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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/360685014 A FORMAÇÃO DO RELACIONAMENTO FRATERNO ENTRE IRMÃOS BIOLÓGICOS E ADOTIVOS UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA TEORIA BIOECOLÓGICA Technical Report · May 2022 DOI: 10.13140/RG.2.2.24725.19682 CITATIONS 0 READS 16 1 author: Juliana Pereira Rodrigues Nunes Universidade Federal do Espírito Santo 6 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Juliana Pereira Rodrigues Nunes on 18 May 2022. 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Para tanto, participaram do estudo duas famílias da região da Grande Vitória, Espírito Santo. Foram realizadas entrevistas individuais, a partir de roteiro semiestruturado de entrevista, distintos para pais e filhos. O roteiro dos pais continha questões relacionadas a aspetos socioeconômicos, rotina, convívio familiar, processo adotivo, convivência entre irmãos e intervenções parentais no convívio fraterno. Com os filhos, a entrevista teve como objetivo a caracterização do participante, adoção, relacionamento fraterno e familiar. Os participantes construíram também um genograma das relações familiares. Os dados dos filhos foram tratados com base no Método Fenomenológico para investigação psicológica. Os dados dos pais foram tratados a partir da Análise de Conteúdo. Os genogramas foram analisados de forma qualitativa, com a observação das relações diádicas. Foram obtidos conteúdos que revelam sobre o processo adotivo, a forma da relação entre os filhos e a intervenção dos pais. Discute-se que o processo de construção fraterna ocorre de diferentes formas para cada família e que estes estão relacionados a uma série de eventos, processos proximais, características de cada pessoa e tempo. Palavras-chave:Adoção; Relação Fraterna, Teoria Bioecológica 1 – Introdução Para Oliveira (2006/2014) e Cúneo et. al (2007) a relação fraterna pode ocorrer a partir das mais variadas relações, sendo elas provenientes de laços sanguíneos ou não. Neste sentido, um exemplo de relação fraterna é a ocorrida por meio da adoção. Segundo Oliveira (2005) é bastante comum que os estudos sobre o relacionamento fraterno enfatizem suas discussões acerca da rivalidade entre irmãos, contudo, a autora enfatiza que este tipo de relação também se constitui de outros sentimentos, como: carinho, heroísmo, lealdade, dentre outros aspectos positivos. A autora considera que a relação fraterna é rica e complexa devido o fato de que estes indivíduos se encontram num mesmo nível dentro da família e acabam por dividir experiências que impactam um a vida do outro. O vínculo entre irmãos pode ser caracterizado de dois modos podendo ser amigável e positivo ou negativo e destrutivo. Além disso, fatores como idade, sexo, personalidade, intervenções parentais e eventos previsíveis ou não (casamento, morte, doença, nascimento de filhos) podem influenciar no Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa processo de construção do relacionamento fraterno (OLIVEIRA, 2005). Outro fato pontuado pela autora é que, devido à relação ocorrer por meio de um processo, ele pode sofrer alterações ao longo de toda a vida. Schettini (2007) e Otuka, Scorsolini-Comin e Santos (2012; 2013), asseveram que a relação fraterna entre irmãos biológicos e adotivos tem sido um fenômeno pouco explorado no campo das pesquisas cientificas. Os poucos estudos com casais que já possuem filhos biológicos, não levam em consideração a perspectiva dos irmãos, mas sim dos pais. O estudo de caso realizado por Otuka, Scorsolini-Comin e Santos (2012) descreveu a experiência de adoção de uma criança por um casal que já tinha filhos biológicos. Os resultados apontaram que a adoção foi experienciada pelos pais com muito temor e fantasias. No que se refere à percepção dos pais acerca do que os filhos biológicos falaram sobre a adoção, foi que de início o filho biológico teve resistência em aceitar a adoção, mas com o passar do tempo ocorreu um processo de vinculação entre eles. Dias e Queiroz (2015) realizaram uma pesquisa que buscou investigar as percepções e vivências na perspectivas de filhos biológicos, diante da chegada de um irmão adotivo. Como resultados as autoras encontraram que principalmente no período inicial da adoção, os filhos biológicos relataram ter uma ambivalência de sentimentos. Apesar das mudanças iniciais, os entrevistados relataram que após um período de convivência a relação foi consolidada. O estudo evidenciou também a importância do tratamento dos pais de forma igualitária para com os filhos, como uma forma de fortalecimento dos vínculos afetivo. Apoiada na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (BRONFENBRENNER, 2011), que permite analisar as relações entre pessoas nos mais diversos contextos, e o modo como esses elementos mutuamente se influenciam, foi que apresentamos a seguinte proposta de investigação. Ao propor a Teoria bioecológicaÚrie Bronfenbrenner (2011) criou o modelo PPCT (Pessoa-Processo- Contexto-Tempo). Segundo sua concepção o processo de desenvolvimento é algo relacional onde indivíduo e ambiente interagem um sob o outro (BRONFENBRENNER, 2011). O elemento pessoa refere-se a características biopsicológicas produto e produtoras de desenvolvimento (BRONFENBRENNER, 1995). Os processos proximais atualizam as características da pessoa em desenvolvimento por meio de interações bidirecionais entre ela e as demais pessoas, os objetos e os símbolos presentes no contexto (BRONFENBRENNER e CECI, 1993; 1994). O elemento contexto é formado por um conjunto de sistemas, no qual o mais imediato é denominado microssistema. O mesossitema é formado por um conjunto de microssistemas, casa, escola, comunidade e outros. O exossistema inclui os ambientes que influenciam a pessoa em desenvolvimento e são influenciados por ela, sem que a pessoa participe diretamente dele. E o macrossistema é o conjunto de valores, crenças, hábitos e formas de vida praticadas em uma determinada cultura (BRONFENBRENNER, 1995; 1996). O último elemento, o tempo,possui como principal característica, considerar as mudanças ocorridas ao longo da vida da pessoa em desenvolvimento (BRONFENBRENNER e MORRIS, 2006). 2 - OBJETIVOS Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa Conhecer a experiência de formação do relacionamento fraterno entre filhos biológicos e filhos adotivos. Essa tarefa se desdobra nos seguintes objetivos específicos: 1) Compreender a experiência vivida pelos filhos biológicos em relação ao processo adotivo; 2) Compreender a experiência vivida pelos filhos adotivos em relação ao processo adotivo quando a família possui filhos biológicos; 3) Investigar a influência da relação parental na constituição do vínculo fraterno na percepção dos filhos biológicos e adotivos;4) Investigar como os pais percebem sua interferência na relação fraterna; 3– MÉTODO 3.1 Participantes e procedimentos de coleta dos dados Participaram deste estudo duas famílias da região da Grande Vitória, Espírito Santo: uma constituída de pais, uma criança biológica, uma criança e uma adolescente adotivas; outra também constituída por pais, uma criança biológica e uma criança adotiva, totalizando nove participantes. A coleta de dados foi realizada nas residências dos participantes, conforme agendamento prévio. Os participantes firmaram sua concordância em participar da entrevista por meio da assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido e Assentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa respeitou a Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. 3.2 Instrumento e tratamento dos dados O instrumento para coleta de dados consistiu em roteiro semiestruturado de entrevista distintos para pais e filhos. Os pais responderam um roteiro contendo questões relacionadas a aspetos socioeconômicos, rotina, convívio familiar, processo adotivo, convivência entre irmãos e intervenções parentais no convívio fraterno. Com os filhos (adotivos e biológicos), a entrevista teve como objetivo a caracterização do participante, adoção, relacionamento fraterno e familiar. Os dados dos filhos adotivos e biológicos foram tratados com base no Método Fenomenológico para investigação psicológica que é sistematizado a partir de cinco etapas de organização dos dados, a saber: 1) transcrição literal das entrevistas, 2) criação das unidades de significados, 3) distribuição das falas entre as unidades de significados, 4) padronização da linguagem e 5) transformação das unidades de significados em estruturas narrativas. As unidades de significados corresponderam à criação de categorias temáticas para que os dados fossem agrupados conforme os conteúdos trabalhados no roteiro de entrevista (TRINDADE; MENANDRO; GIANÓRDOLI-NASCIMENTO, 2007). Os dados dos pais foram tratados a partir da Análise de Conteúdo apresentada por Bardin (2009), na qual foi realizada a pré-análise; a exploração do material; o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. Além das entrevistas todos os participantes construíram um genograma das relações familiares (MCGOLDRICK, GERSON e PETRY, 2012, p.23). Os genogramas foram analisados conforme orientam MacGoldricket al. (2012): de forma qualitativa, com a observação das relações diádicas indicadas pelos participantes. 4 – RESULTADOS Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa A análise das entrevistas dos pais permitiu a construção de três categorias: 1) processo adotivo, 2)maternidade/paternidade e 3) relacionamento fraterno. Os dados das entrevistas com os irmãos (origem biológica e adotiva) permitiram a construção de oito unidades de significados para a composição das estruturas narrativas: 1) Histórico da adoção; 2) Expectativas ao saber da adoção; 3) Concepção de família; 4) Rotina familiar; 5) Relação fraterna; 6) Intervenção parental; 7) Mudanças pessoais após a adoção, e 8) Expectativas futuras. Para preservar o anonimato dos participantes, os nomes aqui utilizados são fictícios. Família 1- Maradona (pai - 36 anos); Flor (mãe – 37 anos); Zico (filho biológico- 7 anos); Dandara1 (filha adotiva bebê – 2 anos – adotada há 1 ano e 6 meses) e Laini (filha adotiva adolescente – 14 anos- adotada há 3 meses). Resultado –Filhos Laini Histórico da adoção Laini conheceu sua mãe Flor na casa de acolhimento durante uma atividade em que Flor participou. Ao fim da atividade Liani ficou triste por Flor ter ido embora já demosntrando um afeto pela futura mãe. Depois de passados alguns dias desta atividade Flor e sua família apadrinharam Liani. Assim começou uma convivência entre Liani e sua futura família, principalmente nos finais de semana e no período de férias escolares. Posteriormente veio a guarda da adolescente e em seguida a adoção. Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família Laini relatou ter ficado feliz ao saber da adoção, pois amava estar e brincar com seus irmãos. Ela definiu família como pessoas em que se pode confiar nos momentos difíceis, pessoas que dão carinho, e cuidado. Rotina familiar Laini considera que a adaptação à rotina familiar foi positiva para sua vida. Como exemplo, referiu-se aos seus horários de dormir e acordar. Segundo ela quando estava no abrigo dormia mais tarde e acordava cedo, atualmente dorme às nove horas e acorda as seis. Cita também mudanças na alimentação que era pouco variada e agora por vezes, consegue comer coisas que gosta e as mudanças na aprendizagem, tanto devido ao fato de estudar em uma escola privada, quanto de receber apoio dos pais para realizar atividades escolares que têm dificuldade. Outra mudança citada pela jovem refere-se aos programas de lazer realizados nos finais de semana, pois sempre que possível a família realiza passeios juntos. Relação fraterna 1 Vale salientar que no caso da família 1 embora seja citada a criança mais nova não gerou dados para a pesquisa, visto que, não possui idade suficiente para falar e relatar toda a situação vivenciada. Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa Laini refere-se à relação com os irmãos como harmoniosa. Com seu irmão disse que realiza diversas atividades como, desenhar, pintar, jogar futebol e videogame. Em alguns momentos tem problemas com Zico, pois às vezes ele quer as coisas do jeito dele. Como ela mudou de escola atualmente tem necessitado se dedicar mais aos estudos e, devido a isso, tem diminuído o tempo de brincar e Zico não entende. Além disso, disse que Zico não aceita perder em jogos o que gera conflitos, embora passageiros. Valoriza a sinceridade de Zico para com ela, dando o exemplo de um episódio em que o irmão quebrou um objeto dela e a contou, pedindo desculpas. Com sua irmã Dandara,falou que a menina é muito pequena, mas que elas são muito apegadas. Elas dormem no mesmo quarto e sempre que Laini vai dormir, Dandara a segue e vai dormir também. Disse que brincam e que todos os dias que passa com Dandara são legais. Na análise do genograma Laini definiu que possui uma relação muito próxima de Zico. Intervenção Parental Os pais são muito participativos sempre que ela e os irmãos estão brincando, pois se envolvem nas brincadeiras. Sempre que ocorre algum conflito com Zico o pai também intervém, chamando Zico para conversar e explicando como as coisas devem ser. A mãe não costuma se envolver nos conflitos devido ao fato de Zico respondê-la de maneira agressiva, fazendo com que ela se estresse. Mudanças Pessoais após a adoção e Expectativas futuras Laini referiu-se ao fato de ter mais amigos e de se perceber como uma pessoa mais confiante. Hoje sabe que tem pessoas que vão protegê-la, caso algo ruim venha a acontecer. Se sente amada e ressaltou que, por mais que as pessoas digam para ela que não existe família perfeita, acha que a dela é perfeita. Ressaltou que atualmente se sente muito feliz, confia que tem proteção, sente que tem uma família verdadeira e que a ama. Pretende se formar e ser juíza, ter uma casa em frente a praia e também poder comprar uma casa ao lado da sua para a mãe. Pretende ter um filho biológico, e um adotivo, formando um casal. Zico Histórico da adoção Zico tinha 7 anos e estava no primeiro ano do ensino fundamental no momento da coleta. O menino relatou que vivenciou por duas vezes este processo, sendo o primeiro de Dandara e o outro o de Laini. Ficou sabendo da adoção de suas irmãs por meio da mãe. Na adoção de Dandara, primeiramente a viu por fotografia, ele e sua família estavam na casa de seu tio, e em meio a conversa a mãe mostrou a fotografia da criança para todos. Quando a viu, achou ela bonita e quando a conheceu contou que foi “bem legal”.Sobre Laini, também a viu primeiramente por fotografia, mas, posteriormente, a jovem passou a frequentar a sua casa nos finais de semana visto que havia sido apadrinhada pela família. Falou que sempre que Laini tinha que ir embora era muito ruim, pois ele sentia sua falta, não tinha com quem brincar, pois mesmo tendo Dandara como irmã, ela ainda era um bebê. Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa Ao saber que teria um irmão pensou que seria bem legal, que ele seria ainda mais feliz. Sua expectativa era a de que seria do sexo masculino. Contou que se ele pudesse ter escolhido como seria a criança na primeira adoção, teria escolhido um menino, tendo sete anos de idade assim como ele. O garoto chegou a justificar que seu desejo por outro irmão deve-se ao fato de poder brincar de bola, videogame e até ir ao campo de futebol juntos. Para Zico a família é uma coisa que tem pessoas se abraçando. E disse que a relação entre irmãos é algo bem legal. Rotina familiar Zico e Laini ajudam nas atividades de casa, deu exemplos de atividades que fazem como retirar o lixo do banheiro, e limpar os banheiros. Ele e Laini costumam fazer atividades extras a fim de auxiliar e surpreender a mãe, como lavar a louça sem a mãe pedir. Relação fraterna Na relação com Laini falou que brincam muito, jogam handebol, futebol, videogame, pique esconde, dentre outras brincadeiras. Disse que Laini é a melhor irmã do mundo. Segundo Zico, nem sempre podem realizar atividades juntos, porém quando estão com tempo, adora jogar futebol com ela. Ao ser questionado acerca da existência de algo que não gostava em sua irmã, disse que apenas fica triste nos momentos em que ela não pode brincar com ele por ter que realizar outras atividades. Costuma brincar um pouco menos com Dandara devido ao fato de ser muito pequena, mas relatou que ela costuma abraçá-lo. Disse que uma característica que Dandara tem e não lhe agrada é que às vezes, ela costuma morder e ele fica chateado. Disse que o que existe de mais legal com suas irmãs é o fato de brincarem, saírem para fazer piquenique, principalmente nos finais de semana. Ao descrever sua relação com Laini através do genograma Zico a definiu como muito próxima. Intervenção parental Às vezes ele e suas irmãs costumam brigar e os pais intervêm, mandando-os pararem. Por vezes ocorre de a mãe deixá-los de castigo, cada um em seu quarto. Ao ser questionado sobre os motivos das brigas com Laini, disse que se deve ao fato de às vezes ele não querer ir para a escola e com isso, ele grita com sua mãe, fazendo assim com que Laini brigue com ele para que não tenha esse tipo de comportamento. Além das brigas, disse que a intervenção parental ocorre quando eles estão brincando. Em alguns momentos ocorre dos pais brincarem com eles, por exemplo, quando toda a família joga futebol. Mudanças pessoais após a adoção e Expectativas futuras Zico disse que as mudanças que ocorreram devem-se ao fato de hoje ter companhias para brincar, contou que hoje sua vida é mais legal e que tem as melhores irmãs. Ele não relatou nada relacionado a expectativas futuras. Resultados - Pais Processo Adotivo Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa O casal descreveu que a motivação inicial pela adoção partiu de Flor. Desde que se casaram, ela sempre manifestou o desejo de adotar, mas Maradona pedia que esperasse mais um tempo. Nasceu então Zico e eles adiaram por mais um tempo. Mas segundo Maradona, constantemente sua esposa comentava sobre adotar. Até que um dia ela o chamou para conversar e então decidiram por dar entrada nos papéis da adoção. Quando tomaram a decisão de adotar, conversaram com o filho, na época ele tinha 6 anos de idade e, manifestou que gostaria de ter um irmão grande, para que pudesse brincar e jogar bola com ele. Contudo, os pais optaram por uma menina, com idade entre 0 e 6 anos. E, ao contarem sobre a decisão, não houve oposição por parte do filho. Maradona e Flor, contaram que ao darem entrada nos papéis da adoção e passarem pelo curso, tudo aconteceu muito rápido. Após o curso, em cerca de 1 mês já ligaram falando da criança que estava disponível para a adoção, no caso a filha Dandara. Para eles mesmo tendo esperado pouco tempo, essa espera foi agoniante. Ao darem entrada no pedido de adoção, conversaram com as famílias e pessoas próximas sobre a decisão, porém, o casal relata que a conversa não teve o intuito de pedir permissão, mas de simplesmente comunicar. A família extensa era contra a adoção e, só tiveram menos rejeição devido ao fato da primeira filha ser bebê. A filha Laini eles conheceram no abrigo, depois de 1 ano da primeira adoção. Inicialmente a apadrinharam, mas logo deram entrada no pedido de guarda definitiva, porém, ao decidirem por adotar a segunda filha, já em fase adolescente, receberam muitas críticas. Flor chegou a relatar que ambas as famílias, tanto por parte dela quanto de seu esposo, possuíam preconceito com a cor e que enfrentam resistência por isso, visto que os familiares ainda não aceitam a filha adotiva adolescente. Maternidade/paternidade Quanto ao processo de maternidade/paternidade foi relatado por ambos que não percebem diferenças entre serem pais de filhos biológicos e adotivos. Segundo eles, sentiram-se pai e mãe das meninas ao receberem a ligação comunicando que podiam buscá-las. Sobre as intervenções junto aos filhos revelaram que agem das mais variadas formas, tanto em relação a corrigir os filhos, quanto, quando eles estão brincando e eles também brincam juntos. Se interessam pelo que está acontecendo na vida dos filhos. Quando os filhos fazem algo que eles não acham correto como, por exemplo, brigar, eles conversam com ambos da mesma maneira e os deixam de castigo. Relacionamento Fraterno O casal conta que logo que a filhamais nova chegou Zico teve muito ciúmes, chegou a ficar doente e internado no período da primeira adoção. Na adoção de Laini, Zico não teve a mesma reação e os dois se gostaram muito desde o começo. Com a chegada de Laini, consequentemente, o aumento de pessoas na casa fez com que tivessem que comprar móveis novos como cama, o que despertou ciúmes por parte de Zico e tiveram que comprar outra cama para ele, pois ele queria uma igual à da irmã mais velha. Atualmente a convivência do dia-a-dia dos filhos é boa, brincam muito, fazem as vontades uns dos outros, principalmente Zico e Laini. Em relação a Zico e Dandara a mãe relatou que o ciúme não findou, mas reduziu bastante. Segundo Flor, ela e seu esposo tentam evitar o máximo de rivalidades, buscando tratá-los com igualdade. Disseram que hoje eles sabem dar mais limites ao filho, pois antes, devido ao fato de ser filho único, acabavam comprando para ele tudo o que queria. Um dos fatores que ocorre e que Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa ainda é motivo de conflito entre os filhos, é o fato do filho Zico ainda não saber perder em jogos e não saber aceitar quando seus pedidos são recusados. Para eles, essa característica às vezes gera conflitos. Ressaltam que houve mudanças positivas após a chegada das filhas na vida de Zico, como por exemplo, relacionadas à escola, melhoria na aprendizagem, aprender a compartilhar as coisas, a seguir regras, como o horário de dormir, de comer e pedir desculpas quando está errado. Percebem que Zico tem muito carinho para com as irmãs, mais principalmente, com Laini visto que ela brinca com ele. A descrição do relacionamento dos filhos por parte dos pais no genograma foi definida como sendo uma relação próxima. Família 2- Rosa (mãe –34), Zidane (pai- 51), Messi (filho biológico – 10 anos – adotada há 1 ano) e Latifah (filha adotiva – 10 anos). Resultados Filhos Latifah Histórico da adoção Latifah já sofreu muito com suas quatro irmãs biológicas, que antes de sua adoção estavam abrigadas. Relatou que ela e as irmãs tinham uma família que vivia em constante desarmonia e que chegaram a morar na rua, passar fome e até mesmo sofrer com a violência física. A jovem disse que ao ser adotada se sentiu muito feliz, se sentiu solta e também ficou feliz porque suas irmãs também foram adotadas por outras famílias e que tinha a certeza de que seriam bem cuidadas. Relatou que no primeiro dia em que chegou à nova casa, ficou com muitos sentimentos positivos, pois sentia que a partir daquele momento teria um local para deitar, dormir, fazer sua higiene pessoal de maneira individual. Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família Em uma das visitas realizadas ao juizado, foi comunicada pela juíza que havia uma família com interesse em adotá-la e perguntou-a se tinha interesse, de acordo com a menina ela de pronto respondeu que sim. As expectativas ao saber da adoção foram grandes, pois gostou muito da noticia de saber que teria um pai, e uma família, pois imaginava que nunca seria adotava e, portanto viveria pra sempre no abrigo. Além dos sentimentos de felicidade, disse que ficava imaginando que poderia ser mais livre, ia ter a oportunidade de estudar e aprender; teria material escolar, boa escola e bons professores. Contou que não imaginava que teria um irmão do sexo masculino, acreditava que seria menina, devido o fato dela sempre ter tido irmãs. Outra expectativa que teve foi de que imaginava que seu irmão(a) era simpático, gostava de rir e de conversar A concepção de família é positiva atualmente. Acredita em uma família que não é partida, que tem a união dos pais e entre irmãos. Tem a crença também de que o fato dos filhos respeitarem os pais contribui muito para ter uma boa família. A jovem relatou que ao visitar a família extensa com os novos pais, percebeu que são sempre unidos. Além disso, incluiu a relação entre irmão como parte da concepção Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa de família. Disse que é uma relação baseada em viver juntos, brincar e ser feliz. Durante todo momento enfatizava que família é poder viver juntos. Rotina familiar Nos primeiros dias ficava muito tímida e sentia saudade de suas irmãs, mas com o passar do tempo as coisas mudaram. Relatou que durante a semana ela e seu irmão Messi assistem televisão, lêem livros, estudam,brincam e auxiliam nas tarefas da casa. Aos finais de semana ela e sua família vão à igreja e a lanchonetes e restaurantes. Relação fraterna Realiza muitas atividades junto com o irmão, como, comer, brincar e até ficar sem fazer nada em casa. Disse também que tem conflitos que às vezes se tornam ações mais agressivas e, que na maior parte das vezes os conflitos são iniciados por seu irmão. Ao descrever seu relacionamento com Messi através do genograma disse que é uma relação conflituosa. Intervenção parental Latifah disse que os pais são mais tranquilos e que a intervenção parental, ocorre somente em situações de conflitos. Segundo ela os pais têm medo de que as brigas e agressões entre ela e o irmão se tornem mais graves, resultando em acionamento da polícia e até ações judiciais. Mudanças pessoais após a adoção e Expectativas futuras Disse que a primeira coisa que teve alteração em sua vida foi a modificação do seu sobrenome. Além disso, relatou que se desenvolveu muito no que se refere a conhecimento, aprendeu a ler e vai a uma boa escola hoje. Percebe que hoje possui mais educação para falar com as pessoas, disse que aprendeu a usar as “palavras mágicas”, como, com licença, por favor, e obrigada. Acha que o que não mudou foi seu caráter, além de fazer atividades tanto domésticas, quanto escolares, sem que as pessoas tenham que ficar mandando que ela faça. Para o futuro disse que quer crescer, casar, ter sua casa e sua família. Poder sair junto com os familiares para conversar, ir a um restaurante e realizar passeios. Messi Histórico da adoção Messi tinha10 anos e estava no quinto ano do ensino fundamental no momento da coleta de dados. Segundo Messi, ele quem pediu aos pais para realizarem a adoção, pois vivia muito sozinho e com isso, achava a situação ‘chata’. O menino relembrou como foi a primeira vez em que viu sua irmã. Falou que ele e seus pais foram até o abrigo onde Latifah residia e a avistou do portão. Disse que vê-la de início foi estranho, porém não conseguiu definir os sentimentos que teve. Expectativas ao saber da adoção e Concepção de família Messi Relatou que ao ficar sabendo que seus pais iriam realizar a adoção sentiu muita felicidade. Imaginou que a irmã teria sua idade, porém, quando perguntado sobre características de personalidade que Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa ele esperava que ela tivesse, ele respondeu que pensou que ela seria ‘mais legal’, demonstrando assim certa insatisfação em relação a sua irmã. A descrição de Messi sobre sua concepção de família é a de “pessoas unidas, dando carinho, amor, beijos e abraços”, contou que gosta muito desse tipo de coisa. Contudo, ao falar sobre sua noção acerca do que considera uma relação entre irmãos disse que há brincadeiras, brigas, provocações e reclamação. Rotina familiar Messi citou que assim que Latifah chegou, as coisas começaram a desaparecer da geladeira, o quarto passou a ficar mais bagunçado, o guarda-roupa com muita roupa espalhada e a casa mais suja ainda. Relação fraterna Segundo Messi, todos os dias ele e Latifah brigam por variados motivos, como exemplo, citou brigas para que ele realize as atividades de arrumação das louças. O menino relatou que não conseguia pensar no que Latifah tinha de ‘bom’, porém, conseguia descrever várias coisas que ela tinha de ruim ou que precisava melhorar, segundosua concepção. Disse que a menina não respeitava seus pais, era desorganizada e vivia o provocando. Muito tempo depois, comentou que as brincadeiras de Latifah eram legais. Ao questioná-lo sobre as brincadeiras que costumavam ter, falou que era ‘lutinha’, e que para ele, esse tipo de brincadeira é a mais legal. Messi realiza trocas com a irmã oferecendo doces e dinheiro para que ela realize as atividades que são de obrigação dele. Contou que dividir o quarto com a irmã não é legal e ressaltou, que a única coisa que existe de legal entre eles, são os momentos de brincadeiras. Messi disse que não conta para as pessoas que sua irmã é adotada, quando existe a necessidade apenas fala que tem uma irmã, mas não dá detalhes. Ao final da etapa de entrevista disse que eles brigam como cão e gato mais se amam. Ao analisar o genograma evidenciou-se que Messi caracterizou sua relação com Latifah como sendo próxima. Intervenção parental Segundo Messi às vezes que seus pais intervém na relação entre ele e a irmã, são somente em momentos de briga que por vezes, acabam sendo violentas, chegando a casos de “caírem na porrada”, ou em brincadeiras as quais os pais percebem estarem ficando mais violentas podendo gerar alguma lesão. Fora desse contexto, os pais não realizam nenhum tipo de intervenção. Mudanças pessoais após a adoção e Expectativas futuras Disse que as mudanças que ocorreram devem-se ao fato de hoje ter uma companhia e estar mais animado, pois antes da chegada de sua irmã, ficava sempre recostado pelos cantos, com a cara triste. Messi disse que nunca havia pensado sobre as expectativas relacionadas ao futuro. Resultados - Pais Processo Adotivo Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa De acordo com o casal a vontade de adotar surgiu antes mesmo de eles terem o filho biológico, pois desejavam ter um biológico e adotar outra criança. Com o nascimento do filho e o passar do tempo, Rosa disse ao seu marido que não queria ter outro filho, pois estava ficando velha, e também porque não queria passar por toda fase de gestação e criação de um bebê. Destacam que trabalham durante todo o dia. A mãe trabalha viajando e por vezes, têm que se ausentar alguns dias e que por isso uma criança maior seria melhor. Além disso, o filho manifestava que era muito sozinho e que queria ter um(a) irmão(ã). Devido a estes fatores começaram a pesquisar sobre adoção. O casal conversou sobre o desejo de adotar com o filho que não se opôs, pois já desejava alguém para compartilhar com ele os momentos de lazer. Contam que a primeira vez que comentaram que iam adotar, ele falou para irem ao orfanato buscar uma criança. Além do filho, o casal contou para a família extensa e relatou que as famílias de ambas as partes foram bem participativas, principalmente, porque na família de Zidane já havia casos de adoção por parte de uma tia. Com os amigos e pessoas conhecidas sempre falam que tem dois filhos e que um deles é adotivo. Rosa chegou a ouvir por parte de algumas pessoas conhecidas de que eles não deveriam adotar uma criança grande, mas relata que esse tipo de comentário não influenciou sua decisão. Após decidirem que iriam adotar, demoraram a dar entrada na justiça visto que primeiro foram pesquisar e estudar sobre adoção e que somente após uns 2 anos é que deram entrada. Sobre a escolha da criança, não fizeram muitas objeções, as únicas especificações que fizeram era que fosse uma menina, com idade próxima a do filho biológico. Além disso, fizeram a ressalva para que não tivesse problemas de saúde, mas especificaram que isso, não se devia a discriminação, mas devido ao fato de não terem tempo para lidar com uma situação que demandasse visitas médicas constantes. Rosa ficou muito ansiosa e disse que tiveram expectativas muito boas em relação à adoção. Descreveu que a sensação sentida era semelhante a de estar grávida. O casal ficava pensando que seu filho teria uma companhia para brincar e fazer atividades que ele gosta. Ao darem entrada ao processo, logo fizeram o curso e com cerca de quatro meses a guarda definitiva da menina foi liberada. Para o casal o processo foi muito rápido e acreditam que deveria haver um pouco mais de preparação. Na época ela e seu esposo estavam passando por um momento conflituoso que veio a piorar com a chegada da filha. A menina era muito teimosa, chorava muito querendo voltar para o abrigo, tinha uma personalidade muito diferente do filho biológico, e isso aumentou ainda mais o estresse e, consequentemente, o conflito entre o casal. Segundo eles somente após uns 6 meses, é que começou uma maior adaptação. Maternidade/Paternidade O casal se sente pais de Latifah, mas a menina não os chama de pai e mãe. Zidane não se importa, pois compreende que a menina passou por outro processo de formação. Já Rosa, se sente chateada e, por vezes, acaba discutindo querendo obrigar que a menina os chame de pai/mãe. Mas apesar da situação eles apenas desejam que a menina assim como o filho biológico os respeite. Os pais fazem muitas comparações entre os filhos, principalmente a mãe. Quando questionada acerca da diferença entre ser mãe de um filho biológico e um adotivo, pontuou que a adoção ainda é recente, mas que sente diferença. Justifica isso devido o fato de ter moldado o filho biológico desde pequeno. Consideram que as Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa personalidades dos filhos são muito diferentes. E, destacam que gostariam muito que a filha adotiva fosse mais parecida com o filho biológico, pois ele é carinhoso, afetuoso. Sobre as intervenções os pais se consideram sempre presentes, contudo, não são de interferir nas brincadeiras e atividades realizadas pelos filhos. O pai se considera uma pessoa que não brinca e que conversa pouco, mas acredita que o fato de estar sempre presente é algo positivo na vida deles. Quando ocorrem brigas os pais costumam conversar e explicar os motivos pelos quais tal fato não pode ocorrer. Relacionamento Fraterno Rosa fala que quando a filha ficou de maneira definitiva em sua família, o filho biológico sentiu um pouco de ciúmes. Os primeiros momentos dos filhos juntos foi muito bacana. Messi apresentou para Latifah o condomínio e todo o apartamento. Além disso, consideram que a convivência dos filhos é ótima. Eles brincam muito juntos, vão a piscina, lêem e passeiam sempre juntos. Às vezes ocorrem algumas brigas, mas segundo eles é algo natural entre irmãos. Para Rosa os aspectos positivos do filho biológico que contribuem para a relação fraterna são a afetividade, o conhecimento que ele já tem um pouco mais do que Latifah, e que com isso, pode ajudá-la e por ser muito carinhoso. Já Latifah é considerada como sendo muito responsável com os afazeres, com as atividades de casa e, além disso, é muito corajosa, fato que acaba por influenciar Messi. Dos aspectos negativos os pais falam que eles implicam muito um com o outro. A menina, por exemplo, fica atenta aos erros do irmão a fim de comunicá-los aos pais, já o menino, costuma atribuir adjetivos negativos a irmã, fato que a mãe acredita que contribui para que a menina se sinta inferior. Ao descreverem o relacionamento dos filhos através do genograma houve variações nas respostas, Zidane considera que a relação entre os filhos é muito próxima, já Flor considera que é apenas próxima. 5 – DISCUSSÃO As entrevistas com os filhos evidenciam que as relações fraternas podem ocorrer de diferentes modos. Assim, como aponta a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, as interações entre as pessoas, variam a depender de diversos fatores, (Pessoa-Processo-Contexto-Tempo) (BRONFENBRENNER, 2011), sendo, a inter-relação destes fatores determinantes dos modos como os relacionamentos serão construídos. Na família 1 os eventos de mudança decontexto ao longo do tempo, as característica pessoais e as interações influenciam na construção da relação. Percebe-se de início o estabelecimento de processos proximais, via participação dos pais nas atividades realizadas pelos filhos, como brincadeiras, passeios, realização de tarefas escolares, dentre outras. A participação em tais eventos e a integração dos filhos neste tipo de atividade é importante para a construção de um relacionamento amigável e positivo entre eles. Embora percebam a existência de ciúmes do filho, principalmente com a chegada das filhas, os pais tentam tratá-los de forma igualitária e sem comparações. A posição dos pais corrobora com os autores Dias e Queiroz (2015), que revelam em seu estudo que ao evitar comparações entre filhos, os pais acabam por contribuir para que os processos de competição, brigas e ciúmes sejam evitados. Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa A mudança no contexto, tanto devido à chegada das filhas, quanto no que se refere ao espaço físico, foram eventos considerados positivos na vida dos filhos. A família teve que mudar de residência, fato que contribuiu na vida do filho biológico, pois passou a estudar mais próximo de casa e com isso pode começar a acordar em um horário mais tarde. A chegada das irmãs contribuiu para que o menino aprendesse a compartilhar as coisas, a ter limites, respeitar regras e ouvir não, algo que tinha dificuldade e segundo justificativa dos pais, por ser filho único. A interação de Laini com Zico trouxe também como contribuição a melhora no desempenho de atividades acadêmicas, visto que a jovem o auxilia na realização de atividades escolares. De acordo com Oliveira (2005) fatores como idade e sexo podem influenciar no relacionamento. O fato de Laini ser mais velha que Zico e engajar-se em muitas atividades com ele (tarefas domésticas, atividades escolares e brincadeiras) permite a ocorrência de processos proximais que influenciam o desenvolvimento do menino (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Na vida de Laini observam-se mudanças positivas, pois a mesma se sente mais segura. A jovem encontra na nova família uma rede de apoio e consequentemente, de proteção. A construção de relacionamentos saudáveis dentro desse microssistema familiar tem contribuído para que ela consiga desenvolver interações com pessoas externas a família. Percebe-se com isso que a influência do microssistema impactou também outros sistemas, como por exemplo, a escola (BRONFENBRENNER, 1996). Na família 2 os processos proximais são poucos significativos no que se refere a contribuições dos pais no fortalecimento da relação fraterna. Os pais trabalham muito, a mãe, precisa viajar e ficar dias fora de casa, com isso, os filhos passam boa parte do tempo sozinhos, fato que pode estar dificultando no processo de construção de um relacionamento entre os irmãos, devido à ausência de um terceiro significante a maior parte do tempo (BRONFENBRENNER, 2011). Percebe-se também, que a forma de se relacionar entre os irmãos é bastante conflituosa, embora haja momentos em que brinquem juntos, nota-se que o relacionamento é marcado por brigas. Ao realizar o genograma Latifah pontua que o relacionamento é conflituoso com o irmão. Uma hipótese acerca destes conflitos pode se justificar pelos ciúmes de Messi em relação à irmã e também devido à criação de expectativas por parte dele acerca da adoção e das características pessoais que o irmão(ã) teria (OLIVEIRA, 2005; DIAS; QUEIROZ, 2015). Os pais não percebem a influência do ciúme e justificam que os desentendimentos são fatos comuns entre irmãos. Os pais realizam constantes comparações entre filhos, demarcando que existem diferenças, entre eles. Há uma posição de favorecimento em relação ao filho biológico, chegando a dizer a respeito da filha adotiva, que gostariam que ela tivesse características comportamentais semelhantes à do filho biológico. Deste modo, eles acabam por reforçar a existência de disputas entre os filhos contribuindo para o aumento de conflitos entre eles e consequentemente, gerando um distanciamento e criação de dificuldade para que o relacionamento fraterno se estreite e passe a ser baseado no cuidado. Embora Bronfenbrenner (2011) afirme que os relacionamentos entre as pessoas podem mudar ao longo do tempo, há um receio de que estes atritos entre os irmãos tornem-se numa relação negativa e destrutiva, podendo gerar um total rompimento dos laços afetivos (OLIVEIRA, 2005). Universidade Federal do Espírito Santo Programa Institucional de Iniciação Científica Relatório Final de Pesquisa Devido às poucas interações dos pais de forma a facilitar essa interação, percebe-se que o fator tempo de modo isolado, não tem sido muito significativo no estabelecimento dessa relação. A mudança de contexto para Latifah provocou mudanças positivas como melhoria na dicção e na aprendizagem escolar, visto que o investimento da nova família permitiu que a menina frequentasse a escola regularmente e fosse alfabetizada. Latifah relata que nos contextos anteriores não teve acesso a muitos conhecimentos que passaram a ser adquiridos com a família atual, atualizando suas características pessoais de recurso (Bronfenbrenner & Morris 2006). Tais fatores demonstram que o microssistema familiar contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento de Latifah. A mudança de contexto para Messi, segundo os pais permitiu ao menino ter uma companhia para realizar suas atividades, de lazer e estudos. O próprio menino se vê como uma pessoa mais ativa no ambiente agora que possui uma irmã para interagir, o que favoreceu a atualização de suas características pessoais de força. Considerações Finais A construção de um relacionamento depende da interação entre múltiplos elementos. O tempo como fator relevante, torna-se relativo e dependente dos demais fatores promotores de processos proximais no contexto. Assim, alguns elementos podem ser destacados como influenciadores na vinculação de irmãos, como a participação efetiva dos pais no relacionamento dos filhos, como intervenções nos momentos de conflitos, brincadeiras e passeios que permitam interação e as próprias características pessoais dos irmãos. Desse modo, convivendo como irmãos há cerca de um mês, Zico e Laini já apresentam uma relação fraterna próxima e permeada de afeto positivo. Enquanto na família 2, Messi e Latifah, com 1 ano de convivência, apresentam uma relação conflituosa sem muita proximidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, 2009 BRONFENBRENNER, U.; CECI, S. J. Heredity, environment, and the question “how?”: A new theoretical perspective (eds.) Nature, Nurture, and Psychology. APA Books, Washington, DC, 1993. BRONFENBRENNER, U.; CECI, S. 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