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Laísa Dinelli Schiaveto Dermatoses Parasitárias ESCABIOSE (SARNA) A escabiose ou sarna é uma doença reconhecida como contagiosa, causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis. As fêmeas adultas medem 0,4 mm de comprimento por 0,3 mm de largura, sendo que os machos são menores. Após o acasalamento, o macho morre e a fêmea começa a pôr ovos no sulco causado por ela no extrato córneo e granuloso da epiderme. Nesse sentido, a fêmea é a transmissora. Durante a vida de 4-6 semanas do ácaro, são depositados cerca de 40-50 ovos, sendo que as larvas saem dos ovos após 2-4 dias, saindo do túnel e escavando tetos. - O número médio de um indivíduo com escabiose é de cerca de 12 parasitas. Em relação à transmissão, esta é feita por contato pessoal, sem preferência por idade, sexo ou raça. Além disso, estudos epidemiológicos demonstram que a escabiose se dá pela infestação do homem para o homem, não afetando animais. - Transmissão por fômites é excepcional. - Fora do hospedeiro, o ácaro sobrevive por 24-36 horas, sendo que já foi observado em poeira domiciliar na casa de indivíduos afetados. OBS.: Como regra, as pessoas da mesma casa são atingidas pela parasitose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O principal sintoma é o prurido, em geral intenso, durante a noite. Objetivamente, há três elementos a se considerar na semiótica da escabiose: 1) SULCO (LESÃO PATOGNOMÔNICA): sulco escavado pelo parasita com pequena saliência linear de cerca de 1 cm, apresentando, em uma das extremidade, uma vesícula ou pápula onde se encontra a fêmea do ácaro. - Essas lesões são resultado da combinação de dois processos: lesões pápulo vesiculares que ocorrem nos sulcos provocados por ácaros adultos e larvas + lesões eritematopapulosas que são relacionadas com uma resposta imunológica. 2) DISTRIBUIÇÃO: axilas, mamas, pênis, espaços interdigitais das mãos, cintura e pés. 3) LESÕES SECUNDÁRIAS: escoriações e piodermites, como impetigo, foliculite, furúnculo e ectima. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA: • RN E JOVENS: pode ocorrer lesões em couro cabeludo, face, pescoço e regiões palmoplantares. • ADULTOS: lesões clássicas. • IDOSOS: a pele reage menos ou de maneira atípica, podendo queixar-se apenas de prurido mais acentuado no dorso, sendo, muitas vezes, tratado como prurido senil. SARNA NORUEGUESA Compreende uma variante que foi descrita pela primeira vez em 1848, na Noruega. É um tipo de hiperinfestação, cujo número de ácaros supera 1 milhão de indivíduos. Está associada a doentes debilitados, subnutridos, idoso, síndrome de Down, pacientes submetidos a quimioterapia e HIV+. Laísa Dinelli Schiaveto MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: lesões hiperceratósicas crostosas com fissuras na pele e unhas espessadas. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 1. PESQUISA DIRETA: A pesquisa direta dos ácaros, ovos ou cíbalos (bonicos) do ácaro deve ser feita rotineiramente, sobretudo nos casos atípicos. Para isso, coloca-se duas gotas de óleo mineral sobre as lesões e, em seguida, escarnifica-se com uma lâmina de bisturi ou cureta para remover o teto do sulco, que é colocado sobre a lâmina de vidro e examinada ao microscópio, pesquisando ácaros e ovos. - O exame negativo não invalida o diagnóstico, porém a positividade é muito importante para esclarecer o diagnóstico, principalmente em crianças e imunodeprimidos. 2. DERMATOSCOPIA: A dermatoscopia apresenta bons resultados, com visualização de túneis e até mesmo do ácaro. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL É feito com base na maioria das doenças pruriginosas, tais como: dermatite atópica, erupção medicamentosa, urticária papulosa, picadas de inseto e piodermites. TRATAMENTO 1. PERMETRINA 5% LOÇÃO OU CREME: - Aplicar em todo o corpo à noite e retirar lavando pela manhã. - Usar por duas noites consecutivas e, no terceiro dia, a roupa de cama deve ser lavada. - Pode ser usado em adultos, crianças, gestantes e nutrizes. - OBS.: Deltametrina é análoga. 2. ENXOFRE PRECIPITADO 5-10% EM VASELINA: - Aplicar em todo o corpo à noite e retirar lavando pela manhã. - Usar durante 4 dias. - Não provoca lesões colaterais. 3. MONOSULFIRAM: - Diluir em água duas partes para adulto e três partes para criança. - Aplicar durante 4 noites seguidas. - Efeito Antabutase: em consumo com álcool ocorre reações como taquicardia, queda da PA, sudorese, náuseas e vômitos. - Tem a capacidade de matar o ácaro, mas causa dermatite irritativa e, por isso, é preferível usar outro método farmacológico. 4. BENZOATO DE BENZILA LOÇÃO A 25%: - Aplicar à noite e retirar lavando pela manhã. - Usar por 4 dias consecutivos. - Causa irritação na pele. 5. IVERMECTINA: - Utilizado de forma sistêmica, em adultos e crianças acima de 5 anos. - Usado em dose única, devendo ser repetida após 7 dias. - ½ comprimido para cada 15kg. - Pode causar dano hepático. Laísa Dinelli Schiaveto - Não pode ser usada em gestantes, mulheres em amamentação e crianças menores de 5 anos. OBS.: Na presença de sarna nodular, utiliza-se corticoide de alta potência, 2-3x ao dia, ou até mesmo infiltração de triancinolona 3-4 mg por ml. Em casos recalcitrantes, respeitando as restrições gerais, pode-se utilizar talidomida 100 mg ao dia, lembrando que esta tem efeito teratogênico. PEDICULOSE Os anopluros, comumente denominados piolhos, são ectoparasitas pequenos, que parasitam o couro cabeludo e o corpo, sendo responsáveis pelas pediculoses. Acomete sobretudo crianças de 3-10 anos Causada pelo inseto do gênero Pediculus e Phthirus, que são hematófagos e medem cerca de 3 mm, tais como: • Pediculus humanus capitis: piolho da cabeça • Pediculus humanus corporis: piolho do corpo • Phthirus Pubis: piolho da região pubiana Em relação à transmissão, esta ocorre através do contato interpessoal ou por fômites. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO PEDICULOSE DO COURO CABELUDO: • Queixa de prurido. • É confirmada ao exame pela presença dos ovos (lêndeas), que são ovoides, esbranquiçados e aderentes à haste do cabelo, sendo que o encontro de parasitas é mais difícil e necessita de exame mais demorado. • As lêndeas podem ser facilmente diferenciáveis de escamas da pitiriase capitis pela forma ovoide e pela firme aderência ao cabelo. • A coçadura pode determinar escoriações e infecção secundária. PEDICULOSE DO CORPO: • Prurido de intensidade variável e urticas, que podem ter pápulas, máculas eritematosas e escoriações. • As áreas mais comumente afetadas são a interescapular, o ombro, a face posterior das axilas e as nádegas. • O diagnóstico é confirmado pelo achado do parasita nas pregas de roupas. PEDICULOSE PUBIANA (FTIRÍASE): • Prurido. • Localiza-se, quase exclusivamente, nos pelos pubianos e perianais, podendo, entretanto, atingir os pelos axilares, do tronco, das coxas e até das sobrancelhas e dos cílios. • Parasita achatado com tórax mais largo que o abdome. • O diagnóstico é feito pelo achado do parasita na pele, frequentemente com cabeça parcialmente introduzida em folículo piloso, e pelo encontro das lêndeas aderentes às hastes pilosas. Laísa Dinelli Schiaveto TRATAMENTO 1. SHAMPOO DE PERMETRINA 1%: - Deixar o produto agir por 5-10 minutos e, em seguida, deve-se enxaguar o cabelo. - Repetir após uma semana. - Casos de pediculose do couro cabeludo. 2. IVERMECTINA: - Usado em dose única, devendo ser repetida em 7 dias, se necessário. - ½ comprimido para cada 15kg. - Atua somente sobre os parasitas, sendo necessário eliminar as lêndeas. - Pode ser indicado fazer, simultaneamente, os tratamentos sistêmico e tópico. 3. ELIMINAÇÃO DAS LÊNDEAS: - Remover com pente fino, após passar vinagre diluído em 50% com água morna. - O uso de chapinha é muito efetivo na prática, mas não háestudos na literatura. 4. HIGIENE E LAVAGEM DA ROUPA: - São medidas suficientes para a cura da pediculose do corpo. 5. LOÇÃO PERMETRINA 5%: - Aplicar por 2-3 vezes. - Retirar as lêndeas. - Casos de pediculose pubiana. 6. VASELINA: - Usar 2 vezes por dia, por 8 dias. - Remoção manual das lêndeas. - Casos de pediculose pubiana localiza nos cílios. OBS.: É imprescindível examinar e tratar todos os contactantes. TUNGÍASE A tungíase é causada pela Tunga penetrans, pulga que mede 1 mm e habitua lugares secos e arenoso, sendo muito encontrada nas zonas rurais, em chiqueiros e currais. Os hospedeiros habituais são o homem e os suínos. Compreende uma pulga hematófaga. Após se alimentar, o macho abandona o hospedeiro, enquanto a fêmea fecundada penetra na pele, introduzindo a cabeça e o tórax na epiderme, deixando de fora os estigmas respiratórios e o segmento anal para a postura dos ovos (orifício ovorepositor). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Discreto prurido na fase inicial, com posterior aparecimento de sensação dolorosa. • Lesão em pápula de aspecto amarelado com região enegrecida no centro, que corresponde ao segmento posterior contendo ovos. • As lesões são mais comuns nos MMII: ao redor das unhas dos artelhos, pregas interartelhos e nas plantas. • Eventualmente, há infecção secundária, como piodermite ou celulite. TRATAMENTO 1. ENUCLEAÇÃO DA PULGA: - Utiliza-se agulha estéril e desinfecção com tintura de iodo. - É possível destruir as pulgas com eletrocautério ou eletrocirurgia após anestesia tópica. Laísa Dinelli Schiaveto 2. ANTIBIOTICOTERAPIA ORAL: - Casos de infecção secundária. 3. IVERMECTINA OU TIABENDAZOL: - Ivermectina, ½ comprimido para cada 15kg, VO, em dose única, devendo ser repetida em 7 dias, se necessário. - Tiabendazol 25 mg/kg de peso, VO, 2x ao dia, por 3-5 dias. - Casos de infestações intensas. PROFILAXIA • Uso de calçados em áreas suspeitas; • Eliminação das fontes de infestação com DDT (dicloro-difenil-tricloroetano), BHC (hexaclorociclohexano) ou fogo. CIMIDÍASE Dos cimicídeos (percevejos), hemípteros hematófagos que parasitam diversas espécies de animais, há um gênero que interessa o homem, o Cimex, com duas espécies: lectularius e hemipterus; que são conhecidos como “bedbugs”. Ambas as espécies possuem hábitos noturnos. Colonizam-se em fendas ou buracos de móveis, sobretudo camas, e, à noite, sugam o homem. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • A picada causa urtica bastante pruriginosa, que pode levar a lesões a distância, por sensibilização. • Em geral, há a formação de 3 pápulas eritematosas ou vesículas por área. SUSPEITA Atualmente, a infestação é rara, devendo ser suspeitada em casos de picadas noturnas, domicílios com móveis antigos ou malconservados e em viajantes que podem trazer o parasita do exterior em seus objetos de viagem. TRATAMENTO 1. CORTICOIDE TÓPICO. 2. ANTI-HISTAMÍNICO ORAL. 3. ERRADICAÇÃO COM USO DE INSETICIDAS. MIÍASE A miíase é uma afecção causada por larva de dípteros (moscas), podendo ser manifestada de forma primária ou forma secundária. FORMA PRIMÁRIA Na forma primária, a larva da mosca invade o tecido sadio e nele se desenvolve, sendo parasita obrigatória. Em nosso meio, compreendem as miíases furunculoide (berne), que são bastante frequentes. Esta é causada pela larva Dermatobia hominis, atingindo homens e animais. A mosca não deposita os ovos diretamente, mas sim em outras moscas ou mosquitos. Assim, a fêmea após copular, voa e captura um inseto díptero hematófago e, quando este pousa em outro animal ou no homem, desprende e abandona os ovos. Penetrando na pele, ocorre o desenvolvimento por um período de 30-70 dias; já, quando abandona o hospedeiro e cai no solo, transforma-se em pupa e, em 60-80 dias, forma-se o inseto alado. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Em geral, a penetração da larva passa despercebida. • Com o desenvolvimento, forma-se um nódulo furunculoide, que difere do furúnculo por ser menos inflamatório e por apresentar, na parte central, um orifício que deixa sair, pela expressão leve, uma serosidade. • Formação de pápula eritematosa. • Dor é variável. Laísa Dinelli Schiaveto • Quando atinge a maturidade, a larva se move ativamente no interior do nódulo, dilata a abertura e sai; em seguida, há cicatrização. • O berne é muito comum em certas áreas e atinge qualquer região do corpo, inclusive o couro cabelo, em número variável. • Pode ocorrer infecção secundária, como abscesso e celulite. TRATAMENTO: 1. RETIRADA DA LARVA: - Espremedura da lesão, puxando a larva suavemente com uma pinça, sendo que uma pequena incisão no orifício da penetração facilita essa manobra. - Um procedimento leigo e bastante eficaz, consiste em colocar uma porção de toucinho no orifício do nódulo, deixando- a por algumas horas; a larva necessita respirar e acaba penetrando no toucinho. - Outro recurso é colocar uma tira de esparadrapo sobre a lesão, que é retirada após algumas horas; a larva surge no orifício e pode ser retirada ou sair pela expressão. - Após a eliminação da larva, a lesão involui rapidamente. FORMA SECUNDÁRIA Na forma secundária, a mosca coloca seus ovos em ulcerações da pele ou mucosas e as larvas se desenvolvem nos produtos da necrose tecidual, sendo parasitas ocasionais. Existem três formas de miíase secundária: MIÍASE CUTÂNEA (‘BICHEIRAS”): ocorre pelo deposito de ovos de moscar em ulcerações da pele com desenvolvimento de larvas; causada, principalmente, pela Cochliomyia macellaria (mosca varejeira) e por outras espécies de moscas dos gêneros Lucilia e família Sarcophagidae. Acontece por falta de cuidados adequados em ulcerações cutâneas, sendo que as larvas se limitam a devorar os tecidos necrosados, sem provocar hemorragias. DIAGNÓSTICO: é fácil, pois as larvas são vistas se movimentado ativamente na ulceração cutânea. TRATAMENTO: consiste em retirar as larvas após matá-las com éter ou borrifos de nitrogênio; além disso, pode ser usado creme de ivermectina a 1%, que deve ser aplicado na lesão e retirado com solução salina após duras horas. MIÍASE CAVITÁRIA: é encontrada na cavidade nasal, sobretudo em doentes com leishmaniose nasal, cavidade da orelha e da órbita ocular; a gravidade depende da localização e do grau de destruição, sendo os quadros mais graves ocasionados pela Cochliomyia hominivorax. TRATAMENTO: consiste em matar as larvas com éter, nitrogênio líquido ou solução anestésica e retirar as larvas. MIÍASE INTESTINAL: é originada pela ingestão de larvas em bebidas e alimentos Laísa Dinelli Schiaveto contaminados, sendo que a sintomatologia depende da espécie e do número de larvas e da imunidade individual. LARVA MIGRANS (BICHO GEOGRÁFICO) A larva migrans, também conhecida como dermatite linear serpeante ou bicho geográfico, é uma afecção frequente, que ocorre em virtude da penetração, na derme, de larvas do Ancylostoma braziliensis, agente etiológico mais comum. Os ovos se desenvolvem bem na areia ou terreno arenoso e, em condições favoráveis (calor e umidade), em uma semana, se tornam larvas infestantes. Penetrando na pele, a larva se desloca em um trajeto linear e sinuoso, causando uma erupção ligeiramente saliente, que apresenta, na porção terminal, uma pápula onde está localizada a larva. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Lesões lineares eritematosas serpiginosas, muito pruriginosas, sobretudo quando há uma infestação numerosa. • Pode ocorrer infecção e eczematização, que pode dificultar o diagnóstico. TRATAMENTO 1. ALBENDAZOL 400 MG: - Administrar VO, em dose única. - Em casos de pacientes com menos de 60kg, 15 mg/kg, 1x ao dia, por 3 dias. - Em casos de infestação resistente ou intensa, deve-se repetir o medicamento após 24-48 horas. 2. IVERMETICINA 200 µG/KG:- Administrar VO, em dose única, repetindo após 7 dias, se necessário. 3. TIABENDAZOL 25 MG/KG: - Administrar VO, por 5 dias. 4. TIABENDAZOL POMADA 5% - Usar durante 2 semanas. - Casos de infestação mínima, por uma ou duas larvas, e se o prurido for tolerável. 5. CONGELAMENTO DE LARVA: - Utiliza-se em casos em que a larva está no final do trajeto, com neve carbônica, nitrogênio líquido ou gás carbônico. PROFILAXIA • Evitar áreas arenosas sombreadas ou úmidas, onde é propício para as larvas se desenvolverem. • Em tanques de areias de parque e escolha, colocação de proteção contra dejetos de cães e gatos. • Proibir a permanência, nas praias, de cães e gatos.
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