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Natalia Quintino Dias Transtornos alimentares Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial. São descritos critérios diagnósticos para pica, transtorno de ruminação, transtorno alimentar restritivo/evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar. Pica Critérios diagnósticos - Ingestão persistente de substâncias não nutritivas, não alimentares, durante um período mínimo de um mês. - A ingestão de substâncias não nutritivas, não alimentares, é inapropriada ao estágio de desenvolvimento do indivíduo. - O comportamento alimentar não faz parte de uma prática culturalmente aceita. - Se o comportamento alimentar ocorrer no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual], transtorno do espectro autista, esquizofrenia) ou condição médica (incluindo gestação), é suficientemente grave a ponto de necessitar de atenção clínica adicional. Características As substâncias típicas ingeridas tendem a variar com a idade e a disponibilidade e podem incluir papel, sabão, tecido, cabelo, fios, terra, giz, talco, tinta, cola, metal, pedras, carvão vegetal ou mineral, cinzas, detergente ou gelo. Sugere-se uma idade mínima de 2 anos para o diagnóstico de pica, de modo a excluir a exploração de objetos com a boca que acabam por ser ingeridos, normal no desenvolvimento das crianças pequenas. A manifestação inicial de pica pode ocorrer na infância (mais relatada), na adolescência ou na idade adulta. O transtorno pode ocorrer em crianças com desenvolvimento normal em outras áreas, enquanto, em adultos, parece mais provável no contexto de deficiência intelectual ou outros transtornos mentais. O curso do transtorno pode ser prolongado e resultar em emergências médicas (p. ex., obstrução intestinal, perda aguda de peso, intoxicação). O transtorno pode ser potencialmente fatal dependendo das substâncias ingeridas. Características associadas: Embora deficiências de vitaminas e minerais (p. ex., zinco, ferro) tenham sido descritas em alguns casos, frequentemente nenhuma outra anormalidade biológica é encontrada. Fatores de risco Ambientais: Negligência, falta de supervisão e atraso do desenvolvimento podem aumentar o risco para essa condição. Marcadores diagnósticos Radiografia abdominal simples, ultrassonografia e outros métodos de imagem podem revelar obstruções relacionadas a pica. Exames de sangue e outros testes laboratoriais podem ser usados para determinar níveis de intoxicação ou a natureza da infecção. Diagnósticos diferenciais Anorexia nervosa: A pica normalmente pode ser distinguida de outros transtornos alimentares pelo consumo de substâncias não nutritivas, não alimentares. No entanto, algumas apresentações de anorexia nervosa incluem a ingestão de substâncias não nutritivas, não alimentares, como lenços de papel, na tentativa de controlar o apetite, nesses casos, é essencialmente um meio de controle do peso e, anorexia nervosa deverá ser o diagnóstico primário. Transtorno factício: Alguns indivíduos com transtorno factício podem ingerir intencionalmente objetos estranhos como parte do padrão de falsificação de sintomas físicos. Nesses casos, existe um elemento fraudulento compatível com a indução deliberada de lesão ou doença. Autolesão não suicida e comportamentos de autolesão suicida nos transtornos da personalidade: Alguns indivíduos podem deglutir itens potencialmente nocivos (p. ex., alfinetes, agulhas, facas) no contexto de padrões desadaptativos de comportamento associados a Natalia Quintino Dias transtornos da personalidade ou autolesão não suicida. Transtorno de ruminação Critérios diagnósticos - Regurgitação repetida de alimento durante um período mínimo de um mês. O alimento regurgitado pode ser remastigado, novamente deglutido ou cuspido. - A regurgitação repetida não é atribuível a uma condição gastrintestinal ou a outra condição médica (p. ex., refluxo gastroesofágico, estenose do piloro). - A perturbação alimentar não ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno de compulsão alimentar ou transtorno alimentar restritivo/evitativo. - Se os sintomas ocorrerem no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual] ou outro transtorno do neurodesenvolvimento), eles são suficientemente graves para justificar atenção clínica adicional. Características O alimento previamente deglutido que já pode estar parcialmente digerido é trazido de volta à boca sem náusea aparente, ânsia de vômito ou repugnância. O alimento pode ser remastigado e então ejetado da boca ou novamente deglutido. A regurgitação no transtorno de ruminação deverá ser frequente, ocorrendo pelo menos várias vezes por semana, em geral todos os dias. Muitos indivíduos com o transtorno podem ser observados diretamente durante o comportamento de ruminação pelo médico. Em outros casos, o diagnóstico pode ser feito com base no autorrelato ou em informações corroborativas de pais ou cuidadores. Os indivíduos podem descrever o comportamento como habitual ou fora de seu controle. A manifestação inicial do transtorno de ruminação pode ocorrer em lactentes, na infância, na adolescência ou na idade adulta. A idade da manifestação inicial geralmente fica entre 3 e 12 meses. Nos lactentes, o transtorno cede com frequência de forma espontânea, mas seu curso pode ser prolongado e resultar em emergências médicas (p. ex., desnutrição grave). Características associadas: Lactentes com transtorno de ruminação exibem uma posição característica de tensionar e arquear as costas com a cabeça fletida para trás, fazendo movimentos de sucção com a língua e dando a impressão de obterem satisfação com tal atividade. Eles podem ficar irritados e famintos entre episódios de regurgitação. A perda ponderal e o insucesso em obter o ganho de peso esperado são características comuns em lactentes com transtorno de ruminação. Adolescentes e adultos talvez tentem disfarçar o comportamento de regurgitação cobrindo a boca com a mão ou tossindo. Alguns evitarão comer em frente a outras pessoas em virtude do aspecto social indesejável do comportamento. Fatores de risco Ambientais: Problemas psicossociais como falta de estimulação, negligência, situações de vida estressantes e problemas na relação entre pais e filhos podem ser fatores predisponentes em lactentes e crianças pequenas. Diagnósticos diferenciais Condições gastrintestinais: É importante diferenciar regurgitação no transtorno de ruminação de outras condições caracterizadas por refluxo gastroesofágico ou vômitos. Condições como gastroparesia, estenose do piloro, hérnia de hiato e síndrome de Sandifer em lactentes deverão ser excluídas por exames físicos e testes laboratoriais apropriados. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: Indivíduos com anorexia nervosa e bulimia nervosa também podem regurgitar com subsequente eliminação do alimento como um meio de livrar-se das calorias ingeridas em virtude da preocupação com o ganho de peso. Transtorno alimentar restritivo/evitativo Critérios diagnósticos - Uma perturbação alimentar (p. ex., falta aparente de interesse na alimentação ou em alimentos; esquiva baseada nas características sensoriais do alimento; preocupação acerca de consequências aversivas alimentar) manifestada por fracasso Natalia Quintino Dias persistente em satisfazer as necessidades nutricionais e/ou energéticasapropriadas associada a um (ou mais) dos seguintes aspectos: • Perda de peso significativa (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado ou atraso de crescimento em crianças). • Deficiência nutricional significativa. • Dependência de alimentação enteral ou suplementos nutricionais orais. • Interferência marcante no funcionamento psicossocial. - A perturbação não é mais bem explicada por indisponibilidade de alimento ou por uma prática culturalmente aceita. - A perturbação alimentar não ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa, e não há evidência de perturbação na maneira como o peso ou a forma corporal é vivenciada. - A perturbação alimentar não é atribuível a uma condição médica concomitante ou mais bem explicada por outro transtorno mental. Quando a perturbação alimentar ocorre no contexto de uma outra condição ou transtorno, sua gravidade excede a habitualmente associada à condição ou ao transtorno e justifica atenção clínica adicional. Características Manifestada por fracasso clinicamente significativo em satisfazer as demandas de nutrição ou ingestão energética insuficiente, por meio da ingestão oral de alimentos. Em alguns indivíduos, a evitação ou a restrição alimentar podem se basear em características de qualidade do alimento, como sensibilidade extrema a aparência, cor, odor, textura, temperatura ou paladar. Esse comportamento foi descrito como “ingestão restritiva”, “ingestão seletiva”, “ingestão exigente”, “ingestão perseverante”, “recusa crônica de alimento” e “neofobia alimentar”. A evitação ou a restrição alimentar também podem representar uma resposta negativa condicionada associada à ingestão alimentar seguindo, ou antecipando, uma experiência aversiva, como engasgo/sufocamento; uma investigação traumática, geralmente envolvendo o trato gastrintestinal (p. ex., esofagoscopia); ou vômitos repetidos. Características associadas: Lactentes muito novos podem apresentar-se sonolentos, aflitos ou agitados ao se alimentar. Lactentes e crianças pequenas podem não se envolver com o cuidador primário durante a alimentação ou não comunicar fome em favor de outras atividades. Em crianças mais velhas e adolescentes, a evitação e a restrição alimentar podem estar associadas a dificuldades emocionais mais generalizadas que não satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno de ansiedade, depressivo ou bipolar, às vezes denominadas “transtorno emocional de evitação alimentar”. Desenvolve-se mais comumente na fase de lactente ou na primeira infância e podem persistir na idade adulta. A ingesta nutricional inadequada pode exacerbar as características associadas (p. ex., irritabilidade, atrasos no desenvolvimento) e contribuir ainda mais para dificuldades de alimentação. Fatores de risco Temperamentais: Transtornos de ansiedade, transtorno do espectro autista, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade podem aumentar o risco de transtorno alimentar restritivo/evitativo ou de comportamento alimentar característico do transtorno. Ambientais: Fatores de risco ambientais para o transtorno alimentar restritivo/evitativo incluem ansiedade familiar. Taxas maiores de perturbações alimentares podem ocorrer em filhos de mães com transtornos alimentares. Genéticos e fisiológicos: História de condições gastrintestinais, doença de refluxo gastroesofágico, vômitos e uma gama de problemas médicos foram associados a comportamentos alimentares característicos do transtorno alimentar restritivo/evitativo. Diagnóstico diferencial Outras condições médicas (doença gastrointestinal, alergias e intolerâncias alimentares). Natalia Quintino Dias Transtorno do espectro autista: Indivíduos com transtorno do espectro autista geralmente apresentam comportamentos alimentares rígidos e sensibilidades sensoriais aumentadas. Anorexia nervosa: A restrição da ingesta calórica em relação às necessidades levando a um peso corporal significativamente baixo é um aspecto central da anorexia nervosa. Entretanto, indivíduos com anorexia nervosa também exibem medo de ganhar peso ou de ficar gordos ou comportamentos persistentes que interferem no ganho de peso, bem como perturbações específicas em relação à percepção e à vivência de seu próprio peso e forma corporal. Anorexia nervosa Critérios diagnósticos - Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado. - Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo. - Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual. Subtipos: • Tipo restritivo: Durante os últimos três meses, o indivíduo não se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve apresentações nas quais a perda de peso seja conseguida essencialmente por meio de dieta, jejum e/ou exercício excessivo. • Tipo compulsão alimentar purgativa: Nos últimos três meses, o indivíduo se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). A maioria dos indivíduos com anorexia nervosa do tipo compulsão alimentar purgativa que se envolvem em comportamentos periódicos de hiperfagia também purga por meio de vômitos autoinduzidos ou faz uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. Alguns indivíduos com esse subtipo de anorexia nervosa não apresentam episódios de hiperfagia, mas purgam regularmente depois do consumo de pequenas quantidades de alimento. Deve-se especificar a gravidade: O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice de massa corporal (IMC) atual. Características O medo intenso de engordar não costuma ser aliviado pela perda de peso. Na verdade, a preocupação acerca do peso pode aumentar até mesmo se o peso diminuir. Indivíduos mais jovens com anorexia nervosa, bem como alguns adultos, podem não reconhecer ou perceber medo de ganhar peso. Algumas pessoas sentem-se completamente acima do peso. Outras percebem que estão magras, mas ainda assim se preocupam com determinadas partes do corpo, em particular que o abdome, os glúteos e o quadril estão “gordos demais”. Geralmente, o indivíduo é levado à atenção profissional por familiares depois de perda de peso marcante (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado) ter ocorrido. Se buscam ajuda por si mesmos, costuma ser devido à angústia causada por sequelas somáticas e psicológicas da inanição. É raro uma pessoa com anorexia nervosa queixar- se da perda de peso por si só. Na verdade, indivíduos com anorexia nervosa com frequência carecem de insight ou negam o problema. É, portanto, importante obter informações de familiares ou de outras fontes para avaliar a história da perda de peso e outros aspectos da doença. Natalia Quintino Dias Características associadas: O comprometimento nutricional associado a esse transtorno afeta a maioria dos sistemas corporais e pode produzir uma variedade de perturbações. Perturbações fisiológicas, incluindo amenorreia e anormalidades nos sinais vitais, são comuns. Enquanto grande partedas perturbações fisiológicas associadas à desnutrição é reversível com reabilitação nutricional, algumas, incluindo a perda de densidade óssea mineral, com frequência não são completamente reversíveis. Quando gravemente abaixo do peso, indivíduos com anorexia nervosa apresentam sinais e sintomas depressivos, como humor deprimido, isolamento social, irritabilidade, insônia e diminuição da libido. Outros aspectos por vezes associados à anorexia nervosa incluem angústia de alimentar-se publicamente, sentimentos de fracasso, forte desejo por controlar o próprio ambiente, pensamentos inflexíveis, espontaneidade social limitada e expressão emocional excessivamente contida. Um subgrupo de indivíduos com anorexia nervosa exibe níveis excessivos de atividade física. Indivíduos com anorexia nervosa podem fazer uso indevido de medicamentos, como, por exemplo, manipular a dosagem para conseguir perder peso ou evitar ganhá-lo. Aqueles com diabetes melito podem omitir ou reduzir as doses de insulina a fim de minimizar o metabolismo de carboidratos. Mais comum no sexo feminino. A anorexia nervosa começa geralmente durante a adolescência ou na idade adulta jovem. Raramente se inicia antes da puberdade ou depois dos 40 anos. Fatores de risco Temperamentais: Indivíduos que desenvolvem transtornos de ansiedade ou exibem traços obsessivos na infância estão em risco maior de desenvolver anorexia nervosa. Ambientais: A variabilidade histórica e transcultural na prevalência de anorexia nervosa corrobora sua associação com culturas e contextos que valorizam a magreza. Ocupações e trabalhos que incentivam a magreza, como modelo e atleta de elite, também estão asssociados a um risco maior. Genéticos e fisiológicos: Existe risco maior de anorexia e bulimia nervosas entre parentes biológicos de primeiro grau de indivíduos com o transtorno. Marcadores diagnósticos O achado mais marcante no exame físico é a emaciação (perda de massa muscular e de gordura; extremo emagrecimento; extenuação). o. É comum haver também hipotensão significativa, hipotermia e bradicardia. As seguintes anormalidades laboratoriais podem ser observadas na anorexia nervosa; sua presença pode servir para aumentar a confiabilidade diagnóstica. Hematologia -> leucopenia, podendo ocorrer linfocitose aparente. Pode haver anemia leve, trombocitopenia e raramente, problemas de sangramento. Bioquímica -> A desidratação pode refletir-se por um nível sanguíneo elevado de ureia. A desidratação pode refletir-se por um nível sanguíneo elevado de ureia. A hipercolesterolemia é comum. Os níveis de enzimas hepáticas podem estar elevados. Hipomagnesemia, hipozincemia, hipofosfatemia e hiperamilasemia são ocasionalmente observadas. Vômitos autoinduzidos podem levar a alcalose metabólica (nível sérico elevado de bicarbonato), hipocloremia e hipocalemia; o uso indevido de laxantes pode causar acidose metabólica leve. Endocrinologia: Os níveis séricos de tiroxina (T4) geralmente se encontram na faixa entre normal e abaixo do normal; os níveis de tri-iodotironina (T3) estão diminuídos, enquanto os níveis de T3 reverso estão elevados. Os níveis séricos de estrogênio são baixos no sexo feminino; já no masculino, os níveis séricos de testosterona são baixos. Eletrocardiografia: É comum a presença de bradicardia sinusal, e, raramente, arritmias são observadas. O prolongamento significativo do intervalo QTc é observado em alguns indivíduos. Massa óssea: Com frequência se observa densidade mineral óssea baixa, com áreas específicas de osteopenia ou osteoporose. O risco de fratura é significativamente maior. Natalia Quintino Dias Eletrencefalografia: Anormalidades difusas, refletindo encefalopatia metabólica, podem resultar de desequilíbrios hídrico e eletrolítico significativos. Risco de suicídio O risco de suicídio é elevado na anorexia nervosa, com taxas de 12 por 100.000 por ano. Deve ser investigado. Tratamento Além de aspectos relacionados ao ganho de peso, deve-se realizar orientações quantitativas e qualitativas acerca da alimentação. Alguns pontos a serem abordados consistem em: - Implementação de um plano alimentar composto por seis refeições ao dia, com todos os grupos de alimentos; - Incentivar a evolução no tamanho das porções dos alimentos, até atingir o que foi estabelecido no planejamento alimentar; - Orientar quanto à dificuldade de digestão dos alimentos e o funcionamento irregular do intestino, que ocorrem principalmente no início do tratamento. Bulimia nervosa Critérios diagnósticos - Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: • Ingestão, em um período de tempo determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. • Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo). - Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso. - A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses. - A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais. - A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. Especificar a gravidade: O nível mínimo de gravidade baseia-se na frequência dos comportamentos compensatórios inapropriados. O nível de gravidade pode ser elevado de maneira a refletir outros sintomas e o grau de incapacidade funcional. • Vomitar é o comportamento compensatório inapropriado mais comum. Leve: Média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. Moderada: Média de 4 a 7 episódios por semana. Grave: Média de 8 a 13 episódios por semana. Extrema: Média de 14 ou mais por semana Características Indivíduos com bulimia nervosa em geral sentem vergonha de seus problemas alimentares e tentam esconder os sintomas. O antecedente mais comum da compulsão alimentar é o afeto negativo. Outros gatilhos incluem fatores de estresse interpessoais; restrições dietéticas; sentimentos negativos relacionados ao peso corporal, à forma do corpo e a alimentos; e tédio. Características associadas: Indivíduos com bulimia nervosa estão geralmente dentro da faixa normal de peso ou com sobrepeso (IMC > 18,5 kg/m2 e < 30 em adultos). O transtorno ocorre, mas é incomum, entre indivíduos obesos. A prevalência-ponto é maior entre adultos, já que o transtorno atinge seu pico no fim da adolescência e início da idade adulta. É mais comum no sexo feminino. A compulsão alimentar com frequência começa durante ou depois de um episódio de dieta para perder peso. Fatores de risco Temperamentais: Preocupações com o peso, baixa autoestima, sintomas depressivos, transtorno de ansiedade social e transtorno de ansiedade excessiva da infância, estão associados a um risco maior de desenvolver bulimia nervosa. Natalia Quintino Dias Ambientais: Observou-se que a internalização de um ideal corporal magro aumenta o risco de desenvolver preocupações com o peso, o que, por sua vez, aumenta o risco de desenvolver bulimia nervosa. Indivíduos que sofreram abuso sexual ou físico na infância têm um risco maior de desenvolver o transtorno. Genéticos e fisiológicos: Obesidade infantil e maturação puberal precoce aumentam o risco de bulimia nervosa. A transmissão familiar dotranstorno pode estar presente, bem como vulnerabilidades genéticas para a perturbação. Marcadores diagnósticos Exame físico Geralmente não revela achados físicos. Entretanto, a inspeção da boca pode revelar perda significativa e permanente do esmalte dentário, em especial das superfícies linguais dos dentes da frente devido aos vômitos recorrentes. Exames complementares Não existe, atualmente, teste diagnóstico específico para bulimia nervosa. Entretanto, diversas anormalidades laboratoriais podem ocorrer em consequência da purgação e aumentar a certeza diagnóstica, incluindo anormalidades eletrolíticas, como hipocalemia (que pode provocar arritmias cardíacas), hipocloremia e hiponatremia. A perda de ácido gástrico pelo vômito pode produzir alcalose metabólica (nível sérico de bicarbonato elevado), e a indução frequente de diarreia ou desidratação devido a abuso de laxantes e diuréticos pode causar acidose metabólica. Risco de suicídio É alto. Deve-se investigar ideação/comportamentos suicidas, além de histórico de tentativas suicidas. Tratamento O principal objetivo do tratamento nutricional na BN é auxiliar o paciente a manter um padrão de refeições estruturadas. Dessa forma, é possível reduzir os seguintes comportamentos que caracterizam a BN: 1) restrição alimentar; 2) episódios de compulsão alimentar; 3) comportamentos compensatórios. As dietas fazem com que os indivíduos aumentem sua preocupação com os alimentos, categorizem os alimentos como bons ou ruins e substituam o controle da ingestão alimentar realizado pelos mecanismos de fome e saciedade por controles externos. Esses mecanismos cognitivos são susceptíveis a interferências de emoções negativas, como frustrações e estresse, podendo desencadear os episódios de compulsão alimentar. O tratamento nutricional da BN deve ser baseado no aconselhamento nutricional, na educação nutricional e no planejamento alimentar, entre outras características Transtorno de compulsão alimentar Critérios diagnósticos - Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: • Ingestão, em um período determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. • Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo). - Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes aspectos: 1. Comer mais rapidamente do que o normal. 2. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio. 3. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome. 4. Comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo. 5. Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida. - Sofrimento marcante em virtude da compulsão alimentar. - Os episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante três meses. - Os episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante três meses. Natalia Quintino Dias Especificar a gravidade: O nível mínimo de gravidade baseia-se na frequência de episódios de compulsão alimentar. Leve: 1 a 3 episódios de compulsão alimentar por semana. Moderada: 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por semana. Grave: 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por semana. Extrema: 14 ou mais episódios de compulsão alimentar por semana. Características Indivíduos com transtorno de compulsão alimentar geralmente sentem vergonha de seus problemas alimentares e tentam ocultar os sintomas. Lanches contínuos em pequenas quantidades de alimento ao longo do dia não seriam considerados compulsão alimentar. Características associadas: O transtorno de compulsão alimentar ocorre em indivíduos de peso normal ou com sobrepeso e obesos. Esse transtorno é mais prevalente em mulheres, além de ser mais prevalente em indivíduos que buscam tratamento para emagrecer do que na população em geral. Tanto a compulsão alimentar quanto a perda de controle da ingestão sem consumo objetivamente excessivo ocorrem em crianças e estão associadas a maior gordura corporal, ganho de peso e mais sintomas psicológicos. A prática de fazer dieta segue o desenvolvimento de compulsão alimentar em muitos indivíduos com o transtorno. (Em contraste com a bulimia nervosa, na qual o hábito disfuncional de fazer dieta geralmente precede o início da compulsão alimentar.) Fatores de risco Genéticos e fisiológicos. O transtorno de compulsão alimentar parece comum em famílias, o que pode refletir influências genéticas adicionais. Tratamento O registro alimentar é o principal instrumento de avaliação e acompanhamento do consumo alimentar dos indivíduos com TCA. Os pacientes devem descrever todos os alimentos consumidos, as respectivas quantidades, locais e horários das refeições. Adicionalmente, deve-se relatar os episódios de compulsão alimentar e os sentimentos associados. Essa é uma ferramenta de automonitoramento, que possibilita uma maior consciência do paciente em relação à sua alimentação e, dessa forma, um maior controle sobre esse aspecto. Ademais, o diário alimentar auxilia o nutricionista na identificação de gatilhos para compulsão alimentar e na avaliação qualitativa e quantitativa do padrão alimentar. Tratamento dos transtornos alimentares Metas específicas e individualizadas devem ser estabelecidas, objetivando mudanças graduais e sustentáveis. De uma forma geral, no tratamento nutricional dos TA, deve-se: 1- Calcular e monitorar a ingestão energética e de macronutrientes, visando ao alcance da meta de peso estabelecida (de forma gradual); 2- Garantir a qualidade da alimentação e um padrão alimentar regular, com aumento da quantidade e variedade dos alimentos consumidos; 3- Normalizar as percepções de fome e saciedade; 4- Dar suporte psicossocial e reforço positivo; 5- Elaborar um plano alimentar estruturado; 6- Orientar pacientes e cuidadores em relação à seleção dos alimentos, considerando preferências, recursos e outras características individuais; 7- Monitorar a evolução do peso e a ingestão de nutrientes, fazendo ajustes quando necessário. 8– Equipe multidisciplinar (nutricionista, psicólogo, psiquiatra, clínico geral, assistente social). 9- Diminuição do estigma.
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