Buscar

A formação do relacionamento fraterno entre irmãos biológicos e adotivos uma análise sob a ótica da Teoria Bioecológica

Prévia do material em texto

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/360685014
A FORMAÇÃO DO RELACIONAMENTO FRATERNO ENTRE IRMÃOS
BIOLÓGICOS E ADOTIVOS UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA TEORIA
BIOECOLÓGICA
Technical Report · May 2022
DOI: 10.13140/RG.2.2.24725.19682
CITATIONS
0
READS
16
1 author:
Juliana Pereira Rodrigues Nunes
Universidade Federal do Espírito Santo
6 PUBLICATIONS   0 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Juliana Pereira Rodrigues Nunes on 18 May 2022.
The user has requested enhancement of the downloaded file.
https://www.researchgate.net/publication/360685014_A_FORMACAO_DO_RELACIONAMENTO_FRATERNO_ENTRE_IRMAOS_BIOLOGICOS_E_ADOTIVOS_UMA_ANALISE_SOB_A_OTICA_DA_TEORIA_BIOECOLOGICA?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/publication/360685014_A_FORMACAO_DO_RELACIONAMENTO_FRATERNO_ENTRE_IRMAOS_BIOLOGICOS_E_ADOTIVOS_UMA_ANALISE_SOB_A_OTICA_DA_TEORIA_BIOECOLOGICA?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Juliana-Nunes-18?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Juliana-Nunes-18?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Federal_do_Espirito_Santo?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Juliana-Nunes-18?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Juliana-Nunes-18?enrichId=rgreq-0adf8e99b03ee7d1fa10900da85bf9c5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM2MDY4NTAxNDtBUzoxMTU3MTE5MDYzNjcwNzg0QDE2NTI4OTAwOTExNTM%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
A formação do relacionamento fraterno entre irmãos biológicos e adotivos: 
uma análise sob a ótica da Teoria Bioecológica
Identificação:
Grande área do CNPq.: Ciências Humanas
Área do CNPq: Psicologia/Psicologia Social
Título do Projeto:A formação do relacionamento fraterno entre irmãos biológicos
e adotivos: uma análise sob a ótica da Teoria Bioecológica
Professor Orientador: EdineteMariaRosa /Danielly Bart do Nascimento (Co-
orientadora)
Estudante PIBIC: Juliana Pereira Rodrigues
Resumo: Apoiada no referencial teórico-conceitual da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento
Humano, a presente proposta teve como objetivo conhecer a experiência de formação do relacionamento 
fraterno entre filhos biológicos e filhos adotivos. Para tanto, participaram do estudo duas famílias da 
região da Grande Vitória, Espírito Santo. Foram realizadas entrevistas individuais, a partir de roteiro 
semiestruturado de entrevista, distintos para pais e filhos. O roteiro dos pais continha questões 
relacionadas a aspetos socioeconômicos, rotina, convívio familiar, processo adotivo, convivência entre 
irmãos e intervenções parentais no convívio fraterno. Com os filhos, a entrevista teve como objetivo a 
caracterização do participante, adoção, relacionamento fraterno e familiar. Os participantes 
construíram também um genograma das relações familiares. Os dados dos filhos foram tratados com 
base no Método Fenomenológico para investigação psicológica. Os dados dos pais foram tratados a 
partir da Análise de Conteúdo. Os genogramas foram analisados de forma qualitativa, com a observação
das relações diádicas. Foram obtidos conteúdos que revelam sobre o processo adotivo, a forma da 
relação entre os filhos e a intervenção dos pais. Discute-se que o processo de construção fraterna ocorre 
de diferentes formas para cada família e que estes estão relacionados a uma série de eventos, processos 
proximais, características de cada pessoa e tempo. 
Palavras-chave:Adoção; Relação Fraterna, Teoria Bioecológica
1 – Introdução
 Para Oliveira (2006/2014) e Cúneo et. al (2007) a relação fraterna pode ocorrer a partir das mais 
variadas relações, sendo elas provenientes de laços sanguíneos ou não. Neste sentido, um exemplo de 
relação fraterna é a ocorrida por meio da adoção. Segundo Oliveira (2005) é bastante comum que os 
estudos sobre o relacionamento fraterno enfatizem suas discussões acerca da rivalidade entre irmãos, 
contudo, a autora enfatiza que este tipo de relação também se constitui de outros sentimentos, como: 
carinho, heroísmo, lealdade, dentre outros aspectos positivos. A autora considera que a relação fraterna é 
rica e complexa devido o fato de que estes indivíduos se encontram num mesmo nível dentro da família e 
acabam por dividir experiências que impactam um a vida do outro. 
O vínculo entre irmãos pode ser caracterizado de dois modos podendo ser amigável e positivo ou 
negativo e destrutivo. Além disso, fatores como idade, sexo, personalidade, intervenções parentais e 
eventos previsíveis ou não (casamento, morte, doença, nascimento de filhos) podem influenciar no 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
processo de construção do relacionamento fraterno (OLIVEIRA, 2005). Outro fato pontuado pela autora é
que, devido à relação ocorrer por meio de um processo, ele pode sofrer alterações ao longo de toda a vida.
Schettini (2007) e Otuka, Scorsolini-Comin e Santos (2012; 2013), asseveram que a relação 
fraterna entre irmãos biológicos e adotivos tem sido um fenômeno pouco explorado no campo das 
pesquisas cientificas. Os poucos estudos com casais que já possuem filhos biológicos, não levam em 
consideração a perspectiva dos irmãos, mas sim dos pais. 
O estudo de caso realizado por Otuka, Scorsolini-Comin e Santos (2012) descreveu a experiência 
de adoção de uma criança por um casal que já tinha filhos biológicos. Os resultados apontaram que a 
adoção foi experienciada pelos pais com muito temor e fantasias. No que se refere à percepção dos pais 
acerca do que os filhos biológicos falaram sobre a adoção, foi que de início o filho biológico teve 
resistência em aceitar a adoção, mas com o passar do tempo ocorreu um processo de vinculação entre 
eles.
Dias e Queiroz (2015) realizaram uma pesquisa que buscou investigar as percepções e vivências 
na perspectivas de filhos biológicos, diante da chegada de um irmão adotivo. Como resultados as autoras 
encontraram que principalmente no período inicial da adoção, os filhos biológicos relataram ter uma 
ambivalência de sentimentos. Apesar das mudanças iniciais, os entrevistados relataram que após um 
período de convivência a relação foi consolidada. O estudo evidenciou também a importância do 
tratamento dos pais de forma igualitária para com os filhos, como uma forma de fortalecimento dos 
vínculos afetivo. 
Apoiada na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (BRONFENBRENNER, 2011), 
que permite analisar as relações entre pessoas nos mais diversos contextos, e o modo como esses 
elementos mutuamente se influenciam, foi que apresentamos a seguinte proposta de investigação. Ao 
propor a Teoria bioecológicaÚrie Bronfenbrenner (2011) criou o modelo PPCT (Pessoa-Processo-
Contexto-Tempo). Segundo sua concepção o processo de desenvolvimento é algo relacional onde 
indivíduo e ambiente interagem um sob o outro (BRONFENBRENNER, 2011). O elemento pessoa 
refere-se a características biopsicológicas produto e produtoras de desenvolvimento 
(BRONFENBRENNER, 1995). Os processos proximais atualizam as características da pessoa em 
desenvolvimento por meio de interações bidirecionais entre ela e as demais pessoas, os objetos e os 
símbolos presentes no contexto (BRONFENBRENNER e CECI, 1993; 1994). O elemento contexto é 
formado por um conjunto de sistemas, no qual o mais imediato é denominado microssistema. O 
mesossitema é formado por um conjunto de microssistemas, casa, escola, comunidade e outros. O 
exossistema inclui os ambientes que influenciam a pessoa em desenvolvimento e são influenciados por 
ela, sem que a pessoa participe diretamente dele. E o macrossistema é o conjunto de valores, crenças, 
hábitos e formas de vida praticadas em uma determinada cultura (BRONFENBRENNER, 1995; 1996). O 
último elemento, o tempo,possui como principal característica, considerar as mudanças ocorridas ao longo
da vida da pessoa em desenvolvimento (BRONFENBRENNER e MORRIS, 2006). 
2 - OBJETIVOS 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
Conhecer a experiência de formação do relacionamento fraterno entre filhos biológicos e filhos 
adotivos. Essa tarefa se desdobra nos seguintes objetivos específicos: 1) Compreender a experiência 
vivida pelos filhos biológicos em relação ao processo adotivo; 2) Compreender a experiência vivida pelos
filhos adotivos em relação ao processo adotivo quando a família possui filhos biológicos; 3) Investigar a 
influência da relação parental na constituição do vínculo fraterno na percepção dos filhos biológicos e 
adotivos;4) Investigar como os pais percebem sua interferência na relação fraterna;
3– MÉTODO
3.1 Participantes e procedimentos de coleta dos dados
Participaram deste estudo duas famílias da região da Grande Vitória, Espírito Santo: uma 
constituída de pais, uma criança biológica, uma criança e uma adolescente adotivas; outra também 
constituída por pais, uma criança biológica e uma criança adotiva, totalizando nove participantes. 
A coleta de dados foi realizada nas residências dos participantes, conforme agendamento prévio. 
Os participantes firmaram sua concordância em participar da entrevista por meio da assinatura dos 
Termos de Consentimento Livre e Esclarecido e Assentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa respeitou a
Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. 
3.2 Instrumento e tratamento dos dados
O instrumento para coleta de dados consistiu em roteiro semiestruturado de entrevista distintos 
para pais e filhos. Os pais responderam um roteiro contendo questões relacionadas a aspetos 
socioeconômicos, rotina, convívio familiar, processo adotivo, convivência entre irmãos e intervenções 
parentais no convívio fraterno. Com os filhos (adotivos e biológicos), a entrevista teve como objetivo a 
caracterização do participante, adoção, relacionamento fraterno e familiar. 
Os dados dos filhos adotivos e biológicos foram tratados com base no Método Fenomenológico 
para investigação psicológica que é sistematizado a partir de cinco etapas de organização dos dados, a 
saber: 1) transcrição literal das entrevistas, 2) criação das unidades de significados, 3) distribuição das 
falas entre as unidades de significados, 4) padronização da linguagem e 5) transformação das unidades de 
significados em estruturas narrativas. As unidades de significados corresponderam à criação de categorias
temáticas para que os dados fossem agrupados conforme os conteúdos trabalhados no roteiro de entrevista
(TRINDADE; MENANDRO; GIANÓRDOLI-NASCIMENTO, 2007). Os dados dos pais foram tratados 
a partir da Análise de Conteúdo apresentada por Bardin (2009), na qual foi realizada a pré-análise; a 
exploração do material; o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. 
Além das entrevistas todos os participantes construíram um genograma das relações familiares 
(MCGOLDRICK, GERSON e PETRY, 2012, p.23). Os genogramas foram analisados conforme orientam 
MacGoldricket al. (2012): de forma qualitativa, com a observação das relações diádicas indicadas pelos 
participantes. 
4 – RESULTADOS 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
A análise das entrevistas dos pais permitiu a construção de três categorias: 1) processo adotivo, 
2)maternidade/paternidade e 3) relacionamento fraterno. Os dados das entrevistas com os irmãos 
(origem biológica e adotiva) permitiram a construção de oito unidades de significados para a composição 
das estruturas narrativas: 1) Histórico da adoção; 2) Expectativas ao saber da adoção; 3) Concepção de 
família; 4) Rotina familiar; 5) Relação fraterna; 6) Intervenção parental; 7) Mudanças pessoais após a 
adoção, e 8) Expectativas futuras. Para preservar o anonimato dos participantes, os nomes aqui utilizados
são fictícios. 
Família 1- Maradona (pai - 36 anos); Flor (mãe – 37 anos); Zico (filho biológico- 7 anos); Dandara1 
(filha adotiva bebê – 2 anos – adotada há 1 ano e 6 meses) e Laini (filha adotiva adolescente – 14 anos- 
adotada há 3 meses).
Resultado –Filhos
Laini
Histórico da adoção 
Laini conheceu sua mãe Flor na casa de acolhimento durante uma atividade em que Flor 
participou. Ao fim da atividade Liani ficou triste por Flor ter ido embora já demosntrando um afeto pela 
futura mãe. Depois de passados alguns dias desta atividade Flor e sua família apadrinharam Liani. Assim 
começou uma convivência entre Liani e sua futura família, principalmente nos finais de semana e no 
período de férias escolares. Posteriormente veio a guarda da adolescente e em seguida a adoção.
Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família
Laini relatou ter ficado feliz ao saber da adoção, pois amava estar e brincar com seus irmãos. Ela
definiu família como pessoas em que se pode confiar nos momentos difíceis, pessoas que dão carinho, e 
cuidado. 
Rotina familiar
Laini considera que a adaptação à rotina familiar foi positiva para sua vida. Como exemplo, 
referiu-se aos seus horários de dormir e acordar. Segundo ela quando estava no abrigo dormia mais tarde 
e acordava cedo, atualmente dorme às nove horas e acorda as seis. Cita também mudanças na alimentação
que era pouco variada e agora por vezes, consegue comer coisas que gosta e as mudanças na 
aprendizagem, tanto devido ao fato de estudar em uma escola privada, quanto de receber apoio dos pais 
para realizar atividades escolares que têm dificuldade. Outra mudança citada pela jovem refere-se aos 
programas de lazer realizados nos finais de semana, pois sempre que possível a família realiza passeios 
juntos.
Relação fraterna
1 Vale salientar que no caso da família 1 embora seja citada a criança mais nova não gerou dados para a pesquisa, 
visto que, não possui idade suficiente para falar e relatar toda a situação vivenciada. 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
Laini refere-se à relação com os irmãos como harmoniosa. Com seu irmão disse que realiza 
diversas atividades como, desenhar, pintar, jogar futebol e videogame. Em alguns momentos tem 
problemas com Zico, pois às vezes ele quer as coisas do jeito dele. Como ela mudou de escola atualmente
tem necessitado se dedicar mais aos estudos e, devido a isso, tem diminuído o tempo de brincar e Zico 
não entende. Além disso, disse que Zico não aceita perder em jogos o que gera conflitos, embora 
passageiros. Valoriza a sinceridade de Zico para com ela, dando o exemplo de um episódio em que o 
irmão quebrou um objeto dela e a contou, pedindo desculpas. Com sua irmã Dandara,falou que a menina 
é muito pequena, mas que elas são muito apegadas. Elas dormem no mesmo quarto e sempre que Laini 
vai dormir, Dandara a segue e vai dormir também. Disse que brincam e que todos os dias que passa com 
Dandara são legais. Na análise do genograma Laini definiu que possui uma relação muito próxima de 
Zico. 
Intervenção Parental
Os pais são muito participativos sempre que ela e os irmãos estão brincando, pois se envolvem 
nas brincadeiras. Sempre que ocorre algum conflito com Zico o pai também intervém, chamando Zico 
para conversar e explicando como as coisas devem ser. A mãe não costuma se envolver nos conflitos 
devido ao fato de Zico respondê-la de maneira agressiva, fazendo com que ela se estresse.
Mudanças Pessoais após a adoção e Expectativas futuras
Laini referiu-se ao fato de ter mais amigos e de se perceber como uma pessoa mais confiante. 
Hoje sabe que tem pessoas que vão protegê-la, caso algo ruim venha a acontecer. Se sente amada e 
ressaltou que, por mais que as pessoas digam para ela que não existe família perfeita, acha que a dela é 
perfeita. Ressaltou que atualmente se sente muito feliz, confia que tem proteção, sente que tem uma 
família verdadeira e que a ama. 
Pretende se formar e ser juíza, ter uma casa em frente a praia e também poder comprar uma casa 
ao lado da sua para a mãe. Pretende ter um filho biológico, e um adotivo, formando um casal.
Zico
Histórico da adoção 
Zico tinha 7 anos e estava no primeiro ano do ensino fundamental no momento da coleta. O 
menino relatou que vivenciou por duas vezes este processo, sendo o primeiro de Dandara e o outro o de 
Laini. Ficou sabendo da adoção de suas irmãs por meio da mãe. Na adoção de Dandara, primeiramente a 
viu por fotografia, ele e sua família estavam na casa de seu tio, e em meio a conversa a mãe mostrou a 
fotografia da criança para todos. Quando a viu, achou ela bonita e quando a conheceu contou que foi 
“bem legal”.Sobre Laini, também a viu primeiramente por fotografia, mas, posteriormente, a jovem 
passou a frequentar a sua casa nos finais de semana visto que havia sido apadrinhada pela família. Falou 
que sempre que Laini tinha que ir embora era muito ruim, pois ele sentia sua falta, não tinha com quem 
brincar, pois mesmo tendo Dandara como irmã, ela ainda era um bebê.
Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
Ao saber que teria um irmão pensou que seria bem legal, que ele seria ainda mais feliz. Sua 
expectativa era a de que seria do sexo masculino. Contou que se ele pudesse ter escolhido como seria a 
criança na primeira adoção, teria escolhido um menino, tendo sete anos de idade assim como ele. O 
garoto chegou a justificar que seu desejo por outro irmão deve-se ao fato de poder brincar de bola, 
videogame e até ir ao campo de futebol juntos.
Para Zico a família é uma coisa que tem pessoas se abraçando. E disse que a relação entre irmãos
é algo bem legal.
Rotina familiar
Zico e Laini ajudam nas atividades de casa, deu exemplos de atividades que fazem como retirar o
lixo do banheiro, e limpar os banheiros. Ele e Laini costumam fazer atividades extras a fim de auxiliar e 
surpreender a mãe, como lavar a louça sem a mãe pedir.
Relação fraterna
Na relação com Laini falou que brincam muito, jogam handebol, futebol, videogame, pique 
esconde, dentre outras brincadeiras. Disse que Laini é a melhor irmã do mundo. Segundo Zico, nem 
sempre podem realizar atividades juntos, porém quando estão com tempo, adora jogar futebol com ela. 
Ao ser questionado acerca da existência de algo que não gostava em sua irmã, disse que apenas fica triste 
nos momentos em que ela não pode brincar com ele por ter que realizar outras atividades.
Costuma brincar um pouco menos com Dandara devido ao fato de ser muito pequena, mas 
relatou que ela costuma abraçá-lo. Disse que uma característica que Dandara tem e não lhe agrada é que 
às vezes, ela costuma morder e ele fica chateado. Disse que o que existe de mais legal com suas irmãs é o 
fato de brincarem, saírem para fazer piquenique, principalmente nos finais de semana. Ao descrever sua 
relação com Laini através do genograma Zico a definiu como muito próxima.
Intervenção parental
Às vezes ele e suas irmãs costumam brigar e os pais intervêm, mandando-os pararem. Por vezes 
ocorre de a mãe deixá-los de castigo, cada um em seu quarto. Ao ser questionado sobre os motivos das 
brigas com Laini, disse que se deve ao fato de às vezes ele não querer ir para a escola e com isso, ele grita
com sua mãe, fazendo assim com que Laini brigue com ele para que não tenha esse tipo de 
comportamento. Além das brigas, disse que a intervenção parental ocorre quando eles estão brincando. 
Em alguns momentos ocorre dos pais brincarem com eles, por exemplo, quando toda a família joga 
futebol.
Mudanças pessoais após a adoção e Expectativas futuras
Zico disse que as mudanças que ocorreram devem-se ao fato de hoje ter companhias para 
brincar, contou que hoje sua vida é mais legal e que tem as melhores irmãs. Ele não relatou nada 
relacionado a expectativas futuras.
Resultados - Pais
Processo Adotivo
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
O casal descreveu que a motivação inicial pela adoção partiu de Flor. Desde que se casaram, ela 
sempre manifestou o desejo de adotar, mas Maradona pedia que esperasse mais um tempo. Nasceu então 
Zico e eles adiaram por mais um tempo. Mas segundo Maradona, constantemente sua esposa comentava 
sobre adotar. Até que um dia ela o chamou para conversar e então decidiram por dar entrada nos papéis da
adoção. Quando tomaram a decisão de adotar, conversaram com o filho, na época ele tinha 6 anos de 
idade e, manifestou que gostaria de ter um irmão grande, para que pudesse brincar e jogar bola com ele. 
Contudo, os pais optaram por uma menina, com idade entre 0 e 6 anos. E, ao contarem sobre a decisão, 
não houve oposição por parte do filho. Maradona e Flor, contaram que ao darem entrada nos papéis da 
adoção e passarem pelo curso, tudo aconteceu muito rápido. Após o curso, em cerca de 1 mês já ligaram 
falando da criança que estava disponível para a adoção, no caso a filha Dandara. Para eles mesmo tendo 
esperado pouco tempo, essa espera foi agoniante. Ao darem entrada no pedido de adoção, conversaram 
com as famílias e pessoas próximas sobre a decisão, porém, o casal relata que a conversa não teve o 
intuito de pedir permissão, mas de simplesmente comunicar. A família extensa era contra a adoção e, só 
tiveram menos rejeição devido ao fato da primeira filha ser bebê. A filha Laini eles conheceram no 
abrigo, depois de 1 ano da primeira adoção. Inicialmente a apadrinharam, mas logo deram entrada no 
pedido de guarda definitiva, porém, ao decidirem por adotar a segunda filha, já em fase adolescente, 
receberam muitas críticas. Flor chegou a relatar que ambas as famílias, tanto por parte dela quanto de seu 
esposo, possuíam preconceito com a cor e que enfrentam resistência por isso, visto que os familiares 
ainda não aceitam a filha adotiva adolescente.
Maternidade/paternidade
Quanto ao processo de maternidade/paternidade foi relatado por ambos que não percebem 
diferenças entre serem pais de filhos biológicos e adotivos. Segundo eles, sentiram-se pai e mãe das 
meninas ao receberem a ligação comunicando que podiam buscá-las. Sobre as intervenções junto aos 
filhos revelaram que agem das mais variadas formas, tanto em relação a corrigir os filhos, quanto, quando
eles estão brincando e eles também brincam juntos. Se interessam pelo que está acontecendo na vida dos 
filhos. Quando os filhos fazem algo que eles não acham correto como, por exemplo, brigar, eles 
conversam com ambos da mesma maneira e os deixam de castigo. 
Relacionamento Fraterno
O casal conta que logo que a filhamais nova chegou Zico teve muito ciúmes, chegou a ficar 
doente e internado no período da primeira adoção. Na adoção de Laini, Zico não teve a mesma reação e 
os dois se gostaram muito desde o começo. Com a chegada de Laini, consequentemente, o aumento de 
pessoas na casa fez com que tivessem que comprar móveis novos como cama, o que despertou ciúmes por
parte de Zico e tiveram que comprar outra cama para ele, pois ele queria uma igual à da irmã mais velha.
Atualmente a convivência do dia-a-dia dos filhos é boa, brincam muito, fazem as vontades uns dos
outros, principalmente Zico e Laini. Em relação a Zico e Dandara a mãe relatou que o ciúme não findou, 
mas reduziu bastante. Segundo Flor, ela e seu esposo tentam evitar o máximo de rivalidades, buscando 
tratá-los com igualdade. Disseram que hoje eles sabem dar mais limites ao filho, pois antes, devido ao 
fato de ser filho único, acabavam comprando para ele tudo o que queria. Um dos fatores que ocorre e que 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
ainda é motivo de conflito entre os filhos, é o fato do filho Zico ainda não saber perder em jogos e não 
saber aceitar quando seus pedidos são recusados. Para eles, essa característica às vezes gera conflitos. 
Ressaltam que houve mudanças positivas após a chegada das filhas na vida de Zico, como por exemplo, 
relacionadas à escola, melhoria na aprendizagem, aprender a compartilhar as coisas, a seguir regras, como
o horário de dormir, de comer e pedir desculpas quando está errado. Percebem que Zico tem muito 
carinho para com as irmãs, mais principalmente, com Laini visto que ela brinca com ele. A descrição do 
relacionamento dos filhos por parte dos pais no genograma foi definida como sendo uma relação próxima.
Família 2- Rosa (mãe –34), Zidane (pai- 51), Messi (filho biológico – 10 anos – adotada há 1 ano) e 
Latifah (filha adotiva – 10 anos). 
Resultados Filhos
Latifah 
Histórico da adoção 
Latifah já sofreu muito com suas quatro irmãs biológicas, que antes de sua adoção estavam 
abrigadas. Relatou que ela e as irmãs tinham uma família que vivia em constante desarmonia e que 
chegaram a morar na rua, passar fome e até mesmo sofrer com a violência física. A jovem disse que ao ser
adotada se sentiu muito feliz, se sentiu solta e também ficou feliz porque suas irmãs também foram 
adotadas por outras famílias e que tinha a certeza de que seriam bem cuidadas. Relatou que no primeiro 
dia em que chegou à nova casa, ficou com muitos sentimentos positivos, pois sentia que a partir daquele 
momento teria um local para deitar, dormir, fazer sua higiene pessoal de maneira individual.
Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família
Em uma das visitas realizadas ao juizado, foi comunicada pela juíza que havia uma família com 
interesse em adotá-la e perguntou-a se tinha interesse, de acordo com a menina ela de pronto respondeu 
que sim. As expectativas ao saber da adoção foram grandes, pois gostou muito da noticia de saber que 
teria um pai, e uma família, pois imaginava que nunca seria adotava e, portanto viveria pra sempre no 
abrigo.
Além dos sentimentos de felicidade, disse que ficava imaginando que poderia ser mais livre, ia ter 
a oportunidade de estudar e aprender; teria material escolar, boa escola e bons professores. Contou que 
não imaginava que teria um irmão do sexo masculino, acreditava que seria menina, devido o fato dela 
sempre ter tido irmãs. Outra expectativa que teve foi de que imaginava que seu irmão(a) era simpático, 
gostava de rir e de conversar
A concepção de família é positiva atualmente. Acredita em uma família que não é partida, que tem 
a união dos pais e entre irmãos. Tem a crença também de que o fato dos filhos respeitarem os pais 
contribui muito para ter uma boa família. A jovem relatou que ao visitar a família extensa com os novos 
pais, percebeu que são sempre unidos. Além disso, incluiu a relação entre irmão como parte da concepção
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
de família. Disse que é uma relação baseada em viver juntos, brincar e ser feliz. Durante todo momento 
enfatizava que família é poder viver juntos.
Rotina familiar
Nos primeiros dias ficava muito tímida e sentia saudade de suas irmãs, mas com o passar do 
tempo as coisas mudaram. Relatou que durante a semana ela e seu irmão Messi assistem televisão, lêem 
livros, estudam,brincam e auxiliam nas tarefas da casa. Aos finais de semana ela e sua família vão à igreja
e a lanchonetes e restaurantes.
Relação fraterna
Realiza muitas atividades junto com o irmão, como, comer, brincar e até ficar sem fazer nada em
casa. Disse também que tem conflitos que às vezes se tornam ações mais agressivas e, que na maior parte 
das vezes os conflitos são iniciados por seu irmão. Ao descrever seu relacionamento com Messi através 
do genograma disse que é uma relação conflituosa.
Intervenção parental
Latifah disse que os pais são mais tranquilos e que a intervenção parental, ocorre somente em 
situações de conflitos. Segundo ela os pais têm medo de que as brigas e agressões entre ela e o irmão se 
tornem mais graves, resultando em acionamento da polícia e até ações judiciais.
Mudanças pessoais após a adoção e Expectativas futuras
Disse que a primeira coisa que teve alteração em sua vida foi a modificação do seu sobrenome. 
Além disso, relatou que se desenvolveu muito no que se refere a conhecimento, aprendeu a ler e vai a 
uma boa escola hoje. Percebe que hoje possui mais educação para falar com as pessoas, disse que 
aprendeu a usar as “palavras mágicas”, como, com licença, por favor, e obrigada. Acha que o que não 
mudou foi seu caráter, além de fazer atividades tanto domésticas, quanto escolares, sem que as pessoas 
tenham que ficar mandando que ela faça.
Para o futuro disse que quer crescer, casar, ter sua casa e sua família. Poder sair junto com os 
familiares para conversar, ir a um restaurante e realizar passeios.
Messi
Histórico da adoção 
Messi tinha10 anos e estava no quinto ano do ensino fundamental no momento da coleta de 
dados. Segundo Messi, ele quem pediu aos pais para realizarem a adoção, pois vivia muito sozinho e com 
isso, achava a situação ‘chata’. O menino relembrou como foi a primeira vez em que viu sua irmã. Falou 
que ele e seus pais foram até o abrigo onde Latifah residia e a avistou do portão. Disse que vê-la de início 
foi estranho, porém não conseguiu definir os sentimentos que teve.
Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família
Messi Relatou que ao ficar sabendo que seus pais iriam realizar a adoção sentiu muita felicidade.
Imaginou que a irmã teria sua idade, porém, quando perguntado sobre características de personalidade que
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
ele esperava que ela tivesse, ele respondeu que pensou que ela seria ‘mais legal’, demonstrando assim 
certa insatisfação em relação a sua irmã.
A descrição de Messi sobre sua concepção de família é a de “pessoas unidas, dando carinho, amor,
beijos e abraços”, contou que gosta muito desse tipo de coisa. Contudo, ao falar sobre sua noção acerca 
do que considera uma relação entre irmãos disse que há brincadeiras, brigas, provocações e reclamação. 
Rotina familiar
Messi citou que assim que Latifah chegou, as coisas começaram a desaparecer da geladeira, o 
quarto passou a ficar mais bagunçado, o guarda-roupa com muita roupa espalhada e a casa mais suja 
ainda. 
Relação fraterna
Segundo Messi, todos os dias ele e Latifah brigam por variados motivos, como exemplo, citou 
brigas para que ele realize as atividades de arrumação das louças. O menino relatou que não conseguia 
pensar no que Latifah tinha de ‘bom’, porém, conseguia descrever várias coisas que ela tinha de ruim ou 
que precisava melhorar, segundosua concepção. Disse que a menina não respeitava seus pais, era 
desorganizada e vivia o provocando. Muito tempo depois, comentou que as brincadeiras de Latifah eram 
legais. Ao questioná-lo sobre as brincadeiras que costumavam ter, falou que era ‘lutinha’, e que para ele, 
esse tipo de brincadeira é a mais legal.
Messi realiza trocas com a irmã oferecendo doces e dinheiro para que ela realize as atividades 
que são de obrigação dele. Contou que dividir o quarto com a irmã não é legal e ressaltou, que a única 
coisa que existe de legal entre eles, são os momentos de brincadeiras.
Messi disse que não conta para as pessoas que sua irmã é adotada, quando existe a necessidade 
apenas fala que tem uma irmã, mas não dá detalhes. Ao final da etapa de entrevista disse que eles brigam 
como cão e gato mais se amam. Ao analisar o genograma evidenciou-se que Messi caracterizou sua 
relação com Latifah como sendo próxima.
Intervenção parental
Segundo Messi às vezes que seus pais intervém na relação entre ele e a irmã, são somente em 
momentos de briga que por vezes, acabam sendo violentas, chegando a casos de “caírem na porrada”, ou 
em brincadeiras as quais os pais percebem estarem ficando mais violentas podendo gerar alguma lesão. 
Fora desse contexto, os pais não realizam nenhum tipo de intervenção.
Mudanças pessoais após a adoção e Expectativas futuras
Disse que as mudanças que ocorreram devem-se ao fato de hoje ter uma companhia e estar mais 
animado, pois antes da chegada de sua irmã, ficava sempre recostado pelos cantos, com a cara triste. 
Messi disse que nunca havia pensado sobre as expectativas relacionadas ao futuro. 
Resultados - Pais
Processo Adotivo
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
De acordo com o casal a vontade de adotar surgiu antes mesmo de eles terem o filho biológico, 
pois desejavam ter um biológico e adotar outra criança. Com o nascimento do filho e o passar do tempo, 
Rosa disse ao seu marido que não queria ter outro filho, pois estava ficando velha, e também porque não 
queria passar por toda fase de gestação e criação de um bebê. Destacam que trabalham durante todo o dia.
A mãe trabalha viajando e por vezes, têm que se ausentar alguns dias e que por isso uma criança maior 
seria melhor. Além disso, o filho manifestava que era muito sozinho e que queria ter um(a) irmão(ã). 
Devido a estes fatores começaram a pesquisar sobre adoção.
O casal conversou sobre o desejo de adotar com o filho que não se opôs, pois já desejava alguém 
para compartilhar com ele os momentos de lazer. Contam que a primeira vez que comentaram que iam 
adotar, ele falou para irem ao orfanato buscar uma criança.
Além do filho, o casal contou para a família extensa e relatou que as famílias de ambas as partes 
foram bem participativas, principalmente, porque na família de Zidane já havia casos de adoção por parte 
de uma tia. Com os amigos e pessoas conhecidas sempre falam que tem dois filhos e que um deles é 
adotivo. Rosa chegou a ouvir por parte de algumas pessoas conhecidas de que eles não deveriam adotar 
uma criança grande, mas relata que esse tipo de comentário não influenciou sua decisão.
Após decidirem que iriam adotar, demoraram a dar entrada na justiça visto que primeiro foram 
pesquisar e estudar sobre adoção e que somente após uns 2 anos é que deram entrada. Sobre a escolha da 
criança, não fizeram muitas objeções, as únicas especificações que fizeram era que fosse uma menina, 
com idade próxima a do filho biológico. Além disso, fizeram a ressalva para que não tivesse problemas de
saúde, mas especificaram que isso, não se devia a discriminação, mas devido ao fato de não terem tempo 
para lidar com uma situação que demandasse visitas médicas constantes.
Rosa ficou muito ansiosa e disse que tiveram expectativas muito boas em relação à adoção. 
Descreveu que a sensação sentida era semelhante a de estar grávida. O casal ficava pensando que seu 
filho teria uma companhia para brincar e fazer atividades que ele gosta. Ao darem entrada ao processo, 
logo fizeram o curso e com cerca de quatro meses a guarda definitiva da menina foi liberada. Para o casal 
o processo foi muito rápido e acreditam que deveria haver um pouco mais de preparação. Na época ela e 
seu esposo estavam passando por um momento conflituoso que veio a piorar com a chegada da filha. A 
menina era muito teimosa, chorava muito querendo voltar para o abrigo, tinha uma personalidade muito 
diferente do filho biológico, e isso aumentou ainda mais o estresse e, consequentemente, o conflito entre o
casal. Segundo eles somente após uns 6 meses, é que começou uma maior adaptação. 
Maternidade/Paternidade
O casal se sente pais de Latifah, mas a menina não os chama de pai e mãe. Zidane não se importa, 
pois compreende que a menina passou por outro processo de formação. Já Rosa, se sente chateada e, por 
vezes, acaba discutindo querendo obrigar que a menina os chame de pai/mãe. Mas apesar da situação eles 
apenas desejam que a menina assim como o filho biológico os respeite. Os pais fazem muitas 
comparações entre os filhos, principalmente a mãe. Quando questionada acerca da diferença entre ser mãe
de um filho biológico e um adotivo, pontuou que a adoção ainda é recente, mas que sente diferença. 
Justifica isso devido o fato de ter moldado o filho biológico desde pequeno. Consideram que as 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
personalidades dos filhos são muito diferentes. E, destacam que gostariam muito que a filha adotiva fosse 
mais parecida com o filho biológico, pois ele é carinhoso, afetuoso.
Sobre as intervenções os pais se consideram sempre presentes, contudo, não são de interferir nas 
brincadeiras e atividades realizadas pelos filhos. O pai se considera uma pessoa que não brinca e que 
conversa pouco, mas acredita que o fato de estar sempre presente é algo positivo na vida deles. Quando 
ocorrem brigas os pais costumam conversar e explicar os motivos pelos quais tal fato não pode ocorrer.
Relacionamento Fraterno
Rosa fala que quando a filha ficou de maneira definitiva em sua família, o filho biológico sentiu 
um pouco de ciúmes. Os primeiros momentos dos filhos juntos foi muito bacana. Messi apresentou para 
Latifah o condomínio e todo o apartamento. Além disso, consideram que a convivência dos filhos é ótima.
Eles brincam muito juntos, vão a piscina, lêem e passeiam sempre juntos. Às vezes ocorrem algumas 
brigas, mas segundo eles é algo natural entre irmãos. 
Para Rosa os aspectos positivos do filho biológico que contribuem para a relação fraterna são a 
afetividade, o conhecimento que ele já tem um pouco mais do que Latifah, e que com isso, pode ajudá-la 
e por ser muito carinhoso. Já Latifah é considerada como sendo muito responsável com os afazeres, com 
as atividades de casa e, além disso, é muito corajosa, fato que acaba por influenciar Messi. 
Dos aspectos negativos os pais falam que eles implicam muito um com o outro. A menina, por 
exemplo, fica atenta aos erros do irmão a fim de comunicá-los aos pais, já o menino, costuma atribuir 
adjetivos negativos a irmã, fato que a mãe acredita que contribui para que a menina se sinta inferior. Ao 
descreverem o relacionamento dos filhos através do genograma houve variações nas respostas, Zidane 
considera que a relação entre os filhos é muito próxima, já Flor considera que é apenas próxima. 
5 – DISCUSSÃO
As entrevistas com os filhos evidenciam que as relações fraternas podem ocorrer de diferentes 
modos. Assim, como aponta a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, as interações entre as 
pessoas, variam a depender de diversos fatores, (Pessoa-Processo-Contexto-Tempo) 
(BRONFENBRENNER, 2011), sendo, a inter-relação destes fatores determinantes dos modos como os 
relacionamentos serão construídos.
Na família 1 os eventos de mudança decontexto ao longo do tempo, as característica pessoais e as 
interações influenciam na construção da relação. Percebe-se de início o estabelecimento de processos 
proximais, via participação dos pais nas atividades realizadas pelos filhos, como brincadeiras, passeios, 
realização de tarefas escolares, dentre outras. A participação em tais eventos e a integração dos filhos 
neste tipo de atividade é importante para a construção de um relacionamento amigável e positivo entre 
eles. Embora percebam a existência de ciúmes do filho, principalmente com a chegada das filhas, os pais 
tentam tratá-los de forma igualitária e sem comparações. A posição dos pais corrobora com os autores 
Dias e Queiroz (2015), que revelam em seu estudo que ao evitar comparações entre filhos, os pais acabam
por contribuir para que os processos de competição, brigas e ciúmes sejam evitados.
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
A mudança no contexto, tanto devido à chegada das filhas, quanto no que se refere ao espaço 
físico, foram eventos considerados positivos na vida dos filhos. A família teve que mudar de residência, 
fato que contribuiu na vida do filho biológico, pois passou a estudar mais próximo de casa e com isso 
pode começar a acordar em um horário mais tarde. A chegada das irmãs contribuiu para que o menino 
aprendesse a compartilhar as coisas, a ter limites, respeitar regras e ouvir não, algo que tinha dificuldade e
segundo justificativa dos pais, por ser filho único. A interação de Laini com Zico trouxe também como 
contribuição a melhora no desempenho de atividades acadêmicas, visto que a jovem o auxilia na 
realização de atividades escolares. De acordo com Oliveira (2005) fatores como idade e sexo podem 
influenciar no relacionamento. O fato de Laini ser mais velha que Zico e engajar-se em muitas atividades 
com ele (tarefas domésticas, atividades escolares e brincadeiras) permite a ocorrência de processos 
proximais que influenciam o desenvolvimento do menino (Bronfenbrenner & Morris, 2006). 
Na vida de Laini observam-se mudanças positivas, pois a mesma se sente mais segura. A jovem 
encontra na nova família uma rede de apoio e consequentemente, de proteção. A construção de 
relacionamentos saudáveis dentro desse microssistema familiar tem contribuído para que ela consiga 
desenvolver interações com pessoas externas a família. Percebe-se com isso que a influência do 
microssistema impactou também outros sistemas, como por exemplo, a escola (BRONFENBRENNER, 
1996).
Na família 2 os processos proximais são poucos significativos no que se refere a contribuições 
dos pais no fortalecimento da relação fraterna. Os pais trabalham muito, a mãe, precisa viajar e ficar dias 
fora de casa, com isso, os filhos passam boa parte do tempo sozinhos, fato que pode estar dificultando no 
processo de construção de um relacionamento entre os irmãos, devido à ausência de um terceiro 
significante a maior parte do tempo (BRONFENBRENNER, 2011). Percebe-se também, que a forma de 
se relacionar entre os irmãos é bastante conflituosa, embora haja momentos em que brinquem juntos, 
nota-se que o relacionamento é marcado por brigas. Ao realizar o genograma Latifah pontua que o 
relacionamento é conflituoso com o irmão. Uma hipótese acerca destes conflitos pode se justificar pelos 
ciúmes de Messi em relação à irmã e também devido à criação de expectativas por parte dele acerca da 
adoção e das características pessoais que o irmão(ã) teria (OLIVEIRA, 2005; DIAS; QUEIROZ, 2015). 
Os pais não percebem a influência do ciúme e justificam que os desentendimentos são fatos comuns entre 
irmãos.
Os pais realizam constantes comparações entre filhos, demarcando que existem diferenças, entre 
eles. Há uma posição de favorecimento em relação ao filho biológico, chegando a dizer a respeito da filha
adotiva, que gostariam que ela tivesse características comportamentais semelhantes à do filho biológico. 
Deste modo, eles acabam por reforçar a existência de disputas entre os filhos contribuindo para o aumento
de conflitos entre eles e consequentemente, gerando um distanciamento e criação de dificuldade para que 
o relacionamento fraterno se estreite e passe a ser baseado no cuidado. Embora Bronfenbrenner (2011) 
afirme que os relacionamentos entre as pessoas podem mudar ao longo do tempo, há um receio de que 
estes atritos entre os irmãos tornem-se numa relação negativa e destrutiva, podendo gerar um total 
rompimento dos laços afetivos (OLIVEIRA, 2005). 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
Devido às poucas interações dos pais de forma a facilitar essa interação, percebe-se que o fator 
tempo de modo isolado, não tem sido muito significativo no estabelecimento dessa relação. A mudança de
contexto para Latifah provocou mudanças positivas como melhoria na dicção e na aprendizagem escolar, 
visto que o investimento da nova família permitiu que a menina frequentasse a escola regularmente e 
fosse alfabetizada. Latifah relata que nos contextos anteriores não teve acesso a muitos conhecimentos 
que passaram a ser adquiridos com a família atual, atualizando suas características pessoais de recurso 
(Bronfenbrenner & Morris 2006). Tais fatores demonstram que o microssistema familiar contribuiu de 
maneira significativa para o desenvolvimento de Latifah. 
A mudança de contexto para Messi, segundo os pais permitiu ao menino ter uma companhia para
realizar suas atividades, de lazer e estudos. O próprio menino se vê como uma pessoa mais ativa no 
ambiente agora que possui uma irmã para interagir, o que favoreceu a atualização de suas características 
pessoais de força.
Considerações Finais
A construção de um relacionamento depende da interação entre múltiplos elementos. O tempo 
como fator relevante, torna-se relativo e dependente dos demais fatores promotores de processos 
proximais no contexto. Assim, alguns elementos podem ser destacados como influenciadores na 
vinculação de irmãos, como a participação efetiva dos pais no relacionamento dos filhos, como 
intervenções nos momentos de conflitos, brincadeiras e passeios que permitam interação e as próprias 
características pessoais dos irmãos. Desse modo, convivendo como irmãos há cerca de um mês, Zico e 
Laini já apresentam uma relação fraterna próxima e permeada de afeto positivo. Enquanto na família 2, 
Messi e Latifah, com 1 ano de convivência, apresentam uma relação conflituosa sem muita proximidade. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, 2009 
BRONFENBRENNER, U.; CECI, S. J. Heredity, environment, and the question “how?”: A new 
theoretical perspective (eds.) Nature, Nurture, and Psychology. APA Books, Washington, DC, 1993.
BRONFENBRENNER, U.; CECI, S. J. Nature – nurture reconceptualized in developmental Perspective: 
a bioecological model. Psychological Review, v.101, n.4, p. 568-586, 1994.
BRONFENBRENNER, U. Developmental ecology through space and time: A future perspective. In: P. 
MOEN; G. H. ELDER JR; K. LÜSCHER (Orgs.), Examining lives in context: Perspectives on the 
ecology of human development. Washington DC: American PsychologicalAssociation, 1995, p. 619-647.
BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados.
Porto Alegre, ArtesMédicas, 1996, p. 267. 
BRONFENBRENNER, U.; MORRIS, P. A.Thebioecological model of human development. In: 
DAMON, W.; LERNER, R. M. (Orgss.). Handbook of child psychology, 1: Theoretical models of human 
development. New York: John Wiley, 2006, p. 993-1028.
BRONFENBRENNER, U. Bioecologia do Desenvolvimento Humano: tornando os humanos mais
humanos. Porto Alegre: Artmed, 2011. 
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa Institucional de Iniciação Científica 
Relatório Final de Pesquisa
CÚNEO L. A., &PELLA M. E. B.; CASTIÑEIRA E.; MÁRQUEZA.F.; FELBARG, D.; MUCHENIK, J.
Relaciones fraternas enlaadopción.Archivos Argentinos de Pediatría, v. 105, n. 1, p. 74-76, 2007. 
DIAS, C. & QUEIROZ, E. A chegada de um irmão adotivo: percepções e experiências.Revista
Subjetividades [online].v. 15 n.2,p. 221-232, 2015.
MCGOLDRICK, M.; GERSON, R.; PETRY, S. Genogramas: avaliação e intervenção familiar. 3ª ed.,
Porto Alegre: Artmed, 2012
OTUKA, L. K.; SCORSOLINI-COMIN, F., & SANTOS, M. A. DOS. Adoção Suficientemente Boa:
Experiência de um Casal com Filhos Biológicos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 28, n.1, p. 55-63,
2012. 
OTUKA, L. K.; SCORSOLINI-COMIN, F., & SANTOS, M. A. DOS. Adoção tardia por casal divorciado
e com filhos biológicos: novos contextos para a parentalidade. Estudos de Psicologia Campinas, v.30,
n.1, p.89-99, 2013. 
OLIVEIRA, A. L. DE. (2014). Família e Irmãos. In C. N. de Cerveny (Ed.).Família e... narrativas,
gênero, parentalidade, irmãos, filhos nos divórcios, genealogia, história estrutura, violência, intervenção
sistêmica, rede social. (pp. 63-82) São Paulo: Casa do Psicólogo. (trabalho original publicado em 2006)
OLIVEIRA, A. L. DE (2005). Irmão, meio-irmãos e co-irmãos: a dinâmica das relações fraternas no
recasamento. Tese PUC São Paulo – SP.
SCHETTINI, S. S. M (2007). Filhos por adoção: um estudo sobre o seu processo educativo em famílias
com e sem filhos biológicos. Dissertação Recife- PE
TRINDADE, Z. A., MENANDRO, M. C. S. & GIANÓRDOLI-NASCIMENTO, I. F. (2007). 
Organização e interpretação de entrevistas: uma proposta de procedimento a partir da perspectiva 
fenomenológica. In. Rodrigues, M. M. P. & Menandro, P. R. M. (Orgs.). Lógicas metodológicas
View publication stats
https://www.researchgate.net/publication/360685014

Continue navegando