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1 Introdução à Radiologia Torácica pt2 Os passos mais importantes dentro da radiologia compreendem a identificação de alterações, localizá-las, topografá-las, descrevê-las e, por fim, classificá-las; a classificação deverá levar em conta o quadro clínico do paciente. As alterações que aumentam a densidade pulmonar são chamadas de opacidades, que se subdividem em focais (apenas uma região mais branca) ou difusas (múltiplas regiões mais brancas). Opacidades focais ● Consolidação ● Atelectasia ● Nódulo ou massa Consolidação (a mais comum) → opacidade focal O ar dos alvéolos é substituído por líquidos, o que aumenta a sua densidade (torna-se mais opaco). Como os alvéolos são a área acometida e, em geral, a porção condutora está pérvia, a consolidação aparece nas periferias torácicas com presença de broncogramas aéreos. Cada tipo de líquido que preenche os alvéolos aponta para uma patologia diferente: ● Transudato (líquido não inflamatório) → edema pulmonar (ICC descompensado que pode evoluir para derrame pleural) ● Exsudato (líquido inflamatório) → pneumonia ● Sangue (trauma) → hemorragia pulmonar ● Câncer → carcinoma bronquioloalveolar O quadro clínico é essencial para se saber do que se trata esse líquido e o diagnóstico. O pulmão direito aparece mais opaco que o pulmão contralateral, portanto trata-se de uma opacidade. É mal delimitada (não dá para dizer onde começa e termina); ocupa do terço inferior ao superior, mas não é possível topografar (dizer em qual lobo está). Dentro da consolidação observa-se linhas escuras (broncogramas aéreos, ou seja, o ar ainda está na porção condutora; a porção afetada são os alvéolos, que estão repletos de líquido). 2 Ambos pulmões apresentam alterações com aumento da opacidade. São mal delimitadas e com broncogramas aéreos. No perfil é possível observar a opacidade maior no terço médio. Broncograma aéreo A consolidação, portanto, é uma área de opacidade pulmonar, geralmente mal delimitada, sem perda de volume e com presença de broncogramas aéreos. Pode ser lobar, difusa (sem característica focal, espalhada por toda parte) ou multifocal (várias regiões, mas de forma focal). 3 Atelectasia → opacidade focal Trata-se de um colapso de um segmento pulmonar ou de um dos pulmões inteiro. O esquema representa uma obstrução do brônquio superior direito, o que gerará uma dificuldade do ar entrar e sair dessa região, o que leva a um colapso. As causas são diversas: Obstrutiva (endobrônquica): é a causa mais obvia, onde há uma obstrução física na porção condutora; pode ser causada por carcinomas, corpos estranhos, tampão mucoso, etc. Passiva: há uma alteração próxima ao pulmão, impedindo sua expansão por causar compressão. Nesse caso, a via aérea (porção condutora) está pérvia. Pode ser causada por derrames pleurais, pneumotórax ou tumores extrapulmonares de grande volume. Fibrocicatricial: o pulmão foi acometido por um processo inflamatório, curou e após a cura, ocorreu uma alteração cicatricial que mudou suas características de forma que impede sua expansão. O tecido fibrótico alterou as características alveolares, impedindo a expansão. Por aderência: o melhor exemplo é a deficiência do surfactante, comum nos recém-nascidos. Sem surfactante, os alvéolos colabam, e entram em colapso. A porção com aumento de opacidade acomete o pulmão direito em seu terço médio/inferior. Em perfil, projeta-se acima do coração (sua topografia, portanto, é no lobo médio). É uma opacidade bem delimitada, apresentando aspecto geométrico; seu contorno apresenta uma continuidade com o mediastino, o que caracteriza o sinal da silhueta (toda opacidade que apresenta continuidade [é justaposta] com o mediastino, ou seja, não é mais possível diferenciar os contornos da opacidade e do mediastino, recebe o nome de sinal da silhueta). 4 A alteração de opacidade se encontra no terço superior direito. É bem delimitada, permitindo até mesmo o traçar de uma linha; não se observam broncogramas aéreos, portanto não se trata de uma consolidação (as consolidações devem apresentar broncogramas aéreos). Trata-se de uma atelectasia do lobo superior direito. Observa-se o colapso do lobo superior direito, elevando a fissura horizontal para cima (é a linha que se observa bem evidentemente); lembre-se que as atelectasias sempre retraem os tecidos justapostos consigo. Observe a fissura horizontal em perfil. A atelectasia, portanto, é uma área de opacidade pulmonar geralmente geométrica (especialmente triangulares), onde há perda de volume, podendo estar associada a elevação do diafragma e desvio ipsilateral do mediastino/traquéia (ipsilateral: o desvio ocorre para o mesmo lado onde há a atelectasia). 5 Nódulo/massa → opacidade focal São áreas de opacidade, normalmente arredondadas localizadas de forma solitária ou múltipla. Seu contorno pode ser bem delimitado (maior parte das vezes) ou não. Os nódulos possuem até 3 centímetros, enquanto a massa apresenta mais de 3 centímetros. As causas do nódulo solitário são: ● Tuberculoma ○ Um nódulo decorrente da tuberculose ● Tumores e carcinoma em geral ● Metástase isolada ● Hamartoma As causas de múltiplos nódulos são: ● Metástases pulmonares ● Embolia séptica ● Aspergilose angioinvasiva (infecção fúngica em pacientes imunossuprimidos) Observe o nódulo no pulmão esquerdo, em seu terço médio. É uma opacidade única bem delimitada do tipo massa (maior que 3 centímetros). Não apresenta formas geométricas triangulares, descartando a possibilidade de atelectasias. Múltiplos nódulos, característico de uma metástase pulmonar multifocal. 6 Opacidades difusas (não cai na prova) São opacidades que acometem a porção final do lóbulo pulmonar secundário. Resumo das alterações de opacidade Nota: a atelectasia desse esquema projeta-se na língula (área anterior). 7 Os padrões de hipertransparência, assim como as opacidades, podem ser focais ou difusas (unilateral ou bilateral). Hipertransparência focal ● Escavação (cavernas) ● Cisto e bolha ● Pneumatocele Escavação (caverna) → hipertransparência focal Uma área de necrose do pulmão que acaba fazendo uma comunicação com as vias aéreas; como consequência, essa área necrótica se enche de ar e fica hipertransparente. Geralmente possuem paredes espessadas e irregulares (ainda assim são consideradas bem delimitadas), podendo conter em seu interior gás e líquido, recebendo o nome de nível hidroaéreo. As causas mais comuns são abscessos e neoplasias. Presença de uma hipertransparência de forma focal no terço médio do pulmão direito, na região peri-hilar (próxima ao hilo). Ao redor da hipertransparência, observa-se um halo hiperdenso com bordas irregulares, característicos de uma escavação. Essa imagem representa outra escavação. Dessa vez localizada no terço superior do pulmão direito e periférica. Apresenta um halo hiperdenso de bordas irregulares, mas relativamente bem delimitadas, e um centro hipertransparente, característico de processos necróticos. É uma escavação típica de TB. 8 Pneumatocele → hipertransparência focal Trata-se de um achado característico em crianças no momento pós tratamento de pneumonia, onde houve cura. Parece uma escavação, mas suas bordas são muito bem delimitadas e regulares (diferente da escavação por TB, que apresenta paredes irregulares). É possível observar o nível hidroaéreo (a metade de baixo é líquido e a metade de cima é gás). Esse achado é uma sequela de pneumonia, geralmente causada por Staphylococcus, denominada Pneumatocele. Não há mais infecção nesse momento, afinal aparece após a cura. É uma possível evolução de pneumonias em crianças causada por Staphylococcus, mas não é uma regra. Nota: a criança apresentava melhoras clínicas significativas antes mesmo de se verificar esse achado, indicando mais uma vez que o quadro infeccioso já havia cessado. 9 Cisto/bolha → hipertransparência focal Essa imagem apresenta uma alteração do pulmão esquerdo, em seu terço superior. A parede é muito fina e regular, diferente das escavações e pneumatocele. Trata-se, portanto,de um cisto pulmonar (nesse caso é um cisto, mas as bolhas são semelhantes). A característica dessas alterações é a parede extremamente fina. Hipertransparência difusa (unilateral ou bilateral) O principal exemplo de hipertransparência difusa é o enfisema (um tipo de DPOC). Lembre-se: o enfisema é uma resposta inflamatória crônica frente à exposição contínua de partículas causadoras de injúria (geralmente decorrente do tabagismo). A destruição alveolar característica do enfisema leva a uma obstrução do fluxo aéreo, onde o ar entra nos pulmões, mas não consegue sair, gerando uma distensão e hipertransparência (está muito distendido com ar, que garante uma característica hipertransparente [preta]). Nota: a hipertransparência difusa característica do enfisema será sempre bilateral. 10 Sinais radiológicos do enfisema (o tipo mais comum de hipertransparência difusa) ● Hipertransparência (principal) ○ Os pulmões ficam mais escuros ● Pobreza das silhuetas vasculares ○ A trama vascular (linhas brancas que seguem até as periferias) fica reduzida ● Cúpulas diafragmáticas rebaixadas e retificadas ○ Consequentemente há um aumento longitudinal dos pulmões (ficam com um aspecto “comprido”) ● Aumento do diâmetro ântero-posterior na imagem em perfil ○ Tanto do espaço retroesternal quanto do espaço retrocardíaco, como observado abaixo 11 A presença do rebaixamento/retificação da cúpula diafragmática associada à presença das bolhas volumosas periféricas pode ser característica do enfisema bolhoso. A imagem acima representa um pneumotórax de grande volume (provavelmente um pneumotórax espontâneo [sem traumas]). Observe a ausência de trama vascular até a periferia; a silhueta do pulmão esquerdo aparece próximo à silhueta cardíaca do lado esquerdo. Todo o espaço pleural foi preenchido por ar e o pulmão esquerdo se apresenta comprimido na região peri-hilar esquerda. Esse é um exemplo de hipertransparência difusa unilateral. 12 Tomografia computadorizada (pt2) Em poucas palavras, trata-se de um raio x complexo. Isso acontece pois vários disparos de raio x são feitos enquanto a máquina circula o paciente (360º). Após isso, é feita uma reconstrução dessa série de “fotos”. Apresenta tons de preto, branco e cinza mais complexos que o raio x convencional. O corte axial (horizontal; divide o paciente em inferior e superior) é aquele que produz uma imagem com aparência de “bolacha”. Os pulmões são a parte mais escura da tomografia, circundando o fígado e baço. Essa imagem é a mesma que a anterior, mas teve suas densidades configuradas (chamado de janela) de forma diferente para melhor visualização do parênquima pulmonar (que na imagem acima aparece completamente preto). Dessa vez, o parênquima pulmonar é bem visualizado enquanto o restante fica hiperdenso (muito branco). 13 Essa tomografia foi feita em um corte sagital (dividindo o paciente ao meio, em direita e esquerda). A janela (configuração da radiação) está adequada para avaliação pulmonar, e não às partes moles que circundam o órgão. Esse é um corte coronal (dividindo o paciente ao meio, em frente e trás). A janela foi adequada para a avaliação de ossos. Essa é uma reconstrução 3D de um corte coronal, onde se visualiza exclusivamente a parte óssea do paciente. Essa subtração das estruturas de não interesse, destacando a estrutura/tecido de interesse pode ser feita com qualquer órgão/tecido. 14 Vantagens da tomografia ● Melhor avaliação anatômica ● Melhor avaliação pulmonar ● Melhor avaliação mediastinal Desvantagens da tomografia ● Radiação muito maior que o raio x convencional ○ O paciente que faz tomografia com muita frequência pode desenvolver mutações e, no pior caso, câncer; portanto, sempre evitar! ● Alto custo ● Deslocamento do paciente até o localização do aparelho ○ Não é possível fazer no leito, como se faz com o raio x Tipos de opacidade São bastante semelhantes ao raio x. Consolidação: hiperdensidade (acúmulo de líquidos nos alvéolos), com perda da trama vascular, sem perda de volume e com presença de broncogramas aéreos (pontos pretos entre a hiperdensidade), representando a porção condutora pérvia que ainda possui ar. Vidro fosco (ou despolido): trata-se de uma opacidade, mas menos hiperdenso que a consolidação (não é tão branco quanto a consolidação). Esse padrão não obscurece as tramas vasculares, que são os achados brancos encontrados nas regiões cinzas claras. Nota: não é um aspecto de imagem exclusivo do COVID-19. 15 O nódulo/massa apresenta-se de forma semelhante ao raio x, onde a diferença é seu diâmetro (nódulo até 3 cm e massa maior). A imagem ao lado é característica do enfisema (hipertransparência difusa bilateral). Observe a presença de bolhas por toda área pulmonar. 16 Os cistos são hipodensidades (ou hipertransparências) focais com paredes finas delimitando-os. Escavações: estruturas arredondadas com conteúdo hiperdenso; pode apresentar uma pequena região hipodensa característica da presença de gás. Observe que as paredes (halo) são espessas, diferentes das bolhas e cistos. Nesse caso, especificamente, trata-se de uma infecção fúngica (paciente imunossuprimido). Na imagem acima é possível observar o pneumotórax em um RX convencional e na tomografia. Fica muito mais evidente na tomografia o pulmão colapsado com o espaço pleural repleto de ar. 17 Tromboembolismo pulmonar (TEP) É comum aparecer nos enunciados a seguinte frase: “paciente com dor no membro inferior direito (ou esquerdo; na maioria dos casos é unilateral)” É a principal causa de óbito em pacientes hospitalizados; seu tratamento é altamente eficiente, capaz de mudar completamente a evolução da doença. Por isso, o diagnóstico deve ser feito rapidamente, iniciando a terapia com anticoagulantes, acabando com a formação de trombos (geralmente originados dos MMII). Como dito acima, o TEP normalmente evolui a partir de uma TVP (trombose venosa profunda), mas um trombo de qualquer sítio venoso que se embolie e chegue até as artérias pulmonares pode causar TEP. Achados de TEP no RX ● Oligoemia regional (ou sinal de Westermark) → pode ser cobrado em provas ○ Trata-se de uma região pulmonar que apresenta pobreza vascular, ou seja, a trama vascular fica pouco evidente ○ Difícil de ser observado na prática ● Aumento do calibre da artéria pulmonar central (sinal de Fleischner) ● Consolidação periférica em formato de cunha (cuneiforme) com a base voltada para a periferia e a ponta voltada para a região hilar (sinal da corcova de Hampton) ● Pequeno derrame pleural (unilateral ou bilateral) ○ Esse é um sinal extremamente inespecífico ○ Apesar de inespecífico, ajuda muito na prática clínica ○ Quando é inexplicável, associado a diversos fatores de risco para TVP (viagem longa, trombofílico, acamado pós cirurgia, etc) e o paciente apresenta clínica de dor torácica e dispnéia, esse pequeno derrame pleural pode ser o diagnóstico de TEP ○ O paciente com essa clínica pode apresentar nenhuma outra alteração pulmonar além do derrame → suspeitar de TEP 18 Essa imagem representa o sinal de Westermark ou oligoemia regional. Perceba que a trama vascular segue até a periferia em todo pulmão esquerdo, exceto no terço superior. Não há características de cistos, bolhas ou qualquer das alterações mencionadas anteriormente neste resumo. A artéria que nutre essa região está obstruída pelo êmbolo, apresentando uma pobreza vascular. A hipertransparência unilateral sem características de lesões císticas, bolhas, pneumotórax, DPOC faz pensar em TEP. A ausência de outros achados pode ser uma referência para se pensar em sinal de Westermark. Característico de um TEP maciço (esse sinal raramente será visto na prática). Observe a pequena retificação do seio costofrênico direito (apresenta-se hiperdenso); é o pequeno derrame pleural. 19 Tomografia como padrão ouro para TEP Esse exame é o mais sensível para o diagnóstico de TEP. Será observado um defeito de enchimento: a imagem hipodensa (ou hipertransparente) dentro da artéria pulmonar significa a obstruçãoparcial ou total deste vaso. Essa alteração pode ser observada somente frente a utilização de um contraste EV (produz cor branca nos vasos [é radiopaco]), que não conseguirá passar pela obstrução, evidenciando-a. Além disso, na tomografia também é possível observar o sinal da corcova de Hampton (consolidação cuneiforme): essa consolidação pode ser decorrente de um infarto pulmonar ou hemorragia pulmonar. Assim como no RX, também é possível observar a oligoemia regional (sinal de Westermark) na tomografia. Pode ser formada uma atelectasia laminar (uma pequena parte do parênquima pulmonar pode colapsar), ou ainda, é possível observar o pequeno derrame pleural em alguns casos. Nesta corte axial, é possível identificar dois grandes círculos (um do lado direito e na frente1 e outro do lado esquerdo e para trás2). O primeiro representa a porção ascendente da aorta e o segundo representa a porção descendente da aorta (o arco não pode ser observado na altura desse corte). Ao lado da aorta ascendente, é possível observar o tronco arterial pulmonar, que se divide em ramo esquerdo e direito. Observe que o ramo esquerdo apresenta uma porção que está mais cinza (hipodensa) arredondada, o que corresponde ao êmbolo. Outra porção cinza (hipodensa) mais comprida (na bifurcação do tronco arterial pulmonar) também obstrui o ramo esquerdo e parte do ramo direito. Lembre-se que o contraste torna o interior dos vasos de cor branca. 20 Nesse corte coronal, observa-se a artéria pulmonar esquerda com uma obstrução (na ponta da seta). Nesse corte axial, a imagem do lado direito representa a normalidade. Do lado esquerdo (onde existe a seta), a veia poplítea apresenta-se com calibre aumentado: seu conteúdo é um trombo (TVP) que deu origem ao TEP. 21 Neste corte coronal, o círculo destaca o sinal da corcova de Hampton (consolidação cuneiforme com a ponta voltada para a região hilar e base voltada para a periferia), característica de infarto ou hemorragia pulmonar. Esse achado é secundário ao TEP. A seta vermelha mostra que se trata de um TEP bilateral (acomete o vaso na porção baixa [artéria esquerda] e porção alta [artéria direita]), mas que apresentou um infarto na base pulmonar direita. RX vs Tomografia 22 Tuberculose Nessa condição causada pelo Mycobacterium tuberculosis pode ocorrer a formação de granuloma com necrose caseosa; em sua forma primária, gera-se o complexo de Ranke (e apresenta cura espontânea na maioria). Já a forma pós-primária acontece em cerca de 5% dos infectados. TB primária Mais comum em crianças, cursando com linfonodomegalias hilares e mediastinais identificáveis na radiografia. A opacidade pulmonar apresenta-se de várias formas: ● Consolidação ● Escavação ● Calcificações ● Sinais de disseminação broncogênica ○ Aspecto de árvore em brotamento A forma miliar também é comum em crianças, mas principalmente presente em indivíduos que não foram vacinados com a BCG e/ou imunossuprimidos. Devem ser destacadas as linfonodomegalias, que são quase exclusivas da TB primária (a TB pós-primária raramente apresenta essa alteração); também destacam-se as consolidações, mais comuns que escavações e outras alterações. A grande opacidade peri-hilar direita representa a linfonodomegalia; não é possível delimitar o mediastino e essa área opaca (sinal da silhueta), portanto essas estruturas estão ou no mediastino ou em estruturas pulmonares grudadas no mediastino. 23 Essa alteração é referente a uma criança de 10 anos com TB primária. Observa-se uma opacidade mal delimitada, sem aspecto geométrico no terço inferior direito. É possível observar uma cavitação (escavação) e consolidação. Nesta tomografia axial é possível observar mais escavações. 24 É possível observar consolidações com pequenas bolinhas (na ponta da seta); esse achado é denominado aspecto de árvore em brotamento (tree in bud). Esse aspecto quer dizer que existe disseminação broncogênica, ou seja, existe doença ativa preenchendo o brônquio capaz de transmissão. Esse paciente precisa ser isolado. 25 TB miliar: comum em não vacinados por BCG ou imunossuprimidos. Apresenta múltiplos micronódulos com distribuição randômica por todo o pulmão. TB pós-primária Mais comum em adultos. Apresenta opacidades parenquimatosas, consolidação, vidro fosco; essas alterações geralmente se localizam nos segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores e nos segmentos apicais dos lobos inferiores, ou seja, no terço superior dos pulmões. Também serão observadas comumente as escavações, nódulos e micronódulos centrolobulares (aspecto de árvore em brotamento). Nesse tipo de TB não há linfonodomegalia (na verdade pode aparecer, mas muito raro; para fins práticos, considerar que não existe). 26 Nesse caso aparecem: escavações (duas), consolidações periféricas com broncograma aéreo e vidro fosco. Essa é uma imagem típica de TB pós-primária: área de escavação no terço superior direito (área típica) com bordas irregulares, espessas e hiperdensas; seu centro é hipertransparente, evidenciando a necrose caseosa. 27 Sequelas da TB As sequelas de TB são comuns: formam traves fibrocicatriciais; essas traves alteram a arquitetura e “puxam” o parênquima próximo (podendo até mesmo ser uma causa de atelectasia). Como as traves puxam o parênquima e também brônquios, estes últimos podem ficar dilatados apresentando bronquiectasias. Normalmente essas alterações estão concentradas no lobo superior. É possível observar as traves fibrocicatriciais (as linhas brancas do lado direito da imagem → lado esquerdo seu que está lendo). Do lado esquerdo da imagem, observa-se a bronquiectasia: esse é um brônquio dilatado na periferia (deveria estar com um pequeno calibre). Por vezes, essas alterações podem ser vistas em conjunto com uma TB ativa: trata-se de um paciente que teve TB no passado e apresenta novamente; é comum observar os micronódulos centrolobulares (aspecto de árvore em brotamento), escavações, consolidações, etc (como é o caso da primeira imagem da página 26 → próximo a escavação menor é possível observar as traves fibrocicatriciais). 28 Quando se observa uma escavação com conteúdo hiperdenso em seu interior, suspeitar de micetoma (ou bola fúngica, ou aspergiloma). O paciente não está mais com TB, mas evolui com uma infecção fúngica (normalmente acontece com imunossuprimidos). COVID-19 A indicação dos exames de imagem do COVID-19 deve ser específica e cautelosa; não é necessário fazer em todos os pacientes que testam positivo. Pode ser feita a radiografia de tórax, tomografia ou angiotomografia (quando se pensa em TEP). RX e COVID-19 A radiografia (RX) apresenta baixa sensibilidade para COVID-19. O vidro fosco pode ser visto no RX, mas é muito sutil; hoje em dia, que não existem casos muito graves, esse sinal se torna ainda mais difícil de ser visto. Geralmente o RX para COVID-19 é feito como triagem, na tentativa de identificar patologias concomitantes: por exemplo, um paciente que testou positivo para COVID-19, está tossindo e prostrado e ao fazer um RX apresenta uma área de consolidação, suspeitar de uma pneumonia bacteriana de outra origem. Achado do COVID-19: opacidade periférica geralmente de predomínio de lobos inferiores e vidro fosco. 29 A evolução de um paciente com COVID-19; na última imagem é possível observar consolidações multifocais e periféricas com padrão de vidro fosco. Tomografia e COVID-19 A tomografia é um excelente exame para COVID-19, especialmente no que tange a visualização do vidro fosco, que costuma ser multifocal, bilateral, geralmente com contorno arredondado, periférico e com predileção aos lobos posteriores. A pavimentação em mosaico é a representação do vidro fosco associado ao espessamento septal. Em formas graves, pode criar consolidações como das pneumonias bacterianas. Observe o padrão de vidro fosco (cinza claro); algumas são peri-hilares, mas o predomínio é periférico. Costumam ser multifocais e podem confluir (se agrupar/unir). 30 Essas linhas que parecem raízes presentes no vidrofosco são denominadas pavimentação em mosaico. Trata-se de um paciente que está em pico inflamatório de COVID-19: apresenta vidro fosco associado à consolidação (o vidro fosco é a área cinzenta e as consolidações as áreas brancas em cima do vidro fosco). 31 Prática Caso 1: Masculino, 62 anos, falta de ar e tosse há 3 dias. Suspeita de COVID-19 Ao comparar com o lado contralateral, existe uma opacidade assimétrica no seio costofrênico esquerdo. A tomografia do mesmo caso revela perifericamente vidro fosco com consolidação (não há trama vascular; há broncograma aéreo). A localização dessa alteração borra levemente o contorno esquerdo do coração, indicando que sua localização é na região da língula. Trata-se de uma broncopneumonia bacteriana. Não se trata de COVID-19; o padrão de vidro fosco do COVID-19 nunca é unilateral. 32 Como mencionado acima, se há sinal da silhueta do lado esquerdo, provavelmente a localização é próxima à língula. Caso 2: Feminino, 35 anos, dor torácica e falta de ar, suspeita de COVID-19. A paciente apresentava fraturas múltiplas dos arcos costais, com aspectos recentes e aspectos antigos. Concluiu-se que se tratava de um caso de violência doméstica. 33 Caso 3: Feminino, 66 anos, falta de ar e dores no peito há 20 dias. AP: revascularização miocárdica Note que na região do arco aórtico há um grande aumento de volume com característica hiperdensa (opaca). Pode-se pensar inicialmente que se trata de um aneurisma de aorta. Foi pedida uma tomografia: Observe que no corte coronal e no corte sagital a aorta apresenta duas cores diferentes: uma mais branca (hiperdensa) e outra mais cinza (hipodensa). Essa diferença de tons representa duas luzes diferentes, observáveis devido ao uso de contraste endovenoso. Isso é característico de dissecção de aorta. 34 No corte axial, evidencia-se a luz verdadeira e a luz falsa (onde houve a dissecção e o contraste entrou). Caso 4: Paciente do sexo masculino, 42 anos, com mal estar, astenia, dor epigástrica há 3 dias. Exame físico: baço palpável abaixo do rebordo costal. Corte coronal: o paciente apresenta hepatoesplenomegalia e várias linfonodomegalias nas cadeias mesentéricas. 35 Na tomografia torácica (axial) o paciente apresenta escavações, consolidações e micronódulos centrolobulares (aspecto de árvore em brotamento). Trata-se de um caso de TB pós-primária em atividade com TB ganglionar (linfonodomegalia mesentérica) com sinais de doença em atividade. 36 Caso 5: Sexo feminino, 68 anos, diverticulite aguda evoluindo com sepse e queda do estado geral. Essa paciente teve a cânula de intubação orotraqueal colocada seletivamente no brônquio fonte direito; o lado esquerdo não recebeu ventilação, o que ocasionou atelectasia total do pulmão esquerdo. O efeito retrátil da atelectasia deslocou o coração para o lado esquerdo, desaparecendo seu contorno, assim como a traquéia que também desviou para a esquerda. A cânula deve ser posicionada corretamente garantindo que ambos os pulmões estão sendo ventilados. 37 A atelectasia total do pulmão esquerdo observada na tomografia axial. Não esquecer de checar a posição da sonda nasoenteral Nessa imagem é possível observar que a sonda está localizada no brônquio esquerdo. Se for confirmada a posição da sonda, o paciente pode sofrer pneumonia aspirativa.
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