Prévia do material em texto
GESTÃO SECRETARIAL – ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS AULA 2 Profª Flávia Roberta Fernandes 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, aprendemos sobre o contexto histórico dos eventos e suas transformações, advindas de fatores sociais, econômicos, tecnológicos, entre outros. Verificamos a relevância dos eventos para o desenvolvimento econômico de um país e vimos o papel exercido pelas associações e entidades representativas para fortalecer o desenvolvimento do setor de eventos. Nesta etapa, veremos como os eventos são abordados por diversos autores na literatura, observando os elementos que constituem sua definição e significado. Em seguida, compreenderemos que os eventos apresentam características específicas que determinam sua classificação e tipologia. Por último, conheceremos os novos formatos de eventos digitais – os eventos virtuais e híbridos. CONTEXTUALIZANDO Ao estudarmos determinado tema, como o caso dos eventos, precisamos entender que a teoria e a prática caminham juntas. Isso significa dizer que uma área cresce e avança, em termos de conhecimento, técnicas, ferramentas e metodologias, a partir das contribuições advindas de pesquisas realizadas por autores de diversas áreas. Neste cenário, segundo Getz (2004), são identificados estudos que explicam a história e os acontecimentos relacionados aos eventos. Há estudos que se voltam para a geografia de eventos, que estabelece a relação dos eventos com o meio ambiente. Já a antropologia tenta estabelecer a conexão entre a natureza das celebrações e a cultura. A sociologia, por sua vez, estuda as organizações como eventos e as relações e dinâmicas das populações. Ainda para o autor, a psicologia auxilia no entendimento dos motivos para os indivíduos participarem dos eventos e o impacto da experiência nesse processo. Temos, ainda, a ciência política, que analisa as razões políticas para a realização de eventos. Por fim, a economia foca nos impactos econômicos dos eventos para a sociedade (Getz, 2004). Esses são apenas alguns exemplos de áreas que contribuem para o desenvolvimento e avanço dos estudos sobre eventos. O interesse das diversas áreas pelo tema contribuiu para uma definição conceitual complexa e de “domínio amplo” (Melo Neto, 2012, p. 13). Isso se deu 3 já que cada área observa o fenômeno dos eventos, a partir de seu ponto de vista, “possibilitando contextualizações totalmente corretas e correlatas” (Nakane, 2012, p. 2), conforme veremos a seguir. TEMA 1 – CONCEITUAÇÃO DE EVENTOS Um conceito traduz uma ideia, um significado atribuído e apresenta aspectos e atributos atrelados a determinado termo. Como vimos, os estudos sobre eventos têm despertado o interesse de várias áreas (Nakane, 2012) e apresentado variações em sua definição conceitual. Essas variações destacam o enfoque apresentado pelos autores que pesquisam o tema. Com um viés institucional, Bond e Oliveira (2012) definem os eventos como uma estratégia de comunicação: O evento é uma estratégia de comunicação, denominada dirigida aproximativa, que permite aproximar os diversos públicos. Nele são estabelecidas relações pessoas diretas entre empresa ou instituição e seu público ou um segmento de público. (Bond; Oliveira, 2012, p. 53) Já Nakane (2017) apresenta uma perspectiva mercadológica, indicando os eventos como uma resposta a demandas de mercado e ao consumo: Os eventos são formados pelo conjunto do fluxo de pessoas, ao mesmo tempo que atendem às demandas de mercado no que se refere a entretenimento, lazer, conhecimento, descanso, além de outras variadas razões. [...] enquanto outros são promovidos exatamente para atender a algumas exigências do consumidor. (Nakane, 2017, p. 38) Com um enfoque nas oportunidades de experimentação, Getz (2008) destaca a originalidade e a experiência única proporcionada pelos eventos: os eventos são fenômenos espaço-temporais e cada um é único por causa das interações entre o cenário, as pessoas e os sistemas de gerenciamento – incluindo elementos de design e o programa. Grande parte do apelo dos eventos é que eles nunca são os mesmos e você precisa ‘estar lá’ para aproveitar plenamente a experiência única; se você não estiver, será uma oportunidade perdida. (Getz, 2008, p. 404) Nesta mesma perspectiva os eventos são apontados por Czajkowski e Czajkowski Júnior (2017) como momentos especiais independentemente do âmbito e finalidades monetárias: os eventos são acontecimentos criados e planejados para proporcionar momentos especiais de cunho cultural, social ou corporativo, para atender às necessidades específicas de determinada ocasião, podendo apresentar fins mercadológicos ou não. (Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017, p. 62) 4 Para Melo e Neto (2012), a oportunidade de experimentação proporcionada pelos eventos amplia-se para uma esfera de aprendizado gerado nos envolvidos: O evento amplia os espaços para a vida social e pública e conduz as pessoas para a experimentação conjunta de emoções [...] Por meio de sua participação em eventos, o homem moderno aprende e reaprende a ter emoções, desenvolve o senso crítico, aprimora suas visões, preza a liberdade e adquire maior sensibilidade. (Melo Neto, 2012, p. 14) Por fim, a definição de eventos com enfoque em pessoas, sua reunião e interação é apontada pelos autores Oliveira (2022) e Nakane (2012). Segundo Oliveira (2022, p. 28), os eventos são definidos “como qualquer tipo de acontecimento no qual as pessoas se reúnem e interagem, tendo como motivação elementos profissionais, religiosos, artísticos, culturais, sociais, políticos, etc.". Já para Nakane (2012, p. 2), "o elemento humano é a raiz de todo evento, sendo uma atividade que engloba os esforços técnicos e recursos materiais oriundos e executados por pessoas cuja finalidade é satisfazer objetivos do público-alvo". A partir das abordagens conceituais apresentadas, é possível perceber elementos que são fundamentais para definir um evento. Os autores Dowson e Basset (2018) e Dolasinski et al. (2020) conseguem agrupar de forma resumida, em suas conceituações, esses elementos. Para Dowson e Basset (2018, p. 3), "evento é uma reunião temporária planejada com um propósito, que é memorável ou especial". Já Dolasinski et al. (2020. p. 558) define evento “como uma ocorrência que tem um elemento de tempo, dois ou mais participantes, é planejada e é uma oportunidade única”. Então, com base na delimitação desses autores, podemos dizer que cinco elementos são fundamentais para a definição de um evento, sendo: o tempo, o planejamento, o propósito, os participantes e a experimentação (Figura 1): 5 Figura 1 – Elementos Fundamentais para a definição de um evento Fonte: Arte: UT. Os eventos são dinâmicos e esses elementos atuam juntos. Mas, para detalharmos cada um deles, começaremos pelo tempo. Podemos dizer que os eventos possuem um ciclo de vida, ou seja, tem início e término determinado. Os eventos podem durar horas, dias, semanas, mas independente de seu período de realização, sua programação estabelece um começo e um final. Em seguida, temos o planejamento. Um evento só acontece se tivermos uma organização e um detalhamento de tudo que será realizado. O planejamento é considerado uma das etapas mais importantes dos eventos e que demanda mais energia, já que é neste momento que são definidas todas as ações e atividades que serão executadas no pré, trans e pós-evento. Quanto ao propósito, os eventos servem aos mais variados propósitos, seja para entretenimento, lazer, negócios, formação, conscientização, entre outros. Mas cabe destacar que cada evento é único e sua configuração física ou virtual, o sistema de gerenciamento e todas as etapas de um evento consideram esse propósito definido. Em seguida, temos os participantes e neste elemento devemser consideradas todas as pessoas que estão envolvidas direta e indiretamente em um evento, neste caso temos os fornecedores, patrocinadores, organizadores, convidados e o público. Ou seja, um evento é feito por pessoas e para pessoas! 6 As pessoas estão em todas as etapas de um evento, já que o planejamento, execução e controle e avaliação são função dos organizadores, fornecedores e patrocinadores. E esse trabalho conjunto desenvolvido converte-se nas atividades que compõem a efetiva realização do evento a seu público participante. Por fim, a experimentação. Em uma sociedade com consumidores cada vez mais informados e exigentes, esse elemento refere-se ao impacto que determinado evento pode gerar em um indivíduo. Há muitos motivos que tornam um evento importante para os participantes, seja pelo encontro com pessoas, o aprendizado proporcionado, a atmosfera criada, o ambiente (físico ou virtual) de trocas, sair da rotina, a identificação e o compartilhamento de um mesmo objetivo com outras pessoas, entre tantos outros motivos. Esses elementos são complementares e sua relação é o que torna um evento único. Neste sentido, podemos dizer que um evento nunca será igual ao outro, já que acontecerá em momentos distintos, com diferentes participantes e promovendo experiências específicas, em cada situação. Após analisarmos as abordagens conceituais e os elementos fundamentais que definem um evento, podemos avançar para a compreensão de sua classificação e tipologia. TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO DE EVENTOS Os eventos são únicos, apresentando características específicas, a partir de sua dinâmica, tamanho, público, abrangência e impacto. Neste sentido, os eventos apresentam classificações que estão atreladas aos objetivos propostos e a compreensão dessa classificação contribui para o dimensionamento das ações e as decisões a serem tomadas para a organização e gestão de um evento (Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017). Na Figura 2, podemos conhecer cada uma dessas classificações. 7 Figura 2 – Classificação dos eventos Fonte: Arte: UT. Conforme podemos observar na Figura 2, a classificação dos eventos é descrita a partir das especificações a seguir: a) Categoria: os eventos podem ser classificados a partir da perspectiva das organizações. Para isso temos os eventos institucionais, que buscam fortalecer a imagem das empresas públicas e privadas. E os eventos promocionais, que visam à divulgação e promoção de produtos e serviços, e que têm um direcionamento para obtenção de fins lucrativos (Dorta, 2015). b) Área de interesse: nesta classificação os eventos são divididos em: artístico, científico, cultural, folclórico, educativo, cívico, desportivo, religioso, turístico, político, social, beneficente, entre outros (Matias, 2013; Dorta, 2015). c) Porte: os eventos podem ser classificados a partir do número de participantes (Matias, 2013). Neste sentido, os eventos podem ser divididos em: • pequeno – até 150 participantes; • médio – entre 150 e 500 participantes; • grande – acima de 500 participantes; e • Megaevento – acima de 5.000 participantes. 8 d) Perfil dos participantes: neste caso, os eventos podem ser classificados em geral, dirigido e específico. O evento geral contempla qualquer participante, o evento dirigido volta-se para um público que tem familiaridade com o tema proposto, enquanto o evento específico é direcionado a participantes com domínio e interesse absoluto no tema (Dorta, 2015). e) Público: os eventos podem ser classificados em relação ao acesso do público, neste sentido podem ser divididos em fechado e aberto. Os eventos fechados restringem-se a um público definido e convidado para participar. Já os eventos abertos, permitem o acesso ao público por meio de adesão cobrada ou gratuita. f) Abrangência: os eventos podem ser classificados de acordo com sua abrangência e localização, sendo divididos em: local, municipal, regional, estadual, nacional e internacional (Dorta, 2015). g) Espacialidade: neste caso, refere-se ao espaço de execução dos eventos, podendo ser classificados em internos, em referência à sua realização em espaços fechados, e em externos, em menção à realização em espaços abertos (Dorta, 2015). h) Frequência: os eventos são classificados de periodicidade, podendo ser divididos em especiais, únicos e periódicos. Os eventos especiais são os que acontecem com pouca frequência. Os eventos únicos são pontuais e não serão repetidos ou acontecerão novamente, como no caso de uma exposição. Por fim, os eventos periódicos ocorrem com certa regularidade, como o caso dos festivais (Getz, 2004). i) Data de realização: essa classificação considera os eventos como fixos, móveis ou esporádicos. Ou seja, um evento que ocorre anualmente, no mesmo dia, é considerado fixo, como no caso do Natal. Eventos móveis ocorrem anualmente, mas podem ter suas datas alteradas, como no caso do Carnaval. Já os eventos esporádicos ocorrem ocasionalmente, sem uma data fixada (Dorta, 2015). j) Diversificados: nesta classificação podem ser indicados os eventos relacionados a uma causa, eventos de mídia e os eventos marcantes (Getz, 2004). 9 • Eventos relacionados a uma causa pautam-se em uma motivação social, política, visando gerar apoio da sociedade ou arrecadar fundos que serão direcionados para a causa em defesa; • Eventos de mídia fundamentam-se na exposição proporcionada pela mídia. Esses eventos “estão ganhando popularidade, principalmente com base no poder da cobertura da televisão e da internet para atingir públicos globais ou muito segmentados” (Getz, 2004, p. 29); e • Eventos marcantes “se tornam tão identificados com uma determinada cidade ou região que se tornam sinônimo do nome do lugar” (Dowson; Basset, 2018, p. 5). Um exemplo é o festival de Música Rock in Rio. A partir do entendimento de como os eventos são classificados, podemos seguir e conhecer os tipos de eventos que podem ser realizados. TEMA 3 – TIPOLOGIA DE EVENTOS Os eventos possuem uma ampla tipologia. De acordo com Nakane (2012), já são identificados mais de 60 tipos diferentes de eventos. Embora não haja uma catalogação única e definitiva, podemos considerar a organização dos tipos de eventos em categorias que agrupam esses eventos a partir de uma lógica de semelhança do escopo, formato, estrutura e especificações dos eventos (Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017; Lukower, 2003; Nakane, 2012). Para a compreensão das tipologias dos eventos apresentamos, a seguir, as principais categorias e os tipos de eventos agrupados em cada uma delas: a) Eventos culturais/artísticos: promovem a relação com a cultura de um povo ou local, assim como despertam a criatividade e a manifestação da arte por meio da música, dança, pintura, poesia, literatura, entre outros (Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017; Nakane, 2017). Tipos de Eventos Culturais Créditos: Gary Stalin Vargas Matute/Shutterstock. • Desfile • Festival • Tarde/noite de autógrafos • Shows • Teatro • Exposição de objetos artísticos (Vernissage) • Apresentações folclóricas 10 b) Eventos políticos e estatais (oficiais): são eventos que contemplam a presença de autoridades governamentais, em qualquer esfera (municipal, estatual ou federal). São considerados eventos de grande impacto e que sempre atraem atenção da mídia ou do público (GETZ, 2004; NAKANE, 2007). Tipos de Eventos Políticos e Estatais (oficiais) Créditos: Niyazz/Shutterstock. • Pronunciamentos • Comícios políticos • Visitas de estado • Cúpulas • Convenções • Cerimônias • Homenagens • Premiações • Inaugurações c) Eventos religiosos: eventos com o cunho religioso, atrelado a fé, crenças, rituais. Esses eventos independem do credo e podem conter momentos sociais, entretanto o foco e o que une as pessoasé o caráter religioso (Czajkowski; Czajkowski Junior, 2017; Nakane, 2017). Tipos de Eventos Religiosos Créditos: sweet marshmallow/Shutterstock. • Cerimônias fúnebres • Batizado • Concílio • Conclave • Missa • Cultos • Primeira comunhão d) Eventos Empresariais: consideram-se eventos relacionados à área de negócios, podendo atender a objetivos internos ou externos à organização. Esses eventos podem ter como foco os funcionários, o desempenho da organização e até promover a organização no mercado em que está inserido (Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017). https://www.shutterstock.com/g/Niyazz https://www.shutterstock.com/g/KovalNadiya https://www.shutterstock.com/g/KovalNadiya 11 Tipos de Eventos Empresariais Créditos: GaudiLab/Shutterstuck. • Assembleia • Brainstorming • Campanha • Colóquio • Comemoração profissional • Concurso • Conferência • Congresso • Convenções • Cursos • Encontro • Exposição • Feira • Fórum • Inauguração • Lançamento • Leilão • Reunião de trabalho • Rodada de negócios e) Eventos educacionais e científicos: são destinados à finalidade educacional e a áreas específicas de conhecimento, promovendo a interação e compartilhamento de conhecimento entre especialistas nessas áreas de conhecimentos (Lukower, 2003). Tipos de Eventos educacionais e científicos Créditos: Matej Kastelic/Shutterstock. • Congressos • Encontros • Feiras técnicas • Conferências • Seminários • Simpósio • Palestras • Mesa-redonda • Painel • Fórum f) Eventos Esportivos e Competições: são eventos relacionados às atividades esportivas, independentemente da modalidade, assim como competições amadoras e profissionais (Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017; Nakane, 2017). Tipos de Eventos Esportivos e Competições Créditos: A.RICARDO/Shutterstock. • Campeonato • Torneio • Gincana • Olimpíadas • Taça g) Eventos Sociais: os eventos desta categoria são organizados por indivíduos, famílias, grupos sociais ou instituições. Não visam lucro ou têm 12 caráter comercial, já que seu foco é celebração, a comemoração ou confraternização, entretenimento e lazer (Lukower, 2015; Getz, 2004; Czajkowski; Czajkowski Júnior, 2017). Tipos de Eventos Sociais Créditos: Studio Romantic/Shutterstock. • Aniversário; • Bodas; • Casamento; • Noivado; • Batizado; • Formatura; • Excursão social • Festa de debutante; • Open House; • Coffee Break. Com base na categorização e tipificação dos eventos, é possível perceber que um evento pode se enquadrar em mais de uma categoria (Getz, 2004). Como, por exemplo, o caso do congresso que pode ser indicado como um evento profissional ou ainda como um evento educacional e científico. Temos, ainda, as palestras, que podem ser indicadas nos eventos empresariais e como eventos educacionais e científicos. Outro ponto a ser destacado é que existe uma relação entre os tipos de eventos e as classificações dos eventos. Se olharmos para os tipos de eventos, qualquer um deles pode ser classificado como especial, se for um evento que ocorre com pouca frequência. Da mesma maneira, podemos ter um evento artístico classificado como um megaevento devido a seu número de participantes (mais de 5.000 pessoas). Qualquer um desses tipos de eventos podem, ainda, ser classificados como eventos de mídia, se houver a cobertura da mídia e atingir um público global (Getz, 2004). As categorias apresentadas podem ser identificadas em “praticamente todas as culturas e comunidades” (Getz, 2004, p. 30). Apesar da diversificação entre os tipos de eventos, em termos de escopo, formato, estrutura e especificações, todos eles precisam do envolvimento das partes interessadas para que sejam realizados. E, neste sentido, dependendo da estrutura e proporção do evento, requer a atuação de um profissional para sua efetiva gestão. Saiba mais Para conhecer os demais tipos de eventos, além dos expostos aqui, acesse o livro Eventos: uma estratégia baseada em experiências (Czajkowski; 13 Czajkowski Júnior, 2017) e consulte a partir da página 83, o item 3.3 - Tipologia de eventos. TEMA 4 – EVENTOS DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E INSTITUIÇÕES PRIVADAS Quando estudamos sobre os eventos, precisamos entender sobre as instituições que os organizam e os promovem. Isso é importante por dois motivos. O primeiro diz respeito às particularidades que devem ser observadas para a realização de eventos por instituições públicas, instituições privadas e quando existe uma parceria conjunta entre essas duas instituições. Isso porque exigem regras e protocolos a serem seguidos, principalmente no que diz respeito aos eventos organizados por instituições públicas. O segundo motivo envolve o fato de as instituições públicas e instituições privadas serem as instituições com o maior interesse no setor de eventos, conforme aponta o relatório da Allied Market Research (2022). Segundo os dados da pesquisa, dentre os eventos mais populares estão os empresariais, a arrecadação de recursos para alguma causa ou propósito, eventos artísticos/culturais, festivais e feiras. As instituições públicas, incluem os órgãos públicos regidos pelo governo, na esfera municipal, estadual, nacional e internacional. São instituições que não visam lucro, já que seu principal objetivo é prezar pelo interesse do bem público, dos cidadãos e da sociedade. As instituições privadas, por sua vez, são organizações que atendem a interesses individuais, geridas por seus proprietários, sócios, acionistas ou grupo de indivíduos definido para tal finalidade. Sua gestão pode visar lucro por meio da venda de produtos ou serviços, ou ainda, não ter viés de retorno financeiro, como acontece com as instituições privadas sem fins lucrativos (a exemplo das associações e fundações) (Getz, 2004; Nakane, 2007). Como vimos, os eventos estão atrelados a um propósito e objetivo. De forma geral, os eventos promovidos pelas instituições públicas demonstram “o envolvimento da instituição com o dia a dia político, social e econômico do nosso país, constrói elos, promove dinâmicas redes de relacionamento, gera integração entre os participantes e cria diálogo com a sociedade” (Brasil, 2013, p.17). Já os eventos promovidos por instituições privadas estão relacionados à área de negócios, visando divulgar seus produtos e serviços, fortalecer sua 14 marca, promover a empresa no mercado em que está inserido. As instituições privadas sem fins lucrativos têm um direcionamento para eventos que fortaleçam uma causa social, gerar apoio e arrecadações de fundos, e conduzir a sociedade a uma conscientização sobre determinado tema (Dorta, 2015; Getz, 2004). Podemos perceber que apesar da diferença entre os objetivos traçados para a promoção dos eventos por instituições privadas e instituições públicas, esses se traduzem em uma ferramenta que comunica à sociedade seu objetivo e promovem uma mobilização de um público de interesse, para determinado fim (Brasil, 2013). Mas além das diferenças em seus objetivos, são identificadas particularidades que devem ser consideradas para a realização de eventos dessas instituições, como veremos a seguir. Os Eventos promovidos por instituições públicas são eventos que reúnem autoridades governamentais em qualquer esfera (municipal, estadual ou federal), prezando-se pelo respeito e pela importância hierárquica das autoridades presentes. Neste sentido, são eventos que seguem regras e protocolos específicos, que devem ser seguidos rigorosamente (Lukower, 2015). Como regras protocolares a serem seguidas, temos: as regras de precedência, de comunicação e apresentação, tratamento, recepção de autoridades estrangeiras, o uso de símbolos nacionais, ordem de solenidade seguindo a um roteiro específico, entre outros. Essas regras e protocolos são pautados em legislaçõesformais, conforme veremos detalhadamente em conteúdo posterior. Os eventos realizados por instituições públicas têm uma atenção especial dada aos recursos utilizados, bem como a sua prestação de contas, já que esses são custeados por verbas públicas (Lukower, 2015). Os Eventos promovidos por instituições privadas são aqueles que não possuem regras protocolares para a sua realização. Mas devemos nos valer do bom senso, da cultura organizacional e das diretrizes definidas pela organização. Esses eventos utilizam-se de recursos próprios pré-estabelecidos por seus dirigentes. Em geral, esses eventos não reúnem autoridades governamentais, mas contam com a presença dos seus dirigentes, como presidente, diretores, gerentes, entre outros. Embora os eventos realizados por instituições privadas não reúnam autoridades governamentais, há situações em que esses representantes de estado podem ser convidados e estar presentes. Caso isso aconteça, deve ser concedido às autoridades presentes um lugar e menção de destaque. 15 Cabe destacar que apesar de não termos regras universais para eventos realizados por instituições privadas, é possível adequar as regras e protocolos utilizados pelas instituições públicas, como é o caso da regra de precedência, comunicação e apresentação de discurso e outros detalhes, principalmente se os eventos tiverem como convidados autoridades governamentais (Oliveira, 2022; Matias, 2013). Um ponto observado por Oliveira (2022, p. 31) é que as parcerias entre instituições públicas e instituições privadas “têm se tornado uma tendência comum” e isso se aplica aos eventos. Neste sentido, conhecer sobre as regras e procedimentos que regem as práticas dessas duas instituições e a operacionalização conjunta de um evento, por ambas as instituições, é de suma importância para quem atua ou quer atuar na área de eventos. Por fim, vimos, nesta etapa, os vários tipos de eventos que podem ser realizados e esses podem ser promovidos por instituições públicas ou instituições privadas, não sendo uma exclusividade de apenas uma delas. Podemos citar como exemplo a realização de uma cerimônia de posse. Ela pode ser realizada para empossar um Prefeito no início de seu mandato, ou ainda um empossar um Presidente no início de sua gestão em uma empresa (Oliveira, 2022). Uma vez já sabendo sobre essas diferenças que regem a realização de um evento por instituições públicas e instituições privadas, podemos prosseguir e conhecer sobre os novos formatos de eventos. TEMA 5 – NOVOS FORMATOS DE EVENTOS (EVENTOS DIGITAIS) As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) permitiram uma ampla conexão entre os indivíduos e instituições. Atividades realizadas presencialmente passaram a ser inseridas no ambiente virtual, rompendo barreiras geográficas e limitações de tempo (assíncrona e síncrona, online e off- line). Com as TIC’s, as interações e a comunicação entre as pessoas se estabelecem virtualmente, por meio das redes sociais, já que este espaço se torna um meio de se estabelecer o diálogo, obter informações e também de mobilizar indivíduos (Almeida; Fernandes, 2021). Os eventos passam a ser uma dessas atividades inseridas nesse contexto virtual. Os eventos virtuais surgem e acontecem, mas em uma menor proporção devido aos investimentos financeiros necessários para sua realização. Nesse 16 contexto, mesmo com essa possibilidade, os eventos ocorriam majoritariamente de forma presencial, até meados do início de 2020, com a pandemia do Covid- 19. A pandemia impôs à sociedade um extenso período de isolamento social, comprometendo diretamente as atividades econômicas no mundo todo (Almeida; Fernandes, 2021). O setor de eventos impactado com os cancelamentos dos eventos presenciais e as restrições impostas, de contato social, passa a se valer da tecnologia, do ambiente virtual e desencadeia-se uma intensificação dos eventos no ambiente virtual. A partir desse momento, podemos considerar que a atenção dada aos eventos presenciais se volta, então, para os eventos digitais e se mantém mesmo no pós-pandemia. Para entendermos melhor sobre os eventos digitais, vamos descrevê-los em paralelo com os dos eventos presenciais. Os eventos presenciais são “eventos que acontecem com 100% das pessoas presentes no local do evento” (Martins; Lisboa, 2020, p. 8). Já os eventos digitais têm como principal característica o uso de tecnologias digitais para sua realização. São considerados como eventos digitais os eventos virtuais e os eventos híbrido: • Eventos virtuais: são aqueles que acontecem com 100% das pessoas participando virtualmente, via tecnologias digitais" (Martin; Lisboa, 2020, p. 8). • Eventos híbridos: são os que unem o presencial e o virtual, já que “acontecem parte presencialmente e parte virtualmente. Sejam com participantes a distância, seja com palestrantes a distância” (Martin; Lisboa, 2020, p. 8). As principais diferenças que podem ser apontadas entre os eventos presenciais e os eventos digitais são apresentadas no Quadro 1: Quadro 1 – Comparativo entre eventos presenciais e eventos digitais (virtuais e híbridos) Aspecto Evento presencial Eventos digitais Híbrido Virtual Tamanho do público Limitado ao espaço físico Limite do espaço físico, mas com o potencial de alcançar dezenas de milhares de pessoas virtualmente. Potencial para alcançar dezenas de milhares de pessoas que se conectem virtualmente. Estrutura física Demanda local adequado, com Demanda a estrutura para o para o evento Demanda a estrutura tecnológica com alta 17 estacionamento, próximo de transporte público, com ar- condicionado, mesas, cadeiras, projetores, cenografia etc. presencial, assim como a estrutura tecnológica, com alta qualidade de vídeo, áudio e conexão. qualidade de vídeo, áudio e conexão. Mas, não demanda local específico. Investimento financeiro Demanda maior investimento com o custo da estrutura física Demanda maior investimento com o custo da estrutura física e tecnológica. Demanda menor investimento financeiro. Investimento em tecnologia Investimento médio em tecnologia Alto investimento em tecnologia. Alto investimento em tecnologia. Custo para o participante Demanda um maior investimento com deslocamentos No presencial, demanda um maior investimento, mas no virtual os custos são mais acessíveis. Menor investimento. Interação entre os participantes Acontece face a face, presencialmente Permite interação face a face no presencial, mas existem barreiras a serem vencidas na interação virtual. Exige um esforço por parte dos organizadores para fomentar a interação virtualmente. Engajamento O engajamento se dá pela própria presencialidade. Requer mais criatividade e recursos de tecnologia principalmente para engajar os participantes virtuais. Estratégias diferentes e novos métodos de engajamento são necessários. Tempo para desenvolvimento De 1 a 6 meses De 1 a 6 meses De 1 a 2 meses O tempo para o planejamento e desenvolvimento dos eventos pode variar, de acordo com o tipo de evento e suas especificidades. Fonte: Elaborado por Fernandes, 2022, com base em Martin e Lisboa, 2020, p. 15-17. Segundo Martin e Lisboa (2020), os principais benefícios para a realização de eventos digitais (virtuais e híbridos) em comparação com os eventos presenciais são em termos de: • Custo-benefício: esses eventos possuem um custo inferior ou inexistente para sua realização, principalmente em termos de estrutura, despesas com palestrantes, materiais gráficos, recursos humanos, entre outros; • Alcance: esses eventos não têm limitações de participação, independentemente da localidade dos indivíduos; • Sustentabilidade: considerando o menor deslocamento dos participantes, os resíduos ambientaise as emissões geradas em um evento presencial. Por fim, o ponto alto dos eventos digitais é que esses eventos podem ser prolongados e expandidos para os diversos públicos da comunidade digital. Os ambientes virtuais, em que os eventos digitais ocorrem, tornam-se um espaço de acesso ao conteúdo para além do evento, permitindo que seus participantes o consultem posteriormente. É possível, ainda, medir a experiência dos 18 participantes, já que os ambientes virtuais se tornam um espaço rico em informações sobre os participantes e seu engajamento com o evento (Successful Meetings, 2021). Saiba mais Para conhecer mais sobre os eventos digitais consulte o ebook Eventos Digitais – híbridos & virtuais, dos autores Vanessa Martin e Robson Lisboa, disponívem no site <https://mkt.midiacode.com/eventosdigitais>. Acesso em: 9 jan. 2023. TROCANDO IDEIAS Nesta etapa, aprendemos sobre os tipos de eventos e vimos os novos formatos de eventos digitais (virtual e híbrido) que ganharam destaque com a Pandemia do Covid-19. Nessa circunstância, você teve a oportunidade de participar de algum evento digital? Comparando os eventos digitais aos eventos presenciais, qual deles se adequa ao seu perfil ou desperta mais seu interesse para participar e se engajar? Compartilhe seu ponto de vista com seus colegas. NA PRÁTICA O grande desafio para os organizadores de um evento é transpor a dinâmica de um evento presencial para um evento digital. Segundo Martin e Lisboa (2022, p. 55), o domínio e a articulação de alguns itens são essenciais por parte dos organizadores e palestrantes, quando falamos em promover eventos digitais, sendo eles: • Conhecer o perfil dos participantes; • Dominar o uso das ferramentas tecnológicas que serão utilizadas; • Definir estratégias para o engajamento e interação dos participantes; • Definir um roteiro e estruturar o discurso de abertura, apresentação do palestrante, orientações ao público e encerramento do evento; • Atentar para os detalhes de estrutura de transmissão, como áudio, imagem, iluminação e apresentação pessoal; e • Comunicar-se com clareza, fluidez e promovendo interação com o público. 19 Com base nos itens descritos, considere que você é uma pessoa que atua na organização e gestão de eventos. A pedido de um cliente, precisará alterar um evento que seria realizado presencialmente transformando-o em um evento virtual. Observando cada item apontado acima, responda com detalhes como você faria para executar cada item mencionado. FINALIZANDO Nesta etapa, aprendemos sobre a definição conceitual dos eventos, analisando os enfoques apresentados pelos autores que estudam o tema. Observamos que os eventos podem ser definidos como estratégia de comunicação, uma resposta a demandas do mercado e ao consumo, oportunidades de experimentação e direcionando-se para reunião de pessoas e sua interação. A partir da definição conceitual, conhecemos os cinco elementos fundamentais para a definição de um evento, sendo: tempo, planejamento, propósito, participantes e experimentação. Em seguida, falamos sobre a classificação dos eventos descritos a partir da dinâmica, tamanho, público, abrangência, impacto e objetivo propostos. Vimos, ainda, as principais categorias e tipos de eventos construídos a partir de uma lógica que considera a semelhança do escopo, formato, estrutura e especificações dos eventos. Entendemos, ainda, sobre as diferenças que envolvem as instituições públicas e as instituições privadas quanto a organização e promoção de um evento. Por fim, aprendemos sobre os novos formatos de eventos, os denominados eventos digitais, para isso apresentamos a diferenciação entre os eventos presenciais e os eventos virtuais e híbridos, esses dois sendo parte dos eventos digitais. 20 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. A. de; FERNANDES, F. R. Assessoria de negócios: do tradicional do digital. Curitiba: InterSaberes, 2021. BOND, M. T. de O.; OLIVEIRA, M. Manual do Profissional e Secretariado - Organizando eventos. Curitiba: InterSaberes, 2012. v. 4. BONFIM, M. V. (org.). Marketing de eventos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Manual de organização de eventos do Senado Federal. Brasília: Senado Federal, 2013. CZAJKOWSKI, A.; CZAJKOWSKI JÚNIOR, S. S. Eventos: uma estratégia baseada em experiências. Curitiba: Editora InterSaberes, 2017. DOLASINSKI, M. J. et al. Defining the field of events. Journal of Hospitality & Tourism Research, v. 45, n. 3, p. 553-572, 2021. DORTA, L. O. (Org). Fundamentos em técnicas de eventos. Porto Alegre: Bookman, 2015. DOWSON, R.; BASSETT, D. Event planning and management: Principles, planning and practice. Kogan Page Publishers, 2018. GETZ, D. Event management and event tourism. Canada: University of Calgary, 2004. _____. Event tourism: Definition, evolution, and research. Gestão de Turismo, v. 29, n. 3, p. 403-428, 2008. LUKOWER, A. Cerimonial e Protocolo. 4. ed. 2ª reimp. São Paulo: Contexto, 2015. MARTIN, V.; LISBOA, R. Eventos digitais: híbridos e virtuais. 2020. Disponível em: <https://mkt.midiacode.com/eventosdigitais>. Acesso em: 9 jan. 2022. MATIAS, M. Organização de eventos – procedimentos e técnicas. 6. ed. Rev e atual. São Paulo: Manole, 2013. E-book Kindle. MELO NETO, F. P. de. Criatividade em eventos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2012. 21 NAKANE, A. et al. Eventos Virtuais - Fato ou Tendência no Cenário Brasileiro? Revista de investigación en turismo y desarrollo local, España, v. 5, n. 13, p. 1-13, 2012. NAKANE, A. Gestão e Organização de Eventos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. OLIVEIRA, A. S. de O. Organização de eventos, protocolo e cerimonial: do público ao corporativo, do presencial ao digital. Curitiba: InterSaberes, 2022. SUCCESSFUL MEETINGS. Redefining Normal With a Digital-First Approach to Events. 2021. Disponível em: https://www.successfulmeetings.com/Strategy/Meetings-Events/redefining- normal-digital-first-approach-events . Acesso em: 9 jan. 2022. Conversa inicial Contextualizando Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS