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Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. VeigaMAD - Problema 5 Objetivos: 0. Conhecer a estrutura geral dos fungos 1. Conhecer as IRAS (medidas de prevenção, controle; CCIH) 2. Conhecer os agentes etiológicos e fisiopatologia das micoses 3. Detalhar a Candida auris 4. Entender a resposta imune aos fungos 5. Explicar a farmacologia dos antifúngicos 6. Discutir a epidemiologia das doenças fúngicas Objetivo 0 Conhecer a estrutura geral dos fungos FUNGOS Os fungos fazem parte do reino Fungi. São quimio-heterotróficos e adquirem alimentos por absorção. Com exceção das leveduras, os fungos são multicelulares. A maioria se reproduz através de esporos sexuados e assexuados. São importantes para a indústria alimentícia (pães, queijos, vinhos), para a decomposição da matéria orgânica e para a indústria farmacêutica, por serem produtores de antibióticos (penicilina), imunossupressores (ciclosporina) e hormônios (esteróide). Causam doenças em plantas e animais e alguns produzem toxinas. CARACTERÍSTICAS ● Quimioheterotróficos ● Eucariontes ● Maioria multicelular ● Parede celular composta de quitina e glicana ● MP formada por ergosterol (substitui o colesterol) ● Aeróbios (maioria) ou anaeróbios facultativos (fermentadores) ● Ubíquos ● Simbiontes, comensais ou parasitas ● Reprodução por esporos, sexuados ou assexuados ○ teleomorfa → forma esporo sexuado ○ anamorfa → forma esporo assexuado Em relação às bactérias, os fungos são de crescimento lento, com tempo de duplicação celular de horas em vez de minutos. MEMBRANA E PAREDE CELULAR Embora os fungos tenham ultraestrutura celular semelhante à das células animais, existem diversas diferenças bioquímicas singulares. O esterol utilizado na membrana celular dos mamíferos é o colesterol, enquanto nas células fúngicas é o ergosterol. Essa composição é importante para manter a estabilidade da membrana, visto que o esterol promove maior rigidez. As enzimas que catalisam a síntese de ergosterol se localizam nos microssomos dos fungos. MORFOLOGIA Quanto à morfologia, podemos dividir os fungos em leveduras e fungos filamentosos. LEVEDURAS As leveduras são geralmente unicelulares, esféricas ou ovais e microscópicas. Apresentam elevada patogenicidade Se reproduzem assexuadamente por brotamento ou fissão. No brotamento a célula forma um broto, o blastoconídio, que se alonga e se separa. Suas células-filhas podem alongar-se e formar pseudo-hifas, que são os brotos que não se separam um dos outros e formam uma cadeia de células. A Candida albicans se adere às células epiteliais humanas na forma de levedura, mas precisa de pseudo-hifas para invadir os tecidos profundos. Na fissão, a levedura se divide em duas células iguais. FUNGOS FILAMENTOSOS Os fungos filamentosos (bolores) são multicelulares e constituídos por hifas, que se alongam na extremidade pelo processo de extensão apical. Têm pouca patogenicidade. ⤷ Hifas Quanto à estrutura, as hifas podem ser cenocíticas (sem septos) ou septadas (maioria). Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga 🍄 Alguns fungos formam estruturas reprodutivas macroscópicas denominadas corpos de frutificação (cogumelos, por exemplo) em que milhões de esporos podem ser liberados. Possuem uma região que obtém os nutrientes e cresce na superfície do meio de cultura, as hifas vegetativas, e uma parte envolvida com a reprodução e se projeta acima da superfície do meio, as hifas aéreas ou reprodutivas. ⤷ São as hifas aéreas que produzem os conídios, estruturas de reprodução assexuada que são dispersas pelo ar para a disseminação do fungo. Quando as condições ambientais, se tornam favoráveis, as hifas crescem e formam uma massa filamentosa, chamada de micélio, visível a olho nu FUNGOS DIMÓRFICOS Alguns fungos podem ainda ser denominados dimórficos, quando existem tanto na forma de levedura quanto na forma de fungo filamentoso. O dimorfismo em fungos patogênicos é dependente da temperatura: a 37°C, o fungo apresenta forma de levedura, e a 25°C, forma de bolor. CICLO DE VIDA Fungos filamentosos podem reproduzir-se assexuadamente pela fragmentação de suas hifas. Além disso, tanto a reprodução sexuada quanto a assexuada em fungos ocorrem pela formação de esporos. Não confunda esporo de fungo de endósporo de bactéria - no caso destas, a estrutura não está relacionada com a reprodução, e sim com a sobrevivência na adversidade ⤷ Esporos assexuados Os esporos assexuados são formados pelas hifas de um organismo. Quando esses esporos germinam, tornam-se organismos geneticamente idênticos ao parental. São produzidos por mitose e os núcleos das células não se fundem. Há dois tipos de esporos assexuados produzidos por fungos: conidiósporo (conídio) e o esporangiósporo. Os conidiósporos podem ser artroconídios (formados pela fragmentação da hifa), blastoconídio (a partir de um broto) ou clamidoconídio (formado pelo arredondamento e alargamento dentro de uma hifa). Os esporangiósporos são formados no interior de um esporângio, ou bolsa, na extremidade de uma hifa aérea, chamada de esporangióforo ⤷ Esporos sexuados Os esporos sexuados resultam da fusão de núcleos de duas linhagens de uma mesma espécie de fungo, sendo produzidos com menor frequência do que os assexuados. A reprodução sexuada dos fungos consiste em três etapas: plasmogamia (núcleo de uma célula penetra no citoplasma de outra), cariogamia (núcleos se fundem) e meiose. Tanto um esporo assexuado como um sexuado de um fungo é capaz de germinar e desenvolver-se, originando uma nova hifa e micélio. ADAPTAÇÕES NUTRICIONAIS Os fungos geralmente são adaptados a ambientes que poderiam ser hostis a bactérias. - Os fungos normalmente crescem melhor em ambientes em que o pH é próximo a 5, que é muito ácido para o crescimento da maioria das bactérias comuns. - Quase todos os fungos filamentosos são aeróbios. - A maioria das leveduras é anaeróbia facultativa. - A maioria dos fungos é mais resistente à pressão osmótica do que as bactérias; muitos, por conseguinte, podem crescer em concentrações relativamente altas de sal ou açúcar. - Os fungos podem crescer em substâncias com baixo grau de umidade, geralmente tão baixo que impede o crescimento de bactérias. - Os fungos requerem menos nitrogênio para um crescimento equivalente ao das bactérias. - Os fungos são frequentemente capazes de metabolizar carboidratos complexos que a maioria das bactérias não pode utilizar como nutrientes. FATORES DE VIRULÊNCIA Os fatores de virulência têm sido pouco estudados entre os fungos. Como possíveis fatores podemos citar a variabilidade fenotípica, a aderência nos tecidos do hospedeiro e a produção de toxinas e enzimas. 2 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga PATOGÊNESE A resposta à infecção por diversos fungos consiste na formação de granulomas. A supuração aguda, caracterizada pela presença de neutrófilos no exsudato, também ocorre em certas doenças fúngicas, como aspergilose e esporotricose. Os fungos não apresentam endotoxinas em sua parede celular e não produzem exotoxinas similares às bacterianas. A ativação do sistema imune mediado por células resulta em uma resposta de hipersensibilidade tardia no teste cutâneo contra certos antígenos fúngicos injetados por via intradérmica. A resposta imune mediada por células é protetora; sua supressão pode levar à reativação e disseminação de infecções fúngicas assintomáticas, assim como a doenças causadas por fungos oportunistas. REFERÊNCIAS TORTORA, Gerard J.; CASE, Christine L.; FUNKE, Berdell R. Microbiologia. 12ª ed. Artmed Editora, 2016. Objetivo 1 Conhecer as IRAS e o papel da CCIH IRAS E CCIH CONCEITO E ASPECTOS GERAIS Infecção relacionada à assistência em saúde (IRAS) é a infecção adquirida após o paciente ser submetido a um procedimento de assistência à saúde ou a uma internação, que possa ser relacionada a estes eventos, e que atenda a uma das seguintes situações: ● Se o período de incubação do microrganismo causador da infecção fordesconhecido e não houver evidência clínica ou dado laboratorial de infecção no momento da internação, convenciona-se como IRAS toda manifestação clínica de infecção que se apresentar a partir do terceiro dia de internação (D3), sendo o D1 o dia da internação; ● Quando se desconhecer o período de incubação do microrganismo causador da infecção e não houver evidência clínica ou dado laboratorial de infecção no momento do procedimento de assistência à saúde, convenciona-se como IRAS toda manifestação clínica de infecção que se apresentar a partir da realização do procedimento, estando o paciente internado ou não. O termo infecções hospitalares vem sendo substituído nos últimos anos pelo termo Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), no qual a prevenção e o controle das infecções passam a ser considerados para todos os locais onde se presta o cuidado e a assistência à saúde. Sendo assim, o hospital não é o único local onde se pode adquirir uma infecção, podendo existir o risco em procedimentos ambulatoriais, serviços de hemodiálise, casas de repouso para idosos, instituições para doentes crônicos, assistência domiciliar (“home care”) e clínicas odontológicas. A repercussão da alta frequência dessas infecções pode ser notada com o aumento da morbidade e mortalidade hospitalar, bem como com o prolongamento da internação e o aumento dos custos assistenciais. No Brasil, no ano de 2017, a prevalência Global de IRAS foi de 10,8% e estão associadas a procedimentos invasivos como inserção de cateter venoso central (CVC), cateter central de inserção periférica (PICC), cateterismo vesical (CV) e intubação orotraqueal (IOT), principalmente em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). MARCOS HISTÓRICOS E REGULATÓRIOS A primeira Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) surgiu na década de 1960, mas as ações programáticas e governamentais só começaram no final da ditadura militar por meio de normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Na década de 1980, várias diretrizes técnicas nacionais envolvendo a avaliação de instalações de saúde foram publicadas. É obrigatório que todos os hospitais tenham suas próprias comissões, e essa obrigação é proveniente da portaria n° 2616, de 12 de maio de 1998, que aborda a obrigatoriedade dos Programas de Controle de Infecção Hospitalares (PCIH), dentre eles a necessidade das CCIH, definida por “órgão de assessoria à autoridade máxima da instituição e de execução das ações de controle de infecção hospitalar”. A partir de 2000, o Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar (PNCIH) foi vinculado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que assumiu a responsabilidade de trabalhar com outros órgãos de vigilância sanitária. ⤷ Foi um marco importante, indicando que o Brasil deveria manter o controle das IRAS na esfera da auditoria sanitária. Embora tenha havido avanços, o controle de IRAS passou a ser visto como uma atividade centrada no cumprimento de normas. Isso resultou no fracasso inicial das tentativas de quantificar o impacto desse agravo em âmbito nacional. Eventos epidêmicos mostraram falhas importantes no reprocessamento de artigos. 3 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga O QUE FAZ A CCIH? A CCIH é uma Comissão deliberativa, que anualmente discute e aprova o Programa de Controle de Infecção (PCIH), que é a base para o desenvolvimento das ações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), que é o órgão executivo A CCIH institui protocolos hospitalares sobre a inserção de dispositivos intravenosos, cateteres vesicais e intubações orotraqueais, e também relacionado a cirurgias, evitando assim, as Infecções Relacionadas ao Cateter (IRC), Infecções de Trato Urinário (ITU) e Pneumonias associadas à Ventilação Mecânica e infecção de sítio cirúrgico (ISC) respectivamente. O trabalho da CCIH é diário, coletando informações sobre esses dispositivos invasivos, pacientes e uso de antibióticos, eles também fazem análise dos exames de cultura para identificar a flora microbiana das unidades hospitalares e dos setores desses hospitais. Fazem treinamentos sobre os mais diversos temas, desde limpeza hospitalar a produtos de higienização de superfícies, higienização das mãos e aplicação dos protocolos assistenciais, determinam normas e rotinas que visam diminuir ou controlar as IRAS. Além de contabilizar todos esses dados para verificar se os níveis de IRAS estão sendo controladas, aumentando ou diminuindo, caso estejam aumentando faz-se um ciclo de treinamentos novamente. Ou seja, é um trabalho contínuo e que enfrenta muitos desafios, pois depende da conscientização dos demais profissionais da área da saúde. Assim, entre as principais funções das CCIH estão: ● Elaboração e implementação de programa de controle de infecção hospitalar, IRAS; ● Supervisão das normas e rotinas técnico-operacionais; ● Capacitação da equipe de funcionários e profissionais do hospital, conscientizando sobre a importância da prevenção e controle das infecções hospitalares; ● Implantação e manutenção do sistema de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares; ● Investigação epidemiológica de casos e surtos; ● Promoção de medidas de contenção de surtos infecciosos; ● Coleta, análise e divulgação, regular e de forma periódica, das taxas de infecções no hospital; ● Elaboração e divulgação de relatórios. PREVENÇÃO E CONTROLE Discorre-se sobre três desafios fundamentais, pilares para a prevenção e controle das IRAS: ● Resistência bacteriana – contenção da situação/dificuldade de controle ● O processamento de produtos para saúde ● O comportamento do profissional de saúde diante da adoção das recomendações do controle de infecção, no tocante aos desafios vivenciados no cotidiano do profissional em níveis nacional e internacional, repensando ideias e ações, de forma a possibilitar um novo olhar sobre a prática. 1. RESISTÊNCIA BACTERIANA a) Uso indiscriminado dos antimicrobianos ● aquisição indevida ● prescrição médica inadequada b) Baixa conformidade dos profissionais na adoção de protocolos/recomendações de controle de infecção ● falsa percepção de um risco invisível ● subestimação da responsabilidade individual na elevação das taxas de infecção hospitalar ● utilização do jaleco fora do ambiente hospitalar 💡 Estudos evidenciam a contaminação da roupa, capotes e jalecos dos profissionais de saúde por Staphylococcus aureus, principalmente na região da cintura, punhos e bolsos, inclusive por cepas resistentes à meticilina (MRSA) 2. PROCESSAMENTO DE PRODUTOS Entende-se como princípio básico para o reprocessamento a avaliação das características do artigo a ser reprocessado: se ele pode ser limpo, se a esterilidade do produto pós-processamento pode ser comprovada, se a integridade e funcionalidade podem ser demonstradas e a segurança para o paciente, documentada. Passou, a partir da Consulta Pública n° 34, de junho de 2009, a ter outra denominação: “processamento”. Iniciativas governamentais para revisão dessas práticas inadequadas foram tomadas: ● Suspensão da esterilização química por imersão, agentes esterilizantes líquidos ● Proibição do processamento de instrumental cirúrgico MEDIDAS PARA PREVENÇÃO 1. Higienização das mãos ● Tanto pelos profissionais como para os visitantes e acompanhantes 4 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga 2. Limpeza do ambiente ● para controlar a transmissão das infecções ● Superfícies e objetos devem ser sempre limpos e desinfetados 3. Prevenção dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico ● Solução: treinamento sobre riscos ocupacionais, uso adequado dos EPI, noções sobre as infecções, reuniões periódicas e criação de uma central para limpeza, desinfecção e esterilização dos materiais. 4. Uso de equipamento de proteção individual (EPI) e indicação da precaução de contato PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS DAS IRAS Estudos mostraram que há fatores, como a idade e as comorbidades, entre elas aHAS, DM e doença cardíaca crônica, que determinam disfunções orgânicas e influenciam a imunossupressão de pacientes, contribuindo para o surgimento de IRAS. O principal sítio de infecção identificado foi o trato respiratório. Dentre os fatores de risco estão o tempo de ventilação mecânica, doença pulmonar crônica, tabagismo, sepse, doença neurológica, trauma e uso prévio de antibiótico. Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter Baumannii foram as principais causadoras. Estudos salientam que a Pseudomonas aeruginosa é um dos principais patógenos encontrados em amostras do trato respiratório de pacientes hospitalizados, cuja consequência é o prolongamento do tempo de internação, aumento dos custos hospitalares e maior incidência de morbimortalidade. O MS afirma que os principais fatores para que a ITR se desenvolva estão associados à diminuição da imunidade, presença de microrganismos multirresistentes e contaminação do ambiente. O trato urinário foi o segundo principal sítio de infecção Alguns fatores, como o uso de cateteres vesicais em pacientes sem indicação médica ou uso do cateter por mais tempo do que o necessário, foram significativamente associados ao desenvolvimento de ITU. As IRAS em UTIP tendem a ser mais frequentes do que em UTI de adultos. As UTIPs que atendem uma população com doenças mais severas, como leucemias, linfomas, pós operatórios cardíacos e pulmonares crônicos, tendem a ter incidência de infecção mais elevada, não significando necessariamente falha no seu controle. Em relação aos agentes etiológicos causadores de IRAS em uma UTIP, estudos mostram que há uma incidência maior de vírus e bactérias gram positivas, seguida de bactérias gram-negativas. As infecções por fungos têm se destacado nos últimos 10 anos, observando-se um aumento de 15 vezes no número de infecções em pacientes menores de 15 anos, sendo 8% em menores de 5 anos. Dos micro-organismos presentes nas culturas, houve uma predominância do Staphylococcus Aureus, seguido das leveduras e Enterobacter Diversos autores relataram que bactérias gram-negativas também são muito encontradas em UTIs, merecendo destaque a Enterobacter sp., Pseudomonas e Acinetobacter O Acinetobacter é um patógeno intrinsecamente resistente a diversos antimicrobianos e se propaga facilmente entre os pacientes, podendo persistir no ambiente hospitalar por longos períodos. Ele vive, aproximadamente, 48 horas, e compõe a microbiota transitória das mãos. PRINCIPAIS FUNGOS CAUSADORES DE IRAS Entre os fungos responsáveis pelas IRAS estão aqueles considerados saprófitos. Os fungos saprófitos não se apresentam como patogênicos, mas podem se comportar como patógenos oportunistas, dependendo do estado de saúde do hospedeiro Os fungos são responsáveis por cerca de 10% das infecções hospitalares, sendo 50% destas causadas por espécies de Candida, seguido pelo Aspergillus spp., Cryptococcus neoformans e Pneumocystis jiroveci que causam doenças como candidíase, aspergilose, meningite criptocócica e pneumonia, respectivamente. 5 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga Candida spp. é o principal responsável por infecções fúngicas em ambientes hospitalares, acometendo diversos pacientes durante o período pós-operatório. Quanto aos filamentosos, o gênero Aspergillus destaca-se por ser amplamente relatado nos casos de infecções oportunistas, principalmente em pacientes submetidos a transplante de medula óssea e com neutropenia, além dos zigomicetos e feo-hifomicetos que também podem ser encontrados nos centros de saúde A ocorrência do gênero Aspergillus em hospitais, mesmo que com baixa incidência é preocupante, pois apresenta elevada patogenicidade e atua como um fator de risco Aspergilose: adquirida através da inalação dos esporos. Após a germinação dos esporos e entrada do fungo nos vasos sanguíneos causam quadros de necrose hemorrágica e até infarto, expressando comumente sinais clínicos similares aos observados em asma, pneumonia e sinusite O A. fumigatus está associado a casos de doença pulmonar invasiva e reações de hipersensibilidade como as observadas na aspergilose broncopulmonar alérgica. O A. flavus causa a doença extrapulmonar invasiva em resposta ao acometimento de pacientes em estados avançados de imunossupressão No cenário pandêmico, estudos consideram que pacientes positivos para a COVID-19 e em estado avançado e grave da doença estão sujeitos às ações de Aspergillus sp. As doenças fúngicas, em sua maioria, possuem fácil disseminação e o contato com partículas infectantes no ambiente proporcionam o aumento do número de casos. As principais fontes desses agentes dentro do hospital, além dos pacientes doentes, são o fluxo de pessoas, tanto trabalhadores de saúde quanto acompanhantes dos pacientes; as condições estruturais, e o mais crítico, está relacionado a limpeza e desinfecção ambiental. REFERÊNCIAS INFECÇÕES RELACIONADAS A SERVIÇOS DE SAÚDE ORIENTAÇÃO PARA PÚBLICO EM GERAL Organização Pan-Americana da Saúde. Prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Recomendações Básicas. Washington, D.C. : OPAS : 2017. LIMA, F. L. da Costa. Diversidade e análise de risco da presença de fungos filamentosos isolados em objetos de um hospital localizado no norte do estado do Tocantins. Dissertação (Mestrado em Sanidade Animal e Saúde Pública nos Trópicos) – Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, 2021. Objetivo 2 Conhecer os agentes etiológicos e fisiopatologia das micoses MICOSES Três tipos de doença humana estão associados a elementos fúngicos ou a seus produtos metabólitos: alérgicas, tóxicas e infecciosas, sendo estas as mais representativas. As infecções fúngicas são também chamadas de micoses e são divididas em quatro categorias de acordo com os tecidos que acometem: cutâneas, subcutâneas, sistêmicas e oportunistas 1. MICOSES CUTÂNEAS As micoses superficiais são definidas como o crescimento fúngico nos tecidos epiteliais, sem invasão do tecido vivo e sem provocar resposta inflamatória no hospedeiro. As micoses cutâneas (dermatofitoses) são infecções dos tecidos queratinizados, pele e anexos, com propriedades mais invasivas e conseguem, de acordo com a espécie envolvida, induzir um quadro inflamatório no hospedeiro 1.1. DERMATOFITOSES Fungos dermatófitos - infectam apenas estruturas superficiais queratinizadas (pele, pelos e unhas) ● Epidermophyton ● Trichophyton ● Microsporum As dermatofitoses são também chamadas de tíneas, clinicamente classificadas de acordo com o local anatômico ou a estrutura afetada: tinea capitis, do couro cabeludo, sobrancelhas e cílios; tinea barbae; tinea corporis da pele glabra ou macia; tinea cruris, da região inguinal; tinea pedis, do pé; tinea unguium (onicomicose), da unha Trichophyton tonsurans é a causa mais comum da proliferação de tínea do couro cabeludo em crianças e a principal causa de infecções tipo endótrix (interior do pelo). Trichophyton rubrum é também um agente causador muito comum de tínea do couro cabeludo, das unhas, pés e virilha Trichophyton schoenleinii é o causador do favo, uma forma de tínea do couro cabeludo em que uma crosta pode ser observada no escalpo. 6 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga Em algumas pessoas infectadas, a hipersensibilidade causa a reação de dermatofítide (“id”). TRANSMISSÃO Podem ser transmitidas de homem a homem, de animal ao homem ou do solo ao homem. O Microsporum canis pode parasitar os cachorros e deles passar para os humanos. PATOGÊNESE A dermatofitose é uma infecção crônica localizada em regiões quentes e úmidas do corpo O dermatófito vai provocar uma invasão com produção de enzimas, degradação da queratina e crescimento das hifas. Podem invadir o folículo piloso, fazendo o pelo perder o brilho, tornar-se quebradiço e cair. Na unha, a infecção (onicomicose) inicia-se pela borda livre, podendo atingir a superfície e a área subungueal. As unhas tornam-se branco-amareladas, porosas e quebradiças. ACHADOS CLÍNICOSTípicas lesões de tíneas apresentam uma borda circular com sinais de inflamação contendo pápulas e vesículas circundadas por uma zona clara de pele normal. Há prurido. Dermatofitose. Observe como inespecífica e semelhante a lesões de outras doenças, como a hanseníase tuberculóide Especificando: Tinea corporis: caracterizada por feridas arredondadas, pruriginosas com anel de bordas avermelhadas Tinea capitis: áreas com falhas nos cabelos Tinea pedis: caracteriza-se pela coceira e descamação na planta dos pés, que progride pelas laterais até encontrar a pele mais fina. Tinea unguium (onicomicose): é vista em diferentes formas: deformação da unha, manchas brancas na superfície e descolamento da borda livre da unha, além do espessamento DIAGNÓSTICO ● Exame micológico direto ● Cultura TRATAMENTO ● Antifúngicos em creme locais (terbinafina, miconazol) ou orais (griseofulvina) PREVENÇÃO ● Manter pele seca e fresca 1.2. PITIRÍASE VERSICOLOR A pitiríase versicolor, também chamada de tínea versicolor ou pano branco, é causada pelo Malassezia furfur, que faz parte da micobiota normal. É um microrganismo lipofílico parecido com as leveduras. TRANSMISSÃO A infecção humana pode resultar da transferência direta ou indireta de material queratínico de uma pessoa a outra. ACHADOS CLÍNICOS As lesões são geralmente observadas como áreas hipopigmentadas bem delimitadas. Entretanto, também pode apresentar-se com hiperpigmentação, a depender da cor do paciente. A infecção pode ser levemente escamosa (descama) ou com coceira, mas em geral é assintomática. As lesões contêm células leveduriformes em brotamento e hifas. Hipopigmentada Hiperpigmentada DIAGNÓSTICO Geralmente clínico, mas pode-se fazer o exame micológico direto. O diagnóstico clínico pode ser complementado pelo exame com a lâmpada de Wood quando se evidencia fluorescência amarelada e pelos sinais da unhada de Besnier e do estiramento de Zileri (facilita a visualização da descamação). TRATAMENTO Tópico com miconazol, mas a cura permanente é difícil. O tratamento oral é preconizada quando as lesões são extensas ou nas formas recidivantes. A repigmentação pode levar até meses, o que deve ser alertado ao paciente. 7 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga 1.3. TÍNEA NEGRA Infecção de camadas queratinizadas. Ocorre como uma mancha marrom causada por um pigmento similar à melanina presente nas hifas. Causada pelo Cladosporium werneckii, um fungo dimórfico TRANSMISSÃO O agente é encontrado no solo ACHADOS CLÍNICOS Assintomática, superficial, benigna caracterizada por lesões maculares, irregulares, pouco ou nada descamativas de cor marrom a negro, mais comum nas regiões palmar e plantar. Tínea negra. Observe como é mais superficial e mais homogênea que um melanoma, por exemplo DIAGNÓSTICO ● Exame microscópico ● Cultura Diagnóstico diferencial: melanoma, nevus e fitotomelanose. TRATAMENTO Agente queratolítico tópico como o ácido salicílico, ácido retinoico e tiabendazol 2. MICOSES SUBCUTÂNEAS Micoses Subcutâneas: são infecções das camadas mais profundas da pele, apresentam baixo grau de infectividade na maioria dos casos, sendo que as infecções estão relacionadas normalmente a lesões traumáticas. 2.1. ESPOROTRICOSE Causada pelo Sporothrix schenckii, um fungo dimórfico, com a forma leveduriforme ocorrendo nos tecidos humanos. Outras espécies incluem o S. pallida, S. globosa, S. luriei, S. brasiliensis É de notificação compulsória TRANSMISSÃO Geralmente, adquire-se a infecção pela implantação, traumática ou não, do fungo na pele ou mucosa e, raramente, por inalação. É mais comum em jardineiros🌹 Ressalta-se que não há transmissão inter-humana. ACHADOS CLÍNICOS Lesões indolores. Tem-se apresentação linfocutânea (60-70%) com úlceras e nódulos próximos à lesão primária, em distribuição linfática. Pode não ter envolvimento linfático (25%) ou pode disseminar-se (5%) DIAGNÓSTICO ● Cultura é o padrão-ouro TRATAMENTO ● Leve a moderada → itraconazol ● Grave → anfotericina B 2.2. CROMOMICOSE A cromomicose é também denominada cromoblastomicose, dermatite verrucosa, dermatite verrucosa cromoparasitária. Causada por vários fungos do solo (Fonsecaea, Phialophora, Cladosporium, etc.) quando estes são introduzidos na pele através de um trauma. No Brasil, o F. pedrosoi é a principal causa. São fungos coletivamente chamados de dematiáceos, pois seus conídios ou hifas são escuros. TRANSMISSÃO Implantação traumática ou não do fungo PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS A infecção caracteriza-se pela formação de nódulos cutâneos verrugosos de desenvolvimento lento e, 8 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga posteriormente, vegetações papilomatosas, que podem ou não se ulcerar, apresentando em seu conjunto o aspecto de couve-flor nos estágios mais avançados da moléstia. Abscessos incrustados se estendem pelos vasos linfáticos. Geralmente, as lesões são unilaterais e confinadas aos membros inferiores. DIAGNÓSTICO ● Exame microscópico TRATAMENTO ● Flucitosina ou tiabendazol oral, além de cirurgia 2.3. MICETOMA Fungos do solo (Petriellidium, Madurella mycetomatis) penetram através de ferimentos nos pés, nas mãos ou nas costas e causam abscessos, com pus que escorre pelos sinus. Actinomicetos (bactérias gram-positivas) como Nocardia podem causar lesões similares (micetoma actinomicótico). As sulfonamidas podem ajudar na forma actinomicótica. Micetoma eumicótico é o causado por fungos verdadeiros. TRANSMISSÃO Não são contagiosos. O fungo penetra através de ferimento PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS Um micetoma é definido clinicamente como um processo infeccioso localizado, crônico e granulomatoso que envolve os tecidos cutâneos e subcutâneos. O pus contém grânulos compactos coloridos, que são agregados de hifas fúngicas. Durante o processo infeccioso há destruição de músculo, fáscia e osso, podendo ser bastante demorado e deformante. DIAGNÓSTICO Exame micológico direto - demonstração dos grânulos. TRATAMENTO Não existe um fármaco efetivo contra a forma fúngica; a remoção cirúrgica é recomendada 3. MICOSES SISTÊMICAS Micoses sistêmicas resultam da inalação de esporos de fungos dimórficos que no solo são filamentosos.. Nos pulmões, os esporos diferenciam-se em leveduras ou outras formas especializadas, como esférulas. A maioria das infecções nos pulmões é assintomática e limitada. Entretanto, em algumas pessoas, a doença dissemina-se. Pessoas infectadas não transmitem essas micoses. 3.1. COCCIDIOIDOMICOSE Causada pelo Coccidioides immitis, um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo e como esférula nos tecidos. Há também o Coccidioides posadasii, que é o encontrado pelo Brasil. O C. immitis está localizado na Califórnia. TRANSMISSÃO E EPIDEMIOLOGIA ● Endêmico de regiões áridas dos EUA e América Latina; “febre do vale” ou “reumatismo do deserto” ● No solo formam hifas com artrósporos (ou artroconídios) que podem ser inalados PATOGÊNESE Uma vez inalados, os artrósporos formam, nos pulmões, esférulas preenchidas por endósporos. Quando ocorre a ruptura da parede espessa e refratária das esférulas, os endósporos são liberados e diferenciam-se em novas esférulas. 9 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga Raramente, se dissemina pela extensão direta ou pela corrente sanguínea. A disseminação da doença pode ocorrer em quase todos os órgãos; as meninges (meningite), os ossos (osteomielite) e a pele (nódulos) são locais importantes onde pode ocorrer a doença Lesões granulomatosas podem ocorrer. A maioria dos indivíduos infectados com C. immitis desenvolve uma resposta imune mediada por células (hipersensibilidade tardia) que restringe o desenvolvimento do organismo. Um modo para determinar se uma pessoa produziu resposta imune celular adequada para o organismo é a realização do teste cutâneo. Em geral, uma pessoa que apresenta teste cutâneo positivo desenvolveu imunidade suficiente para prevenir a disseminação da doença.Se, tardiamente, a imunidade celular do indivíduo for suprimida por fármacos ou pela doença, pode ocorrer uma doença disseminada. ACHADOS CLÍNICOS A infecção dos pulmões é normalmente assintomática e detectada apenas pelo teste cutâneo positivo e pela presença de anticorpos. Pode apresentar-se com febre e tosse e até mesmo com infiltrados nos pulmões observados por radiografia. 10% desenvolvem eritema nodoso ou artralgias. O eritema nodoso apresenta-se como nódulos vermelhos e firmes na extensão de superfícies como a pele sobre a tíbia e a ulna. Isso é uma resposta de hipersensibilidade tardia (mediada por células) para os antígenos fúngicos e, então, um indicador de bom prognóstico, pois mostra que a imunidade celular está ativa e o organismo será contido. O eritema nodoso não é específico para coccidioidomicose; ele ocorre em outras doenças granulomatosas (p. ex., histoplasmose, tuberculose e hanseníase) DIAGNÓSTICO ● Exame micológico direto ● Testes sorológicos ● Anticorpos A visualização por microscopia direta das esférulas endoesporuladas no escarro, exsudatos ou tecido é suficiente para estabelecer o diagnóstico e é preferida em relação à cultura devido à natureza altamente infecciosa do fungo filamentoso na cultura. TRATAMENTO ● Assintomática → tratamento não é necessário ● Lesões pulmonares persistentes ou doença generalizada → anfotericina B ● Meningite associada → fluconazol (penetra na BHE; e continua usando para prevenir recorrência) PREVENÇÃO Não existem meios de prevenção, exceto evitar viagens para áreas endêmicas. 3.2. HISTOPLASMOSE Causada pelo Histoplasma capsulatum, um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo e como levedura nos tecidos. Formam dois tipos de esporos assexuados: macronídeos tuberculados (usados p/ identificação) e micronídeos (transmissão e inalação). É de notificação compulsória A. Macronídeos. B. Micronídeos TRANSMISSÃO E EPIDEMIOLOGIA ● Cresce no solo, especialmente aqueles com excrementos de pássaros; a infecção é adquirida pela inalação ● Não há transmissão homem-homem nem animal a homem ● Em diferentes países tropicais africanos, é causada pelo Histoplasma duboisii 10 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga PATOGÊNESE A principal característica do H. capsulatum é ser um fungo que parasita quase exclusivamente o citoplasma das células do sistema retículo endotelial. Assim, os esporos inalados são fagocitados pelos macrófagos e transformados em formas leveduriformes. Nos tecidos, H. capsulatum ocorre como uma levedura oval no interior dos macrófagos. Sobrevivem à fagocitose por produção de substâncias alcalinas que inativam as enzimas do fagolissomo. Disseminam-se pelo corpo, especialmente fígado e baço, mas a maioria fica assintomática e os granulomas cicatrizam por calcificação. ACHADOS CLÍNICOS Com exposição intensa (p. ex., em granjas ou em cavernas infestadas de morcegos), pneumonia e lesões nos pulmões podem manifestar-se clinicamente, com febre, calafrios, tosse seca, dores musculares A ausência de resposta a antibióticos ou antivirais e a presença de infiltrado pulmonar localizado e de adenomegalia hilar e/ou mediastinal podem sugerir doença por Histoplasma sp. Em pacientes imunocomprometidos a pancitopenia e as lesões ulcerativas na língua são características da histoplasmose disseminada. Em imunocompetentes, o eritema nodoso pode ocorrer. DIAGNÓSTICO ● Biópsia e aspirados de medula óssea ○ Formas leveduriformes nos macrófagos ● Culturas ○ Mostram as hifas com macroconídios tuberculados. Feita em ágar Sabouraud. ● Teste cutâneo ○ Utiliza a histoplasmina (extrato micelial) e se torna + no período de 2-3 semanas após a infecção e permanece por anos, porém devido a muitos falsos-positivos não é útil para diagnóstico, mas serve para estudos epidemiológicos ● Teste sorológico ○ Elisa → detecta o antígeno polissacarídeo TRATAMENTO ● Assintomática → tratamento não é necessário ● Lesões pulmonares → itraconazol ● Disseminada → anfotericina B ● Meningite associada → fluconazol PREVENÇÃO Não existem meios de prevenção, exceto evitar exposição em áreas de infecção endêmica. 3.3. BLASTOMICOSE Causada pelo Blastomyces dermatitidis, um fungo dimórfico que ocorre como micélio no solo e como levedura nos tecidos. A levedura é envolvida por parede dupla e refratária, com brotos simples. O broto tem base larga1. TRANSMISSÃO E EPIDEMIOLOGIA ● Cresce no solo úmido rico em matéria orgânica, ● Forma hifas com conídeos em forma de pêra. ● A inalação dos conídeos causa a infecção humana. PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS A infecção ocorre principalmente via trato respiratório. Casos assintomáticos ou brandos são dificilmente detectados. A disseminação pode resultar em granulomas ulcerativos da pele, dos ossos ou de outros locais. Os pacientes podem apresentar sintomatologia compatível com tuberculose, gripe, pneumonia ou carcinoma — febre, dispneia, tosse, perda de peso. Há destruição dos tecidos após inflamação granulomatosa e formação de microabscessos. 1 O broto do Cryptococcus neoformans forma broto de base estreita 11 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga DIAGNÓSTICO ● Biópsia → levedura com broto de base larga ● Cultura → hifas em forma de pêra Aqui, teste cutâneo não fornece especificidade e possui baixa importância. Testes sorológicos têm pouco valor. TRATAMENTO ● Maioria → Itraconazol ● Casos graves → anfotericina B ● A remoção cirúrgica pode ser utilizada PREVENÇÃO Não há modos de prevenção. 3.4. PARACOCCIDIOIDOMICOSE É a principal micose sistêmica do Brasil. É também conhecida como blastomicose sul-americana. É de notificação compulsória Causada pelo Paracoccidioides brasiliensis, fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo e como levedura nos tecidos. Há grande variabilidade genética em diferentes isolados de P. brasiliensis Quatro grupos filogenéticos distintos foram identificados: S1, PS2, PS3 e Pb01-like ⤷ O Pb01-like é considerado nova espécie → P. lutzii A levedura tem parede espessa com múltiplos brotos de base estreita. Produz conídios. O dimorfismo é um fator de virulência importante, já que em sua ausência não se daria a conversão dos conídios em leveduras no pulmão. TRANSMISSÃO E EPIDEMIOLOGIA ● Endêmica em áreas rurais da América Latina e só ocorre nessa região (autóctone) ● Doença ocupacional relacionada às atividades que envolvem perturbação direta do solo ○ “Doença do tatu” → o fungo pode ser encontrado em tocas de tatu por exemplo ● Infecção pela inalação dos conídios dispersos na natureza ● Não há transmissão homem-homem nem animal a homem PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS Na maioria dos casos, a infecção é autolimitada e assintomática. O pulmão é o órgão mais frequentemente atingido, seguido pela mucosa da boca. Os esporos são inalados, e ocorrem lesões tardias nos pulmões. Uma vez nos alvéolos, a fase micelial converte-se em fase de levedura. Os sinais e os sintomas são febre, anorexia, emagrecimento, e pode haver lesões disseminadas. Os linfonodos podem ser inicialmente endurecidos, evoluindo com fistulização, e simulam massas tumorais. DIAGNÓSTICO ● Exame micológico direto e cultura são padrão-ouro O exame micológico direto e a cultura constituem o padrão-ouro para o diagnóstico e permite a identificação de células leveduriformes simples ou múltiplas com brotamento ou não, birrefringentes e de tamanhos variados em escarro ou raspado de lesão ou aspirado Testes cutâneos raramente são úteis. O teste sorológico mostra que quando um título significativo de anticorpos (pela imunodifusão ou fixação do complemento) for encontrado, a doença ativa está presente. TRATAMENTO ● Leve a moderada → Itraconazol v.o. ○ Segunda escolha é sulfametoxazol + trimetoprima (quando itraconazol não está disponível) ● Grave ou disseminada → anfotericina B lipossomal PREVENÇÃO Não há formas de prevenção. 4. MICOSES OPORTUNISTAS 12 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga Fungos oportunistasnão são capazes de causar doenças na maioria das pessoas imunocompetentes, mas podem causá-las em pessoas com as defesas imunológicas debilitadas. São fungos de baixa virulência que em estado normal convive pacificamente com o hospedeiro. Existem cinco gêneros de fungos de importância médica: ● Candida ● Cryptococcus ● Aspergillus ● Mucor ● Rhizopus 4.1. CANDIDA Candida albicans, a espécie mais importante do gênero Candida, causa candidíase, vaginite, esofagite, assaduras e candidíase mucocutânea crônica. A candidíase, também denominada candidose, é infecção causada por fungos do gênero Candida As infecções da mucosa são conhecidas como “sapinho” Outras espécies do gênero incluem: C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei, C. glabrata e C. auris. É uma levedura e pode causar também endocardite, candidemia e endoftalmite. Características da Candida albicans: ● Levedura oval ● Broto simples ● Faz parte da microbiota normal das mucosas, trato respiratório superior, TGI e trato genital feminino ● Nos tecidos, pode ocorrer na forma leveduriforme ou como pseudohifas ● Pode formar hifas verdadeiras quando invade tecidos Entre os seus fatores de virulência, podemos citar o dimorfismo, capacidade de filamentação, adesinas, produção de enzimas (proteinases e fosfolipases) e variações fenotípicas. A fermentação de carboidratos diferencia as espécies de Candida TRANSMISSÃO É componente da microbiota normal de diferentes regiões do corpo, então está sempre presente e predispõe a infecções envolvendo instrumentos que penetram na pele, como agulhas e cateteres. A candidíase das fraldas é comum em crianças, pelo contato da pele com a urina. É uma condição incômoda e muito dolorosa para a criança PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS Quando a defesa imune se enfraquece, a doença pode ocorrer. ● Candidíase oral Uma elevada proliferação de C. albicans na boca produz manchas características. Pode se limitar à orofaringe ou se estender pelo TGI. Caracteriza-se pelo aparecimento de placas brancas, isoladas ou confluentes, aderentes à mucosa, com aspecto membranoso e, às vezes, rodeadas por halo eritematoso. ● Vaginite Vaginite com coceira e secreção é favorecida por um pH elevado, diabetes ou uso de antibióticos, que suprimem os Lactobacillus, que mantém o pH baixo. Neste tipo de infecção é comum aparecerem manchas brancas semelhantes a “queijo cottage” na superfície da mucosa. ● Balanite No homem, a balanite, infecção na glande, por C. albicans, pode ser encontrada. ● Candidíase cutânea A invasão da pele ocorre em áreas quentes e úmidas, as quais se tornam vermelhas e danificadas. Pode ocorrer nos dedos e unhas quando são repetidamente imersos em água. ● Candidíase mucocutânea crônica Em pessoas imunossuprimidas, pode disseminar-se para muitos órgãos ou causar candidíase mucocutânea crônica (CMC), uma infecção prolongada da pele, das mucosas oral e genital e das unhas. É rara São lesões granulomatosas que podem se tornar significativamente extensas, chegando a desfigurar o paciente. ● Candidíase sistêmica A candidíase sistêmica pode manifestar-se com endocardite, endoftalmite, esofagite. É grave e o diagnóstico em vida é difícil devido ao polimorfismo das lesões, variabilidade de sinais e sintomas que não são específicos. 13 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga C. albicans é a espécie mais comum capaz de causar doença disseminada, mas C. tropicalis e C. parapsilosis também são importantes patógenos. Os nódulos subcutâneos são frequentemente observados em pacientes neutropênicos com a doença disseminada. A esofagite causada por Candida, frequentemente acompanhada pelo envolvimento do estômago e intestino delgado, é observada em pacientes com leucemia e linfoma DIAGNÓSTICO ● Exsudatos e tecidos → leveduras com brotamentos e pseudohifas ● Cultura → colônias de leveduras típicas ○ tubos germinativos são formados em soro a 37°C, os quais distinguem C. albicans da maioria das outras espécies de Candida ○ Os clamidósporos são geralmente formados por C. albicans, mas não por outras espécies de Candida ● Testes cutâneos TRATAMENTO ● Orofaringe e esôfago → fluconazol ○ caspofungina ou micafungina também podem ser utilizadas para candidíase esofágica ● Pele → antifúngicos tópicos (clotrimazol, nistatina) ● Vaginal → tanto tópicos quanto orais (fluconazol) ● Mucocutânea → cetoconazol ● Disseminada → anfotericina B ou fluconazol Certas infecções causadas por Candida (p. ex., candidíase) podem ser prevenidas por clotrimazol via oral, miconazol em pastilhas ou nistatina. O fluconazol é útil na prevenção de infecções causadas por Candida em pacientes de alto risco, como os submetidos a transplante de medula óssea e recém-nascidos prematuros. PREVENÇÃO Não há vacina disponível 4.2. CRYPTOCOCCUS Cryptococcus neoformans causa a criptococose e, principalmente, meningite criptocócica. É de notificação compulsória. A criptococose é a doença fúngica potencialmente fatal mais comum em pacientes com Aids e o C. neoformans é o principal patógeno oportunista que acomete esses pacientes Outra espécie, Cryptococcus gattii, causa doença em humanos com menos frequência, mas tem maior capacidade de causar doença em pessoas imunocompetentes. Características do Cryptococcus neoformans: ● Levedura oval c/ cápsula polissacarídica ● Broto com base estreita ● Não é dimórfico TRANSMISSÃO ● Cresce abundantemente em solos contendo fezes de aves (especialmente de pombos). ● Os pássaros não são infectados ● A infecção humana resulta da inalação e não há transmissão humano-humano, nem animal-humano PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS O fungo é inalado atingindo como primeiro órgão os pulmões, com tropismo para o SNC, ocasionando meningite criptocócica. A infecção pulmonar é normalmente assintomática ou pode produzir uma pneumonia branda. Podem apresentar febre, tosse, dor no peito, dispneia, expectoração produtiva, perda de peso, sudorese e hemoptise Os nódulos subcutâneos são geralmente observados na doença disseminada. A meningite e a meningoencefalite constituem as formas de apresentação mais frequentes e graves da criptococose. A morte ocorre geralmente por hipertensão intracraniana resultante. C. gattii causa doença em humanos com menos frequência. DIAGNÓSTICO ● Cultura é padrão ouro O diagnóstico laboratorial consiste na microscopia direta por meio de amostras biológicas. A cultura e o isolamento de Cryptococcus spp. é o padrão-ouro do diagnóstico ● Microscopia 14 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga A técnica de contraste pela tinta-da-china ou Nankin permite evidenciar a espessa cápsula do Cryptococcus. Esse exame direto da amostra biológica com tinta é rápido e útil em casos de meningite com alta carga infectante. ● Testes sorológicos Para todas as formas da doença, a pesquisa de antígeno em soro e/ou líquido cefalorraquidiano (LCR) é o teste mais sensível e rápido para o diagnóstico precoce da criptococose TRATAMENTO ● Criptococose pulmonar leve a moderada → fluconazol ● Meningite e outras doenças disseminadas → anfotericina B + flucitosina ● Aids e supressão de meningite → fluconazol C. gattii é menos sensível a fármacos antifúngicos, se comparado a C. neoformans. PREVENÇÃO Não há métodos específicos de prevenção 4.3. ASPERGILLUS As espécies de Aspergillus, especialmente Aspergillus fumigatus, causam infecções na pele, nos olhos, nas orelhas e em outros órgãos; “bola fúngica” nos pulmões; e aspergilose alérgica broncopulmonar. Outras espécies incluem A. flavus, A. niger, A. nidulans e A. terreus. Diferente do gênero Candida, Aspergillus não faz parte da micobiota normal. Características dos Aspergillus: ● Fungos filamentosos apenas ○ Não são dimórficos ● Hifa septada ● Formam ramificações dicotômicas ● Paredes das hifas são +/- paralelas, ao contrário das de Mucor e Rhizopus ● Conídios formando cadeias radiais, ao contrário das formadas por Mucor e Rhizopus, que se encontram no interior de um esporângio TRANSMISSÃO● Vegetação em decomposição, produzindo conídios que são disseminados pelo ar PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS A forma cutânea manifesta-se com pápulas, pústulas, nódulos, abscessos e lesões necrosantes. Se dissemina por feridas, queimaduras, córneas, seios paranasais, orelha externa. A. fumigatus é a causa mais comum de sinusite fúngica. Em pessoas imunocomprometidas, especialmente as com neutropenia, o fungo invade os pulmões e outros órgãos, produzindo hemoptises e granulomas. Os aspergilos são bem conhecidos por sua capacidade de crescer em cavidades dos pulmões, especialmente cavidades causadas por tuberculose. No interior das cavidades, eles produzem um aspergiloma (bola fúngica), que é observada na radiografia como uma estrutura radiopaca que muda de posição quando o paciente se move da posição ereta para supina.🧶 Aspergiloma pulmonar Aspergilose alérgica broncopulmonar (ABPA) é uma reação de hipersensibilidade ao A. fumigatus que resulta em inflamação pulmonar não relacionada com a invasão tecidual por fungos. se apresenta semelhante a asma com muito IgE e expectoração com fragmentos de hifas amarronzados. Aspergillus flavus que cresce em cereais ou castanhas produz aflatoxinas que podem ser carcinogênicas ou muito tóxicas. DIAGNÓSTICO ● Biópsia → hifas ramificadas e septadas ● Culturas → conídios radialmente dispostos ○ culturas positivas não provam a existência de doença, pois a colonização é comum ● IgE alta em pacientes com ABPA TRATAMENTO ● Invasiva → anfotericina B ○ Não respondeu?→ Caspofungina ● Voriconazol também pode ser utilizado ● ABPA → esteroides e antifúngicos A bola fúngica que se desenvolve nos seios nasais ou na cavidade pulmonar também pode ser removida cirurgicamente. PREVENÇÃO Não há métodos específicos de prevenção. 15 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga 4.4. MUCOR E RHIZOPUS A mucormicose (zigomicose, ficomicose) é uma doença causada por fungos filamentosos saprofíticos (p. ex., Mucor, Rhizopus e Absidia) amplamente encontrados no meio ambiente. A maior parte dessas espécies causadoras de mucormicose é termotolerante. TRANSMISSÃO Transmitidos por esporos presentes no ar. PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS Eles proliferam nas paredes dos vasos sanguíneos, particularmente nos seios paranasais, nos pulmões ou no intestino, e causam infarto e necrose do tecido distal pelo entupimento das veias. Os pacientes com cetoacidose diabética, queimaduras ou leucemia são particularmente sensíveis. Os pacientes diabéticos são suscetíveis à mucormicose rinocerebral, na qual os esporos do fungo germinam para formar as hifas que invadem a corrente sanguínea responsável por suprir o encéfalo. O Rhizopus oryzae causa cerca de 60% dos casos de mucormicose. DIAGNÓSTICO ● Biópsia → hifas sem septos, irregulares e ramificadas ● Cultura → colônias com esporos dentro de um esporângio ○ Difíceis de cultivar pois apresentam-se como uma célula única e longa Diagnóstico precoce aumenta as chances de cura TRATAMENTO ● Anfotericina B ○ Posaconazol também pode ser utilizado ● Remoção cirúrgica do tecido necrosado A anfotericina B lipossomal deve ser administrada em pacientes com história de problemas renais 4.5. PNEUMOCYSTIS Pneumocystis jirovecii é classificado com uma levedura com base em análises moleculares, mas, clinicamente, muitos ainda o consideram como um protozoário ou um organismo “não classificado”. Causa a pneumocistose. ⤷ Antes chamado de P. carinii, mas hoje admite-se que o carinii é para infecções de animais O ciclo de vida do P. jirovecii inclui componentes sexuados e assexuados. Pode existir sob formas tróficas livres, como um esporocisto unicelular ou como um cisto, com até oito corpos intracísticos. No final do ciclo, o cisto rompe-se e libera os corpos, e cada um se desenvolve em um trofozoíto. As células trofozoíticas podem se reproduzir assexuadamente por fissão, mas também podem entrar no estágio sexuado encistado. TRANSMISSÃO A transmissão ocorre por via aérea de pessoa a pessoa. PATOGÊNESE E ACHADOS CLÍNICOS O trato respiratório é a principal porta de entrada para P. jirovecii em humanos. A pneumonia é a apresentação mais comum da pneumocistose, embora manifestações extrapulmonares possam ser vistas em pacientes com AIDS Quando inalado, o P. jirovecii adere à parede dos pneumócitos, sobrevive e se multiplica, ficando os pulmões congestionados com os microrganismos e com um exsudato espumoso alveolares. DIAGNÓSTICO O diagnóstico, em geral, é feito a partir de amostras de escarro, nas quais os cistos são detectados. TRATAMENTO Atualmente, o fármaco de escolha para o tratamento é o trimetoprima-sulfametoxazol, mas existem diversas alternativas, como a clindamicina ou a pentamidina intravenosa. REFERÊNCIAS WARREN, Levinson. Microbiologia médica e imunologia. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2014 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de Vigilância em Saúde. 5ª ed. Brasília, DF, 2021 16 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga TRABULSI, L.R. e cols. Microbiologia. 8ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2008 MURRAY, Patrick R. et al. Microbiologia Médica. 7ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014 Objetivo 3 Detalhar a Candida auris CANDIDA AURIS A Candida auris foi descrita pela primeira vez em 2009 e, desde então, surtos foram relatados em mais de 20 países. Ao contrário de outras espécies de Candida, a C. auris tem causado aglomerados de casos ou surtos de difícil controle, pois esta espécie persiste em ambientes hospitalares, onde é difícil de ser erradicada A espécie fúngica Candida auris está classificada como uma ameaça emergente à saúde pública, por ser resistentes a antifúngicos de uso rotineiro conforme descrito no relatório de 2019 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. CARACTERÍSTICAS ● Cresce bem a 37-42ºC ● Leveduras ovais ou alongadas, isoladas, em pares ou em grupos ● Ausência de hifas ou pseudohifas ● Multirresistente ● Infecções principalmente entre pacientes hospitalizados ● Difícil de identificar usando métodos bioquímicos tradicionais → confunde-se com outras espécies como o C. haemulonii FATORES DE VIRULÊNCIA Fatores de virulência pouco compreendidos - incluem a capacidade de formar biofilmes, aderência, formação de tubos germinativos, mudança fenotípica e produção de enzimas hidrolíticas. TRANSMISSÃO Sua transmissão se dá a partir do contato com superfícies e equipamentos contaminados bem como pelo contato pessoa a pessoa. Pode sobreviver em superfícies de objetos inanimados por mais de 7 dias. FATORES DE RISCO Em geral, os pacientes apresentaram fatores de risco para infecções semelhantes aos pacientes com outras espécies de Candida. Infecções, incluindo: doenças imunocomprometidas, cirurgia recente, antibióticos recentes e presença de cateteres venosos centrais ou urinários. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA Embora no momento não existam pontos de quebra de concentração inibitória mínima (CIM) estabelecidos para C. auris, testes iniciais de uma coleção internacional de 54 isolados demonstraram que quase todos (93%) isolados eram altamente resistentes ao fluconazol. A resistência intrínseca a anfotericina B e fluconazol se faz pois os biofilmes são geneticamente resistentes a esses fármacos, proporcionando abrigo aos microrganismos e a oportunidade de resistir a altas concentrações de agentes antifúngicos. Os mecanismos de resistência não são trocados entre os fungos, assim a resistência adquirida surge em resposta a uma pressão de seleção antifúngica no paciente individual ou, mais raramente, ocorre devido à transmissão horizontal de cepas resistentes entre pacientes Embora a multirresistência seja incomum, relatos crescentes de multirresistência aos azóis, equinocandinas e polienos ocorreram em várias espécies de Candida. TRATAMENTO As equinocandinas são usadas para o tratamento empírico de escolha para infecções por C. auris em adultos e crianças com idade superior a 2 meses. EPIDEMIOLOGIA ● Primeiros relatos do aparecimento do fungo foram noJapão em 2009 ● Ocorrem com maior prevalência em países em desenvolvimento, por falta de ferramentas de diagnóstico eficientes ● Importante causa de morbidade e mortalidade, especialmente em pacientes hospitalizados e imunocomprometidos ou em estado crítico No Brasil, a incidência de casos de C. auris pode ser classificada como nova. O primeiro caso foi notificado à Anvisa em 2020, ocorrido em um hospital de Salvador, no estado da Bahia. O fungo foi encontrado em uma amostra isolada de ponta de cateter venoso central de um paciente internado na UTI. Outro surto foi notificado no ano seguinte, em 14/12/2021, por um hospital da rede pública da mesma cidade. Mais recentemente, uma nova notificação, dessa vez em Pernambuco, referente a dois casos suspeitos de C. auris em pacientes internados. 17 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga CONTROLE E PREVENÇÃO Em essência, as medidas de controle e prevenção de infecção para C. auris são semelhantes às tomadas para outros microrganismos altamente resistentes, são precauções padrão, incluindo higiene das mãos, uso adequado de equipamentos de proteção individual, isolamento de contato em uma sala de isolamento de uma única pessoa e limpeza ambiental meticulosa. REFERÊNCIAS SCHAEFER, Crislane Costa et al. Cândida auris: características clínicas de uma levedura nosocomial emergente resistente a medicamentos Candida auris: clinical characteristics of an emerging drug-resistant nosocomial yeast. Brazilian Journal of Development, 2022. SARIS, Katja; MEIS, Jacques F.; VOSS, Andreas. Candida auris. Current opinion in infectious diseases, v. 31, n. 4, p. 334-340, 2018. Objetivo 4 Entender a resposta imune aos fungos IMUNIDADE AOS FUNGOS Diferentes fungos infectam seres humanos e podem viver nos tecidos extracelulares e no interior dos fagócitos. Assim, as respostas imunes a esses microrganismos muitas vezes são combinações das respostas a microrganismos extra e intracelulares. IMUNIDADE INATA Os principais mediadores da imunidade inata contra os fungos são os neutrófilos, macrófagos e ILCs (células linfóides inatas). ⤷ Por isso que pacientes com neutropenia são extremamente suscetíveis às infecções fúngicas oportunistas. Primeiro, macrófagos e células dendríticas percebem os organismos fúngicos através dos TLRs (Toll like) e dectinas (receptores do tipo lectina), que reconhecem β-glucanas na superfície dos fungos. Depois, macrófagos e células dendríticas liberam citocinas que recrutam e ativam neutrófilos diretamente ou via ativação de ILCs residentes teciduais. Os neutrófilos liberam substâncias fungicidas, como as espécies reativas de oxigênio e as enzimas lisossômicas, e fagocitam os fungos para o killing intracelular. Há também a ativação do sistema complemento, com a formação do complexo de ataque à membrana, principalmente para fungos que entram na corrente sanguínea, como a Candida. Em resumo: Fagócitos e DCs reconhecem beta-glucana do fungo por meio dos TLRs e das dectinas→ Liberam fungicidas→ Fagocitam→ Killing intracelular Cepas virulentas de C. neoformans inibem a produção de citocinas, como TNF e IL-12, pelos macrófagos e estimulam a produção de IL-10, inibindo assim a ativação dessas células. IMUNIDADE ADAPTATIVA A imunidade mediada por células é o principal mecanismo da imunidade adaptativa contra as infecções por fungos intracelulares. Histoplasma capsulatum, um parasita intracelular facultativo que vive em macrófagos, é eliminado pelos mesmos mecanismos celulares que são efetivos contra bactérias intracelulares. As células T CD4+ e CD8+ cooperam para eliminar as formas de levedura de C. neoformans, as quais tendem a colonizar os pulmões e o cérebro em imunodeficientes. P. jirovecii é outro fungo intracelular causador de graves infecções em indivíduos com imunidade celular defeituosa. Os fungos intracelulares também podem ser controlados em parte por células ILC1 que expressam T-bet (T-bet é um 18 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga fator de transcrição que estimula a diferenciação das células T), enquanto os fungos extracelulares podem ativar respostas de ILC3. ● Fungos intracelulares → ILC1 ● Fungos extracelulares → ILC3 Muitos fungos extracelulares deflagram fortes respostas Th17, que são dirigidas, em parte, pela ativação de células dendríticas pela ligação de glicanas fúngicas à dectina-1. As células dendríticas ativadas por meio desse receptor de lectina produzem citocinas Th17-indutoras, como IL-1, IL-6 As células Th17 estimulam a inflamação, enquanto os neutrófilos recrutados e monócitos destroem os fungos. Indivíduos com respostas Th17 defeituosas são suscetíveis a infecções mucocutâneas crônicas por Candida. As respostas Th1 são protetoras nas infecções fúngicas intracelulares, como a histoplasmose, porém essas respostas podem deflagrar uma inflamação granulomatosa que causa importante de lesão tecidual no hospedeiro nessas infecções. Os fungos também deflagram respostas de anticorpo específicas que podem ter valor protetor. Mesmo fungos superficiais, os quais são pouco patogênicos, podem inibir a ativação do sistema imune por meio de indução de liberação da citocina IL-10, como é o caso das propriedades imunossupressoras de mananas como responsáveis pela cronicidade da dermatofitose por Trichophyton rubrum. Já cepas mais patogênicas de Cryptococcus neoformans inibem a produção de citocinas, tais como o TNF e a IL-12 por macrófagos, estimulam a produção de IL-10, inibindo a ativação dos macrófagos Em resumo: Intracelulares: Imunidade celular; cooperação T CD4+ e CD8+ Extracelulares: DCs reconhecem o fungo (ligação glucana-dectina-1)→ citocinas→ TH7, Neutrófilos e Monócitos→ Inflamação e Fagocitose REFERÊNCIAS ABBAS, Abul K.; PILLAI, Shiv; LICHTMAN, Andrew H.. Imunologia celular e molecular. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019 Objetivo 5 Explicar a farmacologia dos antifúngicos ANTIFÚNGICOS Durante muitos anos, a anfotericina B foi o único medicamento antifúngico eficaz disponível para uso sistêmico. Embora eficaz, é bastante tóxica. Nas últimas décadas, a farmacoterapia das doenças fúngicas sofreu uma revolução com os azois relativamente atóxicos (orais e parenterais) e das equinocandinas (apenas parenteral). Os antifúngicos atualmente disponíveis estão categorizados como: ● fármacos sistêmicos (orais ou parenterais) para infecções sistêmicas ● fármacos sistêmicos orais para infecções mucocutâneas ● fármacos tópicos para infecções mucocutâneas Fármacos antifúngicos atualmente disponíveis atuam sobre alvos moleculares distintos. Os principais alvos moleculares consistem em enzimas e outras moléculas envolvidas na síntese de DNA, na mitose, na síntese da membrana plasmática e da parede celular dos fungos 19 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga 1. Sistêmicos para infecções sistêmicas ANFOTERICINA B FARMACOCINÉTICA ● Absorção: má absorção no TGI ○ Forma oral só serve contra fungos dentro do lúmen do TGI, e não para casos sistêmicos ○ Administração intravenosa ● Meia-vida: 15 dias ● Distribuição: ampla ○ exceto no LCE (2-3%) Comprometimento hepático, renal e diálise têm pouco impacto, então não há necessidade de ajuste da dose. Existem quatro formulações de anfotericina B: convencional, lipossomal, complexo lipídico e dispersão coloidal MECANISMO DE AÇÃO O ergosterol, um esterol da membrana celular, é encontrado na membrana celular dos fungos, já o esterol predominante das células de bactérias e seres humanos é o colesterol. A anfotericina B liga-se ao ergosterol e altera a permeabilidade da célula ao formar poros associados à anfotericina B na membrana celular. O poro permite extravasamento de íons intracelulares e de macromoléculas, levando, finalmente, à morte celular. Há algum nível de ligação com os esterois da membrana humana, o que contribui para a toxicidade. USOS CLÍNICOS A anfotericina B continua sendo o antifúngico com maior espectro de ação. Ela tem atividadecontra leveduras clinicamente significativas, inclusive Candida albicans e Cryptococcus neoformans; contra organismos causadores de micoses endêmicas, inclusive Histoplasma capsulatum, Blastomyces dermatitidis, e Coccidioides immitis; contra fungos patogênicos, como Aspergillus fumigatus, e os agentes da mucormicose. Alguns organismos fúngicos, como Candida lusitaniae e Pseudallescheria boydii apresentam resistência intrínseca à anfotericina B. É usada como regime de indução inicial para reduzir rapidamente a carga fúngica para, em seguida, ser substituída por um dos agentes azois mais modernos para terapia crônica ou prevenção de recidiva. EFEITOS ADVERSOS Toxicidade relacionada com a infusão: Febre, calafrios, espasmos musculares, vômitos, cefaleia e hipotensão. Diminuem quando se reduz a velocidade de infusão ou a dose diária. Toxicidade cumulativa: A lesão renal (nefrotoxicidade) é a reação tóxica mais significativa. Ocorre em quase todos os pacientes tratados com doses clinicamente significativas. Em geral, a toxicidade renal se manifesta na forma de acidose tubular renal e perda grave de potássio e magnésio. Anormalidades nas provas de função hepática são ocasionalmente observadas, assim como um grau de anemia decorrente de produção reduzida de eritropoietina pelas células tubulares renais lesionadas. Com a terapia intratecal com anfotericina é possível haver convulsões e aracnoidite química, frequentemente com sequelas neurológicas graves. FLUCITOSINA Usada em combinação com a anfotericina B para tratar meningite criptocócica ou com o itraconazol para cromoblastomicose. FARMACOCINÉTICA ● Administração oral ● Absorção alta (>90%) ● LPP baixa ● Administração ampla ○ até mesmo o LCE ● Eliminação: renal ● Meia-vida: 3-4 h Havendo comprometimento renal seus níveis aumentam com rapidez e podem provocar reações tóxicas. MECANISMO DE AÇÃO É captada pelas células fúngicas pela permease e é convertida em compostos que inibem a síntese de DNA e RNA. Como essas permeases específicas são expressas apenas nas membranas dos fungos, as células humanas não são afetadas. USOS CLÍNICOS Não é utilizada em monoterapia, pois há rápido desenvolvimento de resistência. Usa com a Anfotericina B ou com o Itraconazol. 20 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga Uso restrito a C. neoformans, algumas espécies de Candida e aos bolores dematiáceos que provocam a cromoblastomicose. EFEITOS ADVERSOS Produz o metabólito tóxico fluoruracila. A toxicidade para a medula óssea produzindo anemia, leucopenia e trombocitopenia é o efeito adverso mais comum. Pode haver também náuseas, vômitos, diarreia e disfunção hepática É contraindicada na gravidez. AZOIS ● Cetoconazol, Miconazol, Clotrimazol, Itraconazol, Fluconazol, Voriconazol e Posaconazol MECANISMO DE AÇÃO Inibem enzimas do citocromo P450 fúngicas, reduzindo a síntese do ergosterol e portanto possuindo ação antifúngica. Inibem especificamente a enzima fúngica lanosina-14α-desmetilase, que é responsável pela conversão de lanosterol em ergosterol, afetando diretamente a fluidez da membrana e nas enzimas ligadas a ela. A toxicidade seletiva dos fármacos azois resulta de sua maior afinidade pelas enzimas fúngicas do citocromo P450 do que pelas humanas. USOS CLÍNICOS O espectro de ação dos azois é amplo, incluindo muitas espécies de Candida, C. neoformans, micoses endêmicas (blastomicose, coccidioidomicose, histoplasmose), dermatófitos e, no caso do itraconazol e do voriconazol, até mesmo as infecções por Aspergillus. Os azois também são úteis no tratamento de organismos com resistência intrínseca à anfotericina, como o P. boydii. EFEITOS ADVERSOS Como grupo, os azois são relativamente atóxicos. A reação adversa mais comum é o desconforto gastrintestinal. Relatou-se que todos os azois provocam alterações nas enzimas hepáticas e, muito raramente, hepatite clínica. Os efeitos adversos específicos de cada agente serão discutidos adiante INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS No geral, todos os azois tendem a produzir interações medicamentosas porque afetam o sistema de enzimas do citocromo P450 dos mamíferos em alguma extensão. Há menos interações medicamentosas com o fluconazol. REPRESENTANTES Cetoconazol ● Oral ou tópico ● Usos: ○ Dermatofitoses ○ Dermatite seborreica Itraconazol ● Oral e intravenoso ● Absorção aumentada por alimentos e por pH baixo ● Rifamicinas diminuem a sua biodisponibilidade ● Penetra mal o LCE ● Usos: ○ Preferencial → Histoplasma, Blastomyces e Sporothrix ○ Dermatofitoses ○ Onicomicose * antes era usado para Aspergillus, mas foi substituído pelo voriconazol Fluconazol ● Oral e intravenoso ● É o de maior índice terapêutico ● Melhor tolerância GI e menor efeito sobre as enzimas microssomais hepáticas ● Boa penetração no LCE ● Usos: ○ Preferencial → tratamento e profilaxia secundária da meningite criptocócica ○ Candidíase mucocutânea Só age sobre coccidioides entre os fungos dimórficos. Não age contra Aspergillus e outros fungos filamentosos. Voriconazol ● Oral e intravenoso ● Inibe a CYP3A4 ● Efeitos adversos: distúrbios visuais (30%), dermatite por fotossensibilidade ● Similar ao itraconazol em seu espectro de ação, tendo excelente atividade contra espécies de Candida e fungos dimórficos ● Usos: ○ Preferencial → Aspergilose invasiva Posaconazol ● Oral ● É o de maior espectro ● Absorção aumenta com refeições ricas em lipídios ● Distribui-se rapidamente para os tecidos, com ⬆ níveis teciduais e⬇ níveis sanguíneos ● Usos: 21 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga ○ Atividade contra a maioria das espécies de Candida e Aspergillus ○ É o único com atividade significativa contra agentes da mucormicose ○ Terapia de salvamento em casos de aspergilose invasiva. EQUINOCANDINAS ● Caspofungina, Micafungina e Anidulafungina Esses agentes são ativos contra Candida e Aspergillus, mas não contra C. neoformans ou os agentes da zigomicose e da mucormicose. FARMACOCINÉTICA ● Administração: intravenoso ● Meia-vida: ○ Caspofungina - 9-11h ○ Micafungina - 11-15h ○ Anidulafungina - 24-48h Ajustes da dose são necessários apenas quando há insuficiência hepática grave. MECANISMO DE AÇÃO Inibem a síntese do beta-1,3-glicano, resultando em ruptura da parede celular fúngica e morte celular. USOS CLÍNICOS Caspofungina: ● Infecções por Candida disseminadas e mucocutâneas ● Terapia antifúngica empírica em caso de neutropenia febril ● Aspergilose invasiva como terapia de salvamento apenas em pacientes que não respondem à AB Micafungina: ● Candidemia ● Profilaxia das infecções por Candida em pacientes submetidos a transplante de medula óssea Anidulafungina: ● Candidíase esofágica ● Candidíase invasiva ● Candidemia EFEITOS ADVERSOS ● Bem tolerados ● ⬆ enzimas hepáticas com o uso de caspofungina + ciclosporina (evitar a combinação) 2. Sistêmicos para infecções mucocutâneas GRISEOFULVINA A griseofulvina é um medicamento fungistático Seu único uso é o tratamento sistêmico da dermatofitose. A griseofulvina foi substituída em grande parte por medicamentos antifúngicos mais modernos, como itraconazol e terbinafina. FARMACOCINÉTICA ● Administração oral ● Absorção aumenta com alimentos lipídicos, visto que é praticamente insolúvel em água ● Meia-vida: 24h MECANISMO DE AÇÃO Inibe a mitose dos fungos ao agir nos microtúbulos, rompendo, assim, a organização do fuso mitótico. Se deposita na pele recém-formada, onde se liga à ceratina, protegendo a pele contra nova infecção. Sua ação consiste então em evitar a infecção das novas estruturas cutâneas. USOS CLÍNICOS ● Tratamento sistêmico da dermatofitose EFEITOS ADVERSOS O uso da griseofulvina não está associado a elevada incidência de efeitos adversos graves. Um efeito adverso relativamente comum (15%) consiste em cefaleia, que tende a desaparecer com a continuação do tratamento. Pode ocorrer, entretanto: ● Síndrome alérgica semelhante à doença do soro ● Hepatite Deve ser evitada durante a gravidez INTERAÇÕESMEDICAMENTOSAS ● Varfarina e fenobarbital TERBINAFINA A terbinafina é um medicamento fungicida. Trata-se de uma alilamina, como a naftifina. FARMACOCINÉTICA ● Administração oral ou tópica ● LPP alta ● Meia-vida: 300h 22 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga MECANISMO DE AÇÃO Interfere na biossíntese do ergosterol pela inibição da enzima fúngica esqualeno epoxidase, o que leva ao acúmulo do esterol esqualeno, que é tóxico para o fungo. USOS CLÍNICOS ● Tratamento de dermatofitoses, em especial a onicomicose EFEITOS ADVERSOS São raros, consistindo principalmente em desconforto gastrintestinal e cefaleia. Não é recomendada para pacientes com insuficiências renal e hepática ou gestantes. 3. Tópicos para infecções mucocutâneas NISTATINA A nistatina é um macrolídeo poliênico muito semelhante à anfotericina B. Também é tóxica para administração parenteral e, por esse motivo, é empregada somente para fins tópicos. FARMACOCINÉTICA ● Administração em cremes, pomadas, supositórios e outras formas ● Absorção baixa na pele, mucosas e TGI, então apresenta pouca toxicidade USOS CLÍNICOS ● Ativa contra a maior parte das espécies de Candida e bastante utilizada com vistas à supressão das infecções locais ● Algumas indicações comuns incluem monilíase orofaríngea, candidíase vaginal e infecções intertriginosas por Candida. EFEITOS ADVERSOS Náuseas, vômito, diarreia com dose elevada. AZOIS TÓPICOS Os dois azois mais empregados por via tópica são o clotrimazol e o miconazol. Usados para tratamento da candidíase vulvovaginal e infecções dermatofíticas. O miconazol está disponível na forma de creme ou loção para aplicação tópica e de cremes ou supositórios vaginais para uso nas vulvovaginites causadas por C. albicans. O clotrimazol está disponível para aplicação tópica como creme ou loção e na forma de creme ou comprimidos vaginais para uso nos casos de vulvovaginites causadas por C. albicans Cetoconazol é usado como xampu e forma tópica para tratamento de dermatite seborreica e pitiríase versicolor. Absorção é desprezível e efeitos colaterais raros. ALANINAS TÓPICAS A terbinafina e a naftifina são as alilaminas disponíveis como cremes tópicos Ambas são efetivas no tratamento da tinea do corpo e da tinea crural. O cloridrato de naftifina e a terbinafina são alilaminas altamente ativas contra dermatófitos, mas menos ativas contra leveduras. A atividade antifúngica deriva da inibição seletiva da esqualeno-epoxidase, uma enzima-chave para a síntese de ergosterol. Estão disponíveis na forma de cremes. Entre as reações adversas estão irritação local, queimação e eritema. Deve-se evitar contato com mucosas. 23 Medicina UFAL Arapiraca, turma 9 | 4º período Taíssa N. Veiga REFERÊNCIAS KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13ª ed. Porto Alegre : AMGH, 2017. Objetivo 6 Discutir a epidemiologia das doenças fúngicas Artigo: Infecções hospitalares por candida sp. em pacientes internados em UTI. 2020 Métodos: Revisão integrativa de literatura - estamos preparados para o surgimento de fungos resistentes?; Discussão: As IRAS acometem principalmente pacientes que apresentam supressão do sistema imunológico. No caso de pacientes hospitalizados, as UTI’s ficam com o maior número de pacientes em estado crítico de saúde, o que pode se tornar propício para o desenvolvimento das IRAS. Na UTI os pacientes passam por um grande número de procedimentos, desses, a maioria trata-se de procedimentos invasivos, como passagem de sondas, cateter venoso central, ventilação mecânica, além do uso de imunossupressores. Estes fatores aumentam o risco de IRAS, principalmente se não houver o manejo adequado desses pacientes. Um estudo realizado em um hospital universitário brasileiro em 2010 analisou a incidência de infecção hospitalar em UTI. Entre os 1886 pacientes observados, 246 desenvolveram IRAS, representando uma taxa de 20,3%. O sitio de infecção mais comum foi o trato urinário, seguido por pneumonia e sepse. Os microrganismos mais comumente encontrados foram Candida albicans e as bactérias Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii e Escherichia coli. O índice de mortalidade foi de 39,5%. O hospital das clinicas da universidade de Pernambuco realizou um estudo em 2011, sobre a presença de fungos no sangue, infecção conhecida como fungemia. Foram coletadas 58 amostras de pacientes no período de um ano. Destas amostras 13,8% apresentaram fungemia, sendo os gêneros mais comuns: Candida, Histoplasma, Trichosporon e Cryptococcus. REFERÊNCIA BAPTISTA, Kelly Cristina Cordeiro et al. Infecções hospitalares por candida sp. em pacientes internados em UTI. RGS, v. 22, n. 2, p. 66-81, 2020. 24