) FONTE: Gaspar (2003, p. 31) Existem muitos registros de peixes, inclusive de pesca ou animais, geralmente pintados em vermelho. São tatus, onças, aves e em alguns locais são encontrados registros de figuras humanas e formas geométricas. FIGURA 16 – IAPÓ E TIBAGI (PR) FONTE: Gaspar (2003, p. 37) A Tradição Nordeste ocorre no Piauí, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte, parte da Bahia, Ceará e norte de Minas Gerais. As pinturas são monocromáticas, ou seja, possuem uma única cor. Segundo Prous (2011, p. 33), “as representações zoomorfas, ou seja, que possuem formas de animais, incluem um grande número de emas e cervídeos, isolados ou correndo em bando”. O autor ainda descreve a ocorrência de cenas de combate e representações de aldeias. 14 FIGURA 17 – TOCA DO BOQUEIRÃO DA PEDRA FURADA (PI) FONTE: Gaspar (2003, p. 32) Há registros de gravuras indicando figuras humanas, animais e algumas formas geométricas. As figuras são retratadas segurando objetos, possivelmente armas, indicando a possibilidade de caças ou rituais pelos grupos de antropomorfos. FIGURA 18 – FIGURAS HUMANAS – TRADIÇÃO NORDESTE FONTE: Gaspar (2003, p. 37) A Tradição Agreste ocorre no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí, caracterizando-se pela presença de grandes figuras geométricas ou biomorfas, figuras humanas caçando ou pescando, que remetem a espantalhos. Aparecem também alguns animais representados de forma estática. Prous considera que pode haver locais com imagens das Tradições Nordeste e São Francisco, possivelmente produzidos em épocas diferentes (GASPAR, 2003, p. 39). 15 FIGURA 19 – PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA (PI) FONTE: Gaspar (2003, p. 33) Prous (2011) considera que as figuras são variadas e aparentam terem sido produzidas em diversos momentos. Aparecem impressões de mãos, grafismos ou figuras carimbadas nas rochas. As figuras antropomorfas e zoomorfas são representadas de maneira tosca. FIGURA 20 – SÍTIO PEDRA REDONDA, PEDRA (PE) FONTE: Gaspar (2003, p. 38) A Tradição São Francisco, encontrada no vale do rio São Francisco, em Minas Gerais, Bahia e Sergipe e nos estados de Goiás e Mato Grosso, apresenta grafismos com motivos geométricos e desenhos com formas humanas ou animais. Gaspar (2003) reconhece que a combinação de cores vivas e a organização das figuras geométricas torna os painéis extraordinariamente espetaculares. 16 FIGURA 21 – LAPA DO BOQUETE – JANUÁRIA (MG) FONTE: Gaspar (2003, p. 34) Gaspar (2003, p. 34) afirma que “os répteis são formas frequentes na tradição São Francisco” e, como cita Prous (2011, p. 30), no Peruaçu surge tardiamente o estilo Caboclo, com figuras complexas. Pode-se notar a representação de armas e objetos utilitários. FIGURA 22 – PARTE DO PAINEL III DA LAPA DO CABOCLO (MG) FONTE: Gaspar (2003, p. 40) A Tradição Amazônica é caracterizada por antropomorfos simétricos e geometrizados. O tema principal são figuras humanas completas ou apenas a cabeça. Segundo Gaspar, as figuras completas “exibem os traços do rosto, inclusive boca com dentes” (GASPAR, 2003, p. 42). Algumas figuras indicam representação de gravidez. 17 FIGURA 23 – SERRA DA CARETA – PRAINHA (PA) FONTE: Gaspar (2003, p. 36) Como se vê na fi gura seguinte, além de traços do rosto, o corpo possui desenhos geométricos que, para Gaspar (2003), parece a sugestão de algum tipo de adorno, assim como cocares nas cabeças. FIGURA 24 – ANTROPOMORFOS – TRADIÇÃO AMAZÔNICA FONTE: Gaspar (2003, p. 42) Para saber mais sobre este assunto, procure assistir ao fi lme "O Ateliê de Luzia - Arte Rupestre no Brasil". Produzido por Marcos Jorge, a produção retrata as conclusões atuais da arqueologia no que se refere aos vestígios visuais do homem brasileiro. A sociedade brasileira é investigada desde suas origens, abordando os limites DICA 18 3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SAMBAQUIS Sítios arqueológicos, conforme Tirapeli (2006, p. 13), são locais “onde há indicativos da presença de seres humanos há milhares de anos”. Em um país gigante como o Brasil, pesquisadores já encontraram uma infinidade de sítios arqueológicos, como indica a imagem das ocorrências georreferenciadas, ou seja, com informações sobre a forma, dimensão e localização exata, bem como suas coordenadas no globo terrestre. No mapa é possível verificar que há ocorrência em todas as regiões, conforme CadastroNacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). FIGURA 25 – SÍTIOS GEORREFERENCIADOS FONTE: <https://bit.ly/3o9PU2i>. Acesso em: 30 jul. 2021. Sambaqui, palavra de origem Tupi, significa amontoado ou depósito de conchas. Essas colinas, formadas na maior parte por restos de conchas, caracterizadas por serem elevações com formato arredondado que, “em algumas regiões do Brasil”, atingem “mais de 30m de altura” (GASPAR, 2004, p. 5). Esses montes são consequência do acúmulo de conchas, cascas de ostras e outros restos de alimentos de origem animal e outros vestígios de indivíduos que viveram no litoral do Brasil. Os moradores dos sambaquis fabricavam algumas vezes figuras antropomorfas, ou seja, que possuem formas humanas, mas geralmente suas produções eram as esculturas biomorfas em pedra. Muitas são côncavas na região do abdômen, talvez para moer utilizando um pilão ou talvez para oferendas em rituais. 19 FIGURA 26 – SAMBAQUI FONTE: <https://bit.ly/3ue2sqz>. Acesso em: 26 jul. 2021. Para Gaspar (2004, p. 24), “no sambaqui ocorreria a associação espacial de três importantes domínios da vida cotidiana: o espaço da moradia, o local dos mortos e o de acumulação de restos faunísticos relacionados com a dieta de seus construtores”. Esses vestígios, como outros, guardam importantes informações sobre a vida das comunidades que aqui viveram há milhares de anos, possibilitando resgatar o conhecimento sobre nossas origens. Reconhecidos como parte integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, os bens de natureza material de valor arqueológico são definidos e protegidos pela Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961, sendo considerados bens patrimoniais da União. Também são considerados sítios arqueológicos os locais onde se encontram vestígios positivos de ocupação humana, os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, "estações" e "cerâmicos”, as grutas, lapas e abrigos sob rocha, além das inscrições rupestres ou locais com sulcos de polimento, os sambaquis e outros vestígios de atividade humana. FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/315/>. Acesso em: 25 set. 2021. IMPORTANTE No Brasil há milhares de sítios arqueológicos com importantes inscrições rupestres, como também um dos maiores sambaquis do mundo, localizado em Santa Catarina. Dentre eles, conforme o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), “o Brasil possui dezoito bens arqueológicos tombados em todo o território, sendo onze sítios, e seis coleções arqueológicas localizadas em museus” (IPHAN, 2021, s.p.). É a proteção não só do nosso patrimônio cultural, mas da história de nossas origens. 20 Alguns exemplos do patrimônio arqueológico do Brasil: A Ilha do Campeche, localizada no município de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, possui diversas ofi cinas líticas e gravuras rupestres com representações geométricas. FIGURA 27 – ILHA DO CAMPECHE (SC) FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/670/>. Acesso em: 23 jul. 2021. O sítio arqueológico Pedra do Ingá, localizado na cidade de Ingá, região agreste da Paraíba, destaca-se pelas representações abstratas, elaboradas com extrema qualidade técnica. As gravuras estão registradas em grandes painéis de rochas, localizadas em planície de inundação do leito dos rios. A página do IPHAN na internet traz diversas informações importantes sobre preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial do país. Acesse em: http://portal.iphan.gov.br. DICA 21 FIGURA 28 – SÍTIO ARQUEOLÓGICO ITACOATIARAS DO RIO INGÁ (PB) FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/552/>. Acesso em: 23 jul. 2021. O Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí, é um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo, com milhares de inscrições rupestres e outros vestígios pré-históricos que retratam o cotidiano dos indivíduos. São cenas de caça, animais, guerras, entre outros registros. FIGURA 29 – SÍTIO TOCA DO ESTEVO III, ONÇA BRANCA FONTE: <http://fumdham.org.br/parque/>. Acesso em: 26 jul. 2021. No ano de 1991 o Parque Nacional Serra da Capivara foi incluído na lista do Patrimônio Cultural Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Muitos dos diversos abrigos rochosos que estão nesse parque são decorados com pinturas rupestres, sendo que algumas delas possuem mais de 25 mil anos. Esse conjunto é um expressivo testemunho de uma das ocupações humanas mais antigas da América Latina. 22 FIGURA 30 – BOQUEIRÃO DO SÍTIO DA PEDRA FURADA FONTE: <http://fumdham.org.br/parque/>. Acesso em: 26 julho 2021. De acordo com a Unesco (2021, s.p.), “um patrimônio cultural mundial é composto por monumentos, grupos de edifícios ou sítios que tenham um excepcional e universal valor histórico, estético, arqueológico, científi co, etnológico ou antropológico”. Por isso, é de fundamental importância garantir a segurança para a preservação da identidade e da memória das culturas. Na região norte do Brasil, o Sítio Arqueológico Mirante, localizado no município de Presidente Médici, no estado da Rondônia, possui sítios lito-cerâmicos e de gravuras rupestres que indicam o uso de instrumentos. FIGURA 31 – OFICINA LÍTICA, SÍTIO ARQUEOLÓGICO MIRANTE FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/530/>. Acesso em: 26 julho 2021. No site da UNESCO você encontra alguns vídeos sobre os sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara. Acesse e assista para conhecer mais em: http://whc.unesco.org/en/list/606/video/. DICA 23 Na página da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) podem ser visualizadas mídias com modelos interativos de diversos elementos da Pré-História do Brasil. Acesse em: http://fumdham.org.br/midias/midias- modelos-interativos/. Edithe Pereira é uma arqueóloga paraense vinculada ao Museu Paraense Emílio Goeldi e escreveu um livro sobre os sítios arqueológicos da região de Monte Alegre, conhecidos por suas pinturas rupestres. Acesse o seguinte endereço e veja o material completo na íntegra: https://issuu.com/museu- goeldi/docs/arte_rupestre_todo. DICAS 24 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A arte vem sendo produzida pelo ser humano desde os tempos mais distantes, quando ainda não havia instrumentos e ferramentas para sua execução. Vestígios milenares de grafismos, pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, podem ser observados nas mais diversas regiões do Brasil, mas é importante relembrar alguns conceitos para localizar-nos no tempo histórico. • O ser humano, desde os tempos remotos, sentia necessidade de se comunicar. Já no período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos por meio de inscrições em rochas. • Sítios arqueológicos são locais onde existem vestígios da presença humana datados de milhares de anos. • Tradição é um termo utilizado na arqueologia para fazer referência ao conjunto de traços culturais que possibilita a identificação das sociedades, nos diversos lugares e tempos. As oito tradições distribuídas no território brasileiro são: Meridional, Litorânea, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. • Sambaqui, palavra de origem Tupi, significa amontoado ou depósito de conchas. RESUMO DO TÓPICO 1 25 1 O período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos por meio de inscrições em rochas. Sobre o que são as artes rupestres, produzidas há milhares de anos, encontradas em várias regiões do Brasil, Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Artes gravadas, desenhadas ou pintadas em paredes de rochas. b) ( ) Artes gravadas, desenhadas ou pintadas em muros antigos. c) ( ) Ausência de registros culturais expressos por meio de pintura. d) ( ) Conjunto de hábitos que possibilitam a identificação das sociedades.2 De acordo com o texto deste Tópico, os desenhos, formas delineadas nas rochas, pelos povos pré-históricos, muitas vezes recebiam pinturas. Descreva como eram produzidas as tintas utilizadas nas pinturas rupestres. 3 Como vimos, existem diferenças entre as técnicas utilizadas para a representação dos registros parietais realizados no período pré-histórico. Especifique de que forma era produzida a arte rupestre em cada uma das técnicas: desenho, pintura e gravura: 4 Tradição é um termo utilizado na arqueologia para fazer referência ao conjunto de traços culturais que possibilita a identificação das sociedades, nos diversos lugares e tempos. No que se refere às oito tradições encontradas no Brasil, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Meridional, Litográfica, Geológica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. b) ( ) Meridiana, Litorânea, Geológica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. c) ( ) Meridiana, Litográfica, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. d) ( ) Meridional, Litorânea, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. 5 Sambaqui, palavra de origem Tupi, significa amontoado ou depósito de conchas. Além de conchas, como são formados os sambaquis? Classifique as sentenças utilizando V para verdadeiras e F para falsas: AUTOATIVIDADE 26 ( ) Elevações com formato arredondado, consequência do acúmulo de conchas. ( ) Colinas, formadas na maior parte por restos de plástico, caracterizadas por serem elevações com formato arredondado. ( ) Amontoado de conchas, cascas de ostras e outros restos de alimentos de origem animal e outros vestígios de indivíduos que viveram no litoral do Brasil. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 27 VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO 1 INTRODUÇÃO A arte tem grande importância no que se refere ao esclarecimento sobre as origens do ser humano. Hoje é possível descobrir cada vez mais sobre os nossos primórdios por meio das pesquisas e análises científicas de registros e objetos considerados artísticos e assim desvelar o passado. Diante disso, neste tópico serão apresentadas informações sobre vestígios da arte pré-histórica, como esculturas, objetos e outras tendências estéticas encontradas no vasto território que é o Brasil. É importante ressaltar que as populações pré-históricas não tinham a concepção sobre representação artística que temos atualmente. Prous (2011, p. 116) enfatiza que “conhecer a arte pré-histórica do Brasil, suas localizações por região cultural, suas características, propicia uma análise mais ampla do que seja criação e estética nessa época”. A intenção era o registro, a decoração, a utilidade. Os registros artísticos milenares possuíam a função de descrever acontecimentos como caças, guerras ou eventos ritualísticos, possivelmente para expressar as conquistas, fazer referências ao sobrenatural ou à ligação com o espiritual. Essas expressões, narrativas de histórias passadas, nos trazem a certeza de que somos seres de natureza comunicativa, com necessidade, tanto de transmitir como de guardar memórias, para que sejam difundidas e multiplicadas, preservando assim as diferentes culturas. 2 ARTE MARAJOARA Na Ilha de Marajó, no estado do Pará, antes da chegada dos europeus, os marajoaras, ainda não dominavam a escrita, mas possuíam uma habilidade incontestável na modelagem da argila. Com alto grau de complexidade, combinando modelagem e textura, a cerâmica Marajoara apresenta grafismos geométricos naturalistas, ou seja, composições com plantas, formas humanas ou de animais diversos. Além disso, agregam elementos estéticos dos padrões naturalmente estampados em peles e cascos de animais. Esses desenhos estariam relacionados possivelmente às crenças dessas populações. A cerâmica marajoara apresenta como característica particular a combinação da modelagem à pintura, à incisão e à excisão, com representações de figuras antropomorfas e zoomorfas. Urnas funerárias chegam a medir noventa centímetros de diâmetro. Dentro delas, conforme Prous (2011, p. 74), “eram sepultados os ossos dos UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 28 mortos, acompanhados por tangas cerimoniais, também feitas de cerâmica”. O autor alerta que além da cerâmica cerimonial, há também objetos de formas simples, de uso diário, sem decorações. Esses objetos, modelados com estilo particular, representam por meio da linguagem visual e seus símbolos referências consideradas textos sem grafias, mas com riqueza de simbologias capazes de expressar mensagens (AMORIM, 2010). A função desses artefatos de cerâmica, portanto, além de cerimonial e utilitária, é também de comunicação social. FIGURA 32 – URNA FUNERÁRIA ANTROPOMORFA FONTE: <https://bit.ly/3uG6DeFl>. Acesso em: 4 ago. 2021. As tangas cerimoniais possuem desenhos lineares, pintados em vermelho e preto sobre fundo branco, muitas vezes fazendo alusão a sapos ou cobras. Outras vezes, decorações complexas remetem a animais ou ao rosto humano (PROUS, 2011). FIGURA 33 – TANGAS FONTE: <https://bit.ly/3oAaF7s>. Acesso em: 4 ago. 2021. 29 Motivos geométricos, como os do vaso globular marajoara representado na fi gura a seguir, fazem referência ao movimento da água. As cores das pinturas podem variar e, muitas vezes, a policromia se faz presente nas peças. FIGURA 34 – VASO MARAJOARA FONTE: <https://bit.ly/3A9rtob>. Acesso em: 4 ago. 2021. 3 CULTURA SANTARÉM A cidade de Santarém, localizada no estado do Pará, no norte do Brasil, diante do Rio Amazonas, observa o espetáculo do encontro de suas águas com o Rio Tapajós, cada um com sua cor, sua beleza e seus mistérios. Foi nesse lugar, antes da chegada dos europeus, que uma comunidade desenvolveu uma cultura que realizou o que Prous (2011) denomina cerâmica cerimonial de destaque no que se refere à criação com argila: a cerâmica Santarém, também conhecida por Tapajônica. Prous (2011, p. 78) observa que os artistas “não alcançaram o nível da cerâmica dos Marajoara nos jogos de incisão e excisão, de textura e de cor, mas desenvolveram uma extraordinária virtuosidade na modelagem”, com riqueza de detalhes e símbolos. Os artistas das margens do Tapajós conceberam, ainda, criações antropomorfas em vasos cerimoniais decorados com três tipos de formas. Quer saber mais sobre a Cultura Marajoara? Confi ra “Cultura Marajoara, um Breve Guia”. Acesse em: https://issuu.com/lmarcosdaniel/docs/um_ breve_guia_marajoara_. DICA 30 A primeira delas seria os vasos de gargalo, os quais possuem representações de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças. Possuem também figuras de sapos ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Prous (2011) relaciona essas peças com cerâmicas produzidas por populações litorâneas do Equador. FIGURA 35 – VASO DE GARGALO FONTE: <https://issuu.com/bgoeldi_ch/docs/humanas_v13n1>. Acesso em: 1 ago. 2021. Em segundo, encontramos os vasos de cariátides. Esses são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. FIGURA 36 – VASO DE CARIÁTIDES FONTE: <https://issuu.com/bgoeldi_ch/docs/humanas_v13n1>. Acesso em: 1 ago. 2021. E, como terceira forma, encontram-se os grandes cálices com pedestal, os quais são decorados com figuras de serpentes. 31 É importante observar que essas cerâmicas trazem figuras da mitologia amazônica, como o muiraquitã, visto na figura seguinte e, também, onças, papagaios e serpentes. FIGURA 37 – MUIRAQUITÃ FONTE: <https://bit.ly/3AclIWy>. Acesso em: 4 ago. 2021. A figura a seguir representa uma das categorias de modelagem dos vasos antropomorfos, uma pessoa sentada, em formato de barril, talvez representando a mulher durante um parto. FIGURA 38 – VASO ANTROPOMORFO FONTE: <https://bit.ly/3a84ejH>. Acesso em: 4 ago. 2021. Outra característica são pequenos furos que possivelmente eram utilizadospara prender enfeites. Há também indicação de que as mulheres eram responsáveis pela criação dessas estatuetas antropomorfas com tamanhos entre 3,5 e 20 centímetros de altura. 32 FIGURA 39 – ESTATUETA ANTROPOMORFA FONTE: <https://bit.ly/3B8JW5t>. Acesso em: 4 ago. 2021. Esses padrões da cerâmica Santarém são manifestações que possivelmente chegaram ao Brasil pelo Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e pelo Canal Cassiquiare encontra o Rio Negro, que atinge o Rio Amazonas e, na cidade de Santarém ocorre o encontro com o Rio Tapajós. FIGURA 40 – MAPA HIDROGRÁFICO FONTE: <https://bit.ly/3Fh2QcL>. Acesso em: 04 ago. 2021. 33 O Canal Cassiquiare (ou Braço Cassiquiare ou, ainda, rio Cachequirique) é o ponto de confluência entre duas das mais importantes bacias da América do Sul, a do Amazonas, a maior do planeta, com 6,2 milhões de km² e a do Orinoco, a terceira maior da América do Sul, com 948 mil km². Trata-se de uma situação geográfica única; o Cassiquiare interliga naturalmente duas das mais importantes bacias hidrográficas do mundo e é decisivo para conformar a maior ilha marítimo-fluvial do planeta, a Ilha das Guianas, com aproximadamente 1,7 milhão de km². O Cassiquiare tem se constituído em tema de interesse geopolítico desde o começo da colonização e da conquista ibérica no continente. FONTE: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5533/1/BEPI_n18_Cassi- quiare.pdf>. Acesso em: 25 set. 2021. NOTA 34 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A cerâmica Marajoara, com alto grau de complexidade, combina modelagem e textura, além de apresentar grafismos geométricos naturalistas. • A cerâmica cerimonial de Santarém, também conhecida por Tapajônica, é destaque no que se refere à criação com argila, produzida com exímia habilidade nas modelagens. • A cultura Santarém concebeu ainda criações antropomorfas em vasos cerimoniais decorados com diferentes tipos de formas, como os vasos de gargalo, os vasos cariátides e os cálices com pedestal. 35 RESUMO DO TÓPICO 2 1 Na Ilha de Marajó, no estado do Pará, antes da chegada dos europeus, os marajoaras, ainda não dominavam a escrita, mas possuíam uma habilidade incontestável na modelagem da argila. As cerâmicas dos povos marajoaras agregam elementos estéticos que estariam relacionados possivelmente às crenças dessas populações. Quais as características da produção da cerâmica Marajoara? 2 A cerâmica marajoara apresenta como característica particular a combinação da modelagem à pintura, à incisão e à excisão, com representações de figuras antropomorfas e zoomorfas. Objetos modelados com estilo particular, além de função cerimonial e utilitária, são também referências consideradas textos sem grafias, desenvolvidos pela cultura marajoara. Sobre os tipos de objetos produzidos em cerâmica pelos marajoaras, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Vasos, urnas funerárias e togas. b) ( ) Vasos, urnas funerárias e tangas. c) ( ) Naus, tangas e urnas funerárias. d) ( ) Naus, urnas funerárias e togas. 3 A cerâmica Santarém, também conhecida por Tapajônica, apresenta criações antropomorfas em vasos cerimoniais decorados com três tipos de formas. Analise as sentenças: I- Vasos de gargalo possuem representações de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças; possuem figuras de sapos ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Vasos de cariátides são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. Grandes cálices com pedestal, decorados com figuras de serpentes. II- Vasos de gargalo possuem representações de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças; possuem figuras geométricas e, algumas vezes, figuras humanas. Vasos de cariátides são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. Grandes cálices com pedestal, decorados com figuras de serpentes. III- Vasos de gargalo possuem representações de corpos de dinossauros, com duas cabeças; possuem figuras de sapos ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Vasos de cariátides são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. Grandes cálices com pedestal, decorados com figuras geométricas. AUTOATIVIDADE 36 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 4 Antes da chegada dos europeus, os povos que habitavam as margens do Rio Tapajós, na cidade de Santarém, estado do Pará, desenvolveram a produção da cerâmica cerimonial. Sobre qual a possibilidade dos padrões da cerâmica Santarém terem chegado ao Brasil, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e pelo Canal Cassiquiare encontra o Rio Juruá, que atinge o Rio Tapajós, na cidade de Santarém. b) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e, pelo Canal Cassiquiare, encontra o Rio Negro, que atinge o Rio Tapajós na cidade de Santarém. c) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e, pelo Canal Cassiquiare, encontra o Rio Negro, que atinge o Rio Amazonas e, na cidade de Santarém ocorre o encontro com o Rio Tapajós. d) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e, pelo Canal Cassiquiare que encontra o Rio Amazonas na cidade de Santarém. 5 Os artistas das margens do Rio Tapajós, estado do Pará, conceberam criações com riqueza de detalhes e símbolos. Caracterize e explique os elementos estéticos das cerâmicas de Santarém. 37 TÓPICO 3 - MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS PRIMITIVOS 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que quando os europeus aportaram nas terras brasileiras, viviam aqui diversas comunidades, espalhadas por todo o território. Povos que nas ricas florestas viviam e da natureza extraíam seu sustento e suas tradições. Neste tópico, abordaremos algumas das manifestações artísticas dos povos primitivos, expressões de suas identidades e valioso meio de comunicação. O mapa da figura a seguir, elaborado em 1515, representa a costa brasileira com alguma vegetação, animais que avistaram na Terra Brasilis, caravelas chegando e figuras de indígenas, que comprovam a existência de vida humana muito antes da chegada dos portugueses. FIGURA 41 – MAPA DA TERRA BRASILIS FONTE: <encurtador.com.br/ltAJV>. Acesso em: 31 jul. 2021. Hoje sabemos que, quando os europeus aqui aportaram, a presença humana no território brasileiro contava com milhares de anos e os habitantes já possuíam seus hábitos, costumes, tradições, bem como falavam idiomas diferentes do português. UNIDADE 1 38 Neste tópico serão abordadas algumas das manifestações artísticas dos indígenas, bem como as características dessas produções, considerando que a arte era e é ainda produzida por esses povos como elemento da vida cotidiana. 2 ARTE INDÍGENA A arte indígena permanece viva nas comunidades que superaram adversidades e ainda conservam as tradições de seu povo. Como observa Tirapeli (2006, p. 14), “diferentemente do que ocorre na cultura dos não-índios, a arte está presente em tudo o que fazem. Em cada objeto existe a indicação de elementos simbólicos e espirituais, como desenhos que representam os mitos que cultuam”. A arte denominada utilitária recebe padrões decorativos de acordo com as crenças e a simbologia característica de cada povo, a marca de cada identidade que precisa ser respeitada e preservada. A arte indígena possui elementos estéticos próprios de cada cultura. Como reforça Vidal (2000, p. 13) precisamos “usufruir e incluir no contexto das artes contemporâneas, em pé de igualdade, manifestações estéticas de grande beleza e profundo signifi cado humano”, como muitosdos objetos da arte indígena em que é possível perceber a habilidade técnica e artística, tanto no uso de materiais como na composição de traços e cores. Esses detalhes podem ser apreciados nas cerâmicas, nas cestarias, na arte plumária, nas máscaras e nas pinturas corporais dos povos indígenas, que possuem riqueza de estilos. Como forma de complementar seus estudos, assista ao vídeo “Os primeiros brasileiros”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J8AS-aeqsfU. DICA No livro “Grafi smos Indígenas: estudos de uma antropologia estética”, organizado por Lux Vidal, encontramos uma coletânea de textos de diversos autores que abordam sobre a riqueza estética dos grafi smos produzidos pelos grupos indígenas do Brasil. Acesse em: http://etnolinguistica.wdfi les.com/local--fi les/ biblio%3Avidal-2000-grafi smo/Vidal_2000_Grafi smo_indigena_OCR.pdf. DICA 39 2.1 CERÂMICA As cerâmicas, produzidas nos diversos grupos indígenas existentes no Brasil, são utilizadas para atividades diárias como armazenamento e preparo de alimentos, transporte de água, entre outras funções da vida cotidiana. A matéria prima da cerâmica é a argila, encontrada em diferentes cores, como branca, cinza, ocre, vermelha, marrom, e até esverdeada. Geralmente retirada de encostas de rios, por apresentar maior umidade, o que facilita o manuseio, esse material de tonalidades diversas pode ser encontrado nos diferentes tipos de solos brasileiros. A argila pode ser facilmente modelada, o que possibilita a versatilidade na confecção de panelas, vasilhas, potes de formatos diversos. Segundo Prous (2011, p. 80-81) “a utilização de cerâmica permitiu o desenvolvimento de algumas técnicas que favoreceram a ampliação nas maneiras de transformar os alimentos crus em pratos nutritivos e apetitosos”. Além disso, com argila pode-se criar máscaras, brinquedos e outros utensílios ou adornos. A confecção das cerâmicas, além de habilidade manual, requer conhecimento da extração da argila adequada. Para os indígenas Wayana, nos locais de coleta são confeccionadas grandes bolas de argila, ligeiramente alongadas, enroladas em folhas de sororoca – uma planta que se assemelha à bananeira –, depois levadas no cesto cargueiro especial para transporte do material, produzido com cipó ou folhas de palmeira. As figuras a seguir demonstram alguns dos objetos de cerâmica produzidos em comunidades indígenas. FIGURA 42 – POTE TIKUNA PARA ÁGUA FONTE: <https://artsandculture.google.com/asset/_/PgF0M9SJHUbKDQ>. Acesso em: 31 jul. 2021. 40 A peça seguinte é um vaso, conhecido como camuti, que necessita ser produzido com barro de boa qualidade para que o resultado seja uma peça perfeita. As cores das pinturas aplicadas modificam-se após o processo de queima e envernizamento, tornando-se mais escuras. Um pigmento amarelo torna-se mais laranja, por exemplo. FIGURA 43 – POTE DO POVO BANIWA FONTE: <http://tainacan.museudoindio.gov.br/museu-do-indio/14-11-37/>. Acesso em: 30 jul. 2021. De formato irregular, a tigela zoomorfa apresentada na imagem a seguir possui figura de macaco, com cabeça, cauda e membros, possivelmente utilizados como apêndices para facilitar o manuseio. FIGURA 44 – TIGELA ZOOMORFA DO POVO WAUJA FONTE: <http://tainacan.museudoindio.gov.br/museu-do-indio/2537-2/>. Acesso em: 30 jul. 2021. Atualmente a cerâmica do povo Karajá é muito conhecida pela confecção de suas bonecas, como no exemplo da figura seguinte. Mais do que objetos lúdicos, as ritxòkò são a expressão da cultura e da identidade desse grupo. Decoradas com padrões mitológicos, possuem significados importantes, além de serem instrumentos de socialização das crianças. 41 FIGURA 45 – BONECA KARAJÁ FONTE: <https://artsandculture.google.com/asset/_/MQGMsifnFVXbQA>. Acesso em: 30 jul. 2021. Os objetos de cerâmica guardam elementos místicos, muitas vezes, desde o momento de sua produção, envolvendo rituais, cores e desenhos específicos, como também crenças, como a do povo Wayana, em que “o contato direto com a argila pode trazer malefícios e influenciar pessoas enfraquecidas” (VELTHEN; LINKE, 2014, p. 29). Dentre alguns critérios desse povo durante a confecção das cerâmicas estão a proibição às mulheres que estão de resguardo, grávidas ou em período menstrual. As que cuidam do procedimento de queima são proibidas de tomar banho, comer, beber e falar alto. Os animais são afastados para que o ambiente permaneça silencioso para que se obtenha uma boa queima (VELTHEN; LINKE, 2014). Os elementos místicos que habitam os objetos parecem penetrar neles por meio dos materiais utilizados na sua confecção. Para os indígenas, um pincel, por exemplo, possui seus próprios saberes, que influenciam o indivíduo durante a criação, como ilustra o texto que segue. A pintura e a pintura dos artefatos cerâmicos Para as pinturas, os instrumentos empregados são variados, rígidos ou flexíveis. Uns são denominados de itiktikmatop/itikyrotopo e são formados por finos talos de palmeiras e pontas de algodão. Os que são designados como umhetpë/ usehpo, compreendem pequenas bolas de argila que prendem um chumaço do cabelo da própria ceramista e assim são flexíveis. Esses pincéis de cabelo permitem fazer traços extremamente finos e se destinam a pintar os vasos de cerâmica e a roda-de-teto da casa cerimonial, a maluwana/maruwana. Os pincéis são percebidos como elementos dotados de qualidades especiais porque permitem elaborar os grafismos e, assim são também chamados de imiliktop/imerotopo. Devido a esse fato, são compreendidos como possuidores 42 de uma característica que é aproximada a uma “forma de conhecimento”, pois permite a esses instrumentos a execução dos desenhos. Os “saberes” dos pincéis não são, entretanto, indiferenciados e, assim, os de talo de palmeira “conhecem” apenas a decoração das grandes onças que é reproduzida através de pequenos pontos. Os pincéis flexíveis de cabelo, por sua vez, “sabem” reproduzir, através de um tracejado fino e acurado, as variadas pinturas corporais da serpente sobrenatural Tulupele/Turupere. A pintura dos grafismos é executada com os pincéis de cabelo no interior do vasilhame cerâmico. São aplicadas sobre uma base de coloração ocre ou castanho-avermelhado, anteriormente espalhada com um chumaço de algodão nativo. O pincel de nervura com ponta de algodão permite o preenchimento dos campos vazios, com desenhos pontilhados, uma tarefa das filhas adolescentes da ceramista, visando o seu ensinamento. Esse mesmo tipo de pincel propicia as possíveis correções do traçado dos grafismos. Uma pintura pronta, mas considerada feia ou incorreta pode ser suprimida lavandose com água a superfície do vaso, o qual é repintado depois de seco. A fase final da confecção das vasilhas cerâmicas de uso ritual compreende a aplicação, sobre a superfície interna do vaso, de um verniz protetor feito com a seiva da jutaicica, mëpuk/mapuku, para impedir o desprendimento das tintas. Essa atividade requer jejum alimentar absoluto por parte da ceramista, para que o resultado seja satisfatório, isto é, para que o verniz se torne tão transparente como água. Para a aplicação do verniz, o artefato deve estar aquecido para permitir que o bastão de jutaicica deslize sobre a superfície, recobrindo-a uniformemente. Para esse fim é apoiado sobre uma panela velha, contendo brasas. A fase final da confecção das vasilhas cerâmicas para uso cotidiano compreende a sua pintura interna e externa com um impermeabilizante para que possam ser empregadas. Esse impermeabilizante é produzido a partir de um vegetal, o ingá do mato – aputlukum/apurukuni – cuja entrecasca é colhida e raspada e o sumo obtido misturado com um pouco d’água e, quase sempre, com urucu, adquirindo assim uma cor avermelhada. Essa tintura é passada com os dedos, podendo ser arranhada com as unhas para fazer alguns tipos de grafismos. Os padrões produzidos com essa técnica são denominados de tëwupkai/iwynatopo e são altamente valorizadospelos Wayana e Aparai, porque permitem visualizar, na superfície dos vasilhames, os desenhos que, com suas garras, os animais predadores, tais como onças e outros felinos, fazem nos troncos das árvores. FONTE: Adaptada de VELTHEM, L. H. LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila: Aruma Papeh. São Paulo: Iepé, 2014. p. 58-59. 43 2.2 CESTARIA Como o nome indica, a cestaria indígena é um conjunto de objetos como cestos, peneiras e outros utensílios confeccionados com elementos vegetais de certa flexibilidade, para que trançados de extrema beleza e simbologia possam ser conduzidos pelas mãos indígenas. Esses utensílios são fabricados para transportar cargas, armazenar materiais e alimentos, peneirar produtos extraídos da natureza empregados no preparo de alimentos ou ornamentos, coar ingredientes, entre outras funções. Possuem diferentes formatos, tamanhos, desenhos e cores, obedecendo os costumes das diferentes comunidades que utilizam esses recipientes. Os padrões decorativos dos trançados variam e estão ligados às culturas de cada povo indígena. O texto a seguir trata das narrativas míticas que integram os belos grafismos das cestarias de alguns povos indígenas, como a serpente sobrenatural. Os grafismos dos trançados Para os povos de língua Carib, como os Yekuana, os Tiriyó, os Waiwai, os Kaxuyana, os Wayana e Aparai uma serpente sobrenatural constitui a figura central das narrativas míticas que descrevem a obtenção da cestaria e dos seus grafismos. Para os Wayana e os Aparai trata-se da “cobra-grande” Tulupere e suas pinturas corporais foram vistas e copiadas nos tempos da criação do universo. Os grafismos encontrados nos artefatos elaborados pelos Wayana e Aparai são compreendidos, portanto, como pertencentes ao repertório das pinturas corporais desse sobrenatural. Os grafismos destinam-se ao corpo humano e aos objetos de todas as categorias artesanais, femininas e masculinas. Os trançados de do universo arumã exibem, entretanto, o mais numeroso e variado conjunto. Isso acontece porque as técnicas de cestaria permitem evidenciar um aspecto importante que é a distribuição das pinturas da “cobra-grande” em seu próprio corpo. Assim, no seu rosto, flancos e torso estão distribuídos os grafismos que são reproduzidos com arumã pintado, por meio da técnica de trama fechada. Na cauda e membros estão os grafismos que são constituídos com técnicas de trama cerrada e vazada que empregam o arumã com casca, não pintado. Esses grafismos só podem ser apreciados no lado externo dos objetos trançados. O ventre de Tulupere estava pintado com padrões especiais. Quando reproduzidos em um artefato de cestaria podem ser vistos tanto na parte interna quanto na externa. São apontados como sendo os mais belos e complexos grafismos dos Wayana e Aparai e são reproduzidos apenas pelos mais habilidosos artesãos. São dispostos nos cestos cargueiros decorados, e em cestos quadrangulares e em adornos de máscaras. 44 Considerado o mais difícil dos trabalhos em cestaria, está o katari anon, ou cesto cargueiro pintado com padrões decorativos. Feito de arumã, “uma planta herbácea silvestre encontrada em terrenos úmidos da terra firme e que, ao ser colhida, volta a brotar, sendo, portanto, renovável” (VELTHEN; LINKE, 2014, p. 26), é também resistente e flexível, o que permite o traçado de motivos geométricos. FIGURA 46 – CESTO CARGUEIRO FONTE: Tirapeli (2006, p. 42) A beleza dos grafismos produzidos nos trançados não possue apenas a função de adorno. Os entrelaçamentos dos vegetais originam mais do que símbolos inspirados na natureza, são verdadeiras histórias construídas nos fios de palha, contadas pelos ancestrais a cada geração, fazendo viver a riqueza cultural dos povos indígenas. Muitos fatores influenciam na escolha de um padrão a ser reproduzido em um trançado, tais como a facilidade de execução, seu conhecimento, se é apropriado para o objeto que se deseja confeccionar. No resultado final são especialmente apreciadas a sua proporção e o ajuste correto das tiras de arumã, ou seja, a habilidade técnica. FONTE: Adaptada de VELTHEM, L. H. LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila: Aruma Papeh. São Paulo: Iepé, 2014. p. 84-85. 45 FIGURA 47 – SÍLABAS GRÁFICAS DO POVO BANIWA FONTE: <https://issuu.com/instituto-socioambiental/docs/arte_baniwa_web>. Acesso em: 5 ago. 2021. Ponto a ponto, as fibras são trançadas, construindo simetrias e saberes. Das tramas de materiais diversos, surgem elementos estéticos e formas geométricas que remetem aos seres que guardam as fascinantes crenças das sociedades indígenas. Muitas vezes os objetos recebem pinturas que destacam os elementos estéticos, oferecendo mais beleza aos utensílios. FIGURA 48 – CESTO KAMAYURÁ FONTE: <http://maimuseu.com.br/site/search-results/?fwp_categoria=cestaria>. Acesso em: 5 ago. 2021. 46 2.3 ARTE PLUMÁRIA De cores impressionantes e variadas, a arte plumária é utilizada pelos indígenas como adorno festivo ou cotidiano. Tirapeli (2006, p. 47) afirma que a arte plumária é mais do que adorno, “ela ganha caráter de uma linguagem codificada, não-verbal, que indica o sexo, a idade e a filiação de seus portadores”. Além da diversidade de cores, as composições dos adornos são caracterizadas pelo uso de plumas, penugens e penas de diversas texturas e tamanhos, que formam arranjos de surpreendente beleza em diademas, colares, pulseiras, brincos, cintos e outros enfeites. A arte plumária não é mera combinação de elementos visuais, mas criações estéticas de espetacular delicadeza e força ao mesmo tempo. A partir do conhecimento das aves e da natureza, os povos indígenas desenvolvem criações emplumadas, muitas vezes fazendo referência ao aspecto desses animais em suas cores e formas. Inspirados nas características da fauna ornitológica local, os objetos e adornos confeccionados são muitas vezes usados em ocasiões ritualísticas, como o manto tupinambá, confeccionado com penas de guará, que ganhava destaque nos rituais de canibalismo. Atualmente, segundo Tirapeli (2006), existem apenas seis exemplares desses mantos, todos em museus da Europa. FIGURA 49 - MANTO TUPINAMBÁ FONTE: Tirapeli (2006, p. 16) Os coloridos adornos de plumas possuem exuberante beleza e, mais do que isso, são elementos muitas vezes destinados a representar a posição do indivíduo em seu grupo. Para as culturas indígenas, adornos não são fantasias, mas objetos sagrados no vasto universo de símbolos e crenças. 47 FIGURA 50 – GUERREIRO KAGWAHÍVA FONTE: Bruno e Gomes (2010, p. 24) Atualmente é proibida a comercialização da arte plumária indígena para preservar as aves brasileiras. Os artefatos plumários mais antigos que conhecemos são dos Tupinambá e estão em coleções etnográfi cas europeias, porque foram levadas para lá por aventureiros que tiveram contato com esses indígenas – como no caso de Hans Staden, que levou um manto tupinambá com ele ao retornar para a Europa (BASTOS; MINERINI, 2019, p. 13). NOTA A Fundação Bienal, no ano de 1983, realizou a exposição “Arte plumária no Brasil”. O catálogo pode ser visto em: http://www.bienal.org.br/ publicacoes/2127 DICA 48 2.4 MÁSCARAS Na cultura indígena as máscaras possuem o papel de carregar em si simbologias e importantes elementos estéticos. Utilizadas em diversos rituais, auxiliam nas representações dos antepassados, criando ligação com os espíritos. Cada um dos povos indígenas possui uma forma diferente de produzir as máscaras, seja nos materiais, nas cores ou nos desenhos, mas sempre evidenciando sua identidade e relacionando as suas manifestações culturais. As máscaras não são apenas uma fantasia ou um objeto ritualístico, mas um dispositivo capaz de potencializar a corporificação das entidades sobrenaturais, aproximar referências espirituais e valores sagrados que orientam as sociedades indígenas em todos os tempos. As sociedades indígenas confeccionam suas máscaras a partir de materiais extraídos da natureza, comopalha, cascas, entre outros materiais. Vale lembrar que os materiais naturais são sempre encontrados no entorno de onde vivem. Em alguns grupos pode-se encontrar máscaras feitas de cerâmica. Algumas máscaras recebem pinturas e ornamentos como desenhos de aves e outros animais, sempre identificados pelos grafismos tradicionais de cada povo. FIGURA 51 – MÁSCARA TIKUNA FONTE: <http://maimuseu.com.br/site/search-results/?fwp_categoria=objetos-ritualisticos>. Acesso em: 3 ago. 2021. Algumas etnias indígenas brasileiras possuem rituais de iniciação das mulheres, após a primeira menstruação, e dos homens, quando atingem cerca de quinze anos de idade. Para esses rituais é muito comum o uso de máscaras cerimoniais, como a máscara mostrada na Figura 51, confeccionada com materiais da região onde vive o grupo e decoradas pinturas em urucum e jenipapo. A máscara apresentada na figura seguinte representa o macaco-prego, é símbolo de proteção para a aldeia. 49 FIGURA 52 – MÁSCARA KAYAPÓ FONTE: <http://maimuseu.com.br/site/search-results/?fwp_categoria=objetos-ritualisticos>. Acesso em: 3 ago. 2021. 2.5 PINTURA CORPORAL A pintura corporal é uma das marcas da expressão estética dos indígenas brasileiros. Obviamente não há vestígios da arte de pintura corporal, mas têm-se conhecimento de sua existência por meio das ilustrações feitas pelos europeus que por estas terras passaram, como demonstra o registro de Hercule Florence, na figura a seguir: FIGURA 53 – APIACÁS: AQUARELA DESENVOLVIDA EM 1828 FONTE: <https://www.ihf19.org.br/expo/obras.asp >. Acesso em: 5 ago. 2021. 50 Para Prous (2011, p. 106), “não há dúvida de que essa arte era praticada, pois foram encontrados carimbos modelados de cerâmica nos estados de Goiás e da Bahia, que permitiam aplicar um mesmo motivo repetidas vezes sobre o corpo”, assim como existem algumas inscrições rupestres antropomorfas que indicam o uso da pintura corporal. A pintura corporal é utilizada também para especificar a hierarquia tribal, com padrões que estabelecem a marca de cada indivíduo dentro das sociedades, demonstrando o papel de cada um na estrutura social do grupo. A utilização do corpo como suporte da pintura pelos povos indígenas possui diversas funções: de ritualísticas à proteção ao sol, insetos e maus espíritos. Prous (2011) expõe que as pinturas configuram as características de cada integrante ou não da comunidade, pois variam de acordo com a situação da pessoa, como ser casada, ter filhos etc. Outra característica é a imperfeição das pinturas em momentos mais difíceis, como o luto. Com pigmentos geralmente extraídos de vegetais, os indígenas brasileiros costumam pintar o rosto e o corpo, tanto para as tarefas cotidianas como para eventos especiais, como rituais de casamentos, caças, disputas, ou outras atividades. Entre os Mebêngôkre, já no parto o urucum está presente. A mulher, logo após parir, deve tomar uma infusão com as sementes da planta para estancar o sangramento. A criança, assim que nasce, recebe uma camada de tinta de urucum no corpo, sendo essa prática entendida como o início do processo de aparentamento do recém- nascido, uma forma de começar a estabelecer sua humanidade (DEMARCHI, 2019, p. 155). Para essa importante tradição, Tirapeli, anuncia que os pigmentos mais comuns são “o jenipapo – que resulta em uma tinta de coloração negra – ou o urucum – que produz uma tinta vermelha” (2006, p. 15). O vermelho do urucum é sinônimo de proteção e beleza, além de simbolizar a humanidade. A cor negra produzida a partir do jenipapo pode durar na pele por até quinze dias e atua na proteção contra os maus espíritos. Pintam o corpo com diferentes motivos geométricos, que simbolizam elementos tradicionais de cada cultura, como exposto na figura a seguir: FIGURA 54 – GRAFISMOS INDÍGENAS FONTE: <https://bit.ly/3a5tBma>.Acesso em: 1 ago. 2021. 51 A pele do corpo é suporte para pinturas, escarificações ou outros elementos que cada cultura indígena traz. Conservar o que aprenderam com seus ancestrais é também manter viva a história de seu povo. FIGURA 55 – PINTURA EM VERMELHO E PRETO FONTE: Demarchi (2019, p. 156) Vidal (2000, p. 235), sobre a pintura de peixe mostrada na figura que segue, relata que “o desenho único é abstrato, decorativo, mas igualmente simbólico: isto é, traduz noções básicas do pensamento, cujo conteúdo se encontra na própria forma do desenho e na tendência do estilo”. Além disso, os padrões gráficos de cada povo indígena obedecem também às tradições dos antepassados. FIGURA 56 – PINTURA DE PEIXE FONTE: Vidal (2000, p. 235) 52 DICA O Museu do Índio, situado no Rio de Janeiro (RJ), abriga um rico acervo etnográfi co dos povos indígenas no Brasil. São 19.918 objetos contemporâneos, na sede, expressões da cultura material de aproximadamente 150 povos indígenas que viveram e vivem no território brasileiro. As peças de uso ritual e cotidiano, feitas dos mais variados materiais como madeira, palha, argila etc., foram obtidas diretamente dos índios por meio de doações e compras a partir de 1947. Acesse em: http:// tainacan.museudoindio.gov.br/. 53 ANTES O MUNDO NÃO EXISTIA Ailton Krenak Os intelectuais da cultura ocidental escrevem livros, fazem filmes, dão conferências, dão aulas nas universidades. Um intelectual, na tradição indígena, não tem tantas responsabilidades institucionais, assim tão diversas, mas ele tem uma responsabilidade permanente que é estar no meio do seu povo, narrando a sua história, com seu grupo, suas famílias, os clãs, o sentido permanente dessa herança cultural. Aqui nesta região do mundo, que a memória mais recente instituiu que se chama América, aqui nesta parte mais restrita, que nós chamamos de Brasil, muito antes de ser 'América' e muito antes de ter um carimbo de fronteiras que separa os países vizinhos e distantes, nossas famílias grandes já viviam aqui, são essa gente que hoje é reconhecida como tribos. As nossas tribos. Muito mais do que somos hoje, porque nós tínhamos muitas etnias, muitos grupos com culturas diversas, com territórios distintos. Esses territórios se confrontavam, ou às vezes tinham vastas extensões onde nenhuma tribo estava localizada, e aquilo se constituía em grandes áreas livres, sem domínio cultural ou político. Nos lugares onde cada povo tinha sua marca cultural, seus domínios, nesses lugares, na tradição da maioria das nossas tribos, de cada um de nossos povos, é que está fundado um registro, uma memória da criação do mundo. Nessa antiguidade desses lugares a nossa narrativa brota, e recupera o feito dos nossos heróis fundadores. Ali, onde estão os rios, as montanhas, está a formação das paisagens, com nomes, com humor, com significado direto, ligado com a nossa vida, e com todos os relatos da antiguidade que marcam a criação de cada um desses seres que suportam nossa passagem no mundo. Nesse lugar, que hoje o cientista, talvez o ecologista, chama de habitat, não está um sítio, não está uma cidade nem um país. É um lugar onde a alma de cada povo, o espírito de um povo, encontra a sua resposta, a resposta verdadeira. De onde sai e volta, atualizando tudo, o sentido da tradição, o suporte da vida. O sentido da vida corporal, da indumentária, da coreografia das danças, dos cantos. A fonte que alimenta os sonhos, os sonhos grandes, o sonho que não é somente a experiência de estar tendo impressões enquanto você dorme, mas o sonho como casa da sabedoria. Vocês têm uma instituição que se chama universidade, escola, e têm a instituição que se chama educação. Todas estas instituições: educação, escola, universidade, elas estão no sonho, na casa do conhecimento. Esse sonho tem um LEITURA COMPLEMENTAR 54 aprendizado para o sonho. E, quando nós sonhamos, nós estamos entrando num outro plano de conhecimento, onde nós trocamos impressões com os nossos ancestrais, não só no sentido de nossos antigos, meus avós, meu bisavô, gerações anteriores, mas com os fundadores do mundo.Tomara que a palavra habitat tenha esse sentido que estou pensando, que ela não seja só um sítio, uma cidade, ou lugar só na geografia, que ela tenha também espírito, porque, se ela tiver espírito, então eu consigo expressar uma ideia que aproxima, para você, o lugar de onde estou tentando contar um pouco da memória que nós temos de criação do mundo, quando o tempo não existia. Quando eu vejo as narrativas, mesmo as narrativas chamadas antigas, do Ocidente, as mais antigas, elas sempre são datadas. Nas narrativas tradicionais do nosso povo, das nossas tribos, não tem data, é quando foi criado o fogo, é quando foi criada a lua, quando nasceram as estrelas, quando nasceram as montanhas, quando nasceram os rios. Antes, antes, já existe uma memória puxando o sentido das coisas, relacionando o sentido dessa fundação do mundo com a vida, com o comportamento nosso, como aquilo que pode ser entendido como o jeito de viver. Esse jeito de viver que informa a nossa arquitetura, nossa medicina, a nossa arte, as nossas músicas, nossos cantos. Nós não temos uma moda, porque nós não podemos inventar modas. Nós temos tradição, e ela está fincada em uma memória de antiguidade do mundo, quando nós nos fazemos parentes, irmãos, primos, cunhados, da montanha que forma o vale onde estão nossas moradias, nossas vidas, nosso território. Aí, onde os igarapés, as cachoeiras, são nossos parentes, ele está ligado a um clã, está ligado a outro, ele está relacionado com seres que são aquilo que chamaria de fauna, está ligado com os seres da água, do vento, do ar, do céu, que liga cada um dos nossos clãs, e de cada uma das nossas grandes famílias no sentido universal da criação. Algumas danças nossas, que algumas pessoas não entendem, talvez achem que a gente esteja pulando, somente reagindo a um ritmo da música, porque não sabem que todos esses gestos estão fundados num sentido imemorial, sagrado. Alguns desses movimentos, coreografias, se você prestar atenção, ele é o movimento que o peixe faz na piracema, ele é um movimento que um bando de araras faz, organizando o vôo, o movimento que o vento faz no espelho da água, girando e espalhando, ele é o movimento que o sol faz no céu, marcando sua jornada no firmamento e é também o caminho das estrelas, em cada uma das suas estações. Por isso que eu falei a você de um lugar que a nossa memória busca a fundação do mundo, informa a nossa arte, a nossa arquitetura, o nosso conhecimento universal. Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela tecnologia pesada, concreta. E que talvez fosse um povo como a folha que cai. E que a nossa cultura, os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistirem num mundo preciso, prático: onde os homens 55 organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu pai, meu avô, meus primos, olham aquela montanha e veem o humor da montanha e veem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio, mas o cientista olha o rio e calcula quantos megawatts ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem. Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte do acervo dos nossos cantos, mas um engenheiro florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem música, a montanha não tem humor, e o rio não tem nome. É tudo coisa. Essa mesma cultura, essa mesma tradição, que transforma a natureza em coisa, ela transforma os eventos em datas, tem antes e depois. Data tudo, tem velho e tem novo. Velho é geralmente algo que você joga fora, descarta, o novo é algo que você explora, usa. Não há reverência, não existe o sentido das coisas sagradas. Eu fiquei com medo. Eu fiquei pensando: e agora? Parecia que eu estava vendo um grande granito parado na minha frente. Eu não podia olhar. Fiquei muitos dias sem graça até que eu ganhei um sonho. Ganhei um sonho desses que eu falei com vocês que não é só uma impressão de estar vendo coisas dormindo, mas para nós o sonho é um sonho de verdade, um sonho verdadeiro, e tem sonho, sonho de verdade é quando você sente, comunica, recupera a memória da criação do mundo onde o fundamento da vida e o sentido do caminho do homem no mundo é contado para você. Você toma, aprende como se estivesse dentro de um rio. Esse rio, você fica olhando ele, depois você volta, aí você olha. Não é o mesmo rio que você está vendo, mas é o mesmo. Porque se você fica olhando o rio, a alma dele está correndo, passando, passando... mas o rio está ali. Então ele é sempre, ele não foi, é sempre. Não existiu uma criação do mundo e acabou! Todo instante, todo momento, o tempo todo é a criação do mundo. Por isso que no sonho a gente entra dentro dele, aprende, alimenta o espírito. Esse sonho veio me mostrar que aquela caricatura de poder que os homens estavam inventando aqui na terra é só uma simulação, porque eu pude encontrar, andar junto com os meus parentes, meu irmão mais velho, que na nossa língua original se chama Kiãnkumakiã. Esse irmão mais velho que estava com a gente sempre, desde a fundação do mundo, só que não é Deus. E nós vimos os meninos, os rapazes andando num campo bonito, vasto. Uma relva baixinha e os rapazes traziam na mão esquerda feixes de varas, daquelas varas sem gomo, lisas, taboca de fazer flecha, mas na ponta não tinha lâmina, na ponta tinha pendão assim igual ao trigo florando. Um grupo grande, incontável de rapazes e um guerreiro mais maduro, que estava de lado, só mostrando uma parte do rosto, a vista apontando para o leste. Quando olhei assim eu vi um grande 56 lago, saindo quase da mesma altura da terra firme. Aí aqueles moços foram andando para lá e, num gesto, eles se transportavam para outro lugar firme, para a outra margem de um lago muito grande, que liga tudo, numa canoa grande de luz, como se fosse de luzes assim... com gesto de vontade, só com a vontade. Não tem foguete, míssil que faz isso, tecnologia que se inventa. E todo esse 'futuro' já aconteceu na fundação do mundo. Os meus irmãos mais velhos já conhecem tudo isso. Então, de sonho é isso. É um caminho que só podemos fazer dentro da tradição e aprender que além do nosso conhecimento restrito sobre uma ou outra coisa avançada para uma percepção que é integral, tudo está ligado, as coisas que têm existência física, elas foram todas fundadas a partir da palavra que foi ordenando a criação do mundo, que quando nós narramos as histórias antigas nós criamos o mundo de novo, limpamos o mundo. Então, antes do mundo, existia não só a história dos espíritos, dos elementos, mas a história de todos os nossos povos antigos que conseguiram, ao longo dos tempos, manter essa memória da criação do mundo. Existem milhões de toneladas de livros, arquivos, acervos, museus guardando uma chamada memória da humanidade. E que humanidade é essa que precisa depositar sua memória nos museus, nos caixotes? Ela não sabe sonhar mais. Então ela precisa guardar depressa as anotações dessa memória. Como essas duas memórias se juntam, ou não se juntam? É muito importante para nossos povos tradicionais que ainda guardam essa memória, herdeiros dessa tradição, cada vez mais restrita no planeta, ilhados em alguns cantinhos do Pacífico, da Ásia, da África, aqui da América,num mundo cada vez mais mudado pelo homem, onde o dia e a noite já não têm mais fronteira, porque inventaram artifícios para ele rodar direto, dia-noite-dia. Quando o homem rompe a separação entre o dia e a noite, como ele vai sonhar? Quando os homens trabalham de dia, de noite, de dia, de noite, qualquer hora, eles estão se parecendo muito com a criação dos homens mesmo, que são as máquinas, mas muito pouco parecido com o criador do homem, que é o espírito. Para esses pequeninos grupos humanos, nossas tribos, que ainda guardam essa herança de antiguidade, esta maneira de estar no mundo, é muito importante que essa humanidade que está cada vez mais ocidental, civilizada e tecnológica, lembre, ela também, dessa memória comum que os humanos têm da criação do mundo, e que consigam dar uma medida para sua história, para sua história que está guardada, registrada nos livros, nos museus, nas datas, porque, se essa sociedade se reportar a uma memória, nós podemos ter alguma chance. Senão, nós vamos assistir à contagem regressiva dessa memória no planeta, até que só reste a história. E, entre a história e a memória, eu quero ficar com a memória. FONTE: Adaptada de KRENAK, A. Adaptada de Antes, o mundo não existia. In: NOVAES, A. (org.). Tempo e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 57 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Quando os europeus aportaram nas terras brasileiras, viviam aqui diversas comunidades, espalhadas por todo o território: os povos indígenas, que nas ricas florestas viviam e da natureza extraíam seu sustento e suas tradições. • A arte indígena, com grande riqueza de estilos, pode ser apreciada nas cerâmicas, nas cestarias, na arte plumária, nas máscaras, nas pinturas corporais dos povos. É também rica em mistérios e simbologias. 58 1 A arte indígena, admirada desde a chegada dos europeus, permanece viva nas comunidades que superaram adversidades e ainda conservam as tradições de seu povo. Aponte as características e em quais objetos são encontrados esses detalhes. 2 As cerâmicas, produzidas nos diversos grupos indígenas existentes no Brasil, são utilizadas para atividades diárias como armazenamento e preparo de alimentos, transporte de água, entre outras funções da vida cotidiana. Especifique qual é a matéria prima da cerâmica e qual sua origem. 3 Na pintura corporal indígena são utilizados cores e traços que simbolizam proteção e beleza. Para conseguir essas cores, os povos utilizam pigmentos naturais. Sobre os pigmentos mais comuns e de onde são extraídos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os pigmentos mais comuns são o violeta, extraído do caramujo e o vermelho, extraído do urucum. b) ( ) Os pigmentos mais comuns são o preto, extraído do jenipapo e o amarelo, extraído da cúrcuma. c) ( ) Os pigmentos mais comuns são o azul, extraído do lápis lazuli e o carmim, extraído da cochonilha. d) ( ) Os pigmentos mais comuns são o preto, extraído do jenipapo e o vermelho, extraído do urucum. 4 Na arte plumária indígena, além da diversidade de cores, as composições dos adornos formam arranjos de surpreendente beleza em diademas, colares, pulseiras, brincos, cintos e outros enfeites. Indique os materiais básicos utilizados nessa arte, assinalando a alternativa CORRETA: a) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizadas plumas, galhos e folhas de diversas texturas, tamanhos e cores. b) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizadas plumas, penugens e penas de diversas texturas, tamanhos e cores. c) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizados pelos, penugens e folhas de diversas texturas, tamanhos e cores. d) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizados pelos, penugens e penas de diversas texturas, tamanhos e cores. AUTOATIVIDADE 59 5 A cestaria indígena é um conjunto de objetos como cestos, peneiras e outros utensílios confeccionados com elementos vegetais de certa flexibilidade. Possuem diferentes formatos, tamanhos, desenhos e cores, obedecendo os costumes das diferentes comunidades que utilizam esses recipientes. Os padrões decorativos dos trançados variam e estão ligados às culturas de cada povo indígena. Analise as sentenças sobre a finalidade dos utensílios fabricados: I- Esses utensílios são fabricados para transportar cargas, armazenar dados e equipamentos tecnológicos. II- Esses utensílios são fabricados para transportar cargas, armazenar materiais e alimentos. III- Esses utensílios são fabricados para acabamento das construções utilizadas para moradia. IV- Esses utensílios são fabricados para peneirar produtos extraídos da natureza empregados no preparo de alimentos ou ornamentos, coar ingredientes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 60 REFERÊNCIAS AMORIM, L. B. Cerâmica marajoara: a comunicação do silêncio. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2010. BASTOS, A. A. T.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2019. BRUNO A. C., GOMES, S. C. Org. A arte plumária dos povos kagwahíva da transamazônica: etnias tenharim, parintintin e diahoi. Manaus: Editora INPA, 2010. COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. 2. ed. São Paulo: Iluminuras, 2014. DEMARCHI, A. Artes da cura: pinturas corporais em alguns grupos Jê. Revista de @ntropologia da UFSCar, Buri, SP, v. 11, n. 2, p. 142-166, jul./dez. 2019. Disponível em: http://www.rau.ufscar.br/wp-content/uploads/2020/06/6.pdf. Acesso em: 1 ago. 2021. FUNARI, P. P., NOELLI, F. S. Pré-História do Brasil. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2020. GASPAR, M. A arte rupestre no Brasil: descobrindo o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. GASPAR, M. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro.2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Bens Arqueológicos Tombados, c2021. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ cna/pagina/detalhes/895/. Acesso em: 25 set. 2021. KRENAK, A. Antes, o mundo não existia. 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LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila. São Paulo: Iepé, 2014. VIDAL, L. (Org.) Grafismo indígena: estudos de antropologia estética. 2. ed. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, Editora da Universidade de São Paulo, 2000. 62 63 INFLUÊNCIAS CULTURAIS NA ARTE BRASILEIRA UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer as correntes artísticas que infl uenciaram a arte brasileira; • compreender como a diversidade cultural e étnica manteve muitas de suas características; • identifi car os estilos que constituem a arte colonial; • caracterizar obras de artistas de acordo com os estilos ou escolas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivode reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIFERENTES CULTURAS CRIANDO A ARTE NO BRASIL TÓPICO 2 – ARTE DO PERÍODO COLONIAL NO BRASIL TÓPICO 3 – FRUTOS DE UMA ÉPOCA REAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 64 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 65 TÓPICO 1 — DIFERENTES CULTURAS CRIANDO A ARTE NO BRASIL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico iremos caminhar mais adiante pelas trilhas da história, observando as diversas influências culturais que conduziram a formação do país, bem como o papel da arte nesse processo. Com a chegada dos europeus ao Brasil, a partir do século XVI, iniciaram-se diversas transformações no território que já era habitado por povos indígenas. Portugal queria imprimir uma nova identidade com características europeias. Nessa direção, o governo português, considerando o Brasil sua propriedade, procurava importar a cultura europeia e eliminar os costumes dos chamados silvícolas que aqui viviam. Os europeus queriam registrar informações sobre o Brasil, tendo passado por aqui muitos artistas viajantes e aventureiros que enfrentaram a longa travessia do Atlântico para conhecer as belezas e mistérios do Novo Mundo. Muitos permaneceram por vários anos nas terras brasileiras, construindo com suas obras a história e perpetuando a memória do nosso país. Dessa maneira, a arte e seu conjunto de linguagens, constitui-se um elemento fundamentalmente importante para o conhecimento histórico, pois por meio dela é possível registrar e representar cenários e narrativas apresentando a história de forma completa e magistral, como poderemos ver em algumas obras elencadas neste tópico. 2 REGISTROS DO BRASIL NA VISÃO DOS EUROPEUS Ao virar as páginas da história, a arte mostra-se importante em sua função enquanto possível memória cultural por meio da representação de acontecimentos, que permite ser realizada pela retratação de pessoas, de espaços, de costumes, de sentidos, entre tantas outras leituras simbólicas que podem ser feitas. Desde os mais antigos tempos, mesmo antes do advento da escrita, conhecemos nossa história por meio de imagens. São verdadeiros documentos imagéticos que nos transportam através do tempo. Nessa direção, compreendemos acontecimentos e consequências desses que fizeram e fazem o panorama dos períodos históricos do nosso país. 66 No cenário histórico do Brasil, mesmo antes das primeiras missões artísticas, muitas narrativas foram ilustradas e muitos artistas produziram imagens apenas a partir de descrições e histórias contadas, sem ter conhecido o Brasil, como é o caso de Théodore de Bry (1528-1598), que ilustrou os escritos de Jean de Léry (1534-1611), o qual viveu cerca de um ano com o povo Tupinambá, como mostrado na ilustração a seguir: FIGURA 1 – OBRA “INDÍGENAS CANIBAIS”, CRIADA PELO ARTISTA THÉODORE DE BRY EM 1592 FONTE: Amália e Minerini (2019, p. 22) Essas histórias reais e ficcionais, contadas em imagens, nos mostram todo o caminho da formação social e política do nosso país. Sem elas não teríamos conhecimento sobre nossa história e de nossos antepassados. 2.1 CENAS DO BRASIL NA REPRESENTAÇÃO DOS HOLANDESES Segundo Bueno (2012), ao desembarcar em Recife, Maurício de Nassau (1604- 1679) trouxe em sua comitiva 46 artistas, cientistas, artífices e sábios, com a pretensão de fundar uma universidade. Sua comitiva realizou registros por cerca de sete anos, entre 1637 e 1644, considerada a primeira missão artística que, segundo Tirapeli (2010a), veio ao Brasil com o objetivo de retratar as conquistas dos colonizadores europeus e mostrá-las na Europa, a fim de captar financiamentos para os empreendimentos. 67 Na expedição de Nassau, estavam os artistas Frans Post (1612-1680), Albert Eckhout (1610-1665), Georg Marcgraf (1610-1644) e Zacharias Wegener (1614-1668), responsáveis pelos registros das imagens e descrições em mapas e ilustrações de aspectos peculiares do Brasil, que hoje nos permitem, mesmo pelo olhar desses holandeses, conhecer nosso passado, como trazem Amália e Minerini (2019, p. 17): Artistas viajantes chegaram ao Brasil já na primeira metade do século XVI, cujos registros textuais e imagéticos foram publicados em folhetins e livros editados em vários países europeus, alimentando o imaginário do velho continente e instigando aventureiros que foram os responsáveis pelos primeiros registros sobre o Brasil após 1500. INTERESSANTE Quem foi Maurício de Nassau? Johann Mauritius van Nassau-Siegen nasceu em 17 de agosto de 1604, em Dillenburg, na Alemanha. Era neto do conde João VI, por sua vez irmão do príncipe Guilherme de Orange, fundador dos Países Baixos. Pelo lado da mãe, seu bisavô foi Cristiano III, rei da Dinamarca. Embora ingressasse aos 14 anos na carreira militar, Nassau teve formação humanista: na Universidade da Basileia, estudou teologia, filosofia, matemática, música, ciências de guerra, boas maneiras, esgrima e equitação. Tornou-se coronel aos 25 anos, lutou contra a Espanha, encomendou quadros de Rembrandt e iniciou a construção de uma mansão em Haia. Em agosto de 1636, foi convidado pela WIC1 para ser governador-geral do Brasil holandês. Como o salário de 1.500 florins mensais (mais um adiantamento de 15 mil florins e 2% sobre o total das presas de guerra) fosse atraente – e os gastos com sua nova casa, grandes –, Nassau aceitou. Em 23 de janeiro de 1637, chegou ao Recife, com três mil soldados, oitocentos marinheiros e seiscentos indígenas e negros. Foi nas terras baixas localizadas na confluência dos rios Capibaribe e Beberibe (zona alagadiça que lembrava a Holanda) que Nassau ergueu a Cidade Maurícia, símbolo de sua administração. Ali, na ilha de Antônio Vaz (hoje bairro de Santo Antônio), construiu, à própria custa, o Vrijburg, sua residência oficial, também chamada Palácio Friburgo ou das Torres (imagem abaixo). “No meio daquele areal infrutuoso, plantou um jardim e todas as castas de árvores de fruta que dão no Brasil”, escreveu frei Manuel Calado, padre português que conheceu o lugar. Entre milhares de flores e frutos, Nassau plantou também dois mil coqueiros. Fez um zoológico com todos os tipos de animais encontráveis no país. O conde adorava “que todos fossem ver suas curiosidades”. O conde construiu também o Palácio Boa Vista, onde despachava os assuntos oficiais. Nassau não agiu apenas em benefício próprio. Deu ao povo pão e circo: contrário à monocultura, obrigou senhores de engenho a plantar mandioca, “o pão do Brasil”. Por decreto, proibiu a derrubada dos cajueiros, já quase em extinção. Ladeou as ruas com mamoeiros, jenipapeiros e mangueiras. Proibiu, por edital, “o lançamento do bagaço de cana nos rios e açudes”, evitando mortandade de peixes que alimentavam os pobres. Promoveu cavalhadas, peças de teatro e a famosa farsa do boi voador. Convocou a primeira assembleia legislativa democrática do continente. Permitiu a construção de sinagogas, aproximou calvinistas e católicos (só não fez concessões aos jesuítas). O povo o comparava a Santo Antônio, “a quem ninguém recorria sem se ver atendido”. FONTE: BUENO, E. Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro, Leya, 2012. 480 p. 68 Os artistas viajantes Frans Post, Albert Eckhout, Georg Marcgraf e Zacharias Wegener foram responsáveis por desenhar e pintar paisagens locais, etnias brasileiras, a fauna, a flora, e elaborar os mapas da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro. Frans Post, segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 1062), “utilizou a paleta de cores holandesa para representar as nossas cenas tropicais, mostrando um desenho sóbrio e simplificado, mantendo a luminosidade da atmosfera local”, sendo o primeiro pintor a registrar as peculiaridades das paisagens brasileiras. Post foi considerado o artista mais importante da expedição. Realizava suasobras em traçado de perspectiva que valorizava o céu e os movimentos das nuvens, como mostra uma de suas obras na figura a seguir: FIGURA 2 – OBRA “ENGENHO DE AÇÚCAR”, CRIADA PELO ARTISTA FRANS POST EM 1668 FONTE: Mendes Silva (2015, posição 1006) A pintura de Post apresenta um largo campo de visão ao espectador, em uma composição perfeita e minuciosa, com cores fotográficas, quase reais. Albert Eckhout retratou habitantes, fauna e flora. Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 1041), ressaltam que “para os artistas holandeses da época, flores e frutos passaram a ser um tema principal. Bueno (2012, p. 165) expõe que “as frutas brasileiras foram retratadas com frescor nos quadros de Eckhout. Tanto ele como o próprio Nassau achavam que o abacaxi e o caju poderiam se transformar em símbolos da fertilidade e do exotismo dos trópicos”. A figura seguinte comprova a beleza da representação de Eckhout. 69 FIGURA 3 – OBRA “NATUREZA MORTA”, CRIADA PELO ARTISTA ALBERT ECKHOUT, S/D FONTE: Tirapeli (2010a, p. 46) Suas naturezas mortas eram novidade por estas terras e Eckhout abraçou os temas da cultura brasileira, como explica Mendes Silva (2015, posição 1126): Eckhout impõe o registro objetivo do que viu, relegando para segundo plano fantasias decorativas. A presença do negro está intimamente ligada ao engenho de açúcar. Nesses temas, o legado do pintor inclui oito pinturas de avantajadas dimensões, onde figuram quatro casais de “tipos étnicos” das então chamadas Índias Ocidentais. Ao lado de índios e negros há também mamelucos e mulatos sendo, todavia, excluídos os portugueses e outros tipos europeus. Esta documentação representa um panorama antropológico inédito, a respeito da mestiçagem das raças e da hibridização das culturas. As obras de Albert Eckhout são consideradas documentos de importância científica e etnográfica, de qualidade técnica quanto ao uso das cores e composições. Zacharias Wagener, mesmo não sendo artista profissional, deixou algumas imagens de figuras humanas e muitos registros da fauna e da flora do Brasil com características científicas, identificando e registrando diversas espécies, como mostrado na figura seguinte: 70 FIGURA 4 – OBRA “CAJUS”, CRIADA PELO ARTISTA ZACHARIAS WAGENER EM 1641 FONTE: <http://bit.ly/3trjjph>. Acesso em: 31 ago. 2021. Georg Marcgraf realizou estudos cartográficos e produziu mapas verdadeiramente preciosos, com detalhes da fauna, flora, etnografia e astronômicos, com descrições detalhadas, como o exemplo da figura a seguir: FIGURA 5 – OBRA “CARTA DA PARAÍBA”, CRIADA PELO ARTISTA GEORG MARCGRAF EM 1647 FONTE: Mendes Silva (2015, posição 1208) Além desses, podem ser encontrados outros documentos de viajantes independentes que contém registros valiosos, com descrições e ilustrações que contam muito do que encontraram no Brasil, por meio dos quais podemos conhecer o território e a cultura brasileira desde os tempos coloniais. 71 DICA Conheça o documentário sobre as primeiras expedições e viajantes que estiveram no Brasil entre os séculos XVI e XIX. Acesse os episódios da série em: Episódio 1: https://youtu.be/5CECkxBtZQc. Episódio 2: https://youtu.be/qjKGpUu3Zi8. Episódio 3: https://youtu.be/xEKr4jOoa4A. Episódio 4: https://youtu.be/nh9ntKXYKXE. Veja também o documentário sobre o Brasil dos holandeses que conta sobre os registros dos artistas da expedição de Maurício de Nassau: https://tvbrasil.ebc.com.br/expedicoes/episodio/brasil-dos-holandeses. 72 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Muitos europeus viajantes enfrentaram a longa travessia do Atlântico para conhecer as belezas e mistérios do Novo Mundo, registraram a história e perpetuaram a memória do nosso país. Alguns aventureiros, mesmo antes das primeiras missões artísticas narraram suas experiências, que foram ilustradas apenas a partir dessas descrições. • Frans Post, Albert Eckhout, Georg Marcgraf e Zacharias Wagener foram responsáveis pelos registros das imagens e descrições em mapas e ilustrações de aspectos peculiares do Brasil. • A arte e seu conjunto de linguagens constituem-se como elemento fundamentalmente importante para o conhecimento histórico e cultural, pois por meio dela é possível registrar e representar cenários e narrativas reais e imaginárias. 73 RESUMO DO TÓPICO 1 1 O artista Théodore de Bry ilustrou os escritos de qual viajante que viveu por cerca de um ano com o povo Tupinambá no Brasil. Com relação ao exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Barão de Langsdorff. b) ( ) Georg Marcgraf. c) ( ) Jean de Léry. d) ( ) Víctor Meirelles. 2 Maurício de Nassau desembarcou em Recife com uma comitiva de artistas, cientistas, artífices e sábios, considerada a primeira missão artística a aportar no Brasil. Descreva qual foi o objetivo de Maurício de Nassau, ao trazer a comitiva que permaneceu no país por cerca de sete anos, entre 1637 e 1644. 3 Um dos artistas da comitiva de Nassau destacou-se por ilustrar com maestria os temas da cultura brasileira. Suas naturezas mortas trazem o registro das frutas tropicais do Brasil. Suas obras são consideradas documentos de importância científica e etnográfica, de qualidade técnica quanto ao uso das cores e composições. Quem foi esse talentoso artista? Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Maurício de Nassau. b) ( ) Barão de Langsdorff. c) ( ) Albert Eckhout. d) ( ) Georg Marcgraf. 4 Os registros das imagens e as descrições em mapas e ilustrações sobre aspectos peculiares do Brasil, nos permitem, hoje, mesmo pelo olhar desses holandeses, conhecer nosso passado. Quando ocorreu a ocupação holandesa no Nordeste do Brasil e o que dizem os autores Amália e Minerini (2019) sobre a publicação dos registros textuais e imagéticos realizados à época pelos artistas viajantes? 5 Um dos artistas da expedição holandesa representou, segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 1062) “as nossas cenas tropicais, mostrando um desenho sóbrio e simplificado, mantendo a luminosidade da atmosfera local”. Ele foi considerado o primeiro pintor a registrar as peculiaridades das paisagens brasileiras. Assinale a alternativa CORRETA que corresponde ao artista: FONTE: TEIXEIRA LEITE, J. R.; MENDES SILVA, R. Da pré-história ao fim do período colonial. Rumo Certo, 2015. E-book. AUTOATIVIDADE 74 a) ( ) Albert Eckhout. b) ( ) Hercule Florence. c) ( ) Frans Post. d) ( ) Georg Marcgraf. 75 ARTE DO PERÍODO COLONIAL NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO O período colonial abrange do século XVI até o início do século XIX, especificamente de 1500 a 1822 quando foi proclamada a independência do Brasil. Nesse período, o país estava sob o controle e poder de Portugal e a identidade brasileira sofreu muitas influências estrangeiras. É importante destacar que, à época da chegada dos portugueses, em 1500, na Europa decorriam grandes transformações, principalmente no campo das ciências e das artes, com o renascimento já tendo passado pelas fases do trecento e quattrocento, respectivamente séculos XIV e XV, sendo que nos primeiros anos de colonização o período do cinquecento já florescia no continente europeu. Os padres jesuítas, da Companhia de Jesus, aportaram no Brasil em 1549, chamados para introduzir a cultura europeia e ensinamentos religiosos aos indivíduos que aqui habitavam. Vale lembrar que os portugueses não estavam sozinhos, como traz Toledo (1983, p. 97), “Portugal esteve unido à Espanha” no período de 1580 a 1640. Como anuncia Tirapeli (2010a, p. 5), “fundaram vilas, construíram igrejas e conventos” com a intenção de fazer da nova terra uma colônia. Uma das principais é a Vila de São Vicente, no litoral do estado de São Paulo, entre outras, onde hoje permanecem as cidades históricas, consideradas patrimônios culturais. E assim ocorreu durante o período colonial, quando os religiosos também introduziram o ensino das técnicas, iniciando no Brasil o ensino das artes, sempre trazendoinfluências da cultura e dos costumes europeus, importando para a nova terra as características dos estilos barroco e rococó. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - NOTA Para relembrar sobre as fases do renascimento: A palavra renascença significa nascer de novo ou ressurgir. (GOMBRICH, 2012, p. 223). As obras renascentistas possuem como características principais a valorização dos padrões da Antiguidade Clássica, a utilização da perspectiva, do claro-escuro, do esfumato e da tinta a óleo. Trecento foi o período marcado pelo início do renascimento, na cidade de Florença, Itália, nos fins do século XII e permaneceu até o início do século XIV (POZENATO; CAUER, 2001). 76 2 ARTE COLONIAL Durante o período colonial a produção artística constituiu-se, em sua maioria, ligada à religião e à cultura portuguesa, como explica Tirapeli (2010a, p. 20): “a igreja teve um papel importante na formação da cultura colonial”. A formação que os portugueses queriam para o Brasil dependia dos ensinamentos dos representantes das ordens religiosas que aqui estiveram, como também do financiamento dos europeus, que então tomaram posse das terras brasileiras. A expressão da arte colonial encontra-se quase que somente na arquitetura, pintura e escultura religiosa, porém, apresenta elementos estéticos de grande importância. Inicialmente as obras seguiram o estilo maneirista, que pode ser entendido como ajuste, transição de elementos e características de certos estilos. Como conceitua Toledo (1983, p. 93), é um “procedimento inerente a uma manifestação artística, a forma correta de proceder, ou a peculiaridade de produção de um determinado artista”. Também é conhecido como estilo jesuítico, mas logo renderam-se, mesmo que tardiamente, ao que estava em voga na Europa. Nessa direção, a arte colonial é resultado dos estilos barroco e rococó, que chegaram ao Brasil por influência dos religiosos das ordens franciscana, beneditina, carmelita e, principalmente, dos jesuítas enviados para construir edificações e catequizar os habitantes. Para Toledo (1983, p. 293), “fica um fato fundamental: por mais de três séculos o barroco traduziu as aspirações e as contradições da sociedade brasileira, ávida de encontrar seus próprios caminhos. É a arte que dá expressão aos anseios da nação em sua longa busca de autoafirmação”. E, foi pelo ensino da arte que muito do que temos hoje foi construído, o que ocorreu principalmente nas corporações de ofícios que, inspiradas nas guildas da Idade Média, tinham como propósito ensinar as técnicas. Assim, a arte colonial, mesmo sendo desenvolvida sobre os estilos europeus, sustenta a identidade do Brasil e mais, de cada uma das regiões deste vasto território. Quattrocento refere-se ao período em que o renascimento ganha destaque e quando Lorenzo de Médici (1449-1492) tornou-se mecenas, promovendo o interesse pela arte (REIS, 2010). Cinquecento data do início do século XVI e é o mais célebre período da arte italiana, e um dos maiores de todos os tempos. Foi a época de Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1474-1564), Rafael (1483-1520) e Ticiano (c. 1488-1576), Corregio (1489-1534) e Giorgione (1478-1510), Dürer (1471-1528) e Holbein (1460-1524) (GOMBRICH, 2012). 77 2.1 ARQUITETURA A arquitetura colonial do Brasil traz em si características que foram incorporadas pelos missionários que estavam incumbidos de difundir a religião, tendo como tarefa primordial a construção de igrejas. Portugal enviou para a Terra de Santa Cruz, como era chamado o Brasil, religiosos de diversas ordens. Jesuítas, beneditinos, franciscanos e carmelitas, assim começaram a erguer os chamados tejupares, que na língua tupi- guarani significa lugar de gente. Mais adiante as construções passam a ser feitas de taipa, estrutura de varas, preenchidas com barro e cal. FIGURA 6 – OBRA “HABITAÇÃO DE NEGROS”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS EM 1835 FONTE: <http://bit.ly/2Vn5Xhi>. Acesso em: 31 ago. 2021. O avanço da arquitetura colonial apresenta elementos característicos na construção de casas das vilas, em muitos locais sem planejamento, sendo erguidas sem distância umas das outras. Para Oliveira (2013, p. 18-19), “arruamentos espontâneos, com suas voltas pitorescas e constantes subidas e descidas, constituem um dos principais encantos das cidades coloniais brasileiras”. Pode-se encontrar essas características na cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, tombada em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e primeira cidade brasileira a receber, em 1980, o título de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 78 FIGURA 7 – CENTRO HISTÓRICO DE OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: <https://bit.ly/3ufAQ4n>. Acesso em: 26 set. 2021. Esses elementos estéticos característicos da infl uência lusitana ocorrem também na cidade de Olinda, no estado de Pernambuco, que recebeu em 1982 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO. Nas regiões litorâneas é visível o planejamento mais alinhado das construções, como por exemplo em Salvador, na Bahia, que foi a primeira capital do Brasil colônia. NOTA O que signifi ca lusitano? lusitano1 (lu.si.ta.no) sm. 1. Aquele que nasceu ou viveu na Lusitânia, antiga região do oeste da península Ibérica, correspondente em grande parte ao atual território português. 2. Aquele que nasceu ou que vive em Portugal; PORTUGUÊS; LUSO a. FONTE: <https://www.aulete.com.br/lusitano>. Acesso em: 5 set. 2021. 79 FIGURA 8 – SALVADOR – BAHIA FONTE: <https://bit.ly/3CPPEcK>. Acesso em: 26 set. 2021. Segundo Tirapeli (2010a, p. 12), “no litoral, a pedra e a cal eram os materiais empregados nas casas, enquanto no interior podia variar”, como por exemplo em São Paulo onde utilizava o barro batido ou em Minas Gerais, onde costumava-se associar a madeira ao alicerce de pedras. Essas construções residenciais, com dois pavimentos, eram destinadas também ao comércio no piso térreo. FIGURA 9 – DIAMANTINA – MINAS GERAIS FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/32>. Acesso em: 30 ago. 2021. Construções típicas da época colonial são encontradas nas fazendas de engenhos. Tirapeli (2010a, p. 14) assegura que as propriedades “eram muito grandes, com várias construções, como a casa-grande, na qual morava a família do senhor de engenho ou coronel”, como mostra a imagem a seguir: 80 FIGURA 10 – CASA DE FAZENDA DE ENGENHO DO SÉCULO XVII, ILHABELA – SÃO PAULO FONTE: Tirapeli (2010a, p. 15) As moendas, onde os negros escravizados desempenhavam seus trabalhos faziam parte das fazendas e foram registradas por artistas como Frans Post, conforme mostra a imagem: FIGURA 11 – OBRA “USINA DE AÇÚCAR” CRIADA PELO ARTISTA FRANS POST NO SÉCULO XVII FONTE: Tirapeli (2010a, p. 14) Outra construção típica do período colonial é a Casa de Câmara e Cadeia que, segundo Tirapeli (2010a, p. 10), destacava-se das edificações civis por sua dimensão maior no conjunto urbano, tendo no piso a Cadeia com janelas gradeadas. Esse edifício possuía uma escada frontal ou lateral para o acesso à Casa de Câmara. Na parte superior, um espaço com muitas janelas, onde as autoridades exerciam suas funções. Muitas vezes, escadas internas eram utilizadas para separar os detentos em áreas masculina e feminina. 81 FIGURA 12 – CASA DE CÂMARA E CADEIA, OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/30>. Acesso em: 30 ago. 2021. Muitos imóveis destinados às casas de câmara e cadeia ainda apresentam a arquitetura preservada no Brasil, entre elas destaca-se as cidades de Ouro Preto e Mariana no estado de Minas Gerais e em Laguna no estado de Santa Catarina. INTERESSANTE O texto de Percival Tirapeli assinala a representação dos engenhos de produção de açúcar no período colonial. Que tal conhecer um pouco desse material? A iconografia dos engenhos Os engenhos e as atividades desenvolvidas ao seu redor foram um dos temaspreferidos dos artistas e cientistas que viajaram pelo Brasil do século 17 ao 19. Alguns retrataram os carros-de-boi chegando com a cana-de-açúcar e o homem com um ferrão comandando os animais. O que se destaca das construções é seu tamanho e uma imensidão de telhas abrigando a moenda com três cilindros, a roda-d’água e os tanques para o melaço. Os holandeses, como Frans Post, foram os primeiros a retratar os grandes engenhos e colocá-los nos mapas em que divulgavam suas ações comerciais, como a Companhia das Índias. No século 19, Debret, artista francês, desenhou a moenda dentro de uma casa de fazenda, sendo movida por dois escravos, e outros dois moendo a cana e colhendo o caldo. No século 20, os artistas pernambucanos Cícero Dias e Vicente do Rego Monteiro, ambos vivendo então em Paris, desenharam os engenhos como uma lembrança da infância no Brasil. Um livro muito importante, Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre, descreve o papel desse local como espaço de convívio das raças e formação do povo brasileiro. O livro foi ilustrado por Cícero Dias. FONTE: TIRAPELI, P. Arte colonial: barroco e rococó. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010a. 82 Em 1549, como apresenta Battistoni Filho (2020), Tomé de Souza trouxe um regimento sobre a construção de edificações, que passaram a ser executadas com materiais mais duradouros, como a Casa da Torre, de Garcia d’Ávila, uma das residências de destaque da época, na qual usou-se cal extraída de ostras. FIGURA 13 – CASA DA TORRE – BAHIA FONTE: Battistoni Filho (2020, posição 108) Para Tirapeli (2010a), a residência também era denominada casa-fortaleza por parecer uma fortificação. Possuía essa característica pela necessidade de abrigar muitas pessoas, além de proteger dos ataques e assaltos. 2.1.1 Fortificações Em alguns pontos estratégicos do litoral brasileiro foram construídas fortificações com o objetivo de proteger e defender a terra brasileira de invasores que porventura tentassem ocupar e dominar o território controlado pelos portugueses. Essas fortificações incluem fortalezas e fortes. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2021, s.p.), “as fortalezas são as grandes edificações militares, com duas ou mais baterias de canhões instaladas em pontos diferentes no interior da construção onde existem vários prédios, torre de observação, entre outras obras”, como a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, na cidade de Governador Celso Ramos, em Santa Catarina, mostrada na imagem que segue: 83 FIGURA 14 – FORTALEZA DE SANTA CRUZ DE ANHATOMIRIM – SANTA CATARINA FONTE: Tirapeli (2010a, p. 40) Menores que a fortaleza, os fortes são edificações que, como indica o Iphan (2021, s.p.), “possuem uma ou mais baterias de artilharia, mas todas instaladas no mesmo local”, como mostra a imagem do forte de Santo Antônio da Barra, em Salvador, no estado da Bahia, popularmente chamado de Farol da Barra. FIGURA 15 – FORTE DE SANTO ANTÔNIO DA BARRA - BAHIA FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/257?eFototeca=1>. Acesso em: 31 ago. 2021. Esse forte, como aponta o Iphan (2021, s.p.), foi “construído no local da segunda cidade lusitana de Salvador” em 1534 e reconstruído em 1582. Atualmente é um museu naval. 84 Segundo Tirapeli (2010a, p. 13) “muitas delas resistiram ao tempo e ainda podem ser conhecidas de perto”. O autor registra que a cidade com maior número de fortificações é Salvador, na Bahia. A Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, também possui muitas fortificações, além de outras cidades localizadas no litoral ou em fronteiras, como a maior fortaleza do Brasil, situada em Rondônia, às margens do Rio Guaporé, que guardava a fronteira da região amazônica. FIGURA 16 – FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA - RONDÔNIA FONTE: <http://bit.ly/3zOSv4E>. Acesso em: 31 ago. 2021. Como mostrado na imagem anterior, as plantas das fortificações possuíam desenhos poligonais complexos e variados. Oliveira (2013, p. 20) confirma “a criatividade e a perícia técnica” que essas construções foram realizadas. 2.1.2 Igrejas A importância da construção de igrejas no período colonial estava ligada às transformações culturais que a Coroa Portuguesa pretendia promover nas sociedades originárias, como era o caso dos povos indígenas, entendendo que necessitavam ser civilizados ao seu modo. Nas igrejas das diversas ordens religiosas, conforme Tirapeli (2010a, p. 16), “a arte colonial atinge seu ponto alto, com muitos elementos importantes para compreender a arte daquele período”. Como afirma Battistoni Filho (2020, posição 74), “a primeira igreja da Companhia de Jesus no Brasil, foi a da Ajuda em Salvador, Bahia”, construída em taipa, foi fundada pelo padre Manoel da Nóbrega, em 1549. O autor complementa que em 1572 o arquiteto jesuíta Francisco Dias reergueu a igreja utilizando pedra e cal. 85 As construções religiosas, que conforme Oliveira (2013, p. 23) incluíam “capelas urbanas e rurais, igrejas conventuais e paroquiais, catedrais e igrejas de Irmandades – a tipologia do templo católico colonial apresenta poucas variações”, geralmente possuíam desenhos simples, que acompanhavam tendências do gosto lusitano, no entanto, alguns edifícios religiosos apresentam traçados curvilíneos, como mostrado na da igreja de São Francisco, em Ouro Preto, Minas Gerais, conforme a imagem seguinte: FIGURA 17 – IGREJA DE SÃO FRANCISCO, EM OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/373/>. Acesso em: 6 set 2021. Como consta na imagem a seguir, os elementos fundamentais estavam presentes, como por exemplo o altar-mor ou retábulo principal, que segundo Tirapeli (2010a, p. 90), é “posicionado na capela-mor, onde se coloca o santo padroeiro”. Muitas vezes, junto das igrejas eram construídos conventos e colégios. 86 FIGURA 18 – PRINCIPAIS ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS DO INTERIOR DA IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO - PARAÍBA FONTE: Tirapeli (2010a, p. 89) Mais uma vez vamos apresentar a cidade de Ouro Preto de Minas Gerais, destacando-a pela sua localização, onde foram encontrados veios de ouro, o que causou em 1692, segundo Tirapeli (2010a, p. 75), “disputa pelas ordens religiosas e irmandades para ver quem construía os melhores templos”. Segundo Battistoni Filho (2020, posição 272-3) “a talha é exuberante de ornatos e esplendor em ouro, que atrai e extasia o fiel”, pois com o domínio do ciclo do ouro, como retrata a figura a seguir, as igrejas tornaram- se exemplo de riqueza e ostentação. 87 FIGURA 19 – OBRA “ANJO ATLANTE DO ALTAR LATERAL DE SÃO MIGUEL”, IGREJA MATRIZ DE CATAS ALTAS – MI- NAS GERAIS. ENTALHE ATRIBUÍDO A ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA E MANOEL GONÇALVES VALENTE, 1746-47 FONTE: Tirapeli (2010a, p. 21) Diversas igrejas de grande importância arquitetônica foram erguidas e ornamentadas durante o período colonial, deixando uma herança de cultura e beleza. Para exemplificar, apresentamos as igrejas de Nossa Senhora do Pilar, cuja imagem do altar-mor está visível na figura a seguir, além das igrejas Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Carmo, todas em Ouro Preto. FIGURA 20 – ALTAR-MOR DA IGREJA NOSSA SENHORA DO PILAR, ENTALHE REALIZADO PELO ARTISTA FRANCISCO XAVIER DE BRITO EM 1746, OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: Tirapeli (2010a, p. 76) 88 O altar e a capela-mor da Igreja Nossa Senhora do Pilar, referência do estilo barroco joanino, criada em 1746 por Francisco Xavier de Brito, um dos melhores entalhadores portugueses da época. 2.2 PINTURA Com predominância de temas religiosos, as primeiras pinturas da época colonial aparecem em grande quantidade nas igrejas, sendo encontradas algumas pinturas de retratos, com destaque para Minas Gerais, que segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 541): [...] foi palco de importante movimento pictórico, dotado de características próprias e representado por pinturas arquitetônicas ou de cavalete, religiosas ou profanas, devidas a mais de uma centena de artistasdestacando-se entre todos Manoel da Costa Ataíde, José Soares de Araújo, João Batista de Figueiredo e João Nepomuceno Correa de Castro. Na Bahia, o maior representante da pintura religiosa da época foi José Joaquim da Rocha, (1737-1807) que realizou as pinturas do interior da igreja de São Domingos, em Salvador e da igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia, como podemos ver na imagem a seguir: FIGURA 21 – OBRA “DAVI TOCA HARPA – SACERDOTE OFERECE PÃO E VINHO - SACERDOTE SACRIFICA UM CORDEIRO, REALIZADAS NO TETO DA IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA, EM SALVADOR – BAHIA. PINTURA CRIADA PELO ARTISTA JOSÉ JOAQUIM DA ROCHA EM 1786. FONTE: <https://bit.ly/3uMJCqM>. Acesso em: 6 set. 2021. NOTA Segundo Tirapeli (2010a, p. 77), “o estilo barroco denominado joanino, que coloca anjos sobre as colunas, abaixo de um dossel – escultura imitando tecido caído sobre o trono – e, na parte superior, um grupo escultórico da Santíssima Trindade; Deus Pai, Jesus e a pomba do Espírito Santo”. 89 No estado de São Paulo, José Patrício da Silva Manso (1753-1801) e o padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), como vemos na figura seguinte, que mostra o teto da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Itu, em São Paulo. FIGURA 22 – OBRA “DETALHE DO TETO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO”, NA CIDADE DE ITU – SÃO PAULO. PINTURA CRIADA POR JESUÍNO DO MONTE CARMELO FONTE: Teixeira Leite e Mendes silva (2015, posição 669) No Rio de Janeiro Ricardo do Pilar (1635-1700). Sua obra mais conhecida está na sacristia do Mosteiro de São Bento, como mostrado na figura seguinte: FIGURA 23 – OBRA “SACRISTIA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO” CRIADA PELO FREI RICARDO DO PILAR NO SÉCULO XVII FONTE: Teixeira Leite e Mendes silva (2015, posição 433) 90 Outro importante artista é Caetano da Costa Coelho (nasceu provavelmente em Portugal e faleceu no Rio de janeiro s/d), cujo detalhe da obra do forro da capela-mor da igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, localizada na cidade do Rio de janeiro, está mostrada na figura a seguir. FIGURA 24 – OBRA “CRISTO, VIRGEM MARIA E SÃO FRANCISCO” CRIADA PELO ARTISTA CAETANO DA COSTA COELHO EM 1732 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa22412/caetano-da-costa-coelho>. Acesso em: 6 set. 2021. As pinturas dos forros das igrejas, inicialmente “eram feitas dentro de molduras formadas por madeiras dispostas em formas geométricas” (TIRAPELI, 2010a, p. 30), como mostrado na figura a seguir: 91 FIGURA 25 – CAPELA DOURADA, MOSTEIRO DE SANTO ANTÔNIO, RECIFE – PERNAMBUCO FONTE: Teixeira Leite e Mendes silva (2015, posição 604) Mais tarde, as pinturas ilusionistas em forros arredondados davam sensação de continuidade e ampliação do espaço, apresentando cenas chamadas de “visão” do que acontecia no céu, como mostrado na imagem pintada por Manoel da Costa Ataíde (1762- 1830) no teto da Igreja de Santo Antônio, em Santa Bárbara, Minas Gerais. FIGURA 26 – OBRA “ASCENSÃO DE CRISTO” CRIADA POR MESTRE ATAÍDE NO SÉCULO XIX FONTE: Tirapeli (2010a, p. 23) 92 Toledo (1993, p. 288) expõe que “a pintura do Brasil colonial, como estamos vendo, conheceu uma diversificação em função de vários condicionantes, como região, entidade patrocinadora (que por vezes formava seus próprios artistas) e fatores circunstanciais”. Esses fatores enriqueceram não só a pintura, mas toda a arte do período colonial. 2.3 ESCULTURA Cabral trouxe na capela de seu navio uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança, que parece ter sido o modelo utilizado pelos mestres vindos de Portugal para ensinar a escultura no Brasil. A escultura do período colonial está relacionada com a produção de imagens religiosas, também denominada imaginária. Nos séculos XVI e XVII, segundo Tirapeli (2010a, p. 26), “era mais comum fazer as imagens em argila, segundo a tradição portuguesa trazida pelo frei beneditino Agostinho da Piedade” (1580-1661), que fazia imagens mais estáticas, como podemos apreciar na figura seguinte, enquanto seu aluno Agostinho de Jesus (c. 1600-1661) colocava mais movimento nas vestes dos santos. FIGURA 27 – OBRA “NOSSA SENHORA DO MONTE SERRATE”, CRIADA PELO ARTISTA AGOSTINHO DA PIEDADE CRIADA EM 1636 FONTE: Battistoni Filho (2020, posição 171) 93 FIGURA 28 – OBRA “NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO”, CRIADA PELO ARTISTA AGOSTINHO DE JESUS, SÉCULO XVII FONTE: Battistoni Filho (2020, posição 182) A imaginária produzida em pedra cede lugar à técnica da madeira policromada, ou seja, recebe pintura em diversas cores, como também objetos elaborados em madeira recebem tratamento em ouro, com detalhes que sugerem vida às imagens dos santos. Suas feições insinuam traços dos indivíduos nativos como as madonas. Para Oliveira (2013), na Bahia, em Pernambuco e em Minas Gerais essas características físicas regionais são claramente notadas. No século XVIII, de acordo com Tirapeli (2010a, p. 26), “os santos feitos para se colocar nos altares principais eram grandes e, quando de madeira, podiam ter formas mais elegantes, com as vestimentas esvoaçantes e coloridas”, como podemos observar na figura a seguir: FIGURA 29 – OBRA “SÃO JOÃO DA CRUZ”, IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO, SABARÁ – MINAS GERAIS. ESCULTURA CRIADA PELO ARTISTA ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA (ALEIJADINHO) EM 1771 FONTE: Tirapeli (2010a, p. 27) 94 O artista Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813), conhecido como Mestre Valentim, foi um dos mais importantes escultores. Muitas das obras de Mestre Valentim são preservadas até hoje, com destaque para o conjunto de jacarés, como afi rmam Amália e Minerini (2019, p. 33), que é “considerada a primeira fundição em bronze feita no Brasil”, localizada no Passeio Público, na cidade do Rio de Janeiro. FIGURA 30 – OBRA “CHAFARIZ DOS JACARÉS”, CRIADA PELO ARTISTA MESTRE VALENTIM, S/D FONTE: Amália e Minerini (2019, p. 34) É também importante salientar que a obra de Mestre Valentim aponta para um novo período de superação da arte religiosa, elegendo outras temáticas variadas. Vamos conhecer uma matéria prima muito usada do Brasil para criar esculturas? Conhecido por pedra-sabão, o esteatito é um fi lossilicato de magnésio hidratado, passou a ser chamado assim, provavelmente devido a sua maciez e sedosidade percebida ao toque, uma vez que se trata de uma rocha metamórfi ca ultramáfi ca composta principalmente de talco. Em Minas Gerais, é encontrado em cores que variam do cinza ao verde. FONTE: BUSTAMANTE A. M. G. GONZALEZ, S. R. Patrimônio cultural e geologia do quadrilátero ferrífero. Revista Brasileira de Geografi a, Rio de Janeiro, v. 62, n. 2, p. 113-121, jul./dez. 2017. NOTA 95 3 O BARROCO NO BRASIL O estilo barroco surgiu na Itália, no século XVI e difundiu-se pela Europa. Segundo Reis (2010, p. 77), “o termo barroco (palavra portuguesa que signifi ca pérola imperfeita) é usado desde a Idade Média para indicar um raciocínio tortuoso, que confundia o falso com o verdadeiro” e foi utilizado para criticar o excesso de dramaticidade do estilo diante da elegância da arte renascentista. O barroco chegou ao Brasil trazido pelos europeus, podendo primeiramente ser visto nas características das construções religiosas, pois o objetivo inicial era introduzir a doutrinação cristã. Portanto o estilo barroco brasileiro, que se popularizou tardiamente aqui em nosso território, apenas 100 anos depois do seu desenvolvimento da Europa, entre os séculos XVIII ao século XIX, mistura-se com estilos trazidos de Portugal, da França, da Itália, da Espanha e modifi ca-se pelo contato com o povo brasileiro que, nesse momento, já se encontra miscigenado entre as culturas europeias, indígenas e africanas. O estilo destacou-se na então colônia de Portugal, na arte religiosa, expressando- se principalmente na arquitetura, na escultura e na pintura. A mistura de imigrantes portugueses com africanos e indígenas trouxe grande preocupação para a igreja e o Estado nesse período, uma vez que também poderia ocorrer a mistura de diferentesideias e crenças. Com isso, foram trazidos os primeiros jesuítas com a fi nalidade de evangelizar os povos indígenas que aqui viviam. Entre os jesuítas que vieram para o Brasil, estava José de Anchieta (1534-1597) que é considerado o primeiro dramaturgo do Brasil. Anchieta escreveu 12 obras que eram representadas por crianças e adultos entre colonos e indígenas. Seus textos foram escritos em forma de versos e os conteúdos eram apresentados em forma de alegorias em peças teatrais. As histórias continham dramas de consciência com o objetivo de apresentar situações que servissem de exemplo. As obras de Anchieta fazem parte das primeiras manifestações artísticas barrocas do Brasil. O texto de Amália e Minerini (2019) destacam as características das transformações religiosas ocorridas no período em que os europeus iniciaram suas atividades no Novo Mundo. Vamos conhecer esses acontecimentos históricos? Os jesuítas eram membros da Companhia de Jesus, ordem da Igreja Católica que trabalhava para catequizar os índios na América. INTERESSANTE 96 A chegada do barroco no brasil com os jesuítas Em 1539, foi fundada na Europa, por Inácio de Loyola, uma ordem religiosa chamada Companhia de Jesus (ou Ordem dos Jesuítas), inserindo-se no contexto da Contrarreforma que renovou o catolicismo. Ela foi uma resposta do Vaticano à Reforma Protestante, feita no século XVI e defendida em teses de Martinho Lutero, resultando na doutrina luterana. Outro reformista foi João Calvino, que, junto com Lutero, contribuiu para a cisão com o catolicismo e para a origem das religiões protestantes, espalhando-se rapidamente pela Europa. Embora tenha se chamado “reforma”, os protestantes tinham como objetivo a restauração de aspectos presentes na Bíblia que caíram em esquecimento no decorrer do período medieval e do Renascimento, entre eles, a valorização das escrituras sagradas e a salvação pela fé e pela graça divina. Portanto, a palavra tem enorme importância para os protestantes, o que justifica a ausência de imagens em seus templos e a forte presença da música cantada em seus cultos, pois ela valoriza a palavra. A Contrarreforma foi uma resposta da Igreja católica romana para a Reforma Protestante. Também chamada de Reforma Católica, dela participou a Companhia de Jesus, que estabeleceu missões na Ásia e na América para catequizar, que tinha por base o que foi determinado pelo Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1563. FONTE: Adaptada de AMÁLIA, A.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Senac São Paulo, 2019. E-book. As características do estilo barroco brasileiro podem variar de acordo com a região, principalmente na arquitetura, pois além das diversas ordens religiosas, os europeus traziam arquitetos e mestres de obras de diversas nacionalidades para realizar os trabalhos. Essas particularidades encontradas nas diversas regiões se devem a “muitas ordens religiosas e corporações de ofícios que se estabeleceram no decorrer dos séculos em que o Brasil foi colonizado, cada uma a seu modo e contribuindo para essa diversidade que conta ainda com os conhecimentos de índios nativos e de povos africanos”, como Amália e Minerini (2019, p. 38-39) anunciam. É importante salientar que em Minas Gerais, conforme Battistoni Filho (2020), nas cidades de Ouro Preto e Diamantina onde a mineração era explorada, o estilo barroco de formas exuberantes teve início com as construções arquitetônicas e os retábulos das igrejas. Como afirma Gombrich (2012, p. 445), “o espírito do Barroco, o gosto por movimento e efeitos arrojados, pode expressar-se mesmo numa simples paisagem urbana”, assim como no barroco brasileiro, que apresenta menos detalhes e maior sobriedade, mas as cores vibrantes permanecem no conjunto das obras. 97 A igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada na cidade de Embu, em São Paulo, é considerada expressão máxima do barroco mineiro, com os altares e pinturas muito bem conservadas, como vemos na figura seguinte: FIGURA 31 – IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, EMBU – SÃO PAULO, CONSTRUÍDA ENTRE 1690 E 1740 FONTE: Tirapeli (2010a, p. 54) Assim, a arte barroca brasileira se distingue dependendo da região, com variada vertente entre um local e outro. Contudo, a rigor, o barroco brasileiro pode ser percebido de duas formas: como o barroco litorâneo que está presente principalmente nos estados de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, bem como o barroco interiorano que se apresenta com grande intensidade no estado de Minas Gerais devido a quantidade de ouro e pedras preciosas encontradas por lá. Entre as principais diferenciações dessas duas formas de perceber esse estilo, pode-se afirmar que no litoral a arte barroca manteve-se menos independente, conservando mais o estilo da arte portuguesa, enquanto o barroco do interior adotou soluções próprias tornando-se mais original. Outro ponto a ser destacado é que o barroco brasileiro foi desenvolvido principalmente por mão de obra negra, e, talvez por isso, tenha conservado uma linguagem original mais próxima do povo. Entre os principais pintores que compunham o estilo barroco brasileiro no período colonial, destaca-se Caetano da Costa Coelho (nasceu provavelmente em Portugal, e faleceu no Rio de Janeiro), Manoel da Costa Ataíde (nasceu em 1762 na cidade de Mariana – Minas Gerais e faleceu em 1830), José Joaquim da Rocha (nasceu em 1737 e faleceu em 1807 em Salvador - Bahia) e João de Deus Sepúlveda (artista pernambucano), cuja obra do teto da Igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife, está mostrada na figura seguinte: 98 FIGURA 32 – OBRA “A BATALHA DOS GUARARAPES” CRIADA PELO ARTISTA JOÃO DE DEUS SEPÚLVEDA NO SÉCULO XVIII FONTE: Teixeira Leite e Mendes silva (2015, posição 616) Na figura seguinte também podemos observar uma das belíssimas obras de José Joaquim da Rocha. FIGURA 33 – OBRA “O SEPULTAMENTO” CRIADA PELO ARTISTA JOSÉ JOAQUIM DA ROCHA EM 1786 FONTE: Teixeira Leite e Mendes silva (2015, posição 301) 99 Entre os escultores, destaca-se Antônio Francisco Lisboa (nasceu em 1730 na cidade de Ouro Preto – Minas Gerais e faleceu em 1814) no qual também é reconhecido pelo trabalho de entalhador e arquiteto. 3.1 ALEIJADINHO E SUAS OBRAS Antônio Francisco Lisboa, também conhecido como Aleijadinho, cujo apelido foi dado pela deformação de seus membros superiores e inferiores, causada por uma doença degenerativa. Apesar das dificuldades, saía à noite escondido dos olhares e continuava a produzir com cinzel e martelo amarrados aos punhos. Foi um dos maiores expoentes das artes, talvez o mais conhecido. Deixando um conjunto de obras muito importante em diversas cidades do estado de Minas Gerais. Suas obras mais conhecidas são esculturas, mas desenvolveu por exemplo, o projeto arquitetônico e ornamental da Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais. FIGURA 34 – PROJETO DA FACHADA DA IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, OURO PRETO – MINAS GERAIS, ELABORADO POR ALEIJADINHO EM 1766 FONTE: Toledo (1983, p. 216) 100 FIGURA 35 – IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS, EM OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: Teixeira Leite e Mendes silva (2015, posição 837) Uma de suas importantes obras intitulada “Os doze profetas” do Antigo Testamento, esculpidos em pedra-sabão foram colocadas na murada em frente à igreja. FIGURA 36 – OBRA “OS DOZE PROFETAS” (DETALHE) CRIADA PELO ARTISTA ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA (ALEIJADINHO) EM 1805 FONTE: Tirapeli (2010a, p. 84) As doze esculturas estão no santuário de Bom Jesus de Matosinhos, na Cidade de Congonhas, também em Minas Gerais, reconhecido pela UNESCO, em 1985, como patrimônio cultural mundial. 101 FIGURA 37 – SANTUÁRIO DE BOM JESUS DE MATOSINHOS, CONGONHAS – MINAS GERAIS FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/46>. Acesso em: 31 ago. 2021. A pedra-sabão, originária da região, foi usada por Aleijadinho para substituir o mármore que era escasso e de alto valor. Suas obras, mesmo sendo feitascom pedra- sabão, não deixaram de carregar beleza e valor espetacular dando ao barroco e rococó brasileiros particularidades que marcaram não somente suas obras, mas influenciaram outros artistas. Sua obra “Os passos da paixão de Cristo”, esculpida em cedro, conta com sessenta e seis esculturas em tamanho natural que compõem as cenas da Via Sacra em seis capelas. As policromias, ou seja, as pinturas da representação são atribuídas a Mestre Ataíde e Francisco Xavier Carneiro (1765-1840). FIGURA 38 – OBRA “OS PASSOS DA PAIXÃO DE CRISTO” (PASSO DA CRUZ) CRIADA PELO ARTISTA ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA (ALEIJADINHO) ENTRE 1796-99 FONTE: <https://bit.ly/3CNIWE9>. Acesso em: 26 set. 2021. 102 Aleijadinho obteve pouca educação formal, mas segundo Toledo (1983, p. 210), “cresceu em ambiente de intensa produção artística, ao lado dos mais conceituados profissionais da época” entre eles o pai arquiteto e o tio entalhador. Com seu talento e vivendo nesse meio, tornou-se grande e reconhecido artista do período colonial, suas obras alinham-se ao barroco mineiro, mas também teve grande destaque com obras ao estilo rococó. As obras retratadas por Aleijadinho possuem uma estética particular. Suas figuras têm os rostos mais alongados, olhos amendoados, cabelos encaracolados e as vestes são extremamente angulosas, ou seja, possuem muitas dobras e detalhes representando volume. Vamos conhecer um pouco mais sobre o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos? O Conjunto representa uma das maiores obras de Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho, como também um valioso patrimônio mundial do estilo barroco. Santuário do Bom Jesus de Matozinhos – Congonhas (MG) Para os povos de língua Carib, como os Yekuana, os Tiriyó, os Waiwai, os Considerado uma das obras-primas do barroco mundial, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos foi inscrito no Livro do Tombo de Belas Artes, pelo Iphan, em 1939, e reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO, em dezembro de 1985. Situado em Minas Gerais, no município de Congonhas, o Santuário começou a ser construído na segunda metade do século XVIII. Desde 2015, o Museu de Congonhas funciona ao lado do Santuário e está aberto à visitação para potencializar a percepção e a interpretação das múltiplas dimensões desse patrimônio. O conjunto edificado consiste em uma igreja, com interior em estilo rococó, adro murado e escadaria externa monumental decorada com estátuas dos 12 profetas em pedra sabão, além de seis capelas dispostas lado a lado no aclive frontal ao templo, denominadas Passos, ilustrando a Via Crucis de Jesus Cristo. Sua inspiração é fortemente relacionada a exemplares portugueses como a Igreja de Bom Jesus do Monte (Braga) e ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios (Lamego), ambos em Portugal. As 66 esculturas de madeira policromada em tamanho natural, abrigadas nas seis capelas que reúnem os sete grupos de Passos da Paixão de Cristo, compõem um dos mais completos grupos escultóricos de imagens sacras no mundo, sendo, sem dúvida, uma das obras-primas de Francisco Antônio Lisboa, o Aleijadinho, que deixou para a Humanidade uma obra de grande expressão e originalidade. O Santuário apresenta-se em bom estado de conservação permitindo que sua materialidade exprima a importância e os valores a ele atribuídos, representando uma realização artística única e exemplo excepcional da arquitetura brasileira do 103 século XVIII. O conjunto edificado e escultórico conserva seus valores intrínsecos: a Igreja do Bom Jesus; o adro com as estátuas dos profetas em pedra sabão; os passos e capelas com suas sete estações ambos concluídos em 1805 e expressivo conjunto escultórico representativo da Paixão de Cristo. Apesar do processo de transformação ocorrido com o crescimento urbano da cidade de Congonhas, decorrente do intenso processo de mineração de ferro, o Santuário mantém-se intacto e se constitui, até os dias atuais, em ícone da arte sacra e religiosidade no Brasil. FONTE: Adaptada de <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/46>. Acesso em: 7 set. 2021. 3.2 MESTRE ATAÍDE E SUAS OBRAS Manoel da Costa Ataíde, ou Mestre Ataíde, trabalhou intensamente nas pinturas ilusionistas dos forros das igrejas, como o suntuoso forro da nave da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, mostrado na imagem a seguir, que “talvez seja a obra- prima não apenas sua, mas de toda a pintura colonial brasileira”, segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 590). Mestre Ataíde foi considerado um pintor influente na arte barroca e um ícone da pintura ilusionista dos forros das igrejas. FIGURA 39 – PINTURA DE MESTRE ATAÍDE – IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO EM OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: Tirapeli (2010a, p. 82) 104 Mestre Ataíde é um representante da pintura que evidencia a ampliação do espaço com a visão do céu. Suas obras mostram características de feições familiares, como a madona, e demonstram grande domínio de perspectiva e também uma estética peculiar. Um dos elementos característicos de seus trabalhos, na representação das figuras, são os traços mestiços. 4 O ROCOCÓ NO BRASIL O termo rococó tem origem na palavra francesa rocaille, que significa concha. Nasceu em Paris, França, no século XVIII em oposição à suntuosidade do barroco. De características mais suaves e delicadas, com temática leve, utiliza linhas curvas e cores claras como elementos principais. Assim como o barroco, chegou ao Brasil tardiamente, durante o período colonial, abrangendo principalmente a região de Minas Gerais, onde pode-se ver portadas em relevos esculpidos em pedra-sabão. Segundo Oliveira (2013, p. 19) “a impressão estética produzida pelas decorações do período rococó difere totalmente do período barroco”, enquanto o barroco apresenta o efeito dramático, o rococó aproveita a iluminação natural que atravessa as janelas das construções. A igreja São Francisco de Assis, considerada uma das representações mais importantes da época, conforme Tirapeli (2010a, p. 79), “trata-se da primeira obra de Aleijadinho, quando tinha 28 anos. O artista projetou a igreja e esculpiu, anos mais tarde, a entrada e depois o altar-mor em madeira. A fachada é curva e abarca duas torres recuadas do corpo da igreja ainda com linhas do barroco tardio”. O autor descreve ainda que a porta da edificação possui ornamentos esculpidos em pedra sabão, no estilo rococó. 105 FIGURA 40 – PRINCIPAIS ELEMENTOS DA FACHADA DA IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO, OURO PRETO – MINAS GERAIS FONTE: Tirapeli (2010a, p. 88) Além do conjunto de obras de Aleijadinho, a igreja recebeu uma das mais espetaculares pinturas ilusionistas de Mestre Ataíde em seu teto, como também painéis dispostos nas paredes, pintados em madeira pelo artista Manoel Gonçalves Neves (datas de nascimento e falecimento desconhecidas), imitando azulejo, muito usado à época, mas substituído pelo fato da dificuldade em transportar o material frágil. 106 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O período colonial abrange do século XVI ao início do século XIX, especificamente de 1500 a 1822, quando foi proclamada a independência do Brasil. Nesse período, o país estava sob o controle e poder de Portugal e a identidade brasileira sofreu muitas influências estrangeiras. • Os padres jesuítas, chamados para introduzir a cultura europeia e ensinamentos religiosos aos indivíduos que habitavam o Brasil, aportaram aqui em 1549. Fundaram a Vila de São Vicente, no litoral do estado de São Paulo, entre outras, além de construírem igrejas e conventos em cidades históricas, consideradas atualmente patrimônios culturais. • Os religiosos das ordens franciscana, beneditina, carmelita e, principalmente dos jesuítas, introduziram o ensino das técnicas, iniciando no Brasil o ensino das artes, sendo que, no período colonial a produção artística constituiu-se, em sua maioria, ligada à religião e à cultura europeia, principalmente portuguesa,com características dos estilos barroco e rococó. • Além das construções religiosas e outras construções civis que formaram as cidades, foram erguidas fortificações em alguns pontos estratégicos do litoral brasileiro, com o objetivo de proteger e defender o território de invasores que porventura tentassem ocupar e dominar o território controlado pelos portugueses. • Na arte do período colonial, destaca-se o estilo barroco que surgiu na Itália, no século XVI. Termo originário da palavra portuguesa que significa pérola imperfeita. Chegou ao Brasil trazido pelos europeus e destacou-se na arte religiosa, expressando- se principalmente na arquitetura, escultura e pintura. Suas características, como excesso de dramaticidade e detalhes rebuscados, podem variar de acordo com a região, principalmente na arquitetura, pois além das diversas ordens religiosas, os europeus traziam arquitetos e mestres de obras de diversas nacionalidades para realizar os trabalhos. • A arte colonial contou com obras de diversos artistas europeus e brasileiros. Entre os artistas brasileiros destaca-se Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde, também conhecido como Mestre Ataíde. • Outro estilo artístico também percebido neste período foi o rococó que tem seu termo originário da palavra francesa rocaille, que significa concha. Esse estilo nasceu em Paris, França, no século XVIII em oposição à suntuosidade do barroco. O rococó é um estilo que possui características mais suaves e delicadas que o barroco, com temática leve, utiliza linhas curvas e cores claras como elementos principais. 107 1 Do século XVI ao início do século XIX, especificamente de 1500 a 1822, quando foi proclamada a independência, o Brasil estava sob o controle e poder de Portugal e a identidade brasileira sofreu muitas influências estrangeiras. Sobre a denominação desse período, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Barroco. b) ( ) Rococó. c) ( ) Neoclássico. d) ( ) Colonial. 2 Além das construções religiosas e outras construções civis que formaram as cidades, do Brasil. A partir de 1549, principalmente no litoral, passaram a ser utilizados materiais mais duradouros, que faziam com que a estrutura também fosse mais forte, como realizado na Casa da Torre, de Garcia D’ávila, Considerando esses aspectos, responda como são denominadas as construções erguidas em pontos estratégicos do litoral brasileiro, descrevendo os dois tipos dessas edificações e com qual objetivo foram construídas. 3 O barroco, palavra portuguesa que significa pérola imperfeita, é um estilo que surgiu na Itália, no século XVI e chegou ao Brasil trazido pelos europeus. Descreva quais são as principais características do barroco, bem como em que linguagens artísticas esse estilo pode ser reconhecido e por que ocorrem variações? 4 A arte colonial contou com obras de diversos artistas europeus e brasileiros. Em Minas Gerais dois nomes brasileiros foram destaque por suas obras de valor inestimável. Quanto ao nome desses dois artistas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Antônio Fernando Lisboa, o Aleijadinho e Manoel da Costa Vidal, o Mestre Vitalino. b) ( ) Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde. c) ( ) Antônio Fernando Lisboa, o Mineirinho e Manoel da Costa Atabaque, o Mestre Atabaque. d) ( ) Antônio Francisco Portugal, o Aleijadinho e Manoel do Carmo Ataíde, o Mestre Ataíde. 5 O rococó, termo originário da palavra francesa rocaille, que significa concha, nasceu em Paris, França, no século XVIII. Analise as sentenças a seguir e identifique as principais características do estilo. AUTOATIVIDADE 108 I- O rococó é um estilo que possui características suaves e delicadas e surgiu em oposição ao barroco. II- O rococó é um estilo que possui temática leve, utiliza cores claras e linhas curvas. III- O rococó é um estilo que possui temática leve, mas predomina cores escuras. IV- O rococó é um estilo em que predomina a utilização de linhas retas, luminosidade em destaque para a figura e surgiu em oposição ao renascimento. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 109 TÓPICO 3 - FRUTOS DE UMA ÉPOCA REAL 1 INTRODUÇÃO Avançando pela trilha da história da arte brasileira, como observado na obra de Mestre Valentim, as temáticas começam a diversificar, dando “sinais evidentes de mudança de gosto. Características certamente influenciadas pelos modelos portugueses contemporâneos, que apontam para um interesse maior por obras laicas e pelo retorno ao classicismo”, como ressalta Pereira (2013, p. 67). O autor expõe como exemplo as obras em bronze do Passeio Público, no Rio de Janeiro, inaugurado no ano de 1793, nas quais Mestre Valentim explora a temática da mitologia greco-romana, nas representações de Apolo, Mercúrio, Diana e Júpiter. FIGURA 41 – OBRAS “NINFA ECO”, 1783 (ESQUERDA) E “CAÇADOR NARCISO”, 1785 (DIREITA), CRIADAS POR MESTRE VALENTIM FONTE: Tirapeli (2010b, p.12) Desde o período colonial, como vimos, diversos artistas vindos da Europa formavam expedições que registraram características da fauna, flora e dos costumes brasileiros. A Missão Artística Francesa, “coroou as expedições e as missões que passaram pelo Brasil e que tantos artistas viajantes trouxeram para registrar a vida, os hábitos e os costumes, a paisagem, a fauna e a flora exuberantes da tropicalidade que o engloba”, como afirmam Amália e Minerini (2019, p. 46). Isso pode ser visto nas obras dos artistas, que contam a história do Brasil em belíssimas imagens como a do indígena retratado por Debret, que pode ser vista na figura seguinte: UNIDADE 2 110 FIGURA 42 – OBRA “CHEF CAMACAN MONGOYO”, CRIADA PELO ARTISTA JEAN-BAPTISTE DEBRET EM 1834 FONTE: <https://bit.ly/2YfyxSX>. Acesso em: 30 ago. 2021. No contexto artístico e cultural em que o Brasil se encontrava, um dos objetivos do então imperador D. João VI, para a Missão Artística Francesa era impulsionar o ensino da arte, fundando uma academia de artes, sob a liderança de Joachim Lebreton (Nasceu em 1760 e faleceu em 1819) que, como traz Barbosa (2005, p. 16), foi “criada pelo Decreto- Lei datado de 1816”, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Conforme a autora, Lebreton teria sido incumbido de instalar, em 1793, o Museu do Louvre, em Paris, na França. Você sabe quem foi Joachim Lebreton? Joachim Lebreton, por sugestão de Alexander von Humboldt, foi líder do grupo chamado Missão Francesa. Havia sido secretário perpétuo do Instituto de França e diretor da Seção de Belas-Artes do Ministério do Interior daquele país, tendo-se ocupado de instalar no Museu do Louvre, em 1793, o acervo resultante da espoliação de Napoleão Bonaparte nos países conquistados. FONTE: BARBOSA, A. M. Arte-educação no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. INTERESSANTE 111 2 MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA Temendo a invasão do território português pelos franceses, a família real portuguesa transfere-se para o Brasil e as mudanças nas artes são intensificadas, principalmente após o fim das guerras napoleônicas, quando muitos artistas franceses, com dificuldades, buscaram auxílio com D. João VI, que acolhe o pedido. Nesse sentido, Amália e Minerini (2019, p. 46) sustentam que “a Missão Artística Francesa foi responsável por inaugurar a Academia de Belas Artes no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro e trazer a arte neoclássica para todo o país, estilo responsável por suplantar o barroco, que já atravessava mais de 200 anos como arte colonial e popular brasileira”. Contudo, o neoclássico, como aponta Barbosa (2005, p. 19), “que na França era arte da burguesia antiaristocratizante foi no Brasil arte da burguesia a serviço dos ideais da aristocracia, a serviço do sistema monárquico”, pois encontrou no Brasil um estilo muito particularque foi o barroco brasileiro. Segundo Barbosa (2005, p. 17), junto com Joachim Lebreton, chegaram também Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), Grandjean de Montigny (1776-1850), Auguste-Marie Taunay (1768-1824), entre outros. A autora cita que Debret e Montigny recusaram convites da Academia de Belas-Artes de São Petersburgo, na Rússia, para vir ao Brasil. Nessa direção, após dez anos e muitas mudanças ocorridas, em 1826 a academia inicia suas atividades. Das mudanças acerca da academia, inicialmente Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, em 1820 teve seu nome alterado para Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, um mês depois, passou a chamar-se Academia de Artes. Em 1826 foi feita uma alteração para denominar-se Academia Imperial de Belas-Artes e, finalmente, após a Proclamação da República, em 1889 passou a chamar-se Academia Nacional de Belas Artes (BARBOSA, 2005). É importante colocar, como também traz a autora, que as mudanças atingiram também os planos de ensino da instituição. Além da tarefa de constituir uma academia de artes, os artistas, encantados com a diversidade e as cores do Brasil, registraram imagens históricas do nosso país à época do império. Dentre esses artistas, Debret tem grande destaque, imprimindo em sua obra de valor inestimável, cenas absolutamente sinceras, como assegura Bandeira (2006, p. 14) que “Debret foi o único artista a se preocupar, em seu tempo, com a realização de um trabalho etnográfico”. Como pode-se observar no registro de suas pinturas, exemplificado na figura a seguir: 112 FIGURA 43 – OBRA “JANTAR BRASILEIRO”, CRIADA PELO ARTISTA JEAN-BAPTISTE DEBRET EM 1827 FONTE: <https://cutt.ly/mEKGkId> Acesso em: 30 ago. 2021. Considerado por muitos autores como Bandeira (2006, p. 3) “o principal artista da missão artística de 1816”, Debret organizou em um caderno de viagem, como cita o autor, “a terra exótica e um novo mundo de costumes e povos”, como pode-se contemplar em algumas páginas da publicação, compostas na figura seguinte: FIGURA 44 – COMPOSIÇÃO COM ALGUMAS OBRAS DO LIVRO VIAGEM PITORESCA AO BRASIL, DE JEAN- -BAPTISTE DEBRET, REALIZADAS NO SÉCULO XIX FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/VEKGxCB> Acesso em: 30 ago. 2021. Outro ponto importante na trajetória de Debret pelo Brasil foi o desenho da bandeira do Brasil no ano de 1822, que conforme Bandeira (2006, p. 13), escolheu “o verde e o amarelo por serem respectivamente as cores dinásticas de Bragança (D. Pedro I) e Habsburgo (D. Leopoldina), como pode ser visto na figura a seguir. 113 FIGURA 45 – OBRA “BANDEIRA BRASILEIRA” CRIADA PELO ARTISTA JEAN-BAPTISTE DEBRET EM 1822 FONTE: Bandeira (2006, p. 13) Essas obras de arte, que hoje podem ser vistas nos museus brasileiros, contam com a sinceridade de um artista, que chega ao Brasil fragilizado e, diante de tamanho impacto cultural, mergulha na descoberta do novo. Este texto de Bueno (2012) apresenta um pouco sobre Napoleão Bonaparte. Vamos conhecer? O rei do mundo Napoleão Bonaparte (1769-1821) foi um dos maiores generais da história. Assumiu o poder na França depois de liderar uma brilhante campanha militar no Egito. Seu regime autocrático foi bem aceito após o caos provocado pela Revolução Francesa. Em 1804, Napoleão proclamou-se imperador – e ele próprio se coroou. Entre 1805 e 1810, conquistou praticamente toda a Europa: só não venceu a Inglaterra, a qual bloqueou por mar. Em 1807, enviou a Portugal um ultimato, forçando-o a declarar guerra aos britânicos. Ainda que por vias indiretas, o Brasil iria lucrar duplamente com Napoleão: além da vinda da família real, deve a ele o envio da missão artística francesa, em 1816. FONTE: BUENO, E. Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya, 2012. E-book. INTERESSANTE 114 2.1 VISÃO DOS ARTISTAS VIAJANTES A tradição das expedições e missões de cientistas e naturalistas, entre as quais, segundo Amália e Minerini (2019, p. 43), “destacam-se a Expedição do príncipe Maximilian von Wied-Neuwied, a Missão Austríaca e a Expedição do barão de Langsdorff ”, com trabalhos científi cos. Entre os anos 1815 e 1817 a expedição do príncipe Maximilian von Wied-Neuwied viajou pelo Brasil e sob a infl uência do naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt “estudaram a fl ora, a fauna e as populações indígenas”, segundo Amália e Minerini (2019, p. 43), produzindo um rico e importante estudo sobre as observações realizadas. A Missão Austríaca foi uma das mais longas expedições, reconhecida pelo importante trabalho de Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. Conforme Amália e Minerini (2019, p. 44), o zoólogo Spix e o botânico Martius “identifi caram em torno de 6,5 mil variantes na fl ora, 85 mamíferos, 350 aves, 130 anfíbios, 146 peixes e 2,7 mil insetos”. Muitas dessas espécies, ilustradas pelo talentoso artista Thomas Ender (1793-1875), em uma viagem de mais de dez mil quilômetros pelo Brasil. Alexander von Humboldt foi físico, geógrafo, geólogo, mineralogista, botânico, etnógrafo e antropólogo que lançou as bases que estruturam várias ciências, como a oceanografi a, a geografi a, a geologia e a climatologia. Entre tantas viagens que fez pelo mundo, uma delas passou pela América do Sul e Central. Ele foi uma das mais importantes referências para expedições científi cas que vieram explorar e conhecer o Brasil. FONTE: AMÁLIA, A.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Senac São Paulo, 2019. E-book. NOTA 115 FIGURA 46 – OBRA “FÁBRICA DE PÓLVORA” CRIADA PELO ARTISTA THOMAS ENDER, EM 1817-18 FONTE: Mendes Silva (2015, posição 1119) Georg Heinrich von Langsdorff veio inicialmente ao Brasil em 1804, na ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis. Anos mais tarde, naturalizado russo, foi nomeado pelo czar Alexandre I, cônsul-geral na cidade do Rio de Janeiro, instalando-se nessa cidade em 1813. Em 1816 planeja uma viagem científica pelo interior do Brasil, que se concretiza a partir de 1824, contando como integrante o artista Johann Moritz Rugendas (1802-1858) para registrar as imagens brasileiras, a exemplo da figura seguinte: FIGURA 47 – OBRA “SAGUI DE CARA BRANCA”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS EM 1823 FONTE: <https://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Langsdorff.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2021. Na expedição de Lansdorff estavam também “o zoólogo Jean Moris Eduard Ménétriès, o naturalista Georg Freyreiss, o botânico Ludwig Riedel e o astrônomo Rubtsov” (AMÁLIA; MINERINI, 2019, p. 43). Os autores comunicam que Rugendas se desentende com Langsdorff e abandona a expedição, substituído em seguida por Aimé- Adrien Taunay (1803-1828) e Hercule Florence (1804-1879). Na figura seguinte pode-se observar o talento de Florence. 116 FIGURA 48 – OBRA “ARATICUM”, CRIADA PELO ARTISTA HERCULE FLORENCE EM 1827 FONTE: <https://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Langsdorff.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2021. Rubtsov demonstra a importância do registro por meio da arte na elaboração do mapa da cidade de Diamantino, no estado do Mato Grosso, como vemos na figura seguinte: FIGURA 49 – PLANTA DA CIDADE DE DIAMANTINO, ELABORADA POR RUBTSOV EM 1828 FONTE: <https://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Langsdorff.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2021. No decorrer da viagem houve uma série de percalços, mas com belíssimos registros, como podemos admirar na imagem a seguir, a beleza da aquarela de Taunay. 117 FIGURA 50 – OBRA “HOMEM E MULHER BORORÓ”, CRIADA PELO ARTISTA AIMÉ-ADRIEN TAUNAY, EM 1827 FONTE: <https://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Langsdorff.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2021. O artista Aimê-Adrien Taunay, filho de Nicolas Antoine Taunay, ao tentar cruzar o rio Guaporé, teve trágica morte por afogamento em janeiro de 1828, com aproximadamente 25 anos. A expedição foi para o Amazonas, onde o barão de Langsdorff contraiu uma grave febre que o deixou sem consciência de si. Rugendas, que havia procuradoDebret, continuou seus mais de quatrocentos registros sobre o Brasil, como no exemplo espetacular, da figura a seguir: FIGURA 51 – OBRA “CAPOEIRA”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS, EM 1835 FONTE: <:http://bit.ly/2Vn5Xhi>. Acesso em: 31 ago. 2021. 118 Após o desentendimento com o barão de Langsdorff, Johan Moritz Rugendas segue em sua viagem pitoresca pelo Brasil, construindo uma obra que conta com centenas de ilustrações no qual traz descrições de detalhes do cotidiano do período colonial. FIGURA 52 – OBRA “COSTUMES DE SÃO PAULO”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS, EM 1835 FONTE: <http://bit.ly/2Vn5Xhi>. Acesso em: 31 ago. 2021. Há diversos documentos disponíveis para aprofundar nossos conhecimentos sobre as expedições dos viajantes ao Brasil, como nas páginas sugeridas desta Unidica: A expedição de Langsdorff, com as extraordinárias pinturas dos artistas, está registrada em uma publicação virtual e bilíngue. Acesse em: https://www. bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Langsdorff.pdf. Para conhecer algumas rotas e escritos feitos pelos aventureiros viajantes, acesse em: https://viajantes.bbm.usp.br/. Para conhecer algumas obras de Debret e outros artistas, acesse em: http:// museuscastromaya.com.br/brasiliana/. DICA 119 3 INFLUÊNCIAS NEOCLÁSSICAS EUROPEIAS A missão artística francesa trouxe para o Brasil o estilo neoclássico, que segundo Reis (2010, p. 93) “retomou a cultura clássica”, porém com a intenção de adaptar os valores ao seu tempo. Segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 494) “a tradição da pintura colonial sairia profundamente abalada pela estética neoclássica importada da Europa, especialmente da França”, porém, o estilo neoclássico foi contestado por alguns artistas e, principalmente na arquitetura, foi marcado pelo ecletismo. Como explica Tirapeli (2010b, p. 31), “o fim do período imperial foi marcado pelo início do ecletismo, que, no Brasil, reúne elementos dotados das linhas curvas do barroco, paredes lisas e ornamentos com o pouco dourado do rococó e colunas e arcos romanos típicos do estilo neoclássico”. Podemos ver exemplos do estilo neoclássico e eclético nas imagens a seguir. FIGURA 53 – TEATRO DA PAZ EM BELÉM – PARÁ, CONSTRUÇÃO NEOCLÁSSICA DO SÉCULO XIX. FONTE: Acervo das autoras Debret tinha quase cinquenta anos quando aceitou o convite de Joachim Lebreton para se juntar à colônia de bonapartistas que imigrou para o Rio de Janeiro em 1816. Com Napoleão, seu patrono, exilado na ilha de Santa Helena, Debret ainda foi abandonado pela mulher e perdeu seu único filho, Honoré, um jovem artista de 19 anos. O pintor de história tem a visão aguçada pela aflição da dor. FONTE: BANDEIRA, J. Caderno de viagem: Jean-Baptiste Debret. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. INTERESSANTE 120 FIGURA 54 – ESTAÇÃO DA LUZ EM SÃO PAULO, CONSTRUÇÃO ECLÉTICA DO SÉCULO XIX FONTE: Tirapeli (2010b, p. 31) O ecletismo também se fez presente nas esculturas de bustos, fi guras mitológicas, entre outros temas relacionados à Antiguidade greco-romana, como ressalta Tirapeli (2010b, p. 29): Os animais brasileiros também estavam presentes, como jacarés e serpentes que representavam os rios distantes e incivilizados; as onças, a força e a beleza dos animais; tatus, antas, capivaras, além de aves como araras que desde o início de nosso processo civilizatório apareciam nos mapas cartográfi cos holandeses e portugueses. A mudança temática na escultura também ganha campo na produção de bustos da realeza e aristocracia, como evidencia Tirapeli (2010b). Grandes monumentos em bronze são instalados nas regiões urbanas, com temas voltados às riquezas naturais e étnicas do Brasil. De acordo com Tirapeli (2010b, p. 27), “a fi gura do índio foi então idealizada, representando o nascimento da nação e os guardiões de riquezas naturais, como os rios e as fl orestas”, como mostra a obra do francês Louis Rochet (1813 -1878) na fi gura seguinte. Para conhecer detalhes arquitetônicos do Theatro da Paz, localizado na cidade de Belém, Pará, construído no século XIX, durante o ciclo da borracha, acesse em: https://theatrodapaz.com.br/. INTERESSANTE 121 FIGURA 55 – OBRA “MONUMENTO A D. PEDRO I”, CRIADA PELO ARTISTA LOUIS ROCHET EM 1857 FONTE: Tirapeli (2010b, p. 35) O que estivesse em evidência na Europa, acabava chegando ao Brasil, mesmo que um pouco tardiamente. Segundo Mendes Silva (2015, posição 520): A arte brasileira até o início século XIX está obviamente muito relacionada com sua herança lusitana e seus laços com a matriz da metrópole. Entre os séculos XVI e XVIII em Portugal não tinham ocorrido as mudanças culturais profundas que a burguesia promovera em países como a Holanda, a Inglaterra, a França, a Alemanha, por exemplo. Todas as grandes iniciativas de natureza econômica tinham o dedo do Estado ou da Igreja, os dois polos do poder que ombreavam – e engessavam – a produção artística e a sociedade como um todo. No entanto, alguns talentosos artistas destacaram-se durante o período de formação na Academia Nacional de Belas Artes e partiram para a Europa, indo estudar nas cidades de Roma, Paris, Florença, trazendo suas técnicas mais aprimoradas e voltando-se para a valorização da cultura, dos temas e da história brasileira. Na pintura os temas históricos eram valorizados e representavam o virtuosismo dos artistas em verdadeiras narrativas, que muitas vezes partiam das pesquisas dos próprios pintores, como é possível verificar nas obras de Victor Meirelles (1832-1903) e Pedro Américo (1843-1905), entre outros, os quais concebiam seus trabalhos repletos de luminosidade e dinamismo, levando o observador ao próprio momento descrito por habilidosas mãos. 122 3.1 TALENTOS BRASILEIROS DA ARTE ACADÊMICA A arte acadêmica no Brasil teve grande destaque na pintura. Entre os pintores considerados hoje grandes artistas, que guiaram suas pinceladas com incomum maestria e perfeição, estão Victor Meirelles, Pedro Américo, Almeida Júnior (1850-1899), Eliseu Visconti (1866-1944), entre outros. O catarinense Victor Meirelles de Lima, nascido em Desterro, atual Florianópolis (SC), destacou-se desde cedo no talento para a arte. Segundo Battistoni Filho (2020, posição 738), em 1947 foi Rio de Janeiro, matriculado na Academia de Belas-Artes, onde demonstrou “grande aptidão para as artes, obteve em 1853 o Prêmio de Viagem, quando se estabeleceu em Roma”. Suas obras revelaram um expoente na pintura histórica, como o quadro “Primeira missa no Brasil”, realizado a partir da descrição de Pero Vaz de Caminha em sua carta ao rei de Portugal. A pintura, exposta em 1861 no salão de Paris, apresenta um conjunto excepcional de elementos estéticos, como mostrado na figura seguinte: FIGURA 56 – OBRA “A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR MEIRELLES, EM 1860 FONTE: Tirapeli (2010b, p. 23) Nessa pintura é possível perceber uma cerimônia a céu aberto, centralizando a composição em torno do altar em que portugueses e indígenas se encontram. A natureza também revela destaque em todo o seu entorno. Outra obra do artista que causa grande impacto, tanto pelo tamanho como pelas linhas e cores da composição é a pintura intitulada “Moema”, que representa a pintura indianista, inspirada no poema épico Caramuru, escrito em 1781 pelo frei José de Santa Rita Durão (1722-1784). Segundo Faria Couto (2015, posição 1078): 123 Mais do que uma manifestação estética, portanto, o indianismo no Brasil esteve fortemente vinculado a uma política cultural nacionalista, intencionalmente implementada pelo governo e pessoalmente avalizada pelo próprio imperador. Além dos povos nativos, esse projeto cultural procurava destacar também a exuberante natureza do país, bem como construir uma memória histórica repleta de mitos e heróis. Os temas indianistas foram apresentados inicialmente na literatura, por diversos autores, como José de Alencar (1829-1877), na obra “O Guarani”, de 1857, na qual Carlos Gomes (1836-1896)inspirou-se para compor a ópera homônima, que foi apresentada pela primeira vez no teatro Scala de Milão, na Itália, em 1870 (COUTO, 2015). Segundo Tirapeli (2010b), o indianismo romântico aparece na pintura para retratar cenas narradas pela literatura, apresentando os indígenas como heróis ou derrotados pela ação dos colonizadores. FIGURA 57 – OBRA “MOEMA”, CRIADA POR VICTOR MEIRELLES, EM 1866 FONTE: <https://masp.org.br/acervo/obra/moema>. Acesso em: 31 ago. 2021. Pedro Américo de Figueiredo e Mello, nascido na Paraíba, também se destacou como pintor, representando diversas cenas históricas, como pode ser visto na tela intitulada “Independência ou morte”, no qual retrata a independência do Brasil, como afirma Tirapeli (2010b, p. 49) “[...] faz parte do imaginário dos brasileiros...”. O autor traz a informação de que a pintura foi realizada na cidade de Florença, na Itália e exposta em 1888. Pedro Américo produziu um livro sobre o processo de realização da obra que traz à cena os elementos históricos dinâmicos e a natureza sob o céu da liberdade brasileira. 124 FIGURA 58 – OBRA “INDEPENDÊNCIA OU MORTE”, CRIADA PELO ARTISTA PEDRO AMÉRICO, EM 1886-88 FONTE: <http://bit.ly/3yZ3LKu>. Acesso em: 29 ago. 2021. Também foi um artista que defendeu a abolição da escravatura, fazendo, inclusive, um quadro sobre esse tema intitulado “A libertação dos escravos”. Sua pintura abrange temas históricos e bíblicos. José Ferraz de Almeida Júnior, nascido em Itu, São Paulo, após estudar na Europa, decide representar em suas obras as pessoas simples do interior. Entre as pinturas destaca-se a obra “Amolação interrompida”, de 1894 no qual Tirapeli (2010b, p. 24) destaca que o artista, “além de pintar as expedições – entradas e bandeiras – dos bandeirantes, valorizou a cultura local, retratando o caipira em atividades cotidianas”, como também é percebido na obra realista “Caipira picando fumo”. FIGURA 59 – OBRA “CAIPIRA PICANDO FUMO”, CRIADA PELO ARTISTA ALMEIDA JÚNIOR EM 1893 FONTE: <http://bit.ly/3yW1jV5>. Acesso em: 29 ago. 2021. 125 A obra “Caipira picando fumo” é um exemplo de arte com domínio de técnicas tradicionais, seguindo as regras acadêmicas de composição. Entre as características do estilo, destaca-se que a figura está centralizada no espaço da tela, sendo que a linha da base da casa propõe equilíbrio. Já o emprego da luz e sombra dão volume para garantir a profundidade. Entre os temas criados pelo artista Almeida Júnior, destacam-se as pinturas históricas, religiosas e de gênero, retratos e paisagens. Sua produção é considerada valiosa no ponto de vista estético, histórico e social, pois aparece como autêntico precursor de uma arte regional. Ele retratou, em vários momentos, pessoas do campo com suas roupas sujas de terra, pele enrugada, casas simples e demais detalhes que podem ser identificados em suas obras. As cores utilizadas, entre tons terrosos e quentes, também dão destaque a essa referência realista. Outros artistas como Rodolfo Amoedo (1857-1941), Belmiro de Almeida (1858- 1935) e Henrique Bernardelli (1857-1936) não se vinculam a um único estilo, assim como Eliseu Visconti, nascido italiano, veio para o Brasil muito cedo, mas voltou à Europa para concluir seus estudos em Paris. Sua obra mostrada na figura a seguir possui influência impressionista. FIGURA 60 – OBRA “MOÇA NO TRIGAL”, CRIADA PELO ARTISTA ELISEU VISCONTI EM 1913 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1175/moca-no-trigal>. Acesso em: 29 ago. 2021. É importante citar o que diz Pereira (2013, p. 82) sobre a produção artística acadêmica do século XIX, que “partiu de uma postura inicial neoclássica, mas posteriormente, incorporou ideias e valores de movimentos que lhe foram posteriores – tais como, o romantismo, o realismo, o impressionismo e o simbolismo”. Portanto, os artistas muitas vezes seguiam correntes diversas, pois elas aconteciam e acontecem ao mesmo tempo. 126 Essas e outras obras estão em acervos de diversos museus e podem ser visualizadas em: http://pinacoteca.org.br/. https://masp.org.br/. https://www.institutoricardobrennand.org.br/. INTERESSANTE 127 RUGENDAS, UM CRONISTA VIAJANTE Angela Ancora da Luz Johann Moritz Rugendas (Augsburg, Alemanha 1802 – Weilheim, Alemanha 1858) chegou ao Brasil em 1821, como desenhista da Expedição chefiada pelo barão e médico Georg Heinrich Von Langsdorff, que organizara uma expedição com a missão de retratar os tipos da terra e seus costumes. Langsdorff, apesar de médico, era um naturalista movido por grande motivação científica e interesse na pesquisa. No século XIX, tais expedições eram geralmente organizadas por estrangeiros, sendo que a investigação científica em nossas terras aconteceria, efetivamente, a partir de 1808 com a vinda de D. João VI e da corte portuguesa para o Brasil. As instituições culturais que aqui foram criadas pelo governo português, como o Jardim Botânico, a Biblioteca Nacional e a Academia Imperial das Belas Artes foram responsáveis pelo impulso ao desenvolvimento artístico e científico no Brasil. A Expedição Langsdorff, a Terra “Brazillis”, sob o comando do barão, foi uma aventura grandiosa. O barão se tornaria diplomata e cônsul geral da Rússia no Brasil, o que explica, em parte, a sua motivação para levar à frente, entre os anos de 1822 e 1828 o projeto de documentação de nossa terra pelas mãos de pesquisadores experientes e artistas, numa viagem de quase 17 mil quilômetros pelo interior do país. Além do registro e estudo da flora e da fauna do Brasil havia o interesse etnográfico bem como a pesquisa de idiomas indígenas. O grupo totalizava trinta e nove pessoas entre artistas, astrônomos, botânicos e naturalistas. Entre os artistas estavam Johann Moritz Rugendas, Hercule Florence e Aimé-Adrien Taunay que teriam como objetivo maior, retratarem a flora e a fauna do país, representando os nativos brasileiros com seus costumes e hábitos. O início da viagem exploratória só aconteceria em oito de maio de 1824, pois o governo russo não havia reconhecido a independência do Brasil e a dificuldade para que Langsdorff obtivesse permissões e benefícios alfandegários postergaram a partida da expedição. Nesses dois primeiros anos Rugendas e os demais membros da expedição ficariam hospedados na Fazenda da Mandioca. Rugendas viria ao Rio de Janeiro diversas vezes, entrando em contato com os artistas da Missão Artística Francesa, núcleo inicial da Academia Imperial das Belas Artes. Essas viagens descontentavam Langsdorff e foram criando um clima de antagonismo entre Rugendas e o barão. LEITURA COMPLEMENTAR 128 Assim, um ano após partir junto com a expedição, em 1825, Rugendas se desentende com Langsdorff e parte sozinho para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo retornando ao Rio de Janeiro, mas mantendo-se fiel ao seu objetivo, registrando tipos, costumes, paisagens, fauna e flora da terra tropical, fazendo com que a natureza se submetesse ao seu olhar e se acomodasse ao registro minucioso de sua poética. Seus desenhos seriam as matrizes para sua pintura e gravura, esta, na maior parte das vezes, realizada por litógrafos que buscavam seguir o traço original do artista. Todo o material produzido na expedição foi, em sua maioria, enviado para a Rússia, isso porque a viagem teve o czar Alexandre I da Rússia como o mecenas, que custearia a grande aventura artística e científica. O acervo criado foi arquivado por quase um século na Rússia, sendo que, uma parte dele se perdeu, após a grande enchente de Stalingrado, mas os desenhos e aquarelas de Rugendas foram enviados para a França. Em 1825 Rugendas retorna à Europa vivendo entre Paris, Augsburg e Munique. É nesse período que ele vai se dedicar a publicação da obra Voyage Pittoresque dans le Brésil. O livro é composto pela documentação iconográfica realizada por Rugendas nessa sua primeira viagem ao Brasil. A partir de seus desenhos foram realizadas as litografias que compõem o livro, o que envolveu22 litógrafos para a sua realização com a elaboração de textos por Victor Aimé Huber. Rugendas divide o livro em cadernos: paisagens, tipos e costumes, usos e costumes dos índios, a vida dos europeus, europeus na Bahia e em Pernambuco e usos e costumes dos negros. A litografia é uma técnica de impressão que parte de uma imagem criada, um desenho realizado por um determinado autor e o reproduz com todas as suas peculiaridades sobre uma pedra calcária, litográfica. A partir do procedimento de copiar o desenho autoral para a superfície da pedra com um lápis próprio, graxo, e os desdobramentos da técnica com a emulsão de vários ácidos e goma arábica para cobrir o desenho realizado e depois entintá-lo, a obra pode ser reproduzida numa prensa, restituindo a imagem do desenho original. Foi um procedimento muito utilizado no século XIX. Assim, a obra como criação pertence ao autor, no caso Rugendas, sendo que os litógrafos, pelo exímio exercício da reprodução, aparecem referenciados com seus nomes abaixo do título e assinatura do artista. Muitas dessas litografias eram depois aquareladas. É importante que se destaque que Rugendas também dominava a técnica da litografia, mas em sua maioria esse trabalho de reprodução ficava sob a responsabilidade das grandes oficinas e seus mestres. Rugendas teve uma formação acadêmica na Alemanha, tendo cursado a Academia de Belas Artes de Munique, vindo a especializar-se em desenho. No Rio de Janeiro ele conviveu com os artistas da Missão Francesa, todos de formação acadêmica inseridos no contexto de uma visão neoclássica, estilo predominante no Império Napoleônico de onde eles vieram. Por outro lado, Rugendas já experimentava os primeiros aromas do romantismo, isso porque a Alemanha foi um dos berços do romantismo. 129 “A satisfação do romântico está na insatisfação”, conforme Gerd Bornheim ensinava. Esta insatisfação o leva a um escapismo em que ele vai procurar outras paragens, lugares incomuns, a natureza, o homem não contaminados pela sociedade e até a morte. Ele não se deixa aprisionar. Ele valoriza as emoções, a liberdade de criação, a imaginação, o amor platônico enfim, constrói a sua realidade não na cópia do que vê, mas na fábula visual que compõe a partir do que vê. É nessa tensão entre o domínio acadêmico e a imaginação romântica que observamos a obra de Rugendas. Quando o artista deixou a Europa em direção ao Brasil, ele veio ao encontro da paisagem incomum, da terra distante, impossível de ser visualizada fora da experiência. Era a visão de um novo mundo e mais surpreendente ainda, de uma luz tropical. A luminosidade em nossas terras era de lenta acomodação aos olhos de um alemão. Observamos em sua obra que os lugares vistos de fora, com o olhar daquele que chega ao novo ambiente, são claros, sutis, leves e ricos em pequenos detalhes. Seu processo de criação a partir do desenho pode ser comprovado nas obras em que o lápis encosta com delicadeza na superfície do papel e deixa esses registros sem que as massas e os volumes encontrem o seu peso. Já nas figuras humanas, nas cenas de costumes e de paisagens podemos sentir uma definição maior do desenho que foi reproduzido pelo litógrafo. Nessas obras observamos a tensão entre a construção acadêmica e a criação romântica. O artista capta as imagens observadas não como cópia da realidade, mas como interpretação daquilo que vê. Se o modelo se enquadra dentro da norma e da regra proveniente de seu aprendizado acadêmico, a imaginação romântica o liberta por meio da representação das imagens, nas indumentárias, na composição mais diagonalizada e, até mesmo na busca de uma expressão que não chega a aflorar totalmente aos rostos. Na obra Voyage Pittoresque dans le Brésil, o próprio título já sinaliza a procura de uma interpretação mais subjetiva. O pitoresco é incomum, inusitado, interessante, se manifestando a partir de impressões subjetivas. As representações não são aleatórias, pois elas partem de estudos realizados pelo artista. Nos registros da flora e da fauna existe uma proximidade maior com a realidade, uma vez que Rugendas recebeu a orientação de naturalistas, enquanto os tipos e os costumes são representações em que o artista se permite compor tipos sociais distantes dos europeus. Em 1828 Rugendas esteve na Itália e procurou se aperfeiçoar na pintura, mas é no México, na viagem que realiza em 1831, que ele efetivamente começa a pintar a óleo. A percepção entre o que vê, como vê e como imagina também está presente em sua pintura. Muitas vezes as figuras representadas são imagens idealizadas. Rugendas permanece fiel a uma representação mais canônica sem negligenciar às características definidoras de seus tipos humanos, mas suavizando os traços, de modo a que negros e índios se aproximem ao modelo idealizado, apesar de retratados conforme sua identidade racial. 130 O apoio do naturalista Alexander Von Humboldt foi fundamental para que Rugendas voltasse a planejar uma nova viagem ao continente americano. México, Chile, Peru, Uruguai, Argentina e Brasil são os países de seu novo roteiro de viagem. Ele almeja tornar-se “o ilustrador dos novos territórios do mundo”. Enquanto não inicia esta viagem ele pinta telas de temas brasileiros a partir dos desenhos que havia feito. Nessas obras nota-se uma impregnação mais romântica, pelas paisagens idílicas, por uma natureza em que a imagem retida nas experiências passadas se reveste de cargas idílicas e de lugares paradisíacos. Rugendas estaria de volta ao Rio de Janeiro nos anos de 1845 e 1846. Nesse segundo momento ele encontra um Brasil já bem diferente. A Academia Imperial das Belas Artes gozava do apoio de D.Pedro II e já estava instalada em prédio próprio, na Travessa das Belas Artes, no centro do Rio de Janeiro, obra neoclássica de Grandjean de Montigny. Com a mediação de Félix-Émile Taunay ele consegue entrar no círculo da corte imperial e executa três pequenos retratos a óleo da família imperial. É possível que tenha realizado, também, um retrato de grande porte de D. Pedro II, que possivelmente se perdeu mais tarde, em trânsito para a Europa. Durante sua estadia no Rio de Janeiro hospedou-se no Hotel Pharoux, participando das Exposições Gerais de Belas Artes nos anos de 1845 e 1846, quando, finalmente, retornaria à Europa. Antes de viajar D. Pedro II o condecorou com a Ordem do Cruzeiro do Sul (Decreto de 26 de maio de 1846) e lhe deu uma carta de apresentação para a Princesa de Joinville, sua irmã, que residia em Paris. De volta à Europa entrega mais de três mil desenhos para Maximiliano II da Baviera em troca de uma pensão vitalícia. No contrato firmado havia o compromisso de também realizar pinturas, o que não foi totalmente cumprido, acarretando a perda de sua pensão. A obra de Rugendas é a mais significativa documentação iconográfica do Novo Mundo no século XIX, sendo uma das principais fontes de pesquisa para o conhecimento dos costumes, dos povos e raças, da flora e da fauna da América e, em particular, do Brasil. Em sua última carta para Humboldt, com quem manteve os laços de amizade e admiração até o final de sua vida ele escreveu: “Eu me propus e me esmerei em ser o ilustrador dos novos territórios do mundo descoberto por Colombo”. Há certa amargura nesse desabafo, que não encontraria espaço hoje, se ele pudesse constatar até onde conseguiu chegar em suas viagens. Nas obras expostas buscamos experimentar o olhar de Rugendas para permitir que pelo nosso próprio olhar pudéssemos (re) descobrir a arte desse cronista viajante e sua significação para a arte no Brasil. 131 Costumes da Bahia (1835) FONTE: Adaptada de <http://www.caixacultural.com.br/cadastrodownloads1/Rugendas%20-%20O%20 Cronista%20Viajante.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2021. 132 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • No contexto artístico e cultural em que o Brasil se encontrava no século XIX, D. João VI trouxe a Missão Artística Francesa com oobjetivo de impulsionar o ensino da arte, fundando uma academia de artes sob a liderança de Joachim Lebreton. Além da tarefa de constituir a academia, os artistas, encantados com a diversidade e as cores do Brasil, registraram imagens históricas do nosso país. • A missão artística francesa trouxe para o Brasil, junto com os artistas, o estilo neoclássico, que logo foi contestado por artistas românticos resultando em transformações na arquitetura, passando a ser desenvolvida com um estilo eclético que, além da combinação de diversos estilos, buscava a valorização da cultura, dos temas e da história brasileira. • Além da Missão Francesa, ocorreu a expedição do príncipe Maximilian, entre os anos 1815 e 1817, conhecida como Missão Austríaca. Foi uma das mais longas, além de ser reconhecida pelo importante trabalho de Spix e Martius, que viajaram pelo Brasil sob a influência do naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt. Além de estudar a flora e a fauna, pesquisaram as etnias indígenas, produzindo um rico e importante estudo sobre as observações realizadas. • A expedição de Langsdorff iniciou em 1824, tendo como integrante o artista Johann Moritz Rugendas para registrar as imagens brasileiras. O grupo também contava com o zoólogo Ménétriès, o naturalista Freyreiss, o botânico Riedel e o astrônomo Rubtsov. Em certo momento da viagem Rugendas desentendeu-se com Langsdorff e abandonou a expedição, substituído em por Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence. • No século XIX muitos artistas destacaram-se na arte acadêmica, como Victor Meirelles, Pedro Américo e Almeida Júnior. Os pintores Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida e Henrique Bernardelli não se vincularam a um único estilo, assumindo correntes como o romantismo, o realismo, o impressionismo e o simbolismo. 133 1 Em 1816, chegava ao Brasil a Missão Artística Francesa, sob a liderança de Joachim Lebreton, com diversos artistas, encantados com a diversidade e as cores do nosso país e que registraram belíssimas imagens históricas. Sobre qual era o objetivo planejado por D. João VI para a missão, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Fundar a Academia de Artes que passa a chamar-se mais tarde de Academia Imperial de Belas Artes. b) ( ) Fundar a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios que passa a chamar-se mais tarde de Academia Nacional de Belas Artes. c) ( ) Fundar a Academia Nacional de Belas Artes que passa a chamar-se mais tarde de Academia de Artes. d) ( ) Fundar a Academia Nacional de Belas Artes que passa a chamar-se mais tarde de Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. 2 A missão artística francesa trouxe, junto com os artistas, o estilo neoclássico para o Brasil. Descreva como foi recebido esse novo estilo entre os artistas e interessados nas realizações artísticas? 3 Entre os anos de 1815 e 1817, ocorreu a Missão Austríaca. Foi uma das mais longas, além de ser reconhecida pelo importante trabalho de cientistas e naturalistas. Cite os participantes mais importantes da expedição que trabalharam sob a influência do naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt e descreva o que estudaram no Brasil e qual o produto desse estudo? 4 A partir de 1824, Langsdorff concretiza sua expedição, contando como integrante o artista Johann Moritz Rugendas para registrar as imagens brasileiras, juntamente com o zoólogo Ménétriès, o naturalista Freyreiss, o botânico Riedel e o astrônomo Rubtsov. Rugendas desentende-se com Langsdorff e abandona a expedição. A partir disso, sobre quais artistas passam a substituir Rugendas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Thomas Ender e Albert Eckhout. b) ( ) Albert Eckhout e Jean-Baptiste Debret. c) ( ) Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence. d) ( ) Aimé-Adrien Taunay e Thomas Ender. 5 No século XIX, D. João VI trouxe para o Brasil a Missão Artística Francesa, com o objetivo de impulsionar o ensino da arte e o contexto artístico e cultural, fundando uma academia de artes. Sobre o nome dos pintores históricos que se formaram pela Academia Nacional de Belas Artes, assinale a alternativa CORRETA: AUTOATIVIDADE 134 a) ( ) Pedro Américo e Almeida Júnior. b) ( ) Victor Meirelles e Almeida Júnior. c) ( ) Eliseu Visconti e Henrique Bernardelli. d) ( ) Victor Meirelles e Pedro Américo. 135 REFERÊNCIAS AMÁLIA, A.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Senac São Paulo, 2019. E-book. BANDEIRA, J. Caderno de viagem: Jean-Baptiste Debret. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. BARBOSA, A. M. Arte-educação no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. BATTISTONI FILHO, D. Pequena história das artes no Brasil. 3. ed. Campinas, SP: Editora Átomo, 2020. E-book. BUENO, E. Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya, 2012. E-book. BUSTAMANTE A. M. G. GONZALEZ, S. R. Patrimônio cultural e geologia do quadrilátero ferrífero. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 62, n. 2, p. 113-121, jul./dez. 2017. FARIA COUTO, A. L. A pintura indianista. In: MENDES SILVA, R. O século XIX: do neoclassicismo ao modernismo. Rumo Certo, 2015. E-book. GOMBRICH, E. H. A história da arte. Trad. Álvaro Cabral. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. MENDES SILVA, R. O século XIX: do neoclassicismo ao modernismo. Rumo Certo, 2015. E-book. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Fortificações Brasileiras. Brasília, DF, c2021. Disponível em: http://portal.iphan. gov.br/pagina/detalhes/1609. Acesso em: 26 set. 2021. OLIVEIRA, M. A. R.; PEREIRA, S. G.; LUZ, A. A História da Arte no Brasil: textos de síntese. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2013. PEREIRA, S. G. Arte no Brasil no século XIX e início do século XX. In: A História da Arte no Brasil: textos de síntese. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2013. POZENATO, K.; GAUER, M. Introdução à história da arte. 4. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2001. REIS, E. V. Manual compacto de arte. 1. ed. São Paulo: Rideel, 2010. 136 TEIXEIRA LEITE, J. R.; MENDES SILVA, R. Da pré-história ao fim do período colonial. Rumo Certo, 2015. E-book. TIRAPELI, P. Arte colonial: barroco e rococó. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010a. TIRAPELI, P. Arte imperial: do neoclássico ao ecletismo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010b. TOLEDO, B. L.; ZANINI, W. (Coord.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983, v. 2. 137 ARTE BRASILEIRA NO SÉCULO XX E XXI UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os contextos e circunstâncias da formação da arte moderna no Brasil; • perceber as infl uências das vanguardas europeias na produção artística brasileira no início do século XX; • identifi car os principais artistas que foram construtores do modernismo brasileiro; • conhecer importantes movimentos da arte a partir da segunda metade do século XX; • compreender a arte contemporânea brasileira como uma manifestação estético- política que se encontra em constante desenvolvimento. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RUMO A UMA ESSÊNCIA ESTILÍSTICA BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS DE CORRENTES ARTÍSTICAS DA EUROPA TÓPICO 2 – ARTE MODERNA BRASILEIRA: EM BUSCA DA RUPTURA TÓPICO 3 – ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL: PANORAMA DO SÉCULO XXI Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 138 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 139 TÓPICO 1 — RUMO A UMA ESSÊNCIA ESTILÍSTICA BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS DE CORRENTES ARTÍSTICAS DA EUROPA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro Acadêmico, estamos nos aproximando do tempo atual nesta caminhada pela arte brasileira e, comovimos, nas primeiras décadas do século XX ainda havia fortes características do academicismo, fruto dos estudos de artistas influenciados pelo neoclassicismo trazido pela Missão Francesa, em 1816. Por detrás dessa cortina já havia algum movimento, alguns dos artistas da Missão, seduzidos pela experiência brasileira, já viviam um momento de ruptura com uma nova direção nos seus padrões estéticos. As cidades se transformam, suas ruas são alargadas, as invenções são aprimoradas e, conforme Tirapeli (2010a, p. 12), “esse período, denominado belle époque, foi marcado pelo prazer de desfrutar das conquistas da era industrial e de seus inventos, como o avião e o automóvel”. A energia elétrica possibilitou novos meios de comunicação e entretenimento como o rádio, o cinema e outras possibilidades de trabalho. Imigrantes europeus chegavam ao Brasil em busca de oportunidades e essas influências estrangeiras indicaram o caminho oposto para alguns artistas brasileiros, que já vivenciavam a ruptura da arte mundial em função das novas tendências artísticas do início do século XX, com o abstracionismo, expressionismo, cubismo e futurismo, entre outros (TIRAPELI, 2010a). A chamada vanguarda, palavra com origem no idioma francês, que significa avant-garde, começou a ser utilizada para as novas incursões no mundo da arte. A ordem do momento era de romper com as tradições que já não faziam sentido, partindo para a experimentação. A seguir você poderá explorar e conhecer um pouco mais desse processo de mudanças e descobertas pelos percursos da arte brasileira. Bons estudos! 140 2 VANGUARDAS EUROPEIAS NO BRASIL Em alguma etapa de seus estudos você provavelmente já deve ter conhecido as Vanguardas Europeias, as quais formam um conjunto de movimentos artístico-culturais que ocorreram no início do século XX em diversas partes da Europa. Conhecer essas vertentes artísticas e sua influência nas produções brasileiras é fundamental para que se possa perceber a constituição da arte moderna em nosso país. Para isso, é necessário também compreender o contexto em que tais movimentos se estabeleceram no continente europeu. Era um momento em que a sociedade passava por diversas mudanças, tendo em vista a Segunda Revolução Industrial ocorrida no século XIX e a Primeira Guerra Mundial no início do século XX. Os avanços tecnológicos, os progressos industriais e as descobertas científicas foram alguns dos acontecimentos daquele período que aceleraram o ritmo de vida cotidiano, como o desenvolvimento da luz elétrica, o carro movido à gasolina e a produção em larga escala de bens de consumo. Nas artes, a fotografia e o cinema aperfeiçoavam-se cada vez mais e, de certo modo, não havia mais a necessidade de se realizar uma arte que representasse tão fielmente a realidade. Assim, os artistas passaram a propor outros modos de expressão estética e produção artística seguindo as transformações vigentes. Iniciava-se uma nova era, a qual abarcava novas formas de viver e perceber o mundo. Partindo de pressupostos como a ironia, a inovação, a liberdade criativa e a intencionalidade de provocar e comover os espectadores, a arte produzida naquele início de século era influenciada pela subjetividade. Apontava por vezes certo irracionalismo em uma busca por evidenciar e solucionar os problemas da humanidade ou, em outras vertentes, exaltava os avanços tecnológicos e a ideia de progresso que se consolidava. Nesse sentido, surgiam as principais correntes artísticas de vanguarda, como o expressionismo, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo. Foram movimentos que se expressaram por meio das artes visuais, do teatro, da música, da arquitetura, da literatura e do cinema, influenciando a arte moderna em muitos países, incluindo o Brasil. De acordo com Pereira (2013), os artistas brasileiros sentiam-se assim atraídos por uma vontade de mudança e atualização de seus trabalhos, em especial a pintura, a qual absorveu de modo concomitante os movimentos artísticos que ocorreram na Europa durante o século XIX — realismo, impressionismo, simbolismo — e essas correntes de vanguarda que surgiam no início do século XX. Desse modo, reveja algumas das principais características desses movimentos e conheça os principais artistas brasileiros que seguiram seus preceitos nas artes plásticas. 141 2.1 EXPRESSIONISMO Tanto no Brasil como nos demais países em que se manifestou, o Expressionismo foi uma vertente artística de vanguarda que ressaltava a subjetividade, predominando o caráter emocional. Com origem na Alemanha nos primeiros anos do século XX, o movimento propunha um novo modo de se fazer arte, tendo como um de seus principais objetivos desvincular a beleza da arte por meio de composições intuitivas e pessoais. De acordo com Proença (2008), o expressionismo procurava retratar as inquietações do ser humano naquele início de século, de modo a se opor ao impressionismo — corrente anterior que se preocupava apenas em ressaltar as sensações provocadas pela luz. Como algumas das características do movimento expressionista podemos encontrar a valorização da visão do artista na concepção de suas obras; os temas relacionados às sensações de sofrimento e dor; o descompromisso em retratar fielmente a realidade; a importância da emoção e da intuição na produção artística; os traços fortes e marcantes na pintura; a utilização do contraste entre as cores; e as temáticas envolvendo críticas à sociedade. O expressionismo também chegou ao Brasil nas primeiras décadas de 1900 e esteve presente nas mais variadas linguagens artísticas. Destacou-se por obras produzidas por importantes artistas do cenário nacional, os quais empregavam as características fundamentais dessa corrente em suas produções, como por exemplo a subjetividade voltada à crítica social e a política em relação ao momento vivido. A seguir, conheça alguns dos artistas brasileiros que, no início do século XX, realizaram suas produções a partir da influência expressionista. 2.1.1 Anita Malfatti Anita Malfatti (1889-1964) nasceu em São Paulo e foi uma artista fundamental para a história da arte moderna brasileira. Iniciou ainda na juventude seus estudos de pintura e em 1912 viajou para a Alemanha, onde conheceu o expressionismo e as técnicas utilizadas pelos artistas desse país. Em 1914, ao retornar para o Brasil, realizou sua primeira exposição individual, porém sua mostra mais importante foi em 1917, quando apresentou as obras “A mulher de cabelos verdes” e “O homem amarelo”, as quais receberam muitas críticas desfavoráveis. Nos dias atuais as pinturas de Anita Malfatti não nos causam estranhamento, mas naquele período uma mulher de rosto anguloso e cabelos verdes ou um homem pintado de amarelo causaram espanto. Na época, em geral, pensava-se que a arte — em particular a pintura — deveria imitar a realidade. Um pintor não poderia representar alguém com cabelos verdes ou pele exageradamente amarela, pois ninguém é assim na realidade. Essa foi justamente uma das novidades trazidas pela arte moderna: a ideia de que o artista deve ter total liberdade de imaginação e não se deixar limitar pela realidade (PROENÇA, 2008, p. 201). 142 FIGURA 1 – OBRA “A MULHER DE CABELOS VERDES”, CRIADA PELA ARTISTA ANITA MALFATTI EM 1915 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2048/a-mulher-de-cabelos-verdes>. Acesso em: 21 jul. 2021. Apesar das críticas recebidas por essas obras, Anita Malfatti teve o apoio de diversos outros artistas e juntos foram em busca de uma arte brasileira que estivesse liberta das regras impostas pelas academias de Arte. Observamos assim a importante contribuição desta artista para os rumos da arte nacional, tornando-se destaque e contribuindo para a disseminação da vertente expressionista em território brasileiro. 2.1.2 Lasar Segall Lasar Segall (1891-1957) nasceu na Lituânia, porém foi um artista imprescindível para a história da arte brasileira pois proporcionouo primeiro contato do país com a arte europeia mais inovadora. Em 1906 estudou arte na Alemanha e em 1913 expôs suas obras com traços expressionistas no Brasil, retornando em 1924 para então estabelecer residência em São Paulo. Apesar de anteriormente já ser um artista celebrado, foi em terras brasileiras que Lasar Segall atingiu o seu esplendor. No princípio a maior parte de suas pinturas explorava os temas da guerra e do sofrimento, tornando-o um difusor do expressionismo no Brasil. Entretanto, em sua fase brasileira, adotou uma nova paleta de cores: “sua pintura foi tocada pela luz e pela cor tropical, distanciando-se do colorismo sombrio que a influência expressionista alemã exercera em sua obra” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 93). Produzida em 1921, a obra “Interior de pobres” é uma das pinturas expressionistas dessa fase do artista. 143 FIGURA 2 – OBRA “INTERIOR DE POBRES”, CRIADA PELO ARTISTA LASAR SEGALL EM 1924 FONTE: <:http://bit.ly/3hQOntU>. Acesso em: 19 set. 2021. As cores e a luminosidade, assim como as folhas e árvores retratadas, revelam o impacto das referências brasileiras em sua obra. 2.1.3 Candido Portinari Ainda que não se prendesse a um único estilo de pintura, Candido Portinari (1903-1962) foi um dos grandes representantes do expressionismo no Brasil. Nascido na cidade de Brodowski, em São Paulo, seu trabalho apresenta cores marcantes, além de conter um estilo singular e de fácil identificação. Portinari trazia em suas obras diversas críticas sociais, caracterizando suas pinturas expressionistas por meio de temas reflexivos e relativos ao sofrimento. Produzida em 1944, a série “Retirantes” traz pinceladas largas e uma paleta composta por tons terrosos e cinza, os quais realçam o caráter trágico da representação. FIGURA 3 – OBRA “RETIRANTES” CRIADA PELO ARTISTA CANDIDO PORTINARI EM 1944 FONTE: <https://masp.org.br/acervo/obra/retirantes>. Acesso em: 21 jul. 2021. 144 Essa e outras obras do artista “tornaram-se instrumentos de denúncia social”, a partir dos quais “a força dramática se acentua pela distorção das figuras inspiradas pelas secas do Nordeste” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 103). O artista expressa as mazelas dos personagens por meio da desarticulação das formas, compondo um ritmo que vai se delineando por meio de traços escuros e marcantes. 2.2 FAUVISMO O Fauvismo foi um movimento com origem na França, inspirado na palavra francesa fauve (fôv), que significa fera, tendo como principais características a simplificação das formas e o uso intenso das cores. A partir de temáticas leves, as quais se distanciavam de questões críticas sociais ou políticas, as pinturas fauvistas eram elaboradas utilizando-se de pinceladas separadas e diminuindo a sensação de profundidade. As figuras não eram representadas de modo realista, mas apenas sugeridas, assim como as cores, as quais não correspondiam à realidade pois eram utilizadas de modo puro, sem o emprego de gradações. Seu período de efervescência foi mais curto em relação aos demais movimentos de vanguarda, contudo algumas das inovações presentes nessa vertente permanecem sendo utilizadas ainda na atualidade. De acordo com Proença (2008, p. 184), “os fauvistas tiveram suas obras rejeitadas, mas deram início ao gosto pelas cores puras, que hoje vemos em tantos objetos do cotidiano e em peças do vestuário”. No Brasil, não encontramos relatos de artistas que tenham declaradamente realizado suas obras no estilo fauvista, mas é possível notar em alguns as características nítidas desse período. Entre eles, podemos destacar o carioca Arthur Timótheo da Costa (1882-1922) e o mineiro Inimá José de Paula (1918-1999). A seguir, conheça um pouco sobre cada um deles. 2.2.1 Arthur Timótheo da Costa Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1918, Arthur Timótheo da Costa iniciou seus estudos de desenho na Casa da Moeda e posteriormente na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1908 faz uma viagem para França e tem contato com a arte de vanguarda produzida em território europeu. Ao retornar ao Brasil dois anos depois, dá início à produção de muitas obras repletas de cores intensas. Algumas das pinturas do artista apagam o desenho e estruturam as formas por meio de pinceladas aparentes e vigorosas. Para Souza (1980), seu trabalho intitulado “A Forja” teria antecipado a pintura moderna no Brasil, o que faz desse artista um precursor nas inovações artísticas brasileiras daquele início de século. 145 FIGURA 4 – OBRA “ZIZA NO ATELIER”, CRIADA PELO ARTISTA ARTHUR TIMÓTHEO DA COSTA EM 1919 FONTE: <https://peregrinacultural.wordpress.com/tag/ziza-no-atelie/>. Acesso em: 30 jul. 2021. Arthur Timótheo viveu em um período em que a linguagem plástica estava em um momento de transição no Brasil. Os artistas estavam começando a abandonar os cânones da pintura acadêmica, flexibilizando seus trabalhos e trazendo novas tendências as suas pinturas. Desse mesmo modo, seu trabalho marca as experiências impressionistas no Brasil, a partir de uma pintura que apresentaria também influências fauvistas. 2.2.2 Inimá José de Paula O artista brasileiro que mais se aproximou das características do Fauvismo foi Inimá José de Paula, conhecido como "o fauve brasileiro" (MORAIS, 1987, p. 15), devido às cores fortes e vibrantes utilizadas em seu trabalho. Inimá de Paula nasceu na cidade de Itanhomi, em Minas Gerais no ano de 1918. Em 1952 recebe o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna e nos anos seguintes vai estudar arte em Paris. Quando retorna, passa a fazer pinturas abstratas, expondo algumas delas na 5ª Bienal de São Paulo, mas na década de 1960 muda-se para Belo Horizonte e lá retoma as pinturas figurativas. Ao longo de sua vida, Inimá produziu pinturas nas quais a intensidade das cores está presente. Em seus trabalhos, é possível identificar traços influentes de Paul Cézanne (1839-1906) e Henri Matisse (1869-1954). O artista mineiro utilizava cores puras e expressivas, como o vermelho, azul, amarelo e verde, os quais eram empregados na tela com vivacidade. Contudo, há também a predominância de tons mais neutros, como brancos e cinzas, em muitas de suas obras. 146 FIGURA 5 – OBRA “ABSTRAÇÃO FAUVE”, CRIADA PELO ARTISTA INIMÁ JOSÉ DE PAULA EM 1977 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3725/abstracao-fauve>. Acesso em: 30 jul. 2021. A produção de Inimá também é caracterizada pela predominância da paisagem, principalmente cenários urbanos. Cobrindo a maior parte da tela, sem deixar muito espaço para o céu, o pintor realiza composições equilibradas, em que alterna as formas preenchidas da arquitetura com as cores da vegetação. Contudo, o artista ainda se destaca pelos retratos, autorretratos, naturezas-mortas e composições abstratas produzidas. 2.3 CUBISMO Com surgimento na França, o Cubismo foi uma vertente que se caracterizou pelo uso de formas geométricas, tendo por objetivo o rompimento da perfeição das fi guras. Para o crítico de arte Guillaume Apollinaire “o cubismo difere dos estilos anteriores de pintura, pois deixou de ser uma arte de imitação, para se tornar uma arte de imaginação” (GANTEFÜHRER-TRIER, 2010, p. 16). Assim como as demais vanguardas artísticas que aconteceram no início do século XX, abrangeu principalmente as artes plásticas e exercendo infl uência sobre a literatura. A Fundação Inimá de Paula foi criada em 1998 com o intuito de preservar, divulgar e resguardar a obra desse artista. Para ver outros trabalhos e conhecer mais detalhes sobre a sua história acesse o site do museu, o qual está localizado na cidade de Belo Horizonte e abriga muitas de suas produções. Acesse em: http://www.museuinimadepaula.org.br/. DICA 147 Inspirados pelo trabalho de Paul Cézanne, o qual entendia que a arte deveria transformar a natureza ao invés de retratá-la, o movimento cubista teve como pioneiros Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963), além de Fernand Léger (1881-1955) também como um dos principaisartistas. De modo geral, suas principais características eram o desapego à realidade, a utilização de formas geométricas, o exercício da fragmentação, a renúncia da perspectiva e a experimentação. Essa vertente contou ainda com duas fases distintas: o Cubismo Analítico que, por volta de 1909, destacou-se pela preponderância do uso de cores neutras e “pela decomposição dos elementos que fazem parte da obra, com a preocupação de oferecer a visão total de todos os ângulos e lados, numa sequência de planos sucessivos e sobrepostos”; e o Cubismo Sintético que, em torno de 1911, “procurou reconstruir a figura, tornando-a reconhecível, e incluiu elementos como vidro, metais, pedaços de madeira, letras, números e objetos, com a intenção de tornar a pintura não só visual, mas também provocadora de sensações táteis” (REIS, 2010, p. 127). O movimento cubista ganhou destaque no Brasil somente após a Semana de Arte Moderna de 1922. Ainda que não haja nenhum pintor brasileiro considerado exclusivamente cubista, podemos observar influências dessa vertente em alguns trabalhos de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral (1886-1973), Rego Monteiro (1899-1970) e Di Cavalcanti (1897-1976). No item relativo ao Expressionismo abordamos um pouco sobre a história da artista Anita Malfatti. Acompanhe na sequência uma síntese das características dos três outros artistas. 2.3.1 Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral foi uma artista que utilizou aspectos do cubismo em suas telas. A influência dessa vanguarda europeia é percebida pelo modo como emprega as formas geométricas em seus trabalhos. Nascida em Capivari, interior de São Paulo, em 1886, a carreira de Tarsila teve início por volta de 1916. Em 1920 viajou para a Europa, onde teve contato com grandes mestres franceses. Em 1922 voltou ao Brasil, mas em 1923 viajou novamente a Paris. Nesse período passou, então, a estudar com artistas como Fernand Léger, Picasso e o também o cubista André Lhote (1885-1962), ocasião na qual “além da disciplina do teórico do cubismo, vivenciou a prática da construção, equilíbrio, simplificação de linhas” (AMARAL, 2020, p. 15). O Cubismo exerceu influência não apenas na pintura brasileira, mas também na literatura, tendo como destaque as obras dos escritores Oswald de Andrade, Raul Boop e Érico Veríssimo. Na literatura cubista o objetivo foi a destruição da sintaxe e o fim da linearidade. IMPORTANTE 148 Ainda que não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 1922, Tarsila do Amaral teve importante colaboração no desenvolvimento do modernismo brasileiro, criando obras que indicariam novos rumos para a arte. Em 1924, no Brasil, deu início a uma fase chamada posteriormente de pau-brasil. Proença (2008, p. 202) explica que, segundo o crítico Sérgio Milliet, essa fase da artista ficou caracterizada “pelas cores ditas caipiras, rosas e azuis, as flores de baú, a estilização geométrica das frutas e plantas tropicais, dos caboclos e negros, da melancolia das cidadezinhas, tudo isso enquadrado na solidez da construção cubista”. FIGURA 6 – OBRA “A CAIPIRINHA”, CRIADA PELA ARTISTA TARSILA DO AMARAL EM 1923 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1616/a-caipirinha>. Acesso em: 1 ago. 2021. 2.3.2 Vicente do Rego Monteiro Vicente do Rego Monteiro foi um pintor, desenhista, escultor, professor e poeta brasileiro. Nascido em Recife, no estado de Pernambuco em 1899, foi para Europa estudar pintura quando tinha ainda 12 anos de idade e, aos 14, já participava do Salão dos Independentes, em Paris. De volta ao Brasil em 1917, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 expondo dez trabalhos. Nos anos seguintes, viveu períodos intercalados entre Brasil e França, trabalhando o cubismo de um modo muito próprio. Apresentando interesse pelos temas que envolviam os mitos indígenas brasileiros, “o escultor pernambucano funde as estéticas do art déco e do cubismo de Fernand Léger com impregnações da cerâmica marajoara” (LUZ, 2013, p. 116). A pintura de Vicente do Rego Monteiro é marcada pela sinuosidade dos traços e pela retração no uso das cores e contrastes, reportando um clima místico e metafísico. Também é frequente a temática religiosa em seu trabalho, elaborando obras que retratam passagens do Novo Testamento por meio de figuras que se aproximam da escultura, devido a sua densidade e volume. 149 FIGURA 7 – OBRA “PIETÁ’, CRIADA PELO ARTISTA VICENTE DO REGO MONTEIRO EM 1924 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2502/pieta>. Acesso em: 1 ago. 2021. 2.3.3 Emiliano Di Cavalcanti Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque, mais conhecido por Di Cavalcanti, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1897, foi um dos importantes expoentes do modernismo no Brasil. Em 1914 começou a trabalhar como ilustrador para algumas revistas brasileiras da época, porém, a efervescência cultural nos grandes centros urbanos, como São Paulo, e a exposição de Anita Malfatti em 1917, levam-no a retomar o estudo de pintura. Proença (2008, p. 202) explica que, “depois das exposições de Segall e Malfatti, começou a desenvolver-se a ideia de uma mostra coletiva com o que havia de mais atualizado no país”. Desse modo, Di Cavalcanti inicia uma amizade com os intelectuais paulistas Mário de Andrade e Oswald de Andrade e juntos organizam em 1922 a Semana de Arte Moderna. No ano seguinte o artista vai estudar em Paris, onde tem contato com diversos pintores como Pablo Picasso, Georges Braque, Fernand Léger e Henri Matisse e passa a ter um novo direcionamento em sua obra. Di Cavalcanti é influenciado pelas vanguardas europeias, porém cria uma linguagem muito própria em seu trabalho, adotando temáticas nacionalistas e preocupando-se com as questões sociais. Um exemplo é sua obra “Pescadores”, na qual ele retrata um casal de pescadores que vende seu produto próximo ao mar. 150 FIGURA 8 – OBRA “PESCADORES”, CRIADA PELO ARTISTA DI CAVALCANTI EM 1951 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra4745/pescadores>. Acesso em: 1 ago. 2021. A relação com o cubismo apresenta-se nos traços mais geométricos dos personagens e na ampliação das proporções de seus pés e mãos. 2.4 SURREALISMO O Surrealismo foi uma vertente artística que teve como foco a livre expressão de ideias. Sem preocupação com a lógica, os artistas associados a esse movimento tomaram como base para sua estética as teorias psicanalíticas que valorizavam o inconsciente. Gombrich (2012, p. 592) explica que “muitos dos surrealistas estavam profundamente impressionados com os escritos de Sigmund Freud, segundo o qual, quando nossos pensamentos em estado vígil ficam entorpecidos, a criança e o selvagem que existem em nós passam a dominar”. Fortemente vinculada às artes visuais, essa vertente procurava reproduzir um universo onírico, relacionado aos desejos e impulsos do inconsciente, de modo a criar imagens ilógicas. Assim, suas características caminhavam no sentido oposto à arte tradicional, buscando um maior entendimento do ser humano e reproduzindo uma suprarrealidade. Assim como acontece com outros artistas do modernismo brasileiro, o trabalho de Di Cavalcanti foi influenciado por muitos pintores de diferentes correntes europeias de vanguarda, não se restringindo somente às características do cubismo. De todo modo, o que se ressalta na produção desse artista é a criação de um estilo artístico que se relaciona com a realidade brasileira, entendendo a arte também como uma forma de manifestação social. IMPORTANTE 151 No Brasil, o movimento surrealista foi absorvido pelo modernismo por volta de 1920. Ainda que não tenha expressado muita força, alguns importantes artistas apresentaram influências dessas características em seus trabalhos, deixando marcas na cultura e na história da arte. Uma das pinturas brasileiras mais marcantes que carregam aspectos do surrealismo é a obra “Abaporu” (antropófago em tupi-guarani), de Tarsila do Amaral, produzida em 1928. Nela podemos observar elementos que são característicasem alguns trabalhos da artista, como a utilização de cores fortes, a abordagem de temas imaginários e a alteração da realidade. FIGURA 9 – OBRA “ABAPORU”, CRIADA PELA ARTISTA TARSILA DO AMARAL EM 1928 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1628/abaporu>. Acesso em: 3 ago. 2021. Em sua fase antropofágica, Tarsila utilizou uma estética fora do padrão, apresentando temas de caráter onírico por meio da redução de cores e formas, os quais remetem a uma atmosfera surrealista. Além de Tarsila, os brasileiros Ismael Nery (1900- 1934) e Cícero Dias (1907-2003) também utilizaram características dessa nova tendência europeia. Conheça a seguir um pouco sobre a história e o trabalho desses artistas. 2.4.1 Ismael Nery Ismael Nery nasceu em Belém, Pará em 1900, mas ainda quando criança se mudou com a família para o Rio de Janeiro. Aos dezessete anos de idade matriculou-se na Escola Nacional de Belas Artes – Enba e após três anos vai a Paris para estudar arte, em 1920. Permanece na Académie Julian por três meses e é nesse período na Europa que o artista entra em contato com o modernismo. Apesar de contemplar formas modernas em seu trabalho, o tema de suas pinturas não se relaciona com o modernismo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922, pois distancia-se das abordagens nacionalistas. Ismael Nery trata da figura humana, porém de um modo simbólico, representando personagens em cenários imaginários e apartado de referências reais. 152 FIGURA 10 – OBRA “COMPOSIÇÃO SURREALISTA” CRIADA PELO ARTISTA ISMAEL NERY EM 1929 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1847/composicao-surrealista>. Acesso em: 3 ago. 2021. Em 1927 retorna à França, em uma viagem que vem a influenciar profundamente sua pintura. Nesse período tem contato com artistas como Marc Chagall e André Breton e, assim, ao voltar para o Brasil inicia a fase surrealista de seu trabalho. Passa a pintar os corpos utilizando cores mais vivas e com traços mais leves, mantendo uma sensação onírica em suas obras. Contudo, o artista foi reconhecido apenas postumamente, após exposições de suas telas em museus e Bienais nos anos de 1960. 2.4.2 Cícero Dias Nascido na cidade de Escada, Pernambuco em 1907, Cícero dos Santos Dias transitou por diversas correntes artísticas ao longo de sua vida, sempre buscando formas diferentes de se expressar. Iniciou seus estudos de desenho ainda em sua terra natal, porém em 1920 mudou-se para o Rio de Janeiro. Nos anos seguintes matriculou- se na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), mas não chegou a concluir seus estudos. Inicialmente, Cícero Dias produzia muitas aquarelas, buscando representar um universo onírico e inquietante. As figuras humanas em sua pintura possuíam escala diferente em relação às paisagens retratadas, assim como os objetos, apresentando um conjunto de muita leveza. São imagens representadas de modo muito delicado, compostas por uma diversidade de cores e que se relacionam com o mundo dos sonhos, do inconsciente, além de frequentemente evocarem certo erotismo. 153 FIGURA 11 – OBRA “COMPOSIÇÃO”, CRIADA PELO ARTISTA CÍCERO DIAS EM 1928 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1758/composicao>. Acesso em: 3 ago. 2021. De acordo com o crítico Antonio Bento, a obra de Cícero Dias está relacionada à vertente surrealista, abarcando características de um "imaginário fantástico nordestino", composto por mitos e fábulas tanto nas produções artísticas como na literatura de cordel. (CÍCERO..., 2021, s.p.). Além das características surrealistas, Cícero caminha também por outras vias em suas obras, influenciando e sendo influenciado por suas vivências durante sua carreira, porém nunca abandonando suas origens. 3 DIFERENTES EXPRESSÕES DA ARTE BRASILEIRA Além das influências diretas das vanguardas, o modernismo começava a se desenhar no país a partir da criação de estilos próprios de alguns artistas para além da pintura. A concepção de uma identidade artística que tivesse realmente as características de um Brasil sem interferências talvez já não fosse possível, mas realinhar essa direção se tornou um objetivo que nasceu a partir de experiências fora do país. Tanto os novos aprendizados no exterior, como os debates entre intelectuais e artistas, configuraram um novo panorama na arte brasileira. Esses aspectos foram fundamentais na reconstrução da essência estilística brasileira, que passa a ser incorporada pela música, pela literatura, pelas artes visuais e se expande para outras linguagens. É correto depositar o mérito da atribuição do valor das nossas raízes a esses grupos que não esmoreceram diante das duras críticas conservadoras direcionadas aos que aspiravam por um novo horizonte na paisagem artística brasileira. 154 3.1 LITERATURA Além da pintura, a literatura brasileira foi uma das principais linguagens artísticas a receber influência das vanguardas europeias, no início e ao longo do século XX, dando origem ao que se configurou como o modernismo brasileiro. De acordo com Alfredo Bosi (2015, p. 699), “é a sedução do irracionalismo, como atitude existencial e estética, que dá o tom aos novos grupos, ditos modernistas, e lhes infunde aquele tom agressivo com que se põem em campo para demolir as colunas parnasianas e o academismo em geral”. Dentre alguns nomes, destacam-se os escritores Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Graciliano Ramos (1892-1953), Guimarães Rosa (1908-1967), Cecília Meireles (1901-1964), Murilo Mendes (1901-1975), Clarice Lispector (1920-1977) e João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Esses autores contribuíram para a formação de uma nova identidade cultural, fazendo da literatura uma manifestação artística genuinamente brasileira. Entre os movimentos artísticos de vanguarda que influenciaram a literatura modernista, encontramos aspectos do expressionismo nos romances “Amar, verbo intransitivo”, de Mário de Andrade, e “Os Condenados”, de Oswald de Andrade. Também o Cubismo parece estar presente no poema “Hípica” de Oswald de Andrade que, por meio de uma superposição de imagens, desloca o olhar do leitor entre os elementos do texto. Já o surrealismo pode ser identificado nos escritos de Murilo Mendes, como no poema “Canção do Exílio'' em que, ao parodiar Gonçalves Dias, faz referência ao mundo do inconsciente sugerindo diferentes imagens. Apesar de algumas divergências internas existentes, Pagnan (2010, p. 245) resume as características que envolviam a literatura modernista: a. versos livres, cuja base estava no Dadaísmo e no Surrealismo; b. ênfase na ordem do subconsciente, para a livre associação de ideias, de imagens, também inspirada no Dadaísmo e no Surrealismo; c. velocidade – o mundo moderno, com as diversas invenções, tornara- se mais veloz, por isso a literatura deveria ser a expressão da agitação mundana. E a visão futurista do momento; d. resgate histórico crítico – um olhar crítico sobre nosso passado para repensar o presente e construir o futuro foi indispensável nessa fase; e. a compreensão de quem somos como raça, como povo, miscigenado, fruto de diversos povos; f. simultaneidade. FONTE: PAGNAN, C. L. Manual compacto de literatura brasileira. São Paulo: Rideel, 2010. IMPORTANTE 155 Canção do Exílio Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! FONTE: MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.3.2 ESCULTURA Também a escultura passava por transformações no início do século XX a partir das mudanças que ocorriam na Europa. Stephen Farthing (2011, p. 444) afirma que a escultura modernista “é um ponto de inflexão na busca dos escultores por descobrir o que era a sua arte, começando pelo reexame das noções de representação, espaço, forma, volume e massa, seguindo-se a escolha dos materiais, até chegar aos métodos construtivos”. No Brasil, essa linguagem artística recebeu influências dos movimentos europeus e de suas características, tendo como seu principal representante o artista Victor Brecheret (1894-1955). De acordo com Proença (2008, p. 204), “as obras de Brecheret afastaram-se da imitação da realidade e ganharam expressão por meio de volumes e formas geométricas, de linhas simples”. Iniciando seus estudos em 1912, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, o artista vai à Roma, Itália, onde permanece por seis anos aperfeiçoando seus aprendizados na escultura. Mais tarde, em 1921, após um período de retorno a São Paulo, ganha uma bolsa e viaja para Paris. Na cidade francesa, Brecheret procura mesclar algumas de suas referências para compor um estilo pessoal, baseado na geometria da escultura cubista, na sintetização da forma e na estilização do art déco (VICTOR..., 2021, s.p.). 156 FIGURA 12 – OBRA “TOCADORA DE GUITARRA”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR BRECHERET EM 1923 FONTE: <https://galeriandre.com.br/obras-interna/3813/tocadora-de-guitarra/>. Acesso em: 19 ago. 2021. Alguns anos depois, no Brasil, o artista intensifica seu trabalho, produzindo obras de grande porte, como o “Monumento às Bandeiras”, o qual já havia apresentado em 1920, porém em menor escala. De modo geral, Victor Brecheret deixou sua importante contribuição para a legitimação da arte brasileira, por meio das influências externas recebidas e sintetizadas em formas simples, porém expressivas. FIGURA 13 – OBRA “MONUMENTO ÀS BANDEIRAS”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR BRECHERET, INAUGURADO EM 1953 FONTE: <https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/monumentos/monumento-as-bandeiras/>. Acesso em: 20 set. 2021. Essa obra começou a ser desenhada no ano de 1920, mas foi concretizada somente 33 anos depois. Essa escultura, de grande porte, possui cerca de 11 metros de altura total, por 8,40 metros de largura e 43,80 metros de profundidade. 157 Vamos conhecer mais uma obra do artista Victor Brecheret, intitulada “Musa impassível”, realizada em 1923, que foi criada para o túmulo da poetisa Francisca Júlia. FIGURA 14 – OBRA “MUSA IMPASSÍVEL”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR BRECHERET EM 1923 FONTE: Acervo das autoras Em 2020, na mostra “Vozes contra o racismo” foram feitas projeções em diversos monumentos da cidade de São Paulo durante o Festival das Luzes. O “Monumento às Bandeiras”, de Victor Brecheret, recebeu as luzes, que provocaram a impressão de movimento na obra. Assista em: https:// www.youtube.com/watch?v=Ip3WXHgt5bM. INTERESSANTE Na ocasião da morte da poetisa Francisca Júlia (1871-1923), foi aprovada a construção de um mausoléu, idealizado pelo grupo de artistas e intelectuais que mais tarde fundariam o Movimento de Arte Moderna. A obra abrigaria uma estátua feita por Victor Brecheret. A estátua, Musa impassível, esquecida no cemitério do Araçá, em São Paulo, foi descoberta por acaso em 1992, pela fi lha de Brecheret. Em 2006, a estátua foi levada para a Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde foi restaurada e está exposta. Assim diz Menotti Del Picchia em uma crônica ao Correio paulistano: INTERESSANTE 158 Leia um trecho do poema “Musa impassível”, de Francisca Júlia, do livro Mármores: Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero Luto jamais te afeie o cândido semblante! Diante de Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero. Em teus olhos não quero a lágrima; não quero Em tua boca o suave idílico descante. Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante, Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero. Dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa; A rima, cujo som, de uma harmonia crebra, Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva; Versos que lembrem, com teus bárbaros ruídos, Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra, Ora o surdo rumor dos mármores partidos. FONTE: REIS, E. V. dos. Manual compacto de arte. São Paulo: Rideel, 2010. 3.3 ARQUITETURA Diferentemente das outras expressões artísticas, a arquitetura tardou um pouco mais a se modernizar no Brasil. Nas duas primeiras décadas do século XX nossos arquitetos ainda seguiam padrões clássicos de composição, os quais eram ensinados nas poucas escolas de arquitetura do país. Contudo, em 1923 chega a São Paulo o arquiteto russo de formação italiana Gregori Warchavchik (1896-1972), o qual projeta e constrói em 1928 na Vila Mariana, bairro da capital paulista, uma casa composta por linhas e formas geométricas, renunciando ornamentações florais ou figurativas. De acordo com Battistoni Filho (2018, p. 96), “o [...] que se ergue hoje, no Cemitério do Araçá [...]. É A musa impassível, um mármore [...] criado pelo cinzel triunfal de Victor Brecheret, [...] na augusta expressão dos seus olhos, do seu busto erecto, das suas mãos rítmicas, há toda a grandeza e a beleza daquela musa impassível da formidável parnasiana que concebeu e realizou a “Dança das centauras”. FONTE: REIS, E. V. dos. Manual compacto de arte. São Paulo: Rideel, 2010. 159 arquiteto russo inseriu o Brasil no mapa da arquitetura moderna mundial, logo no início dos anos 1930. Nesse contexto, foi posicionado na historiografia da arquitetura como o iniciador da arquitetura moderna no Brasil”. FIGURA 15 – CASA NO BAIRRO VILA MARIANA, CRIADA PELO ARQUITETO GREGORI WARCHAVCHIK EM 1928 FONTE: <https://cutt.ly/NEKMSst>. Acesso em: 22 ago. 2021. Ainda em 1929, o também renomado arquiteto suíço Le Corbusier passa pelo Brasil, onde ministra conferência no Rio de Janeiro e em São Paulo e assim influencia o destino de nossa arquitetura. A partir de então, a década de 1930 carrega fatos que passam a interferir na formação dos novos arquitetos modernistas brasileiros, ainda que com pouca repercussão nacional. Todavia e de modo geral, é por meio do uso do concreto armado em larga escala que as principais cidades brasileiras começam a se verticalizar e, assim, o brasileiro vai trocando sua casa pela moradia coletiva em prédios com apartamentos. 3.4 GRAVURA Foi a partir das décadas de 1930 e 1940 que a gravura começou a afirmar-se no Brasil. De início, o artista de maior repercussão foi Oswaldo Goeldi (1895-1961), o qual trazia um estilo expressionista por meio da representação de animais como gatos, abutres e peixes, ou de casarios suburbanos e ruas sombrias (BATTISTONI FILHO, 2018). Nascido no Brasil, mas de formação artística europeia, vivia no Rio de Janeiro e dedicava-se à xilogravura. Conforme comenta Proença (2008, p. 210), o artista “desenvolveu um trabalho importante como ilustrador de livros, como Cobra Norato, de Raul Bopp, e Obras completas, do escritor russo Dostoievski”. 160 FIGURA 16 – OBRA “PESADELO”, CRIADA PELO ARTISTA OSWALDO GOELDI EM 1935 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35684/pesadelo>. Acesso em: 22 ago. 2021. Outros dois importantes gravadores foram Carlos Oswald (1882-1971) e Poty (1924-1998). O primeiro nasceu em Florença, na Itália, mas em 1914 fixou residência no Brasil. Artista de vasta produção, criou seu ateliê em 1920 no Rio de Janeiro, tornando- se um importante divulgador da arte da gravura brasileira. Já Napoleon Potyguara Lazzarotto, mais conhecido como Poty, nasceu em Curitiba, estudou pintura na Escola Nacional de Belas-Artes e gravura com Carlos Oswald no Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro. Seus estudos foram aperfeiçoados também na França e converteram- se em importantes trabalhos de ilustração em livros de escritores como Jorge Amado, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. 161 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriucertos aprendizados, como: • As vanguardas europeias formam um conjunto de movimentos artístico-culturais (o expressionismo, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo) que ocorreram no início do século XX em diversas partes da Europa, os quais se expressaram por meio das artes visuais, do teatro, da música, da arquitetura, da literatura e do cinema e influenciaram a arte moderna em muitos países, incluindo o Brasil. • O Expressionismo caracterizou-se pelos traços fortes e marcantes na pintura, pela utilização do contraste entre as cores e as temáticas envolvendo críticas à sociedade. No Brasil, destacaram-se artistas como Anita Malfatti, Lasar Segall e Candido Portinari. • O Fauvismo teve como principais características a simplificação das formas e o uso intenso das cores. No Brasil, não encontramos relatos de artistas filiados a esse estilo, mas é possível notar tais características nas produções de Arthur Timótheo da Costa e de Inimá José de Paula. • O Cubismo foi uma vertente que se destacou pelo uso de formas geométricas, tendo por objetivo o rompimento da perfeição das figuras. Ainda que não haja nenhum pintor brasileiro considerado exclusivamente cubista, podemos observar suas influências em alguns trabalhos de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Rego Monteiro e Di Cavalcanti. • O Surrealismo teve como foco a livre expressão de ideias. Sem preocupação com a lógica, os artistas tomaram como base para sua estética as teorias psicanalíticas que valorizavam o inconsciente. Mesmo que no Brasil não tenha expressado muita força, alguns artistas apresentaram influências dessas características em seus trabalhos, como Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Cícero Dias. • Além da pintura, as vanguardas europeias influenciaram outras linguagens da arte, contribuindo para a formação de uma nova identidade cultural. Na literatura destacaram-se os escritores Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Cecília Meireles, Murilo Mendes, entre outros. Na escultura, encontramos o trabalho de Victor Brecheret, na arquitetura podemos citar a produção de Gregori Warchavchik e na gravura evidenciam-se os trabalhos de Oswaldo Goeldi, Carlos Oswald e Poty Lazzarotto. 162 1 No início do século XX, a sociedade passava por diversas mudanças, tendo em vista a Segunda Revolução Industrial ocorrida no século XIX e a Primeira Guerra Mundial. No Brasil, inclusive, também se percebeu grande influência desses acontecimentos. Dessa forma, descreva quais os principais movimentos artísticos que influenciaram a arte moderna e como esse conjunto de movimentos é conhecido e por meio de quais linguagens se expressaram? 2 Descreva quais foram as principais características do movimento expressionista e quais artistas brasileiros seguiram essa corrente? 3 O cubismo surgiu na França e foi uma vertente que se caracterizou pelo uso de formas geométricas, tendo por objetivo o rompimento da perfeição das figuras. No Brasil não há artistas que tenham em suas obras características totalmente cubistas, mas podemos encontrar traços de cubismo nas obras de alguns artistas. Com base nas informações do texto, que artistas possuem características que fazem referência ao cubismo? Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro. b) ( ) Emiliano di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral. c) ( ) Anita Malfatti,, Vicente do Rego Monteiro, Emiliano di Cavalcanti. d) ( ) Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Emiliano di Cavalcanti. 4 Além da pintura, as vanguardas europeias influenciaram outras linguagens da arte, contribuindo para a formação de uma nova identidade cultural. Considerando a escultura modernista brasileira, em relação ao importante artista escultor e suas obras, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O artista Cícero Dias, com as obras “Musa impassível”, “A estudante russa” e a escultura “Retirantes”. b) ( ) O artista Victor Brecheret, com as obras “Tocadora de Guitarra”, “Musa impassível” e a escultura “Monumento às bandeiras”. c) ( ) O artista Lasar Segall, com as obras “A caipirinha”, “Dois seres” e a escultura “Monumento às bandeiras”. d) ( ) O artista Oswald de Andrade, com as obras “Antropofagia”, “Bananal” e a escultura “Retirantes”. 5 No início do século XX ocorreram muitas transformações no mundo. Na Europa, artistas experimentavam novas maneiras de expressão, criando correntes e movimentos considerados à frente de seu tempo. Denominadas vanguardas europeias, essas correntes influenciaram o modernismo brasileiro. Sobre essas vanguardas e suas características, analise as sentenças a seguir: AUTOATIVIDADE 163 I- O Fauvismo busca a simplificação das formas e o uso intenso das cores. Com temáticas leves que se distanciavam de questões críticas sociais ou políticas, as pinturas fauvistas possuem pinceladas separadas que diminuem a sensação de profundidade. II- O Surrealismo teve como foco a livre expressão de ideias. Sem preocupação com a lógica, os artistas tomaram como base para sua estética as teorias psicanalíticas que valorizavam o inconsciente. III- O Expressionismo possui como características a mistura ótica de cores além da eliminação dos contornos nítidos e a utilização das cores complementares para destacar luzes e sombras. IV- No Fauvismo as figuras eram representadas de modo realista, assim como as cores, correspondiam à realidade pois eram utilizadas com o emprego de gradações. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. 164 165 ARTE MODERNA BRASILEIRA: EM BUSCA DA RUPTURA 1 INTRODUÇÃO No início do século XX a arte brasileira ainda carregava traços da herança acadêmica do século XIX, enquanto na Europa surgiam novas possibilidades a partir de experiências individuais de alguns artistas, resultando no que definiu a arte moderna. É importante ressaltar que a arte moderna não está alinhada cronologicamente à Era Moderna, iniciada com a tomada de Constantinopla, pelos turcos, e tendo seu marco final com a Revolução Francesa, em 1789, quando inicia a Era Contemporânea, que vivemos atualmente. O modernismo artístico no Brasil ocorreu tardiamente em relação a outros países, principalmente da Europa, de onde surgem as chamadas Vanguardas Europeias, que agrupam as correntes artísticas sucedidas pelo advento da fotografia, no final do século XIX. Algumas dessas correntes artísticas tiveram maior repercussão, como o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo, o abstracionismo e o surrealismo, que conquistaram artistas brasileiros que imprimiram características desses movimentos em suas obras, enfrentando o conservadorismo existente e consolidado por anos no Brasil. Foi necessário, então, romper com a tradição e levar a público as novas concepções artísticas que já habitavam as obras de artistas europeus. Cria-se então, a Semana de Arte Moderna. 2 SEMANA DE ARTE MODERNA No ano em que o Brasil completava 100 anos de independência, a arte brasileira iniciava um novo ciclo a partir da Semana de arte moderna. A ideia de realizar o evento surgiu a partir de críticas feitas por Monteiro Lobato (1882-1948) às exposições, inicialmente à exposição de Lasar Segall, em 1913 e, principalmente, às obras de Anita Malfatti na exposição de 1917. Em um artigo, no jornal O Estado de São Paulo, publicado em 20/12/1917, Monteiro Lobato escreveu que “todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude”. E entre outras palavras do então crítico de arte: UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 166 Está ali entre os trabalhos da Sra. Malfatti em atitude de quem diz: eu sou o ideal, sou a obra-prima, julgue o público do resto tomando- me a mim como ponto de referência. Tenhamos coragem de não ser pedante: aqueles gatafunhosnão são uma figura em movimento; foram, isto sim, um pedaço de carvão em movimento. A artista Anita, que havia estudado na Europa e nos Estados Unidos, voltava ao Brasil com novas ideias, disposta a refletir sobre a arte e, principalmente, abrir novos caminhos para a arte brasileira, valorizando a cultura nacional. Assim, com ajuda de amigos, expôs suas obras sem imaginar o que viria por parte da crítica. A artista ficou muito abalada e parou de pintar, pois muitas obras haviam sido vendidas e os compradores decidiram devolver. Diante desses acontecimentos, artistas e escritores favoráveis à arte moderna não se calaram ao conservadorismo. Mário de Andrade (1893-1945) escreveu no Prefácio interessantíssimo de seu livro Paulicea desvairada: Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório — questão de moda. Belo da natureza: imutável, objectivo, natural — tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora consciente (Rafael das Madonas, Rodin do Balzac, Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Braz Cubas), ora inconscientemente (a grande maioria) foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjectivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quizerem. Pouco me importa (ANDRADE, 1922, p. 8). Idealizada, a Semana de Arte Moderna concretiza-se entre os dias 11 a 17 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, onde foram apresentados concertos, conferências e exposições. As exposições realizadas no saguão apresentavam obras de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Almeida Prado, Vicente do Rego Monteiro, entre outros artistas. FIGURA 17 – CATÁLOGO CRIADO PELO ARTISTA DI CAVALCANTI PARA A SEMANA DE 1922 FONTE: https://www.revistaprosaversoearte.com/semana-de-arte-moderna-de-1922/ Acesso em; 12 set. 2021. 167 As conferências tratavam de assuntos em torno dos aspectos estéticos da arte no Brasil, que vinha seguindo os padrões europeus, mas necessitava de mais liberdade, como também de valorização da cultura nacional, tanto na literatura, na música, na arquitetura, na pintura, na escultura ou outra linguagem artística. A Semana de Arte Moderna foi um marco importante na história da arte brasileira, pois atuou fundamentalmente na valorização de um perfi l estético nacional, sem exterminar as técnicas e linguagens aprendidas pelos artistas na Europa ou nos Estados Unidos. A ideia era captar os conhecimentos e realinhar à linguagem e aos temas brasileiros. Era a antropofagia cultural! 3 VALOR ÀS RAÍZES NACIONAIS Em decorrência da Semana de Arte Moderna, intensifi cou-se a temática brasileira nas artes, assim como a absorção de ideias estrangeiras também motivou a valorização das raízes nacionais. Isso pode ser observado nas obras de diversos artistas que compõem essa unidade de estudo. A luta pela valorização das nossas raízes, exibindo o que é nacional ao invés dos temas clássicos dos retratos e naturezas-mortas, foi intensa. E o escritor Oswald de Andrade juntamente com outros intelectuais, escritores e artistas foram responsáveis por trazer à tona o discurso sobre o Brasil. Oswald havia passado uma temporada em Paris, em 1923, conhecendo a produção de vanguardistas europeus e, em 1924 assistiu ao carnaval na companhia de Tarsila do Amaral. Assim, enfatizou que deveria haver uma revisão cultural, iniciando pelos elementos primitivos, presentes no cotidiano brasileiro, como os europeus apresentaram no cubismo (ANDRADE; SCHWARZ, 2017). Nasce o Manifesto Pau-Brasil, que além de valorizar temas brasileiros, buscava exportar a produção cultural. Quando em 1928, Tarsila do Amaral, presenteou o então marido, Oswald de Andrade, com a obra Abaporu, originou-se o Manifesto Antropófago, um dos mais conhecidos textos do autor, que traz trechos como “nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt, ou fi gurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses” (ANDRADE; SCHWARZ, 2017, p. 54), como vemos na fi gura da Revista de Antropofagia mostrada a seguir. Para conhecer o teor da crítica de Monteiro Lobato à exposição de Anita Malfatti, acesse: https://issuu.com/jailsonsbrito/docs/paranoia_ou_mistifi cacao. INTERESSANTE 168 FIGURA 18 – REVISTA DE ANTROPOFAGIA FONTE: Andrade e Schwarz (2017, p. 43-45) Artistas, manifestos, movimentos, impulsionaram a arte a tirar a máscara europeia que estaria impregnada na face brasileira. Deve-se à coragem desses desbravadores culturais o que podemos usufruir dentro do cenário artístico e cultural do Brasil. 3.1 MOVIMENTO PAU-BRASIL Influenciado pelas vanguardas europeias e pela repercussão provocada pela Semana de Arte Moderna de 1922, Oswald de Andrade elabora em 1924 o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o qual foi ilustrado por Tarsila do Amaral. O texto inaugura o Movimento Pau-Brasil, o qual possuía um caráter nativista e defendia a exportação da poesia e cultura brasileira. Nunes (1978, p. 20) explica que “a perspectiva definida pelo Manifesto — sentimental, intelectual, irônica e ingênua ao mesmo tempo — é um modo de sentir e conceber a realidade, depurando e simplificando os fatos da cultura brasileira sobre que incide”. Desse modo, Oswald procura ressaltar no manifesto a importância das raízes brasileiras, mas também a valorização do progresso que se evidenciava naquele momento. Sua ideia era contrária ao primitivismo e pretendia combater uma visão estereotipada do Brasil, a qual era comumente retratada nas pinturas europeias. A tela “E.F.C.B.” de Tarsila do Amaral é um exemplo do que pretendia o manifesto. A pintura representa casebres e palmeiras, trazendo uma ideia de vilarejo. 169 FIGURA 19 – OBRA “ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO BRASIL”, CRIADA PELA ARTISTA TARSILA DO AMARAL EM 1924 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1617/estrada-de-ferro-central-do-brasil>. Acesso em: 24 ago. 2021. Entretanto, ao mesmo tempo, essa obra ressalta a construção da Estação Férrea Central do Brasil, apresentando carros, pontes, postes, antenas e sinalizadores, o que evidencia a industrialização no país e seu processo de modernização. 3.2 MOVIMENTO VERDE-AMARELO O Movimento Verde-Amarelo ocorre no mesmo período do Movimento Pau- Brasil, e surge como uma reação às ideias de renovação nacionalista defendidas por Oswald de Andrade. O Verde-Amarelismo, nome pelo qual também ficou conhecido o movimento, apresentava em suas concepções uma defesa maior do patriotismo, aproximando-se inclusive de ideias fascistas. Fundado em 1926 pelos escritores Plínio Salgado (1895-1975), Menotti Del Picchia (1892-1988) e Cassiano Ricardo (1895-1974), o movimento transforma-se no ano seguinte na Escola da Anta, ou Grupo Anta, tendo o ufanismo como uma de suas maiores características. O nome dado ao grupo faz referência ao caráter mítico desse animal para a cultura indígena tupi. Em 1929, é publicado o Manifesto Nhengaçu Verde Amarelo, o qual “sintetizava todo o programa que se havia desenvolvido desde a fundação do grupo ‘na obra de renovação intelectual brasileira’, três anos antes” (QUEIROZ, 2011, p. 4). Além dos ideais puramente nacionalistas, entre suas principais manifestações estava a exaltação do nativismo, ou seja, a valorização dos indígenas e o desprezo pelos povos estrangeiros; o enaltecimento das tradições históricas brasileiras; e o confronto ao sistema ideológico do Brasil daquela época. 170 3.3 MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO Enquanto o Movimento Pau Brasil propunha uma arte de exportação e ressaltava a modernização brasileira, o Movimento Antropofágico buscava devorar a cultura e as técnicas estrangeiras para reelaborá-las de modo mais legítimo e autônomo. A ideia do movimento surgiu em 1928, quando Tarsila do Amaral, na época esposa de Oswald de Andrade, pintou uma tela e a presenteou ao escritor. O título da obra foi então elaborado por Oswalde pelo poeta Raul Bopp, a qual se chamou “Abaporu”, que significa antropófago em tupi-guarani. FIGURA 20 – OBRA “ABAPORU”, CRIADA PELO ARTISTA TARSILA DO AMARAL EM 1928 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1628/abaporu>. Acesso em: 24 ago. 2021. Naquele momento surgiam as bases do Manifesto Antropofágico, cujo nome estava relacionado aos rituais antropofágicos indígenas, nos quais os índios brasileiros comiam seus inimigos na crença de que, assim, estariam incorporando suas qualidades. Assim, o movimento não negava as influências europeias, mas pretendia configurá-las de outro modo, movimentar o pensamento para então, antropofagicamente, recriá-las. Para Nunes (1978, p. 25), “os aforismos do Manifesto Antropófago misturam, numa só torrente de imagens e conceitos, a provocação polêmica à proposição teórica, a piada às ideias, a irreverência à intuição histórica, o gracejo à intuição filosófica.” 171 4 FORMAÇÃO DE SOCIEDADES, CLUBES E GRUPOS Na década de 1930 surge uma propensão à formação de grupos. Como conceitua Coelho (2014, p. 214), “é um conjunto de indivíduos reunidos ao redor de um fim comum a ser perseguido e que serve de centro ordenador das relações entre esses indivíduos, uns em relação aos outros, e entre eles e o fim buscado”. O objetivo desses grupos era discutir e defender as tendências que aproximavam seus componentes. Os grupos, formados por artistas que não tinham possibilidade de frequentar uma escola de arte, por falta de recursos financeiros e por terem que trabalhar, reuniam- se então, à noite ou aos finais de semana para discutir a arte e suas tendências. Cada grupo dividia espaços de trabalho e possuía interesses diferentes com relação às temáticas e estilos artísticos, mas havia em comum um elemento fundamental que foi o fortalecimento da arte moderna. 4.1 NÚCLEO BERNARDELLI Criado no Rio de Janeiro, em 1931, o Núcleo Bernardelli opunha-se aos métodos ultrapassados das aulas ministradas na Escola Nacional de Belas Artes. Seus artistas procuravam criar novas formas de ensino, além de promover a participação de novos artistas no Salão Nacional de Belas-Artes. Para Luz (2013, p. 139), “o Núcleo Bernardelli é a chama modernista que arde nos porões da escola, pois era lá que eles se encontravam para lecionar e aprender”. Provenientes, em sua maioria, da classe média baixa, os nucleados “trabalhavam todos os dias, o dia todo, para poder, à noite, exercitar o desenho com modelo vivo e, nos fins de semana, percorrer os subúrbios do Rio, procurando temas para seus quadros” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 98). Dentre os artistas participantes, estavam Edson Motta (1910-1981), José Pancetti (1902-1958), Milton Dacosta (1915-1988), Joaquim Tenreiro (1906-1992) e Quirino Campofiorito (1902-1993). De acordo com Luz (2013, p. 139), o funcionamento do Núcleo “era como um ateliê livre, e, consequentemente, o que nele se observa é a busca das soluções modernas em diferentes vertentes”. Diferentemente dos modernistas de São Paulo, os nucleanos buscavam seu espaço profissional na cena artística. Enquanto “os primeiros discutiam, debatiam, publicavam manifestos; os segundos expunham e lutavam para minar o edifício acadêmico” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 98). Suas atividades foram exercidas até 1942, sendo a criação de uma Divisão Moderna no Salão Nacional sua maior conquista nesse período. 172 4.2 SOCIEDADE PRÓ-ARTE MODERNA Reunindo muitas das figuras do primeiro modernismo, a fundação da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM) aconteceu em São Paulo, ao final de 1932. Com objetivos bem definidos e de notável expressividade, o movimento “propunha-se a estreitar as relações entre os artistas e as pessoas, promover exposições, concertos, conferências e instalar uma sede social” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 98). Chegando até mesmo a ser comparado pela crítica ao movimento dadaísta Cabaré Voltaire, devido ao seu caráter revolucionário, a SPAM teve sua primeira sede no Palacete Campinas, na Praça da República. Contudo, ao longo de sua formação, foram surgindo dificuldades financeiras e desentendimentos no grupo, o que ocasionou no encerramento de suas atividades. 4.3 CLUBE DOS ARTISTAS MODERNOS O Clube dos Artistas Modernos nasceu em 1933, a partir de dissidentes do SPAM. Flávio de Carvalho queria ter liberdade nos discursos, realizando então debates e conferências, com destaque para Caio Prado Junior e Mario Pedrosa (BATTISTONI FILHO, 2018). O grupo, que tinha também como componentes, Di Cavalcanti, Gomide e Carlos Prado, chegou a fazer experiências com teatro, mas com dificuldades financeiras se desfez no ano seguinte, também por não ser muito apreciado pelo regime ditador da época (ZANINI, 1983). 4.4 GRUPO SANTA HELENA O Grupo Santa Helena inicia a partir do momento em que Francisco Rebolo aluga uma sala em um imóvel chamado Palacete Santa Helena, na cidade de São Paulo, ao qual pertenciam Mario Zanini, Alfredo Volpi, Aldo Bonadei, Fulvio Pennacchi, entre outros. Em um ambiente amistoso os integrantes do grupo não tinham proximidade com as linhas de vanguarda, mas também não se rendiam ao academicismo (ZANINI, 1983). Discutiam conhecimentos e técnicas, dividiam custos com modelos vivos, faziam excursões, entre outras experiências. 5 BIENAIS DE SÃO PAULO A primeira Bienal Internacional de São Paulo ocorreu em 1951. A ideia partiu de intelectuais e de grupos de artistas que, segundo Amália e Minerini (2019, p. 79), “motivaram a organização de novos museus de arte, especialmente de arte moderna”, como o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). 173 Organizada por Francisco Matarazzo Sobrinho (1892-1977), o Ciccillo Matarazzo, como é conhecido, e com apoio de empresários de São Paulo, seu objetivo era reunir obras de artistas brasileiros e estrangeiros, expondo as tendências artísticas do pós- guerra, promovendo também o contato entre os expositores. O sucesso estava presente no Trianon da Avenida Paulista, com a participação de centenas de países, tendo milhares de obras expostas, como por exemplo obras de Pablo Picasso (1881 – 1973), René Magritte (1898 - 1967), Lasar Segall, Victor Brecheret, entre outros. Conforme Amália e Minerini (2019, p. 80), “o debate que se instalou com a primeira bienal se deu sobre arte figurativa versus arte abstrata, porque a abstração se tornou a grande novidade apresentada pela bienal paulista para os brasileiros”. O interesse afetou diversos grupos que iniciaram trabalhos abstratos, como o Atelier Abstração, fundado por Samson Flexor em 1953. Em São Paulo, o Grupo Ruptura, ao qual pertenciam Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux (1912 - 1987), Geraldo de Barros (1923 – 1988), Féjer (1923 - 1989), Leopoldo Haar (1910 - 1954), Luiz Sacilotto (1924 - 2003) e Anatol Wladyslaw (1913 - 2004), inaugurou uma exposição em dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM- SP), quando publicaram o manifesto ruptura, que defendia os aspectos formais do abstracionismo, denominando de arte concreta (AMÁLIA; MINERINI, 2019). FIGURA 21 – MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO (MAM-SP) FONTE: <http://www.conhecendomuseus.com.br/museus/museu-de-arte-moderna-de-sp/>. Acesso em: 20 set. 2021. No Rio de Janeiro, o Grupo Frente, composto por Ivan Serpa (1923 - 1973), Aluísio Carvão (1920 - 2001), Décio Vieira (1922 - 1988), João José da Silva Costa (1931 - 2014), Lygia Clark (1920 - 1988), Lygia Pape (1927 - 2004) e Vicent Ibberson (1931 - 2017). Em 1955 uniram-se ao grupo Abraham Palatnik (1928 - 2020), Franz Weissmann (1911 - 2005), Rubem Ludolf (1932 - 2010) e Hélio Oiticica (1937 - 1980), entre outros (AMÁLIA; MINERINI, 2019). 174 No ano de 1956 os grupos Frente e Ruptura fizeram juntos a primeira exposição de arte concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM – SP). No ano seguinte realizam a mostra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM – RJ) (LUZ, 2013). A Bienal de São Paulo apresentou, em 1959, conforme Tirapeli (2010a, p. 44),“obras mais livres, sem a imposição do abstracionismo absoluto”, de artistas como Manabu Mabe (1924-1997) e Tomie Ohtake (1913- 2015). Para Battistoni Filho (2018, p. 109), “a Bienal de 1959 dá o golpe de misericórdia no abstracionismo geométrico”, trazendo o tachismo (da palavra francesa tachè, mancha), com composições a partir de manchas, conduzindo ao abstracionismo informal. O Museu de Arte Moderna de São Paulo, fundado em 1949, organizou a primeira Bienal de Arte de São Paulo, em 1951, ocupando-se desse evento por dez anos, até 1962. A partir dessa data foi criada a Fundação Bienal, que organiza e promove as bienais. Em 1963, é criado o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC- USP), recebendo, para seu acervo, as obras premiadas nas bienais de São Paulo, entre obras de outras coleções. FIGURA 22 – MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (MAC–USP) FONTE: <https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/museus/museu-de-arte-contemporanea-da-usp/>. Acesso em: 20 set. 2021. A Bienal Internacional de São Paulo representa um marco na história da arte, pois inaugurou uma tradição que permanece há décadas, contribuindo para o conhecimento e difusão das tendências artísticas, podendo ser apreciada por todos os tipos de público. Conheça um pouco mais da história da Bienal Internacional de São Paulo: 175 A Bienal Internacional de São Paulo, criada pelo empresário Francisco Matarazzo Sobrinho (1892-1977) – conhecido por Ciccillo Matarazzo – em 1951, é a primeira exposição de arte moderna de grande porte realizada fora dos centros culturais europeus e norte-americanos. Sua origem articula-se a uma série de outras realizações culturais em São Paulo – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Masp (1947), Teatro Brasileiro de Comédia – TBC (1948), Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP (1949) e Companhia Cinematográfica Vera Cruz (1949) – que aponta para o forte impulso institucional que as artes recebem na época, beneficiado por mecenas como Ciccillo Matarazzo e Assis Chateaubriand (1892 - 1968). Concebida no âmbito do MAM/SP, a 1ª Bienal é realizada em 20 de outubro de 1951 na esplanada do Trianon, local hoje ocupado pelo Masp. O espaço, projetado pelos arquitetos Luís Saia e Eduardo Kneese de Mello, dá lugar a 1.800 obras de 23 países, além da representação nacional. "Devemos colocar a arte moderna do Brasil em contato vivo com o resto do mundo e paralelamente tentar conquistar para a cidade de São Paulo a posição de centro artístico mundial", dizem os organizadores do evento. A 1ª Bienal traz ao Brasil, pela primeira vez, obras de Pablo Picasso (1881 - 1973), Alberto Giacometti (1901 - 1966), René Magritte (1898 - 1967), George Grosz (1893 - 1959) etc., além de apresentar a produção brasileira de Lasar Segall (1891 - 1957), Victor Brecheret (1894 - 1955), Oswaldo Goeldi (1895 - 1961), entre outros. Os prêmios concedidos à escultura Unidade Tripartida de Max Bill (1908 - 1994) e à tela Formas de Ivan Serpa (1923 - 1973) são sintomas da atenção despertada pelas novas tendências construtivas na arte. Fundador da Hochschule für Gestaltung Ulm [Escola Superior da Forma], em Ulm (1951), Max Bill é o principal responsável pela entrada do ideário concreto na América Latina, sobretudo na Argentina e no Brasil, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A exposição do artista em 1951 no Masp e a presença da delegação suíça na 1ª Bienal, no mesmo ano, abrem as portas do país para as novas linguagens plásticas, que passam a ser amplamente exploradas. A segunda edição da Bienal, em dezembro de 1953, ocorre no parque do Ibirapuera recém-inaugurado por ocasião das comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, e cujo projeto é assinado por Oscar Niemeyer (1907 - 2012) e Burle Marx (1909 - 1994). Conhecida como a Bienal de Guernica, o célebre quadro de Picasso de 1937, a mostra conta também com Constantin Brancusi (1876 - 1957), de Giorgio Morandi (1890 - 1964) e de obras dos futuristas italianos, além de outros grandes nomes da arte moderna internacional. A Bienal de 1955, beneficiada por 46 trabalhos de Sophie Taeuber-Arp (1889 - 1943) e por 44 gravuras dos muralistas mexicanos, marca a consolidação do evento. Em 1957, a exposição conta com a presença surrealista e com a participação da obra de Jackson Pollock (1912 - 1956). 176 A 5ª Bienal (1959) é grande sucesso de público e traz como novidade, segundo o crítico Mário Pedrosa (1900 - 1981), a "ofensiva tachista e informal". Aí também é inaugurada uma área para teatro, que passa a dividir o espaço, com as mostras de filmes, com as artes plásticas e a arquitetura. Vale lembrar que em 8 de maio de 1962 é criada a Fundação Bienal de São Paulo, marcando o desligamento do MAM/SP. Desde fins dos anos 1950, o projeto cultural impulsionado pelos industriais paulistas perde força, levando a uma recomposição do meio artístico de São Paulo. Na 6ª edição, de 1961, a curadoria geral de Mário Pedrosa combina obras contemporâneas (Kurt Schwitters, 1887-1948) com retrospectivas históricas (Alfredo Volpi, 1896 - 1988). A ampliação da participação nacional e a maior representação de obras de caráter histórico valem uma série de críticas ao evento. A mostra de 1963, por sua vez, destaca-se pela grandiosidade que, a partir daí, torna-se um de seus traços característicos. No período de 1965 a 1973, a Bienal sofre de perto os efeitos do golpe militar e da repressão política no país. As participações, nacionais e internacionais, diminuem sensivelmente, o que compromete o evento (mesmo assim, a mostra de 1967 conta com representativa presença da arte pop). A oposição dos artistas à ditadura militar ganha expressão ampliada na 10ª Bienal (1969), quando, no Museu de Arte Moderna de Paris, diversos artistas e intelectuais assinam o Manifesto Não à Bienal. A partir da 14ª Bienal (1977), a exposição passa a se organizar por núcleos temáticos, no interior dos quais as obras passam a ser alocadas. Da década de 1980 em diante, os curadores se notabilizam pela definição de temas e questões que orientam a organização dos trabalhos, assim como pelas inovações museográficas. A 16ª Bienal (1981), sob a curadoria geral de Walter Zanini, tem papel importante no resgate do prestígio do evento, abalado na década anterior. Zanini organiza a mostra tendo como eixo as analogias de linguagens entre obras variadas (Núcleo 1: "Linguagens Aproximadas"). Fortalece o núcleo histórico (Núcleo 2), apresenta o acervo do Museu do Inconsciente e reconquista a participação dos artistas contemporâneos (entre esses, tem grande impacto a representação nacional, com Antônio Dias (1944), Cildo Meireles (1948), Tunga (1952), entre outros). Em 1985, a curadora da 18ª Bienal, Sheila Leirner (1948), com o auxílio de arquitetos, apresenta novas soluções para a montagem da exposição. A ideia norteadora do evento – a "grande tela" – leva a que as obras sejam expostas em três vastos corredores, com 30 cm de distância entre cada uma delas. Nos anos 1990, as mostras são organizadas com base em grandes temas, por exemplo "Ruptura com o Suporte" (1994) e "Antropofagia" (1998). Nessa década, as bienais são tomadas por espetáculos de diversos tipos: dança, teatro, música etc., o que faz delas eventos culturais mais amplos. FONTE: Adaptada de BIENAL Internacional de São Paulo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ termo905/bienal-internacional-de-sao-paulo. Acesso em: 14 set. 2021. 177 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • No início do século XX a arte brasileira ainda carregava traços da herança acadêmica do século XIX, enquanto na Europa surgiam novas possibilidades a partir de experiências individuais de alguns artistas, resultando no que definiu a arte moderna, que no Brasil ocorreu tardiamente em relação a outrospaíses. • Algumas correntes artísticas do início do século XX tiveram maior repercussão, como o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo, o abstracionismo e o surrealismo, que conquistaram artistas brasileiros, os quais enfrentaram duras críticas. • A Semana de Arte Moderna foi um marco importante na arte brasileira, dando início a um novo ciclo. A ideia de realizar o evento surgiu a partir de críticas feitas por Monteiro Lobato às exposições, inicialmente à exposição de Lasar Segall, em 1913 e, principalmente, às obras de Anita Malfatti na exposição de 1917. • Em decorrência da Semana de Arte Moderna, intensificou-se a temática brasileira nas artes, assim como a absorção de ideias estrangeiras também motivou a valorização das raízes nacionais. Assim, houve a luta pela valorização das nossas raízes, exibindo o que é nacional. • Influenciado pelas vanguardas europeias e pela repercussão provocada pela Semana de Arte Moderna de 1922, Oswald de Andrade elabora em 1924 o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, ilustrado por Tarsila do Amaral. O manifesto procura ressaltar a importância das raízes brasileiras e a valorização do progresso que se evidenciava naquele momento. Sua ideia era contrária ao primitivismo e pretendia combater uma visão estereotipada do Brasil, a qual era comumente retratada nas pinturas europeias. • O Movimento Verde-Amarelo foi fundado em 1926, pelos escritores Plínio Salgado, Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo, surgindo como uma reação às ideias de renovação nacionalista defendidas por Oswald de Andrade. O Verde-Amarelismo, nome pelo qual também ficou conhecido o movimento, apresentava em suas concepções uma defesa maior do patriotismo, aproximando-se inclusive de ideias fascistas. O movimento transforma-se no ano seguinte na Escola da Anta, ou Grupo Anta, tendo o ufanismo como uma de suas maiores características. O nome dado ao grupo faz referência ao caráter mítico deste animal para a cultura indígena tupi. • O Manifesto Antropófago teve seu nome relacionado aos rituais antropofágicos indígenas, nos quais os índios brasileiros comiam seus inimigos na crença de que assim estariam incorporando suas qualidades. Assim, o movimento não negava as influências europeias, mas pretendia configurá-las de outro modo, ou seja, movimentar o pensamento para então, antropofagicamente, recriá-las. 178 • Na década de 1930 surge uma propensão à formação de grupos com o objetivo de discutir e defender as tendências que aproximavam seus componentes para discutir a arte e suas tendências. Em São Paulo, destacaram-se o Núcleo Bernardelli, a Sociedade Pró-Arte Moderna, o Clube dos Artistas Modernos e o Grupo Santa Helena. • A primeira Bienal Internacional de São Paulo ocorreu em 1951. A ideia partiu de intelectuais e de grupos de artistas. Organizada por Francisco Matarazzo Sobrinho, com apoio de empresários de São Paulo, o objetivo era reunir obras de artistas brasileiros e estrangeiros, expondo as tendências artísticas do pós- guerra, promovendo também o contato entre os expositores. Esse primeiro evento aconteceu no Trianon da Avenida Paulista, com a participação de centenas de países, tendo milhares de obras expostas, como por exemplo obras de Pablo Picasso, René Magritte, Lasar Segall, Victor Brecheret, entre outros. • O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), fundado em 1949, organizou a primeira Bienal de Arte de São Paulo, em 1951, ocupando-se desse evento por dez anos, até 1962. A partir dessa data foi criada a Fundação Bienal, que organiza e promove as bienais. Em 1963, é criado o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), recebendo, para seu acervo, as obras premiadas nas bienais de São Paulo, entre obras de outras coleções. 179 1 A Semana de Arte Moderna foi realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, onde foram apresentados concertos, conferências e exposições. O evento foi um marco importante na história da arte brasileira, pois atuou fundamentalmente na valorização de um perfil estético nacional. Quais acontecimentos determinaram a realização do evento e qual era a intenção dos organizadores? 2 A partir da Semana de Arte Moderna outros manifestos, movimentos e grupos de artistas estavam voltados para a valorização da arte e das raízes brasileiras. Um desses manifestos foi denominado Antropófago. Descreva o que originou o Manifesto Antropófago e qual era o objetivo desse manifesto? 3 Além do Movimento Antropofágico, outros dois movimentos ou manifestos estavam relacionados ao período que sucede a Semana de 22. Sobre quais eram seus objetivos, analise as sentenças a seguir: I- Movimento Verde-Amarelo que possuía ideais puramente nacionalistas, a valorização dos indígenas, das tradições históricas brasileiras e o desprezo pelos povos estrangeiros. II- Manifesto Pau-Brasil que buscava ressaltar a importância das raízes europeias e pretendia combater as tradições do Brasil. III- Movimento Brasil-Verde que possuía ideias nacionalistas, valorizava a colonização europeia e desprezava as tradições brasileiras. IV- Manifesto Pau-Brasil que buscava ressaltar a importância das raízes brasileiras e a valorização do progresso. Sua ideia era contrária ao primitivismo e pretendia combater uma visão estereotipada do Brasil, como era retratada nas pinturas europeias. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. 4 Na década de 1930 surge uma propensão à formação de grupos. O objetivo desses grupos era discutir e defender as tendências que aproximavam seus componentes, além de haver em comum um elemento fundamental que foi o fortalecimento da arte moderna. Com relação a quais os principais grupos formados em São Paulo, assinale a alternativa CORRETA: AUTOATIVIDADE 180 a) ( ) Núcleo Bernardelli, Sociedade Pró-Arte Acadêmica, Clube dos Artistas Modernos, Grupo Santa Madalena. b) ( ) Núcleo Bernardetti, Sociedade Pró-Arte Moderna, Clube dos Turistas Modernos, Grupo Santa Madalena. c) ( ) Núcleo Bernardelli, Sociedade Pró-Arte Acadêmica, Clube dos Artistas Modernos, Grupo Santa Helena. d) ( ) Núcleo Bernardelli, Sociedade Pró-Arte Moderna, Clube dos Artistas Modernos, Grupo Santa Helena. 5 A partir da ideia de intelectuais e de grupos de artistas Francisco Matarazzo Sobrinho, com apoio de empresários de São Paulo, organizou uma bienal de arte. Em que ano ocorreu a primeira Bienal Internacional de São Paulo e qual era seu objetivo? a) ( ) Ocorreu em 1961. Seu objetivo era reunir atores brasileiros, expondo as tendências da dramaturgia do pós-guerra, promovendo também o contato entre os diretores. b) ( ) Ocorreu em 1951. Seu objetivo era reunir obras de artistas brasileiros e estrangeiros, expondo as tendências artísticas acadêmicas, promovendo também o contato entre os expositores. c) ( ) Ocorreu em 1951. Seu objetivo era reunir obras de artistas brasileiros e estrangeiros, expondo as tendências artísticas do pós-guerra, promovendo também o contato entre os expositores. d) ( ) Ocorreu em 1953. Seu objetivo era reunir obras de artistas estrangeiros, expondo as tendências artísticas do pós-guerra, promovendo também o contato entre os expositores. 181 TÓPICO 3 - ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL: PANORAMA DO SÉCULO XXI 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 3, seguiremos mais adiante pelo caminho da história da arte brasileira. Percorrendo seus meandros, já atravessamos alguns séculos e vimos quanta riqueza foi construída. Se na passagem do século XIX para o século XX as mudanças econômicas e sociais estimularam o rompimento de tradições acadêmicas, o século XXI já inicia com uma diversidade de avanços tecnológicos, semeados por todo o século anterior. Esses avanços muito contribuíram para facilitar o cotidiano e oferecer um novo panorama às artes. Os artistas passama apropriar-se das novas tecnologias para materializar suas concepções. Nesse sentido, Coli (2011, p. 117) expõe que “as regras do jogo artístico evoluem com o tempo, envelhecem, transformam-se nas mãos de cada artista”, enfatizando que tudo na arte é “mutável, complexo, ambíguo e polissêmico”, seja no fazer do artista ou na apreciação do espectador. Ao apreciar uma obra de arte contemporânea, o espectador pode sentir incômodo, estranheza e outras reações de impacto. Mesmo que a obra lhe pareça indiferente, a arte dará alguma resposta, pois ela comunica. Ainda que diante da negação, a arte comunica no sentido da origem da palavra: tornar comum. Como expõe Canton (2011a, p. 9), “[...] hoje a arte faz por si só essa aproximação, misturando cada vez mais questões artísticas, estéticas e conceituais aos meandros do cotidiano em todas as instâncias: o corpo, a política, a ecologia, a ética [...]”. A autora esclarece que a arte nos ensina a desaprender sobre as coisas óbvias, além de despertar olhares críticos e nos provocar para novos desafios e possibilidades. Vamos visitar mais alguns momentos da arte, agora mais próximos, na contemporaneidade, e imaginar como continuará essa trilha, iniciada há milhares de anos, pelos nossos antepassados. 2 PRODUÇÃO ARTÍSTICA DO SÉCULO XX O século XX foi marcado por diversos acontecimentos sociais, políticos, científicos, econômicos, que influenciaram a produção artística, como vimos nos tópicos anteriores. E sabemos que não há como falar de arte sem recorrer a algumas referências da história do Brasil e do Mundo. UNIDADE 3 182 Nesse sentido, a produção de arte está relacionada ao cenário de seu próprio tempo. Para Coli (2011, p. 30), “alargando mais ainda o campo do conceito, descobrimos que as diversas épocas constroem uma espécie de pano de fundo estilístico comum às obras, por diferentes que sejam”. A própria temática, os materiais, a formação de grupos, manifestos, ocorrem de acordo com o contexto vivido. Durante o século XX, no Brasil, podemos perceber a formação desses movimentos em torno da arte, que captura para si a responsabilidade sobre a consciência dos acontecimentos. A arte se torna maior que o próprio artista, ao ponto de ser sua imagem. Conhecemos Tarsila por seu “Abaporu” ou Portinari por seus “Retirantes”. O artista tem a marca da obra por sua força. Nessa perspectiva, o movimento artístico brasileiro constrói sua história sobre rupturas e enfrentamentos que seguem o traçado da Semana de Arte Moderna, para expandir cada vez mais o sensível campo da arte. 2.1 EXPERIMENTAÇÕES VISUAIS A arte contemporânea possui como característica principal a tendência às experimentações, tanto no que diz respeito aos materiais quanto às linguagens. Utilizando-se dos mais diversos suportes, comunica sentidos por meio de temas que muitas vezes causam desconfortos aos espectadores. Para Canton (2011b, p. 35), “no emaranhado disperso da vida cotidiana, afinal procuramos o eu através do outro, rastreamos nossas histórias e abrimos nossos diários íntimos na tentativa de nos oferecer verdadeiramente para o mundo”. Para a autora, os artistas contemporâneos procuram justamente a troca genuína de memórias e sentidos. Pode-se dizer que a arte contemporânea, com raízes nas correntes surgidas na Europa à época da Primeira Guerra Mundial, como por exemplo o dadaísmo, se estabelece após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, o interesse dos artistas em movimentar a arte contemporânea ocorreu no início da década de 1950 com a arte concreta, estimulada pela primeira Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, e rompendo com a arte figurativa do modernismo brasileiro. No início da década de 1960 novos materiais surgiram na arte brasileira, principalmente nas obras de Amilcar de Castro (1920-2002), com ferros dobrados e recortados, e Maria Bonomi (1935-), com placas de concreto, como podemos ver na imagem que segue (TIRAPELI, 2010a). Artistas como Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988) experimentam, além de novos materiais, novas propostas que muitas vezes envolvem a participação do espectador. 183 FIGURA 23 – OBRA “EPOPEIA PAULISTA”, CRIADA PELA ARTISTA MARIA BONOMI EM 2004 FONTE: Tirapeli (2010b, p. 68) Bonomi utilizou matrizes de xilogravuras, ou seja, madeiras em que gravou suas criações, adicionou objetos e, em uma obra coletiva que remonta a literatura de cordel, faz homenagem às pessoas que passam diariamente pela Estação da Luz, em São Paulo. Estimulados pela infl uência da televisão e pela obra de um dos pioneiros dessa arte, como o sul-coreano Nam June Paik (1932-2006), no início dos anos 1970 surge a videoarte. Utilizando como elemento principal o vídeo, artistas como Antonio Dias, (1944-2018), Ivens Machado (1942-2015) e José Roberto Aguilar (1941-) desenvolvem expressões estéticas a partir de novas tecnologias. Para conhecer um pouco mais dos mistérios da gravura na obra e na voz da artista Maria Bonomi, acesse em: https://www.youtube.com/ watch?v=HFAByQ6dmbg. DICA Conheça o vídeo que traz informações sobre o desenvolvimento da videoarte, bem como alguns trechos de obras de artistas que utilizaram esse suporte. Acesse em: https://tvbrasil.ebc.com.br/midia-em-foco/2018/08/videoarte. DICA 184 A década de 1980 foi marcada pelo fi m da ditadura em 1985, a anistia, o movimento pelas eleições diretas para presidente da república e a Constituição Federal de 1988. Todos esses eventos promoveram no Brasil um novo horizonte político, econômico e social. A abertura de um novo tempo, com novas possibilidades, fervilhava nas artes, agora com o consentimento e a aceitação do novo. A chamada geração 80, inspirada na obra de artistas Europeus, como Joseph Beuys (1921 – 1986), do Grupo Fluxus, que propõe materiais como feltro e cera. Nesse sentido os brasileiros incluem também outros materiais e objetos de uso cotidiano para criar texturas em suas composições. Principalmente nos anos 1990, com o desenvolvimento tecnológico, os meios digitais e a facilidade de edição, a videoarte incorpora-se cada vez mais às experiências artísticas. Esse suporte dinâmico, perene ou efêmero, possibilita encontros e desencontros nas relações entre espaço e tempo, proporcionando ao espectador uma visão mágica e estésica. Com o avanço tecnológico intensifi cam-se as possibilidades no campo artístico mundial e, com a globalização, o atraso que ocorria nas décadas anteriores entre o que acontecia em outros países e no Brasil, extinguiu-se. O tempo é o mesmo em todo o planeta. As notícias são imediatas, os acontecimentos, como o 11 de setembro, são mostrados ao vivo pela televisão, ainda que provoquem impactos arrasadores. Nessa direção, mais do que a inovação tecnológica ou possibilidades materiais, os temas políticos e sociais são expostos nas experimentações artísticas. Vamos conhecer mais sobre a videoarte? Assista ao vídeo Corpo & anima de Antonio Dias: https://www.youtube.com/ watch?v=yjHSSqEWmN4. Você poderá assistir ao documentário sobre a trajetória de Antonio Dias. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=XUpjwCKF_ts. INTERESSANTE O professor de Filosofi a Celso Favaretto esclarece sobre o que é arte. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI. DICA 185 2.1.1 Arte Concreta A arte concreta surge no Brasil com o manifesto do Grupo Ruptura, inspirado no abstracionismo formal, como o neoplasticismo, que valorizava as composições geométricas organizadas e teve como um de seus precursores o artista holandês Piet Mondrian (1872-1944). O Grupo Ruptura defendia, conforme Luz (2013, p. 144) “o esgotamento histórico do método de representar três dimensões no espaço plano de duas dimensões”, como demonstrado na obra de Waldemar Cordeiro (1925-1973), na figura seguinte: FIGURA 24 – OBRA “CONTRADIÇÃO ESPACIAL”, CRIADA PELO ARTISTA WALDEMAR CORDEIRO EM 1958 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento630502/waldemar-cordeiro-fantasia-exata>. Acessoem: 20 set. 2021. O artista desenvolveu a teoria que buscava o efeito ótico na construção bidimensional dos objetos (LUZ, 144). Em 1954, defendendo o neoconcretismo, é fundado no Rio de Janeiro o Grupo Frente, que propunha mais flexibilidade para o abstracionismo, com mais liberdade na concepção artística (LUZ, 2013). Desse grupo participavam artistas como Ivan Serpa (1923-1973), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004). Integraram-se mais tarde, Franz Weissmann (1911-2005), Hélio Oiticica (1937-1980) e Abraham Palatnik (1928-2020). Lygia Clark, com seus bichos produzidos em metal, buscava o equilíbrio entre o bidimensional e o tridimensional e convidava o público a interferir nas formas, como na obra mostrada na imagem seguinte: 186 FIGURA 25 – OBRA “BICHO”, CRIADA PELA ARTISTA LYGIA CLARK EM 1960 FONTE: <https://www.wikiart.org/pt/lygia-clark/bicho-1960>. Acesso em: 20 set. 2021. Para Konell (2021, p. 88), essa série criada pela artista, na qual utiliza placas de metal polido unidas por dobradiças “confi guram como uma existência poética que se movimenta no espaço a partir da participação do público. Diante da obra, o sujeito se sente estimulado a movimentar e transformar o objeto, para potencializar sensações de estranhamento sobre o organismo vivo criado”. Hélio Oiticica também foi um importante representante da arte contemporânea brasileira. O artista propõe inovações e questionamentos sobre seu próprio trabalho e, como afi rma Luz (2013, p. 147-148), “rompe com a proposta, por considerar os Metaesquemas ainda presos ao concretismo”. Oiticica propõe os Penetráveis, em que o espectador interferia no espaço. Mais tarde, os Bólides, “cuja intenção era despertar o fruidor de uma atitude passiva e contemplativa para outra, ativa e de participação” (LUZ, 2013, p. 148). Artista inquieto, Oiticica propõe os Parangolés, espécie de capas coloridas, vestidas pelos espectadores, que agora são o suporte de sua obra e dão movimento às cores. Assista ao vídeo para conhecer os “Parangolés” de Hélio Oiticica. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=iaQBW7FitQE. DICA 187 Outras obras, como Bilaterais e Relevos espaciais, já convidavam o espectador a sair de seu lugar para atuar na própria obra, deixando-se envolver pelos sentidos. Já Franz Weissmann “persegue uma estética que privilegia a ordenação das formas em seus princípios regulares, na repetição de elementos e na cadência dos vazados, provocando ritmos e atuando na plástica da representação espacial” como afi rma Luz (2013, p. 151), consolidando assim as tendências do construtivismo no Brasil. Amílcar de Castro defende a teoria de que o plano é o ponto de partida e, como relata Luz (2013, p. 152), “passa a recortá-lo e a efetuar seus rebatimentos, para fazer nascer a terceira dimensão”, como apresenta em suas obras. FIGURA 26 – OBRA “SEM TÍTULO” CRIADA PELO ARTISTA AMÍLCAR DE CASTRO EM 1948 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra63823/sem-titulo>. Acesso: 19 set. 2021. Castro repete formas em posições diferentes em suas composições e realiza cortes e dobras em suas placas, transformando-as do formato bidimensional para uma escultura tridimensional. Assista ao vídeo “O vazio como forma”, para conhecer as esculturas de Franz Weissmann. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=zvBxJhyziZg. DICA 188 2.1.2 Arte Cinética A arte cinética possui raízes no concretismo e surgiu nas primeiras décadas do século XX, quando alguns artistas como Marcel Duchamp (1887-1968) e Naum Gabo (1890- 1977) passaram a enfatizar movimentos mecânicos em suas obras (KINDERSLEY, 2012). No Brasil, Abraham Palatnik destaca-se como pioneiro na arte cinética. Para Zanini (1983, p. 658), o artista “soube desenvolver, relacionando em sua obra a base teórica e a qualidade da percepção sensível”. As obras do artista apresentam movimento de peças com formas diversas, ligadas por condutores presos a bases, geralmente confeccionadas em madeira. Palatnik projeta seus trabalhos com rigor, como visto nas figuras a seguir: FIGURA 27 – ESTUDOS PARA OBRAS, ABRAHAM PALATNIK FONTE: Acervo das autoras FIGURA 28 – OBRA “OBJETO CINÉTICO” DE ABRAHAM PALATNIK, 1964 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35066/objeto-cinetico>. Acesso em: 19 set. 2021. 189 O artista também possui alguns trabalhos confeccionados em papel, que produzem sensações ópticas de movimento e cores. 2.1.3 Pop art O Pop art foi um movimento que surgiu na Inglaterra, em 1956, seguido pelos Estados Unidos e que tinha a intenção de criticar o capitalismo e o excesso de consumo, tendo representação mais conhecida nas obras de Andy Warhol (1928-1987) e Roy Lichtenstein (1923-1997). Algumas obras dos brasileiros Rubens Gerchman (1942-2008) e Cildo Meireles (1948-) imprimem características pop. Como o Projeto Coca-cola, em que Meireles escreve mensagens na superfície de garrafas retornáveis, como podemos apreciar na figura seguinte: FIGURA 29 – OBRA “PROJETO COCA-COLA” CRIADA PELO ARTISTA CILDO MEIRELES EM 1970 FONTE: <https://cutt.ly/CEK3Zt6>. Acesso em: 20 set. 2021. Sobre a produção de Meirelles, Luz (2013, p. 177) expõe que “a obra não está no mercado de arte, nem nos museus ou galerias: está no próprio meio, tornando- se mensagem de seu protesto”, da mesma forma que realiza em “Zero Cruzeiro”. Podemos observar que a obra de Meirelles também carrega traços de outras correntes contemporâneas, como visto neste tópico. Aprecie outras obras de Cildo Meireles, esse importante artista brasileiro. Acesse em: https://www.wikiart.org/pt/cildo-meireles. INTERESSANTE 190 2.1.4 Arte conceitual Surgiu nos anos 1960, “como um desafi o às classifi cações impostas à arte por museus e galerias”, como afi rma Vanderloo (2011, p. 500). Uma das principais referências da arte conceitual é Joseph Kosuth (1945-), que provoca o espectador com suas obras trazendo o conceito como princípio básico. No Brasil, destacam-se Cildo Meireles (1948-), Nelson Leirner (1932-2020), Antonio Manuel (1947-), entre outros. Antonio Manuel, cuja obra está no vídeo seguinte, buscava em jornais, imagens e notícias em que interferia com seu pensamento crítico, adicionando ou retirando elementos. FIGURA 30 – OBRA “A REBELIÃO DOS ANIMAIS” CRIADA PELO ARTISTA NELSON LEIRNER EM 1973 FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra65484/rebeliao-dos-animais>. Acesso em: 21 set. 2021. A arte conceitual tem fundamental importância, por impulsionar, principalmente, as instalações e a arte performática. Assista ao vídeo para conhecer a obra de Antonio Manuel. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=MBxw1K95-tw. DICA 191 2.1.5 Instalações A proposta da instalação é trabalhar com objetos e materiais utilizados em contextos diversos, principalmente da vida cotidiana. Esses elementos, modifi cados ou não, conforme o imaginário do artista, são apresentados com outro conceito, provocando estranhamento e refl exão no público. Alex Vallauri (1949-1987) expôs em 1985, na Bienal Internacional de São Paulo, a instalação “A Festa da Rainha do Frango Assado”. A obra ocupava 88 m2 e era composta por objetos do cotidiano, grafi tados com estampa de pele de onça. A crítica irônica ao consumo, ao excesso e ao fútil caracterizava o trabalho do artista. Cildo Meireles é um dos artistas mais conhecidos no Brasil, por suas instalações. A obra “Desvio para o vermelho”, criada em 1967, foi montada em versões diferentes desde 1984. Outra obra de Cildo Meireles, cujo título é “Através”, que está exposta no Instituto Inhotim, provoca o público a percorrer seus caminhos em forma de labirinto. FIGURA 31 – OBRA “ATRAVÉS”, CRIADA PELO ARTISTA CILDO MEIRELES EM 1983-1989 FONTE: <https://www.inhotim.org.br/en/item-do-acervo/atraves/> Acesso em: 20 set. 2021. Para conhecer um pouco mais da obra apresentada por Vallauri na 18a Bienal Internacional de São Paulo, em 1985, assista o vídeo em: https://www. youtube.com/watch?v=CFRN-C0_-wI. DICA192 Essa obra apresenta uma variedade de materiais, entre eles tecido, tela, rede, plástico, cerca, papel, arame, vidro, grade de prisão e madeira, convida o público a penetrar seus espaços a fim de provocar diferentes percepções sensitivas. Segundo Konell (2021, p.176), “os diferentes tipos de obstáculos evidenciam o quanto é necessário que o público/participante seja cauteloso em sua fruição”. Na arte contemporânea o público é levado a uma possibilidade participativa, que vai além da concepção de espectador, no qual ele também, muitas vezes, se torna parte da obra. Outra característica das instalações é a efemeridade. A maioria das obras possui tempo de duração de acordo com o período estabelecido para a mostra. Essa característica também é muito perceptível nas performances. 2.1.6 Performances As performances são combinações de linguagens artísticas diversas, podendo transitar pelo teatro, artes, visuais, música e dança. Essa linguagem nasceu na década de 1960, por artistas que não queriam usar somente objetos para fazer arte, mas sim, queriam explorar a relação do corpo com o espaço. Para Rosa e Rosa (2015, p. 51) “em uma performance, o artista utiliza o corpo para interagir com o público e ambiente em tempo real: a obra é a ação proposta pelo artista. Há, em geral, liberdade para imprevistos, mesmo com o planejamento do que o artista fará ou com uma reação já esperada do público”. O artista Maurício Ianês (1973) criou a performance “A bondade dos estranhos”, no qual ele morou por treze dias dentro do pavilhão da Bienal de Arte de São Paulo, no ano de 2008. FIGURA 32 – OBRA “A BONDADE DOS ESTRANHOS”, CRIADA PELO ARTISTA MAURÍCIO IANÊS EM 2008 FONTE: <https://entretenimento.uol.com.br/album/mauricio_ianes_bienal2_album.htm#fotoNav=21>. Acesso em: 21 set. 2021. 193 Essa performance consistia em esperar que pessoas estranhas doassem ao artista qualquer coisa para que ele pudesse sobreviver por aqueles dias. Assim, ao analisar a imagem da performance apresentada pode-se verificar a quantidade de objetos que foi doado a ele. 2.1.7 Grafite O grafite, arte ligada ao movimento hip hop, surgiu na década de 1970 na periferia de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde no final dos anos 1970 o artista Jean-Michel Basquiat (1960-1988), começou a fazer intervenções em paredes. Nos anos 1980 foi a vez de Keith Haring (1958-1990) inserir sua marca nos muros americanos. A proposta do grafite, para Canton (2011b, p. 43), é a “experiência estética e de fluidez, por ser a arte do movimento, que se modifica junto com o dia a dia da cidade”, pois é uma arte pública, exposta nas paredes e muros. No grafite brasileiro, destacam-se Os Gêmeos (1974-), Eduardo Kobra (1975-), Crânio (1982-), entre outros. Os Gêmeos, Gustavo e Otávio Pandolfo costumam representar cenas do cotidiano de forma lúdica. Já Fabio de Oliveira Parnaiba, conhecido como Crânio, realiza trabalhos de grafite, apontando temas políticos e sociais, com destaque para a questão indígena. E Eduardo Kobra realizou diversos murais de grandes dimensões pelo mundo, como mostrado na figura seguinte: FIGURA 33 – OBRA DE EDUARDO KOBRA EM PRÉDIO DA CIDADE DE SÃO PAULO FONTE: Acervo das autoras 194 O grafite é uma expressão voltada ao público que circula no cotidiano das cidades e pode apreciar gigantescas obras cheias de vida e cor. Muitas vezes essas obras são um retrato verdadeiro da sociedade. 3 HIBRIDISMO DO SÉCULO XXI O século XXI apresenta o chamado hibridismo como tendência, ou seja, não há mais a necessidade uma linguagem, técnica, meio ou expressão pura, que deva obedecer a um estilo. Os híbridos, conforme Teixeira Coelho (2014, p. 128) “são parteiros da cultura emergente, tornam-se pontes privilegiadas entre o latente e o patente”. A arte no século XXI, carrega em si, múltiplas linguagens e meios, desfazendo paradigmas, conceitos e concepções endurecidos e flexibilizando ordens e regras. Muitos artistas iniciaram suas trajetórias ainda no século XX e suas produções adentraram este século, como é o caso dos artistas da “Geração 80”, que movimenta a arte a enxergar um novo horizonte, com liberdade de expressão. Daniel Senise (1955), Leonilson (1957 – 1993), Maurício Bentes (1958 – 2003), Ricardo Basbaum (1961), Leda Catunda (1961), entre outros, que participaram da exposição “Como vai você, geração 80”. Esses movimentos foram referências tanto para a compreensão como para a expansão da arte brasileira no século XXI. Em “Cidade cinza – Os Gêmeos”, você poderá conhecer um pouco mais sobre o universo do grafite e o percurso dos artistas. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI. No vídeo “Os Gêmeos – Segredos”, podemos fazer uma visita guiada pelos artistas irmãos, Otávio e Gustavo Pandolfo, por sua exposição na Pinacoteca em 2021. https://www.youtube.com/watch?v=_fRTGMnZ3xk&t=3s. E, também em sua própria página na Internet: http://www.osgemeos.com.br/pt Conheça mais do artista Eduardo Kobra, acesse em: https://www.eduardokobra.com/. Sobre o trabalho de Crânio, acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=Uvq1WHtn_PM. DICA 195 FIGURA 34 – OBRA “SANTOS”, CRIADA PELA ARTISTA LEDA CATUNDA EM 2012 FONTE: Acervo das autoras Canton (2011c, p. 51) reforça que “os sentidos, na obra dos artistas contemporâneos, não estão prontos, mas se configuram no acontecimento, isto é, na construção das múltiplas relações que acontecem entre a obra e o observador”. O novo caminho da arte é híbrido, pois há escolhas para os fazeres, as criações e as poéticas. 3.1 INTERVENÇÕES E MATERIALIDADES Na contemporaneidade, cada vez mais a arte se distancia de retratar o real, mas ao mesmo tempo aproxima-se da realidade cotidiana por meio de intervenções feitas em espaços públicos de diversas cidades. O artista contemporâneo pode deixar para o tempo e o espaço urbano a tarefa de continuidade. Esse aspecto pode ser visualizado, por exemplo, na obra de Sandra Cinto (1968). FIGURA 35 – OBRA “SEM TÍTULO”, CRIADA PELA ARTISTA SANDRA CINTO EM 2001, INSTALADA NA RUA DA QUITANDA EM SÃO PAULO FONTE: Acervo das autoras 196 Nessa obra a cama é a referência de espaço e tempo. De parada e reflexão. Para Amália e Minerini (2019, p 115), “a arte contemporânea é um território amplo, fértil, instável e aberto. Por conta disso é que coexistem tantas vertentes, técnicas, poéticas, linguagens e o que mais os artistas quiserem”. É possível deixar a própria marca do artista e a identidade de seu tempo nos lugares e nas coisas, para traduzir um tempo vivido. Como na obra de Rosana Paulino (1967), mostrada na figura a seguir: FIGURA 36 – OBRA “A PERMANÊNCIA DAS ESTRUTURAS”, CRIADA PELA ARTISTA ROSANA PAULINO EM 2017 FONTE: Acervo das autoras O trabalho da artista reflete a política contemporânea e atribui a tarefa da crítica social à obra de arte, pois discute questões de gênero, étnicas e, também sociais. No Brasil, nos últimos anos, muitos outros artistas foram responsáveis pela materialização de sentidos em suas obras, como por exemplo Adriana Varejão (1964), Beatriz Milhazes (1960), Vik Muniz (1961), Tunga (1952 - 2016), Nuno Ramos (1960), entre muitos outros. É importante destacar que no decorrer do tempo a arte sofre modificações em vários aspectos, como em suas linguagens, funções, materiais, padrões estilísticos, como vimos em nossos estudos. A partir dessas pistas você pode investigar e descobrir muito mais sobre a capacidade de comunicação dos objetos estéticos, suas relações com o espectador em diversas épocas e contextos políticos e sociais. 197 Para Rosa e Rosa (2015. p. 63) a arte nunca termina e em nosso tempo ela pode ser percebida como: [...] intensa, dinâmica e global. Nesse exato momento, há um artista criando mais um experimento artístico. A arte não se esgota no espaço e no tempo – ela é reinventada, inúmeras e infinitas vezes. Saber apreciá-la e compreender as diferentes práticas artísticas também é fazer parte do mundo da arte. O mais importanteé não somente ver, mas usar a arte para refletir sobre o nosso mundo, nossa sociedade e nossa própria vida. A arte contemporânea busca explorar os sentidos de quem a cria e do público, bem como instiga o pensar, o refletir, para possibilitar descobertas, ou seja, novas formas de ver, de ouvir, de imaginar, de sonhar, de criar. Siga em frente e bons estudos! 198 ARTE CONTEMPORÂNEA E MEIO AMBIENTE NO MUSEU INHOTIM Maria Lúcia Wochler Pelaes Norberto Stori ORIGEM DO MUSEU O Museu Inhotim localiza-se no município de Brumadinho, no Estado de Minas Gerais, Brasil. Foi anteriormente uma fazenda que pertencia a uma empresa mineradora que, no século XIX, atuava na região, cujo administrador era um inglês, de nome Timothy - o "Senhor Tim", que, na linguagem local, acabou virando "Nhô Tim" ou "Inhô Tim", de onde deriva o nome do museu. Conforme informações extraídas do site http://www.inhotim.org.br, o Museu Inhotim: “[...] se transformou, com o tempo, tornando-se um lugar singular, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes”. A partir de 2006, o local foi aberto ao grande público em dias regulares. São cerca de quatrocentos e cinquenta obras de artistas brasileiros e estrangeiros, com destaque para trabalhos de Cildo Meireles, Tunga, Hélio Oiticica, Matthew Barney, Doug Aitken, Chris Burden, Yayoi Kusama, Paul McCarthy, Zhang Huan, Valeska Soares, Marcellvs e Rivane Neuenschwander. As exposições são sempre renovadas e as galerias são anualmente inauguradas. Em 2010, o Instituto recebeu 42.000 alunos e 3.500 professores. No mesmo ano, o número de visitações atingiu a marca de 169.289 (cf. site http://www.inhotim.org.br). CARACTERÍSTICAS O Museu Inhotim é estruturado como um complexo arquitetônico constituído por uma sequência não linear de galerias e obras de arte, em meio a um parque ambiental, apresentando iniciativas multidisciplinares, abrangendo as áreas de arte, meio ambiente, pesquisa e educação, caracterizando-se como um local que rompe com a estrutura arquitetônica e o modo de visitação dos museus convencionais. As obras estão expostas em espaços fechados ou abertos dialogando diretamente com o meio ambiente nas diversas linguagens artísticas, como esculturas, instalações, in situ, ambientes sonoros, vídeos, instalações, fotografias, vídeos performáticos etc. Ampliando o conceito, Cacilda Teixeira Costa afirma: LEITURA COMPLEMENTAR 199 Podem incluir a performance, o objeto, o vídeo [...] obras cinéticas, numa proposta de integração da obra com o espaço onde se encontra. Tornam o espaço ativo a partir de tensões e relações que se estruturam entre as peças que o compõem. O que define uma instalação é justamente a transformação que se opera num espaço que, mais que abrigá-la, também a constitui (COSTA, 2004, p. 63). Essa ambientação de espaços fechados e abertos permite que o espectador tenha uma fruição mais direta com relação à obra e o espaço, convivem e interagem com o ambiente construído e o natural, que é a reserva florestal composta por lagos, trilhas e montanhas, caracterizada como um polo de pesquisa da biodiversidade botânica. FIGURAS – GALERIA DA ARTISTA ADRIANA VAREJÃO, PANACEA PHANTASTICA, 2003 – 2008 FONTE: Fotos de Maria Lúcia Wochler Pelaes (julho de 2015) Dentro das galerias também há uma proposta contemporânea de diálogo entre a obra e o local onde está inserida, sugerindo ao espectador, leituras ora subjetivas, ora ocultas, que foram concebidas para estimular os sentidos e provocar significados diversos, presumindo uma abordagem inicialmente lúdica e espacial, e, posteriormente, cognitiva e interpretativa. É importante ressaltar que parte das obras expostas ao ar livre, é feita, basicamente, de aço Corten ou Inox, tais como as obras “Gigante Dobrada” (2001) de Almícar de Castro e “Inmensa” (1982- 2002) de Cildo Meireles, que, além de serem muito resistentes às condições atmosféricas, correspondem à natureza do ambiente local, quanto a ter sido, originalmente, local de extração de minérios. FIGURAS – OBRAS “GIGANTE DOBRADA” (2001) DE AMÍLCAR DE CASTRO E “INMENSA” (1982- 2002) DE CILDO MEIRELES FONTE: Fotos de Maria Lúcia Wochler Pelaes (julho de 2015) 200 No Museu Inhotim, a arte contemporânea tem o meio ambiente como um interlocutor e as estruturas arquitetônicas compõem o cenário, apresentando espaços expositivos em seu interior. A visitação ocorre através das alamedas e pavilhões, configurados como galerias de arte. Tal estrutura museológica subverte o sistema de visitação convencional e, numa trajetória não linear, convida seus interlocutores a observarem as obras em meio ao ambiente natural e dispostas em galerias, dentro de pavilhões que também são obras arquitetônicas. FIGURA – IMAGEM DA GALERIA DA MATA FONTE: Foto de Maria L. W. Pelaes (julho de 2015) A propriedade particular tornou-se espaço cultural de arte contemporânea e acervo botânico com influência de grandes nomes da arte e do paisagismo, como Roberto Burle Marx. As obras de arte e a arquitetura das galerias, que de tempos em tempos são atualizadas, de acordo com a curadoria do museu. Assim começava a nascer um grande espaço cultural que tem ainda um rico acervo botânico, com coleções de diferentes partes do Brasil. SELEÇÃO DE OBRAS EXPOSTAS NO MUSEU INHOTIM Neste item são apresentadas algumas obras expostas no museu Inhotim, seguidas de comentários e dos registros fotográficos desenvolvidos na pesquisa de campo realizada no Museu Inhotim, como já foi citado na introdução deste artigo. Tais obras foram selecionadas tendo por escopo a análise de uma estética que correlaciona o conteúdo, composto pelos significados e o significante das obras (estrutura física e material), com o meio ambiente natural, caracterizado como referente inicial para tais produções. Nessas obras, o espectador entra em seu espaço, a fim de fruir sua poética, a partir das referências que possui, de tal forma que tanto as obras quanto o espectador convivem e interagem com o ambiente natural, composto por uma reserva florestal. 201 A ocupação espacial de Hélio Oiticica (1937 -1980), figuras 27, 28 e 29, em pleno ar livre, criada com planos geométricos coloridos, permite ao fruidor observar e criar espaços cromáticos dos elementos da obra com a paisagem natural. Há um cromatismo presente na relação espacial entre formas e cores. Ortogonalmente instaladas, as paredes configuram-se em diferentes possibilidades visuais, compondo perspectivas plásticas geométricas. FIGURAS – HÉLIO OITICICA, COM NOVE PAREDES COLORIDAS, NA OBRA “INVENÇÃO DA COR - PENETRÁVEL -MAGIC SQUARE # 5- DE LUXE” (1977) FONTE: Fotos de Maria Lúcia Wochler Pelaes (julho de 2015) Na Instalação/Intervenção “Troca-Troca”, de Jarbas Lopes (1964), figuras 30 e 31, elaborada com a composição de três Fuscas que foram utilizados numa viagem realizada por Jarbas Lopes, autor da obra, e seus amigos, viagem a qual foi finalizada em Inhotim. Nessa instalação/intervenção o artista utilizou cores vibrantes nas pinturas dos carros, trocando para-choques, portas e outras partes da lataria, dos referidos carros, com o objetivo de brincar com o imaginário do observador. Neste “Troca-Troca” em Inhotim, as possibilidades lúdicas e plásticas transformam a funcionalidade dos carros em objetos artísticos, transformando-se, ao olhar do espectador, numa intervenção na paisagem. FIGURAS – INSTALAÇÃO/ INTERVENÇÃO “TROCA-TROCA” (2002) DE JARBAS LOPES FONTE: Fotos de Maria Lúcia Wochler Pelaes (julho de 2015) A obra “Vegetation Room Inhotim” de Cristina Iglesias, assemelha-se a um labirinto irregular que permite a passagem do observador que se vê refletido nas placas de aço inox polido que incorporam paredes de textura irregular. A instalação apresenta grandes dimensões e está incrustada na mata. O observador pode efetuar a fruição da obra através da interação do seu corpo ao corpo da obra,numa composição orgânica viva e dinâmica. 202 FIGURAS – OBRA “VEGETATION ROOM INHOTIM” (2010) DE CRISTINA IGLESIAS FONTE: Fotos de Maria Lúcia Wochler Pelaes (julho de 2015) CONSIDERAÇÕES FINAIS A arte apresentada em museus é fator resultante das necessidades do contexto, de tal forma que em cada período, há um estilo diferente de abordar a arte, enquanto objeto de estudo. As concepções atuais, apesar de suas múltiplas origens, diferem- se das anteriores segundo as mudanças históricas na sociedade e dentro do sistema artístico, que passou a preconizar a fruição estética como objetivo, principalmente nas atividades relacionadas à arte. O contexto social, cultural e econômico modificou-se, segundo as mudanças políticas que ocorreram no mundo, de forma a alterar os rumos da arte, como também de forma a estabelecer metas que buscaram, inicialmente, a expressão livre e, posteriormente, a arte como conhecimento. Essas mudanças não foram fortuitas e nem apenas intrínsecas, mas criaram implicações políticas que influenciaram a arte e foram influenciadas por ela. Considera-se que a arte e o meio ambiente integram-se no Museu Inhotim, refletindo uma crescente necessidade pela busca de um espaço de expressão da criatividade e de estímulo à sensibilidade estética, onde possa haver a construção de conhecimento estético e a liberdade de expressão entendidas como possibilidades de criação e desenvolvimento da imaginação além dos “moldes” do conhecimento artístico pré-estabelecido. Conviver com obras de arte, assim como aprender a respeitar e a apreciar o meio ambiente natural, são importantes iniciativas, num processo de construção cultural, dentro das relações sociais. Toda ação que permita ou estimule o encontro 203 da sensibilidade humana com a arte é válida! O aguçamento da sensibilidade estética favorece a humanização, pois implica parar, pensar e refletir sobre um fenômeno, um objeto artístico, uma ação ou fato que pode estar numa instância exterior ou interior. Fora ou dentro de nós, o fenômeno estético manifesta-se num eterno pensar sobre a realidade que nos cerca. FONTE: Adaptada de <https://web.ua.es/es/revista-geographos-giecryal/documentos/pydes-22-wochler-2.pdf>. Acesso em: 29 set. 2021. 204 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O século XXI inicia com uma diversidade de avanços tecnológicos, semeados por todo o século anterior. Esses avanços facilitaram o cotidiano e ofereceram um novo panorama às artes. Os artistas passam a apropriar-se das novas tecnologias para materializar suas concepções. • A arte contemporânea possui tendência às experimentações de materiais e linguagens para comunicar sentidos por meio de temas que muitas vezes causam desconfortos ao público. • No Brasil, o interesse dos artistas em movimentar a arte contemporânea, ocorreu no início da década de 1950, com a arte concreta, estimulada pela primeira Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, rompendo com a arte figurativa do modernismo brasileiro. • No início da década de 1960 novos materiais e propostas surgiram na arte brasileira, envolvendo muitas vezes a participação do público. • Dentre as linguagens contemporâneas surge a videoarte. Artistas como Antonio Dias, Ivens Machado, José Roberto Aguilar desenvolvem expressões estéticas a partir de novas tecnologias. • A década de 1980 foi marcada pelo fim da ditadura, em 1985, a anistia, o movimento pelas eleições diretas para presidente da república, a Constituição Federal de 1988, promovem no Brasil um novo horizonte político, econômico e social. A abertura de um novo tempo, com novas possibilidades, fervilhava nas artes. • Artistas realizam obras em diferentes correntes com a arte concreta, a arte cinética, a pop art, a arte conceitual, as instalações, as performances e o grafite. • O século XXI apresenta o chamado hibridismo como tendência e não há mais a necessidade de uma linguagem, técnica, meio ou expressão pura, que deva obedecer a um estilo. A arte carrega em si, múltiplas linguagens e meios, desfazendo paradigmas, conceitos e concepções endurecidos e flexibilizando ordens e regras. 205 1 A arte contemporânea, com raízes nas correntes surgidas na Europa, à época da Primeira Guerra Mundial, como por exemplo o dadaísmo, se estabelece após a Segunda Guerra Mundial. Descreva quando iniciou a arte contemporânea no Brasil e o que impulsionou o rompimento com a arte figurativa do modernismo brasileiro? 2 A contemporaneidade encurtou distâncias entre culturas e expressões artísticas, fazendo com que, cada vez mais as linguagens da arte se aproximem e convivam em uma produção artística. A essa tendência denominamos hibridismo. Em que consiste a tendência do hibridismo? 3 No início da década de 1960 aparecem novos materiais na arte brasileira, principalmente nas obras de alguns artistas. Com base no texto, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Maria Bonomi. II- Amilcar de Castro. III- Hélio Oiticica. IV- Cildo Meireles. ( ) Ferros dobrados e recortados. ( ) Participação do público. ( ) Placas de concreto. ( ) Utilização de diferentes materiais na mesma obra. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II – III – I – IV. b) ( ) II – I – III – IV. c) ( ) IV – I – II – III. d) ( ) III – II – IV – I. 4 Em 1954, defendendo o neoconcretismo, foi fundado no Rio de Janeiro, o Grupo Frente. Com relação a proposta desse grupo analise as sentenças a seguir: I- Buscava mais liberdade na concepção artística. II- Propunha mais flexibilidade para o abstracionismo. III- Propunha mais flexibilidade para o impressionismo. IV- Propunha maior rigor na concepção artística. AUTOATIVIDADE 206 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 5 Como vimos, a arte contemporânea possui como principal característica a experimentação de novos materiais e meios de produzir as expressões artísticas. Com base no estudo realizado sobre a arte contemporânea, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para falsas: ( ) As performances são combinações de linguagens artísticas diversas, podendo transitar pelo teatro, artes, visuais, música, dança. ( ) A arte conceitual provoca o espectador com suas obras, trazendo o conceito como princípio básico. ( ) A instalação tem como proposta trabalhar com objetos e materiais utilizados em contextos diversos, apresentando com outro conceito e provocando estranhamento e reflexão no público. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – V – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 207 REFERÊNCIAS AMARAL, A. Tarsila: estudos e anotações. In: AMARAL, A.; BARROS, R. T. de. (Org.) Tarsila: estudos e anotações. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2020. ANDRADE, M. Pauliceia desvairada. São Paulo: Casa Mayença, 1922. ANDRADE, O. SCHWARTZ, J.; G. ANDRADE (Org.). Manifesto Antropófago e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. AMÁLIA A. T. B. B.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2019. BATTISTONI FILHO, D. Pequena história das Artes no Brasil. 3. ed. Campinas: Editora Átomo, 2018. BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 50. ed. São Paulo: Cultrix, 2015. E-book. CANTON, K. Do moderno ao contemporâneo. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011a. CANTON, K. Espaço e lugar. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011b. CANTON, K. Narrativas enviesadas. 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