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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Sumário
Apresentação.......................................................................................................................................3
Objetivos..............................................................................................................................................3
Os Fatores da Textualidade...............................................................................................................4
A Coesão............................................................................................................................................17
A Coerência.......................................................................................................................................29
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................41
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Apresentação
Como vimos na Aula 1, o texto não é um aglomerado de palavras e
frases isoladas, mas um todo significativo. Na verdade, para que se constitua
como tal, são necessários alguns recursos para estabelecer sua articulação e
encadeamento. Nesta aula, vamos conversar sobre os aspectos que
contribuem para que haja articulação no texto, falado ou escrito, e sua
textualidade seja organizada, ou seja, vamos tratar dos fatores de
textualidade.
Objetivos
 Apresentar noções básicas sobre a textualidade e os elementos que a
constituem, com foco especial na coesão e na coerência.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Os Fatores da Textualidade
Objetivo: Conceituar textualidade e caracterizar os fatores de
textualidade pragmáticos.
Comecemos nossa conversa com a questão:
DÚVIDA
O que é textualidade?
Vamos responder a essa questão a partir da análise texto a seguir.
Resgate do Ibirapitanga
Os índios chamavam este vegetal de cor vermelha de Ibirapitanga. Os
europeus - principalmente franceses e portugueses que fizeram muitas
guerras disputando a árvore no Litoral brasileiro -, o denominavam pau
brasil, comparando-o a uma brasa saída do fogo. Além de tudo, a planta
fornecia uma tinta de boa qualidade, que servia para tingir tecidos. Hoje,
quase extinto, o pau brasil está renascendo, no litoral da Paraíba, através do
Projeto de Preservação Ambiental e Difusão do Pau Brasil, patrocinado pela
Cia. Usina São João, de Santa Rita, a 12 Km da capital. (…)
GOUVÊA, Hilton. A União. João Pessoa/27de abril de 2007.
Percebemos nesse texto a conexão entre seus segmentos e a interligação
entre todos eles. Desse modo, as frases não estão justapostas de forma
desordenada, jogadas aleatoriamente, mas sim interligadas entre si, de forma
organizada, apresentando uma concatenação lógica, para a produção de
sentidos.
Nesse contexto, a textualidade é um conjunto de características que
fazem com que um texto seja considerado como tal, e não como um
amontoado de palavras e frases.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Vejamos o que dizem alguns estudiosos.
"Textualidade é um conjunto de características que fazem com que um
texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases."
(COSTA VAL, 2006, p. 5)
"Textualidade ou textura é o que faz de uma sequência linguística um
texto e não uma sequência de frases ou palavras. A sequência é percebida
como texto quando aquele que a recebe é capaz de percebê-la como uma
unidade significativa global."
(KOCH; TRAVAGLIA, 1990, p. 26-27)
"Textualidade não é percebida a partir de fragmentos isolados de um
texto pois o significado das partes sempre é determinado pelo contexto
dentro do qual se encaixam."
(FIORIN; PLATÃO, 1990, p. 25)
O que esses três estudos têm em comum?
O fato de reconhecer a textualidade com a função de fazer com que um
texto seja texto, sendo este extenso ou não, o que importa é ser uma unidade
significativa.
FIQUE ATENTO
A textualidade é um conjunto de características que nos faz perceber a
unidade textual como uma unidade significativa global, em que o significado
das partes se harmoniza num todo contextual. A esse conjunto é dado o
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
nome de fatores de textualidade.
Desse modo, para que o texto se caracterize como uma unidade de
sentido, há habilidades que precisam ser trabalhadas e adquiridas, sendo
necessário conhecê-las. Continuemos, então!
DÚVIDA
O que são fatores de textualidade?
São os elementos responsáveis pela textualidade. De acordo com
Beaugrande e Dressler (1983), há sete fatores de textualidade.
Dois relacionados ao material conceitual e linguístico do texto:
Coesâo Coerência
Cinco referentes aos fatores pragmáticos (contexto de situação, intenção
comunicativa, locutor e interlocutor) envolvidos no processo comunicativo.
Intencionalidade - Intertextualidade Aceitabilidade - Situacionalidade -
Informatividade
Nos tópicos 2 e 3 trataremos, respectivamente, da coesão e da coerência.
Neste tópico, vamos tratar dos fatores pragmáticos. Nesse momento, vamos
retomar o conceito de texto visto na Aula 1: o texto apresenta três unidades:
a sociocomunicativa, a semântica e a formal. A sociocomunicativa é composta
pelos fatores pragmáticos, a semântica é constituída pela coerência e a formal
pela coesão.
DÚVIDA
Você lembra das funções de linguagem já estudadas neste curso?
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Alguns fatores de textualidade, de modo semelhante às funções da
linguagem, associam-se diretamente aos elementos da comunicação.
DÚVIDA
O que isso quer dizer?
Quer dizer que ao produzir um texto, seja oral ou escrito, assumimos a
condição de emissor (locutor), situado em um determinado contexto,
enviando uma mensagem em um determinado código (língua), por um canal,
para um receptor (interlocutor). Por isso, aquele esquema de Geraldi (1997),
visto na Aula 1 deste curso, é tão importante para a produção de textos.
Comecemos, então, a apresentação dos fatores de textualidade
pragmáticos.
Intencionalidade
A intencionalidade está diretamente relacionada ao
emissor/locutor/produtor, que busca satisfazer os objetivos que tem em
mente numa determinada situação comunicativa: impressionar, alarmar,
persuadir/convencer, pedir, informar, explicar, instruir, ofender etc. Para que
isso aconteça, o processo comunicativo precisa se completar, isto é, a
mensagem enviada com uma intencionalidade, precisa ser captada e o efeito
pode ser atingido, segundo, mais ou menos, a intenção do
emissor/locutor/produtor.
EXEMPLO
Figura 1: Campanha publicitária de loja de eletrônicos
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
O exemplo trata-se uma campanha publicitária, texto em que domina a
função conativa ou apelativa. Logo, o que vem à mente de quem elaborou a
campanha é a intenção de convencer o interlocutor à adesão do consumo, ou
seja, quem produz o texto quer levar o interlocutor a comprar.
DÚVIDA
E no seu dia a dia profissional, você elabora seus textos colocando
recursos linguísticos e extralinguísticos a serviço da sua intenção
comunicativa?
Se você ainda não faz esse exercício diário, comece a partir de agora!
Mobilize os conhecimentos da língua portuguesa que tem, busque outros
que sente ainda serem necessários, afim de melhorar sua comunicação e
elabore textos, falados ou escritos, de modo a realizar suas intenções
comunicativas!
Aceitabilidade
A aceitabilidade, por sua vez, como afirma Costa Val (1999), é o “outro
lado da moeda”, centra-se no receptor do texto, nasua expectativa. Poder ser
definida como o conjunto de ocorrências de um texto coerente, capaz de
levar o interlocutor a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos
do produtor. A aceitabilidade depende da autenticidade (qualidade,
veracidade), da quantidade, pertinência e relevância das informações, bem
como ao modo como as informações são apresentadas (precisão, clareza,
organização, objetividade etc.).
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
EXEMPLO
Figura 2: Campanha publicitária de loja de eletrônicos
O exemplo trata-se uma campanha publicitária, texto em que domina a
função conativa ou apelativa. Logo, o que vem à mente de quem elaborou a
campanha é a intenção de convencer o interlocutor à adesão do consumo, ou
seja, quem produz o texto quer levar o interlocutor a comprar.
REFLITA
Que o seu texto deve ser caracterizado pela autenticidade (qualidade,
veracidade), quantidade, pertinência e relevância das informações?
Que os temas/fatos devem ser apresentados de forma clara, precisa e
organizada?
Logo, esse critério de textualidade deve estar presente no seu cotidiano,
principalmente, ao produzir: solicitações por meio de ofícios ou por meio de
e-mails e em reuniões nas quais necessite, por exemplo, tratar de mudanças
ou solicitar adesão a algum projeto que precise desenvolver. Se você trabalha
com atendimento ao público, esse é um critério a ser bem cuidado em suas
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
conversas, pois as pessoas só se sentirão satisfeitas se forem convencidas de
que o melhor foi feito por elas.
REFLITA
No seu cotidiano pessoal e profissional, você lembra de situações
comunicativas em que seu texto não foi aceito por alguém?
Por que será que, às vezes, seu interlocutor não coopera com você para
compreender bem a sua mensagem?
Ao refletir sobre essas perguntas, você, provavelmente, deve ter pensado
na linguagem e no vocabulário que utiliza, na forma como redige ou fala, nas
informações que insere no texto, na contextualização que faz do tema ou do
fato tratado, nos recursos linguísticos utilizados etc. Atente, então, para esses
aspectos!
Situacionalidade
A situacionalidade refere-se aos elementos que demonstram a
pertinência e a relevância (importância da informação) do texto com relação
ao contexto apresentado. Em outras palavras, é a adequação do texto à
situação sociocomunicativa. Com relação a esse aspecto, Costa Val afirma
que:
A situacionalidade refere-se aos elementos que demonstram a
pertinência e a relevância (importância da informação) do texto com relação
ao contexto apresentado. Em outras palavras, é a adequação do texto à
situação sociocomunicativa. Com relação a esse aspecto, Costa Val afirma
que:
"[...] há convenções que regem o funcionamento da linguagem na
interação social e que determinam, especificamente, qual o tipo particular de
discurso adequado a cada ato comunicativo. Essa questão é da maior
importância para quem trabalha com ensino de redação, pois vem daí o fato
de que a textualidade de cada tipo de discurso envolve elementos diferentes.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
O que é qualidade num texto argumentativo formal poderá ser defeito num
poema, ou numa história de suspense, ou numa conversa de botequim, por
exemplo."
(COSTA VAL, 1999, p.14)
Assim, um texto que é adequado em uma dada situação pode não sê-lo
em outra. Por isso, é importante adequá-lo à situação comunicativa.
A situacionalidade pode ser vista de duas formas:
• da situação para o texto;
• do texto para a situação.
Da Situação Para o Texto
Nesse caso, a situação deve ser entendida em sentido estrito (contexto
imediato da interação) e em sentido amplo (contexto sócio-político-cultural
da interação). A situação comunicativa interfere diretamente na maneira
como o texto é construído, por essa razão utilizamos os níveis de linguagem
(gerando variações linguísticas). Portanto, a cada produção textual, devemos
verificar:
• a intenção comunicativa;
• o gênero;
• a modalidade (fala ou escrita);
• o grau de formalidade;
• o nível de linguagem;
• o tratamento a ser dado ao tema;
• o lugar e o momento da comunicação;
• a imagem que você tem do seu interlocutor e que ele tem de você;
• os papéis desempenhados por você e pelo seu interlocutor;
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
• os pontos de vistas (seu e do seu interlocutor).
Enfim, todos os dados situacionais que influenciam a produção e a
recepção/compreensão do texto.
Do Texto Para a Situação
O texto também tem reflexos importantes sobre a situação comunicativa:
o mundo textual não é idêntico ao real. Ao produzirmos um texto, recriamos
o mundo conforme nosso(s) objetivo(s), convicções e crenças. Fazemos, dessa
forma, um recorte para a situação em que estamos inseridos. Por esse motivo,
podemos notar que se pedirmos para alguém descrever um mesmo objeto,
essas descrições não vão ser iguais. Se você pedir a dois colegas que relatem
o que transcorreu numa reunião, em que esteve ausente, verificará que os
relatos são distintos. Caso converse com quem coordenou a reunião, será um
outro relato, pois os colegas, que estiveram na posição de interlocutores,
interpretaram as informações sob as óticas deles.
EXEMPLO
Figura 3: Charge
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
No exemplo, temos o gênero charge, no qual o objetivo de quem o
produz é fazer uma crítica com um tom irônico. Na imagem, observamos que
o mundo é recriado no espaço de uma sala de aula, com dois personagens (a
professora e um aluno) que estão em uma aula de português, cujo assunto é
análise sintática (termos essenciais da oração). A intenção comunicativa de
quem elaborou a charge, nesse exemplo, é fazer uma crítica à conduta de
políticos. Para tanto, a professora faz a análise do período que está escrito no
quadro, “O eleitor confia na honestidade dos políticos”, pedindo que seja
indicado o sujeito da oração. O aluno ao responder “Só pode ser um Mané!”,
diz, de forma implícita, que o sujeito da oração é ”O eleitor”. Ao mesmo
tempo, o uso da expressão “Mané” (indivíduo tolo) estabelece a crítica, pois
só alguém que é ingênuo “confia na honestidade de políticos”. Por último, é
importante ressaltar que os elementos usados para a construção da charge
apresentam caráter atemporal, porque nos dias atuais essa ainda é uma
situação do mundo real.
DÚVIDA
Na sua comunicação pessoal e/ou profissional, no momento de escrever
um simples e-mail, você já atentou para os elementos que insere em seu
texto, a fim de estabelecer a situacionalidade?
Caso sua resposta tenha sido não, passe a observar os elementos que
utiliza em sua mensagem para contextualizá-la, lembre-se de que os
elementos que você seleciona para a constituição do seu texto devem sempre
estar adequados à situação comunicativa em questão.
Informatividade
A informatividade diz respeito à quantidade de informação, que deve ser
suficiente para que o texto seja compreendido com o sentido que o produtor
pretende. Não é possível nem desejável que o texto explicite todas as
informações necessárias. O fundamental é que não haja equívocos com as
informações para o interlocutor compreender a mensagem. O nível de
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
informação ideal é o mediano, no qual se alternam ocorrências de
processamento imediato, que abordem o que já é conhecido, com
informações novas.
Dessa forma, temos:
Discurso menos previsível Mais informativo (recepçãomais trabalhosa,
mais envolvente)
Discurso mais previsível Menos informativo (tendência à rejeição)
EXEMPLO
Figura 4: Tirinha do Garfield
Nesse exemplo, Jon, o dono do Garfield, faz uma redução da quantidade
de informações. No quadrinho 1, Jon diz a Garfield que ele “nem vai querer
saber” como foi o encontro, ou seja, não fornece informações suficientes para
que se compreenda o porquê de estar chateado. No entanto, Jon não dá
todas as informações de maneira explícita, mas o faz implicitamente.
Verificamos em seu rosto (quadrinho 1) a indicação de que o encontro não
ocorreu da maneira que desejava. Provavelmente, devido a algum
acontecimento desagradável no momento do encontro, ou até a uma série de
acontecimentos desagradáveis. No quadrinho 2, Garfield reflete. No
quadrinho 3, chega à conclusão de que os fatos, os quais foram
desagradáveis para Jon, para ele seriam interessantes e até mesmo uma
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
forma de diversão. Por conta disso, vai atrás de Jon para obter maiores
detalhes.
Muitas vezes, utilizamos construções como as de Jon ou semelhantes,
como, por exemplo, "Você não sabe o que me aconteceu" e "Nem te conto o
que aconteceu" – a fim de introduzirmos uma narrativa e, ao mesmo tempo,
de despertar o interesse do nosso interlocutor.
Intertextualidade
A intertextualidade envolve elementos que apontam para a utilização de
um texto em relação a outro(s) texto(s). Inúmeros textos só fazem sentido
quando entendidos na correlação com outros textos que funcionam como
contexto, pois um discurso constrói-se através de um já-dito em relação a
textos existentes anteriormente, que funcionam como seu contexto.
EXEMPLO I
Figura 5: Oração do Internauta
Nesse exemplo, o texto “Oração do internauta” dialoga com uma oração,
“Pai Nosso”. Reconhecemos essa relação a cada linha, em que verificamos
termos que fazem parte da oração. No exemplo, a seguir, a intertextualidade
é indicada com a inserção de citações.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
EXEMPLO II
De acordo com Antunes (2010, p. 36), a intertextualidade pode
acontecer de forma implícita sem citar a fonte original ou de forma explícita,
que ocorre “quando citamos ou fazemos referência direta ao que está dito
em outro texto, por outra pessoa”.
Quando a intertextualidade é apresentada como no Exemplo II, funciona
como um recurso para apoiar-se na palavra do outro, com a finalidade de
confirmá-la ou refutá-la. Em outras palavras, a alusão à palavra do outro
significa recorrer a uma estratégia argumentativa.
DÚVIDA
Você já refletiu sobre como a intertextualidade tem sido constituída em
seus textos orais e/ou escritos?
Muitas vezes, nas conversas do dia a dia, retomamos a palavra do
interlocutor ou citamos palavras de outros para fundamentar nossa fala e/ou
escrita, tendo em vista nosso objetivo comunicativo. São exemplos desse uso
as respostas a e-mails ou a ofícios, em que fazemos referência a trechos das
mensagens encaminhadas para dar um retorno afirmativo ou negativo.
Portanto, esse fator e os demais têm grande relevância em nossas
produções. Observar tais aspectos, bem como a coesão, que será estudada
no próximo tópico nos levará a estabelecer a coerência do texto (a ser vista
no tópico 3).
Vamos lá!
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
A Coesão
Objetivo: Conceituar coesão e apresentar os diferentes processos de
conexão entre os elementos do texto.
Vamos introduzir o tema deste tópico com a pergunta:
DÚVIDA
O que é coesão?
Vamos responder a essa questão com a análise do texto “Mito e
realidade”.
Mito ou Realidade
A natureza inteira, entre os gregos antigos, estava relacionada com as
potências divinas. Os rios e as florestas eram habitados por ninfas, que os
homens respeitavam tanto quanto os deuses. As tempestades, os raios, o
trovão eram interpretados como sinais da cólera de Zeus. Cada divindade
tinha seus atributos e suas funções. Todas as atividades humanas eram
representadas por um deus ou uma deusa.
DÚVIDA
Quais os recursos que dão tessitura ao texto?
Você conseguiu identificar? Quando o escritor usa, por exemplo, a
expressão “Cada divindade”, no segundo parágrafo, ele está se reportando a
que elementos do texto?
Para compreender a coesão, é necessário saber que existem marcas
linguísticas que tecem o texto, de modo a torná-lo uma unidade significativa.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Nesse sentido, os elementos coesivos “costuram” o texto dando-lhe
uniformidade.
Ao se reportar, por exemplo, a “Cada divindade”, o produtor do texto
retoma termos já citados como “ninfas, deuses, Zeus”, sendo, portanto, uma
forma referencial cuja finalidade é substituir palavras, para evitar a repetição
inadequada e permitir a continuidade do texto de forma lógica. Além disso,
funciona como um articulador entre frases e parágrafos, fazendo co que o
texto ganhe unidade de sentidos.
Considerando que o texto é um todo organizado, essa organização é
proveniente das diversas formas como as informações se amarram umas as
outras. Esse processo é chamamos de coesão textual.
Vejamos os conceitos de alguns pesquisadores do assunto.
"Manifestação linguística da coerência; advém da maneira como os
conceitos e relações subjacentes são expressos na superfície textual.
Responsável pela unidade formal do texto, constrói-se através de mecanismos
gramaticais e lexicais."
(COSTA VAL, 1999, p. 5)
"Grupo de mecanismos cuja função é assinalar determinadas relações de
sentido entre enunciados ou partes de enunciados que vai tecendo o tecido
(tessitura) do texto."
(KOCH; TRAVAGLIA, 2001)
"Coesão: por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de
recursos semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio
antes, aos recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A
cada ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam ‘laço’, ‘elo
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
coesivo’."
(HALLIDAY; HASAN, 1976, p. 12)
"Enunciados não amontoados caoticamente, mas estritamente
interligados entre si: conectados entre cada uma das partes."
(FIORIN; PLATÃO, p. 261)
Com base nesses conceitos, vamos compreender a coesão como os
recursos linguísticos presentes no texto para assegurar uma ligação
significativa entre frases e parágrafos, de modo a estabelecer a unidade e a
construção de sentido(s). Nessa perspectiva, existem diferentes estratégias de
coesão que dependem das escolhas do locutor e de suas intenções
comunicativas.
Halliday e Hasan (1976) citam como principais estratégias de coesão:
• a referência;
• a substituição;
• a conjunção; e
• o léxico.
Vamos então detalhar cada um desses processos.
Coesão Referencial
A coesão referencial ocorre quando fazemos referência a algum
elemento que pode ou não estar no texto. Para realizá-la, utilizamos
pronomes pessoais, possessivos, demonstrativos ou advérbios e expressões
adverbiais que indicam localização. Assim temos:
Referência Situacional (exofórica) Esse tipo de referência é verificado
quando nos remetemos a algum elemento (referente), que está fora do texto
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Referência Textual Esse tipo de referência é aquele em que o referente
está expresso no texto
A Vaguidão Específica
– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
– Junto com as outras?
– Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e fazer
qualquercoisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
[…]
Millôr Fernandes
O Homem Nu
Ao acordar, disse para a mulher:
– Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem
aí um sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe
dinheiro da cidade, estiou a nenhum.
– Explique isso ao homem – ponderou a mulher.
[…]
Fernando Sabino
No caso dos usos dos dois pronomes substantivos “isso” (destacados), há
uma diferença marcante entre eles. No Texto I, o referente de “isso” está fora
do texto, não há como recuperá-lo, temos a referência exofórica. Já no Texto
II, “isso” é uma remissão à situação de vexame, em que se encontra o homem
por ter esquecido o pagamento da televisão, portanto, uma referência do tipo
endofórica.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
A referência pode ser ainda catafórica e anafórica.
Referência Anafórica
Referência anafórica é registrada quando se retoma(m) termo(s) ou
frase(s) citado(s) anteriormente.
EXEMPLO
Figura 6: Tirinha Garfield
No último quadrinho da tirinha, o pronome “ela” retoma o termo “mina”
que está no primeiro quadrinho. Essa é uma referência do tipo anafórica.
Referência Catafórica
A referência catafórica é registrada quando o termo coesivo antecede o
referente.
EXEMPLO
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
No exemplo, o termo coesivo “tudo” anuncia termos que são citados
logo depois (“os filhos, os netos, a velha casa, as vinhas e os trigais”), ou seja,
antecede termos a que se refere.
Coesão Por Substituição
A coesão por substituição refere-se ao uso de conectivos ou expressões
(como, por exemplo, diante do que foi exposto, tudo o que foi dito, esse
quadro, a partir dessas considerações etc.) para sintetizar e retomar
substantivos, verbos, expressões e partes de textos já referidos.
EXEMPLO
No exemplo, a expressão coesiva “diante do que foi exposto” sintetiza e
retoma o que está dito nos parágrafos anteriores.
Coesão Por Elipse
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
A coesão por elipse ocorre quando omitimos um item lexical, pronomes,
verbos, nomes e frases, sendo facilmente recuperado pelo contexto. No
entanto, o sentido deve ser garantido. A elipse pode ser marcada por vírgula.
Nesse exemplo, o termo coesivo “eu” está oculto.
Coesão por Conjunção
A coesão por conjunção é aquela em que conjunções estabelecem
relações significativas entre os elementos ou orações do texto.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
EXEMPLO
No exemplo, os conectores destacados estabelecem a relação de adição.
Desse modo, são relacionados os benefícios que um estilo de vida saudável
pode trazer.
Coesão Lexical
Esse tipo de coesão pode ser estabelecido por meio da repetição do
mesmo item, de sinônimo, de hiperônimo e hipônimo, de nominalização, de
palavra de sentido geral (coisa ou evento), dentre outros recursos.
Repetição do mesmo item
EXEMPLO
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
No exemplo, a repetição de “paga” enfatiza a ação do Estado, explicando
o que é capitalismo, e estabelece a articulação entre as orações.
Sinônimo
EXEMPLO
No exemplo, os sinônimos garantem o encadeamento das ideias e a
continuidade do tópico (assunto de que se trata).
Hiperônimo (palavra de sentido genérico, representa uma classe) e
hipônimo (palavra de sentido específico, é um elemento da classe)
EXEMPLO
No exemplo, a coesão se estabelece na relação do hipônimo “sapos”
para o hiperônimo “anfíbios.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
EXEMPLO
No exemplo, a coesão se estabelece na relação do hiperônimo “árvore”
para o hipônimo “ipê”.
Nominalização (transformação de palavras de outras classes gramaticais
em substantivos).
EXEMPLO
No exemplo, a flexão “amei” (verbo “amar”) é transformada no
substantivo “amor”, para retomar o assunto de que se trata.
Palavras de sentido geral ou genérico (consiste no uso de nomes
abstratos, vagos, imprecisos - coisa, negócio, problema, situação, pessoa, ato,
fenômeno, algo etc... - para retomar um termo já citado).
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http://cursos.egp.ce.gov.br/AulaOnline/LinguaPortuguesaConstrucaoTextualidade/Modulo03/imagens/Figura06.9.png
Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
EXEMPLO
Fonte: http://deposito-de-tirinhas.tumblr.com
No exemplo, “alguma coisa” refere-se à forma de tratamento que foi
dada à namorada do Snoopy.
A coesão do texto, como vimos, promove e sinaliza as articulações entre
as partes que integram o texto, de modo a favorecer sua continuidade e sua
unidade. Desse modo, como declara Antunes:
"A coesão não apenas estabelece os nexos que ligam as subpartes do
texto como também sinaliza, marca onde estão os nexos e quais os pontos
que eles articulam. (...) A coesão, portanto, ultrapassa a mera ocorrência dos
elementos linguísticos na superfície do texto e está em íntima correlação
com a coerência do texto."
- (ANTUNES, 2005, p. 164)
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ATIVIDADE
Após o estudo deste tópico, ao produzir qualquer texto, oral ou escrito,
procure exercitar o uso de termos coesivos de modo a interligar orações.
Com isso, seus textos ficarão mais bem articulados e mais bem escritos.
No próximo tópico, vamos tratar da coerência.
Vamos lá!
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
A Coerência
Objetivo: Favorecer a compreensão do fator de textualidade coerência e
de como é construída.
Vamos começar nossa conversa, perguntando:
CURIOSIDADE
O que é Coerência?
A coerência é responsável pelo sentido do texto, sendo um fator
fundamental para sua compreensão. Costa Val (1999) explica que:
"o discurso é aceito como coerente quando apresenta uma
configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do
recebedor."
- (COSTA VAL, 1999, p. 05)
Quando alguém produz um texto, falado ou escrito, tem a intenção de se
fazer entender, isto é, de ser coerente com seus possíveis interlocutores.
Nesse sentido, todo texto tem coerência. No entanto, alguns trechos ou
aspectos desse texto podem apresentar problemas de incoerência local. Por
isso, é importante sabermos mais sobre o assunto.
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Vejamos os textos a seguir.
Texto I
Texto II
Texto III
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Após ler os textos, responda:
CURIOSIDADE
Os três textos sãocoerentes?
Sua resposta deve ser a de que somente os Textos I e II são coerentes,
pois o Texto III não apresenta unidade de sentido.
O texto I apresenta coerência entre as frases. A pergunta, que também é
o título, é respondida ao longo do texto de forma coerente. Além disso, é
esclarecido que o aumento do crescimento a cada geração é devido ao
consumo de proteínas.
O texto II traz o recurso da repetição, deixando clara a intenção do poeta
de enfatizar o caráter rotineiro, repetitivo e lento que caracteriza uma cidade
pequena no interior. A cada repetição, há uma informação nova, destacando
que há algo mais que se repete. Com isso, estabelece uma unidade de
sentido.
O texto III é incoerente, embora apresente elementos de ligação entre as
frases, pois o tópico (assunto) tratado na primeira oração não é desenvolvido
nas orações seguintes. Há ainda outras ideias que são inseridas no parágrafo
sem que se estabeleçam relações de sentido com as anteriores.
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Desse modo, há textos que apresentam uma sequência de enunciados
com termos coesivos, mas não constituem textos, pois lhes falta coerência.
No entanto, há textos que podem ser coerentes mesmo sem elementos
explícitos de coesão. Vejamos o Texto IV.
Texto IV
No primeiro momento em que lemos o texto, parece ser somente uma
lista de palavras. Entretanto, numa segunda leitura, notamos que a sequência
trata da ida de uma pessoa a um show. O título do texto ativa em nossa
mente o esquema básico de um show. As pessoas, de um modo geral, têm
esse esquema na mente, algumas, de acordo com suas experiências, podem
incluir mais detalhes do que outras. As ligações não explicitadas entre as
palavras são, então, estabelecidas e o sentido do texto é construído.
Assim,
"para haver coerência é preciso que haja possibilidade de estabelecer
no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos."
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
(KOCH; TRAVAGLIA, 2001, p. 21)
Entre os que pesquisam as formas de coerência, Koch; Travaglia (2001),
Beaugrande; Dressler (1981), Marcuschi (1983), existe o consenso de dizer-se
que se há uma unidade de sentido no todo do texto, quando este é coerente,
então a base da coerência é a continuidade de sentidos entre os
conhecimentos que são ativados pelas expressões do texto. Em outras
palavras, pode-se dizer que é por meio da coerência que percebemos a
continuidade de sentido e o encadeamento entre os componentes de um
texto.
A constituição da coerência envolve uma multiplicidade de fatores.
Destacamos: elementos linguísticos; conhecimento de mundo; implícitos e
intertextualidade.
Elementos linguísticos
Os elementos linguísticos, como, por exemplo, os itens lexicais e as
estruturas sintáticas, desempenham importante função para o entendimento
do texto, porque ajudam a ativar os conhecimentos que estão armazenados
na memória do interlocutor e os sentidos dos elementos que compõem o
texto. Dessa forma, o contexto linguístico, que envolve inclusive os elementos
de coesão, é determinante para a constituição da coesão.
Conhecimento de mundo
A coerência de um texto tem estreita ligação com a
experiência/conhecimento de mundo do interlocutor, ou seja, com o
conhecimento que tem sobre o tema que é tratado. Caso desconheça o tema,
este pode lhe parecer incoerente, pois, provavelmente, não conseguirá
estabelecer sentido(s).
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
No exemplo, notamos uma série de palavras justapostas, quase sem
nenhum elemento de ligação, que nem mesmo chegam a formar frases
completas. Entretanto, de modo semelhante ao Texto IV, visto no começo do
tópico, percebemos, numa leitura mais atenta, que se trata da descrição de
um dia rotineiro na vida de um homem de negócios. Conseguimos
estabelecer essa relação, porque temos armazenado na memória o esquema
referente a esse tipo de situação. As palavras que estão no texto funcionam
como dispositivos que acionam nosso conhecimento prévio e nos vão
permitindo construir a compreensão do texto. Fazemos isso tanto no texto
falado quanto escrito. Termos consciência desse processo nos leva a um
cuidado maior no momento de produzirmos o nosso texto. É necessário um
mínimo de informações já conhecidas, para que nosso interlocutor possa vir a
compreender a mensagem que encaminhamos.
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Implícitos
Os implícitos são as informações que necessitam de um ato de inferência
ou de pressuposição para o entendimento, uma vez que não aparecem
explicitamente no texto. A inferência é uma informação implícitab que pode
ser negada pelo texto, porque o interlocutor a constrói. Já a pressuposição é
uma afirmação implícita que não pode ser negada pelo texto, porque há um
elemento linguístico que a comprova.
Os textos que exemplificam esse conceito foram usados em uma questão
do Enem(2010). Vejamos, a seguir!
EXEMPLO
Texto I
EXEMPLO
Texto II
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
CONEXÃO SEM FIO NO BRASIL
Onde haverá cobertura de telefonia celular para baixar publicações para
o Kindle
O Texto I é a capa da revista Época, de 12 de outubro de 2009, a qual traz
um anúncio sobre o lançamento do livro digital no Brasil. O texto II, por sua
vez traz informações referentes à abrangência de acessibilidade das
tecnologias de comunicação e informação nas diferentes regiões do país. Ao
lermos os textos, somos levados a inferir que o advento do livro digital no
Brasil cria a expectativa de viabilizar a democratização da leitura. No entanto
há um empecilho que é a insuficiência do acesso à internet por telefonia
celular, ainda deficiente no país. A quantidade de dados postos nos textos
permite que complementemos a informação. Nesse momento, algum
conteúdo já visto veio à sua mente? Provavelmente, você lembrou do fator de
textualidade referente à informatividade do texto, visto no tópico 1 desta
aula. Esse fator está diretamente ligado a esse aspecto da coerência.
Tenhamos então bastante cuidado com isso na hora de produzir um texto!
Intertextualidade
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A intertextualidade acontece quando, para o entendimento de um texto
em específico, o interlocutor busca o conhecimento prévio decorrente de
textos anteriores. Esses textos dialogam entre si, explícita ou implicitamente.
No primeiro caso, há a indicação da fonte. No segundo, o leitor deverá ter
conhecimento suficiente para que retorne e recupere a fonte da qual foi
retirado.
EXEMPLO
No exemplo, a intertextualidade é realizada com o conto da “Branca de
Neve e os Sete Anões”. Só recupera essa informação quem já conhece a
história, uma vez que não há citação.
SAIBA MAIS
Na sua prática profissional, quando houver necessidade de estabelecer
relação com outros textos para fundamentar uma informação ou um
argumento, é aconselhável usar citação/citações. Assim, facilitará o
estabelecimento da coerência e a compreensão da mensagem encaminhada.
Uma boa forma para identificar possíveis quebras de coerência são as
metarregras formuladas por Charroles(1988 apud Costa Val, 1999).
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Metarregras de Coerência
Continuidade
A continuidade é um dos principais requisitos de coerência. Ela ocorre
pela retomada de elementos e ideias no decorrer do texto. Essas retomadas
conferem unidade ao texto, pois um dos fatores que levam à percepção do
texto como um todo único é a permanência de elementos constantes em seu
desenvolvimento.
Progressão
Um texto progride a partir da retomada de ideias, mas também é
necessário que apresente novas informações sobre os elementos retomados.
A progressão é desenvolvida com o acréscimo de novos conceitos e
informações aos elementos que favorecem a continuidade.
Não-contradição
A não-contradição deve ser verificada tanto no âmbito interno quanto no
externo (relações do texto com o mundo a que se refere).
Para ser coerente internamente, o texto precisa atender a princípios
lógicos elementares. Suas ocorrências não podem se contradizer, devem ser
compatíveis entre si.
EXEMPLO
Você não pode iniciar a narração de um fato e o desconsiderar
posteriormente. Nem pode defender um ponto de vista, em determinado
momento, e depois o deixar esquecido.
Para ser coerente externamente, o texto não pode contradizer o mundo a
que se refere, seja este o mundo real ou fictício. Em outras palavras, o mundo
textual tem que ser compatível com o mundo que o texto representa.
EXEMPLO
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
Nas fábulas, é perfeitamente coerente que os animais falem e ajam
como humanos, porque isso é natural nesse mundo textual. Já a notícia de
um jornal, cujo mundo textual é o real, será contraditória se relatar que uma
criança de dois anos levantou, sozinha, um ônibus de verdade.
FIQUE ATENTO
O mundo representado por um texto não precisa ser necessariamente o
mundo real. Um texto não apresenta contradição por ir contra a realidade,
ele apresenta contradição se for contra a realidade do mundo textual
representado.
Articulação
A articulação diz respeito à maneira como os fatos e os conceitos
apresentados no texto são encadeados e organizados, ou seja, como são
relacionados uns com os outros. Portanto, para que um texto seja articulado,
é preciso que suas ideias tenham relação entre si, sendo necessário
estabelecer tipos específicos de relação entre elas. A articulação textual
depende, assim, do uso adequado de conectivos.
ATIVIDADE
Ao produzir um texto, principalmente se for escrito, pergunte-se:
Há continuidade de ideias?
As ideias apresentadas estão todas desenvolvidas ao longo do texto?
O texto apresenta progressão?
Em algum momento, há repetição de ideia(s) ou fato(s), sem acrescentar
nada de novo a eles?
O texto é contraditório?
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
O texto está articulado?
Há algo em excesso?
Há algo que falta?
Há alguma relação inadequada entre as orações?
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Língua Portuguesa: Textos e a Construção da Textualidade – Módulo 03
REFERÊNCIAS
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Ciências Humanas Artes e Letras, Universidade Federal da Paraíba, João
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SITES CONSULTADOS
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	Apresentação
	Objetivos
	Os Fatores da Textualidade
	A Coesão
	A Coerência
	REFERÊNCIAS

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