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Natalia Quintino Dias Emergências em psiquiatria Agitação psicomotora É a emergência mais comum em psiquiatria, caracteriza-se por atividade motora excessiva, associada a sentimento de tensão interna. A atividade, geralmente, é improdutiva e repetitiva, como caminhar à toa, mexer-se em excesso, retorcer as mãos, puxar as roupas e não conseguir ficar sentado e quieto. Muitas vezes, associa-se a comportamento violento, que conduz ou ameaça conduzir a dano físico em pessoas ou objetos. Diante disso, deve-se avaliar: alteração no nível de consciência, etiologia do quadro de agitação e risco de violência. Deve ser realizada a história clínica, exame físico e psíquico, além de algum tipo de intervenção física ou medicamentosa, se imperativa. Pontos importantes • Quando iniciou o quadro de agitação; • Características da agitação: ansiedade, inquietação física, agitação verbal, estado confusional; • Se o quadro já ocorreu outras vezes; • Doenças e tratamentos clínicos; • Doenças e tratamentos psiquiátricos; • Uso de medicamentos, álcool ou drogas; • História de trauma cranioencefálico; • Presença de febre; • Eventos recentes estressores — cirurgias, doenças, rompimento de relacionamentos, falecimento na família. Etiologia A agitação psicomotora pode ser sintoma ou sinal de transtorno orgânico agudo (delirium), psicose ou síndrome maníaca e síndrome ansiosa. Transtorno orgânico agudo (delirium) Deve ser diferenciado entre evidência de doença orgânica ou evidência de intoxicação ou abstinência de substância química. Psicose ou síndrome maníaca Nas psicoses, ocorrem delírios, alucinações, discurso desconexo e incoerente, diminuição da atenção, irritabilidade e aumento da atividade motora. O diagnóstico específico será estabelecido após o controle da agitação. Algumas possibilidades são surto esquizofrênico, psicose reativa ou psicose por drogas. A síndrome maníaca é bastante parecida com a psicose. No entanto, o paciente apresenta, como sintoma predominante, alteração do humor, tendo-o anormalmente elevado e expansivo, com a autoestima elevada, grandiosidade, pensamento rápido e aumento de atividades rotineiras e que causam prazer, como sexo e compras. Síndrome ansiosa O sintoma mais proeminente é a agitação ansiosa. O paciente, em geral, não apresenta psicose ou discurso bizarro. O diagnóstico específico será realizado em um momento posterior, por especialista, quando a agitação estiver controlada. Alguns possíveis diagnósticos são agorafobia, transtorno de pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós- traumático, transtornos dissociativos ou conversivos, transtorno de personalidade. Conduta 1- Abordagem verbal, dialogando a sós com o paciente e em ambiente tranquilo. Informar a finalidade da presença do médico e explicar os procedimentos que serão realizados; 2- Se necessário, o paciente deve ser contido fisicamente. • O ideal é o envolvimento de cinco pessoas, e uma delas coordena e comunica-se com o paciente. • A medicação a ser administrada deve estar pronta e ser realizada tão logo seja possível, caso o paciente continue agitado após a contenção. • As faixas de contenção devem ser de material resistente. Deve-se tomar cuidado para que os membros não fiquem torcidos, de forma a causar tração de nervo ou alguma lesão por compressão. • A posição mais indicada é a lateral, com a cabeça levemente elevada, o que previne aspiração. • O paciente deve ser observado em relação à segurança e ao conforto, aos sinais vitais e ao nível de consciência, aproximadamente a cada 30 minutos. Natalia Quintino Dias • As contenções devem ser retiradas com equipe adequada e suficiente para conter novamente o paciente, caso seja necessário. 3- Tratamento sintomático. 4- Sedação, se necessário. Com haloperidol IM. • Se abstinência por álcool: sedar com benzodiazepínico (Diazepam ou Lorazepam). • Se psicose ou mania: sedar com haloperidol VO ou IM. • Se síndrome ansiosa: benzodiazepínico VO – Lorazepam, clonazepam ou Diazepam. Na Emergência, apesar de já ter formulado um diagnóstico, deve-se apenas sedar o indivíduo, deixando a conduta de um tratamento específico para a equipe especializada que cuidará, posteriormente, do paciente. 5- Avaliar os riscos e optar por internação, caso o paciente esteja incapaz de controlar seus impulsos, apresente ideação suicida, esteja psicótico ou pareça ter risco elevado de violência recorrente ou contínua. Caso não seja necessário internar, sempre dar alta ao paciente e encaminhar para o serviço ambulatorial. A contenção física sempre antecede a contenção química na agitação psicomotora. Tentativa de suicídio O suicídio é compreendido como um ato multidimensional, que resulta de uma interação complexa entre diversos fatores. Segundo dados da OMS, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos, sendo que a cada três segundos uma pessoa atenta contra a própria vida. Por isso, milhões de pessoas são afetadas por casos de suicídio a cada ano, incluindo o luto. Se considerar o número total de mortes por suicídio, o Brasil atingirá o 8º lugar em uma escada mundial. Fatores de risco • Depressão grave, particularmente, no início da doença. 70% dos suicídios decorrem de uma fase depressiva; • Histórico familiar ou pessoal prévio de depressão ou tentativas de suicídio, abuso de álcool ou outras substâncias; • Psicose; • Agitação; • Ansiedade grave; • Insônia; • Sexo masculino — apresentam tentativas brutais e mais bem-sucedidas; • Idade avançada, principalmente em associação a outras doenças clínicas, e adolescentes — impulsividade; • Falta ou perda de apoio social; • Encarceramento; • Perda recente; • Crise pessoal ou causa para vergonha; • Falta de tratamento psiquiátrico ativo e mantido; • Doença crônica. O suicídio envolve vários fatores socioculturais, genéticos, psicodinâmicos, filosóficoexistenciais e ambientais. A existência de um transtorno mental é considerada um forte fator de risco para o suicídio. Natalia Quintino Dias Fatores que levam ao comportamento suicida Avaliação do risco de suicídio 1- O que está acontecendo? – eventos precipitantes e estressores agudos e crônicos. 2- Estado mental atual – afetos intensos; constrição cognitiva. Regra dos D´s 3- Intencionalidade suicida – ideia; plano. 4- Principais fatores de risco e de proteção – transtornos mentais; tentativa de suicida pregressa; história; personalidade. 5- Formulação do risco de suicídio – registro; comunicação. Natalia Quintino Dias Conduta Os objetivos essenciais do manejo da crise suicida são: a curto prazo, manter o paciente seguro; a médio prazo, mantê-lo estável. Natalia Quintino Dias O médico deve sempre perguntar sobre a ideação e planejamento suicida para um paciente psiquiátrico. • Quanto mais planejado, mais perigoso, pois pode haver novas tentativas, caso a última não tenha dado certo; • Qualquer distúrbio psiquiátrico associado ao uso de álcool aumenta o risco de suicídio; • Isolamento social, falta de amigos, não ser casado, não morar com outra pessoa, não ter filhos, não ser religioso aumentam o risco de suicídio, se associados a algum transtorno mental; • Nunca desconsiderar os avisos. Noventa por cento de quem tenta o suicídio avisa antes; • Quem já fez uma tentativa tem 30% a mais de chances de repeti-la do que quem nunca tentou; • Nas psicoses agudas com pensamentos suicidas, ou depressões delirantes com ideias de suicídio, caso não seja possível hospitalizar o paciente, o acompanhante deve estar alerta todo o tempo, atentando-se para janelas trancadas, armas,venenos, comprimidos, facas, garfos, fios etc. O tratamento do paciente com ideação e planejamento suicida deve ser sempre realizado com internação psiquiátrica. As medicações variam de acordo com a doença de base, por exemplo, pacientes psicóticos são medicados com antipsicóticos; pacientes deprimidos, com antidepressivos. Natalia Quintino Dias Circunstâncias que indicam a necessidade de internação psiquiátrica •Estado mental crítico, cuja gravidade impeça a boa condução ambulatorial; •Exigência de se obter história mais acurada ou completa; •Necessidade de um período mais longo de observação do paciente; •Reavaliação do tratamento psiquiátrico que vinha sendo realizado; •Ausência de uma rede de apoio social; •Família claramente disfuncional ou sem condições de dar continência emocional; •Familiares mostram-se cansados de cuidar do paciente. Itens que compõem um plano de segurança a ser elaborado e trabalhado em conjunto por terapeuta, paciente e, eventualmente, familiares •Lista de situações (gatilhos) que costumam desencadear ideação suicida; •Sugestões de como lidar com tais pensamentos e momentos de angústia; •Lembrete para afastar meios que possam ser usados para se autoagredir; •Registro de uma ou mais “boas razões para continuar vivo”; •Sugestão de atividades que costumam reduzir a ansiedade; •Duas ou mais pessoas que costumam dar apoio e como acessá-las rapidamente; •Informações sobre como contatar o médico, o psicoterapeuta; •Telefone de centros de crise (no Brasil, CVV) e de serviços médicos de emergência. Prevenção Algumas medidas devem ser estabelecidas, como: o treinamento de médicos para identificar e tratar corretamente episódios de depressão, a restrição ao acesso a meios letais (armas de fogo, venenos, medicações potencialmente letais, acesso a locais de onde o indivíduo pode se jogar) e o tratamento/acompanhamento de paciente após alta hospitalar de internação ou atendimento em posto de saúde devido a tentativa de suicídio.
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