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AO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL
DO ESTADO DE SÃO PAULO CAPITAL
AUTOS n.....
 
 
 
 
 Nome Completo, já qualificado nos autos do processo epigrafado, que lhe move a JUSTIÇA PÚBLICA, assistido juridicamente por seu procurador infra-assinado, devidamente constituído “in fine”, vem, perante Vossa Excelência com o devido acato e respeito de estilo, data máxima vênia, não conformado com a Respeitável Sentença, proferida às (fls. 31) e Carta de Intimação de Sentença às (fls. 34), interpor o presente
RECURSO DE APELAÇÃO
 Com fulcro no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, requerendo, para tanto, que o recurso seja recebido no duplo efeito, para que dela conheça e profira nova decisão, em conformidade com art. 1º, inciso III e art.5o, incisos LIV e LV da CFRB/88, consoante com artigos 24º e 25º, § 1º do Decreto 678/92 Convenção Americana.
 
Diante do exposto, com fulcro no artigo 600, parágrafo 4º do Código de Processo Penal, requer a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, onde serão apresentadas as razões. 
 
Nesses termos, 
pede deferimento
 
 SÃO PAULO CAPITAL 12 de novembro de 2022
Leandro Tardia 
OAB n, ...
RAZÕES DA APELAÇÃO
 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE são Paulo Capital
 
APELANTE: fulano de tal
APELADO: JUSTIÇA PÚBLICA
PROCESSO Nº ....
 
COLENDA CÂMARA, criminal
 
 Pela respeitável sentença de fls. 214/224, entendeu o preclaro Magistrado a qual pela condenação do Apelante à pena corporal reclusiva de 06 (seis) anos, segundo a sentença ora combatida, do artigo 33, caput, da Lei 11.343/06, sendo o regime inicialmente fechado e com o direito de recorrer em liberdade, uma vez que já está solto e ser primário.
Ocorre que a sobredita sentença, data máxima vênia, não merece prosperar, como será exaustivamente demonstrado, sendo certo que sua reforma é medida que se impõe, uma vez que os fundamentos ali entabulados são essencialmente desarrazoados e desproporcionais, portanto, inidôneos do ponto de vista jurídico a lastreá-la.
I – DO BREVE RELATO DOS FATOS
O Apelante foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 33, “caput”, da Lei 11.343/06. 
O Ministério Público, através de denúncia subscrita pelo Ilustre Promotor de Justiça, imputa-lhe a prática deste crime, sob o argumento de que no dia 19 de maio de 2017, por volta das 20h40min, o apelante portava consigo certa quantidade de drogas em sua residência, segundo o apelante a substância era para seu uso próprio e não para tráfico, pois a quantidade encontrada não configura tráfico de drogas.
Durante audiência de instrução, através dos depoimentos dos policiais, foi confirmado que a droga, ao invés do que traz a denúncia, de que o apelante vendia e guardava, o que descaracteriza a GUARDA, além disso, não consta no depoimento dos policiais que o apelante estava realizando a VENDA. 
No entanto, questionado pela defesa sobre a iluminação próximo a residência para que com certeza pudesse identificar, os depoimentos foram controversos, o policial Informação Omitida disse que a viela era bem iluminada, já a policial Informação Omitida, além de não ter verificado qualquer movimento suspeito, declarou que a viela não era bem iluminada, veja Nobres Desembargadores, conforme fotos juntadas aos autos (fls. 204/207), vemos que a viela é escura, com pouca iluminação, sendo impossível precisar com exatidão quantas e quais pessoas estavam na viela no momento da abordagem. 
Verifica-se que não há nenhuma prova capaz de imputar ao apelante a prática do crime constante na sentença, além disso, o apelante foi categórico ao ser abordado, e com risco até mesmo a sua integridade física, de denunciar o dono da droga, que conforme depoimento da policial Mayumi, já é conhecido como traficante local, cujo nome é vulgo “Informação Omitida”, inclusive tendo o réu realizado o reconhecimento fotográfico do mesmo na delegacia. 
Dado e passado, finda a instrução criminal, em alegações finais o Ministério Público pediu a condenação nos termos da denúncia, a defesa suplicou pela absolvição, sendo a sentença condenatória o centro nervoso de todo o presente combate. 
 
É a síntese fático-processual necessária.
II – DO DIREITO
1. DA ABSOLVIÇÃO
Conforme informações dos autos percebe-se a ausência de qualquer prova que o apelante fazia a venda da droga apreendida no local do crime 
É de se observar nas provas apresentadas na fase de instrução, que corroboram a fase inquisitorial, que em todos os momentos em que pode falar, é negada, e que guardava substância entorpecente e muito menos ainda, que estivesse comercializando, até arriscando sua vida. 
Desde o momento de sua prisão abusiva em flagrante, o apelante vem pedindo clemência as autoridades, pela atitude arbitrária dos policiais que queriam tolher a sua liberdade. Note que nos depoimentos das testemunhas, o apelante é desconhecido, frise-se, não houve qualquer investigação policial anterior, sendo um fato isolado, demasiadamente vazio a denúncia de populares que avisaram que em tal residência funcionava um ponto de droga, conforme mencionado pelo juiz da audiência de custódia. 
O apelante nunca foi alvo de monitoramento de frequência em pontos de tráfico pela polícia, e note no depoimento dos policiais que o apelante não apresentou qualquer tentativa de fuga, isto porque nada devia, ora Excelências, quem em posse da quantidade de drogas que informa a denúncia, não tentaria impingir uma fuga da abordagem, ao contrário, o apelante que nada devia foi de encontro dos policiais porque este era seu caminho até a pastelaria. 
Em seu interrogatório, o apelante é categórico ao afirmar que é apenas usuário de maconha e jamais se envolveu na mercancia de qualquer entorpecente, sendo primário e de bons antecedentes, trabalhador e pai de família, entregou o nome do traficante do local, vulgo “Informação Omitida”, confirmado pelo depoimento da policial Informação Omitida, que categoricamente disse desconhecer o apelante e de que sabia que o traficante local se utiliza do codinome vulgo “Informação Omitida”.
Além disso, o depoimento dos policiais em juízo é cercado de incertezas e de contradições, apenas um deles afirma ter observado movimento suspeito num beco totalmente escuro e cercado de populares, assim como o apelante, no entanto, em todos os seus depoimentos sempre se referem a afirmações vagas “que viram algo”, “que algo”. 
Diante da insuficiência das provas, não há como imputar ao apelante a autoria pela prática de tráfico de drogas, de forma que, nos termos do art. 386, V e VII do CPP, este Egrégio Tribunal de Justiça deverá absolvê-lo. 
As provas trazidas aos autos claramente ratificam as alegações supracitadas, estando provado que este não concorreu de forma alguma para a prática do crime constante na sentença, eis que não ficou provado qualquer guarda ou venda de entorpecente como alega a sentença. 
Urge lembrar que o ônus da prova é do Ministério Público, em razão do princípio da presunção de inocência, é demonstrar a realização de todos os elementos, subjetivos e objetivos, do tipo, e, nestes autos isto não estou demonstrado. 
Desta forma, por todas as contradições, restou claro que os policiais forjaram o flagrante em clara violação às regras inseridas no artigo 33, da Lei nº. 11.343/06, de forma que manter a condenação importará em lesão direta aos princípios constitucionais. Nestes termos é que se impõe a absolvição do réu. 
 
Caso não seja este o entendimento dos Nobres Desembargadores, torna-se incontestável então a necessidade de aplicação do princípio do in dúbio pro reo, uma vez que certa é a dúvida acerca da culpa a ele atribuída com relação à acusação de Tráfico de Drogas, pois o apelante não foi encontrado em atividade de traficância e muito menos com qualquer outro elemento que levasse a crer ser o apelante traficante.
 
Veja Excelências, que, com o apelante fora encontrado apenas pequena quantidade em dinheiro, conquistado de forma lícita, eis que o apelante sempre foi pessoa trabalhadora e estava em percepção de seguro-desemprego, conformevasta prova juntada aos autos (fls. 192/203). 
Destarte, diante da insuficiência probatória, posto que a acusação não conseguisse demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram para que pudessem imputar a prática delituosa ao réu, não conseguindo, consequentemente, demonstrar que fora a conduta do réu que causou a lesão ao bem juridicamente protegido, que ressai dos autos, a pretensão punitiva merece ser julgada improcedente. 
 
Nesse sentido, temos o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
 
APELAÇÃO CRIME. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO. IN DUBIO PRO REO. ART. 386, VI, DO CPP. A condenação do réu exige prova robusta da autoria do fato delituoso que lhe é imputado. Remanescendo dúvida, impõe-se a absolvição, com fundamento no art. 386, VI, do CPP. 
Sendo assim, o apelante deve ser ABSOLVIDO, com fundamento no art. 386, inciso V do Código de Processo Penal, por não haver qualquer prova de que tenha concorrido para o tráfico de drogas. 
 
Se este não for o entendimento, que seja ABSOLVIDO nos termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, devida inexistência de provas suficientes que ensejem sua condenação pela figura do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.
 
“Existindo contradições e fragilidade da prova à falta de outros elementos seguros de convicção, a melhor solução é a que reconhece o non liquet, pois é preferível absolver um culpado a condenar um inocente.” (RJTACRIM 43/226). 
2. DA AUSÊNCIA DE PROVAS 
“O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.” 
É pacífica a jurisprudência no sentido de que ainda que comprovada a materialidade, mas NÃO COMPROVADA a autoria, somente a existência de meros indícios, não são estes suficientes para formar um Juízo de condenação, muito menos de continuação de uma ação penal.
No mérito verifica-se que nem a autoridade policial, e mesmo o representante do Ministério Público conseguiram demonstrar a culpabilidade do apelante, mas, não quer acreditar na INOCÊNCIA dele. 
 
Neste norte, é velho princípio de lógica judiciária: 
 
“A acusação não tem nada de provado se não conseguiu estabelecer a certeza da criminalidade, ao passo que a defesa tem tudo provado se conseguiu abalar aquela certeza, estabelecendo a simples e racional credibilidade, por mínima que seja, da inocência”. 
As obrigações de quem quer provar a inocência são muito mais restritas que as obrigações de quem quer provar a criminalidade (F. MALATESTA – A lógica das Provas – Trad. De Alves de Sá – 2ª Edição, págs. 123 e 124). 
 
O ministro CELSO DE MELO, um dos mais importantes juristas da atualidade, quando em um dos seus votos em acórdãos da sua lavra definiu que o ônus da prova recai EXCLUSIVAMENTE ao MP: “É sempre importante reiterar – na linha do magistério jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal consagrou na matéria – que nenhuma acusação penal se presume provada. Não compete, ao réu, demonstrar a sua inocência. Cabe ao contrário, ao Ministério Público, comprovar, de forma inequívoca, para além de qualquer dúvida razoável, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalecem em nosso sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político brasileiro (Estado novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria inocência (Decreto-lei nº. 88, de 20/12/37, art. 20, nº. 5). Precedentes.” (HC 83.947/AM, Rel. Min. Celso de Mello). 
 
Convém assinalar, neste ponto, que,
“embora aludido ao preso, à interpretação da regra constitucional deve ser no sentido de que a garantia abrange toda e qualquer pessoa, pois, diante da presunção de inocência, que também constitui garantia fundamental do cidadão [...], a prova da culpabilidade incumbe exclusivamente à acusação” (ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO, Direito À Prova no Processo Penal, p. 113, item nº. 7, 1997, São Paulo: Revista dos Tribunais). 
De igual modo a doutrina de maneira uníssona ampara o réu: “O processo criminal é o que há de mais sério neste mundo. Tudo nele deve ser claro como a luz, certo como a evidência, positivo como qualquer grandeza algébrica. Nada de ampliável, de pressuposto, de anfibológico." Assente o processo na precisão morfológico legal e nesta outra precisão mais salutar ainda. A VERDADE SEMPRE DEVE SER DESATAVIADA DE DÚVIDAS. (CARRARA). “A prova, para autorizar uma condenação, deve ser plena e indiscutível, merecendo dos julgadores o maior rigor na sua apreciação, mormente quando se trata de testemunhas marcadas pela dúvida e pela suspeição, geradas pelo interesse em resguardar situações de comprometimento pessoal”. 
Portanto, o ônus da prova cabe ao MP e pelos depoimentos jurisdicionalizados não traduz a certeza real que deve ter o julgador carreado para os autos para poder julgar com certeza o seu semelhante. Não se pode olvidar que, se a prova demonstra dúvida quanto aos fatos a eles atribuídos, embora plausíveis, a absolvição é imperativa, pois a condenação exige certeza absoluta, fundada em dados objetivos indiscutíveis e que evidenciem a materialidade e a autoria. Assim, existindo dúvida, deve-se aplicar o princípio do IN DÚBIO PRO REO para absolvê-lo.
A prova carreada aos autos é extremamente frágil, notadamente o depoimento de testemunhas que não possuem certeza da acusação, colhidos na fase inquisitorial, e no depoimento do apelante nesta mesma base, que refuta tudo o que lhe é acusado, os depoentes afirmarem coisa dispara não dando nenhuma sustentação para que o magistrado mais rigoroso que seja, possa proferir a sentença condenatória, porquanto a autoria não ficou demonstrada à saciedade. 
“É melhor absorver um culpado do que condenar um inocente”. (ROBERTO LYRA) 
“Condenar um possível delinquente e condenar um possível inocente”. (NELSON HUNGRIA) 
Mais do que altas indagações de direito valem baixas indagações de fato. Juridicamente, não é preciso mais do que extrair a síntese da tese da acusação ante a antítese da defesa do contraditório elementar. As alternativas são inerentes a todo litígio.
As dificuldades do juiz, em matéria penal, não são dogmáticas ou exegéticas, salvo inércia. O que preocupa e inquieta ao magistrado de fundo e a responsabilidade de deliberar sobre o destino de semelhante. E isto nada tem a ver com a técnica. Há magistrados capazes de autorrevisões espontâneas e há os que estendem a lei do menor esforço ao campo moral ou entretêm a frieza intima com prolações destinadas a publicidade. O julgamento não é um ato de ciência, mas de consciência. O juiz deve pensar e, sobretudo, sentir a causa para assegurar, propiciar, acompanhar o futuro do condenado.
Julgando, o juiz concretizará o abstrato, objetivando o subjetivo, socializará o individual, aprofundando-se para elevar-se, projetando-se pelo social e, portanto, pelo humano. O juiz deve preencher as áreas abertas para transfundir o Direito na lei e não para fecundá-la artificialmente. 
Sua principal missão é reduzir os limites do possível, as desigualdades da lei, reflexo das desigualdades “sociais”. Para bem julgar, o magistrado precisa ter a visão cósmica da realidade jurídica e também da realidade cultural. Não basta a informação, porque é necessária formação. E esta, sem prejuízo daquela, exige cultura humanística e uma visão global da humanidade” (VICENTE GRECO FILHO, in “Tutela Constitucional da Liberdades”, Saraiva, 1989, p. 22).
O admirável LIDIO MACHADO BANDEIRA DE MELLO, em cujas mãos o Direito penal ganha uma beleza e uma grandeza extraordinárias, referem-se ao fato de a ignorância da lei penal não eximir da pena, pois, do contrário, a aplicação da penalidade, em grande número de casos, seria impossível, entretanto, pondera o mestre que, a rigor, para que a ignorância da lei pudesse ser sempre repelida, impunha-se eu a lei penal fosse simples, clara,límpida, ao alcance da compreensão de toda gente. Uma lei penal mal redigida, que exige acurada interpretação, não pode, em sã justiça, ser obrigatória para todos os homens.
Compete à acusação demonstrar o elemento subjetivo da culpa, que há de ser plena e convincente, ao passo que para o réu basta a dúvida. É a consagração do in dúbio pro reo ou actore non probante absolvitur réus; há prevenção legal da inocência do acusado. 
É o que o Código expressamente consagra: “absolver-se o réu quando não existir prova suficiente para a condenação”. Por estas razões, e outras do convencimento de Vossa Excelência, o réu deverá ser ABSOLVIDO, dos delitos a ele imputados na denúncia, por falta de prova da autoria, aplicando o principio universal in dúbio pro reo.
3. DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO 
O verdadeiro motivo da presença do apelante no cenário dos fatos é que ali é sua residência, ora, não tem culpa o apelante pelo grave problema social de moradia que aflige o país que o leva a residir no interior de uma favela (fls. 207/208). 
Em que pese ter sido alegado categoricamente pelo mesmo na oportunidade de sua prisão e de suas oitivas, e que era do conhecimento dos policiais, sem qualquer justificativa plausível do porquê não fizeram incursão no interior da residência, já que sabiam que ali nada encontrariam 
Foi encontrada apenas pequena quantia em dinheiro com o apelante, tendo o mesmo justificado em razão de ter recentemente recebido sua rescisão contratual e ainda estar em percepção de seguro-desemprego, sendo lícito seu dinheiro, ora, este numerário em poder do réu, de maneira alguma poderia sugerir venda pretérita de substância entorpecente. 
4. DO TRÁFICO
 
Nobres Julgadores, a de se ressaltar de que a própria acusação não se convenceu plenamente das provas. Não houve, em nenhum momento, um juízo de certeza comprovando o envolvimento do apelante em relação à traficância. 
Destarte, ninguém pode ser condenado por simples presunções, uma vez que para o reconhecimento da traficância, exige-se provas seguras e concludentes. O próprio apelante, nega veementemente a prática do crime de tráfico. O apelante nem mesmo possui perfil de traficante, uma vez que, se fosse, esses numerários não seriam de valores tão baixos. 
E mais: “Para que se reconheça a existência de tráfico ou comércio de drogas, é mister prova absolutamente segura. No caso de dúvida em se saber se o réu é traficante ou usuário, deve subsistir a segunda hipótese, como solução benéfica do in dubio pro reo”. (TACRIM - SP - AC - Rel. Geraldo Gomes - RT 518/378). 
Não é demais repetir, no entanto, que fica adstrito às provas constantes dos autos em que deverá sentenciar, sendo-lhe vedado não fundamentar a decisão, ou fundamentá-la em elementos estranhos às provas produzidas durante a instrução do processo, afinal quod non est in actis non est in mundo. 
É de rigor que o juiz deve fundamentar todas as suas decisões. Só pode fazê-lo, no entanto, se as provas produzidas o forem de moldes a não deixar dúvidas acerca da ação do apelante. Além de provas judiciais no processo, o magistrado não dispõe de dados que lhes permita fundamentar uma decisão. A menos que, absurdamente, pudesse decidir somente segundo sua experiência pessoal com dados que não foram colhidos nos autos.
Sem provas convincentes e seguras a presunção de inocência continua intacta. Não pode ser defenestrada as provas, para autorizarem a aplicação de uma pena, devem ultrapassar o umbral da dúvida razoável. Na dúvida, o juiz tem que absolver. Tem aplicação, às inteiras, o princípio in dúbio pro reo.
Ademais, o réu possui carteira assinada e sempre trabalhou, conforme prova por meio de sua CTPS (fls. 189/191), sendo o sustento de sua família e filhos para uma vida honesta. Assim sendo, por não existir prova suficiente para condenação, ou seja, pela inconsistência das provas trazidas aos autos quanto à autoria, não merece prosperar a sentença condenatória, configurando-se na absolvição do réu pelo crime de tráfico, nos termos do art. 386, VII, do Código de Processo Penal, aplicando o princípio in dubio pro reo. 
5. DA DOSIMETRIA DA PENA
Embora nítida a tese da absolvição por não estar comprovado o crime de tráfico, convêm demonstrar outras situações que devem ser observadas por Vossa Excelência.
Verificando a situação do apelante, é possível concluir que o mesmo é primário e de bons antecedentes, possui atividade lícita com registro em CLT (fls.189/191) e também residência fixa. 
 
Nesse sentido entende o Supremo Tribunal Federal, senão vejamos: 
 
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. PENA FIXADA EM PATAMAR INFERIOR A DOIS ANOS. PEDIDO DE CONCESSÃO DE SURSIS. IMPETRAÇÃO PREJUDICADA. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO PARA RECONHECER A POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. 1. O Supremo Tribunal Federal assentou serem inconstitucionais os arts. 33, § 4º, e 44, caput, da Lei n. 11.343/2006, na parte em que vedavam a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em condenação pelo crime de tráfico de entorpecentes (HC 97.256, Rel. Min. Ayres Britto, sessão de julgamento de 1º.9.2010, informativo/STF 598). (…) 5. Concessão de ofício para reconhecer a possibilidade de se substituir a pena privativa de liberdade aplicada ao Paciente por restritiva de direitos, desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos previstos em lei, devendo a análise ser feita pelo juízo do processo de conhecimento ou, se tiver ocorrido o trânsito em julgado, pelo juízo da execução da pena. 
 
Ainda no que tange ao entendimento do STF: 
 
EMENTA: HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ART. 33 DA LEI 11.343/2006: IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DELIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA (INCISO XLVI DO ART. 5º DA CF/88). ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. (…) 3. As penas restritivas de direitos são, em essência, uma alternativa aos efeitos certamente traumáticos, estigmatizantes e onerosos do cárcere. Não é à toa que todas elas são comumente chamadas de penas alternativas, pois essa é mesmo a sua natureza: constituir-se num substitutivo ao encarceramento e suas sequelas. E o fato é que a pena privativa de liberdade corporal não é a única a cumprir a função retributivo-ressocializadora ou restritivo-preventiva da sanção penal. As demais penas também são vocacionadas para esse geminado papel da retribuição prevenção- ressocialização, e ninguém melhor do que o juiz natural da causa para saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda é suficiente para castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o apenado, prevenindo comportamentos do gênero. (…) 
 
Assim, ao apelante deve ser deferida a conversão da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, conforme garantida pela lei penal; e ainda, que sua pena seja fixada no mínimo legal pelas circunstâncias já elencadas.
III – DOS PEDIDOS
Pelo exposto, requer Vossa Excelência digne-se a conhecer e prover o presente recurso, sendo revista a r. Sentença de fls. 214/224 para ao fim:
 
1) Absolver o denunciado fulano de tal, pela ausência de provas de que este concorreu para a prática do crime, nos termos do art. 386, V do CPP;
 
2) Caso não seja este o entendimento, que seja absolvido por não existir prova suficiente para a condenação, com base no art. 386, VII, do CPP;
 
3) Por necessário, a da argumento, caso Vossa Excelência entenda pela condenação, pela prática do crime disposto no art. 33 da Lei 11.343/06, sejam observadas as atenuantes da preponderância na fixação da pena, art. 42 da lei de drogas; causa especial de diminuição prevista no art. 33, § 4º, fixando no mínimo legal;
 
4) Finalmente, caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência, requer-se a substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos, aplicando o artigo 44, III do Código Penal.
 
Aguarda provimento do recurso, estabelecendo-se,assim, a mais precisa JUSTIÇA!!!
 
Termos em que,
Pede Deferimento.
 
 
São Paulo Capital, 12 de novembro de 2022
Leandro Tardia 
OAB/SP Capital N.º

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