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Laísa Dinelli Schiaveto Farmacodermias: Reações Adversas às Drogas DEFINIÇÃO De acordo com a OMS, reação adversa à droga inclui toda a consequência não terapêutica do uso de uma droga, com exceção do seu abuso, envenenamento e falência terapêutica. Ainda, pode ser definida como qualquer efeito indesejável na estrutura ou função da pele e/ou do sistema, bem como dos anexos cutâneos ou das mucosas, sendo que a pele constitui o órgão mais frequentemente acometido. PRINCIPAIS DROGAS: antibióticos (sulfas, penicilina, ciclosporinas e minociclinas), psicotrópicos, anticonvulsivantes (hidantoína), alopurinol, AINES (diclofenaco e piroxicam) e AAS. EPIDEMIOLOGIA • Afeta 2% da população adulta e 4% da população pediátrica; • Afeta 10-20% dos pacientes hospitalizados; • Predomínio maior sobre o sexo feminino; • Maior incidência com a idade; • Maior incidência em pacientes com uso de várias medicações; • Maior incidência em imunossuprimidos e indivíduos com AIDS com CD4 < 200. FISIOPATOLOGIA MECANISMOS NÃO IMUNOLÓGICOS (1) REAÇÕES PREVISÍVEIS: efeitos colaterais, toxicidade e interação medicamentosa. (2) REAÇÕES IMPREVISÍVEIS: intolerância, idiossincrasia e hipersensibilidade. - Intolerância e idiossincrasia são a mesma coisa, mas a intolerância é quantitativa e a idiossincrasia é qualitativa. (3) DISTÚRBIO ECOLÓGICO: alteração da flora normal de microrganismo, como pode ocorrer pelo uso de antibióticos. (4) BIOTROPISMO: efeito biotrópico – determinadas drogas que são tóxicas para alguns microrganismos, favorecem o desenvolvimento de outros. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS (1) MECANISMOS DEPENDENTES DE IgE: - É a reação tipo I de Gell e Coombs. - Decorrente da degranulação dos mastócitos com liberação de histaminas. - Resposta imune: IgE. - Quadro clínico: urticária e anafilaxia. - Tipo celular: imunoglobulinas e células B. - Exemplo: reações urticariformes à penicilina. (2) MECANISMOS CITOTÓXICOS: - É a reação tipo II de Gell e Coombs. - Decorrente da citotoxicidade celular mediada por anticorpos. - Resposta imune: IgG. - Quadro clínico: discrasias sanguíneas. - Tipo celular: células B e imunoglobulinas. - Exemplo: anemias hemolíticas à penicilina ou a metildopa e plaquetopenia causada por sulfas. (3) MECANISMOS ENVOLVENDO COMPLEXOS IMUNES: Laísa Dinelli Schiaveto - É a reação tipo III de Gell e Coombs. - Decorrente da deposição de imunocomplexos. - Resposta imune: IgG e imunocomplexos. - Quadro clínico: vasculite, urticária, ulcerações, artralgias, febre e adenopatias. - Tipo celular: células B e imunoglobulinas. - Exemplo: vasculite induzida por drogas como alopurinol, AINES, fenitoína, quinolonas, tiazídicos, solfonamidas, entre outros. (4) MECANISMOS MEDIADOS PELA IMUNIDADE CELULAR: - É a reação tipo IV de Gell e Coombs. - Pode ser dividida em: - TIPO 4A: células TH1, com ativação de monócitos; ex.: eczema. - TIPO 4B: células TH2, com liberação de IL-4 e IL-5 e inflamação eosinofílica; ex.: exantema maculopapular e bolhoso. - TIPO 4C: células T e apoptose, morte celular por CD4 e CD8; ex.: exantema maculopapular, bolhoso e pustuloso. - TIPO 4D: células T, com liberação de IL-8 e ativação e recrutamento dos neutrófilos; ex.: pustulose exantemática generalizada aguda. PRURIDO O prurido pode ser uma manifestação isolada ou não, que costuma acompanhar as demais reações cutâneas a droga. Clinicamente, não há a presença de lesões cutâneas, podendo apenas apresentar escoriações. TTO: retirada da droga. - O prurido pode persistir até 2 semanas após. ERUPÇÃO EXANTEMÁTICA POR DROGA A erupção exantemática por droga é reação mais comum. Apresenta padrão morbiliforme ou escarlatiniforme, que poupa palmas, plantas e mucosas, de aparecimento súbito, geralmente, entre 7º-14º dia do uso da nova droga, exceto naqueles indivíduos já sensibilizados, nos quais pode ocorrer por volta do 1º-3º dia do uso da droga. A regressão ocorre após 1-2 semanas da retirada da droga. TTO: retirada da droga + anti-histamínicos orais (prurido) + corticoides tópicos e/ou orais (dependendo da intensidade). OBS.: Cuidado com o exantemas virais e o uso de corticoides. ERITEMA PIGMENTAR FIXO O eritema pigmentar fixo é caracterizado pela recidiva sempre no mesmo local, ainda que novas lesões possam surgir. Compreende máculas de cor vermelho- azuladas, redondas ou ovais, com limites nítidos que, em formas mais severas, pode ser purpúrica, urticada ou bolhosa. Estas surgem após 30 minutos a 8 horas após a administração da droga, e o eritema regride gradualmente, deixando mácula acastanhada residual (melanina). As regiões mais acometidas são palmo-plantar, periorificiais da face e genitais, sendo que, no local da lesão, há prurido e queimação. Laísa Dinelli Schiaveto Pode ocorrer o fenômeno de Koebner. TTO: retirada da droga + anti-histamínicos orais (prurido) + corticoides tópicos e/ou orais (dependendo da intensidade). URTICÁRIA - ANGIOEDEMA - ANAFILAXIA A urticária está entre as mais frequentes reações indesejáveis às drogas, uma vez que pode ser causada por qualquer droga, sobretudo pelo uso de AINES, penicilina, cefalosporina e amoxicilina, geralmente surgindo de 15 minutos a 24 horas após a exposição a droga. Além disso, meios de contraste radiológicos também podem desencadear o quadro. É resultado das reações de Gell e Coombs do tipo I ou do tipo III. A histamina é o principal mediador das urticárias, assim, desencadeando o prurido e o aumento da permeabilidade capilar. Portanto, está frequentemente associada ao angioedema. TTO: retirada da droga + anti-histamínicos orais (prurido) + corticoides tópicos e/ou orais (dependendo da intensidade). ERITEMA MULTIFORME O eritema multiforme é mais comum em pacientes jovens com infecções de repetição pelo vírus Herpes Simplex e em crianças com infecções pelo Micoplasma pneumoniae e fungos. Eventualmente está relacionado com drogas (10-20%). Consiste em lesões polimorfas, como máculas, pápulas, vesículas e bolhas simetricamente distribuídas pelo tegumento, principalmente em superfícies extensoras. LESÃO EM ALVO OU ÍRIS (HERPES ÍRIS DE BATEMAN): mácula eritematosa cujo centro apresenta vesícula, a qual é circundada por discreto halo eritematoso que, por sua vez, é circundado por vesículas menores concêntricas. Além disso, 1/4 dos indivíduos tem acometimento da mucosa. A maioria dos indivíduos tem a forma minor limitado ao máximo a uma superfície de mucosa, enquanto cerca de 20% dos casos evoluem para a forma major (síndrome de Stevens-Johnson), a qual cursa com alto grau de mortalidade. Laísa Dinelli Schiaveto TTO: retirada da droga + anti-histamínicos orais (prurido) + corticoides tópicos e/ou orais (dependendo da intensidade). SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON (SSJ) A síndrome de Stevens-Johnson é mais comum em indivíduos HIV+, apresentando uma incidência de 1-6 casos por milhão, com taxa de mortalidade inferior à 5%, sendo a sepse a principal causa. É caracterizada por lesões semelhantes ao eritema polimorfo, porém com máculas purpúricas e bolhas amplamente distribuídas ou mesmo lesões em alvo atípicas dispostas sobre o dorso das mãos, palmas, planta dos pés e região extensora das extremidades. Além disso, 10-30% dos casos estão associados com febre a acometimento gastrointestinal e respiratório, sendo que o acometimento de duas superfícies mucosas distintas pode preceder ou suceder o acometimento cutâneo. Menos de 10% está associado ao destacamento epidérmico. TTO: suspensão da droga + corticoide (somente nas primeiras 48 horas) + antibiótico (em casos de infecção). NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA (NET) ou SÍNDROME DE LYELL A necrólise epidérmica tóxica é mais comum em indivíduos HIV+ e no sexo feminino, sendo caracterizada por um intensodestacamento da epiderme por necrose (> 30%), que segue o sentido crânio-caudal. Os sintomas iniciais incluem febre, dor de garganta, tosse e queimação ocular, seguidos, após aproximadamente 3 dias, de erupção cutâneo-mucoso. Em cerca de 2-5 dias, geralmente, há acometimento total do corpo, exceto o couro cabeludo, que é raramente acometido. Destaca-se que, há positividade do sinal de nikolsky na pele comprometida. Além disso, devido ao desequilíbrio hidroeletrolítico, pode haver febre alta ou hipotermia. Em 90% dos casos, há anemia e linfopenia, sendo que a presença de neutropenia indica pior prognóstico. TTO: suspensão da droga + suporte semelhante aos pacientes com queimaduras extensas + biópsia de pele + UTI + hidratação + corticoide (controverso) + imunoglobulinas + agentes anti-TNF + antibióticos. CRITÉRIOS DE SCORTEN - PROGNÓSTICO Atribui-se um ponto para a presença de cada um dos parâmetros abaixo: • Quando o somatório do Scorten é < 2, o risco de óbito é em torno de 3%; já, quando o somatório é ≥ 4, o risco de óbito é de, pelo menos, 60%. - Scorten 1: 3,2%. - Scorten 2: 12,1%. - Scorten 3: 35,3%. - Scorten 4: 58,35%. - Scorten 5 ou mais: 90%. PUSTULOSE EXANTEMÁTICA AGUDA GENERALIZADA (PEAG) A pustulose exantemática aguda generalizada está associada, em 90% dos casos, ao uso de medicamentos. Geralmente, ocorre uma a três semanas após o uso do medicamento, sobretudo Laísa Dinelli Schiaveto betalactâmicos, macrolídeos, cefalosporina, tetraciclinas, sulfas, alopurinol, carbamazepina, paracetamol, terbinafina, mercúrio e talidomida. Antes da disseminação do quadro, é caracterizada por acometimento das áreas de dobras e edema de face. Em seguida, ocorre uma fase febril aguda com pústulas estéreis não foliculares. - A febre alta é iniciada no mesmo dia da erupção pustulosa estéril. Ainda, há, frequentemente, leucocitose (neutrofilia sanguínea) e, eventualmente, eosinofilia. A resolução ocorre em 4-10 após a suspensão da droga. TTO: retirada da droga + anti-histamínicos orais (prurido) + corticoides tópicos e/ou orais (dependendo da intensidade). REAÇÃO A DROGA COM EOSINOFILIA E SINTOMAS SISTÊMICOS (DRESS) Também conhecida como síndrome de hipersensibilidade induzida por drogas, ocorre, principalmente, devido ao uso de agentes epilépticos (fenitoína, carbamazepina e fenobarbital), apresentando, ainda, maior incidência em afrodescendentes. É caracterizada por erupção morbiliforme edematosa, com início na face, tronco superior e extremidades superiores. Além disso, há linfonodopatia dolorosa (75%), hepatomegalia com hepatite (50%) e artralgia. A presença de edema de face com acentuação periorbitária é um sinal de alerta ao diagnóstico. Laboratorialmente, observa-se eosinofilia e linfócitos atípicos. TTO: retirada da droga + anti-histamínicos orais (prurido) + corticoides tópicos e/ou orais (dependendo da intensidade). SÍNDROME DO HOMEM VERMELHO A síndrome do homem vermelho compreende um estado de eritrodermia instalada em dias ou semanas por diversas etiologias, sendo mais comum devido ao uso de drogas, como a vancomicina. Acredita-se ser uma reação de hipersensibilidade à vancomicina, geralmente, após a infusão rápida da droga, quando administrada antes de 60 minutos; entretanto, pode ocorrer em infusões lentas. O acometimento se inicia pela área genital, face ou tronco e, progressivamente, se generaliza, com posterior processo descamativo. Na progressão do quadro, observa-se dispneia, hipotensão, dor torácica e espasmos musculares. SÍNDROME DO BABUÍNO A síndrome do babuíno foi descrita inicialmente como uma reação cutânea decorrente de exposição sistêmica a um alérgeno de contato prévio. Entretanto, atualmente, já foram descritos diversos casos secundários a exposição de drogas sistêmicas e, sendo assim, o termo exantema flexural e intertriginoso simétrico relacionado à droga (SDRIFE) é melhor empregado. Laísa Dinelli Schiaveto O quadro é caracterizado por erupção cutânea eritematosa simétrica, predominantemente nas áreas intertriginosas, nádegas (incluindo região perianal) e região inguinocrual. OBS.: A síndrome ganhou esse nome devido ao exantema das nádegas vermelho-vivo fazer uma analogia à calosidade presente nas nádegas do babuíno. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: 1. Exposição à uma droga administrada sistemicamente, na primeira dose ou dose subsequentes, excluindo alérgenos de contato. 2. Eritema bem demarcado na região glútea, perianal e/ou eritema em forma de V da área perigenital inguinal. 3. O envolvimento de, pelo menos, um outra localização intertriginosa/flexura. 4. Simetria das áreas afetadas. 5. Ausência de sinais e sintomas sistêmicos. OUTRAS REAÇÕES À DROGAS (1) ALTERAÇÕES PIGMENTARES DA PELE: clofazimina, amiodarona, antimaláricos, minocilina e hidroquinona. (2) ALTERAÇÕES PIGMENTARES DA UNHA: tetraciclinas, antimaláricos, sulfas, AZT, bleomicina, ciclofosfamina e ouro. (3) ONICÓLISE: betabloqueadores, captopril, isotretinoína, acitretina, 5-fluoracil e sulfas. (4) ERUPÇÕES LIQUENÓIDES: IECA, betabloqueador, clorotiazida, carbamazepina, tetraciclinas, griseofulvina, hidantoína e espironolactona. (5) LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: hidralazina (mais comum), isoniazida, betabloqueador, procainamida, testosterona e estrógenos. (6) IODODERMA E BROMODERMA: além de erupções acneiformes, podem formar bolhas, úlceras e vegetantes. (7) ALOPECIAS. (8) HIPERTRICOSE. (9) HISURTISMO.
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