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DESCRIÇÃO Conceitos gerais da parasitologia: relações parasita-hospedeiro, ciclos parasitários, habitats dos parasitos e políticas públicas de saúde contra as parasitoses. PROPÓSITO Compreender os conceitos da parasitologia para o entendimento de diferentes formas de relações parasito-hospedeiro e de doenças parasitárias, assim como de políticas públicas na área da saúde, a fim de criar melhores ações de prevenção e combate às parasitoses. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o parasitismo, os principais grupos de parasitas, seus vetores, as políticas públicas de Saúde e o papel do SUS no combate às parasitoses MÓDULO 2 Reconhecer os ciclos parasitários, os principais tipos de habitat dos parasitos e os processos patológicos relacionados ao parasitismo INTRODUÇÃO A grande diversidade de seres vivos e as relações que eles estabelecem sempre foram motivo de fascínio pela humanidade. Se pararmos para pensar, até alguns séculos atrás, os estudiosos ainda discutiam a origem de muitos organismos pela teoria da geração espontânea. Os defensores dessa teoria se baseavam na observação do surgimento de larvas na matéria orgânica em decomposição e acreditavam que os organismos eram gerados a partir de matéria orgânica, inorgânica ou da combinação de ambas. Atualmente, sabemos que as larvas são colocadas por moscas adultas que encontram na matéria orgânica uma boa fonte de nutrientes para a sua progênie. Essa teoria foi derrubada pelas incríveis descobertas de Louis Pasteur. Felizmente, as teorias e hipóteses avançaram e hoje podemos compreender melhor os mecanismos evolutivos dos microrganismos em seus diferentes hospedeiros e ambientes. Por exemplo, no início do século XX, mais precisamente em 1909, que o médico brasileiro Carlos Chagas identificou o parasito responsável pela tripanossomíase americana ou, como ficou conhecida depois, doença de Chagas. Atualmente, muito se conhece sobre a doença, a transmissão, o parasita, o diagnóstico, a prevenção e o tratamento. Entretanto, ainda sabemos muito pouco sobre outras doenças parasitárias, como a angiostrongilíase e a oncorcercose. Muito além da visão antropocêntrica ou voltada apenas para a doença, as relações parasito- hospedeiro definem aspectos das interações entre todos os seres vivos, do mais simples ao mais complexo. Dos milhares de seres unicelulares e multicelulares, alguns encontram no homem as condições ideais para sua sobrevivência e podem ser capazes de gerar ou não doença. Assim, vamos iniciar o nosso estudo sobre a parasitologia, uma ciência que estuda os parasitas e suas relações com o hospedeiro, vamos lá? MÓDULO 1 Descrever o parasitismo, os principais grupos de parasitas do homem, seus vetores, as políticas públicas de saúde e o papel do SUS no combate às parasitoses INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE PARASITISMO Conceitualmente, podemos chamar de parasito todo aquele ser vivo que encontra no outro o seu nicho ecológico. Entretanto, para entendermos o conceito de parasitismo, precisamos compreender o complexo e equilibrado ambiente ecológico e evolutivo das relações parasito- hospedeiro e alguns conceitos ecológicos que serão importantes, são eles: Foto: Shutterstock.com. Habitat: área geográfica e ecológica em que determinada espécie é encontrada e pode exercer suas características comportamentais, se alimentar e reproduzir. Existem diferentes tipos de habitat, entre eles terrestre, marinho, urbano, extremos, artificiais etc., onde cada um abriga uma ou mais espécies vivendo em comunidade. Foto: Hanson59 / Wikimedia commons / CC BY SA 3.0 Unported. Ecossistema: meio em que os elementos físicos (água, luz solar, temperatura) interagem com os seres vivos, formando uma complexa rede de interações, associações e de sobrevivência. Existem desde microecossistemas, como o encontrado na água acumulada nas bromélias, até macroecossistemas, como florestas e ecossistemas marinhos. Foto: Shutterstock.com. Nicho ecológico: tem relação com o papel ou com o modo de vida daquele organismo na comunidade em que ele vive. ECOLOGIA Ciência que estuda as interações entre os seres vivos. Dentro de uma mesma comunidade, existem diferentes espécies que possuem características próprias e que, por habitarem o mesmo espaço, acabam estabelecendo interações ecológicas que são complexas e delicadas. Muitos fatores podem desequilibrar essa balança ecológica e afetar a harmonia entre as espécies, como o desmatamento, a introdução de espécies exóticas, as mudanças climáticas etc. Uma forte corrente de estudiosos da Ecologia defende que estudar um organismo sem considerar o meio em que ele vive e as interações que ele estabelece é falho e pode levar a interpretações ecológicas equivocadas. javascript:void(0) A questão do desequilíbrio ecológico se tornou fundamental para a saúde do planeta, principalmente desde o final do século XVIII, quando a Revolução Industrial provocou profundas mudanças no estilo de vida da humanidade. Mas qual a relação disso com o parasitismo? ANTRÓPICA É a ciência que estuda a ação ou resultado da ação do ser humano sobre o meio ambiente. Os animais interagem com outros animais e com o meio em que habitam, então qualquer interferência antrópica, ou seja, de ação humana, nesse harmônico ambiente pode ter consequências graves. Por exemplo, várias pragas agrícolas são também resultantes do desequilíbrio ambiental e climático. Foto: Shutterstock.com. Estudos indicam que o coronavírus, conhecido pela sigla SARS-CoV-2, tem sua origem muito provavelmente relacionada a morcegos e que o local dos primeiros relatos de casos, a província de Wuhan, na China, é um território com grande ação antrópica. Sérias alterações ambientais na região são provocadas pelo desmatamento, pela caça e pelo consumo de animais silvestres. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com. ATENÇÃO Acredita-se que o coronavírus emergiu dos morcegos, passou por um hospedeiro intermediário e depois encontrou os humanos. Esse é um excelente exemplo para pensamos nas relações e intervenções entre o homem e o ambiente e seus reflexos para a saúde individual e coletiva. FORMAS DE ASSOCIAÇÃO ENTRE OS SERES VIVOS Na natureza, os organismos estabelecem relações entre si que podem ser intraespecíficas ou interespecíficas. No primeiro caso, indivíduos de uma mesma espécie interagem uns com os outros, para garantir a sua sobrevivência. São muitos os exemplos, porém é mais fácil de entendermos citando o caso das abelhas e formigas. Foto: Shutterstock.com. Esses seres vivos vivem em intensa intrarrelação com uma organização social bem definida. Já as relações interespecíficas são mais complexas, existindo muitas tentativas de classificar e estabelecer os limites entre os benefícios e malefícios das relações entre os seres vivos. Didaticamente, os estudiosos da Ecologia dividiram essas relações em vários tipos, a depender do grau de vínculo metabólico. Antes, é preciso esclarecer que toda forma de associação entre espécies é uma simbiose. Posto isso, classificou-se a simbiose em variadas formas que veremos a seguir: PARASITISMO O parasitismo é uma associação de unilateralidade, onde somente o parasito é beneficiado. O nível de dependência pode ser tanto que alguns parasitos só encontram as condições ideais de sobrevivência em uma única espécie de hospedeiro. A Entamoeba histolytica é um exemplo clássico, pois obtém seus nutrientes a partir da digestão enzimática das células epiteliais da mucosa intestinal do hospedeiro, o que pode provocar necrose, apoptose e inflamação local. MUTUALISMO No mutualismo, há o convívio mútuo e benéfico de duas espécies diferentes. Entretanto, apesar de vantajosa para os dois lados, essa relação não é de dependência, podendo o hospedeiro sobreviver sem o parasito. Podemos citar, como exemplo, a microbiota rica de bactéria e protozoários presentes no rúmen, um dos quatro compartimentos gástricos dos ruminantes, que auxiliam na digestão da celulose. Do mesmomodo que o animal se beneficia da quebra da celulose, os microrganismos ganham alimento e um excelente habitat para a sua sobrevivência. COMENSALISMO O comensalismo é caracterizado pela associação entre duas espécies, onde apenas uma delas é beneficiada, entretanto, sem que a outra saia prejudicada desta relação. O parasitismo comensal da Entamoeba coli no intestino grosso é um exemplo. A seguir, vemos um resumo dessas interações: Imagem: Shutterstock.com, adaptado por Leandro Souteiro. Principais formas de associação entre parasitos e seus hospedeiros. Por meio do seu modo de vida, os parasitos influenciam no desenvolvimento, na produção de hormônios, na reprodução, no estado nutricional e até mesmo no comportamento de seus hospedeiros. Vejamos um exemplo: EXEMPLO Imagem: Shutterstock.com. Os parasitos que habitam cavidades ou tecidos internos necessitam exclusivamente dos nutrientes fornecidos pelo hospedeiro. CESTÓIDES Vermes em forma de fita que se caracterizam pela ausência do sistema digestivo e captam seus alimentos a partir da absorção direta do meio. São exemplos a Taenia solium e Taenia saginata causadoras da teníase. Muitos cestóides perderam, ao longo de sua evolução, a capacidade de sintetizar enzimas, fato que os mantém na dependência do suco gástrico e das enzimas digestivas dos animais que são parasitados. javascript:void(0) Vamos a um outro exemplo, dessa vez não relacionado à nutrição, mas ao metabolismo endócrino. EXEMPLO Foto: Shutterstock.com. O protozoário ciliado Opalina ranarum, parasito de anfíbios, consegue sincronizar o seu ciclo biológico com o ciclo sexual do hospedeiro. Desse modo, o protozoário produz os seus cistos no período reprodutivo dos anfíbios, quando esses procuram a água, assegurando aos ciliados uma grande chance infectar as gerações de girinos (filhotes de sapos). Em laboratório, pesquisadores descobriram que os elevados níveis de hormônios sexuais dos anfíbios induzem o processo de encistamento do parasito. O impacto do parasitismo pode ser positivo, negativo ou neutro, dependendo da relação que estabelecem. A capacidade de um parasito em proliferar é dependente de seu sucesso em também encontrar um equilíbrio vantajoso entre o custo energético e o nutricional, vinculado à sua presença no organismo do hospedeiro. Nos casos do parasitismo acidental, onde a virulência e a patogenicidade são elevadas, o hospedeiro geralmente morre antes do parasito completar o seu ciclo. A relação evolutiva ideal é aquela em que ambos são beneficiados, como é o caso das bactérias da nossa microbiota. FATORES LIMITANTES PARA O CRESCIMENTO DOS ORGANISMOS Para que uma espécie possa se manter e gerar descendentes, é preciso que condições ideais sejam encontradas para a sua sobrevivência. Existem elementos que são limitantes para o crescimento e a reprodução das espécies. Determinadas bactérias não crescem no meio de cultura se alguns nutrientes e as condições ambientais necessárias não forem encontrados, por exemplo. Imagem: Shutterstock.com. Já as bactérias anaeróbias estritas só conseguem sobreviver em ambientes com pouca ou nenhuma concentração de oxigênio, pois este é extremamente tóxico para elas. Além disso, um mesmo organismo pode precisar de uma alta temperatura para o crescimento, mas também baixa concentração de oxigênio. Pode-se dizer que um organismo tolera de modo qualitativo e quantitativo uma série de elementos necessários para seu desenvolvimento. Os organismos podem tolerar mais ou menos determinado elemento e, nas espécies que são mais tolerantes, as variações conseguem habitar espaços diferentes. Os principais elementos físicos limitantes são: temperatura, disponibilidade de água, umidade – relacionada com a água e a temperatura – e a biodisponibilidade de elementos químicos fundamentais, como o ferro e o zinco. Nas regiões tropicais do planeta, onde existe maior biodiversidade, a temperatura oscila dentro de uma faixa maior. Foto: Shutterstock.com. No bioma Pantanal, existem dois períodos bioclimáticos bem definidos: seca e chuva. Os animais são bem adaptados às enchentes e secas anuais e essa variação é importante para a manutenção daquele ecossistema. Se a temperatura e o nível de precipitação (de chuvas) ficassem constantes ao longo do tempo, certas espécies de plantas e animais teriam suas populações drasticamente diminuídas, o chamado efeito depressor. Muitas bactérias e muitos protozoários são sensíveis à variação de umidade e temperatura e podem dessecar no ambiente externo. EXEMPLO As bactérias anaeróbias e os fungos que podem passar por um processo de esporulação em condições ambientais adversas ao seu crescimento e, assim, resistir às dificuldades nutricionais e ambientais. Caso encontrem um estado de ótimas condições, podem retornar ao estado vegetativo. Alguns protozoários passam por um processo semelhante, denominado de encistamento. ESPORULAÇÃO javascript:void(0) É o processo pelo qual alguns microrganismos formam esporos – estruturas de resistência – frente a condições ambientais adversas à sua sobrevivência. PRINCIPAIS GRUPOS DE PROTOZOÁRIOS E METAZOÁRIOS PARASITOS DO HOMEM E SEUS VETORES Os principais parasitas estudados pela Parasitologia são os protozoários (organismos eucariotos, unicelulares e heterotróficos) do reino Protista e os metazoários (organismos eucariotos, multicelulares e heterotróficos) Nematoda e Platyhelminthes (platelmintos), além de Arthropoda (artrópodes), do reino Animalia, todos contidos no domínio Eukarya. A classificação taxonômica, uma importante ferramenta de identificação, dos parasitas é baseada em fatores morfológicos, genéticos, bioquímicos e fenotípicos, tendo sido alterada ao longo dos anos, principalmente, pelo avanço das técnicas moleculares e de sequenciamento genético. Nessa classificação, são adotadas algumas terminologias que têm importância na descrição e localização zoológica do parasito. Vamos adotar a classificação recomendada pelo Comitê de Sistemática e Evolução da Sociedade de Protozoologia, conforme o quadro a seguir. EXEMPLOS CATEGORIA SUFIXOS PROTOZOÁRIOS HELMINTOS Reino ... Protista Animalia Sub-reino -a Protozoa Metazoa Filo -a Sarcomastigophora - Subfilo -a Sarcodina Platoda Superclasse -a Rhizopoda Acercomermorpha Classe -ea Lobosea Digenea Subclasse -ia Gymnamoebia - Superordem -idea - Fasciolidea Ordem -ida Amoebida Schistosomatida Subordem -ina Tubulina Schistosomatina Superfamília -oidea - Schistosomatoidea Família -idae Entamoebidae Schistosomatidae Subfamília -inae - Schistosomatinae Gênero ... Entamoeba Schistosoma Espécie ... E. histolytica S. mansoni Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Categorias taxonômicas de protozoários e helmintos. Extraída de Rey, L., 2008. p. 133. Podemos encontrar algumas terminologias que não seguem o proposto no quadro acima, pois a classificação atual pode entrar em conflito com denominações utilizadas há muito tempo pelos estudiosos da área. SAIBA MAIS Na taxonomia, todas as categorias, como reino, filo, família, gênero e espécie, são escritas em latim. Para os protozoários, gênero e espécie são as únicas categorias que devem ser escritas em itálico ou em texto corrido sublinhado. As bactérias fogem à regra e as categorias acima de gênero (família, ordem etc.) também são escritas em itálico. O gênero deve ser sempre escrito com a primeira letra em maiúsculo e, para designar a espécie, basta escrever o epíteto específico em minúsculo (exemplo: Entamoeba histolytica). Se você quiser abreviar uma espécie, basta escrever a primeira letra do gênero e o ponto de abreviação, seguido do epíteto por extenso (exemplo: E. histolytica). Quando a espécie não for identificada, o nome do gênero será seguido de sp. (para uma espécie) ou de spp. (para mais de uma espécie). Tome cuidado, sp. e spp. não são grafados em itálico! SUBGRUPOS Pode ser utilizado também “clados”ou até mesmo “super-reinos”. O domínio Eukarya é dividido em seis subclassificações chamadas de supergrupos. Dentro desses subgrupos apenas Amoebozoa, Chromalveolata, Excavata e Opisthokonta possuem parasitas capazes de infectar os humanos. A seguir vamos conhecer cada um deles. Imagem: Shutterstock.com / Servier Medical Art / Wikimedia Commons / licença (CC-BY-2.0), adaptado por Leandro Souteiro. Relações filogenéticas gerais entre os grupos de parasitos de humanos. O supergrupo Excavata é dividido em quatro subgrupos: Fornicata (subdivisão Eopharyngia), Parabasalia (subdivisão Trichomonadida), Heterolobosea (subdivisão Vahlkampfiidae) e Euglenozoa (subdivisão Kinetoplastea). Imagem: Wikimedia Commons / Domínio público. Excavata: Giardia duodenalis. javascript:void(0) GIARDIA DUODENALIS Alguns autores chamam de G. lamblia ou Giardia intestinalis. CERATITE É a inflamação da córnea, a camada mais externa do olho, podendo ser desencadeada por uma infecção ou por qualquer agente irritante da mucosa ocular. EOPHARYNGIA A subdivisão Eopharyngia é caracterizada por apresentar indivíduos com um ou dois núcleos, cada um com seu sistema locomotor. A principal espécie de interesse médico dessa subdivisão é a Giardia duodenalis, que pode causar quadros de diarreia sanguinolenta (giardíase). A transmissão ocorre quando cistos são ingeridos a partir de água ou alimentos contaminados. Outros parasitos comensais esofaríngeos podem ser encontrados no intestino, como Chilomastix mesnili e Retortamonas intestinalis. TRICHOMONADIDA Os flagelados da subdivisão Trichomonadida (tricomonadídeos ou parabasilídeos), gêneros Dientamoeba, Pentatrichomonas e Trichomonas, parasitam a luz intestinal humana. Este último gênero tem importância médica, pois nele está presente a Trichomonas vaginalis. A infecção por T. vaginalis é assintomática em cerca de 20 a 50% das mulheres, mas pode evoluir para um quadro de corrimento e prurido vaginal (tricomoníase). A grande maioria dos casos tem prognóstico favorável, se seguidas as recomendações de higiene e tratamento, geralmente metronidazol ou secnidazol. Assim como qualquer outra infecção sexualmente transmissível, a melhor maneira de prevenir a tricomoníase é usando preservativos. javascript:void(0) VAHLKAMPFIIDAE A subdivisão Vahlkampfiidae reúne protozoários de núcleo único que podem ter flagelos ou forma ameboide, a maioria de vida livre. Dois gêneros são associados a doenças em humanos: Vahlkampfia e Naegleria. Até recentemente acreditava-se que o primeiro não era um patógeno humano, entretanto pesquisadores conseguiram identificar uma espécie (Allovahlkampfia spelaea) causando ceratite. Naegleria é o agente etiológico da meningoencefalite amebiana primária, doença do sistema nervoso central (SNC), de alta letalidade e incidente no hemisfério norte. EUGLENOZOA A última divisão do supergrupo Excavata é a Euglenozoa, que, por sua vez, é subdividida em Kinetoplastea. As espécies desse grupo são parasitos obrigatórios com um flagelo localizado anterior ou lateralmente. Trypanosoma e Leishmania são os gêneros de maior importância em saúde pública, responsáveis pela tripanossomíase americana (doença de Chagas) e africana (doença do sono), e pelas leishmaníases (tegumentar e visceral), respectivamente. Ambas são doenças incidentes no Brasil, ainda endêmicas em algumas regiões do país e transmitidas por vetores. A doença de Chagas é transmitida a partir da picada de triatomíneos, já a leishmaniose pela picada de flebotomíneos. Do supergrupo Amebozoa derivam quatro divisões sistemáticas: javascript:void(0) Foto: dr.Tsukii Yuuji / Protist.i.hosei.ac.jp / CC BY-SA 2.5. Amebozoa. TUBILINEA O gênero Hartmannella (divisão Tubilinea) tem como principal representante a Hartmannella veriformis, causadora de meningoencefalite e broncopneumonia de evolução rápida e alta letalidade. A transmissão está associada ao contato com água poluída. ACANTHAMOEBIDAE O gênero Acanthamoeba pertence à divisão Acanthamoebidae e reúne alguns protozoários associados à doença em humanos. A. polyphaga, A. castellanii, A. divionensis, A. lugdunensis são associados com lesões granulomatosas na pele, conjuntiva ocular (conjuntivite) e córnea (ceratoconjuntivite), podendo invadir o SNC. Indivíduos imunodeprimidos podem evoluir rapidamente para um quadro de meningite amebiana. A contaminação geralmente ocorre durante o contato com fonte de águas contaminadas com cistos ou trofozoítos. ENTAMOEBIDAE A divisão Entamoebidae possui como principal representante patogênico a Entamoeba histolytica. Estima-se que cerca de 40 mil a 100 mil óbitos anuais em todo o mundo sejam relacionados com a amebíase por E. histolytica, principalmente em crianças e indivíduos malnutridos ou imunodeprimidos. A contaminação ocorre pela ingestão de cistos a partir de alimentos e água impróprios para consumo. Apesar de morfologicamente semelhante à E. histolytica, E. dispar é um organismo não patogênico e comum na microbiota intestinal. MASTIGAMOEBIDAE A divisão Mastigamoebidae engloba muitas amebas de vida livre ou endobióticas, algumas comensais de humanos, outros mamíferos, além de aves e anfíbios. Endolimax nana é parasito comensal do cólon, mas pode ser encontrado em outras partes do intestino. E.nana se alimenta de bactérias da microbiota, sem agredir a mucosa intestinal. O supergrupo Chromalveolata é um dos maiores grupos de protozoários da natureza, tendo representante com ou sem flagelos e com ou sem cílio. Duas subdivisões são de interesse médico: Imagem: Shutterstock.com. Chromalveolata: Plasmodium spp. APICOMPLEXA O filo Apicomplexa recebe esse nome pela presença nos parasitos, em pelo menos um estágio de sua vida, de um complexo apical anterior composto por organelas especializadas. A malária é provocada pela infecção dos apicomplexos do gênero Plasmodium - P. falciparum, P. ovale, P. vivax e P. simium – a partir da picada de mosquitos do gênero Anopheles. A babesiose (Babesia spp.), sarcocistose (Sarcocystis hominis), isosporíase (Isospora belli) e toxoplasmose (Toxoplasma gondii) também são doenças provocas por apicomplexos. CILIOPHORA Os organismos ciliados têm como principal característica a presença de cílios que recobrem todo o corpo do protozoário e são utilizados principalmente para a locomoção. A única espécie de ciliado conhecida por causar doenças em humanos é Balantidium coli. A balantidiose, como é chamada a doença, é transmitida pela ingestão de cistos presentes em alimentos e água contaminada. O quadro clínico é marcado por uma diarreia intensa semelhante à amebíase por E. histolytica. O supergrupo Opisthokonta, que inclui os Reinos Animalia e Fungi, além de outros grupos de metazoários, é muito importante em Saúde Pública e engloba várias doenças humanas. Alguns metazoários podem ser parasitos comensais ou oportunistas, como o fungo Rhinosporidium seeberi. A rinosporidiose é incidente na América do Sul e em outras regiões do mundo e manifesta-se pelo aparecimento de pólipos na cavidade nasal e faringe ou na pele (forma cutânea). Foto: Shutterstock.com. Reinos Fungi. No reino Animalia, os parasitos do homem e seus vetores apresentam como principais filos de interesse médico os Platyhelminthes, Nemathelminthes, Arthropoda e Mollusca, que são divididos em várias Ordens e Famílias, conforme observamos no esquema a seguir: Imagem: Helver Gonçalves Dias, adaptado por Leandro Souteiro. Alguns parasitos do homem e seus vetores compreendidos no Reino Animalia. Filo Platyhelminthes Composto por organismos com corpo achatado dorso-ventralmente, habitando ambientes aquáticos, solo ou interior de outros animais, como o homem. Os trematódeos digenéticos (classe Trematoda) possuem estruturas de fixação chamadas ventosas e sistema digestório incompleto (não há ânus). O representante mais conhecido por causar doença em humanos é Schistosoma mansoni, agente etiológico da esquistossomose. O homem pode se infectarao entrar em contato com a água contaminada pelas cercárias, que são a forma infectante que penetra na pele. Fasciola hepatica também ganha importância, principalmente pelo impacto econômico na ovinocultura, sendo o homem hospedeiro infectado quando ingere acidentalmente água e verduras contaminadas com as formas larvais do parasito, as metacercárias. ATENÇÃO Outros parasitos também encontram no homem ambiente propício, mesmo que eventualmente acidental, para o parasitismo, como Paragonimus westermani, Heterophyes heterophyes e Gastrodiscoides hominis. Os cestódeos (classe Cestoidea) não têm sistema digestório, possuem ventosas e corpo segmentado em três partes: escólex, colo e proglotes. Quatro famílias são importantes por causarem doenças distribuídas mundialmente: Diphyllobothriidae, Taeniidae, Hymenolepididae, Dilepididae. Imagem: Shutterstock.com. Taenia saginata aderida à mucosa intestinal. A escólex apresenta cinco ventosas. A difilobotríase ocorre após o consumo de peixe cru ou malcozido que esteja contaminado com a forma infectante do Diphyllobothrium latum. O homem é hospedeiro definitivo por propiciar a maturidade sexual do parasito no trato intestinal. Taenia solium e Taenia saginata infectam o homem (hospedeiro definitivo) após o consumo de carne suína ou bovina malpassada, respectivamente, contaminada com ovos do parasito. A teníase é uma doença bastante incidente e negligenciada que ainda apresenta quadros graves, principalmente em crianças malnutridas e imunodeprimidos. Hymenolepis nana é uma espécie cosmopolita, parasitando com maior prevalência crianças em áreas sem saneamento básico. As infecções são, em sua maioria, assintomáticas. A dipilidiose é uma doença majoritariamente de cães e gatos, entretanto o homem pode ser infectado pela ingestão acidental de pulgas contendo cisticercoides. Os casos humanos são raros, mas têm sido reportados em todos os continentes. Os nematelmintos (filo Nemathelminthes) São organismos de corpo cilíndrico e afilado nas duas pontas. São amplamente distribuídos e prevalentes na população em geral. Dentre as doenças causadas por nematódeos e transmitidas pela ingestão de ovos, podemos citar: ascaridíase (Ascaris lumbricoides), toxocaríase (Toxocara canis), oxiuríase (Enterobius vermicularis) e tricuríase (Trichuris trichiura). ATENÇÃO Outro grupo de doenças causadas por nematódeos são aquelas transmitidas pela larva infectante, como a estrongiloidíase (Strongyloides stercoralis), ancilostomíase ou amarelão (Ancylostoma duodenale) e a angiostrongilíase (Angiostrongylus costaricensis). Com exceção dessa última, todas as demais são doenças associadas à falta de hábitos de higiene e de saneamento básico. Apesar de rara, a angiostrongilíase tem sido relatada no Brasil, sendo transmitida pela ingestão de larvas infectantes que são liberadas por moluscos (hospedeiro intermediário). A filariose (Wuchereria bancrofti) e a oncorcercíase (Oncocerca vulvulus) são as únicas transmitidas por vetores, o Culex quinquefasciatus e Simulium sp., respectivamente. Imagem: Shutterstock.com. Perna de uma pessoa com filariose linfática, conhecida popularmente como elefantíase. Filo Arthropoda Reúne uma grande diversidade de organismos, que compartilham a característica principal de possuir o corpo protegido por um exoesqueleto de quitina. Seis famílias de insetos hematófagos são extremamente importantes para a transmissão de parasitos e vírus aos humanos. Os gêneros Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus são compostos por triatomíneos conhecidos popularmente por barbeiros e estão envolvidos na transmissão do T. cruzi. Diferentemente dos mosquitos, os triatomíneos não inoculam o parasito através do aparelho sugador. O parasito é eliminado pelas fezes do vetor durante o repasto sanguíneo. Os flebotomíneos são os transmissores das leishmanioses tegumentar e visceral e apresentam ampla distribuição geografia. Aedes e Culex estão implicados na transmissão de diversas arboviroses endêmicas no Brasil e são mosquitos muito bem adaptados ao ambiente urbano. Como citado anteriormente, Culex também é o vetor do agente da filariose linfática. Os ceratopogonídeos (gênero Culicoides) são mosquitos bem pequenos transmissores de algumas filarias (Mansonella) e do vírus Oropouche. Algumas espécies do gênero Chrysops são transmissoras da filaria Loa loa na África. Imagem: mogrzewalska / Shutterstock.com. O carrapato Amblyomma cajennense é principal transmissor da febre maculosa no Brasil. A febre maculosa é uma importante zoonose transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma) no Brasil. O último gênero de artrópodes associados a doença em humanos é composto por ácaros causadores da escabiose, conhecida como sarna. Filo Mollusca Reúne animais de corpo mole, em geral protegido por uma concha calcária rígida. Os gêneros Oncomelania, Biomphalaria, Lymnaea e Sarasinula possuem importância médica por serem hospedeiros de alguns parasitos de humanos. Espécies do gênero Biomphalaria são hospedeiras intermediárias do parasito causador da esquistossomose. Lymnaea columella e Sarasinula marginata são hospedeiros intermediários do trematódeo Fasciola hepatica e nematódeo Angiostrongylus costaricensis, respectivamente. O HOMEM E SEUS PARASITOS Assista ao vídeo em que o especialista irá Helver Dias falará sobre a relação entre o parasitismo e os principais grupos de protozoários do homem. INQUÉRITOS COPROPARASITOLÓGICOS Grandes estudos onde se verifica a prevalência de uma ou mais doença enteroparasitária por meio de exames de fezes ou coprológico. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E O PAPEL DO SUS NO COMBATE ÀS PARASITOSES Os parasitos intestinais estão entre os patógenos mais frequentes em humanos, constituindo importante agravo à saúde. O Brasil é endêmico para diversas doenças parasitárias e muitas delas são consideradas negligenciadas. São escassos os inquéritos coproparasitológicos que investigam a real amplitude e distribuição geográfica das infecções parasitárias no Brasil. Os grandes estudos realizados nas décadas passadas não refletem com fidelidade o cenário epidemiológico atual. A incidência (novos casos) de doenças parasitárias está relacionada à pobreza e às péssimas condições sanitárias, como ausência de esgotamento sanitário, condições de moradia, ausência de água encanada e potável, além de solos contaminados. Nesse contexto, as populações mais afetadas são as mais carentes, como indivíduos de quilombos, assentamentos, favelas, áreas rurais e indígenas. A desigualdade social no Brasil favorece a marginalização dessas pessoas e adia a consolidação de políticas públicas necessárias para o enfrentamento das parasitoses. javascript:void(0) Foto: arindambanerjee / Shutterstock.com. Atualmente, os parasitas, como Ascaris lumbricoides, Toxoplasma gondii, Entamoeba histolytica, Giardia duodenalis, Trypanosoma cruzi, Leishmania spp. e Schistosoma spp. contribuem enormemente para o quantitativo global de doenças. Entretanto, parasitos intestinais, como a enterobiose, são negligenciados, mesmo tendo contribuição para o déficit de crescimento e aprendizagem de crianças nos países mais pobres. Imagem: Shutterstock.com. ATENÇÃO É preciso destacar que o conceito de saúde não é aquele apenas relacionado à ausência de doença, mas também à manutenção e melhora do próprio estado de saúde física e psicossocial do indivíduo. Nesse sentido, faz-se necessária a implementação de políticas públicas que integrem universalização da saúde, habitação, saneamento básico, planejamento urbano e promoção da saúde. O enfrentamento parte de um olhar holístico da questão. E você, sabe o que são as Políticas Públicas de Saúde? Políticas públicas de saúde podem ser entendidas como um conjunto de disposições que fazem parte do campo de ação social do Estado, orientado para organizar e nortear a promoção, recuperação e proteção da saúde da população. Com a redemocratização do país no final da décadade 1980, a promulgação da Constituição Federal trouxe um novo horizonte para as políticas públicas em Saúde no Brasil. A Constituição adota um modelo de seguridade social para a saúde norteada por três diretrizes: Descentralização Atendimento integral Participação da comunidade ATENÇÃO Todas as demais leis e políticas públicas têm ação infraconstitucional, ou seja, estão hierarquicamente abaixo do texto constitucional. As conquistas do povo em relação à saúde foram asseguradas na Constituição por meio de uma intensa luta e movimentação social ocorridas nos anos anteriores. O Movimento Sanitário e outros movimentos políticos e sociais debateram profundamente as temáticas da saúde a partir de um olhar amplo e voltado para a construção de uma política de saúde includente para toda a população brasileira. Foto: Nana Moraes / Fiocruz / CC BY-NC. No Artigo 196, a Constituição define “a saúde como um direito de todos e dever do Estado” e o Artigo 198 dispõe sobre a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS é a materialização da vontade e esforço nacional para assegurar o acesso universal de seus cidadãos aos cuidados em Saúde. Muitos autores definem o SUS como a própria política de saúde brasileira. Foto: Shutterstock.com. A seguir vamos entender um pouco do histórico das Políticas Públicas em Saúde no Brasil. POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE Ainda que o SUS tenha sido criado em 1988, sua regulamentação e operacionalização efetiva- se apenas com a aprovação da Lei Orgânica (LO) nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e da LO nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. A primeira LO do SUS normatiza em seu texto: os objetivos e as atribuições; os princípios e diretrizes; a organização, direção, gestão, competências e atribuições de cada esfera de governo (federal, estadual e municipal); a participação complementar da iniciativa privada; o financiamento e a gestão financeira dos recursos. A LO nº 8.142/90 dispõe sobre a participação popular na própria gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros. O Artigo 1 democratiza e institucionaliza a participação popular na saúde, a partir da composição dos Conselhos de Saúde e das Conferências de Saúde. A instituição do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) têm importante papel na formulação de estratégias e no controle de execução da política de saúde no país. A Constituição Federal em sua seção II, juntamente com as LO nº 8.080/90 e nº 8.142/90, compõe o arcabouço jurídico do SUS. Em 1993, foi publicada a Norma Operacional Básica do SUS (NOB-SUS 93), que definiu estratégias operacionais que assegurassem o compromisso de implementação do sistema único. De modo simultâneo, a NOB-SUS-93 aperfeiçoou a gestão do SUS e reafirmou a descentralização político-administrativa na saúde pública. A definição do papel dos estados e municípios, saindo da lógica de prestadores de serviços e passando a assumir o papel de gestores, é importante para o pleno exercício da gestão em Saúde. Os mecanismos criados pelas Leis Orgânicas e pelas NOB’s permitiram a sistematização da implementação do SUS em suas esferas administrativas e incorporaram a participação do usuário no processo decisório de formulação da política de saúde. Em 1994, é criado pelo Governo Federal o Programa Saúde da Família (PSF), hoje conhecido como Estratégia Saúde da Família (ESF), que consistia na proposta de implementação da Atenção Primária nos municípios. O programa tinha como estratégia central a substituição da visão assistencial vigente à época – ou seja, voltada para o doente e ao atendimento hospitalar de emergência –, a incorporação da lógica de promoção da saúde e a participação popular. A implementação do PSF é facilitada pela existência do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), oficializado em 1991, pelo Ministério da Saúde. Ao longo das últimas três décadas, o PACS se consolidou como o maior programa de Atenção Primária à Saúde do Brasil, englobando atualmente mais de 260 mil Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Por ser membro da comunidade em que atua, o ACS é o vínculo indispensável entre o cidadão e a equipe da unidade de saúde. A Atenção Básica fortaleceu um aspecto fundamental da política de saúde brasileira, a descentralização. A capilaridade alcançada pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), presentes no próprio território, permitiu a obtenção de dados sobre as condições de vida e saúde das populações. No Rio de Janeiro, por exemplo, as UBS alcançam territórios marginalizados dentro de favelas e em locais historicamente negligenciados pelo poder público. A adoção de um modelo de territorialidade permite melhorar o planejamento com base na identificação de vulnerabilidades e seleção de problemas prioritários para a população daquele determinado território. A ESF (Estratégia de Saúde da Família.) tem papel central no combate e na prevenção das doenças parasitárias, principalmente por proporcionar fácil acesso à saúde, pelos aspectos de promoção e educação em saúde e prevenção de agravos. Diferentes municípios têm adotado estratégias de enfrentamento das parasitoses com base no conhecimento da dinâmica territorial e sanitária aliada à educação em saúde. Campanhas de educação sanitária em escolas e conscientização realizada pelos ACS (Agentes comunitários de saúde.) , durante visitas domiciliares, resultam na incorporação de hábitos de higiene, tais como o simples hábito de lavar as mãos e higienização correta dos alimentos, e a consequente redução da incidência das parasitoses. A Secretaria de Vigilância em Saúde, órgão do Ministério da Saúde, lançou em 2005 o Plano Nacional de Vigilância e Controle das Enteroparasitoses, tendo como objetivo geral a definição de estratégias para a redução da prevalência, morbidade e mortalidade por enteroparasitoses no país. A partir da análise epidemiológica de cada localidade, pode-se criar estratégias de controle para serem adotadas nos diferentes níveis administrativos. O Plano integrava ações da vigilância epidemiológica, educação em saúde, diagnóstico e assistência e saneamento básico. Esse ponto é importante, pois no contexto brasileiro as políticas de saúde são indissociáveis das políticas ambientais e de saneamento. Foto: Brunocaput / Wikimedia Commons. 1988 Promulgação da Constituição. 1990 Lei Orgânica da Saúde 8.142/90. Imagem: Portal da Saúde - Ministério da Saúde / Saude.gov / Domínio público. Imagem: Shutterstock.com. 1990 Lei Orgânica da Saúde 8.080/90. 1991 Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Leandro Souteiro. Imagem: Shutterstock.com. 1994 Programa Saúde da Família. 2005 Plano Nacional de Vigilância e Controle das Enteroparasitoses. Imagem: Shutterstock.com. O Ministério da Saúde determina que algumas doenças ou agravos sejam notificados compulsoriamente, ou seja, quando feito o diagnóstico clínico e/ou laboratorial ou identificada a situação-problema, o profissional da unidade de saúde deve obrigatoriamente notificar o sistema de vigilância em saúde sobre a ocorrência. ATENÇÃO O sistema não é apenas para a notificação de doenças, mas também para agravos à saúde, como tentativas de suicídio, violência doméstica e acidente de trabalho. Dentre as doenças listadas, apenas a doença de Chagas, esquistossomose, toxoplasmose gestacional e congênita, malária e leishmaniose cutânea e visceral são causadas por parasitos. Todas as enteroparasitoses não são listadas, portanto não são de notificação compulsória. Assim, o SUS tem, por meio da ESF, o papel central no controle das parasitoses enquanto doenças negligenciadas. A rede de atenção primária ainda é muito deficiente em alguns estados, principalmente nas regiões Nordeste e Norte do país. A falta de infraestrutura, de profissionais qualificados e de recursos compromete a consolidação da ESFe põe em xeque políticas de controle de doenças endêmicas. MIF Mercurocromo ou mertiolate + iodo + formol. SAIBA MAIS O diagnóstico de parasitoses intestinais é feito pelo exame parasitológico de fezes (EPF), a partir da coleta de uma amostra de fezes frescas ou amostras consecutivas coletadas em frascos contendo soluções conservantes, como o MIF. Para as parasitoses sanguíneas, como a malária e doença de Chagas, o exame parasitológico de sangue é o recomendado. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. APRENDEMOS QUE EXISTEM DIFERENTES TIPOS DE INTERAÇÃO ENTRE OS SERES VIVOS, COMO O MUTUALISMO, O COMENSALISMO E O PARASITISMO. ABAIXO CITAMOS ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DESSAS INTERAÇÕES. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UMA CARACTERÍSTICA CORRETA DESSA INTERAÇÃO. A) No comensalismo, há o convívio mútuo e benéfico do parasita e seu hospedeiro. B) O comensalismo é caracterizado pela não dependência metabólica do parasita. C) O mutualismo é uma associação de unilateralidade, onde somente o hospedeiro é beneficiado. D) No parasitismo, o parasito procura apenas abrigo, proteção e locomoção. E) No comensalismo, apenas uma delas é beneficiada, mas sem prejudicar a outra. 2. O SUS TENTA OLHAR O PACIENTE NÃO SOMENTE PELO LADO DA DOENÇA, MAS ENTENDER QUE AQUELE INDIVÍDUO É INSERIDO DENTRO DE UM CONTEXTO SOCIAL. NESSE SENTIDO, QUAL ALTERNATIVA CONTEMPLA UM FATOR ASSOCIADO À OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES E QUAL DOENÇA É DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO BRASIL? A) Diminuição da desigualdade social e giardíase B) Diminuição das condições de higiene da população e enterobiose javascript:void(0) C) Diminuição da desigualdade social e ascaridíase D) Baixo índice de esgotamento sanitário e toxoplasmose E) Diminuição das condições de higiene da população e ascaridíase GABARITO 1. Aprendemos que existem diferentes tipos de interação entre os seres vivos, como o mutualismo, o comensalismo e o parasitismo. Abaixo citamos algumas características dessas interações. Assinale a alternativa que apresenta uma característica correta dessa interação. A alternativa "E " está correta. A interação entre espécies em que apenas uma é beneficiada sem prejudicar a outra é conhecida como comensalismo. Podemos citar, como exemplo, a Entamoeba coli no intestino grosso, um parasita comensal que obtém seus nutrientes, sem causar doença no hospedeiro. 2. O SUS tenta olhar o paciente não somente pelo lado da doença, mas entender que aquele indivíduo é inserido dentro de um contexto social. Nesse sentido, qual alternativa contempla um fator associado à ocorrência de enteroparasitoses e qual doença é de notificação compulsória no Brasil? A alternativa "D " está correta. As parasitoses são doenças, na maioria das vezes, relacionadas a questões como falta de higiene no momento da manipulação dos alimentos, falta de um saneamento básico de qualidade, ausência de água potável e encanada, acometendo assim as áreas mais pobres do país. A toxoplasmose gestacional e congênita é uma doença de notificação compulsória. MÓDULO 2 Reconhecer os ciclos parasitários, os principais tipos de habitat dos parasitos e os processos patológicos relacionados ao parasitismo CICLOS PARASITÁRIOS O ciclo biológico de um parasito compreende os mecanismos, as etapas e os fenômenos aos quais ele é submetido ao longo de suas fases de vida, passando por um ou mais hospedeiros (nome dado ao organismo que habita o parasita em seu interior). A complexa série de acontecimentos físicos, químicos e bioquímicos é ordenada por fatores ambientais e genéticos, dependendo das características fisiológicas e biológicas de cada grupo de parasito. Imagem: Shutterstock.com. Grande parte do conhecimento adquirido sobre os ciclos parasitários vem de estudos com parasitos que causam doenças de importância em saúde pública e saúde animal. O caráter negativo ou patogênico do parasitismo é muito baseado na concepção de doença e pode levar a interpretações científicas prematuras. Isso também gera uma grande lacuna no conhecimento de aspectos do ciclo de inúmeros parasitos que não têm o homem como hospedeiro. A amebíase enquanto doença é causada pela Entamoeba histolytica ou por variedades semelhantes. Entretanto, existem outras espécies, como a E. coli, E. hartmani, Endolimax nana que não parecem causar nenhum processo patogênico. Conhecemos muito mais da E. histolytica do que das demais espécies simbiontes do nosso intestino. Como veremos a seguir, o intestino humano é um excelente habitat para diferentes grupos de parasitos, como os nematelmintos, platelmintos e as amebas. Foto: CDC – Centers for disease control and prevention. Parasito intestinal Entamoeba histolytica presente nas fezes humanas. DOENÇA PARASITÁRIA É uma doença infecciosa causada por um protozoário, helminto ou metazoário. ATENÇÃO É preciso destacar que infecção parasitária não é o mesmo que doença parasitária. São fenômenos diferentes. A infecção por um parasito não leva necessariamente ao aparecimento de sinais e sintomas que caracterizam o estado de doença. A interação entre o parasito, o hospedeiro e o ambiente definem condições evolutivas e biológicas dinâmicas que podem passar por momentos de equilíbrio e desequilíbrio. javascript:void(0) Ainda não são claros os mecanismos, mas em alguns casos o parasitismo intestinal por E. histolytica pode desencadear uma forte ação patogênica, levando ao quadro de amebíase - doença. Na fase aguda de algumas infecções parasitárias, o organismo do hospedeiro consegue tolerar e controlar a carga parasitária, principalmente a partir de mecanismos imunológicos e celulares. Deste modo, a infecção torna-se contida e assintomática. O retorno dos sintomas clínicos pode ocorrer em casos de estados transitórios ou crônicos de diminuição da imunidade no hospedeiro, como no caso da AIDS ou em pacientes que tomam altas doses de corticoides. Em seu ciclo de vida, os parasitos podem infectar mais de um hospedeiro, causando ou não dano ao mesmo. Em geral, quanto mais branda e harmônica é a relação de parasitismo, maior é o tempo decorrido de evolução biológica. Do ponto de vista evolutivo, não é interessante para o parasito levar o seu hospedeiro à morte. Relações de parasitismo que resultam em infecção grave são, em sua maioria, provocadas por relações evolutivas mais recentes. Os hospedeiros se dividem em 5 características. Veja a diferença entre eles. Hospedeiro natural O hospedeiro que não sofre com o parasitismo e garante a multiplicação e dispersão do parasito. Hospedeiro terminal Já os hospedeiros que adoecem com o parasitismo, podendo até mesmo evoluir para a morte, são denominados de hospedeiros anormais. Esses animais também são conhecidos como hospedeiros terminais, pois interrompem o ciclo de transmissão do parasito. Hospedeiro definitivo É aquele que habita o parasita na sua forma sexuada, como é o caso do S. mansoni com o homem. Hospedeiro intermediário É aquele que habita o hospedeiro em sua fase larvária ou assexuada, relação do S. mansoni com o caramujo. Hospedeiro de transporte É aquele que serve de ponte a um novo hospedeiro definitivo, mas o parasito não sofre desenvolvimento ou reprodução e permanece viável. Esses conceitos são importantes para o estudo das doenças transmitidas ao homem por animais. O termo zoonose refere-se exatamente a esse grupo de doenças, como a raiva, a febre maculosa e a toxoplasmose. Alguns animais são hospedeiros naturais, contudo, por também manterem uma alta carga parasitária, acabam atuando como fonte de infecção para outros animais, incluindo o homem. Os morcegos são reservatórios de diversos parasitos, como vírus, bactérias, fungos e protozoários (como novas espécies de Leishmania e Trypanosoma), daí o grande interesse em estudá-los para o entendimento da ecologia de algumas doenças infecciosas. Foto: Shutterstock.com. CLASSIFICAÇÃO DOS PARASITAS Imagem: Shutterstok.com. Os parasitos podem ser classificados de acordo comdiferentes características, entre elas a quantidade de hospedeiros que infectam (especificidade parasitária) e em relação ao tipo de ciclo biológico. Entenda a diferença dessas características. Eurixenos Há parasitos que apresentam uma especificidade parasitária ampla, podendo parasitar diferentes espécies de animais, como o Toxoplasma gondii e a Leishmania spp. Estenoxenos Por outro lado, também há um grupo de especificidade reduzida que admite apenas uma única espécie de hospedeiro ou espécies próximas. É o caso do Ascaris lumbricoides e do Enterobius vermicularis, os quais têm o homem como hospedeiro definitivo. Monoxenos Existem ainda os parasitos que necessitam de apenas um hospedeiro para completar o seu ciclo biológico. Heteroxenos Por fim, existem os parasitos heteroxenos que necessitam de mais de um hospedeiro para completar o seu ciclo, como a Taenia solium. ATENÇÃO Tome cuidado para não confundir os conceitos, alguns parasitos, apesar de exigirem ou necessitarem de apenas um único hospedeiro para completar o seu ciclo, podem também infectar outras espécies, mas não concluindo nelas seu ciclo. Veja a seguir a classificação de acordo com o grau de especificidade parasitária. Imagem: Helver Dias. Parasito que apresenta especificidade parasitária ampla, parasitando diferentes hospedeiros. Imagem: Helver Dias. Parasito que apresenta especificidade parasitária reduzida ou estrita, parasitando uma única espécie ou espécies próximas do hospedeiro. Imagem: Helver Dias. Parasito que necessita/exige apenas um hospedeiro para completar o seu ciclo biológico. Imagem: Helver Dias. Parasito que necessita/exige mais de um hospedeiro para completar o seu ciclo biológico. De acordo com as suas características biológicas alguns parasitos podem pertencer a mais de uma classificação. Eles admitem infectar várias espécies, mas necessitam de apenas um hospedeiro para completar o seu ciclo biológico. Toxoplasma gondii é eurixeno e monoxeno, pois pode parasitar diferentes grupos de animais, mas apenas nos felinos consegue completar o seu ciclo. Trypanosoma cruzi é um exemplo de grande adaptabilidade parasitária, dada a sua capacidade de infectar diferentes hospedeiros. O seu ciclo biológico é classificado como heteroxeno e eurixeno, tendo a participação de hospedeiros intermediários e definitivos. T. cruzi desenvolve-se no tubo digestivo de triatomíneos (pode ser em mais de uma espécie – ex.: gêneros Rhodnius e Triatoma) e no sangue e nos tecidos de várias espécies de mamíferos. Em cada um desses hospedeiros, completa uma etapa do seu ciclo biológico. Portanto, o parasitismo em mais de um hospedeiro é requerido para a sua sobrevivência. Imagem: Shutterstock.com, adaptado por Leandro Souteiro. Ciclo biológico do Trypanosoma cruzi. Caso parecido é o da Taenia solium que apresenta um ciclo heteroxeno e estenoxeno, isto é, necessita de somente um hospedeiro intermediário (porcos) e um outro definitivo (homem) para completar seu ciclo. Diferente do T. cruzi, neste exemplo só é requerida uma única espécie de hospedeiro para cada etapa do ciclo. Os parasitos intestinais Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis são monoxenos, pois necessitam de somente um hospedeiro para completar seu ciclo (os humanos) e estenoxenos, pois só conseguem parasitar os próprios humanos ou espécies muito próximas. Imagem: Shutterstock.com, adaptado por Leandro Souteiro. Ciclo biológico do Enterobius vermicularis. MENINGOENCEFALITE É um processo inflamatório difuso ou localizado que envolve as meninges e o encéfalo (cérebro). SAPRÓFITA São organismos que se alimentam de matéria orgânica originária de processos de decomposição. MIÍASE É uma infecção de pele causada pela presença de larvas de moscas. A seguir entenda as classificações dos parasitos. PARASITISMO FACULTATIVO Os parasitos acidentais, também chamados de parasitos facultativos são aqueles microrganismos que podem eventualmente infectar hospedeiros que não pertencem ao seu ciclo biológico, podendo ou não causar doença, por exemplo, o adulto de Dipylidium caninum parasitando humanos. A partir de 2010, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos começou a identificar casos raros de meningoencefalite relacionados à infecção acidental por um parasito de vida livre, a ameba Naegleria fowleri. Esse microrganismo é facilmente encontrado habitando fontes termais e a infecção ocorre quando banhistas entram na água. A ameba consegue penetrar pela mucosa nasal e invadir o sistema nervoso central e, por isso, ficou conhecida como “ameba comedora de cérebros”. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com. Meningoencefalite associada ao parasitismo acidental por Naegleria fowler. PARASITISMO OBRIGATÓRIO É aquele em que o parasito depende integralmente de sua relação com o hospedeiro, seja para nutrição, replicação ou reprodução. A maioria dos helmintos mantém seu ciclo de vida dividido em uma fase saprófita e outra de parasitismo obrigatório. Um exemplo é o Ancylostoma duodenal que causa a ancilostomose. Ao atingirem o solo, os ovos desse parasita eclodem, liberando pequenas larvas que depois vão adquirir a capacidade de penetrar ativamente a pele do pé de indivíduos que andam descalços. Após a penetração, as larvas se estabelecem definitivamente no intestino e atingem a maturidade sexual, concluindo o seu ciclo de vida. Nesse caso, as larvas adultas precisam obrigatoriamente do hospedeiro para completar o seu ciclo sexual e eliminar seus ovos nas fezes iniciando um novo ciclo. PARASITISMO PROTELIANO Por outro lado, existem espécies que são essencialmente parasitos na fase larvária inicial de suas vidas. Você já deve ter ouvido falar na mosca do berne ou nas larvas causadoras da miíase, esta última comum em animais com feridas abertas. A mosca deposita as larvas jovens javascript:void(0) javascript:void(0) na pele lesionada e estas últimas se alimentam do tecido necrosado. Esse tipo de parasitismo, obrigatoriamente da fase larvária, é conhecido como parasitismo proteliano. PARASITISMO ERRÁTICO Já o parasitismo errático é quando um parasita se encontra fora do habitat natural, como o isolamento de Enterobius vermicularis na cavidade vaginal. ENDOPARASITISMO Parasitam as cavidades naturais ou tecidos. ECTOPARASITISMO Quando se instalam fora do corpo do hospedeiro, como é o caso de piolhos, ácaro, pulgas etc. Imagem: Shuttertock.com. PRINCIPAIS TIPOS DE HABITAT DOS PARASITOS Os animais vertebrados superiores apresentam uma enorme diversidade estrutural, histológica, funcional e fisiológica. As propriedades funcionais do fígado são completamente diferentes do intestino, o que também confere aos parasitos que ali residem características distintas de adaptabilidade ao meio. O sistema digestivo abriga grande parte dos parasitos que costumamos estudar, mas outros órgãos podem ser parasitados transitoriamente ou definitivamente, como as glândulas anexas, o sistema vascular sanguíneo, o sistema linfático e outros tecidos. Vejamos agora as espécies de parasitos que habitam cada parte do sistema digestivo Ao longo da evolução da espécie humana, é possível que nossos ancestrais tenham entrado em contato com muitos parasitos por meio da alimentação. Essa talvez seja a provável rota de contaminação e de origem adaptativa da maioria dos parasitos intestinais. Aqueles que conseguiram resistir às adversidades do ambiente intestinal, foram se instalando, adaptando e reproduzindo. A relação parasito-hospedeiro provavelmente levou centenas de anos para encontrar o equilíbrio necessário para ambas as espécies coevoluírem harmonicamente. O grau de adaptação é tanto que para alguns parasitos a especificidade de habitat se dá por segmentos estritos do intestino, como o duodeno, o íleo ou o reto. Determinadas espécies podem viver nesses ambientes temporariamente ou indefinidamente, levando, inclusive, a quadros de gastroenterite no hospedeiro. Essa preferênciapor ambientes não é por acaso, cada parasito tem interesse por condições físico-químicas específicas. EXEMPLO A concentração de oxigênio é maior na porção mais superior do sistema digestivo e diminui conforme se aproxima do estômago, então as espécies que parasitam a cavidade oral são bem adaptadas à exposição ao oxigênio e demais gases presentes no ar. De forma diferente, o intestino delgado é altamente anaeróbio, abundante em gás carbônico e metano, estando presentes ali apenas as espécies capazes de sobreviver a essas condições. Além disso, as espécies têm que conseguir sobreviver e suportar o pH do trato gastrointestinal e obter seus nutrientes. No esquema a seguir, vemos a enorme diversidade de protozoários e helmintos que encontraram no trato digestivo um ambiente ótimo para a sua sobrevivência. 1 - Cavidade oral 2 - Fígado 3 - Duodeno 4 - Cólon ascendente 5 - Intestino delgado 6 - Cólon descendente 7 - Reto 1 - Cavidade oral Entamoeba gengivalis Trichomonas tenax 2 - Fígado Leishmania donovani E. histolytica (abcessos hepáticos) Schistossoma mansoni Fasciola hepatica Plasmódios (ciclo pré-eritrocítico) 3 - Duodeno Giardia lamblia Ancylostoma duodenale Necator americanus 4 - Cólon ascendente E. Histolytica E. hartmani E. coli Endolimax nana Trichomonas hominis Balantidium coli Enterobius vermicularis Trichuris trichiura 5 - Intestino delgado Trypanosoma cruzi (megacólon) Schistosoma mansoni E. histolytica 6 - Cólon descendente Giardia lamblia Taenia solium Taenia saginata Hymenolepis nana Ancylostoma duodenale Necator americanus Ascaris lumbricoides Strongyloides stercoralis Isospora belli 7 - Reto E. histolytica Via de eliminação dos ovos de protozoários e helmintos Os diferentes parasitas no sistema digestivo. Vejamos as espécies de parasitas que habita em cada parte do sistema digestivo. CAVIDADE BUCAL Encontramos duas espécies principais de protozoários: Entamoeba gengivalis e Trichomonas tenax. A primeira é uma ameba não patogênica de distribuição cosmopolita e que pode ser transmitida pelo beijo. Já T. tenax também apresenta ampla distribuição e está associada a infecções periodontais em indivíduos com precária higiene bucal. ESÔFAGO E ESTÔMAGO Nenhuma espécie de parasita permanentemente é encontrada, principalmente em virtude do baixo pH e das condições hostis a sua sobrevivência. No estômago, o pH pode chegar a 1,5, condição não tolerada pela maioria das larvas e vermes adultos. No entanto, devido à proteção conferida pela resistente casca ou cutícula, os ovos de parasitos conseguem resistir ao ambiente ácido. INTESTINO DELGADO - DUODENO Posterior ao estômago, é o primeiro segmento do intestino delgado e serve de importante sítio de desencistamento de protozoários e eclosão de ovos de helmintos. Dois importantes fluidos digestivos são lançados no duodeno, a bile e o suco pancreático o que torna o meio mais básico. Além disso, as enzimas presentes em ambos podem modificar a permeabilidade da membrana dos cistos e ovos e estimular a movimentação das larvas. Nesse ambiente é que são encontrados Ancilostoma duodenale, Giardia dudenalis e Necator americanus. Saiba mais: No intestino, o valor de pH varia em cada segmento. Por exemplo, o pH no duodeno está atrelado à abertura do piloro – esfíncter localizado na porção final do estômago – que permite a passagem do suco gástrico e deixa o meio mais ácido em relação a porções mais terminais do intestino. INTESTINO DELGADO – JEJUNO E ÍLEO Nos dois segmentos consecutivos do intestino delgado, o jejuno e o íleo, encontram-se Giardia duodenalis, Taenia solium, Taenia saginata, Necator americanus, Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercoralis, entre outros. A intensa atividade mecânica provocada pelos movimentos peristálticos pode dificultar a fixação inicial de alguns helmintos. INTESTINO GROSSO Na porção descendente do intestino grosso, há intensa absorção de água e eletrólitos pela mucosa, o que diminui significativamente a concentração osmótica. Ademais, outras condições ambientais também são encontradas, o peristaltismo é reduzido e a mucosa apresenta pregas, muco e células especializadas na reabsorção. Ao longo dos segmentos, é possível encontrar helmintos e protozoários fixados na mucosa. Os ancilostomídeos sugam sangue dos pequenos vasos e as giárdias ficam aderidas à mucosa por meio do disco suctorial. As amebas e alguns protistas ciliados tendem a invadir a mucosa e submucosa, provocando sangramentos e inflamação local. Por fim, em sua porção mais terminal, o intestino grosso pode abrigar no sigmoide e no reto espécies como Entamoeba histolytica, Schistosoma mansoni, Schistosoma japonicum, além de ovos e cistos que serão eliminados nas fezes. Fígado e vias biliares O fígado é considerado a maior glândula do corpo humano e desempenha funções vitais para a homeostase. Pode-se destacar a secreção de bile – importante função digestiva, a degradação e excreção de hormônios, regulação do metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, e metabolização de drogas e bilirrubina. Por ser um ambiente altamente vascularizado e rico em nutrientes, o fígado é frequentemente parasitado por algumas espécies, como: As formas esporozoíticas do gênero Plasmodium spp. infectam as células do fígado (hepatócitos), dando início ao ciclo pré-eritrocítico. O P. ovale e o P. vivax podem apresentar formas dormentes, chamadas de hipnozoítos, que podem ficar latentes por meses ou até anos no órgão. Ao completar a fase tecidual, os esquizontes provocam intensa lise dos hepatócitos, liberando milhares de parasitos na corrente sanguínea que irão invadir as hemácias e iniciar o ciclo eritrocítico. Imagem: Shutterstock.com. BILIAR Interrupção ou diminuição do fluxo de bile da vesícula biliar para a luz intestinal. ICTERÍCIA Coloração amarelada da pele e/ou olhos causados por um aumento na concentração de bilirrubina na corrente sanguínea. Outro exemplo é a forma larval do cestoide Echinococcus granulosus responsável pela hidatidose cística. Imagem: Shutterstock.com. Cisto hidático de Echinococcus granulosus no fígado. O ciclo biológico é mantido entre cães (hospedeiro definitivo), suínos, ovinos, caprinos e bovinos (hospedeiros intermediários), mas o homem pode ser acidentalmente contaminado pela ingestão de ovos do parasito. A grande maioria dos casos é assintomático, mas alguns indivíduos podem apresentar sintomas e complicações decorrentes. Em humanos, as localizações mais frequentes dos cistos são fígado e pulmões, além de cérebro, músculos e rins. O acometimento hepático dependerá de alguns fatores, como tamanho e número de cistos, e da localização dentro do órgão. Cistos grandes e profundos podem levar à obstrução porta, estase biliar e icterícia. Ascaris Lumbricoides geralmente habita a luz intestinal, mas as larvas podem ser encontradas em locais atípicos, como as vias biliares e pancreáticas. A invasão desses locais pode provocar quadros graves e agudos de colangite, abcesso hepático, pancreatite e apendicite. javascript:void(0) javascript:void(0) SAIBA MAIS Dezenas de outros parasitos podem habitar o fígado, como Fasciola hepatica, Clonorchis sinensis, Opisthorchis viverrini, Schistossoma mansoni e Leishmanis donovani. Sistema fagocítico mononuclear As células do Sistema Fagocítico Mononuclear (SFM) têm origem nas células hematopoiéticas mieloides e apresentam características em comum, tais como presença de enzimas no citoplasma e forte capacidade de realizar fagocitose. São os componentes da imunidade inata responsáveis pela primeira linha de defesa do organismo. O SFM compreende promonócitos, monócitos, histiócitos e macrófagos residentes dos tecidos. SAIBA MAIS Fagocitose é o processo pelo qual uma célula usa sua membrana plasmática para englobar partículas grandes, dando origem a um compartimento interno chamado fagossoma. No sistema imunológico de organismos multicelulares, a fagocitose é um dos principais mecanismos usadospara remover patógenos e restos celulares. Imagem: Shutterstock.com. Fagocitose. CÉLULAS FAGOCÍTICAS As células fagocíticas profissionais incluem os neutrófilos, monócitos, macrófagos e células dendríticas. A internalização de alguns parasitos ocorre através da fagocitose mediada por células do SFM. O habitat das formas amastigotas de Leishmania spp. no homem são as células do SFM, principalmente os macrófagos. Alguns parasitos conseguem modular e resistir às defesas do organismo, escapando eficientemente do sistema imune. Nesse caso, as células fagocíticas profissionais conseguem fagocitar os parasitos, mas não conseguem destruí-los nos fagolisossomos. Mecanismo similar de interação do parasito com as células fagocíticas ocorre na infecção por Trypanosoma cruzi e Toxoplasma gondii. Sangue e linfa Os protozoários parasitos podem viver livres no plasma, como o Trypanosoma cruzi ou instalados no interior das hemácias como o Plasmodium spp. Entre os helmintos de habitat sanguíneo estão o Schistosoma mansoni e as microfilárias de vários filarídeos. Foto: Shutterstock.com. Os parasitos da malária durante a fase em que evoluem no interior dos eritrócitos, digerem a hemoglobina, assimilando os aminoácidos da fração globina e deixando um resíduo insolúvel de hemossiderina, rico em ferro, que se conhece também como pigmento malárico. A linfa é o habitat de filarias, como a Wuchereria bancrofti. javascript:void(0) PARASITISMO E PROCESSOS PATOLÓGICOS As múltiplas interações entre parasitos e hospedeiros, baseadas nas relações ecológicas e metabólicas, podem resultar no desenvolvimento de mecanismos nocivos para um ou para ambos os organismos. Assim, para entender um pouco mais sobre os processos patológicos desenvolvidos pelos parasitas, estudaremos alguns mecanismos de agressão e lesão provocadas pelos parasitas. Normalmente, essas desordens são provocadas pela ação direta do parasito, como o processo de invasão tecidual, ou por ação protetiva do sistema imune do hospedeiro, como as respostas inflamatórias agudas e granulomatosa que podem ser desencadeadas durante às infecções parasitárias. Patogenicidade x virulência Denomina-se de patogênicos os parasitos capazes de estimular ou causar dano (doença) no hospedeiro. Esse prejuízo pode ser local ou sistêmico, levando a disfunções fisiológicas importantes para o hospedeiro. A patogenicidade não é sempre presente, sendo determinada por fatores como carga parasitária, estado imune do hospedeiro e sítio anatômico de parasitismo. Convencionalmente, chama-se de não patogênicos os parasitos que não causam doenças. O conceito de virulência relaciona-se com o grau de dano que o parasito pode provocar em determinado hospedeiro. Parasitos muito virulentos provocam doenças graves, geralmente com alta mortalidade. Acredita-se que a alta virulência seja um estágio primitivo do parasitismo, sem o tempo evolutivo decorrido para a adaptação de ambos. A virulência pode variar em função das condições ambientais do hospedeiro, como imunidade e estado nutricional, de características genéticas e fenotípicas do parasito, como tipo de linhagem e cepa, e da capacidade invasiva. FÔMITES Objeto inanimado capaz de absorver, reter e transportar um organismo contaminante de um indivíduo para o outro. MECANISMOS PARASITÁRIOS DE INVASÃO DO HOSPEDEIRO Cada parasito possui um mecanismo próprio de invasão ou penetração do hospedeiro, mas podemos dividi-los em ativos ou passivos. Os ovos e cistos, tais como de Ascaris lumbricoides, Taenia solium e Tania saginata, entram no organismo a partir da ingestão de água ou alimentos contaminados, portanto, passivamente. Também penetram de modo passivo os parasitos inoculados por intermédio de insetos vetores hematófagos, como Leishmania spp., Trypanosoma sp. e Plasmodium spp. A transmissão passiva também pode ocorrer de forma congênita (transplacentária) ou transmamária, ou ainda por transfusão de sangue. Além disso, um indivíduo parasitado pode aturar como o seu próprio veículo de contaminação, de forma direta, quando ele mesmo leva as mãos ao ânus e depois à boca (principalmente crianças e idosos), ou indireta, quando os ovos presentes na poeira, fômites ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou. A penetração ativa é aquela observada na infecção por esquistossomos, estrongiloides e ancilostomídeos. As cercárias de Schistosoma mansoni lançam mão de mecanismos mecânicos e líticos (como secreção de enzimas proteolíticas), para penetrar na pele e ganhar a corrente sanguínea. No caso da esquistossomose, após concluídas as primeiras horas da penetração das cercárias, é possível observar a presença de forte infiltrado inflamatório, composto principalmente por células mononucleares e polimorfonucleares. A manifestação cutânea associada é chamada de dermatite cercariana e apresenta erupções pruriginosas: javascript:void(0) Foto: Cornellier / Wikimedia commons / CC BY SA 3.0 Unported. Dermatite provocada pela penetração de cercárias de Schistosoma mansoni na pele. ATENÇÃO É importante ressaltar que, para entrar no organismo, os parasitas têm que ser capazes de passar por todos os mecanismos de defesa inicial do organismo, como as barreias epiteliais (epiderme), presença da microbiota, de substâncias microbicidas etc. Os danos gerados podem ser diretos, ou seja, pela presença dos parasitas ou por substâncias secretadas por eles, ou indiretos, quando acarretados pela a reação no hospedeiro. Podem ainda causar uma série de prejuízos, tendo diferentes ações, como: Obstrutivas Compressivas Destrutivas Tóxicas Pungitiva (causa dor) Alergizante Espoliativas (ocorre perda de substâncias nutritivas pelo hospedeiro, caso que ocorre na teníase, por exemplo) Enzimáticas (liberação de secreções enzimáticas que geram uma destruição tecidual, caso comum nas infecções por e. Hystolitica) Todos esses mecanismos levam a uma inflamação, que constitui o principal mecanismo de lesão tecidual observado nas doenças parasitárias. Inicialmente, a inflamação tem papel importante para o controle da disseminação do parasito, mas seus efeitos adversos podem representar disfunções locais e sistêmicas para o organismo. Podemos definir inflamação como a reação fisiológica protetora do tecido conjuntivo vascularizado a partir de algum mecanismo de lesão ou agressão. ATENÇÃO Observa-se nos animais vertebrados, complexos mecanismos inflamatórios, com reações em cascata com a participação de diferentes moléculas e tipos celulares. Entretanto, a inflamação também ocorre em organismos invertebrados e avasculares, com mecanismos mais simples de migração de células e fagocitose. ARTERÍOLAS Pequenos vasos sanguíneos resultantes das ramificações das artérias. EXSUDATO INFLAMATÓRIO O aumento da permeabilidade endotelial permite a passagem de células, moléculas e líquido para os tecidos, resultando na formação do exsudato. QUIMIOTAXIA É o movimento de atração das células em resposta a sinais químicos no ambiente. EOSINOFILIA Aumento dos eosinófilos. HIPERSENSIBILIDADE São as reações excessivas, indesejáveis (danosas, desconfortáveis e às vezes fatais) produzidas pelo sistema imune normal. FIBRINOGÊNESE Produção e formação de fibrina que vai originar o tecido de cicatrização. Agora veremos resumidamente as etapas da resposta inflamatória contra parasitos e suas consequências locais e sistêmicas. Vamos lá? ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 ETAPA 5 ETAPA 6 ETAPA 7 ETAPA 1 Após a entrada dos parasitas, como no caso das cercárias de S. mansoni através da pele, ocorre a liberação de histamina e moléculas vasodilatadoras, que levam ao aumento do calibre das arteríolas e do fluxo de sangue local. Consequentemente, há uma diminuição da pressão intravascular e o aumento da permeabilidade endotelial, resultando no extravasamento plasmático e no acúmulo de líquido no tecido (exsudato inflamatório). A partir desse momento, ocorre a liberação de mediadores quetêm por função a atração e migração de células fagocíticas do sangue por quimiotaxia ao tecido. ETAPA 2 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) As células endoteliais começam a expressar receptores de membranas que servirão de âncora para os leucócitos durante o processo de migração dos vasos sanguíneos para o tecido parasitado. Os macrófagos residentes e células dendríticas atuam fagocitando e apresentando antígenos para os linfócitos, liberando citocinas que atrairão outros tipos celulares. Nas infecções por protozoários, os macrófagos assumem papel importante pela alta capacidade fagocítica, mesmo que alguns parasitos consigam fugir dos mecanismos de defesa. ETAPA 3 Após a fagocitose, os macrófagos liberam a interleucina 12 (IL-12) que permite a ativação e migração de células natural killer (NK) que possuem forte ação citotóxica, induzindo a apoptose das células infectadas. Na infecção por helmintos, a presença de eosinófilos é acentuada, sendo marca importante das lesões imunopatológicas. ETAPA 4 Os antígenos parasitários estimulam a produção de IL-4 e IL-5, que induzem à síntese de imunoglobulinas da classe IgE e forte ativação de eosinófilos. A eosinofilia é detectada em indivíduos com quadros de parasitoses agudos e crônicos, tendo por função o controle da infecção pela liberação de espécies reativas de oxigênio e liberação de seus grânulos citoplasmáticos – processo conhecido como degranulação. É frequente encontrarmos infiltrado eosinofílico ao redor de ovos e larvas nos tecidos e no plasma de indivíduos infectados. A secreção de IL-4 e IL-13 estimula a produção de muco na mucosa do intestino grosso e o aumento do peristaltismo na tentativa de expulsar os parasitos da luz intestinal. ETAPA 5 javascript:void(0) A inflamação aguda é limitada e deve resolver-se dentro de um curto período, porém, podem evoluir para um quadro crônico com eventos longos que podem persistir por toda a vida do hospedeiro. Na inflamação crônica, misturam-se mecanismos vasculares, de reparo (fibrose) e formação de exsudato. O exsudato da inflamação aguda é composto principalmente por fagócitos e líquido extravasado. Já na inflamação crônica, predomina o infiltrado mononuclear (linfócitos, plasmócitos e macrófagos). A inflamação crônica granulomatosa é um importante mecanismo imunopatogênico presente nas infecções por alguns protozoários e helmintos, com destaque para a esquistossomose. ETAPA 6 A deposição dos ovos maduros do S. mansoni no parênquima hepático desencadeia um processo inflamatório importante e organizado. A reação inflamatória granulomatosa é considerada uma reação de hipersensibilidade tardia mediada principalmente por linfócitos TCD4. As células TCD4 podem ser divididas em duas populações (Th1 e Th2), de acordo com o tipo de citocinas e respostas que desencadearam. ETAPA 7 Os linfócitos do subgrupo Th1 secretam as citocinas (IL-2 e fator de necrose tumoral e interferon) que induzem à ativação da resposta inflamatória e à formação e deposição de colágeno no local da lesão, contribuindo para a formação da fibrose, característica nos granulomas. Já os linfócitos do subgrupo Th2 secretam IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13 que medeia a produção de anticorpos IgE e aumenta a proliferação dos eosinófilos. O equilíbrio entre a resposta do tipo Th1 e Th2 determina a evolução da lesão tecidual. Pesquisas já demonstraram que na esquistossomose, a IL-13 estimula os fibroblastos hepáticos a sintetizarem proteínas da matriz extracelular, aumentando a fibrinogênese e a disfunção hepática. A fibrose, também chamada de cicatrização patológica, é caracterizada pela abundante geração de tecido conjuntivo cicatricial, em detrimento da regeneração do tecido javascript:void(0) javascript:void(0) parenquimatoso – no caso da esquistossomose, o hepático. Em estado de homeostase, a destruição das células do parênquima é seguida da regeneração celular que resulta na volta integral das funções daquele órgão. Entretanto, dependendo da extensão da lesão e dos estímulos (antígenos e liberação de citocinas), a formação do tecido cicatricial pode ser muito intensa e difusa, resultando em alterações orgânicas do órgão. A biópsia de uma lesão granulomatosa na esquistossomose, observada no microscópio óptico, revela arcos concêntricos de tipos celulares diferentes ao redor do ovo do parasito. Confuso? Calma vamos entender melhor! Mais próximos aos ovos podem ser observados eosinófilos, seguidos de macrófagos e fibroblastos produtores de colágeno. Marginalmente estão localizados os linfócitos B – produtores de anticorpos – e os linfócitos TCD4. Imagem: feito no BioRender pelo Helver Dias. Esquema de inflamação crônica granulomatosa induzida por ovos de S. mansoni. A quantidade e intensidade dos granulomas no parênquima hepático determinam a gravidade e o comprometimento do fígado. Casos avançados podem resultar em graves disfunções hepáticas irreversíveis, como cirrose e consequente hipertensão portal. Vamos agora pensar em outra doença parasitária: a doença de Chagas. Foto: Shutterstock.com. Essa doença pode seguir dois cursos clínicos possíveis: aguda e crônica. A fase aguda geralmente é assintomática e pode durar de 4 a 8 semanas. Cerca de 60 a 70% dos indivíduos infectados evoluem para um quadro benigno, sem manifestações clínicas. No entanto, em alguns casos, eles podem evoluir para a forma crônica, com manifestações digestivas ou cardíacas que aparecem depois de alguns anos ou décadas. Para os indivíduos crônicos, a cardiomiopatia é a manifestação mais incidente, seguido do megaesôfago ou megacólon. O megacólon é caracterizado pela destruição dos plexos nervosos da musculatura entérica, aumento do tamanho e do número de células o que leva à perda ou diminuição do peristaltismo, desregulação dos esfíncteres e constipação. CARDIOMIÓCITOS Células da musculatura do coração, também são conhecidas como fibras musculares cardíacas. QUIMIOCINAS Moléculas parecidas com as citocinas que têm a função de controlar a migração e a permanência de células imunes em locais determinados. Os mecanismos imunopatogênicos da cardiomiopatia chagásica são complexos e têm relação com a resposta inflamatória. Ainda durante a fase aguda, os cardiomiócitos são infectados pela forma amastigota do parasito, o que induz à formação de forte infiltrado inflamatório. Além disso, a apoptose das células infectadas gera mais estímulos de migração celular para o tecido cardíaco. As citocinas e quimiocinas liberadas recrutam primeiramente macrófagos e neutrófilos e, em seguida, linfócitos T e B. O infiltrado inflamatório, dependendo de sua extensão, pode gerar disfunções como a hipertrofia dos cardiomiócitos (aumento do volume ou tamanho celular), que caracteriza o coração chagásico, também chamado de “coração grande”. Imagem: Patrick J. Lynch, 2006 / Wikimedia commons / CC BY 2.5. Corte transversal de um coração chagásico, evidenciando a hipertrofia do ventrículo esquerdo. javascript:void(0) javascript:void(0) Em estágios mais avançados, denominados clinicamente de cardiomiopatia chagásica crônica, além do infiltrado inflamatório, há aparente destruição de fibras miocárdicas com redução da quantidade de parasitos e deposição de colágeno. A formação da fibrose tecidual pode levar ao comprometimento contrátil do músculo e disfunções sistólicas e/ou ventriculares. DIARREIA E PARASITOS: QUAL A RELAÇÃO? Assista ao vídeo em que o especialista Helver Dias falará sobre os principais parasitos causadores de diarreia e as modificações fisiológicas que desencadeiam esse quadro. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS PARASITOS APRESENTAM DIFERENTES ESTRATÉGIAS PARA PENETRAR NO HOSPEDEIRO, ALGUNS POSSUEM MECANISMOS ATIVOS, OUTROS PASSIVOS. ACERCA DESSE ASSUNTO, ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. ASCARIS LUMBRICOIDES E TAENIA SAGINATA PENETRAM NO ORGANISMO ATIVAMENTE. II. PARASITOS DOS GÊNEROS LEISHMANIA, TRYPANOSOMA E PLASMODIUM PENETRAM NO ORGANISMO
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