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PALEOANTROPOLOGIA PARA 
INICIANTES
UM CURSO ILUSTRADO SOBRE A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA HUMANA
Por Euder Monteiro
(revisão e edição por Fernando Bilharinho)
Ardi (Ardipithecus ramidus) e Lucy (Australopithecus afarensis), duas damas do passado. Fonte: Revista Veja
PALEOANTROPOLOGIA PARA INICIANTES:
Um curso ilustrado sobre a evolução biológica humana
ÍNDICE:
Introdução
Capítulo1: O surgimento do Homo sapiens
Capítulo 2: Homo neanderthalensis
Capítulo 3: Homo sapiens X Homo neanderthalensis: hibridismo 
Capítulo 4: Homo floresiensis
Capítulo 5: Homo erectus
Capítulo 6: Gigantopithecus, os maiores primatas de todos os tempos
Capítulo 7: Homo ergaster
Capítulo 8: Homo rudolfensis e Homo habilis
Capítulo 9: O mundo há 2 milhões de anos
Capítulo 10: Outras Espécies do Gênero Homo
Capítulo 11: O Polegar Opositor
Capítulo 12: Importantes Marcos Pré-Históricos
Capítulo 13: O gênero Australopithecus
Capítulo 14: Berço da Humanidade
Capítulo 15: Australopithecus afarensis: um velho conhecido
Capítulo 16: Australopithecus afarensis: outro velho conhecido
Capítulo 17: Australopithecus gahri: quase Homo?
Capítulo 18: Australopithecus sediba: uma descoberta recente
Capítulo 19: Australopithecus anamensis: o mais antigo
Capítulo 20: Curiosidades sobre os Australopithecus
Capítulo 21: Paranthropus: um gênero paralelo aos humanos
Capítulo 22: O início da expansão cerebral
Capítulo 23: Homossexualidade
Capítulo 24: Os grandes antropóides antigos
Capítulo 25: Bipedalismo
Capítulo 26: Parto de um chimpanzé (descrição) em relação ao parto humano
Capítulo 27: Kenyanthropus platyops: um bípede misterioso
Capítulo 28: Por que você não tem rabo?
Capítulo 29: Teorias heterodoxas 
APÊNDICES:
1. Lista de espécies humanas e pré-humanas
2. Classificações completas de alguns primatas
3. Algumas observações sobre a classificação dos primatas
4. Sugestões de leitura
5. Sugestões de Livros
6. Para conversar com o autor
Introdução:
A Paleoantropologia estuda, em suma, a evolução das espécies pré-humanas e das 
espécies do gênero Homo, incluindo nossa própria espécie: Homo sapiens. A 
Paleoantropopologia (“Paleo”, do grego, significa antigo, indicando que se trata do 
estudo da Antropologia antiga, ou pré-histórica) é uma junção de ramos científicos 
importante: a Paleontologia e a Antropologia. A Paleoantropologia realiza estudos 
antropológicos de todas as características físicas, modos de vida, interações sociais 
e outros aspectos dos pré-humanos e dos humanos, além das relações de 
parentesco entre as espécies.
A Paleontologia é bastante utilizada pelos Paleoantropólogos, como, por exemplo, 
quando fósseis de animais pré-históricos auxiliam ou complementam os outros 
métodos de datação dos sítios arqueológicos, tendo em vista que é possível saber 
em que época determinados paleoanimais viveram.
Fonte das imagens: http://humanorigins.si.edu
A Paleoantropologia também pode valer-se de ciências afins, como a Genética, a 
Arqueologia, a Geologia, e muitas outras. Quando são encontrados fósseis 
acompanhados de animais pré-históricos e/ou ferramentas e/ou vestígios de 
fogueira, por exemplo, é possível fazer uma análise muito mais completa do sítio 
arqueológico quando os conhecimentos de todas essas ciências em conjunto forem 
utilizados. 
Os vestígios de ferramentas são fundamentais e, naturalmente, é possível saber de 
que material as mesmas foram feitas. A Geologia informa qual o grau de dureza de 
determinado material, se mais maleável como o marfim ou o mármore, ou mais 
rígido como o minério de ferro. A Geologia é capaz de fornecer detalhes espantosos 
sobre as pedras e rochas, como a idade delas (o que também ajuda na datação dos 
fósseis). 
Recentemente, a Genética promoveu uma significativa colaboração aos estudos 
paleoantropológicos, tendo em vista que foi possível extrair amostras de DNA de 
alguns fósseis mais recentes. 
No entanto, a principal fonte de conhecimentos da Paleoantropologia são os ossos 
fossilizados de humanos e pré-humanos, que, sozinhos, fornecem uma fonte 
gigantesca de informações, principalmente a partir dos anos 1990, quando algumas 
características não-métricas dos ossos começaram a receber tratamento estatístico 
mais elaborado.
Neste curso, serão estudadas cada uma das espécies do nosso gênero (Homo) e 
dos gêneros ancestrais, o paleoambiente onde viviam e os caminhos evolutivos 
totalmente aleatórios e casuais (mas obedecendo as leis da Evolução) pelos quais 
passaram.
Capítulo 1: O surgimento do Homo sapiens 
A maioria dos paleoantropólogos acredita que o Homo sapiens surgiu na África (na 
parte oriental ou no sul do continente) entre 150.000 e 200.000 anos atrás.
O fóssil mais antigo de Homo sapiens foi apelidado de "Herto", tem entre 150.000 e 
160.000 anos de idade, e ainda exibe algumas características arcaicas, como 
ligeiras protuberâncias supra-oculares. Essa protuberâncias são um tipo de viseira 
óssea sobre os olhos que aparece em todos os hominídeos, exceto nos Homo 
sapiens tardios. Sua função, segundo o paleoantropólogo Richard Klein, no livro "O 
Despertar da Cultura", seria impedir que a face se partisse em duas com as forças 
causadas pelos músculos das mandíbulas durante a mastigação. Nossa testa alta e 
escarpada faria as vezes dessa protuberância, distribuindo e absorvendo tais forças. 
Aliás, alguns povos atuais, como os aborígines australianos, os pigmeus asiáticos e 
alguns povos africanos ainda exibem muitos traços anatômicos primitivos. Os 
aborígines ainda possuem resquícios dessa protuberância supra-orbital, além de 
alguns outros povos e pessoas isoladas.
Ao longo deste curso, falaremos mais sobre esses aspectos anatômicos. 
Apesar de ter surgido há aproximadamente 200 mil anos, apenas há 50.000 anos o 
Homo sapiens começou a imprimir aperfeiçoamentos constantes à sua tecnologia, 
sendo também nessa época o início do pensamento abstrato e simbólico, conforme 
explicou Klein em seu livro “O Despertar da Cultura”.
Alguns autores, inclusive Klein, consideram que houve uma mutação genética que 
teria aumentado o número de sinapses cerebrais dos sapiens há 50.000 anos, tendo 
em vista que não houve nenhuma alteração física ou morfológica nesse período. 
Outros autores defendem que a capacidade de pensamento abstrato surgiu com o 
Homo sapiens há quase 200.000 anos, mas apenas há 50.000 anos encontrou 
condições de desenvolvimento. Atualmente, há cada vez mais evidências 
arqueológicas indicando essa última possibilidade e mais, são encontradas 
evidências cada vez mais antigas do pensamento abstrato/simbólico. 
Pessoalmente, acredito que o potencial para o pensamento simbólico surgiu com a 
nossa espécie e desenvolveu-se mais tarde, quando as condições climáticas na 
Terra se mostraram mais favoráveis. Robert Foley, da Universidade de Cambridge, e 
autor de vários livros (entre eles: "Os Humanos Antes da Humanidade") também 
pensa assim. Ou seja, a partir de 50.000 anos, ou antes, o clima na África (berço da 
cultura simbólica) teria permitido um significativo aumento populacional (conforme se 
verá adiante), impulsionando também o desenvolvimento cognitivo humano. 
Quando surgiu, nossa espécie dividia o planeta com o Homo neanderthalensis, com 
o Homo floresiensis, com o Homo erectus e com uma espécie ainda não 
identificada, cujo único fóssil é conhecido como "Mulher X". Ao longo do curso, 
vamos falar mais sobre essas espécies.
Como vimos, na literatura paleoantropológica há duas hipóteses principais para o 
relativamente repentino surgimento da cultura simbólica há 50.000 anos (lembrando 
que apenas há 30.000 anos a revolução espalhou-se pelo mundo),a saber:
1ª. O Homo sapiens, quando surgiu, com seu cérebro reconfigurado em relação às 
outras espécies Homo, já era capaz de pensamentos simbólicos e de imprimir 
constante e acelerado aperfeiçoamento à sua indústria. No entanto, essa 
capacidade permaneceu inerte até que o clima da Terra permitiu um aumento 
populacional razoável e condições menos duras de sobrevivência;
2ª. Há 50.000, na África, houve uma mutação genética em uma das tribos humanas 
que, ao longo dos muitos milênios seguintes, espalhou-se por todas as populações. 
Essa mutação conferiu um aumento significativo na quantidade de sinapses ou uma 
reconfiguração nos neurônios, permitindo o desenvolvimento de atividades que até 
então nenhuma espécie havia alcançado, principalmente o pensamento por meio de 
símbolos.
Apesar de a revolução cultural ter ocorrido há tanto tempo, apenas há 6.000 anos 
(mais ou menos) proto-civilizações surgiram no planeta, em três pontos separados 
do globo (Egito, Mesopotâmia e China). Com elas vieram a agricultura, as cidades, 
as profissões, etc. Antes disso, vivíamos como nômades, caçando animas e 
coletando frutas, sem muita expressão cultural, em comunidades pequenas e 
espalhadas. Alguns autores chegam a afirmar que umas 2.000 pessoas constituíam 
toda a espécie humana, e a maioria acredita que éramos, no máximo, 30.000 ou 
50.000 indivíduos, divididos em aldeias de mais ou menos 200 habitantes cada.
Veja a gravura abaixo, onde se pode perceber com facilidade a evolução da 
população humana ao longo dos últimos 200.000 anos:
Fonte: Revista Veja (edição 2.059, 07/05/2008)
Em seu livro “O Despertar da Cultura” (páginas 195 a 197), Craig Stanford, descreve 
da seguinte maneira o grande despertar humano:
"Deixando de lado rótulos e datas precisas, o aspecto 
básico é que as populações da Idade da Pedra Posterior e 
do Paleolítico Superior [após o despertar] são as primeiras 
a que podemos atribuir a capacidade plenamente 
moderna de produzir cultura, ou talvez, com maior 
precisão, a aptidão completamente moderna de inovar. 
Foi com certeza essa capacidade que permitiu que os 
povos da Idade da Pedra Posterior e do Paleolítico 
Superior se dispersassem à custa dos seus 
contemporâneos mais primitivos, começando entre 50.000 
e 40.000 anos atrás. As inovações incluíram casas 
construídas solidamente, roupas costuradas, fogueiras 
mais eficientes e uma nova tecnologia de caça que 
permitiu aos Cro-Magnons do Paleolítico Superior 
deslocar seus predecessores, ajudando-os também a 
colonizar as partes mais continentais e inóspitas da 
Eurásia, onde ninguém havia vivido antes."
Não há dúvidas de que o despertar não fez surgir apenas pinturas rupestres, mas 
revolucionou o modo de vida dos humanos.
1.1. Teorias sobre o surgimento do Homo sapiens
Existem duas teorias básicas sobre o surgimento do Homo sapiens, que, de forma 
resumida, podem ser explicadas assim:
a. Teoria do Berço Africano, também conhecida como "Out of Africa" (África para 
fora) ou Arca de Noé;
b. Teoria Multirregional, também conhecida por "Candelabro".
A primeira teoria, mais aceita atualmente, dispõe que os primeiros Homo sapiens 
surgiram na África, provavelmente na África Oriental (ou no sul do continente) e, de 
lá, se espalharam pelo Oriente Médio, Ásia, Oceania, Europa e Américas (nessa 
ordem). Além de muitos fósseis darem a entender que essa teoria está correta, 
agora a Genética também a corrobora. Estudos genéticos apontam claramente a 
África como origem de todos os humanos atuais.
Primeiro os fósseis: na África, foram encontrados diversos fósseis que indicam 
claramente a tendência evolutiva em direção ao Homo sapiens. O Homo erectus 
africano, conhecido como Homo ergaster (homem trabalhador, em latim) possui uma 
morfologia muito mais parecida com a nossa do que o Homo erectus da Ásia. Aliás, 
muitos paleoantropólogos, como G. J. Sawyer e Victor Deak, autores de "The Last 
Human – A Guide to Twenty-Two Species of Extinct Human" (um dos livros mais 
atuais sobre o tema, ainda sem edição em português) e também Richard Klein, 
defendem a existência de 2 espécies de Homo erectus asiáticos, a encontrada na 
China e a outra da Indonésia. Realmente há diferenças pequenas entre as duas 
morfologias, principalmente no formato da parte superior do crânio.
Os fósseis mostram que o Homo ergaster é o mais provável ancestral humano, 
anterior ao Homo heidelbergensis. Além disso, formas claramente ancestrais, como 
o Homo heidelbergensis (homem de Heidelberg, uma cidade alemã) e o Homo 
sapiens idaltu (idaltu significa mais antigo, em uma língua africana da região de Afar, 
também conhecido como “Herto”, descobertos por Tim White em 2003), são 
encontrados na Europa e África, respectivamente. Tais fósseis demonstram que o 
Homo sapiens desenvolveu-se paralelamente ao Homo neanderthalensis e 
distinguiu-se das outras espécies enquanto estava em seu berço africano.
A Genética também confirma a origem africana, baseada em análises do DNA 
mitocondrial e no próprio DNA nuclear. Sobre esse aspecto, para maiores 
informações, sugiro o livro "Genes, Povos e Línguas" de Cavalli-Sforza, um grande 
especialista no assunto.
Em relação à teoria multirregional: seus defensores acreditam que o Homo sapiens 
surgiu concomitantemente na África e na Ásia (e talvez em outras regiões como a 
Oceania e Europa). Argumentam, dentre outras coisas, que um surgimento isolado 
na África dependeria de uma ampla substituição posterior de espécies. Ou seja, o 
Homo sapiens teria que substituir, inteiramente, os Neandertais na Europa e o Homo 
erectus na Ásia e na Oceania, o que seria difícil de ocorrer. Para isso, deveria haver 
uma constante troca de genes entre as populações para manter todas elas unidas 
em uma mesma espécie.
Essa teoria, hoje em dia, está sofrendo severos ataques, principalmente oriundos da 
Genética. É que todas as diferenças étnicas são causadas por mutações genéticas 
recentes na história evolutiva, indicando que as mesmas ocorreram muito tempo 
depois do surgimento da espécie. 
Há cada vez mais indícios de que o Homo sapiens hibridizou-se (em pequena 
escala) com populações nativas de outras espécies humanas (como o Homo 
neanderthalensis) em diversas partes do mundo. Mas isso não é suficiente para 
fortalecer a hipótese multirregional.
1.2. Questões interessantes sobre o gênero humano:
1.2.1. Alguma outra espécie de humanos conseguiu desenvolver a cultura 
abstrata/simbólica?
O único humano, além dos Homo sapiens, de que se tem alguma evidência de uma 
mudança cultural foi o Homem de Neandertal. Esse humano experimentou, por 270 
mil anos, a cultura Mousteriense e, só então, vivenciou as culturas 
Chatelperronense, Aurignaciana, e Gravettiana, possivelmente através de contatos 
com o Homo sapiens. Atualmente, há evidências de que os Homo neanderthalensis 
tardios conseguiram, sem a ajuda dos Homo sapiens, aperfeiçoar sua tecnologia de 
fabricação de ferramentas (Livro “O Colar do Neandertal” – ver referências no final).
1.2.2. Por que o Homo sapiens demorou tanto para desenvolver sua civilização?
Na Era do Gelo havia caça abundante. Bastava que as populações acompanhassem 
as manadas em movimento para ter comida fácil. Depois, a megafauna 
desapareceu, junto com as contínuas e vastas estepes eurasianas e americanas. 
Tornou-se necessário permanecer próximo a vales de rios ou à beira do mar, 
tentando aprender a produzir alimento, que deixou de ser fácil de obter. E fazer isso 
só era possível se os humanos se agrupassem em sociedades maiores, divididas 
por categorias ou classes, dedicando-se,cada uma, a funções especializadas.
1.2.3. Até quando o Homo sapiens conviveu com os outros humanos?
Até mais ou menos 16 mil anos atrás, na Ilha de Flores (atual Indonésia), ainda 
havia Homo floresiensis. Até hoje, há lendas nativas sobre a existência de seres 
conhecidos como “Ebu Gogo”, na ilha. Houve também uma convivência com os 
Neandertais, principalmente na Europa e no Oriente Médio até uns 30.000 anos 
atrás. Além disso, há evidências de convivência com os Homo erectus, na Ásia, até 
uns 45.000 anos atrás. Adiante, estudaremos mais sobre tais espécies.
1.2.4. É verdade que o povo basco pode ser descendente direto dos Cro-Magnon?
Essa informação pode ser encontrada no livro "Genes, Povos de Línguas" de Luigi 
Luca Cavalli-Sforza. É mesmo possível que os atuais bascos, que hoje habitam o 
norte da Espanha e o sul da França, possam ser descentes dos primeiros Homo 
sapiens que habitaram a Europa, conhecidos como Cro-Magnons. Sforza baseou-se 
em evidências genéticas e protéicas, e também na língua falada por eles. É um 
estudo muito interessante. 
1.2.5. Por que alguns fósseis humanos antigos são chamados de Cro-Magnon?
Os primeiros Homo sapiens já se dividiam em etnias. Além dos Cro-Magnons, temos 
os Grimaldi (de características negróides), os Chancelade (parecidos com os Cro-
Magnons, porém mais baixos) e muitas outras. Além disso, alguns autores 
subdividem nossa espécie em subespécies: Homo sapiens pressapiens, Homo 
sapiens fossilis (divididos em Cro-Magnons e outras etnias já citadas), Homo 
sapiens idaltu, etc.
1.2.6. Quanto maior o cérebro, mais inteligente é a espécie?
O volume cerebral não é, por si só, um bom indicador de inteligência. Se não fosse 
assim, as baleias, com cérebros de 30kg seriam imbatíveis no xadrez. Nem mesmo 
o tamanho relativo do cérebro é um indicador confiável, porque os ratos, por exem-
plo, têm um cérebro maior do que o nosso, em termos relativos (em relação ao ta-
manho do corpo). Tampouco podemos considerar o índice de encefalização como 
um indicador confiável. Esse índice mede o tamanho esperado do cérebro em rela-
ção ao corpo, mas não leva em consideração aspectos da arquitetura cerebral. Vale 
a configuração do encéfalo: o número de neurônios, o número de sinapses e a forma 
como estão distribuídos nas diversas regiões encefálicas. O autor Robert Foley, em 
seu livro "Os Humanos Antes da Humanidade", páginas 202 e seguintes, discorre à 
exaustão sobre isso.
A comparação de cérebros é algo muito complexo, mesmo se compararmos 
indivíduos de uma mesma espécie. Pessoas com cérebros pequenos, como Santos 
Dumont, podem ser gênios com intelecto muito poderoso e outras, com grandes 
cérebros, podem ser medianamente inteligentes. A inteligência pode assumir muitas 
manifestações (inteligência emocional, esportiva, matemática, etc.), o que complica 
ainda mais as comparações.
O que é necessário ficar claro é que a inteligência não está diretamente relacionada 
ao tamanho do cérebro. Fatores como a arquitetura cerebral são importantes. Por 
exemplo: os Neandertais tinham um cérebro maior do que o nosso, mas o córtex 
frontal deles era menos desenvolvido. O cérebro deles era voltado para trás e não 
para cima, como o nosso. Outro exemplo: os Australopithecus tinham um cérebro 
um pouco maior do que o de um chimpanzé atual, no entanto, esse último tem um 
corpo mais volumoso, o que dá a entender que o índice de encefalização 
australopitecíneo era bem maior.
Mamíferos, em geral, têm cérebros maiores e mais desenvolvidos. No entanto, 
dentre os mamíferos, os primatas são imbatíveis quanto ao número de neurônios por 
massa encefálica. Comparando, por exemplo, uma capivara e um macaco de 
tamanho semelhante, pode-se identificar, claramente, um volume encefálico 
aproximado entre essas espécies, porém uma enorme diferença no número de 
neurônios. 
Fonte: http://www.suzanaherculanohouzel.com/herculano-houzel-et-al-2007-pn
Isso se deve, em parte, à longa história de vida em grupo dos primatas, o que gera 
interações complexas entre os indivíduos. Outras explicações aceitas são 
relacionadas à busca por comida, a necessidade de fugir de muitos predadores, etc.
1.2.7. Quais as principais forças evolutivas? O que leva ao surgimento de novas 
espécies ou a extinção de espécies antigas?
Vejam o que nos informa o livro “Genes, Povos e Línguas” (página 65):
"Desde os primórdios da genética moderna, quatro forças 
evolutivas foram identificadas: a mutação, que produz 
novos tipos genéticos; a seleção natural, o mecanismo 
que seleciona automaticamente os tipos mutados mais 
bem adaptados a determinado ambiente; a deriva 
genética, que consiste na oscilação aleatória das 
freqüências gênicas em populações; e a migração, às 
vezes chamada de fluxo gênico. A deriva genética é a 
mais abstrata delas, embora nada mais seja do que a 
oscilação aleatória da freqüência gênica ao longo de 
várias gerações." 
Fatores como mudanças climáticas, que alteram o ambiente ao qual a espécie está 
adaptada, também são importantes motores evolutivos. Outros fatores como as 
mudanças nas placas tectônicas (que alteram o tamanho e a configuração dos 
continentes), ciclos climáticos do planeta, interações entre espécies diferentes, e 
outros, também contribuem significativamente na evolução e extinção das espécies. 
O livro “Human Evolution: An Illustrated Introduction” discute à exaustão todos os 
motores da evolução e da extinção. Na verdade, pequenas variações topográficas 
que podem isolar membros de uma espécie podem levar ao surgimento de uma 
nova espécie (especiação).
1.3. Outras Informações Importantes sobre o Surgimento do Homo sapiens 
As informações abaixo foram retiradas e compiladas do livro "The Last Human", pelo 
Dr. Fernando Bilharinho:
“1. O nome Homo sapiens apareceu pela primeira vez na 
décima edição de Systemae Naturae de Carl Linnaeus 
publicada em 1758;
2. Não existe consenso sobre o que é um Homo sapiens 
moderno. Os mais antigos fósseis indubitavelmente 
creditados como Homo sapiens moderno datam de 94 mil 
AP (Antes do Presente) e foram encontrados em Israel. 
Há muitos fósseis que apresentam pequenas variações 
que devem ser consideradas aceitas dentro de uma 
espécie. Mesmo entre Homo sapiens atuais, há 
diferenças importantes: os !Kung San (o ponto de 
exclamação no início do nome indica que o leitor deve 
estalar a língua nos dentes) da Namíbia, por exemplo, 
não possuem um queixo considerado moderno. Assim, 
ampliando o espectro, podemos chegar a Homo sapiens 
modernos já há 260 mil anos na África do Sul e 270 mil 
anos no Quênia.
3. A tendência atual é considerar o Homo sapiens como 
descendente do Homo heidelbergensis. Como o 
heidelbergensis é muito mais parecido com o 
neanderthalensis do que conosco, é provável que o Homo 
sapiens primitivo, ou outro nome que venha a receber, 
tenha surgido a partir dessa espécie há 600 mil anos."
Acrescento a seguinte informação: o autor Craig Stanford, autor do livro "O 
Despertar da Cultura", também argumenta, na página 181 do livro supracitado, que 
até mesmo os aborígines australianos têm supercílios relativamente salientes o que, 
a rigor, é um detalhe não moderno de suas anatomias. Concluindo, o autor afirma 
que a modernidade anatômica do Homo sapiens ainda é uma questão polêmica 
dentro da Paleoantropologia. É possível reduzi-la a tal ponto que teríamos que 
excluir alguns povos atuais (!), ou ampliá-la a tal ponto que poderíamos até incluir os 
Neandertais nessa classificação (!).
Cor da pele do Homo sapiens (distribuição geográfica original)
1.4. Ilustrações para estudo:Percebam nas figuras, especialmente, os seguintes detalhes anatômicos:
a. Protuberância supra-ocular;
b. Presença ou ausência do queixo (neanderthalensis não tinham queixo);
c. Formato do crânio (testa baixa e recuada dos neandertais; e alta e escarpada nos 
sapiens).
Homo sapiens idaltu (Photo © 2001 David L. Brill Brill Atlanta)
Capítulo 2: Homo neanderthalensis 
Há apenas 30.000 anos, Neandertais ainda perambulavam pela Europa. Seu último 
refúgio foi a Península Ibérica, mas, no auge, o povo neandertal ocupou quase toda 
a Europa, grande parte do Oriente Médio (principalmente nas imediações de Israel) 
e também grande parte do restante da Ásia.
Os fósseis dessa espécie são encontrados desde o século XIX, e, hoje, são milhares 
já catalogados, alguns em excelente estado de conservação, sendo possível, 
inclusive, estudar seu genoma, que já foi quase inteiramente mapeado. Os primeiros 
fósseis foram encontrados no vale do rio Neander, na Alemanha, daí a origem do 
nome. Em alemão, Neanderthal escrevia-se com "th", hoje, após reformas, escreve-
se "Neandertal", com o "h" abolido. No entanto, o nome da espécie latinizado 
mantém o "th", sendo que as duas formas são aceitas hoje em dia para se referir 
coloquialmente à espécie.
O Homo neanderthalensis é a espécie humana mais bem conhecida, além da nossa, 
é claro. Existe uma ampla literatura específica sobre o tema. Sugiro, para o leigo que 
desejar conhecer um pouco mais sobre o assunto, a leitura do livro "O Colar do 
Neandertal", escrito por Juan Luis Arsuaga, espanhol, especialista em Neandertais.
Homo neanderthalensis (Fonte: Coleção de Thomas van deer Laan – Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP)
2.1. Convivendo com Neandertais:
Com toda certeza, os primeiros sapiens a chegarem aos domínios neandertais, 
principalmente no Oriente Médio e sul da Europa, mantiveram um contato profundo 
com eles. Os paleoantropólogos já aceitavam a existência de troca cultural, tendo 
em vista que a cultura neandertal, conhecida como Mousteriense, aparentemente 
pode ter sofrido influência das primeiras culturas sapiens (principalmente a 
Chatelperronense). É bom que tenhamos uma pequena noção sobre essas culturas 
antigas. Vejam o resumo abaixo, retirado da Wikipedia:
"Esta cultura técnica, atribuída aos Neandertais, 
designada como Mousteriense, consistia na produção de 
ferramentas de pedra lascada produzidas através do 
desbastamento em leque de um bloco lítico inicial (ou 
núcleo), de que se formavam lascas a partir das quais se 
encadeava a produção de instrumentos diversos, como 
machados manuais para tarefas específicas, bifaces, 
raspadeiras, furadores e lanças. Muitas dessas 
ferramentas eram bastante afiadas. No Paleolítico 
Superior desenvolveram uma cultura material mais 
evoluída de talhe da pedra, designada de 
Chatelperronense, caracterizada pelo desdobramento do 
núcleo lítico em peças menores e mais manuseáveis." 
(Fonte: Wikipedia.com)
A tecnologia Mousteriense produzia cerca de 20 tipos diferentes de ferramentas, 
como machados de mão. A Chatelperronense produzia mais de 60 tipos de 
ferramentas, com um acabamento ligeiramente superior. É possível que essa 
superioridade tecnológica do Homo sapiens tenha contribuído para a extinção dos 
Neandertais.
No entanto, as últimas descobertas genéticas, conduzidas pelo geneticista sueco 
Svant Päabo, indicam o que muitos já esperavam: houve cruzamentos entre as 
espécies sapiens e neanderthalensis, e isso ficou marcado no genoma de nossa 
espécie até hoje. Porém, tais cruzamentos foram raros, como se verá adiante.
2.2. A aparência dos Neandertais:
Os Neandertais tinham um corpo muito adaptado a climas frios, por isso eram mais 
largos e mais baixos, em média, do que os sapiens arcaicos, que evoluíram em 
regiões quentes da África.
 Fonte: Jornal Folha de São Paulo
Outras diferenças anatômicas poderiam ser facilmente notadas: ausência de queixo, 
testa baixa, crânio voltado para trás, pernas arqueadas, dedos grossos e fortes, 
músculos muito desenvolvidos, espaço retromolar (espaço entre o último dente 
molar e a mandíbula), rosto projetado para frente, cérebro relativamente maior, que 
poderia atingir 1.700 centímetros cúbicos (os sapiens têm, em média, 1.400 cm3), e 
algumas outras pequenas diferenças.
A figura abaixo foi retirada do livro “O Despertar da Cultura” de Richard G. Klein e 
Blake Edgar (figura 6.4). Segundo os autores, a ilustração foi desenhada por Kathryn 
Cruz-Uribe a partir de modelos:
2.3. Curiosidades sobre os Neandertais:
2.3.1. Por terem evoluído em um clima muito frio, durante o Pleistoceno europeu, a 
pele deles certamente era muito clara e, segundo indícios fósseis, seus cabelos, 
quase sempre eram ruivos.
2.3.2. Alguns grupos étnicos atuais de Homo sapiens têm características 
semelhantes aos Neandertais. Por exemplo: os inuítes (que não gostam de ser 
chamados de "esquimós", termo considerado pejorativo por eles) também têm 
corpos muito robustos e atarracados, porque residem há milênios em terras muito 
frias. Os aborígines australianos, como já dito aqui, têm pequenas protuberâncias 
supra oculares e, aliás, apesar de negros, são os povos mais distantes 
geneticamente dos africanos. A cor da pele deles convergiu para negra após nova 
adaptação ao ambiente da Oceania.
2.3.3. Estudando os ossos da boca, principalmente o hióide, é possível concluir que, 
se os Neandertais falavam, a voz deles deveria ser extremamente anasalada, 
gutural e seccionada. Alguns pesquisadores simularam a voz dos Neandertais e 
disponibilizaram isso na internet: http://www.acemprol.com/viewtopic.php?
f=16&t=245.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
2.4. Extinção dos Neandertais:
Quase todas as hipóteses sobre a extinção dos Neandertais passam pela 
competição com os sapiens, que, além de possuírem uma tecnologia superior, eram 
capazes de raciocínios estratégicos sofisticados (como, por exemplo, criar táticas de 
guerra).
Juan Luis Arsuaga, em seu livro "O Colar do Neandertal", desenvolveu uma teoria 
muito interessante e complexa, para explicar a extinção dessa espécie. Baseado em 
vários sítios fósseis em que foram encontrados grupos inteiros de indivíduos, o autor 
conclui que a média de vida dos Neandertais era menor do que a dos primeiros 
sapiens (por causa de seu estilo de vida baseado na caça de grandes animais, o 
que era perigoso) e, além disso, o índice de natalidade da espécie era também 
menor. Com isso, o crescimento da população era muito pequeno e bastou o contato 
com os sapiens (que trouxeram novas doenças e novas mortes em combate) para 
que esse delicado equilíbrio fosse rompido. Em um curto espaço de tempo, 
provavelmente 20.000 anos, todos os Neandertais foram eliminados.
2.5. Questões interessantes sobre os Neandertais:
2.5.1. Por que a baixa estatura e a robustez são adaptações a ambientes frios? Em 
que tais características ajudam?
Essas características ajudam na conservação do calor dentro do corpo. Um corpo 
mais largo, mais robusto, com mais gordura, naturalmente retém mais o calor. É que, 
nesse caso, o corpo se aproxima do formato de uma esfera, que é o sólido que 
possui a menor área de superfície em relação ao seu volume. Um corpo magro e 
esguio, como o dos africanos equatoriais, tende a reter menos calor, facilitando a 
sobrevivência em ambientes quentes, tendo em vista que têm uma maior área de 
pele, em relação ao volume do corpo.
2.5.2- O contato com os Neandertais deixou alguma marca na cultura sapiens? 
Algum aspecto, atividade ou tecnologia foram estimulados ou desestimulados por 
esse contato?
O contato, como demonstraram as últimaspesquisas, deixou marcas no genoma 
dos povos não-africanos. Em termos culturais, é possível afirmar que a cultura 
neandertal, conhecida como Mousteriense, muito provavelmente sofreu influência de 
uma das primeiras culturas dos sapiens, conhecidas como Acheuliana ou 
Chatelperronense. Após os contatos, os artefatos Mousterienses passaram a ter um 
refinamento parecido com os da indústria Acheuliana. Atualmente, há pesquisadores 
que criticam esse raciocínio, indicando evidências de que a cultura neandertal 
desenvolveu-se sozinha.
Portanto, a maioria das evidências indicam que, se houve troca de tecnologia, foram 
os sapiens que a transferiu para os Neandertais.
2.5.3. Qual foi a motivação para essas grandes migrações de sapiens rumo aos 
territórios neandertais? Busca de novos recursos?
Os sapiens, segundo as últimas pesquisas, surgiram na África. Os Neandertais 
surgiram no Oriente Médio ou na Europa. Para sair da África em direção a outras 
paragens, era obrigatório para os sapiens atravessar os domínios dos Neandertais, 
no Oriente Médio. Portanto, o contato foi inevitável.
Como os primeiros sapiens viviam da caça e da coleta, à medida que a população 
crescia (e crescia muitíssimo devagar) e à medida que os recursos iam se 
escasseando, a colonização de outros continentes tornou-se imperiosa. Além disso, 
muitas vezes, os primeiros sapiens pareciam ampliar seus domínios por mera 
curiosidade, atingindo até o sul da América do Sul e mais, se houvesse mais. Parece 
que eles queriam ver o que havia atrás da próxima montanha, como afirmou o Dr. 
Walter Alves Neves em seu livro “O Povo de Luzia”.
2.6. A proximidade genética entre sapiens, Neandertais e chimpanzés:
A diferença entre o DNA humano e o DNA do chimpanzé pode variar de 4% a 1%, 
dependendo do trecho do DNA em comparação. Comparar DNAs é uma tarefa 
muitíssimo complicada. Apesar de termos apenas uns 25.000 genes (antes 
pensávamos que eram uns 100.000: grande engano!), temos bilhões de pares de 
bases de nucleotídeos que não codificam genes e podem ser igualmente relevantes.
A tarefa mais complicada é sequenciá-los (deve-se sequenciar uma hélice da 
molécula para sabermos com exatidão a composição da outra hélice; a hélice do 
DNA tem 4 tipos de nucleotídeos que se combinam aos pares entre eles), depois 
separar os que formam genes dos que não formam (essas sequências que não 
forma genes, que antes se pensava que eram uma espécie de lixo genético, são 
muito importantes no funcionamento dos próprios genes), depois montar os 
cromossomos.
Além dos chimpanzés terem menos cromossomos (o que eu entendo como uma 
diferença mais significativa do que ter 1 ou 4% dos genes diferentes, porque dificulta 
severamente uma tentativa de cruzamento entre as espécies, sendo esse um dos 
motivos das falhas nas controvertidas tentativas), esse "de 1% a 4%" de diferenças 
está concentrado em genes importantes de formação cerebral, fala, morfologia do 
punho, etc.
No caso dos Neandertais, a situação é bem diferente! O pesquisador sueco Svant 
Pääbo, que sequenciou os genes dos Neandertais, comparou o genoma neandertal 
com o genoma humano e com o genoma dos chimpanzés. Segundo ele, a diferença 
encontrada entre os sapiens e os Neandertais é semelhante à de um homem atual e 
seu próprio tataravô (apesar do tataravô estar muito mais próximo de nós do que um 
Neandertal há 80.000 anos). Muitos seres humanos atuais têm Nandertais como um 
de seus antepassados e isso foi encontrado baseado em rastros genéticos. "Em 
vários casos, quando há uma diferença entre o genoma de um africano e o de um 
não-africano, a versão das populações que não são originárias da África bate com a 
dos Neandertais", diz Pääbo. "O único jeito de explicar esses dados é por 
cruzamento", continua.
Note, portanto, que os genes neandertais estão concentrados na parte diferente do 
genoma dos africanos em relação aos não-africanos. E qual seria essa parte 
diferente: questões de imunidade, cor da pele, etc. Por que isso ocorre? Simples: o 
DNA do Neandertal era muito parecido com o nosso DNA, porque nosso ancestral 
comum viveu há apenas 600.000 anos.
É interessante notar também que não foram encontradas marcas neandertais no 
DNA mitocondrial humano. Esse tipo de DNA (mitocondrial) é originário apenas da 
mãe, sem sofrer o cruzamento com o DNA paterno, da mesma forma que todo o 
cromossomo Y é recebido apenas pelos pais. Svant Pääbo decifrou o Genoma 
nuclear dos Neandertais. O DNA mitocondrial deles já era conhecido. 
A ausência de genes neandertais em nosso DNA mitocondrial pode indicar que os 
cruzamentos entre homens neandertais e mulheres sapiens tiveram mais sucesso. 
Pode ser que os cruzamentos entre homens sapiens e mulheres neandertais não 
tenham gerado descendentes ou que os descendentes gerados não tenham sido 
férteis. Sabe-se que, em uma invasão, os homens invasores tendem a raptar as 
mulheres dos povos invadidos. Nesse caso, seria muito mais provável que os 
cruzamentos interespécies tenham ocorrido entre homens sapiens e mulheres 
neandertais, sem deixar descendentes. Esse fato poderia explicar o fato a 
baixíssima incidência de genes neandertais nos povos não africanos, tendo em vista 
que teriam que ser originários de cruzamentos entre homens neandertais e mulheres 
sapiens.
O leitor poderá visualizar melhor essa situação, por meio da ilustração abaixo.
Ilustração: Paulo Mason
É necessário, no entanto, explicar outro aspecto: Uma coisa é você dizer que de 1 a 
4% dos genes de pessoas não-africanas são oriundos de Neandertais. Esses genes 
são oriundos de uma espécie-irmã. Os Neandertais eram tão diferentes dos 
chimpanzés quanto nós. Outra coisa é afirmar que temos de 1 a 4% de diferenças 
genéticas em relação aos chimpanzés.
Pensemos da seguinte forma: é preferível ter 4% dos genes oriundos de 
Neandertais do que 4% de genes oriundos dos chimpanzés. E, é bom frisar, não 
temos genes oriundos dos chimpanzés. Ou seja, após a separação das espécies, 
não houve cruzamentos posteriores, como ocorreu entre os sapiens e os 
Neandertais.
Ou seja, após a separação com os chimpanzés, há 6.000.000 anos, nossos 
ancestrais e os ancestrais dos Neandertais pararam de receber genes oriundos dos 
ancestrais dos chimpanzés e vice-versa. Começou então a saga diferenciadora das 
espécies, atingindo até 4% do DNA humano atual, em relação ao DNA chimpanzé.
Fonte: Livro “Eu, Primata”
Ocorre que há 600.000 anos, começou outra saga diferenciadora, entre humanos e 
Neandertais. No entanto, esse período de tempo é muito curto para criar grandes 
diferenças genéticas, mas é suficiente para gerar genes específicos em cada 
espécie. Então, há 80.000 anos, as duas espécies voltam a se encontrar e tais 
genes específicos são trocados, em uma proporção de 1 a 4%.
É importante termos em mente que, quando duas espécies se divergem, elas 
continuam compatíveis/intercruzantes durante algum tempo, até que as diferenças 
genéticas sejam significativas, principalmente em termos cromossômicos. Hoje em 
dia, por exemplo, o principal impedimento de cruzamentos férteis entre chimpanzés 
e sapiens é a diferença no número de cromossomos.
Comparação de pés e mãos dos primatas, inclusive o homem, um grande macaco, segundo Prof. Dr. Walter Alves Neves.
Capítulo 3: Homo sapiens X Homo neanderthalensis: hibridismo 
Muito recentemente, comprovou-se, após mapeamento do genoma do Homo 
neanderthalensis, que o Homo sapiens possui de 1% a 4% de seu genoma 
semelhante ao genoma neandertal. No entanto, isso só ocorre em povos não 
africanos, indicando que os Homo sapiens quesaíram da África e encontraram-se 
com os Neandertais (que viviam no Oriente Médio e na Europa) cruzaram-se! Tais 
cruzamentos, no entanto, foram relativamente raros.
Homo sapiens x Homo neanderthalensis (Por hairymuseummatt)
Vale lembrar que nosso ancestral comum com o Homo neanderthalensis, conhecido 
como Homo heidelbergensis, viveu há mais ou menos 600.000 anos e, portanto, é 
natural que mantivéssemos o potencial intercruzante, apesar de sermos espécies 
separadas.
A título de ilustração, informo (baseado no livro "Eu, Primata", de Frans de Waal) 
que os chimpanzés (Pan troglodytes) e os bonobos ou chimpanzés pigmeus (Pan 
paniscus) tiveram um ancestral comum que viveu há nada menos do que 2,5 
milhões de anos e ainda hoje as duas espécies são potencialmente intercruzantes. 
O mesmo ocorre com as duas espécies de gorilas e as duas espécies de 
orangotangos. Ou seja, primatas e muitos outros mamíferos têm essa característica, 
mantém a capacidade de intercruzarem-se, mesmo após milhões de anos de 
especiação.
Sobre os híbridos entre chimpanzés e bonobos, infelizmente, há poucos relatos 
científicos sobre eles porque nenhum zoológico poderia promover o cruzamento 
entre duas espécies sob risco de extinção. Veja o que afirma o autor Frans de Waal 
no livro supracitado:
"Pouco sabemos sobre o comportamento de híbridos reais, 
mas eles são biologicamente possíveis e existem de fato. 
Nenhum zoológico que se preze promoveria 
intencionalmente o cruzamento de dois primatas 
ameaçados de extinção, mas existe um relato sobre um 
pequeno circo itinerante francês que possui grandes 
primatas com vozes curiosas. Pensava-se que eram 
chimpanzés, só que para os ouvidos dos especialistas seus 
chamados são tão agudos quanto os dos bonobos. 
Acontece que o circo, sem saber, adquiriu tempos atrás um 
macho bonobo, batizado de Congo. O treinador logo notou 
o insaciável apetite sexual desse macho, e o explorou 
recompensando os melhores desempenhos de Congo no 
picadeiro com encontros com fêmeas primatas do circo, 
todas chimpanzés. A prole resultante — que talvez 
pudéssemos chamar de "bonanzés" ou "chimpobos" — 
anda ereta com notável facilidade e causa admiração por 
sua brandura e sensibilidade." (página 290).
Capítulo 4: Homo floresiensis 
Em nossa árvore evolutiva, o Homo floresiensis foi a última espécie de nosso gênero 
a ser extinta. Essa espécie foi descoberta recentemente na ilha de Flores, na 
Indonésia (daí o seu nome). Os fósseis têm entre 12.000 e 74.000 anos de idade, ou 
seja, essa espécie quase atingiu períodos históricos!
Homo floresiensis – comparação de altura (fonte: Jornal Folha de São Paulo)
O Homo floresiensis era baixo, apenas 1 metro de altura quando adultos (como uma 
criança sapiens de 3 anos de idade). A título de comparação, os pigmeus africanos 
atingem até 1,50m. A altura reduzida pode ser resultado de um processo de 
redução, conhecido como nanismo das ilhas. Espécies maiores que um coelho 
tendem a ficar menores. Espécies menores que um coelho tendem a crescer. Por 
meio de fósseis, é possível comprovar a existência de elefantes pigmeus e ratos 
gigantescos em Flores, que foram extintos. Os pequenos elefantes eram inclusive 
caçados pelos floresiensis, conforme comprovam os fósseis encontrados.
O Homo sapiens colonizou a ilha entre 35.000 e 55.000 anos atrás e, portanto, com 
certeza, conviveu com os floresiensis por milhares de anos. Ainda hoje há relatos de 
seres estranhos na ilha de Flores, conhecidos como “Ebu Gogo” (o leitor poderá ler 
mais sobre isso na internet: http://en.wikipedia.org/wiki/Ebu_Gogo ou, em português: 
http://www.fernandosantiago.com.br/anaohom.htm ).
Homo floresiensis X Homo sapiens (Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/flores.html)
Foram encontradas ferramentas produzidas no estilo da tecnologia de Olduvai 
(pedra lascada) produzidas pelo Homo floresiensis, em estilo parecido com as 
ferramentas produzidas pelo Homo erectus clássico da Indonésia. 
Homo floresiensis – cérebro – comparação
O tamanho reduzido do crânio (abaixo dos 400 centímetros cúbicos), menores que 
os crânios do gênero Pan, dos chimpanzés e bonobos, e outros detalhes anatômicos 
só encontrados nos Australopithecus, levaram muitos paleoantropólogos à dúvida: 
seriam os floresiensis realmente pertencentes ao gênero Homo? Muitos cientistas 
duvidam e alguns chegam a sugerir um gênero novo para a espécie. De qualquer 
forma, o Homo floresiensis parece ser uma espécie cujo ancestral comum conosco 
deve remontar, certamente, há tempos muito remotos, talvez superiores há 1 milhão 
de anos. Atualmente, considera-se o floresiensis uma espécie descendente das 
formas antigas do Homo erectus asiático. No entanto, não se sabe ao certo a 
posição do mesmo em nossa árvore genealógica. Detalhes como a anatomia dos 
pés e das mãos sugerem um ligação estreita com os Australopithecus, que 
extinguiram-se há nada menos do que 2,5 milhões de anos.
Homo floresiensis (crânio). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Homo_floresiensis.jpg
Apesar disso e do tamanho reduzido do crânio, a forma e o molde interno do mesmo 
(que revela as curvaturas do tecido mole cerebral) indicam claramente uma 
morfologia do gênero Homo. Além disso, as ferramentas encontradas vinculadas aos 
fósseis indicam um nível de inteligência comparável à do Homo erectus (cujo crânio 
alcançava 1.000 centímetros cúbicos - o Homo sapiens tem uma média de 1.400 
centímetros cúbicos de volume cerebral). Tudo isso fortalece a teoria de eles 
também pertenciam ao gênero Homo. Espera-se para os próximos anos que o 
Instituo alemão Max Planck consiga codificar o DNA do Homo floresiensis. Eles 
conseguiram extrair uma amostra de um dente molar. Com esse DNA codificado, 
teremos como saber a origem deles. 
Mais informações em: http://afarensis99.wordpress.com/2011/01/06/ancient-dna-
from-homo-floresiensis-redux/
4.1. Efeito Ilha
A imagem abaixo ilustra perfeitamente o efeito ilha. O Homo floresiensis, até o 
momento, é o único hominídeo que parece ter passado por esse efeito de redução. 
No caso de criaturas maiores que um coelho, a redução ocorre para garantir a 
sobrevivência com menos alimento, tendo em vista os recursos reduzidos de uma 
ilha. No caso de criaturas menores, como o rato, por exemplo, o aumento de 
tamanho ocorre pelo mesmo motivo. É que existe uma proporção entre a área da 
pele e o volume corporal que garante uma melhor retenção do calor e da energia. 
Animais muito pequenos acabam tendo um área externa de pele muito grande em 
relação ao volume de todo o corpo, o que acarreta uma perda excessiva de calor.
Feito Ilha. Fonte: Revista Scientific American Brasil
Capítulo 5: Homo erectus 
O Homo erectus, homem ereto, inicialmente conhecimento como Pithecanthropus 
erectus, é uma das mais complexas e duradouras espécies do gênero Homo. Há 
fosseis que podem ter quase 2 milhões de anos, mas a maioria dos pesquisadores 
acredita que o Homo erectus surgiu há mais ou menos 1,5 milhão de anos. Seu 
ancestral direto e comum com os sapiens pode ser o Homo habilis ou outra espécie 
ainda não identificada.
Fonte: http://historiacolegiao.files.wordpress.com/2010/03/homo_erectus_72dpi1.jpg
Richard Klein, Arsuaga e muitos outros paleoantropólogos consideram o Homo 
ergaster (uma espécie de Homo erectus africano, mais antigo) o ancestral direto do 
H. erectus, sendo o H. habilis, o ancestral do H. ergaster.
O Homo erectus, depois dos Neandertais, é a espécie mais conhecida e estudada. 
Na Paleoantropologia há esqueletos quase completos dessaespécie, quase tão 
completos quanto os esqueletos de Neandertais e dos Australopithecus. Os fósseis 
de erectus vêm sendo estudados desde o final do século XIX e milhares já foram 
encontrados. Só na ilha de Java foram encontrados quase 30.000 fósseis!
Em seu auge, o Homo erectus dominou quase toda a Ásia e muitas ilhas da 
Oceania.
5.1. Homo erectus – complexidade
Os autores Klein e Blake Edgar encontraram pequenas diferenças nos crânios do 
Homo erectus clássico da Indonésia e do Homo erectus clássico da China. Tais 
diferenças, apesar de discretas, são perceptíveis até para um leigo. A principal 
diferença está na testa. No erectus da Indonésia, a testa é mais baixa e recuada, no 
chinês, a testa também é recuada, mas ligeiramente mais alta. Os outros detalhes 
anatômicos são muito parecidos: grande arcada supraciliar em forma de saia, 
curvatura craniana baixa e comprida para trás, ausência de queixo, mandíbulas 
projetadas para frente e parte posterior do crânio composta de dois planos 
encontrando-se em ângulo. Portanto, é possível que os fósseis que hoje são todos 
classificados como Homo erectus sejam, na verdade, fósseis de duas ou mais 
espécies distintas, porém, próximas.
A figura da próxima página foi retirada do livro “O Despertar da Cultura” de Richard 
G. Klein e Blake Edgar (figura 4.8). Segundo os autores a ilustração foi redesenhada 
parcialmente por Kathryn Cruz-Uribe a partir de originais de Janies Cirulis, in W. W. 
Howels, Mankind in the Making, Nova York, Doublebay, 1997, pag. 156 a 159.
5.2. Homo erectus - aparência e tecnologia
O corpo do Homo erectus era quase tão moderno quanto o nosso. Praticamente a 
mesma altura, as mesmas proporções corporais, poucos pêlos no corpo. No entanto, 
o crânio era muito diferente. Com um volume craniano que podia chegar a 1.000 
centímetros cúbicos, o erectus tinha um cérebro menor do que o nosso, mas maior 
do que todas as outras espécies humanas anteriores. Alguns autores, no entanto, 
acreditam que o volume cerebral do erectus era proporcionalmente semelhante ao 
do Homo habilis, que possuía um cérebro menor, mas um corpo também menor. O 
cérebro, como em quase todas as espécies do gênero era voltado para trás, com 
grandes protuberâncias supra-oculares, talvez as maiores de todo o gênero Homo.
O erectus era capaz de produzir ferramentas no estilo Acheuliano (pedra polida). 
Desde seu surgimento, há evidências de um avanço sobre a tecnologia de Olduvai 
(pedra lascada). No entanto, ele nunca imprimiu um ritmo de aperfeiçoamento 
constante às suas ferramentas. É possível distinguir pequenos aperfeiçoamentos 
entre a tecnologia acheuliana antiga (1,5 milhão de anos antes do presente - AP) e a 
mais recente (600.000 anos AP), mas nada muito perceptível. A verdade é que, ao 
longo de quase 1 milhão de anos, o erectus não conseguiu aperfeiçoar muito a sua 
tecnologia. Parece que o cérebro do erectus foi capaz de criar as mais sofisticadas 
ferramentas de pedra até então produzidas, mas não foi capaz de ir além disso.
Distribuição geográfica do Homo erectus (fonte: “Human Evolution – An Illustrated Introduction”)
O mapa acima foi retirado do livro "Human Evolution - An Illustrated Introduction" de 
Roger Lewin, um dos maiores paleoantropólogos do mundo.
Os fósseis encontrados na África são considerados pertencentes ao Homo ergaster 
e não ao Homo erectus asiático. Muitos paleoantropólogos consideram o Homo 
ergaster uma subespécie de Homo erectus ou vice-versa, inclusive Lewin.
Os fósseis de Dnamisi (na atual Geórgia) estão sendo considerados como 
pertencentes a uma nova espécie (Homo georgicus), tendo em vista sua grande 
antiguidade (tão antigo quanto o Homo ergaster).
5.3. Homo erectus - convivência com os sapiens e extinção:
Atualmente, a comunidade paleoantropológica tende a considerar que todas as 
formas de Homo erectus asiáticas foram extintas sem deixarem descendentes. Isso 
ocorre porque os fósseis demonstram claramente que as características das formas 
asiáticas não são encontradas em nenhuma espécie posterior, a não ser no Homo 
floresiensis.
A espécie erectus desapareceu completamente há apenas 30 mil anos e, 
certamente, conviveu com o Homo sapiens por milhares de anos, principalmente na 
atual Indonésia.
As formas africanas, muito próximas ao erectus, mas pertencentes a outra espécie 
chamada Homo ergaster, evoluíram para formas mais recentes de espécies do 
gênero Homo. O Homo ergaster teria evoluído para o Homo heidelbergensis 
(pronuncia-se “Raidelberguensis”), que constitui uma espécie muito parecida com o 
Homo neanderthalensis. O Homo heidelbergensis, por sua vez, evolui para o Homo 
neanderthalensis e para o Homo sapiens, diretamente, ou passando por espécies 
intermediárias. Esse é o pensamento dominante atualmente.
5.4. O Homo erectus e o fogo:
As análises dos sítios têm demonstrado que quanto mais recuamos no tempo, os 
sítios arqueológicos contêm menos vestígios de utilização do fogo. Não se sabe ao 
certo quando se começou a usá-lo, mas os indícios apontam para o Homo erectus, 
há, pelo menos, 500.000 anos, como o pioneiro em sua utilização. Alguns afirmam 
que os indícios encontrados nos sítios dos erectus não comprovam que essa 
espécie dominava o fogo inteiramente, mas apenas o utilizava de maneira 
esporádica.
O Livro "Pegando Fogo" de Richard Wrangham (não confundir com o livro homônimo 
de Mag Cabot, que é um romance), traz muitas informações sobre a utilização do 
fogo e sobre como os cientistas analisam os sítios arqueológicos.
Basicamente, fogueiras mais elaboradas deixam vestígios inequívocos de controle 
do fogo (área pequena), utilizam material combustível mais apropriado, deixam 
muitos vestígios de ossos assados de animais no entorno, etc. 
Segundo o Dr. Fernando Bilharinho, comentando o livro supracitado, “se, por um 
lado o salto de habilis para erectus (que o autor propõe que seja devido à introdução 
de alimentos cozidos na dieta) parece realmente ter sido mais importante do que o 
de erectus para heidelbergensis, por outro lado, os indícios de controle do fogo mais 
antigos são de 790 mil anos, exatamente quando surgiu o Homo heidelbergensis! 
Aliás, a hipótese de domínio do fogo pelo heidelbergensis é defendida por outros 
autores e citada por Wrangham. O autor acha impossível o Homo erectus ter se 
espalhado pelo mundo sem dominar o fogo, bem com ter escapado dos predadores 
e empreendido a caça.”
Também acredito que o mais provável é que o fogo tenha sido dominado pelo Homo 
heidelbergensis, ou, no máximo, pelos mais recentes Homo erectus. Nesse caso, o 
cozimento, que, segundo Wrangham, aumenta muito o aproveitamento energético 
dos alimentos, influiu no segundo aumento do volume cerebral (de erectus para 
heidelbergensis). O aumento do volume cerebral dos Australopithecus para os 
habilinos e depois para o ergaster/erectus teria sido conseqüência da mera 
introdução de carne crua à dieta desses pré-humanos.
5.5. Questões interessantes sobre o Homo erectus
5.5.1. Há algum traço de influência cultural de sapiens sobre erectus e vice versa?
Não. O Homo erectus não foi capaz de produzir muita coisa além de ferramentas de 
pedra polida. É difícil imaginar como poderiam ter sido os encontros de Homo 
sapiens e Homo erectus. Com uma tecnologia extremamente mais sofisticada, 
principalmente nos encontros mais recentes, os sapiens seriam capazes de 
exterminar com facilidade todos os erectus que encontrassem. Ou, se possível, 
assimilando-os por meio de cruzamentos interespécies. No entanto, não acredito 
que tenha sido possível uma transferência de tecnologia, tendo em vista a limitada 
capacidade dos erectus.
5.5.2.Foram os sapiens que extinguiram os erectus?
A maioria dos paleoantropólogos acredita que sim. Que houve uma substituição 
sistemática ao longo de milhares de anos. Segundo a teoria dominante, os sapiens 
surgiram na África a partir do Homo ergaster (Homo erectus africano) e, de lá, 
colonizou o mundo, substituindo as outras espécies que encontravam pelo caminho.
Outros cientistas, a minoria, acreditam em um surgimento multirregional dos sapiens. 
Segundo esses últimos, os erectus asiáticos evoluíram para sapiens de forma 
convergente, mantendo cruzamentos esporádicos com o Homo ergaster que evoluía 
na mesma direção na África. As recentes descobertas de que os sapiens cruzaram-
se com neandertalensis deu força a essa teoria, provando que eram possíveis os 
cruzamentos, pelo menos com os Neandertais.
5.5.3. O Homo erectus foi o primeiro hominídeo a andar ereto, como nós?
Não. O gênero Australopithecus (ou, talvez, o gênero Ardipithecus, mais antigo) 
produziu os primeiros hominídeos bípedes. Veremos isso nos próximos capítulos. O 
nome Homo erectus tem um fator histórico. No século XIX, o primeiro 
paleoantropólogo de todos os tempos, o holandês Eugène Dubois encontrou os 
primeiros fósseis da espécie e batizou-a de Pithecanthropus erectus.
Na época, conhecia-se apenas o Neandertal (também descoberto no século XIX). 
Mais tarde, a espécie foi incluída no gênero Homo e o gênero Pithecanthropus foi 
abolido. Isso ocorreu porque a espécie, nitidamente, é muito parecida com as 
demais do gênero Homo. O nome da espécie (erectus) foi mantido em homenagem 
ao descobridor e não porque foi a primeira a andar de forma ereta.
Os primeiros Australopithecus (existiam muitas espécies desse gênero) foram 
descobertos na década de 1960 e causaram um grande estardalhaço na 
comunidade paleoantropológica, porque eram, evidentemente, uma forma 
intermediária entre chimpanzés e humanos (com crânios muito simiescos e corpos 
muito humanos). Recentemente (2008, divulgado em 2010), descobriram uma nova 
espécie australopitecínea (Australopithecus sediba) já com muitas características do 
gênero Homo, que também causou espanto na comunidade. Parece trata-se de uma 
espécie de "elo perdido" entre Homo e Australopithecus.
5.6. Homo erectus – subespécies
O Homo erectus pertence a uma das mais bem sucedidas e duradouras espécies do 
gênero Homo (durou mais de 1 milhão de anos!). É geralmente considerada a 
espécie que deu origem a um grande número de espécies descendentes e 
subespécies. Pelo fato de ter sido uma espécie duradoura, há muitas variações nos 
fósseis encontrados, principalmente entre as formas mais antigas e as mais 
recentes. As principais subespécies sugeridas são:
Homo erectus yuanmouensis (identificada no vilarejo de Danawu no Condado de 
Yuanmou, na China, em 1965 por Fang Qian - fósseis de 1,7 milhão de anos) – O 
nome significa “homem ereto de Yuanmou”.
Homo erectus lantianensis (o primeiro registro fóssil do homem ereto de Lantian 
ocorreu em 1963 e descrito por J.K. Woo em 1964. Os restos encontrados foram 
achados no Condado de Lantian, na província de Shaanxi, no noroeste da China) – 
com capacidade craniana de 780 cm3 viveu entre 530 mil a 1 milhão de anos atrás.
Homo erectus wushanensis (o fóssil do homem de Wushan foi primeiramente 
descoberto em Longgupo, no vilarejo Zhenlongping, Condado de Wushan, província 
de Chongqing -China- em 1985). Viveu há 2 milhões de anos.
 
Homo erectus pekinensis (foi descoberto durante escavações nos anos de 1923 a 
1927, em um local próximo a Pequim, capital da China. O material arqueológico 
encontrado foi datado entre 250.000 a 400.000 anos, no Pleistoceno. Mas, segundo 
estudos recentes, descobriu-se que ele poderia ter vivido há 800.000 anos) – O 
homem ereto de Pequim ou de Beijing, foi chamado inicialmente de Sinanthropus 
pekinensis.
Homo erectus soloensis (Ilha de Java - Indonésia) - Homem ereto do Rio Bengawan 
Solo (Java) - estudos mais rigorosos concluíram que, enquanto muitas subespécies 
de H. erectus desapareceram do registro fóssil bruscamente 400.000 anos atrás, o 
Homo erectus soloensis persistiu até 50.000 anos atrás na região de Java e foi 
possivelmente absorvida por uma população local de H. sapiens na época de seu 
declínio.
Outras subespécies:
Homo erectus palaeojavanensis;
H. e. nankinensis;
H. e. hexianensis;
H. e. mauritanicus;
H. e. palaeojavanicus;
Fonte: http://sasquatchresearch.net/hominoids.html
Capítulo 6: Gigantopithecus , os maiores primatas de todos os tempos 
Gigantopithecus é um gênero de primatas gigantescos, os maiores que já existiram 
na face da Terra, extintos há milhares de anos. Esse gênero é muito próximo do 
gênero dos orangotangos, que vivem na Ásia, e ambos podem ter um ancestral 
comum recente. Especula-se que tais primatas gigantes podem ter dado origem a 
lendas como a do Pé Grande.
Gigantopithecus – representação artística
Os Gigantopithecus eram seres curiosos: podiam chegar a até 3 metros de altura (!) 
e pesar até 600 Kg (a título de comparação, um gorila atual chega a 2 metros de 
altura). Essas informações podem ser encontradas no livro “Human Evolution – An 
Illustrated Introduction” do autor Roger Lewin (5ª edição, página 107). As fêmeas 
tinham metade do tamanho do macho, o que indica que, talvez, viviam em "haréns", 
como os gorilas. Possuíam braços fortes e compridos, comiam bambus e outros 
vegetais e se locomoviam, provavelmente, sobre os nós dos dedos. Alguns o 
consideram um bípede (!), mas a verdade é que não há muita evidência fóssil que 
indique a forma de sua locomoção.
A maioria dos Gigantopithecus foi extinta pelo H. erectus há uns 300.000 anos. No 
entanto, alguns sobreviveram até uns 100.000 anos atrás (G. blacki) e foram mortos 
pelos H. sapiens ou pela competição com os ursos panda (que também se 
alimentam de bambus).
Existiram 3 espécies do gênero Gigantopithecus: Gigantopithecus blacki, 
Gigantopithecus bilaspurensis e Gigantopithecus giganteus. Todas viveram na Ásia 
(Índia e China, principalmente), conforme pode-se ler na Wikipedia. São primatas 
classificados como pertencentes à família Hominidae (a mesma dos humanos), 
subfamília Ponginae (a mesma dos orangotangos). Portanto, não eram tão próximos 
de nós como os chimpanzés ou os gorilas, que pertencem à mesma subfamília dos 
humanos (Homininae), mas eram incrivelmente semelhantes fisicamente à nossa 
espécie.
:
Gigantopithecus – comparações. Fonte: Wikipedia
Capítulo 7: Homo ergaster 
Na década de 1990, na África, perto do desfiladeiro de Olduvai, foi descoberto um 
esqueleto quase completo do famoso Homo erectus africano, reclassificado como 
Homo ergaster. O H. ergaster é mais antigo do que o H. erectus e tem proporções 
corporais ainda mais semelhantes ao H. Sapiens. Viveu na África do Sul e na África 
Oriental.
Eram basicamente como nós. A principal diferença estava no volume craniano, que 
não passava de 900 centímetros cúbicos (pouco menor do que o volume craniano 
do erectus, que tinha, em média, 1.000 cm3 e muito menor que o nosso, de 1.400 
cm3 em média). Entretanto, há fósseis mais antigos de ergaster com volume 
craniano de apenas 508 a 582 cm3. O famoso Menino de Nariokotome (esqueleto 
quase completo de ergaster, descoberto na década de 1990) tem esse volume 
encefálico.
Os autores do livro "The Last Human" consideram o bipedalismo do H. ergaster 
inquestionável, mas com base em características da cintura escapular acreditam que 
as crianças ergaster poderiam demorar mais tempo para andar (uma criança 
humana anda por volta dos 12 meses, os ergaster, talvez demorassem 16 ou mais 
meses).
O Homo ergaster era capazde produzir ferramentas de pedra polida (estilo 
acheuliano), mas não tinha uma inteligência muito superior à do chimpanzé. Se 
ainda vivessem, seriam considerados uma espécie estúpida (com pouca 
inteligência) de humanos, mas, sem dúvida, tendo em vista suas evidentes 
características físicas, seriam considerados humanos.
7.1. A convivência com o ergaster:
Os sapiens não conviveram com ergaster porque estes últimos viveram há, mais ou 
menos, 1,5 milhão de anos, portanto, muito tempo antes do surgimento dos sapiens, 
que ocorreu há apenas 200.000 anos.
Os pesquisadores entendem que o ergaster deu origem ao erectus e ao 
heidelbergensis. O heidelbergensis deu origem ao neandertalensis e ao sapiens, 
talvez passando por espécies intermediárias.
Apesar de não ter convivido conosco, o ergaster conviveu, em um mesmo habitat 
(!!!), com o Homo habilis (espécie ainda mais antiga, de mais de 2 milhões de anos) 
e o Homo rudolfensis (que parecia como o habilis, mas era maior). Além disso, o 
Homo ergaster também conviveu com uma espécie australopitecínea recente, 
chamada de Paranthropus boisei, também em um mesmo habitat.
Em suma, havia, pelo menos, três espécies humanas e uma australopitecínea 
convivendo em uma mesma paisagem há 1,5 milhão de anos. A revista Scientific 
American Brasil produziu uma interessantíssima matéria de 8 páginas sobre essa 
fascinante convivência (edição especial nº 2 - Novo Olhar Sobre a Evolução 
Humana). Recomendo.
7.2. Corpo moderno e cérebro primitivo:
O ergaster foi o primeiro Homo a ter o nariz proeminente, como o nosso. As 
espécies anteriores, inclusive o Homo habilis e o Homo rudofensis tinham o nariz 
parecido com o dos gorilas atuais, embutido no rosto. Os Australopithecus tinham 
um nariz semelhante ao do chimpanzé (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus), 
exceto o Australopithecus sediba, que já possuía um nariz relativamente projetado.
O ergaster também foi o primeiro a ter menos quantidade de pêlos pelo corpo (uma 
adaptação ao clima, que ficou mais quente há 1,8 milhão de anos atrás ou uma 
adaptação a longas caminhadas e a necessidade de suar para manter estável a 
temperatura corporal).
Suas proporções corporais, vale repetir, eram semelhantes à nossa. Foi a primeira 
espécie humana a ter o braço menor que as pernas, indicando o total abandono da 
vida arbórea, passando para uma locomoção tipicamente terrestre. Para aumentar o 
volume do pulmão e permitir caminhadas mais longas, o tórax teve de se expandir, 
surgindo um tronco em forma de barril como o nosso (e não afunilado, como 
veremos nos Australopithecus e no habilis).
Houve um estreitamento da pélvis (para facilitar as caminhadas), o que reduziu a 
passagem dos bebês (do útero à luz) e, consequentemente, aumentou a 
dependência do recém-nascido após o nascimento. É que os cérebros tiveram que 
ficar menores antes do nascimento e começar a crescer depois, por causa do 
estreitamento da pélvis.
O Homo ergaster, uma das espécies mais bem conhecidas pelos 
Paleoantropólogos, visto de longe, poderia ser confundido com um ser humano 
atual, indicando que nosso corpo (da maneira que é hoje) surgiu há quase 2 milhões 
de anos. Nosso cérebro, da maneira que é hoje, surgiu há 200.000 anos, e nosso 
comportamento, da maneira que é hoje (com capacidade simbólica e abstrata) 
surgiu (ou, pelo menos, expandiu-se) há 50.000 anos.
 Fonte: http://wiki.kkc.school.nz/index.php/Homo_ergaster
7.3. Sobre a perda dos pêlos:
Segundo Richard G. Kelin, a partir do Homo ergaster (após o Homo habilis), há mais 
ou menos 1,8 milhão de anos, os pêlos começaram a ficar menores no gênero 
Homo:
"Já que o ergaster foi feito para um clima quente e seco, 
podemos especular que ele foi também a primeira espécie 
humana a possuir pele nua, quase sem pêlos. Se tivesse 
pêlos cobrindo o corpo, como os macacos, não poderia 
suar de maneira adequada, e o suor é o meio mais 
importante que os seres humanos - e o cérebro - têm para 
evitar o superaquecimento do corpo." (página 86 do livro 
"O Despertar da Cultura").
Robert Foley, no livro "Os Humanos Antes da Humanidade", concorda. No entanto, 
como esse livro foi escrito há mais tempo, o autor não conseguiu determinar a partir 
de qual espécie teria surgido:
"O atributo-chave provavelmente foi a perda de pêlo. 
Estritamente falando, os humanos não são 'pelados', mas 
apresentam uma pelagem extremamente miniaturizada, 
cobrindo a maior parte do corpo, embora haja variações 
drásticas, dependendo do sexo e de região geográfica." 
(página 181 do livro supracitado).
O autor, depois dessa introdução, fala sobre as teorias históricas sobre a perda de 
pêlos, dentre as quais, a famosa e totalmente descartada "fase aquática" dos 
hominídeos. Depois, conclui:
"Os humanos modernos, pelo menos, trazem em sua 
anatomia e em sua fisiologia as marcas de uma espécie 
que evoluiu no contexto de estresse térmico extremo. É 
impossível determinar com precisão quando esse 
estresse ocorreu, mas como o bipedalismo se 
desenvolveu muito cedo, e talvez ele próprio esteja 
relacionado ao estresse térmico, pode ter acontecido que, 
durante os estágios formativos da linhagem humana, 
alguma coisa que os hominídeos vinham fazendo 
resultava em que eles sentissem muito calor. Caminhar 
através de vastas extensões em busca de alimento foi de 
importância crítica, tanto para a evolução da fisiologia 
térmica como da anatomia locomotora dos humanos, e é 
também uma estratégia comportamental de importância 
crucial." (página 182 do livro "Os Humanos Antes da 
Humanidade").
Portanto, os pêlos podem ter caído quando o Homo ergaster, há 1,8 milhão de anos, 
começou a vasculhar grandes extensões do planeta, segundo Klein. Ou, na teoria de 
Foley, os pêlos podem ter caído pelos mesmos motivos que levaram os grandes 
antropóides antigos a se tornarem bípedes (grandes caminhadas), e, se for assim, a 
perda de pêlos teria acontecido nos últimos Australopithecus. 
O melhor livro sobre o assunto, no entanto, é “O Macaco Nu”, de Desmond Morris, 
um ilustre zoólogo inglês. Esse último autor, em várias páginas de seu livro 
supracitado, comenta, exaustivamente, as várias hipóteses que tentam explicar a 
perda de pêlos (fase aquática, parasitas de pele, sujeiras inevitáveis nos pêlos, 
hipótese sexual, etc.). No entanto, o autor concorda com Klein e afirma que a 
hipótese mais provável é o fato das grandes caminhadas efetuadas pelos primeiros 
exemplares do gênero Homo, o que exigia um equipamento de resfriamento corporal 
muito eficiente. Por isso, as glândulas sudoríparas fariam esse papel de forma mais 
eficaz caso o corpo não estivesse coberto de pêlos.
Possíveis peles fossilizadas do Australopithecus sediba foram encontradas em 
Malapa (África do Sul) em 2008. Se a descoberta se confirmar, será possível 
analisar a quantidade de glândulas sudoríparas que possuíam, podendo-se, a partir 
daí, estimar a quantidade de pêlos que possuíam. O A. sediba é um dos 
australopitecíneos mais recentes (1,8 milhão de anos) e um dos prováveis 
ancestrais do Homo erectus. Para saber mais sobre isso, recomendo a edição de 
agosto de 2011 da revista National Geographic Brasil.
Capítulo 8: Homo rudolfensis e Homo habilis (“ Habilinos ”) 
Provavelmente, o Homo rudolfensis ou o Homo habilis foram as duas primeiras 
espécies do gênero Homo. Há indícios de que as duas espécies surgiram há mais 
de 2 milhões de anos. Temos, portanto, um marco importante: 2 milhões de anos – 
surgimento do gênero Homo.
Alguns autores chamam essas primeirasespécies do gênero Homo de “habilinos”. 
Essa nomenclatura pode facilitar muito as coisas, quando nos referimos a tais 
espécies de uma forma genérica.
Nessa época, há um ligeiro aumento do volume craniano. De apenas 450 a 500 
centímetros cúbicos nos Australopithecus, o volume atingiu até 752 centímetros 
cúbicos no rudolfensis e 687 centímetros cúbicos no habilis. Apesar do volume 
cerebral do habilis ser menor, deve-se levar em consideração que seu corpo 
também era menor. Portanto, pode-se concluir que ambos tiveram um grau de 
inteligência semelhante. Eram capazes de produzir muitas ferramentas de pedra 
lascada, no estilo de Olduvai. Foram os primeiros a construir ferramentas de pedra 
nesse estilo. Os chimpanzés, apesar de serem capazes de utilizar ferramentas 
prontas (como gravetos e pedras), não são capazes de modificar pedras 
deliberadamente para que funcionem como ferramentas mais sofisticadas. Na 
verdade, é necessário uma mão mais habilidosas das que as dos chimpanzés para 
lascar pedras de maneira adequada.
As espécies australopitecíneas coexistiram com as primeiras espécies Homo por 
muitos milhares de anos, talvez até por meio de milhão de anos. Essas espécies 
australopitecíneas mais recentes são incluídas no gênero Paranthropus (antropóide 
paralelo ao homem) e serão estudadas mais adiante.
8.1. Habilis / Rudolfensis : características físicas 
Tanto o habilis quanto os rudolfensis possuíam muitas características primitivas, que 
lembravam os Australopithecus: pés sem o arco característico, braços longos, 
mandíbula avantajada, protuberâncias ósseas supra-oculares, muitos pêlos pelo 
corpo, atingiam no máximo 1,40m de altura e 45Kg, tórax afunilado, pélvis 
relativamente larga, etc.
No entanto, a maioria dos paleoantropólogos insiste em classificá-los como Homo, 
tendo em vista seu maior volume cerebral, sua pélvis relativamente mais estreita em 
relação aos Australopithecus e um prognatismo (projeção das mandíbulas para 
frente - focinho) relativamente menor, também em relação aos Australopithecus. 
Aliás, algumas etnias atuais de Homo sapiens ainda possuem um relativo 
prognatismo, como resquício evolutivo.
O Australopithecus sediba, recém encontrado, talvez seja Homo também, por conter 
quase tantas características desse gênero quanto o habilis ou o rudolfensis. No 
entanto, seu descobridor classificou-o como Australopithecus, tendo em vista que 
características importantes, como o volume craniano, eram mais semelhantes às 
das espécies australopitecíneas.
A Figura acima foi retirada do livro “O Despertar da Cultura” de Richard G. Klein e 
Blake Edgar, fig. 3.7. Conforme o livro, a ilustração foi desenhada segundo F.C. 
Howel, em Evolution of African Mammals, Harvard University Press, Cambridge, 
1978, fig. 10.9.
Homo habilis – reconstituição a partir de fósseis (Fonte: humordarwinista.blogspot.com)
Capítulo 9: O mundo há 2 milhões de anos
Nessa época (2,5 a 2,0 milhões de anos atrás), várias espécies da nossa subfamília 
dividiram as paisagens africanas, como o Australopithecus africanus, o 
Australopitecus garhi, o Paranthropus aethiopicus, o Homo habilis, o Homo 
rudolfensis e outras espécies. Há muitos outros fósseis que não podem ser 
claramente classificados. Podem pertencer a outras espécies ainda não identificadas 
ou fazerem parte de alguma espécie já conhecida, mas, por variações anatômicas, 
ainda não foi possível identificá-la.
Espécies que viveram há mais ou menos 2 milhões de anos (2,5 a 1,5 milhão de 
anos):
Australopithecus africanus - com mais ou menos 2,5 milhões de anos (África do Sul);
Paranthropus robustus - 2,0 a 1,75 milhão de anos (África do Sul);
Australopithecus sediba - 1,8 milhão de anos (África do Sul);
Homo georgicus - 1,75 a ? milhão de anos (atual Geórgia – Ásia);
Australopithecus gahri - 2,5 a ? milhões de anos (atual Etiópia);
Paranthropus boisei - 1,7 a 1,6 milhão de anos (atuais Etiópia e Tanzânia);
Homo rudolfensis - 2,5 a 1,9 milhão de anos (atual Quênia);
Homo habilis - 1,9 a 1,6 milhão de anos (atual Tanzânia);
Paranthropus aethiopicus - 2,5 milhões de anos a ? (atual Quênia);
Homo ergaster - 1,8 a 1,5 milhão de anos (África Oriental).
Capítulo 10: Outras Espécies do Gênero Homo : 
Terminamos aqui o estudo do gênero Homo. Como devem ter percebido, não 
esgotamos o assunto. Não estudamos, em detalhes, outras espécies do gênero, 
como, por exemplo:
Fonte: http://humanorigins.si.edu
10.1. Homo georgicus (espécie intermediária entre o habilis e o erectus asiático);
10.2. Homo cepranensis (espécie que viveu na atual Itália há mais ou menos 850 mil 
anos);
10.3. Homo antecessor (espécie muito parecida com o Homo sapiens, porém, 
ligeiramente mais antiga, que também viveu na atual Itália). Segundo o Dr. Fernando 
Bilharinho, “a maioria dos fósseis do H. antecessor foi encontrada na Sierra de 
Atapuerca (Espanha), mas há fósseis encontrados no norte da Argélia que também 
parecem pertencer ao H. antecessor. Um terceiro grupo de fósseis encontrado em 
Daka (Etiópia) provavelmente pertencem ao H. antecessor, mas há dúvidas, porque 
foram encontrados há mais de 3.000km de distância dos demais. Se os fósseis da 
Argélia forem realmente do H. antecessor e não do H. heidelbergensis, o nome do 
H. antecessor teria que ser mudado para Homo mauritanicus (homem da 
Mauritânia), nome que os fósseis da Argélia receberam em 1954. Os primeiros 
fósseis da Espanha foram encontrados apenas em 1994, e o "batismo" aconteceu 
em 1997. De acordo com as regras internacionais de nomenclatura o primeiro nome 
recebido pela espécie deve prevalecer”;
10.4. Homo rhodesiensis (espécie que viveu nas atuais Zâmbia e Tanzânia).
Homo georgicus. Fonte: http://erroridistumpa.blogspot.com/2009/10/sunday-mixture-10042009.html
Capítulo 11: O Polegar Opositor
O polegar opositor não surgiu com o gênero Homo. Praticamente todas as espécies 
primatas têm o polegar opositor, não apenas nas mãos, mas também nos pés.
Os gorilas, os chimpanzés, os bonobos, os orangotangos, os macacos do novo 
mundo, todos os primatas têm polegares opositores nas mãos e nos pés. 
Atualmente, apenas o homem não tem polegares opositores nos pés. Essa 
adaptação (pés sem polegares opositores) surgiu, com certeza, com os 
Australopithecus, tendo em vista que os Ardipithecus (gênero que antecedeu aos 
Australopithecus) ainda tinham polegares opositores nos pés.
No caso específico do gênero Homo, é possível concluir que desde o Homo habilis, 
o polegar opositor tornou-se mais sofisticado nas mãos, tendo em vista que essa 
espécie foi uma das primeiras a construir ferramentas de pedra lascada (estilo de 
Olduvai). Conforme testes em laboratório (vide livro "Eu, Primata", de Frans de 
Waal) os chimpanzés não conseguem um grau de controle tão aprimorado dos 
polegares. Por isso, eles não conseguem produzir ferramentas no estilo de Olduvai, 
apesar de conseguirem manipular pedras, gravetos e outros objetos.
As ferramentas mais elaboradas de pedra polida (estilo acheuliano) surgiram muitos 
milhares de anos depois (600.000 anos atrás), quando as espécies humanas já 
possuíam um volume craniano ligeiramente maior. Portanto, pode ser que o habilis 
já tivesse mãos capazes de produzir ferramentas mais elaboradas, mas não tivesse 
inteligência suficiente para tanto.
As limitações anatômicas do chimpanzé podem ser explicadas também pelo fato 
deles andarem sobre os nós dos dedos, como outros grandes primatas. Vale 
lembrar que apenas o Homo sapiens é bípede, atualmente, dentre os primatas, 
deixando as mãos totalmente especializadas

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