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Natalia Quintino Dias Asma A asma é uma doença comum e potencialmente grave, caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas e hiperresponsividade brônquica. A hiperreatividade brônquica expressa-se como uma resposta broncoconstritora exagerada a estímulos que, em situações normais, não causariam qualquer sintoma em indivíduos normais. O quadro clínico clássico da asma inclui tosse, dispneia, sibilância e opressão torácica, especialmente à noite e no início da manhã. Entretanto, outros sinais e sintomas menos clássicos podem estar frequentes. Os principais estímulos que levam à broncoconstrição, que devem sempre ser questionados em uma anamnese, são: poeira doméstica e ambiental, fumaças, odores fortes, alteração de temperatura, exercícios, alimentos, medicamentos, ansiedade. Os sintomas variam ao longo do tempo e em intensidade, além de limitação variável do fluxo expiratório. A obstrução ao fluxo aéreo na asma é parcial ou totalmente reversível, espontaneamente ou após uso de medicações. Epidemiologia A asma é uma doença respiratória crônica comum que afeta de 1% a 18% da população em diferentes países. Segundo dados do DATASUS, a asma brônquica atinge de 10% a 25% da população brasileira, tendo sido responsável por 129.728 internações e 2.047 mortes no Brasil, no ano de 2013. Fisiopatologia Imunologia: na asma, primeiramente, temos um processo de sensibilização – os alérgenos são inalados e têm contato com as células dendríticas do epitélio brônquico. Essas reconhecem, processam e apresentam fragmentos dos alérgenos aos linfócitos T auxiliares. Estes, por sua vez, passam a produzir citocinas em resposta, causando proliferação de linfócitos T helper 2 – os famosos Th2. Os linfócitos T aos quais foram apresentados os antígenos produzem, então, citocinas. Essas citocinas estimulam a produção de IgE, pelos linfócitos B – além de estimular produção de mastócitos e aumentar meia-vida de eosinófilos. Os anticorpos produzidos alcançam a circulação e ligam-se aos receptores de alta afinidade nos mastócitos. Ocorre o processo de sensibilização (após contato com o alérgeno, que estimulou a cadeia inflamatória) -> alérgeno se liga aos IgE nos mastócitos. Os mastócitos liberam mediadores e abrem a junção entre as células do epitélio, o, promovendo a entrada do alérgeno na mucosa e a produção de mais mastócitos e eosinófilos, que também liberarão mediadores de fase aguda (leucotrienos, prostaglandinas e histamina) nesse momento. Esses mediadores promovem o broncoespasmo, aumento da permeabilidade vascular, produção de muco e recrutamento de células do sangue: por via direta e por reflexos neuronais – pois a lesão epitelial causa desnudamento do epitélio, expondo nervos sensoriais aferentes → reação imediata, caracterizada pela obstrução de vias aéreas, principalmente pela contração da musculatura lisa. Já a fase tardia, que ocorre após horas do contato com o alérgeno, tem início com a chegada de leucócitos, com liberação de mediadores produzidos por estes, pelo endotélio e pelas células epiteliais. É caracterizada pela hipersensibilidade brônquica e pela inflamação eosinofílica. Em alguns portadores de asma mais grave, células epiteliais e miofibroblastos abaixo do epitélio proliferam e fazem deposição intersticial de colágeno e proteoglicanos, gerando espessamento e outras lesões não reversíveis. Pode haver também hipertrofia e hiperplasia do músculo liso, aumento do número das células caliciformes e das glândulas submucosas, bem como alteração do depósito e degradação da matriz extracelular. Isso tudo altera a arquitetura das vias aéreas, podendo afetar diretamente a função pulmonar de maneira irreversível. Exitem ainda vias que estimulam eosinófilos sem contato com aeroalérgenos, gerando quadro clínico asmático. São substâncias irritantes, como cigarro, fármacos, poluição atmosférica, alterações climáticas, exercícios, infecções de vias aéreas, exposições ocupacionais e outros agentes físico- químicos. De qualquer forma, há ativação de células locais – especialmente eosinófilos e Natalia Quintino Dias mastócitos – e pode ocorrer ativação de IgE ou a partir de outros processos, resultando na ação de mediadores de fase aguda. Existe ainda a asma não eosinofílica, sendo a neutrofílica um dos seus subtipos. A asma neutrofílica envolve infiltrado inflamatório atípico, com recrutamento de neutrófilos, participação importante da IL-8 e que frequentemente é resistente ao tratamento com corticoides, bem como associada à asma grave. Por tratar-se de uma doença heterogênea, a asma pode apresentar diferentes processos subjacentes, caracterizando diferentes fenótipos. Asma alérgica Este é o fenótipo de asma mais facilmente reconhecido, geralmente com início na infância e associado a antecedentes familiares de doença alérgica (eczema, rinite alérgica). O exame do escarro induzido revela frequentemente uma predominância de eosinófilos. Exames séricos podem identificar eosinofilia e imunoglobulina E (IgE) elevada. Os pacientes com esse fenótipo geralmente respondem bem ao tratamento com corticoides inalatórios. Asma não alérgica Alguns adultos têm asma não associada à atopia. O perfil celular do escarro pode ser neutrofílico, eosinofílico ou conter apenas algumas células inflamatórias. Os pacientes com asma não alérgica frequentemente possuem menor resposta aos corticoides inalatórios. Asma de início tardio Predomina em adultos, particularmente do sexo feminino, com início dos sintomas apenas na vida adulta. Esses pacientes, em geral, têm atopia e, muitas vezes, requerem doses mais elevadas de corticoides inalatórios ou são relativamente refratários a eles. Asma com limitação fixa ao fluxo aéreo Alguns doentes com asma de longa duração desenvolvem uma limitação fixa ao fluxo aéreo, em virtude de um processo de remodelamento da parede das vias aéreas. Esses se comportam clínica e funcionalmente como portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica. Asma e obesidade Alguns pacientes obesos com asma apresentam sintomas respiratórios proeminentes e inflamação eosinofílica das vias aéreas. Classificação Pouco utilizada na prática, e as novas diretrizes não citam. Diagnóstico O diagnóstico da asma é sugerido por um ou mais sintomas (dispneia, tosse crônica, sibilância, opressão ou desconforto torácico, sobretudo à noite ou nas primeiras horas da manhã) + exames que comprovem a variação e limitação ao fluxo aéreo expiratório. Faz parte da anamnese a busca por atopias, exposições ambientais e ocupacionais, além de Natalia Quintino Dias fatores de piora dos sintomas (medicações, alterações climáticas, exercício, infecções). O exame físico do asmático geralmente é inespecífico. A presença de sibilos é indicativa de obstrução ao fluxo aéreo, mas não ocorre em todos os pacientes. Espirometria CVF: Capacidade Vital Forçada. Também conhecido como “volume expiratório forçado”, é o volume máximo de gás exalado com o esforço máximo, partindo do estado de inspiração máxima forçada. VEF1: Volume Expiratório Forçado no Primeiro Segundo. Refere-se ao volume máximo de ar exalado no primeiro segundo de uma expiração forçada que segue uma inspiração forçada. Seu parâmetro de normalidade é > 80% do valor predito. VEF1/CVF: relação VEF1/CVF representa a proporção ou a porcentagem do volume que o paciente expirou no primeiro segundo em relação ao tempo total da manobra. A espirometria forçada é o principal exame complementar no diagnóstico da asma, sendo que o padrão habitual é a presença de obstrução ao fluxo aéreo com prova broncodilatadora positiva. A obstrução ao fluxo aéreo é caracterizada pela relação VEF1/ CVF menor que 0,7 (ou menor que o limite inferiorda normalidade). A resposta ao broncodilatador é considerada significativa quando o VEF1 aumenta pelo menos 200 ml e 12% do valor pré-broncodilatador ou, pela Diretriz Brasileira, pelo menos 200 ml de seu valor pré-broncodilatador e 7% do valor previsto. A variação acima de 400 ml e 15% aumenta ainda mais a confiança para o diagnóstico de asma. O VEF1, devido a sua reprodutibilidade, tem sido a medida isolada mais acurada para estabelecer a gravidade da limitação ao fluxo aéreo e a resposta imediata ao uso de broncodilatador. Em algumas situações, são fundamentais as medidas de volumes e da resistência de via aérea. A espirometria auxilia na estratificação de gravidade do paciente. A alteração espirométrica sugestiva de asma é o distúrbio ventilatório obstrutivo com resposta ao broncodilatador. A espirometria normal não afasta o diagnóstico de asma. Portanto, se existe alta suspeição clínica, nestes casos, o teste de broncoprovocação deve ser realizado. Broncoprovocação Pode-se medir a responsividade por inalação de substâncias constritoras – metacolina ou histamina – ou pelo teste de broncoprovocação por exercício, havendo uma queda do VEF1 em pelo menos 20%. A GINA considera, para o teste em exercício, queda de VEF1 de 200 ml e 10% como positiva para asma. O exame tem alta sensibilidade e elevado valor preditivo negativo (útil para suspeita + espirometria normal). Natalia Quintino Dias Se o teste é negativo, pode-se excluir o diagnóstico de asma. Quando positivo, não confirma necessariamente asma; existem outras causas de HiperResponsividade Brônquica (HRB), como rinite alérgica, bronquiolite, traqueobronquite e Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). Pico de fluxo expiratório (PFE) A medida do PFE é feita em equipamentos portáteis que documentam o fluxo em litros por minuto. Medidas matinais e vespertinas são aferidas por uma a duas semanas, em dois momentos do dia: manhã e tarde. O menor PFE é subtraído do maior PEF, e o resultado é dividido pela média entre o maior e o menor PFE do dia. Esse exame apresenta menor acurácia do que a espirometria, podendo ser utilizado quando esta não estiver disponível. A variação exagerada do PFE maior que 20% ao longo do dia é sugestiva de asma, segundo a SBPT. A GINA diz que, nesse exame, a variação diurna maior do que 10% em adultos documenta a variabilidade da obstrução aérea. Testes alérgicos A presença de atopia aumenta a probabilidade de que um paciente com sintomas respiratórios tenha asma alérgica, mas isso não é específico para a asma nem está presente em todos os seus fenótipos. A atopia deve ser acessada pelo teste cutâneo de leitura imediata (prick test) ou medida de níveis séricos de Imunoglobulina E (IgE) específica para agentes ambientais e alimentos mais comuns. Radiografia de tórax É bastante comum e não é essencial para o diagnóstico, mas pode auxiliar na exclusão de outras condições. Grupos especiais Asma induzida por exercício O exercício físico é um potencial exacerbador da asma. É preciso diferenciar a broncoconstrição induzida pelo exercício do descontrole da doença, a fim de medicar corretamente ambas as situações: uso de β2-agonista de curta ação ou formoterol associado a corticoide inalatório antes do início das atividades e aumento da dose da medicação usual, respectivamente. Asma na gestante Durante a gestação, ocorre piora em 1/3 das mulheres asmáticas, manutenção dos sintomas em 1/3, e melhora em outro terço. Os efeitos deletérios da asma não controlada durante esse período estão relacionados ao aumento na incidência de pré-eclâmpsia, prematuridade, baixo peso ao nascer e maior necessidade de parto cesariano. O manejo difere pouco em relação ao tratamento de mulheres não grávidas, sendo a budesonida e a beclometasona os corticoides inalatórios de escolha. Asma ocupacional Estima-se que em até 20% dos pacientes com asma de início tardio o surgimento da doença pode ter relação com causas ocupacionais. Perguntar aos pacientes se os sintomas melhoram quando estão fora do trabalho (fins de semana ou férias) é essencial durante a anamnese. Asma ocupacional provocada por agentes de alto peso molecular (sensibilizantes) é quase sempre precedida por rinite, sendo sua prevalência próxima de 90% nesse cenário. Faz parte do tratamento afastar o indivíduo do agente relacionado. Tosse variante de asma Em alguns pacientes, a tosse é a única manifestação da asma, predominando no período noturno. O paciente pode permanecer assintomático ao longo do dia. Para o seu diagnóstico, é preciso documentar a variabilidade da função pulmonar ou a hiperresponsividade das vias aéreas. Diagnóstico diferencial Pacientes de 6-11 anos - Síndrome da tosse crônica das vias aéreas superiores: espirros, coceira, nariz entupido, limpeza da garganta; - Inalação de corpo estranho (sibilo unilateral + início súbito de sintomas); - Doença cardíaca congênita – sopros cardíacos +; - Fibrose cística: Produção excessiva de tosse e muco, sintomas gastrointestinais. Natalia Quintino Dias Paciente de 12-39 anos - Síndrome da tosse crônica das vias aéreas superiores: espirros, coceira, nariz entupido, limpeza da garganta; - Disfunção de corda vocal: Dispneia, sibilância inspiratória (estridor); - Fibrose cística (Tosse excessiva e produção de muco); - Deficiência de alfa-1 antitripsina: Falta de ar, história familiar de enfisema pulmonar precoce; Pacientes > 40 anos - Hiperventilação e respiração disfuncional: Tontura, parestesia, suspiros; - DPOC: Tosse, escarro, dispneia aos esforços, tabagismo ou exposição nociva; - Bronquiectasias: Tosse produtiva, infecções recorrentes; - Falência cardíaca: Dispneia ao esforço, sintomas noturnos (ortopneia e dispneia paroxística noturna); - Tosse relacionada à medicação (IECA); - Doença pulmonar parenquimatosa (Dispneia com esforço, tosse não produtiva, baqueteamento digital); - Embolia pulmonar: início súbito de dispneia, dor torácica. Controle da asma A principal meta do tratamento da asma é a obtenção e manutenção do controle da doença. O controle das limitações deve ser preferencialmente avaliado em relação às últimas 4 semanas e deve abordar sintomas (diurnos e noturnos), necessidade de medicação de alívio, limitação de atividades físicas, segundo a diretriz da GINA. A partir desses parâmetros, a asma pode ser classificada em 3 grupos distintos: asma controlada, não controlada e parcialmente controlada. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) orienta o uso do Questionário de Controle da Asma (ACQ) e o Teste de Controle da Asma (ACT). A vantagem do uso dessas duas últimas ferramentas é sua avaliação numérica, que facilita a compreensão do nível de controle da doença tanto pelo paciente quanto pelo médico. Diretrizes antigas da SBPT incluíam VEF1 e PFE como critérios de controle de asma, porém, atualmente, não são mais utilizados. Asma não controlada = aumento da terapia de tratamento (obrigatório). Natalia Quintino Dias Por definição, uma exacerbação da asma é indicativa de asma não controlada. Lembre-se das palavras DIA, NOITE, LIMITAÇÃO e RESGATE para acessar o controle de asma (referente às últimas 4 semanas). Na asma parcialmente ou não controlada, o aumento da etapa de tratamento está indicado. Risco futuro Após a classificação do paciente, acessar o risco futuro de exacerbação e de evolução com obstrução fixa ao fluxo aéreo é fundamental para o seguimento do paciente, pois intervenções adequadas são capazes de reduzir esses eventos. Os principais fatores relacionados à obstrução fixa ao fluxo aéreo são prematuridade, baixo peso ao nascer, exposição ocupacional, tabagismo, VEF1 baixo, bronquite e eosinofilia(escarro ou sérico). O tratamento adequado das comorbidades associadas, perda ponderal, cessação do tabagismo, afastamento de alérgenos ambientais, uso adequado de medicação são medidas extremamente eficientes para o controle da asma, evitando risco futuro de exacerbação. Classificação de gravidade A gravidade refere-se à quantidade de medicamentos necessária para atingir o controle. Assim, a gravidade da asma reflete uma característica intrínseca da doença, definida pela intensidade do tratamento requerido, e que é alterada lentamente com o tempo, enquanto o controle é variável em dias ou semanas, sendo influenciado pela adesão ao tratamento ou pela exposição a fatores desencadeantes. A classificação da gravidade da asma deve ser realizada após a exclusão de causas importantes de descontrole, tais como comorbidades não tratadas, uso incorreto do dispositivo inalatório e não adesão ao tratamento. É dividida em: - Asma leve: quando paciente utiliza etapa 1 ou 2 de tratamento; - Asma moderada: quando paciente utiliza etapa 3 ou 4 de tratamento; - Asma grave: asma não controlada a despeito do tratamento com altas doses de corticoide inalatório associado ao broncodilatador de longa ação (etapa 5) OU quando há piora dos sintomas ao reduzir a terapia de doses altas para moderadas. Não pode ser chamada de grave se há melhora dos sintomas com mudança de fatores relacionados à técnica inalatória ou aderência ao tratamento. É considerada uma subdivisão da asma de difícil controle; - Asma de difícil controle: asma não controlada a despeito do tratamento com dose moderada ou alta de corticoide inalatório associado a uma segunda medicação (habitualmente um broncodilatador de longa ação); ou quando necessita de manutenção de corticoide oral; ou se requer alta dose de corticoide inalatório associado ao broncodilatador de longa ação para manter bom controle dos sintomas e reduzir exacerbações. Muitas vezes, está relacionada à técnica inalatória inadequada, baixa aderência ao tratamento, persistência de tabagismo, comorbidades descompensadas ou diagnóstico incorreto de asma. Tratamento O objetivo do manejo da asma é a obtenção do controle da doença. Controle refere-se à extensão com a qual as manifestações da asma são suprimidas, espontaneamente ou pelo tratamento, e compreende 2 domínios distintos: o controle das limitações clínicas atuais e a redução dos riscos futuros (exacerbação, efeitos adversos do tratamento e perda funcional). No conceito atual, há uma distinção das etapas de tratamento a depender da medicação de resgate escolhida: formoterol associado a corticoide inalatório em baixas doses ou β2-agonista de curta ação inalatório. Anteriormente, o tratamento baseava-se apenas no uso de broncodilatadores de curta duração para alívio de sintomas ocasionais (tosse, sibilos ou dispneia, opressão torácica). A nova recomendação orienta o uso preferencial de formoterol/corticoide inalatório em baixas doses para alívio e manutenção no tratamento da asma. Essa escolha é preferida, pois há estudos com evidência de redução de exacerbações graves, quando usada essa combinação, comparado ao β2 de curta duração isolado. O objetivo será sempre a redução de crises graves, uma vez que a base do tratamento da asma é com o corticoide inalatório. Natalia Quintino Dias O formoterol, apesar de ser um broncodilatador de longa duração (dura 12 horas), gera um alívio muito rápido dos sintomas (tempo de ação menor que 5 minutos), por isso pode ser utilizado nas crises, com bom conforto para o paciente. Nas etapas iniciais (1 e 2), prescrevemos, por exemplo: formoterol + budesonida 6 + 200 mcg, inalar uma cápsula sempre que houver crise de tosse, falta de ar ou chiado no peito. Já nas etapas em que usamos também como manutenção (exemplo de etapa 3), prescrevemos: formoterol + budesonida 6 + 200 mcg, inalar uma cápsula de 12 em 12 horas e realizar dose extra sempre que houver crise de tosse, falta de ar ou chiado no peito. E a dose máxima dessa associação a ser usada é o equivalente a 72 mcg de formoterol ao dia (ou seja, 12 cápsulas de formoterol + budesonida de 6 + 200 mcg em 24 horas). Após o uso de qualquer corticoide inalatório, devemos orientar o paciente a lavar a boca, evitando monilíase (candidíase oral). Natalia Quintino Dias Para os pacientes que vão iniciar pela primeira vez o tratamento da asma (ou seja, virgens de tratamento anterior), consideramos o início da terapia conforme os sintomas nas últimas 4 semanas. Caso escolhido o formoterol associado a corticoide inalatório em baixas doses conforme necessário para medicação de controle e resgate: - Iniciar pela etapa 1 e 2 – se houver sintomas em menos de 4 a 5 dias na semana. - Iniciar pela etapa 3 – se houver sintomas na maioria dos dias ou despertando por asma uma vez na semana ou mais. - Iniciar pela etapa 4 – se houver sintomas na maioria dos dias ou despertando por asma uma vez na semana ou mais, ou função pulmonar reduzida. Caso escolhido o β2-agonista de curta ação inalatório em baixas doses conforme necessário para medicação de resgate: - Iniciar pela etapa 1 – se houver sintomas em menos de duas vezes ao mês. - Iniciar pela etapa 2 – se houver sintomas duas vezes ao mês ou mais, porém em menos de 4 a 5 dias na semana. - Iniciar pela etapa 3 – se houver sintomas na maioria dos dias ou despertando por asma uma vez na semana ou mais. - Iniciar pela etapa 4 – se houver sintomas na maioria dos dias ou despertando por asma uma vez na semana ou mais, ou função pulmonar reduzida. Escolha sempre a medicação e o dispositivo conforme as características (individuais ou fenotípicas) e preferências do seu paciente. Custo, habilidade para uso e aderência ao medicamento são essenciais para o sucesso do tratamento. Natalia Quintino Dias Etapas de tratamento segundo GINA (2021) com 2 alternativas, baseado na escolha da medicação de alívio: Alternativa 1 (preferencial), se a escolha for formoterol + corticoide inalatório em baixa dose para resgate. Alternativa 2, se a escolha for β2-agonista de curta ação inalatório para resgate. ETAPA 1 – Medicação de resgate para o alívio dos sintomas Alternativa 1: formoterol + corticosteroide inalatório em baixa dose conforme necessário. Alternativa 2: utilizar baixa dose de corticosteroide inalatório sempre que β2-agonista de curta ação inalatório for necessário para resgate. ETAPA 2 – Medicação de alívio ou 1 único medicamento de controle Alternativa 1: formoterol + corticosteroide inalatório em baixa dose conforme necessário. Esta alternativa é idêntica à da etapa 1 e não deve provocar dúvidas. Alternativa 2: baixa dose de corticosteroide inalatório de manutenção. Alternativas para a etapa 2: - Antileucotrienos para pacientes que não conseguem utilizar a via inalatória ou para aqueles que têm efeitos adversos intoleráveis mediante o uso de corticoide inalatório. - Utilizar baixa dose de corticosteroide inalatório sempre que β2-agonista de curta ação inalatório for necessário para resgate. ETAPA 3 – 1 ou 2 medicamentos de controle Alternativa 1: formoterol + corticosteroide inalatório em baixa dose de manutenção. Alternativa 2: β2-agonista de longa ação + corticosteroide inalatório em baixa dose de manutenção. A partir dessa etapa, as orientações ficam semelhantes à alternativa preferencial, porém o que muda é que o β2-agonista de longa ação utilizado não é obrigatoriamente o formoterol, mas qualquer outro (vilanterol, salmeterol, olodaterol, indacaterol). Alternativas para a etapa 3: - Dose moderada de corticosteroide inalatório. - Adicionar antagonista do receptor de leucotrieno à dose baixa de corticosteroide inalatório. ETAPA 4 – Medicaçãode alívio mais 2 ou mais medicamentos de controle Alternativa 1: formoterol + corticosteroide inalatório em dose moderada de manutenção. Alternativa 2; β2-agonista de longa duração inalatório + corticosteroide inalatório em dose moderada à alta de manutenção. Alternativa para a etapa 4: - Adicionar tiotrópio ao tratamento naqueles não controlados com β2-agonista de longa ação inalatório + corticosteroide inalatório em dose baixa à moderada. - Adicionar antagonista do receptor de leucotrieno à dose moderada à alta de corticosteroide inalatório. - Dose alta de corticosteroide inalatório. ETAPA 5 – Medicação de alívio mais medicação de controle adicional Alternativa 1: adicionar tiotrópio se ainda não estiver em uso; referenciar para tratamento baseado no fenótipo; considerar prescrição de imunobiológico (anti-IgE, anti-IL5/5R, anti-IL4R); considerar formoterol + corticosteroide inalatório em dose alta. Alternativa 2: adicionar tiotrópio se ainda não estiver em uso; referenciar para tratamento baseado no fenótipo; considerar prescrição de imunobiológico (anti-IgE, anti-IL5/5R, anti-IL4R); considerar β2-agonista de longa ação inalatório + corticosteroide inalatório em dose alta. Alternativa para a etapa 5: - Adicionar azitromicina ou u antagonista do receptor de leucotrieno. - Adicionar corticoide oral (mas considerar seus efeitos colaterais). Nessa etapa, deve-se avaliar o fenótipo do paciente para considerar a adição de imunobiológicos (omalizumabe, mepolizumabe, benralizumabe, reslizumabe e dupilumabe), na tentativa de melhorar o controle da asma, reduzir o risco de exacerbações e efeitos adversos relacionados ao uso prolongado de corticoide sistêmico. Tiotrópio O tiotrópio (Antagonista Muscarínico de Ação Prolongada – LAMA) pode ser usado como terapia adjuvante para pacientes adultos ou crianças (maiores que 6 anos) com história de asma não controlada com doses moderadas à alta de β2- Natalia Quintino Dias agonista de longa duração inalatório + corticosteroide inalatório, estando relacionado à discreta melhora da função pulmonar e ao aumento do intervalo para uma nova exacerbação grave. Outros LAMAs, como brometo de glicopirrônio e de umeclidínio, já são contemplados pela GINA. Imunobiológicos Omalizumabe: é um anticorpo monoclonal recombinante humanizado que se liga com grande afinidade e especificidade à IgE circulante. Pacientes em uso dessa medicação apresentam maiores chances de ter redução de mais de 50% na dose do corticoide oral, menor risco de exacerbações e hospitalização por asma. Seu uso fica restrito aos pacientes maiores de 6 anos, na etapa 5 do tratamento e com IgE sérico entre 30 e 700 Ul/mL. Outros: As classes dos anti-interleucina 5 (mepolizumabe, benralizumabe e reslizumabe) e anti-interleucina 4 (dupilumabe) podem ser utilizadas na asma eosinofílica grave não controlada. Tratamento adjuvante Os beta-bloqueadores podem ser utilizados em pacientes asmáticos, sendo preferidos os cardiosseletivos (metoprolol, atenolol, esmolol, nebivolol e bisoprolol), porém, em caso de piora dos sintomas após introdução ou ausência de controle da asma em vigência dessa medicação, devem ser suspensos. Seguimento Os pacientes com asma devem ser seguidos regularmente para monitorar o controle de seus sintomas, os fatores de risco, a ocorrência de exacerbações, bem como documentar a resposta a qualquer tipo de mudança do tratamento. Idealmente, a reavaliação deve ser feita de 1 a 3 meses após início ou mudança do tratamento, e a cada 3 a 12 meses posteriormente. Se o controle estiver mantido por pelo menos 3 meses, o paciente deve ser avaliado para possível redução do tratamento atual. Redução da dose (STEP DOWN) A redução da dose das medicações (redução da etapa de tratamento da asma), após obtenção de controle por pelo menos 3 meses, deve seguir uma rotina, a fim de minimizar os riscos ao longo desse processo. Sempre reduzir a dose do corticoide inalatório, sem descontinuar o β-agonista de longa duração, pois sua suspensão pode levar o paciente à deteriorização clínica. Deve-se suspendê-lo somente quando o corticoide já estiver em doses baixas. Aumento da dose (STEP UP) A perda do controle, caracterizada pela recorrência ou piora dos sintomas, exigindo doses repetidas de broncodilatadores de alívio por mais de 2 dias, indica a necessidade de ajustes no tratamento. Deve-se sempre reavaliar o paciente e ir para próxima etapa do tratamento nesses casos, mesmo que por um curto período (por exemplo em momentos associados a infecções virais ou à exposição a alérgenos sazonais).